sábado, 28 de fevereiro de 2009

PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS


4. Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?
“Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.”
Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.
5. Que dedução se pode tirar do sentimento instintivo, que todos os homens trazem em si, da existência de Deus?
“A de que Deus existe; pois, donde lhes viria esse sentimento, se não tivesse uma base? É ainda uma conseqüência do princípio - não há efeito sem causa.”
6. O sentimento íntimo que temos da existência de Deus não poderia ser fruto da educação, resultado de idéias adquiridas?
“Se assim fosse, por que existiria nos vossos selvagens esse sentimento?”
Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse tão-somente produto de um ensino, não seria universal e não existiria senão nos que houvessem podido receber esse ensino, conforme se dá com as noções científicas.
7. Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas?
“Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária.”
Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma causa.
8. Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso?
“Outro absurdo! Que homem de bom-senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada.”
A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia combinações e desígnios eterminados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria acaso.
9. Em que é que, na causa primária, se revela uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências?
“Tendes um provérbio que diz: Pela obra se reconhece o autor. Pois bem! Vede a obra e procurai o autor. O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!”
Do poder de uma inteligência se julga pelas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primária é, conseguintemente, uma inteligência superior à Humanidade.
Quaisquer que sejam os prodígios que a inteligência humana tenha operado, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que opere, tanto maior há de ser a causa primária. Aquela inteligência superior é que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe dêem.
Livro dos Espíritos

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

MENSAGEM




Bezerra de menezes

Espíritas:
Pelas portas da Ciência e da Filosofia, atingireis o altar da Nova Revelação.
Através de numerosos experimentos, indagastes quanto aos problemas do ser e do destino, da dor e da morte, e os Espíritos da Luz vos trouxeram a mensagem do Céu, conclamando-vos à sublimação espiritual.
E agora, quando a Codificação Kardequiana se avizinha do seu centenário de existência, compele-nos reafirmar-vos, perante o Segundo Congresso Espírita do Estado de Minas Gerais, que o Espiritismo é a Religião do Amor Universal, sob a inspiração de Nosso Senhor Jesus Cristo, restabelecendo a Verdade em seus fundamentos Divinos.
Se a nossa Doutrina Renovadora traduz explicação da inteligência, é também engrandecimento do coração.
Nossa bandeira é a Boa Nova rediviva.
Nossos centros de estudos são templos de elevação.
Nossas instituições de assistência social, representam santuários vivos da fraternidade, onde Jesus é venerado na pessoa dos nossos semelhantes.
Nosso trabalho individual, em favor do bem, na solução das nossas responsabilidades morais, à frente da família e da sociedade constitui o culto diário de nossa obediência às Leis Senhor.
Tanto quanto no Cristianismo primitivo, puro e simples, a caridade para nós não possui privilégios e nem fronteiras e a fé, para manifestar-se, não reclama lugares especiais.
Allan Kardec, o Apóstolo, foi claro em suas linhas primordiais, na edificação Doutrinária.
Nosso esquema é – TRABALHO.
Nosso lema é – SOLIDARIEDADE.
Nossa senha é – TOLERÂNCIA.
Agir, auxiliar e compreender para fazer, aperfeiçoar e esperar na conquista da vitória com Cristo, Nosso Mestre e Senhor.
Não vos iludais!
Enquanto a Humanidade se mergulha em lutas, na angustiada elaboração do milênio vindouro, guardais convosco a luz soberana do porvir.
O Céu conta convosco, tanto quanto contais com o Céu.
Não olvideis!
A nossa tarefa não é tão somente aquela da demonstração positiva da sobrevivência do homem além da morte, mas, acima de tudo, é a obrigação de materializarmos, cada dia, a essência dos ensinos cristãos em nossas vidas, convertendo o Espiritismo, sob a égide do Evangelho de Jesus, na religião da paz e da felicidade para o mundo inteiro.
Se desejas a bênção da paz, simplifica a própria vida para que a tranqüilidade te favoreça.

LIVRO: MENTORES E SEAREIROS - Francisco Cândido Xavier e Autores Diversos

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A IDÉIA DE DEUS


Deus é maior que todas as teorias e todos os sistemas. Eis a razão por que não pode Ele ser atingido, nem minorado pelos erros e faltas que os homens têm cometido em seu nome.
Deus é soberano a tudo.
O Ser divino escapa a toda a denominação e a qualquer medida, e, se lhe chamamos Deus, é por falta de um nome maior, assim o disse Victor Hugo.
A questão de Deus é o mais grave de todos os problemas suspensos sobre nossas cabeças e cuja solução se liga, de maneira estrita, imperiosa, ao problema do ser humano e de seu destino, ao problema da vida individual e da vida social.
O conhecimento da verdade sobre Deus, sobre o mundo e a vida é o que há de mais essencial, de mais necessário, porque é Ele que nos sustenta, nos inspira e nos dirige, mesmo à nossa revelia. E esta verdade não é inacessível, como veremos; é simples e clara; está ao alcance de todos. Basta procurá-la, sem preconceitos, sem reservas, ao lado da consciência e da razão.
Não lembraremos aqui as teorias e os sistemas inúmeros que as religiões e as escolas filosóficas arquitetaram através dos séculos. Pouco nos importam hoje as controvérsias, as cóleras, as agitações vãs do passado.
Para elucidar tal assunto, temos agora recursos mais elevados que os do pensamento humano; temos o ensino daqueles que deixaram a Terra, a apreciação das Almas que, tendo franqueado o túmulo, nos fazem ouvir, do fundo do mundo invisível, seus conselhos, seus apelos, suas exortações.
Verdade é que nem todos os Espíritos são igualmente aptos a tratar dessas questões. Acontece com os Espíritos de Além-túmulo o mesmo que com os homens. Nem todos estão igualmente desenvolvidos; não chegaram todos ao mesmo grau de evolução. Daí as contradições, as diferenças de vistas. Acima, porém, da multidão das Almas obscuras, ignorantes, atrasadas, há Espíritos eminentes, descidos das esferas para esclarecer e guiar a Humanidade.
Ora, que dizem esses Espíritos sobre a questão de Deus?
A existência da Potência Suprema é afirmada por todos os Espíritos elevados. Aqueles, dentre nós, que têm estudado o Espiritismo filosófico, sabem que todos os grandes Espíritos, todos aqueles cujos ensinamentos têm reconfortado as nossas almas, mitigado nossas misérias, sustentado nossos desfalecimentos, são unânimes em afirmar, em repetir, em reconhecer a alta inteligência que governa os seres e os mundos. Eles dizem que essa inteligência se revela mais brilhante e mais sublime à medida que se escalam os degraus da vida espiritual.
O mesmo se dá com os escritores e filósofos espíritas, desde Allan Kardec até nossos dias. Todos afirmam a existência de uma causa eterna no Universo.
“Não há efeito sem causa, disse Allan Kardec, e todo efeito inteligente tem forçosamente uma causa inteligente.” Eis o princípio sobre o qual repousa o Espiritismo inteiro. Esse princípio, quando o aplicamos às manifestações de Além-túmulo, demonstra a existência dos Espíritos. Aplicado ao estudo do mundo e das leis universais, demonstra a existência de uma causa inteligente no Universo. Eis por que a existência de Deus constitui um dos pontos essenciais do ensino espírita. Acrescento que é inseparável do resto desse ensino, porque, neste último, tudo se liga, tudo se coordena e se encadeia. Que não nos falem de dogmas. O Espiritismo não os comporta. Ele nada impõe; ensina. Todo ensino tem seus princípios. A idéia de Deus é um dos princípios fundamentais do Espiritismo.
Dizem-nos freqüentemente: - Para que nos ocuparmos dessa questão de Deus? A existência de Deus ou sua não existência é sem predomínio sobre a vida das massas e da Humanidade. Ocupemo-nos de alguma coisa mais prática; não percamos nosso tempo em dissertações vãs, em discussões metafísicas. Pois bem! em que pese àqueles que mantêm esta linguagem, repetirei que é questão vital por excelência; responderei que o homem não se pode desinteressar dela, porque o homem é um ser. O homem vive, e importa-lhe saber qual é a fonte, qual é a causa, qual é a lei da vida. A opinião que tem sobre a causa, sobre a lei do Universo, essa opinião, quer ele queira ou não, quer saiba ou não, se reflete em seus atos, em toda a sua vida pública ou particular.
Qualquer que seja a ignorância do homem no que respeita às leis superiores, na realidade – é segundo a idéia que forma dessa leis, por mais vaga e confusa que possa ser tal concepção – é de conformidade com essa idéia que a criatura age. Desta opinião – sobre Deus, sobre o mundo e sobre a vida (notais que estes três assuntos são inseparáveis) -, desta opinião, as sociedades humanas vivem ou morrem! É ela que divide a Humanidade em dois campos.
Por toda parte, vêem-se famílias em desacordo, em desunião intelectual, porque há muitos sistemas acerca – de Deus: o padre inculca um à mulher; o professor ensina outro ao homem, quando não lhe sugere a idéia do – Nada.
Essas polêmicas e essas contradições explicam-se, entretanto. Têm sua razão de ser. Devemo-nos lembrar de que nem todas as inteligências chegaram ao mesmo ponto de evolução; que nem todos podem ver e compreender de igual modo e no mesmo sentido. Daí, tantas opiniões e crenças diversas.
A possibilidade que temos de compreender, de julgar e de discernir só se desenvolve lentamente, de séculos em séculos, de existências em existências. Nosso conhecimento e nossa compreensão das coisas se completam e tornam claros, à medida que nos elevamos na escala imensa dos renascimentos. Todos sabem que alguém, colocado ao pé da montanha, não pode descortinar o mesmo panorama aberto ao que já chegou ao vértice; mas, prosseguindo sua ascensão, um chegará a ver as mesmas coisas que o outro. O mesmo acontece com o Espírito em sua ascensão gradual. O Universo não se revela senão pouco a pouco, à medida que a capacidade de lhe compreender as leis se desenvolve e engrandece o indivíduo.
Daí vêm os sistemas, as escolas filosóficas e religiosas, que correspondem aos diversos graus de adiantamento dos Espíritos que nuns e noutros se filiam e, muitas vezes, aí se insulam.
(Léon Denis – O Grande Enigma).

