segunda-feira, 30 de novembro de 2009

NINGUÉM FOGE DE SI MESMO!...


Haverá princípio capaz de infundir mais confiança na Justiça de Deus que este?
A partir dele entende-se a recomendação de Jesus quanto ao “não julgar”, pois ele conhecia o sentido oculto do “a cada um conforme as próprias obras”. Através dele, temos a garantia de que todos, do explorador ao explorado, do corruptor ao corrupto, do algoz à vítima, do opressor ao oprimido, todos enfim, experimentarão os efeitos das próprias ações ou reações no devido tempo.
Estamos destinados ao progresso espiritual (fim) através das vidas sucessivas (meio), que nos conduzirá à felicidade e à paz tão sonhada, tendo como roteiro o caminho do auto-descobrimento, do autoconhecimento.
Uma reencarnação sob o ângulo da Eternidade, representa “menos que um relâmpago”, como informaram os Espíritos à Allan Kardec (questão 738, L.E.), e inexoravelmente o pedágio da morte aguarda a todos na estrada da vida.
O Codificador através de observações, comparações, deduções e conclusões, analisando o depoimento de centenas de espíritos, delineou o conjunto que ele denominou CÓDIGO PENAL DA VIDA FUTURA, inserido no livro “O CÉU E O INFERNO” (Capítulo 7), ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo.
Por serem informações que precisam ser difundidas e meditadas para que um número cada vez maior desperte para a responsabilidade de viver, alinhamos a seguir alguns desses artigos.

1- Onde está escrita a Lei de Deus?
– Na consciência.

2- A completa felicidade prende-se à perfeição, isto é, à purificação completa do Espírito. Toda imperfeição é, por sua vez, causa de sofrimento e da privação da satisfação, do mesmo modo que toda perfeição adquirida é fonte de prazer e atenuante de sofrimentos (2.º).

3- O Espírito sofre, quer no mundo corporal, quer no espiritual, a consequência das suas imperfeições. As misérias, as vicissitudes padecidas na vida corpórea, são oriundas das nossas imperfeições, são expiações de faltas cometidas na presente ou em precedentes existências. Pela natureza dos sofrimentos e vicissitudes da vida corpórea, pode julgar-se a natureza das faltas cometidas em anterior existência, e das imperfeições que as originaram. (10.º)

4- Não há uma única imperfeição da alma que não importe funestas e inevitáveis consequências, como não há uma só qualidade boa que não seja fonte de prazer. (3.º)

5- Toda falta cometida, todo mal realizado é uma dívida contraída que deverá ser paga; se não for em urna existência, sê-lo-á na seguinte ou seguintes. (9.º)

6- O arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são precisas a expiação e a reparação.
Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação. (16.º)

7- O arrependimento pode dar-se por toda parte e em qualquer tempo; se for tarde, porém, o culpado sofre por mais tempo. Até que os últimos vestígios da falta desapareçam, a expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais que lhe são consequentes, seja na vida atual, seja na vida espiritual após a morte, ou ainda em nova existência corporal. A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal. Quem não repara os seus erros numa existência, por fraqueza ou má-vontade, achar-se-á numa existência ulterior em contacto com as mesmas pessoas que de si tiverem queixas, e em condições voluntariamente escolhidas, de modo a demonstrar-lhes reconhecimento e fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha feito. Nem todas as faltas acarretam prejuízo direto e efetivo; em tais casos a reparação se opera, fazendo-se o que se deveria fazer e foi descurado; cumprindo os deveres desprezados, as missões não preenchidas; praticando o bem em compensação ao mal praticado, isto é, tornando-se humilde se tem sido orgulhoso, amável se foi austero, caridoso se tem sido egoísta, benigno se tem sido perverso, laborioso se tem sido ocioso, útil se tem sido inútil, frugal se tem sido intemperante, trocando em suma por bons os maus exemplos perpetrados. E desse modo progride o Espírito, aproveitando-se do próprio passado. (17.º)
NOTA – A necessidade da reparação é um princípio de rigorosa justiça, que se pode considerar verdadeira lei de reabilitação moral dos Espíritos. Entretanto, essa doutrina religião alguma ainda a proclamou. Algumas pessoas repelem-na porque acham mais cômodo o poder quitarem-se das más ações por um simples arrependimento, que não custa mais que palavras, por meio de algumas fórmulas; contudo, crendo-se, assim, quites, verão mais tarde se isso lhes bastava. Nós poderíamos perguntar se esse princípio não é consagrado pela lei humana, e se a justiça divina pode ser inferior à dos homens? E mais, se essas leis se dariam por desafrontadas desde que o indivíduo que as transgredisse, por abuso de confiança, se limitasse a dizer que as respeita infinitamente. Por que hão de vacilar tais pessoas perante uma obrigação que todo homem honesto se impõe como dever, segundo o grau de suas forças?
Quando esta perspectiva de reparação for inculcada na crença das massas, será outro freio aos seus desmandos, e bem mais poderoso que o inferno e respectivas penas eternas, visto como interessa à vida em sua plena atualidade, podendo o homem compreender a procedência das circunstâncias que a tornam penosa, ou a sua verdadeira situação.