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

OS CRISTAIS


Os cristais nascem, crescem, adoecem e morrem; foi o que o menerologista Otto Von Schraven, concluiu de inúmeras experiências por ele colhidas. Diz ele: conhece-se que um cristal está vivo, rompendo-se-lhe uma arestia e mergulhando-o em uma solução da mesma espécie ela a recompõe.
Os cristais crescem de fora para dentro, enquanto as plantas crescem de dentro para fora e debaixo para cima e os animais de dentro para fora. Nos cristais, há os regulares e os irregulares: os cristais crescendo de fora para dentro, o fazem, em virtude da lei de coesão: mas onde podemos ver que no cristal há vida, é na força método e ordem de formação e recomposição de suas arestias. Se cortarmos diagonalmente um cubo em direção ao centro, teremos seis pirâmides quadriláteras unidas pelos vértices; se fizermos uma incisão em qualquer das bases, que vá interceptar a união dos seis vértices das pirâmides, e depois romper-lhe uma arestia e o mergulharmos em uma solução da mesma espécie, ele não a recompõe mais, porque a incisão o matou.
Como acabamos de ver, na vida dos cristais, há força, método e ordem, ou seja, energia forma e matéria.
Estas modalidades vibratórias, são orientadas por um princípio a que chamaremos inteligência rudimentar com um fim evolutivo na complexidade de suas formas regulares e irregulares, mantendo um equilíbrio perfeito. Dentro da complexidade dessas formas, encontramos esse princípio inteligente, esse guia, que engendra a forma que dá orientação e produz a força. É a vida emanada do Criador que só por Ele pode ser definida.
Por esta forma começamos a ver a vida principiar nos cristais, sempre em marcha cada vez mais acelerada para os vegetais, e por fim ao reino animal. É nesse campo que o instinto se desenvolve, a inteligência se manifesta mais precisa, e a consciência desabrocha, dando a criatura o pleno conhecimento de seus atos ou livre arbítrio.
Os milênios de milênios, passam nessa marcha evolutiva cada vez mais ascendente, formando a cúpula desse edifício social, em cujo zimbório nos encontramos, procurando atingir ao Criador pelas vias do saber e da virtude, alvo para o qual Deus nos criou.
O espírito preso á forma animal, sentindo todas as contingências desse meio, vê-se forçado á luta para manter-se em equilíbrio e desvencelhar-se dos grilhões que o prende á matéria na animalidade.
Nos planos inferiores, é apenas para a manutenção da vida e da espécie; no plano huminal, as necessidades já são outras: com a aflorescência do raciocínio, a consciência mostramos nova rota, a evolução espiritual, em que a inteligência começa a discernir as sensações procurando separar o animal do espiritual.
É daí em diante que vamos ser senhores ou escravos: escravos, se nos refestelarmos nos prazeres bastardos, ou senhores, se nos tornarmos superiores a eles, impondo a nossa vontade orientada por um raciocínio são, em que a moral e o bom senso são as balizas que nos conduzem a vitória.
O estudo, a experiência aproveitados pela inteligência, mostra-nos o que precisamente devemos fazer ou não.
A luta que até então, era somente no campo material, foi agora acrescida da luta espiritual.
O resultado de nossas quedas e ascensões, é o estímulo que nos leva a novos empreendimentos, nos quais veremos, que, o esforço que gastamos para a satisfação dos gozos, que, a alimentação e conservação da espécie nos proporciona, quando mais que o estritamente indispensável, transformam-se em algemas que muitas vezes nos impedem de cumprir o nosso dever, mamentando-nos á dor.
Uma vez conhecida a causa procuremos vence-la refreando os apetitos e excessos acostumando-nos ao método e ordem, em tudo que diz respeito as satisfações animalizadas, para obtermos a primeira vitória, a qual chegaremos, senão pelo conhecimento pelo da causa, mas pelo efeito da dor, essa amiga leal e sincera que nunca lisonjeia, mas que também não mente nem engana.
No campo espiritual, também temos de enfrentar lutas mais difíceis de vencer, por pertencerem a um plano de onde se origina o egoísmo e orgulho, essa visão estrábica
do nosso eu, fazendo-nos julgar mais e melhores que os demais, com mais direitos, querendo por essa forma nos superpormos aos outros: mas como essa visão estrábica gera pensamentos que peçam pela base, não tardam os fatores do desequilíbrio moral a entrar em atividade, donde a nossa impotência, e com ela o desengana, a humilhação, o sofrimento, a dor, para o que, muitas vezes necessitamos várias reencarnações, para entrarmos na lei de equilíbrio, a humildade.
A humildade realmente adquirida, é o caminha por onde transitam todos os valores que nossa alma necessita para sua evolução.
Uma vez vencido o orgulho, esse monstro, o qual não sabemos o que mais é, no dizer de Alexandre Herculano, se estúpido, feroz ou ridículo, restamos obter a vitória sobre o egoísmo, outro fator que na sua trajetória, só conhece as sua conveniências sem atender aos direitos alheios, tornando-se surdo aos gemidos e lamentos que gera e cego as lágrimas e misérias que cria, pouco se incomodando mesmo, que, para sua satisfação corram rios de sangue, ou surjam todas as misérias como bíveis, contanto que o alvo de suas ambições seja atingido.
O egoísmo, irmão gêmeo do orgulho, geram nos planos material, intelectual e espiritual, um complexo de causas, que a seu turno tem de suportar a lei de retorno, que se manifesta para o equilíbrio: equilíbrio esse, que só pode ser adquirido com a renúncia, a humildade, a modéstia, a resignação a paciência, a constância, a prudência e a previdência para que a alma volte a participar da lei de harmonia que é tranqüilidade e paz.
É nessas lutas que a alma a partir do cristal cada vez mais se exercita, enriquecendo-se de conhecimentos e valores que a tornam apta a partilhar de planos cada vez mais elevados, até atingir a perfeição, quando o espírito vence a morte.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

OS QUE SEGUEM JESUS

Depois de procurar tantas saídas para os reveses desta vida, e concluir que de todas as encontradas, nenhuma pôde nos proporcionar um momento sequer de felicidade, cremos, desta feita, que a única esperança de paz que resta é aquela que nos oferece a religião. Assim é que, imbuídos dessa crença e em nome da religião a que nos afeiçoamos, pomo-nos à praticar a caridade e não medimos esforços para ajudar nossos irmãos desafortunados.
Com o espírito embevecido de ânimo nesse sentido, lá vamos nós empunhando a bandeira da caridade, ávidos por querer mostrar ao Mundo todo que o melhor caminho é aquele em que assentamos nossas bases e, com muito maior ênfase proclamamo-lo em altos brados quando se trata do Espiritismo, porque, na verdade, ele descortina o futuro e dá amplos poderes ao espírito para caminhar com os seus próprios pés.
Entretanto, para surpresa de tantos, poucos são os que perseveram nessa crença. Muitos falam demais, não passam de "fogo de palha" porque, ao surgir a primeira contrariedade, debandam do ímpeto primeiro para dar ensejo a que interesses outros tomem o lugar que haviam escolhido para a alma e ficam a mercê de que o galo cante 3 vezes como cantou para Pedro.
Geralmente esta é a realidade, pois sabemos que muitos são os chamados e poucos os escolhidos e, assim quando buscamos o Espiritismo, na maioria é apenas para resolver nossos problemas e desafogar nossas mágoas internas, que são geradas pelo inconformismo que toma conta de nós, diante das provas e expiações porque estamos passando nesta encarnação, as quais vêm a título de nos fazer evoluir espiritualmente.
Portanto, buscar a Doutrina Espírita com o intuito de que a mesma nos cure as enfermidades materiais é embarcar em canoa furada, pois o que o Espiritismo poderá oferecer é apenas um paliativo para nossas dores materiais, uma vez que sua finalidade é dar o antídoto para combater o veneno dos muitos pecados do espírito. É preciso estudar a Doutrina a fundo, e toda uma encarnação de estudos não bastaria para que conhecêssemos todos os seus princípios, no que diz respeito à ciência, pois ela vai apresentando sempre coisas novas conforme o progresso de seus adeptos. Ela evolui à medida que a Humanidade progride.
Desta maneira, é preciso que sintamos no fundo de nossa alma grande vontade de aprender amando, para que não venhamos para o futuro ver frustrados nossos pontos de vista, os quais, às vezes, são montados de inopino sob falsas idéias. Poderá acontecer o que acontecia com aqueles que desejavam seguir Jesus onde quer que Ele fosse, sem contar que os seus desejos estavam cobertos de interesses particulares, pois se assim não fosse Jesus não teria dito que as raposas têm seus covis e as aves do céu ninhos, e o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. (Lucas - cap. IX - 57 a 62). O que vem demonstrar também que para seguir o Espiritismo é necessário muito amor, renúncia e boa vontade, pois essa maravilhosa Doutrina segue o Mestre em Espírito e Verdade.

(Extraído de "Correio Fraterno do ABC" - ano 2 - Agosto 1969)

domingo, 22 de fevereiro de 2009

CALAMIDADES E PROVAÇÕES


O homem desejou recursos para mais facilmente abrir estradas e a Divina Providência lhe suscitou a idéia de reunir areia a nitroglicerina, em cuja conjugação despontou a dinamite. A comunidade beneficiou-se da descoberta, no entanto, certa facção organizou com ela a bomba destruidora de existências humanas.

O homem pediu veículos que lhe fizessem vencer o espaço, ganhando tempo, e o Amparo Divino ofereceu-lhe os pensamentos necessários à construção das modernas máquinas de condução e transporte. Essas bênçãos carrearam progresso e renovação para todos os setores das aquisições planetárias, entretanto, apareceram aqueles que desrespeitam as leis do trânsito, criando processos dolorosos de sofrimento e agravando débitos e resgates, nos princípios de causa e efeito.

O homem solicitou apoio contra a solidão psicológica e a Eterna Bondade, através da ciência, lhe concedeu o telégrafo, o rádio e o televisor, aproximando as coletividades e integrando no mesmo clima de aperfeiçoamento e cultura. Apesar disso, junto desses nobres empreendimentos, surgiram aqueles que se valem de tão altos instrumentos de comunicação e solidariedade para a disseminação da discórdia e da guerra.

O homem rogou medidas contra a dor e a Compaixão Divina lhe enviou os anestésicos, favorecendo-lhe o tratamento e o reequilíbrio no campo orgânico. Ao lado dessas concessões, porém, não faltam aqueles que transformam os medicamentos da paz e da misericórdia em tóxicos de deserção e delinqüência.

O homem pediu a desintegração atômica, no intuito de senhorear mais força, a fim de comandar o progresso, e a desintegração atômica está no mundo, ignorando-se que preço pagará o Orbe Terrestre, até que essa conquista seja respeitada fora de qualquer apelo à destruição.

Como é fácil observar, Deus concede sempre ao homem as possibilidades e vantagens que a Inteligência Humana resolve requisitar à Sabedoria Divina. Por isso mesmo, as calamidades que surjam nos caminhos da evolução no mundo, não ocorrem obviamente, sob a responsabilidade de Deus.

André Luiz
Médium: Francisco Cândido Xavier - Livro: " Buscas e Acharás" - EDIÇÃO IDEAL

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O IRMÃO, A IRMÃ E A MÃE DE JESUS SÃO OS QUE FAZEM A VONTADE DE SEU PAI, OUVINDO A PALAVRA DE DEUS E PIONDO-A EM PRÁTICA


MATEUS, Cap. XII, v. 46-50. — MARCOS, Cap. III, v. 31-35. —LUCAS, Cap. VIII, v. 19-21
O irmão, a irmã e a mãe de Jesus são os que fazem a vontade de seu pai, ouvindo a palavra de Deus e pondo-a em prática.
MATEUS: V. 46. Estando ele ainda a pregar para a multidão, sua mãe e seus irmãos do lado de fora procuravam falar-lhe. — 47. Então alguém lhe disse: Tua mãe e teus irmãos estão ali fora procurando-te. — 48. Respondendo a esse que assim falara, disse ele: Quem é minha mãe e quais os meus irmãos? — 49. E, estendendo a mão para os discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; — 50, porquanto, quem quer que faça a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
MARCOS: V. 31. Sua mãe e seus irmãos, tendo vindo e ficado do lado de fora, o mandaram chamar. — 32. Ora, como a multidão o cercasse, alguém lhe disse: Olha que tua mãe e teus irmãos te procuram. — 33. Ao que perguntou ele: Quem é minha mãe e quais são os meus irmãos? — 34. E, olhando para os que se achavam sentados ao redor de si, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; — 35, porquanto, aquele que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
LUCAS: V. 19. Sua mãe e seus irmãos vieram ter com ele, mas não puderam aproximar-se dele por causa da multidão. — 20. Disseram-lhe então: Estão lá fora tua mãe e teus irmãos que te querem ver. — 21. Jesus, respondendo, disse: Minha mãe e meus irmãos são os que escutam a palavra de Deus e a praticam.
Não estando ligado a Maria por nenhum laço humano, Jesus patenteava aos homens os sentimentos de fraternidade e de amor que os deviam unir.
Efetivamente, qual poderia ser o desejo do bom pastor que vinha à procura das ovelhas tresmalhadas? qual poderia ser o seu objetivo? — Reuni-Ias em torno de si. Todas, fossem quais fossem, eram dele bem-amadas.
Sendo, com relação aos homens, pela sua pureza e pelo seu poder, filho único do pai e vindo dizer-lhes: Sois todos, como eu, filhos de Deus, Jesus precisava demonstrar que punha em prática os ensinamentos que dava à multidão e provar que todos os seres humanos são de fato filhos de Deus e, por isso, irmãos dele Jesus, enquanto caminham nas vias do Senhor.
Referindo-nos a Jesus, acabamos de usar das expressões —filho único do pai. Ele o era e é, no sentido de ser, pela sua elevação espiritual, única relativamente à de todos os Espíritos que se acham ligados ao vosso planeta, quem lhe preside aos destinos. Desse ponto de vista e comparado a vós outros, Jesus pode e deve, já o temos dito, ser considerado filho único do Senhor. Sua essência pura, que nunca se desviou da linha do progresso, se aproxima da natureza do Criador universal. Seu poder ilimitado sobre quanto concerne ao orbe terreno participa do poder do supremo Senhor, com o qual ele, pela sua pureza, se acha em relação direta.
Maria e os chamados irmãos de Jesus o foram procurar, induzidos pela influência espírita de seus anjos da guarda e também levados pela idéia de que, devendo o Mestre atender à necessidade de alimentar o corpo, lhes cumpria ir à sua procura, para esse fim.
Conquanto fosse um Espírito muito elevado, Maria estava, até certo ponto, submetida à matéria que a envolvia e não compreendia que Jesus pudesse resistir a tão grandes fadigas sem tomar os alimentos que sustentam o corpo.
Tinha ela a intuição da sua sorte futura; mas, o passado se lhe apresentava, como a vós, coberto por um véu, o véu da carne.
Nunca será demais que repitamos, pois não o deveis perder de vista, o seguinte: Em virtude da revelação que lhes fora feita e que se conservou secreta, como devia acontecer, até depois de finda a missão terrena de Jesus, este, para Maria e para José, era um ente excepcional, grande aos olhos de Deus, por ser filho do mesmo Deus, e que encarnara milagrosamente, mas sem deixar de participar da natureza do homem e de estar sujeito às exigências, às necessidades da humana existência. Para os homens, ele era um homem igual aos outros, filho, por obra humana, de José e de Maria e como tal o consideraram enquanto durou a sua missão terrena e até à época em que, já finda essa missão, aquela revelação se tornou conhecida do povo.
A ida de Maria e dos chamados irmãos de Jesus à procura deste lhes foi inspirada para provocar, como provocou, a observação do Mestre.
Ao que lhe dissera: "Tua mãe e teus irmão te procuram", ele respondeu inquirindo: "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos"? E acrescentou, apontando para os discípulos:. "Eis aqui minha mãe e meus irmãos, pois que aquele que houver feito a vontade de meu pai, a vontade de Deus — esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe; minha mãe e meus ir-mãos são os que escutam a palavra de Deus e a põem em prática".
As versões de Mateus, Marcos e Lucas são exatas e se completam umas pelas outras: Jesus apontou com a mão para os discípulos que o cercavam e respondeu, deixando cair sobre o povo a atração poderosa do seu olhar, irradiação magnética que atraía os homens como o ímã atrai o ferro. Por esse gesto ele apresentava seus discípulos como exemplo e atraía para eles a multidão que os teria de imitar.
Ao dar aquela resposta, o presente e o futuro se confundiam no seu pensamento. Deu-a, tendo por fim, atento o motivo que determinara a ida de Maria e dos que eram designados por irmãos dele, provar que a missão, a cujo desempenho se consagrara no meio dos homens, sobrelevava aos laços da família humana, às necessidades da natureza humana, que, no entender dos mesmos homens, se lhe faziam sentir. Em todas as ocasiões feria as inteligências.
Tinha também por fim, atentas as palavras que lhe eram dirigidas, mostrar veladamente que nenhum laço humano o prendia a Maria, nem, por conseguinte, àqueles com quem o supunham ligado por humano parentesco. Quis mostrar que não o ligava a Maria, nem aos que eram tidos por seus irmãos, nem aos seus discípulos, nem à multidão que o rodeava, senão um laço espiritual, um parentesco espiritual, um laço de parentesco e de fraternidade segundo o espírito e não segundo a carne: Quis ainda mostrar que mesmo esse parentesco e essa fraternidade, segundo o espírito, entre ele e os homens, assim como entre estes de uns para os outros, não eram reais nem verdadeiros, senão relativamente aos que houvessem feito a vontade divina, escutando e pondo em prática a palavra de Deus, de quem era ele o representante e o órgão.
Tinha igualmente por fim preparar os homens para, nos tempos preditos, receberem a nova revelação, que hoje vos trazemos e que, tirando da letra o espírito, lhes faria conhecer, em espírito e verdade, a sua origem espírita, as condições e o modo por que se deu o seu aparecimento na terra, sua missão, sua potencialidade e seus poderes como delegado e representante do pai, no que diz respeito ao vosso planeta, a cuja formação presidiu, tendo por encargo dirigir-lhe o progresso e levá-lo à realização de seus destinos, conduzindo a humanidade terrena à perfeição pelas vias do progresso, que são a caridade, o amor e a ciência. Por essa nova revelação, ficarão os homens sabendo, em espírito e verdade. que ele Jesus é de todos irmão e ao mesmo tempo senhor, pelo poder ilimitado que tem sobre quanto respeita ao mundo em que habitais.
Tinha, pois, também por fim preparar os homens para, quando chegasse o momento, abandonarem, esclarecidos pela nova revelação, a crença na sua divindade, crença que, previa-o ele, se havia de generalizar, uma vez terminada a sua missão terrena; de acordo com o estado das inteligências, com as impressões, aspirações e interpretações humanas, assim como com as necessidades da época. Correspondendo a essas necessidades e servindo para preparar os tempos de hoje, que então eram o futuro, para preparar o advento da era que se vos abre, tal crença seria, como foi, uma condição e um meio de progresso.
Disseram a Jesus: "Tua mãe e teus irmãos te procuram". Confrontando essas palavras com estas outras (Mateus, XIII, v. 55): "Não é esse o filho do carpinteiro; sua mãe não se chama Maria; não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?" com estas (Mateus, XIII, v. 56): "E todas as suas irmãs não se acham entre nós?" com estas ainda (Marcos, VI, v. 3): "Não é esse o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?" e com estas mais (Mateus, I, v. 25): "E ele (José) não a tinha conhecido quando ela pariu o seu primogênito, ao qual deu o nome de Jesus" — pretenderam alguns homens e ainda pretendem poder afirmar que Jesus teve irmãos e irmãs por obra de José e de Maria.
Há nisso um erro manifesto que, após as discussões travadas outrora e mesmo nos dias de hoje, não mais devera reproduzir-se. Diante da nova revelação no que respeita à origem espírita de Jesus, ao seu aparecimento na terra, à natureza e ao caráter da sua missão no passado, no presente e no futuro, à elevação e à pureza de Maria e de José, à natureza e ao caráter da missão que os dois desempenharam, auxiliando a obra do Mestre, semelhante erro tem que desaparecer dos debates e controvérsias humanas.
Só aos olhos dos homens, mas não na realidade das coisas, existia parentesco próximo entre Jesus e os que eram chamados seus irmãos e irmãs.
Em hebreu a palavra — irmão — tinha várias acepções. Significava, ao mesmo tempo, o irmão propriamente dito, o primo co-irmão, o simples parente. Entre os Hebreus, os descendentes diretos da mesma linha eram considerados irmãos, se não de fato, ao menos de nome e se confundiam muitas vezes, tratando-se indistintamente de irmãos e irmãs. Geralmente se designavam pelo nome de irmãos os que eram filhos de pais-irmãos, os que agora chamais primos-irmãos.
Os chamados irmãos e irmãs de Jesus eram, segundo o parentesco humano que entre eles havia aos olhos dos homens, seus primos-irmãos.
Maria não era filha única; tinha uma irmã, que também se chamava Maria, mulher de Cleofas e mãe de Tiago, de José, de Simão e de Judas, que os homens tratavam de irmãos de Jesus.
Do mesmo modo, as chamadas irmãs deste eram suas primas co-irmãs, de acordo com o parentesco humano que, segundo os homens, havia entre elas e o Mestre.
Que importaria aos homens que Jesus tivesse tido irmãos e irmãs na humanidade, uma vez que a essência deles não podia ser igual à do Mestre, Espírito perfeito, que encarnara, para ser visto dos mesmos homens, tomando um perispírito tangível, com a forma ou a aparência do corpo humano, adequado às necessidades e à duração dá sua missão terrena?
Tal, porém, não podia dar-se e não se deu. Espíritos muito elevados, José e Maria sofriam o constrangimento do envoltório carnal que haviam aceitado, mas não estavam sujeitos a instintos de que já se haviam libertado. Exilados momentaneamente da verdadeira pátria, dela guardavam intuitivamente a lembrança e um único era o anelo de ambos: voltar para lá.
Nunca se deve acompanhar o curso de um rio de águas impuras. Deixai que os ímpios desnaturem os fatos mais sérios. Repetimos: Espíritos muito elevados, encarnados em missão, José e Maria não experimentavam as necessidades carnais da humanidade. Intuitivamente preparada para a missão que lhe cumpria desempenhar na execução daquela grande obra de regeneração, cujo desenlace constituiu exemplo para todas as raças humanas que, a partir de então, se sucederam, Maria foi e permaneceu sempre virgem. José, menos elevado do que ela, mas desempenhando também uma missão sagrada, compreendeu, pela revelação do anjo, qual o objeto da sua existência material e a ele se consagrou inteiramente.
Com a locução — "filho primogênito" — em que alguns homens se apoiaram para atribuir a Maria muitos filhos, verifica-se o que acabamos de apreciar com relação aos vocábulos — irmãos, irmãs. As interpretações humanas truncaram em falso. Filho primogênito o mesmo é que filho único, no verdadeiro sentido da palavra hebraica. Quando um único filho havia nascido, esse necessariamente era o primeiro. Ide ao texto hebreu, à língua hebraica, investigai a maneira por que os Hebreus dela usavam e achareis a significação exata das palavras.
Eles empregavam indiferentemente, na sua linguagem, a locução filho primogênito, tanto no caso de haver um só filho, como no de haver muitos, quando aludiam ao que primeiro nascera, quer outros tivessem nascido depois, quer não.
No verdadeiro sentido da frase hebraica (Mateus, I, v. 25), a locução filho primogênito significa apenas que Maria não tivera antes outro filho. Jesus era, pois, o primogênito. O autor não previu as considerações e interpretações a que tal locução daria lugar. Sob este aspecto, sua contextura é defeituosa para o vosso entendimento.
O v. 25 do cap. I de Mateus teve por fim, exclusivamente, confirmar o que fora dito nos v. 18 e 24, resumindo o que deles se deduz, isto é: que José não tomou parte alguma na concepção do filho de Maria, nessa obra do Espírito Santo; que não se aproximara dela; que aquela concepção fora obra exclusiva do Espírito Santo. Já sabeis pela revelação que vos fizemos do modo por que Jesus apareceu na terra, o que significam essas palavras: — concepção por obra do Espírito Santo.
Assim, pois, a locução "filho primogênito" não objetivava senão certificar que Maria concebera sendo virgem. Absolutamente não foi empregada para exprimir a prioridade do nascimento de um irmão entre muitos, para registrar a primogenitura de um deles, fato que, na vossa jurisprudência, política, ou feudal, conferia, sob o título de "direitos de primogenitura", certos privilégios ao irmão mais velho.
Pelo que vos revelamos com relação à gravidez e ao parto de Maria, sabeis agora como se conservou ela virgem, não obstante a gravidez e o parto, pois sabeis que estes, como obra do Espírito Santo, como obra espírita, realizada por meio do magnetismo espiritual, foram apenas aparentes, tomando-os ela, entretanto, e os homens por fatos reais.
Jesus, portanto, sendo "filho primogênito", era o que chamais "filho único". Terminada a sua missão terrena, os Hebreus, por não quererem admitir que o Mestre tivesse tido a vida especial que lhe atribuíam não só a revelação que, conservada até então secreta, se tornara conhecida do povo, mas ainda as interpretações a que essa revelação dera lugar, tomaram a locução primogênito como indicando que ao de Jesus se seguiram outros nascimentos.
Vós outros cristãos vos apegastes ao sentido verdadeiro, que é o de filho único. Eis aí a explicação destas palavras de que nos servimos: — o que chamais filho único.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

JUSTIÇA ABUNDANTE - PALAVRA INJURIOSA - RECONCILIAÇÃO



MATEUS, Cap. V, v. 20-26
- LUCAS, Cap. XII, v. 54-59
Justiça abundante. - Palavra injuriosa.
Reconciliação.
MATEUS: V. 20. Porque, eu vos digo que, se a vossa justiça não for mais abundante do que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no reino dos céus. - 21. Aprendestes o que foi dito aos antigos: "Não matarás e quem quer que mate será condenado no juízo." - 22. E eu vos digo que quem quer que se encha de cólera contra seu irmão será condenado no juízo; - que aquele que disser a seu irmão: Raca, será condenado no conselho; e quem disser: és um insensato, será condenado ao fogo da geena. - 23. Se pois, quando apresentares no altar a tua oferenda, te lembrares de que teu irmão tem qualquer coisa contra ti, - 24, deixa-a diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com ele; depois então vem fazer a tua oblata. - 25. Põe-te o mais depressa possível de acordo com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para não suceder que te entregue ao juiz, este ao ministro e que sejas metido na prisão. - 26. Em verdade te digo que daí não sairás enquanto não houveres pago até o último ceitil.
LUCAS: V. 54. E ele dizia ao povo: Assim vedes formar-se uma nuvem do lado do poente, dizeis: vem chuva e com efeito chove. - 55. Quando sopra vento do sul, dizeis que vai fazer calor e assim acontece. - 56. Hipócritas! Sabendo reconhecer o que pressagiam os aspectos do céu e da terra, como é que não reconheceis os tempos que correm? - 57. E porque, por vós mesmos, não reconheceis o que é justo? 58. Quando houveres de comparecer com o teu adversário perante o magistrado, trata de te Iivrares dele durante a viagem, para evitares que te leve ao juiz, que o juiz te entregue ao esbirro e que este te meta na prisão. - 59. Daí não sairás, eu te digo, enquanto não tiveres pago até o último ceitil.
Estes versículos têm por objeto e por fim dar a compreender aos homens que lhes cumpre procurar distinguir sempre o que é justo, material e moralmente, nas relações com seus irmãos. Estava prestes a chegar o tempo em que a justiça seria praticada por maneira diversa da de que usavam os escribas e os fariseus: sem orgulho e sem hipocrisia. Os versículos acima objetivavam ainda dar a compreender aos homens como devem obedecer aos mandamentos que lhes vem do Senhor: não passivamente, abstendo-se de cometer as faltas indicadas, pelo temor do castigo, mas praticando todas as virtudes que lhes são opostas demonstrando amor, reco-nhecimento, submissão àquele que nos traçou a todos uma linha de conduta para chegarmos a ele. Bem-aventurados os que a sabem seguir sem desvio algum.
Raca, - o juízo, - o conselho, - o fogo da geena - são expressões simbólicas. Deus julga o homem pelos seus atos. Se o homem não trata com indulgência, com brandura, o seu próximo, se o insulta, será punido por aquele que quer que todos se tratem como irmãos. As palavras - conselho, geena - são termos emblemáticos, destinados a tornar compreensível aos homens que as suas ações serão submetidas a um julgamento, que eles terão de sofrer o castigo que houverem merecido, castigo esse apropriado e proporcionado à falta cometida e acorde com a natureza e o grau da culpabilidade.
As palavras de Jesus constantes do v. 22 de Mateus são aplicáveis a todos os tempos e a todos os que infringirem a lei de amor universal. Certamente o espírita que a infringir será punido com maior severidade do que outro que ainda não viu a luz ou que, tendo-a visto, não ousou aceitá-la por escrúpulos de consciência, o que não constitui falta punível, oca-
303 OS QUATRO EVANGELHOS
sionando apenas um retardamento no progresso do Espírito, que aliás se verá suficientemente castigado pelo pesar que isso lhe causará.
As dos v. 23 e 24 de Mateus indicam, primeiramente, ao homem que deve usar de indulgência para com aquele que o ofendeu, indo estender-lhe a mão, a fim de o chamar a si. Indicam, em seguida, ao que cometeu uma falta, o dever de imediatamente procurar repará-la.
Fazei, portanto, o que o divino Mestre fez e faz todos os dias. Efetivamente, ele não vem a vós sem cessar, ele que em tudo é tão gravemente ofendido? Não estende continuamente os braços para vos receber? Não vos convida ao arrependimento por todos os meios possíveis? E não vedes muitas vezes multiplicarem-se seus benefícios a um que vos parece o mais indigno deles, unicamente com o fim de despertar o reconhecimento num coração ingrato e conquistá-lo?
Quanto às palavras do v. 25 do mesmo Evangelista, elas compõem imagens materiais destinadas a fazer que o homem compreenda a maneira por que deve proceder com seus irmãos, tendo em vista o juízo de Deus. Dai-vos pressa em perdoar aos vossos inimigos, em vos reconciliar com o vosso adversário, enquanto juntos percorreis, vós e ele, o caminho da vida, pois ignorais quando a morte vos virá deter os passos, para levar-vos à presença do soberano juiz, que lê nos corações e muitas vezes encontra aí o fermento de paixões más que não procurais descobrir. Reconciliai-vos, pois, com todos a quem houverdes ofendido e perdoai-lhes, como quereis, como precisais que o Pai celestial vos perdoe.
Disse Jesus: "Daí não sairás, enquanto não tiveres pago até o último ceitil". Deveis compreender bem estas palavras. O homem é o devedor de Deus, que lhe outorgou todas as coisas, para que delas fizesse bom uso. Ora, se o homem não pratica as virtudes que lhe são ensinadas, se repele seus irmãos, também será repelido. É uma conseqüência da lei de justiça e de amor na obra da eterna harmonia.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

CARNAVAL


O ruído atordoante dos instrumentos de percussão incitava ao culto bárbaro do prazer alucinante, misturando-se aos trovões galopantes enquanto os corpos pintados, semidespidos, estorcegavam em desespero e frenesi, acompanhando o cortejo das grandes escolas de samba, no brilho ilusório dos refletores, que se apagariam pelo amanhecer.
Como acontecera nos anos anteriores, aquela segunda-feira de carnaval convidava ao desaguar de todas as loucuras no delta das paixões da avenida em festa.
Milhares de pessoas imprevidentes, estimuladas pela música frenética, pretendendo extravasar as ansiedades represadas, cediam ao império dos desejos, nas torrentes da lubricidade que as enlouquecia.
A delinqüência abraçava o vício, urdindo as agressões, em cujas malhas se enredavam as vitimas espontâneas, que se deixavam espoliar.
As mentes, em torpe comércio de interesses subalternos, haviam produzido uma psícosfera pestilenta, na qual se nutriam vibriões psíquicos, formas-pensamento de mistura com entidades perversas, viciadas e dependentes, em espetáculo pandemônico, deprimente.
As duas populações – a física e a espiritual, em perfeita sintonia – misturavam-se, sustentando-se, disputando mais largas concessões em simbiose psíquica.
Não obstante, como sempre ocorre em situações desta natureza, equipes operosas de trabalhadores espirituais em serviço de emergência, revezavam-se, infatigáveis, procurando diminuir o índice de desvarios, de suicídios a breve e largo prazo pelas conexões que então se estabeleciam, para defender os incautos, menos maliciosos, enfim socorrer a grande mole em desequilíbrio ou pronta para sofre-lhe o impacto.
Onde a criatura coloque suas aspirações, ai encontra intercâmbio. O homem é o somatório dos seus anelos e realizações. Enquanto não elabore mais altas necessidades íntimas, demorar-se-á nas permutas grosseiras da faixa dos instintos primários. Em razão disso, a humanidade padece de carências urgentes nas áreas rudimentares da vida... Deixando-se martirizar pelos desejos inconfessáveis, ainda não se resolveu por uma conduta, realmente emocional, que lhe permita o trabalho íntimo de desembaraçar-se das sensações que respondem pelos interesses grosseiros, geradores das lutas pela posse com a predominância do egoísmo.
Até agora a conquista do belo e a liberação dos vícios têm sido desafios para os espíritos fortes, que marcham à frente, despertando os da retaguarda, anestesiados na ilusão e agrilhoados aos prazeres aliciantes, venenosos.
Não nos cabe, todavia, duvidar da vitória do amor e do êxito que todos conseguirão hoje ou mais tarde.

( Divaldo Pereira Franco, Nas fronteiras da loucura – Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda.)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

MÉDIUM CONDENADO


Ao final de uma reunião de treino de psicografia, uma companheira nossa narrou-nos parte do ensinamento que lhe passara um mentor. Segundo o amigo espiritual, muitos médiuns sentem-se como verdadeiros condenados, prisioneiros submetidos a trabalhos forçados, com aquelas pesadas bolas de ferro presas aos pés. ao passo que os espíritos-guias são os guardas da vigilância. atentos para que não haja fuga ou corpo-mole.
Sorrimos à comparação, mas ela expressa bem uma verdade.
Se algumas pessoas, insufladas pela vaidade, aspiram a ser médiuns famosos, capazes de realizar prodígios e atrair multidões, outras há que sentem a mediunidade pesar nos ombros e dela procuram se livrar, como o animal rejeita a canga.
Mediunidade é instrumento de nossa evolução: oportunidade de reparação de um passado de erros: remédio para as nossas almas doentes. Compromisso que assumimos conscientemente antes do mergulho na carne, por sugestão da Espiritualidade Superior ou por iniciativa nossa.
Recusa-la quando já estamos aqui, é fuga das nossas responsabilidades, em detrimento de nós mesmos. É promissória assinada cujo pagamento protelamos, vencendo juros e correção monetária.
Indiscutível que o exercício da mediunidade requer de nós uma grande parcela de esforço e trabalho. Mas isso também ocorre em qualquer nobre atividade deste nosso mundo. Estudo, disciplina, paciência, compreensão. dedicação e amor são requisitos indispensáveis a quem deseje servir na Seara do Bem.
Cumprindo a tarefa que nos compete dentro do campo da mediunidade, nós mesmos seremos os maiores beneficiados. Estaremos eliminando vícios e maus hábitos e adquirindo virtudes que nos tornarão fortes, capazes de suportar as dificuldades com galhardia.
Devemos considerar. ainda. que a Espiritualidade Maior conta com o nosso trabalho no socorro ao próximo. estendendo consolação c luz a quantos estão em sofrimento. E não poucas vezes o irmão atendido por nosso intermédio é alguém com o qual estamos em débito, e a oportunidade aproveitada favorece o perdão de nossas faltas por quem havíamos ofendido.
Mediunidade, pois, não é condenação, mas benção divina. Nossos guias são amigos bondosos e pacientes, com os quais combinamos servir aqui deste lado: auxiliam-nos muito mais do que imaginamos, para que não abandonemos a luta pelo caminho.
Assim, afastemos de nós quaisquer pensamentos contrários ao exercício da mediunidade. Abracemos o trabalho com alegria e confiança, na certeza de que somente após tê-lo bem e fielmente cumprido alcançaremos a paz em nossas consciências.
Ação Espírita - Julho/Agosto/Setembro - 1995
Médium Condenado
Donizete Pinheiro
Ao final de uma reunião de treino de psicografia, uma companheira nossa narrou-nos parte do ensinamento que lhe passara um mentor. Segundo o amigo espiritual, muitos médiuns sentem-se como verdadeiros condenados, prisioneiros submetidos a trabalhos forçados, com aquelas pesadas bolas de ferro presas aos pés. ao passo que os espíritos-guias são os guardas da vigilância. atentos para que não haja fuga ou corpo-mole.
Sorrimos à comparação, mas ela expressa bem uma verdade.
Se algumas pessoas, insufladas pela vaidade, aspiram a ser médiuns famosos, capazes de realizar prodígios e atrair multidões, outras há que sentem a mediunidade pesar nos ombros e dela procuram se livrar, como o animal rejeita a canga.
Mediunidade é instrumento de nossa evolução: oportunidade de reparação de um passado de erros: remédio para as nossas almas doentes. Compromisso que assumimos conscientemente antes do mergulho na carne, por sugestão da Espiritualidade Superior ou por iniciativa nossa.
Recusa-la quando já estamos aqui, é fuga das nossas responsabilidades, em detrimento de nós mesmos. É promissória assinada cujo pagamento protelamos, vencendo juros e correção monetária.
Indiscutível que o exercício da mediunidade requer de nós uma grande parcela de esforço e trabalho. Mas isso também ocorre em qualquer nobre atividade deste nosso mundo. Estudo, disciplina, paciência, compreensão. dedicação e amor são requisitos indispensáveis a quem deseje servir na Seara do Bem.
Cumprindo a tarefa que nos compete dentro do campo da mediunidade, nós mesmos seremos os maiores beneficiados. Estaremos eliminando vícios e maus hábitos e adquirindo virtudes que nos tornarão fortes, capazes de suportar as dificuldades com galhardia.
Devemos considerar. ainda. que a Espiritualidade Maior conta com o nosso trabalho no socorro ao próximo. estendendo consolação c luz a quantos estão em sofrimento. E não poucas vezes o irmão atendido por nosso intermédio é alguém com o qual estamos em débito, e a oportunidade aproveitada favorece o perdão de nossas faltas por quem havíamos ofendido.
Mediunidade, pois, não é condenação, mas benção divina. Nossos guias são amigos bondosos e pacientes, com os quais combinamos servir aqui deste lado: auxiliam-nos muito mais do que imaginamos, para que não abandonemos a luta pelo caminho.
Assim, afastemos de nós quaisquer pensamentos contrários ao exercício da mediunidade. Abracemos o trabalho com alegria e confiança, na certeza de que somente após tê-lo bem e fielmente cumprido alcançaremos a paz em nossas consciências.
Ação Espírita - Julho/Agosto/Setembro - 1995

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

NO MOMENTO DE DORMIR


O sono é o repouso do corpo, mas o espírito não tem necessidade de repouso. Enquanto os sentidos estão entorpecidos, a alma se liberta em parte da matéria e goza de suas faculdades de espírito.
O sono foi dado ao homem para a reparação das forças orgânicas e para a reparação das forças morais. Enquanto o corpo recupera os elementos que perdeu pela atividade da vigília, o espírito vai se retemperar entre outros espíritos; ele haure no que vê, no que ouve, e nos conselhos que lhe são dados, idéias que reencontra, ao despertar, em estado de intuição; é o retorno temporário do exilado à sua verdadeira pátria; é o prisioneiro momentaneamente libertado.
Mas ocorre, como para o prisioneiro perverso, que o espírito nem sempre aproveita esse momento de liberdade para seu adiantamento; se ele tem maus instintos, em lugar de procurar a companhia dos bons espíritos, procura a dos seus iguais e vai visitar os lugares onde pode dar livre curso às suas tendências.
Aquele que está compenetrado desta verdade, eleve o seu pensamento no momento em que sentir a aproximação do sono; faça apelo aos conselhos dos bons espíritos e daqueles cuja a memória lhe é cara, a fim de que venham se reunir a ele, no curto intervalo que lhe é concebido, e ao despertar se sentirá mais forte contra o mal, mais corajoso contra a adversidade.
Prece: Minha alma vai se encontrar por um instante com os outros espíritos. Que aqueles que são bons venham me ajudar com seus conselhos. Meu anjo guardião, fazei com que, ao despertar, conserve deles uma impressão durável e salutar.

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec. Capítulo XXVIII, itens 38 & 39

domingo, 15 de fevereiro de 2009

UM ESTRANHO CASO DE OBSESSÃO

De um jovem que se assinou J.S.P., em carta que nos escreveu, recebemos a seguinte interrogação:
“Será condenável um homem se tornar noivo de uma jovem, marcar a data do casamento e depois verificar que é a outra que ama, e, por isso, desejar romper o compromisso com a primeira? Este é o meu problema. Que devo fazer? Sinto que ambas gostam de mim, embora de minha parte já existe uma definição.”
Isso faz-me lembrar o episódio ocorrido com Jesus, citado pelo evangelista Lucas, no capítulo 12, vv. 13 e 14:
“Então , no meio da turba, um homem lhe disse: “Mestre, dize ao meu irmão que divida comigo a herança que nos tocou.” Ao que Jesus respondeu: “Ó homem! Quem me designou para vos julgar, ou para fazer as vossas partilhas?”

Não acreditamos que esse gentil correspondente esteja dizendo a verdade. Deve tratar-se apenas de uma curiosidade, uma investigação que ele faz, a fim de obter resposta, à luz do critério doutrinário, para casos a que, infelizmente, tantas vezes assistimos em nossa vida de relação. Não nos sentimos, aliás, no direito de opinar sobre ocorrência tão melindrosa, na hipótese de se tratar de uma realidade que o amigo J.S.P. viva no momento.
Não obstante, o bom senso indica que o fato de jogar com os sentimentos do nosso próximo é grave, e pode resultar em conseqüências muito desagradáveis, mesmo dramáticas. Muitas vezes, a leviandade praticada por alguém, em casos de amor, pode refletir-se em além-túmulo e arrastar a uma obsessão aquele que feriu um coração com a traição ou o desprezo. A lei de caridade manda-nos respeitar o coração amigo que se nos devota, e procurar não iludi-lo com falsas promessas ou atitudes levianas.
Uma solicitação de casamento deve ser refletida, amadurecida, antes de realizada, observando o pretendente se, com efeito, o seu sentimento de amor é sincero, é fiel para enfrentar um compromisso de tal responsabilidade. Porque tal compromisso não é apenas social, mas também moral, e o homem de bem deve honrá-lo, consultando a si próprio antes de tomar a resolução.
Este, vale dizer, é um problema exclusivamente de consciência, o qual, por isso mesmo, não foge às necessárias buscas de inspiração na prece sincera e vibrada.
Uma ingratidão, uma traição de qualquer natureza, assim como a hipocrisia diante de um coração que ama, é erro que poderá reverter sobre quem o pratica, senão de momento, mais tarde, e, mesmo, em futuro remoto. Responderemos, no entanto, narrando um fato típico de traição de amor, por nós assistido há cerca de quarenta anos, fato real e não fantasia de romance, que se passou em certa pequena cidade do Estado do Rio de Janeiro, a qual era por nós visitada periodicamente. E o nosso correspondente, se, realmente, estiver envolvido pela própria leviandade, compreenderá que necessita muita cautela do modo de agir, recorrendo ao Evangelho, a fim de orientar-se.

O jovem Sr. A.G. tornara-se noivo de uma jovem de excelentes qualidades morais, muito delicada de sentimentos e leal aos afetos íntimos, mas de condições sociais muito modestas. Era uma boa filha para sua mãe, a qual, por sua vez, era viúva e adorava a filha única entre ternura infinita. Chamava-se Elisa a jovem noiva, e, sua mãe, Madalena. O noivado corria normalmente, e o casamento fora marcado para seis meses depois. Elisa entregava-se ao seu amor com todas as forças da alma, o coração repleto de esperanças e confiança no futuro. O noivo, por sua vez, mostrava-se dedicado e atencioso. Não passava um único dia sem visitar a noiva, e o idílio fazia crer a nossa Madalena que a filha seria felicíssima no casamento.
Um dia, no entanto, o Sr. A.G., que era comerciante e lutava a fim de prosperar, necessitou viajar a uma cidade próxima - a cidade de A.R. -, lá passando três dias. Em um baile, a que fora convidado por um colega de comércio, conheceu uma jovem por nome Terezinha. Dançou prazerosamente com ela, reconheceu-a educada, alegre, amável, elegante, muito sociável, e enamorou-se. Voltando a sua cidade natal, meditou em que Elisa era bem inferior a Terezinha, pois não freqüentava a sociedade, vestia-se modestamente, e nem possuía aquela irradiante personalidade da outra. Elisa notou-o silencioso e triste, falando o mínimo, demorando-se menos em suas visitas, mas de nada desconfiou, porque seu coração era puro e não podia acalentar suspeitas contra aquele que lhe merecia toda a confiança. Na semana seguinte, A.G. voltou à cidade de A.R., e Terezinha pareceu-lhe mais sedutora do que no primeiro dia. Prosseguiu o namoro, com a moça a corresponder-lhe ternamente, com imensa alegria. Finalmente, passoua viajar para a velha cidade de A.R. todos os sábados., pretextando negócios, e lá ficava também aos domingos, deixando a casa comercial ao cuidado do sócio. Mas, não confessava a Terezinha que era comprometido em sua cidade natal nem rompia o noivado com Elisa. Faltava-lhe coragem para esclarecer a ambas a própria situação.
Chegara, no entanto, a época indicada para o consórcio com Elisa. Mas A.G. desculpou-se, e pedira mais dois meses de espera. Os negócios não iam bem... enquanto continuavam as visitas à cidade vizinha, e Elisa, fiel e confiante, e sua mãe continuavam preparando o modesto enxoval. Até que, de uma das visitas a A.R., o jovem Sr. A.G. voltou casado com a graciosa Terezinha, sem jamais haver desfeito o noivado com Elisa.
Numa cidade pequena como aquela, tais acontecimentos, há quarenta ou cinqüenta anos passados, repercutiam como raios que explodissem entre a população. Elisa soubera do fato logo após o desembarque do casal, que vinha ali mesmo residir. Mas não pôde, não quis acreditar no que amigos lhe vieram informar. Mas, investigando, logo se inteirou da realidade, e adoeceu. Adoeceu de paixão, de surpresa, d e choque nervoso, de humilhação, de desespero, de decepção, de desilusão, de vergonha, de traumatismo moral. Adveio embolia cerebral e, um mês depois, Elisa morria nos braços de sua inconsolável mãe. Nesse dia, houve revolta entre as pessoas afeiçoadas a Elisa e sua mãe, e Terezinha foi por elas informada do procedimento desleal do homem que a desposara. Confessou ela, então ignorar o compromisso de A.G. com alguém daquela cidade, e não se sentir culpada pelo passamento da jovem. Discutiu calorosamente com o marido nesse dia. Mas tudo passou logo depois, e não mais tocaram no assunto. A hora em que, porém, saía o féretro de Elisa, sua mãe, desolada, em desespero, exclamou – e suas palavras repercutiram tão tragicamente pelo ambiente mortuário da sua pobre sala de visitas que as pessoas presentes estremeceram de impressão e pavor:
“Minha filha, vai em paz para junto de Deus, porque eras um anjo que mereceu o Céu! E fica descansada, porque o miserável que causou a tua morte há de me pagar! Ele não será feliz, porque eu não o deixarei ser feliz!”
E, três meses depois, Madalena, sempre inconsolável, inconformada, morria também. A pobre mulher era cardíaca e não resistiu à dor de perder a filha naquelas circunstâncias.
Cerca de três ou quatro meses depois após o passamento de Madalena, Terezinha começou a beber e embriagar-se. Das primeiras vezes que o fato se verificou, o marido repreendeu-a energicamente. Houve discussões graves, cenas lamentáveis. A.G. acusava-a de Ter o vício desde o tempo de solteira, e encobri-lo hipocritamente; que aquela alegria permanente dos seus modos, aquela vivacidade que todos lhe conheciam, outra coisa não era senão reflexo do álcool ingerido às ocultas. Chorando, Terezinha afirmava que jamais bebera, que somente agora uma necessidade irresistível de beber levava-a a procurar, em qualquer arte, algo com que aplacar aquele terrível desejo que a prostrava. Os melhores médicos da cidade, e até facultativos de São Paulo e do Rio de Janeiro, trataram dela. O marido gastava o que certamente não possuía, a fim de libertá-la do nefando vício. Mas, era tudo em vão. Terezinha continuava a beber, e cada vez embrenhava-se no vício com mais ardor. Mas não era vinho, não era cerveja que a atraíam. Era a cachaça, a cachaça! O terrível veneno que os obsessores preferem para sugerir aos seus desafetos. Terezinha, dIante tão graciosa, agora se embebedava até sair à rua, na ausência do marido, e fazer tolices, e dizer inconveniências, até cair na calçada e entrar em coma alcoólico, como os ébrios comuns. A.G. passava pela vergonha de ser avisado, por qualquer transeunte, de que sua mulher se encontrava caída, completamente bêbada, numa calçada ou numa esquina de rua.
Vieram quatro filhos desde malogrado matrimônio. E Terezinha não deixou de beber, e não atendia aos deveres para com os mesmos. Era preciso, então, que o marido se repartisse entre os próprios negócios e as atenções aos filhos, auxiliado por criadas. Os filhos cresciam verificando a desgraça em que caíra a própria mãe. A.G. arruinou-se como comerciante, sendo necessário submeter-se a um modesto emprego de administrador do cemitério local. E, finalmente, Terezinha já não usava a cachaça pura, mas temperada em cravo e a canela. No ano de 1940, as circunstâncias da vida levaram-me à dita cidade. Visitei o casal, convidou-me a uma conversa particular, já embriagada, e falou-me, debulhada em lágrimas:
“Sr. Frederico, sei que o senhor é espírita e conhece muitas coisas que os outros desconhecem... Pelo amor de Deus, liberte-me desse desejo de beber... é uma força indomável que me arrasta para a bebida! Eu não quero beber! Mas sou forçada a beber!”
Nessa visita, contemplei, então, um casal desajustado, filhos infelizes, um homem vencido pela adversidade, uma mulher arruinada por uma desgraça inconcebível!
Regressando à minha terra, orei durante algum tempo, e, nas reuniões que fazíamos no nosso templo espírita, suplicávamos ao Alto socorro para ela. Mas Terezinha continuou a beber durante mais cinco anos, da mesma forma. Bebeu durante quatorze anos, sem um só dia de trégua!
Certo dia em que o Sr. A.G. se lamentava numa roda de amigos, um deles aconselhou:
“Por que você não leva sua esposa ao Centro Espírita Bittencourt Sampaio? O Sr. Z, seu diretor, é um grande médium, apóstolo do Bem, tem curado muita gente, de variadas doenças...”
A.G. não era espírita, mas, impelido pelo desespero, levou a esposa ao Sr. Z, e explicou-lhe o que acontecia.
Reunidos os três em gabinete apropriado, o médium Z, que, de imediato, compreendeu o que se passava, orou e suplicou a Jesus a presença de um de seus mensageiros a fim de socorrer a paciente. Apresentou-se, então, à sua vidência, o grande, o iluminado espírito de Bittencourt Sampaio, que lhe disse, através da intuição:
“Chama o teu médium... Trata-se de uma obsessão... e faremos o que o senhor permitir.”
Veio o médium – a própria esposa de Z -. Este, incorporado pelo generoso Protetor presente, espalmou uma das mãos sobre a cabeça de Terezinha e a outra sobre o médium. Qual uma faísca elétrica, o obsessor apresentou-se, incorporando-se na médium. Era Madalena, a mãe da pobre Elisa, noiva atraiçoada de A.G.. Conversaram os dois, como de praxe em tais reuniões, sob a assistência de Bittencourt, sempre incorporado em Z. Madalena terminou por submeter-se, não ainda convertida, a perdoar, mas à irresistível autoridade de Bittencourt. Abandonou a presa, que subjugara durante quatorze anos! Terezinha ficou radicalmente curada da embriaguez em uma semana, pois fora necessário ainda fortificá-la através de passes, que Z lhe aplicava, ainda sob influência curativa de Bittencourt Sampaio.
Mas... perguntará o leitor: Por que o Espírito Madalena não obsidiou antes A.G., que foi o traidor de Elisa, e não Terezinha, que ignorava o compromisso por ele mantido com aquela?
E nós ousamos confessar que não sabemos. É possível, porém, que a pobre Madalena, despeitada, odiando aquela que roubara o coração do prometido de sua filha, preferisse ferir Terezinha, para que a dor de A.G. fosse mais cruel. É possível que Terezinha, de modo algum, tivesse tendência para a bebida, sem o saber; e, certamente, se esta foi, realmente, inocente da ação reprovável de A.G., devia, por alguma remota falta, à lei de Deus e, por isso teria mais possibilidade de “dar passividade” a um, obsessor, por ser, com certeza, frágil, além de ser médium, assim expiando um erro do passado, enquanto o marido expiava um crime cometido no presente. Porque foi um crime o que ele praticara contra Elisa. Madalena, certamente, errou. Mas... “quem estiver sem pecado atire a primeira pedra” nessa pobre entidade que, sob o cuidado do grande e iluminado Bittencourt Sampaio, encontrou, sem sombra de dúvida, o verdadeiro caminho a seguir, a fim de redimir-se.

FONTE: Reformador – abril de 1976 – Frederico Francisco

sábado, 14 de fevereiro de 2009

CORPO E ALMA


CUIDAR do corpo e da alma, eis o dever de todo Espírito reencarnado, perante as leis divinas.
O corpo físico, instrumento de extraordinária valia, indispensável à atuação permanente do Espírito nos mundos materiais como o nosso, de que forma deve ser encarado, sob a luz da Doutrina dos Espíritos?
Na sua ignorância manifesta a respeito da lei natural ou divina, o homem tem negligenciado, sob muitos aspectos, as obrigações que lhe cabem no uso desse instrumento precioso, ”o filtro vivo de nossa alma”, na expressão de Emmanuel.
Nele e com ele, o Espírito experimenta as provações, passa pelos resgates, vive alegrias e tristezas, aprende a aceitar doenças e mutilações, e com elas conviver. Aperfeiçoa-se, reeduca-se, cresce em sentimentos nobres, ou se compromete na negação e no mal.
Trata-o ora com desprezo, abusando de suas potencialidades, ora com excesso de zelo, como se fosse simples objeto de adorno.
No entanto, quando compreendida em seu sentido transcendente, a vida do homem na Terra, seu instrumento corporal participa mais da natureza de m empréstimo divino que propriamente de uma propriedade individual, da qual se possa dispor sem presta contas.
Não deveria apegar-se desvairadamente a ele, compreendendo seu desgaste, seu envelhecimento e submissão às leis da vida física, como ocorre com todos os seres vivos.
A incompreensão das finalidades da vida material e o excesso de vaidade têm levado milhões de homens e mulheres, em gerações que se sucedem, ao narcisismo corporal, em detrimento do equilíbrio que deve existir no liame copo-alma.
De outra parte, por ignorância das leis que presidem à evolução dos seres, numeroso contingente de criaturas humanas, visando a alcançar a felicidade futura, em outra vida, entrega-se a toda sorte de macerações, sacrifícios corporais voluntários e privações, retirando-se do convívio do mundo, evitando as lutas redentoras e isolando-se das dificuldades naturais da vida na procura da salvação egoística da alma, através de meios inadequados.
Excessos de alimentação, desregramentos lamentáveis da sexualidade, viciações transformadas em hábitos degradantes e prejudiciais à saúde física e mental, tais o uso do fumo, do álcool e das drogas, são flagelos corporais com reflexos no Espírito, venenos agindo lentamente, consentidos ou impostos, inadvertida ou conscientemente.
Muitos esquecem ou se descuidam dos deveres elementares de higiene pessoal e da limpeza do corpo, dos banhos de água e de sol e do ar puro que equilibram a saúde.
A natureza traçou ao homem os limites do necessário na manutenção do equilíbrio em tudo o que se relaciona com seu corpo. O instinto, aliado à observação e à inteligência de cada um estabelece as lindes além das quais o indivíduo torna-se responsável pelo excesso, supérfluo e prejudicial.
Ultrapassando os limites impostos pela natureza, com a preocupação dos gozos exagerados, muitas vezes o homem se coloca em situação inferior à dos irracionais, cujos instintos servem para guiá-los nas necessidades da vida.
Ocorre ainda, nos mundos moralmente atrasados, como a Terra, um fenômeno que põe à mostra a falta de senso de justiça e solidariedade, ao lado de profundo egoísmo de seus habitantes: a desigualdade de bens, de meios e de oportunidades.
Enquanto muitos se entregam aos excessos e ao supérfluo, no gozo dos bens destinados à sustentação da vida material, inúmeras coletividades, milhões de indivíduos estão em estado de carência, sujeitos à fome, à falta de água, de medicamentos, de habitação, de transporte, numa triste situação de miséria.
Esse terrível quadro social espalhado por todas as nações do Globo, m maior ou menor escala, dir-se-ia, foge ao controle individual, para situar-se no plano dos problemas sociais coletivos. Assim é, realmente. O problema ultrapassa o terreno individual para tornar-se responsabilidade de todos.
Nele vemos claramente a necessidade de solidariedade, da compreensão humana, da caridade, do amor, partindo de cada ser para compor a vontade coletiva.
Só haverá soluções justas e adequadas quando as sociedades humanas tornarem-se menos egoístas e indiferentes, quando os bem-aquinhoados interessarem-se pelo auxílio aos mais necessitados, proporcionando-lhes os meios de trabalho, de produção e de reeducação capazes de soerguê-los da situação deprimente.
“Nem só de pão vive o homem.”Nesse ensino de Jesus distingue-se perfeitamente os cuidados devidos ao corpo, que não podem ser postergados, mas que não devem ser elevados à condição de sacrificar os deveres perante o Espírito.
A sabedoria da vida está em conciliar os reclamos de um e de outro, dentro do necessário equilíbrio, não se perdendo de vista que um, transitório, é o instrumento do outro, na sua trajetória eterna.
*
A ATIVIDADE do Espírito é incessante e eterna.
Criado por Deus simples e ignorante, seu destino é agir, obrar, progredir sempre, no estado livre ou ligado à matéria, nos mundos materiais. Toda sua atividade conjuga-se à harmonia da vida e ao progresso universal, de acordo com o estágio evolutivo que ocupe na hierarquia espiritual.
Quando encarnado, liga-se estreitamente à matéria, adquirindo experiências múltiplas necessárias ao seu progresso.
A Doutrina Espírita, por convenção, reserva a denominação de alma ao Espírito encarnado.
O homem é, portanto, um ser dual, composto de corpo e alma. Servindo de intermediário entre o corpo e a alma está o perispírito, invólucro semimaterial do Espírito que o acompanha ao desligar-se do corpo físico.
Essas são noções básicas elementares da Doutrina dos Espíritos, imprescindíveis ao estudo e a compreensão dos deveres e obrigações das criaturas humanas perante a lei divina.
Certo é que as revelações dos Espíritos chegaram ao mundo no tempo apropriado a que grande número de seus habitantes pudesse delas tomar conhecimento. Todavia, como advertem os Instrutores espirituais, nem todos estão aptos a compreendê-las integralmente, podendo certas revelações perturbá-los e confundi-los.
É compreensível que assim seja, já que não é o mesmo o estágio evolutivo moral e intelectual dos seres que habitam nosso Orbe.
Essa circunstância mostra a sabedoria divina determinando a progressividade das revelações, para que, à medida que o homem evolua, adquira conhecimentos novos, trilhando os mesmos caminhos palmilhados por outros, em épocas diferentes.
A Doutrina Espírita, resumindo as revelações anteriores, especialmente os ensinos do Cristo interpretados em espírito e conjugando-os a novos conhecimentos, dá ao homem outra dimensão da vida, indicando o verdadeiro alvo a ser atingido. Nem todos estão despertos para renunciar às satisfações puramente materiais, substituindo-as por objetivos mais elevados e de mais difícil conquista.
É muito grande o número dos espiritualistas, nas diferentes denominações religiosas, incapazes de aceitar a verdade reencarnacionista e, sem ela, fica prejudicado todo o entendimento sobre a necessidade das aquisições morais e sobre as desigualdades individuais, comprometendo a própria noção de justiça, de eqüidade e de misericórdia nas leis de Deus.
No entanto, à luz dessa velhíssima doutrina das existências múltiplas, ensinada veladamente nos Evangelhos e de forma clara em antigas religiões orientais, as obscuridades desaparecem dando lugar à compreensão de que o progresso é contínuo e que os avanços morais e intelectuais são permanentes, em sucessivas vidas, indicando que os mais adiantados e bem dotados são os que mais viveram, mais trabalharam e mais aproveitaram.
Mostrando o fatalismo da lei divina, regendo a tudo, no campo material e no espiritual, depara-se a alma, ao mesmo tempo, com a liberdade de ação espiritual. Daí surge o admirável equilíbrio dos termos da lei natural, na coexistência do determinismo divino com a contingência do livre-arbítrio, de que resulta a responsabilidade individual.
Usando a liberdade, nem todas as criaturas avançam no mesmo ritmo e assim fica explicada a desigualdade entre os homens. Mas a todos será sempre possível transpor as diferenças existentes, desde que haja aplicação, trabalho, esforço, responsabilidade, contando com muitas oportunidades para tanto, em sucessivas vidas.
Que de mais justo e consolador poder-se-ia aspirar?
Filhos do mesmo Pai generoso, percorrendo idênticos caminhos de obstáculos e dificuldades, na busca da perfeição e da felicidade, todos são livres na escolha, mas responsáveis pela opção. Ninguém privilegiado nem esquecido. Cada um conquistando seus próprios méritos.
Cuidar da alma, a eterna caminhante, é conseqüência natural decorrente da aceitação da abençoada Doutrina dos Espíritos.
Sabedores de que nos rege sempre uma lei imutável, soberana e justa, nossa conclusão lógica é a de que as injustiças que nos atingem são apenas aparentes e provisórias, uma vez que todo efeito tem uma causa, sendo nossa vida atual, com os dissabores, sofrimentos e constrangimentos, a resultante de nossas próprias ações e omissões.
Nosso corpo, instrumento para a travessia da vida de reencarnado, o meio e a posição social, os recursos materiais e intelectuais, tudo é resultante do que fizemos ou deixamos de fazer no passado próximo ou remoto.
Preparamos o futuro construindo nosso ser moral, muitas vezes escolhendo o ambiente do renascimento na carne.
Nossa alma é um universo de sombras e claridades. Seu destino é a perfeição. Enquanto imperfeita jaz inquieta, errado e acertando.Abraçando uma diretriz luminosa, sua busca transforma-se em luta para suplantar as sombras.
O espírita consciente e sincero torna-se um lutador tenaz contra sua próprias sombras, que se projetam além de sua personalidade, sob as formas de egoísmo, vaidade, inveja, ciúme, ambições desmedidas.
Reverter esse quadro é obra para muitas existências. A prática da caridade, a conquista da humildade, a compreensão ampla de nossos semelhantes, a aceitação das situações irreversíveis, o serviço constante no bem, eis a programação da reforma e do renascimento interior, através da qual são resgatadas as culpas e desfeitas as cadeias que prendem o ser às imperfeições morais.
O desenvolvimento e a duração dessa transformação é variável.Depende da aplicação de cada um, da capacidade para a renúncia e o sacrifício.
A dor, física ou moral, funciona como poderoso agente retificador.
As provações são meios utilizados pela Lei no despertamento das criaturas para o amor, substituindo as paixões.
O conhecimento espírita auxilia extraordinariamente a identificação das causas dos sofrimentos, levando a alma a aceitá-los com paciência e resignação, sem a revolta e a rebeldia própria dos que renegam a justiça das leis de Deus, por ignorância.
Para avaliar a felicidade, mesmo relativa, é necessário saber seu custo. Assim como o alívio de uma dor física pode custar a cirurgia de um órgão doente, a cessação de um mal moral depende do sacrifício capaz de erradicar do nosso organismo psíquico sua causa de natureza espiritual.
Se não somos capazes de seguir a estrada certa do bem, preferindo opções erradas, a Providência deixa-nos colher as conseqüentes decepções, correspondendo a experiências válidas em novas oportunidades que se apresentarem.
Felizes aqueles que aproveitam seus reveses, fazendo deles alavancas para novas arrancadas.
Não devemos nos impacientar diante das inúmeras dificuldades que muitas vezes se opõem ao nosso desejo de progredir rapidamente. Somos ainda criaturas imperfeitas, incapazes de avaliar toda a extensão das leis divinas que nos regem. Precisamos de paciência para nós mesmos, evitando o engano de aspirar aos resultados imediatos espetaculares. Para que as aquisições morais sejam consideradas definitivas, a criatura é submetida pela Providência a repetidos testes de comprovação, em circunstâncias diversas.
Não basta a aceitação do bem em teoria.É necessário sua realização na experiência vivida.
Juvanir Borges de Souza.
Revista “Reformador” - setembro 1987-Editorial

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

DESAJUSTES NA FAMÍLIA



775 . Qual seria, para a sociedade, o resultado do relaxamento dos laços de família?
"Uma recrudescência do egoísmo." (*)

A família é instituição social e humana comprometida com a realidade do Espírito, por constituir-se elemento primacial na construção do grupo que a compõe.
Organizada para o ministério de intercâmbio dos valores afetivos, é educandário e oficina onde se desenvolvem os valores éticos e espirituais do ser humano com vistas ao futuro eterno dos membros que a constituem.
Iniciada mediante a união dos sentimentos que vinculam os cônjuges um ao outro, abre-se enriquecedora para a prole, que passa a representar um investimento-luz de relevante significado em prol da felicidade dos pais e dos seus descendentes.
A sua preservação é de vital importância para o desenvolvimento moral da sociedade, que nela se apoia e a transforma em alicerce para a preservação das suas conquistas com o crescimento de outros valores.
Mesmo entre os animais selvagens o grupo familiar é de significativa importância, cabendo aos pais, por instinto, o sustento da prole e sua preservação até quando essa se encontra em condições de sobreviver utilizando os próprios recursos.
Na família, caldeiam-se os elementos constitutivos do Espírito em processo de crescimento moral, ampliando-lhe a capacidade de evolução ao tempo que lhe retifica equívocos e lhe aprimora sentimentos.
Todos aqueles que formam o clã estão, de alguma forma, vinculados entre si pelos fortes laços de experiências transatas.
Acontece, às vezes, iniciarem-se experiências novas com vistas ao programa da fraternidade universal.
No entanto, conforme o comportamento durante a vivência, estabelecem-se futuros programas de intercâmbio iluminativo e de capacitação para os desafios do processo de sublimação.
Por isso, nem sempre os membros que conformam a família são harmônicos, apresentando desalinhos de conduta, agressividade, animosidade, insegurança, rebeldia, ódio acirrado...
Nesses casos, identificamos adversários que se enfrentam mediante nova e abençoada oportunidade, nos tecidos biológicos do mesmo grupo, a fim de retificarem os erros, aprenderem compreensão e tolerância, reformularem conceitos sobre a vida.
Igualmente, quando o afeto esplende em todos os membros e a legítima amizade os irmana, acompanhamos o desdobramento de bases afetivas anteriormente estabelecidas, ampliando o campo de realizações para o futuro.
A sociedade é resultado do grupo familiar que se lhe torna célula essencial para a formação do conjunto, produzindo o coletivo conforme as estruturas individuais.
Por isso mesmo, quando a família se desestrutura sociedade soçobra.
Sem homens de boa formação moral e de caráter diamantino não é possível a existência de cidadãos equilibrados e dignos.
É, portanto, no lar, que se corrigem as arestas morais do pretérito, despertam-se sentimentos elevados que se encontram adormecidos, criam-se hábitos saudáveis e dignificantes.
Sem um lar bem estruturado o conjunto social dissolve-se, formando grupelhos de atormentados e prepotentes ou desleixados e destituídos de ideais que fomentam o desar da Humanidade.
A imaturidade psicológica de homens e mulheres que procriam sem responsabilidade é fator causal que prepondera no desequilíbrio que assusta a sociedade dos dias atuais.
Mais preocupados em fruir prazer do que assumir responsabilidades, os indivíduos, não equipados de compreensão dos deveres, transitam pelos conúbios sexuais sem identificar-lhes a relevante significação de mero reprodutor da espécie com altas responsabilidades para os seus promotores.
Unem-se, uns aos outros, mais atraídos pela ilusão da carne sedutora do que pelos sentimentos que sustentam a afetividade e trabalham pela alegria de participar de uma existência saudável ao lado de outrem.
Quando os filhos nascem, ultrapassados os momentos de encanto e de promessas emocionais, consideram-nos impedimento para mais prazeres e gozos, ou têm-nos na conta de pesados ônus financeiro, enquanto que, por outro lado, se permitem o esbanjamento nos jogos da alucinação em que se comprazem.
Noutras vezes, a simples constatação da gravidez desencadeia reações asselvajadas que os levam ao aborto criminoso, em tentativa infeliz de fugir à responsabilidade e ao compromisso espontaneamente estabelecido.
Como educandário, no entanto, o lar representa um verdadeiro núcleo de formação da personalidade mediante os hábitos que se implantam no comportamento daqueles que aí se encontram.
Pais agressivos ou negligentes, vulgares ou indisciplinados, emocionalmente inseguros ou rebeldes, tornam-se modelos nos quais os filhos formulam conceitos equivocados sobre a sociedade.
Nesse clima de irresponsabilidade e conflitos, desenvolvem-se nos educandos os sentimentos de animosidade e suspeita contra todos os demais indivíduos, que passam a refletir as imagens domésticas, ameaçadoras ou punitivas, atormentadas ou insensíveis, de que foram vítimas.
Quando, porém, os hábitos salutares são vivenciados pelos genitores, criam-se raízes de respeito e admiração entre todos, transferindo-se esses comportamentos para a sociedade na qual deverão viver.
Na sua feição de oficina, as ações são mais valiosas do que os discursos de efeito aparente, quando são propostos conselhos e orientações em momentos emocionais inoportunos, porque somente por meio do trabalho bem direcionado em relação ao caráter e aos sentimentos é que se fundem os significados psicológicos e morais de profundidade.
O mais eficiente método, portanto, de educação, é aquele que se associa ao exemplo, que demonstra a sua eficácia e significação na conduta do preceptor.
Os pais, em conseqüência, não se poderão evadir da responsabilidade para com a prole, sendo os esteios de sustentação da família ou a areia movediça sobre a qual erguem os frágeis ideais de convivência.
O ser humano é animal biopsicossocial que não se pode desenvolver de maneira eficiente sem a convivência com outrem da sua e de outras espécies.
Os relacionamentos emocionais e espirituais constituem-lhe fonte de inspiração e de equilíbrio para uma existência feliz.
A família é-lhe o primeiro contato com o mundo, que passará a significar o que aprende entre os seus, exteriorizando o resultado da convivência. A sua desagregação leva o indivíduo a uma recrudescência do egoísmo.
Célula fecunda de desenvolvimento dos valores eternos, os desajustes, por acaso existentes no lar, resultado de sementeiras de sombras no passado, devem ser superados pelas lições poderosas do amor e da solidariedade, construindo laços de verdadeira união que estruturarão os grupos sociais de maneira equilibrada para a convivência ditosa entre todos os irmãos em humanidade.
(* Questão de O Livro dos Espíritos)
Joanna de Ângelis
Livro:Lições para a Felicidade
Psicografia:Divaldo Franco

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

SOBRE O CARNAVAL

Nenhum espírito equilibrado em face do bom senso, que deve presidir a existência das criaturas, pode fazer a apologia da loucura generalizada que adormece as consciências, nas festas carnavalescas.É lamentável que, na época atual, quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhe a chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando-lhe as belezas e os objetivos sagrados da Vida, se verifiquem excessos dessa natureza entre as sociedades que se pavoneiam com o título de civilização. Enquanto os trabalhos e as dores abençoadas, geralmente incompreendidos pelos homens, lhes burilam o caráter e os sentimentos, prodigalizando-lhes os benefícios inapreciáveis do progresso espiritual, a licenciosidade desses dias prejudiciais opera, nas almas indecisas e necessitadas do amparo moral dos outros espíritos mais esclarecidos, a revivescência de animalidades que só os longos aprendizados fazem desaparecer.Há nesses momentos de indisciplina sentimental o largo acesso das forças da treva nos corações e, às vezes, toda uma existência não basta para realizar os reparos precisos de uma hora de insânia e de esquecimento do dever.Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidade e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem e se intensifiquem o olvido de obrigações sagradas por parte das almas cuja evolução depende do cumprimento austero dos deveres sociais e divinos.Ação altamente meritória seria a de empregar todas as verbas consumidas em semelhantes festejos, na assistência social aos necessitados de um pão e de um carinho.Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. Por que protelar essa ação necessária das forças conjuntas dos que se preocupam com os problemas nobres da vida, a fim de que se transforme o supérfluo na migalha abençoada de pão e de carinho que será a esperança dos que choram e sofrem? Que os nossos irmãos espíritas compreendam semelhantes objetivos de nossas despretenciosas opiniões, colaborando conosco, dentro das suas possibilidades, para que possamos reconstruir e reedificar os costumes para o bem de todas as almas.É incontestável que a sociedade pode, com o seu livre-arbítrio coletivo, exibir superfluidades e luxos nababescos, mas, enquanto houver um mendigo abandonado junto de seu fastígio e de sua grandeza, ela só poderá fornecer com isso um eloqüente atestado de sua miséria moral.
Emmanuel
Psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier em Julho de 1939.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

COMPAIXÃO E VIDA


Compadece-te de quantos se encarceram nas malhas esbraseadas da violência.

A fim de prestar-lhe auxílio, lembra-te de cultivar a paz, como quem se decide a socorrer as vítimas de um incêndio, usando compreensão e brandura.

Aqueles que largam a órbita da prudência, caindo na agressividade exagerada, entram para logo nos quadros patológicos da loucura. E já não sabem o que fazem.

Compadeça-te sempre.

Por traz das palavras candentes que te magoam, comumente existe um coração avinagrado pela carência de amor, suplicando apoio afetivo.

Na retaguarda dessas faces contraídas, semelhantes a máscaras de ódio despejando condenação, muitas vezes se esconde a dor da criatura que se vê sem forças suficientes para suportar a moléstia que carrega no próprio corpo.

E movendo as mãos que espancam
Sem pensar, quase sempre, jazem sofrimentos ocultos ou influências obsessivas que as fazem desvairar.

Se te encontras em caminho com semelhantes doentes da alma, abençoa-os com a prece muda e segue adiante.

Se te gritam em rosto impropérios e insultos, continua orando por eles, nada repliques e confia-os em pensamento, à Providência Divina. Os agressores são irmãos enfermos, em cuja alma a revolta instalou perigosas tomadas de ligação com as trevas que lhes atormentam a vida.

Diante deles, recorda a paz que o Senhor te concede e entrega-os à farmácia do Bem Eterno.

Perante quaisquer problemas, o Céu tem soluções que desconhecemos.

É por isso que Jesus proclamou no Sermão do Monte: “ Bem-aventurados os misericordiosos porque encontrarão misericórdia, diante das Leis de Deus “.

Grupo Espírita da Prece
São Paulo - Capital
Meimei
Fonte: livro “Marcas do Caminho”
Psicográfia: Francisco Cândido Xavier
Espíritos diversos

domingo, 8 de fevereiro de 2009

JULGAMENTOS PRECIPITADOS


JULGAMENTOS PRECIPITADOS
Havia numa aldeia um velho muito pobre, mas até reis o invejavam, pois ele tinha um lindo cavalo branco...
Reis ofereciam quantias fabulosas pelo cavalo, mas o homem dizia:
Este cavalo não é um cavalo para mim, é uma pessoa. E como se pode vender uma pessoa, um amigo?
O homem era pobre, mas jamais vendeu o cavalo. Numa manhã, descobriu que o cavalo não estava na cocheira. A aldeia inteira se reuniu, e disseram:
– Seu velho estúpido! Sabíamos que um dia o cavalo seria roubado. Teria sido melhor vendê-lo. Que desgraça!
O velho disse:
– Não cheguem a tanto. Simplesmente digam que o cavalo não está na cocheira. Este é o fato, o resto é julgamento. Se se trata de uma desgraça ou de uma benção, não sei, porque este é apenas um julgamento. Quem pode saber o que vai se seguir?
As pessoas riram do velho. Elas sempre souberam que ele era um pouco louco. Mas, quinze dias depois, de repente, numa noite, o cavalo voltou. Ele não havia sido roubado, ele havia fugido para a floresta. E não apenas isso, ele trouxera uma dúzia de cavalos selvagens consigo. Novamente, as pessoas se reuniram e disseram:
– Velho, você estava certo. Não se trata de uma desgraça, na verdade provou ser uma benção.
O velho disse:
– Vocês estão se adiantando mais uma vez. Apenas digam que o cavalo está de volta... Quem poderá saber se é uma benção ou não? Este é apenas um fragmento. Se você lê uma única palavra de uma sentença, como poderá julgar todo o livro?
Desta vez, as pessoas não podiam dizer muito, mas interiormente sabiam que ele estava errado. Doze lindos cavalos tinham vindo...
O velho tinha um único filho, que começou a treinar os cavalos selvagens. Apenas uma semana mais tarde, ele caiu de um cavalo e fraturou as pernas. As pessoas se reuniram e, mais uma vez, julgaram. Elas disseram:
– Você tinha razão novamente. Foi uma desgraça. Seu único filho perdeu o uso das pernas, e na sua velhice ele era seu único amparo. Agora você está mais pobre do que nunca.
O velho disse:
– Vocês estão obcecados por julgamento. Não se adiantem tanto. Digam apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma benção. A vida vem em fragmentos; mais que isso, nunca é dado.
Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em guerra, e todos os jovens da aldeia foram forçados a se alistar. Somente o filho do velho foi deixado para trás, pois recuperava-se das fraturas. A cidade inteira estava chorando, lamentando-se porque aquela era uma luta perdida e sabiam que a maior parte dos jovens jamais voltaria.
Elas vieram até o velho e disseram:
– Você tinha razão, velho. Aquilo se revelou uma benção. Seu filho pode estar aleijado, mas ainda está com você. Nossos filhos foram-se para sempre.
O velho disse:
– Vocês continuam julgando. Ninguém sabe! Digam apenas que seus filhos foram forçados a entrar para o exército e que meu filho não foi. Mas somente Deus sabe se isso é uma benção ou uma desgraça. Não julgue, porque dessa maneira jamais se tornará uno com a totalidade. Na verdade, a jornada nunca chega ao fim. Um caminho termina e outro começa: uma porta se fecha, outra se abre. Aqueles que não julgam estão satisfeitos simplesmente em viver o momento presente e nele crescer... Somente eles são capazes de caminhar com Deus.
Na próxima vez que você for tirar alguma conclusão apressada sobre um assunto ou sobre uma pessoa, lembre-se desta mensagem!

sábado, 7 de fevereiro de 2009

REUNIÕES DE MATERIALIZAÇÃO


Meu amigo:
Se você pretende cooperar no apostolado da revelação, materializando os benfeitores do Céu no caminho dos homens, desmaterialize a própria vida, para que as suas forças se aperfeiçoem auxiliando com eficiência na obra renovadora do Céu, em benefício da Humanidade.

Reajuste os seus hábitos e eduque as suas manifestações de sentimento e pensamento, adaptando-se, quando possível, ao padrão de vida mais alta que o ministério dessa natureza reclama, em qualquer parte.

Em assembléias dessa ordem, cada visitante ou assistente irradiam as ondas vitais em cuja intimidade se colocam.

O frasco de perfume esparge o aroma sublime de que se faz portador.

O vaso de detritos fornece as emanações desagradáveis que lhe correspondem.

Outra não é a situação de cada companheiro na reunião que se disponha a receber as demonstrações do Plano Espiritual.

Se você aspira à subida para conviver com a luz, não se negue ao esforço de abandonar o vale de sombras em que o nosso coração vem palpitando há tanto tempo.

Melhore tudo, dentro de você, para que tudo melhore ao redor de seus passos.

Lembre-se de que as dificuldades impostas ao nosso roteiro pelos que não nos compreendem, não devem ser a norma de vida para nós.

É imprescindível a nossa renovação, para acompanharmos, tanto quanto possível, o vôo deslumbrante dos espíritos que nos renovam e evoluem.

Há pequeninos prazeres que, à maneira dos micróbios violentos ou perseverantes que nos desintegram o envoltório físico, nos intoxicam a alma e nos destróem as melhores esperanças.

Todos somos dínamos pensantes, nos mais remotos ângulos da vida, com o Infinito por clima de progresso e com a Imortalidade por meta sublime.

Geramos raios, emitimo-los e recebemo-los, constantemente. Nossas atitudes e deliberações, costumes e emoções criam cargas elétricas de variadas expressões.

Refletimos nisso e estaremos habilitados a colaborar com as manifestações dos nossos amigos e mentores da Espiritualidade.
André Luiz
LIVRO: APOSTILAS DA VIDA - PSICOGRAFIA CHICO XAVIER

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

POR AMOR A DEUS


Diz antigo rifão que “mortalha não tem bolso”. A filosofia popular quer dizer que para os mortos terminaram todos os interesses. A maioria dos homens observa na morte o ponto final da vida. Nessa conceituação do transe derradeiro do corpo físico, os sentimentos mais belos que exornam a personalidade desaparecem com o cadáver, no banquete dos vermes.
Comumente, as criaturas temem a grande transformação. No leito dos moribundos, verifica-se o duelo cruel, em que a morte é sempre o adversário vitorioso. Não prevalecem aí os regulamentos alusivos à idade dos contendores, não prepondera o parecer dos médicos, nem o ritual dos sacerdotes. O inimigo invisível triunfa sempre, deixando às testemunhas amedrontadas os despojos do vencido, com passagem direta para o forno crematório ou para as estações subterrâneas, onde os ossos do morto repousarão, de acordo com as possibilidades financeiras da família. Há túmulos gloriosos, como os cenotáfios ilustres; e multiplicam-se, em toda parte, as sepulturas humildes, através das quais os filhos dos homens adubam incessantemente o solo, enriquecendo-o de húmus fecundante.
A alma do morto, porém, segue a sua trajetória. Impossível extinguir nela os sentimentos, as disposições interiores, as características, os afetos, que se espiritualizarão, vagarosamente, com o tempo e com o auxilio do Divino Poder. E porque as afinidades psíquicas são fatais como as leis biológicas, os desencarnados frequentemente gastam anos a desatar os laços que os prendem ao mundo, quando é preciso, de fato, desfazê-los, consoante os imperativos da evolução espiritual.
Muitos deles, dos que já atravessaram a corrente do Estige, desejariam a libertarão imediata de todas as influências terrestres, Entretanto, a alma é a sede viva do sentimento e de modo algum poderiam trair o coração. Constrangidos a seguir os vivos pela amorosa atração que lhes vibra no ser, demoram algum tempo entre as sombras que se estendem do fundo vale da incerteza ao monte luminoso da decisão.
Existiu um jovem irlandês, de nome Cornélius Magrath, que morreu aos vinte e dois anos, com a estatura de mais de dois metros e meio. Tendo despertado muito interesse da Ciência pelo seu caso de gigantismo, pediu aos amigos e pagou para que seu corpo fosse atirado ao mar, quando a morte lhe arrebatasse a vida. Todavia, mau grado ao seu desejo, a medicina da Inglaterra adquiriu-lhe o esqueleto, que foi conservado atenciosamente na Associação dos Cirurgiões de Londres, com objetivo de estudo.
Ocorre o mesmo com alguns mortos da Terra, que suplicam e pagam para que sua alma seja atirada ao oceano do esquecimento, de modo a se subtraírem à curiosidade dos vivos; mas a redenção exige o contrário e o Espírito semi-liberto permanece, por tempo indeterminado, na vizinhança dos homens, atendendo, muitas vezes, a imposições estranhas à sua própria vontade.
No quadro de obrigações dessa natureza, temos um companheiro que recebeu a incumbência de demorar alguns anos entre as associações terrenas, para suportar as dolorosas trepanações dos que fazem a cirurgia dos estilos, com objetivo de esclarecimento geral. Sofria bastante, na submissão a esse processo de auxiliar a Ciência, porque nem todos os cirurgiões o examinavam com a precisa assepsia espiritual, mas obedecia, satisfeito, consciente de cooperar na solução de grandes problemas do destino e da morte. No desenvolvimento de seus misteres, todavia, foi assaltado pelo incoercível desejo de revelar-se aos amigos de outro tempo, encasulados na carne, e, para tanto, começou a escrever-lhes páginas sentidas de carinho e saudade, vazando-as com o sentimento de seu coração. Seus companheiros antigos, porém, não lhe compreenderam as novas disposições. Uniram-se aos intransigentes cirurgiões da literatura e exigiram que o desencarnado viesse atendê-los, tal qual vivera no mundo, cheio das enfermidades e idiossincrasias oriundas dos vários agentes físicos que lhe determinavam a organização psíquica defeituosa. Sensível e afetuoso, ele lhes entregou os pensamentos mais nobres, porém os amigos reclamaram-lhe as vísceras mais grosseiras ; trouxe-lhes as idéias novas que lhe banhavam o íntimo, entretanto, requisitaram-lhe as velhas fórmulas que, noutra época, lhe encarceravam o ser ; dedicou-lhes a expressão mais alta de sua vida espiritual, mas pediram-lhe a revelação da vida mais baixa, com a apresentação das próprias glândulas doentes que a terra guardou para felicidade dele.
Algo preocupado, procurou o esclarecimento dos orientadores do serviço. Expôs o seu caso, comentou suas mágoas e apresentou suas razões.
Um deles, porém, o que chefiava o trabalho geral, pelo tesouro de amor e sabedoria que ajuntou no curso dos séculos, respondeu com serenidade :
– Cale em seu coração, meu filho, as angústias do homem antigo. Volte ao seu campo de ação e satisfaça a própria consciência. Todo particularismo é cárcere. Lembre-se de que as dádivas do Pai são comuns a todos nós, que as idéias não têm nome e de que o espírito é universal.
Nem mais uma palavra. O companheiro sorriu, trocou o manto roto, calçou duas sandálias novas, voltou ao serviço e, como aconteceu ao jovem irlandês que prosseguiu exibindo os ossos, por interesse da Ciência, ele continuou a espalhar as sementes das idéias, por amor a Deus.

Irmão X
Livro “Lázaro Redivivo”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.