8- A expiação varia segundo a natureza e gravidade da falta, podendo, portanto, a mesma falta determinar expiações diversas, conforme as circunstâncias, atenuantes ou agravantes, em que for cometida. (11.º)

9- A responsabilidade das faltas é toda pessoal, ninguém sofre por erros alheios, salvo se a eles dê origem, quer provocando-os pelo exemplo, quer não os impedindo quando poderia fazê-lo. Assim, o suicida é sempre punido; mas aquele que por maldade impele outro a cometê-lo, esse sofre ainda maior pena. (21.º)

10- Dependendo o sofrimento da imperfeição, como o gozo da perfeição, a alma traz consigo o próprio castigo ou prêmio, onde quer que se encontre, sem necessidade de lugar circunscrito. O inferno está por toda parte em que haja almas sofredoras, e o céu igualmente onde houver almas felizes. (5.º)

11- O único meio de evitar ou atenuar as consequências futuras de uma falta, está no repará-la, desfazendo-a no presente. Quanto mais nos demorarmos na reparação de uma falta, tanto mais penosas e rigorosas serão, no futuro, as suas consequências. (27.º)

12- A situação do Espírito, no mundo espiritual, não é outra senão a por si mesmo preparada na vida corpórea. Mais tarde, outra encarnação se lhe faculta para novas provas de expiação e reparação, com maior ou menor proveito, dependentes do seu livre-arbítrio; e se ele não se corrige, terá sempre uma missão a recomeçar, sempre e sempre mais acerba, de sorte que pode dizer-se que aquele que muito sofre na Terra, muito tinha a expiar; e os que gozam uma felicidade aparente, em que pesem aos seus vícios e inutilidades, pagá-la-ão mui caro em ulterior existência. Nesse sentido foi que Jesus disse: – "Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados," (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V.) (28.º)

13- O bem e o mal que fazemos decorrem das qualidades que possuímos. Não fazer o bem quando podemos é, portanto, o resultado de uma imperfeição. Se toda imperfeição é fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não somente pelo mal que fez como pelo bem que deixou de fazer na vida terrestre. (6.º)

14- O Espírito sofre pelo mal que fez, de maneira que, sendo a sua atenção constantemente dirigida para as consequências desse mal, melhor compreende os seus inconvenientes e trata de corrigir-se. (7.º)

15- Sendo infinita a Justiça de Deus, o bem e o mal são rigorosamente considerados, não havendo uma só ação, um só pensamento mau que não tenha consequências fatais, como não há uma única ação meritória, um só bom movimento da alma que se perca, mesmo para os mais perversos, por isso que constituem tais ações um começo de progresso. (8.º)

16- Não há regra absoluta nem uniforme quanto à natureza e duração do sofrimento: – a única lei geral é que toda falta terá punição, e terá recompensa todo ato meritório, segundo o seu valor. (12.º)

17- A duração do sofrimento depende da melhoria do Espírito culpado. Nenhuma condenação por tempo determinado lhe é prescrita.
O que Deus exige por termo de sofrimentos é um melhoramento sério, efetivo, sincero, de volta ao bem. Deste modo o Espírito é sempre o árbitro da própria sorte, podendo prolongar os sofrimentos pela pertinácia no mal, ou suavizá-los e anulá-los pela prática do bem. Uma condenação por tempo predeterminado teria o duplo inconveniente de continuar o martírio do Espírito renegado, ou de libertá-lo do sofrimento quando ainda permanecesse no mal. Ora, Deus, que é justo, só pune o mal enquanto existe, e deixa de o punir quando não existe mais; por outra, o mal moral, sendo por si mesmo causa de sofrimento, fará este durar enquanto subsistir aquele, ou diminuirá de intensidade à medida que ele decresça. (13.º)

18- Como o Espírito tem sempre o livre-arbítrio, o progresso por vezes se lhe torna lento, e tenaz a sua obstinação no mal. Nesse estado pode persistir anos e séculos, vindo por fim um momento em que a sua contumácia se modifica pelo sofrimento, e, a despeito da sua jactância, reconhece o poder superior que o domina. Então, desde que se manifestam os primeiros vislumbres de arrependimento, Deus lhe faz entrever a esperança. Nem há Espírito incapaz de nunca progredir, votado a eterna inferioridade, o que seria a negação da lei de progresso, que providencialmente rege todas as criaturas. (19.º)

19- Em virtude da lei do progresso que dá a toda alma a possibilidade de adquirir o bem que lhe falta, como de despojar-se do que tem de mau, conforme o esforço e vontade próprios, temos que o futuro é aberto a todas as criaturas. Deus não repudia nenhum de seus filhos, antes recebe-os em seu seio à medida que atingem a perfeição, deixando a cada qual o mérito das suas obras. (4.º)

20- Dependendo da melhoria do Espírito a duração do sofrimento, o culpado que jamais melhorasse sofreria sempre, e, para ele, a pena seria eterna. (14.º)

21- Uma condição inerente à inferioridade dos Espíritos é não verem o termo da provação, acreditando-a eterna, como eterno lhes parece deva ser um tal sofrimento. (15.º)

domingo, 29 de novembro de 2009

DECISÃO E VONTADE


Incerteza parece coisa de pouca monta, mas é assunto de importância fundamental no caminho de cada um.
As criaturas entram na instabilidade moral, habituam-se a ela, e passam ao domínio das forças negativas sem perceber.
Dizem-se confiantes pela manhã e acabam indecisas à noite.
Freqüentemente rogam em prece:
- Senhor! Eis-me diante de tua vontade!...
Mostra-me o que devo fazer!...
E quando o Senhor lhes revela, através das circunstâncias, o quadro de serviço a expressar-se, conforme as necessidades a que se ajustam, exclamam em desconsolo:
- Quem sou eu para realizar semelhante tarefa?
Não tenho forças.
Ai de mim que sou inútil!...
Sabem que é preciso servir para se renovarem, mas paradoxalmente esperam renovar-se sem servir.
Dispõem de verbo fácil e muitas vezes se proclamam inabilitadas para falar auxiliando a alguém nas construções do Espírito.
Possuem dedos ágeis, quais filtros inteligentes engastados nas mãos; entretanto, costumam asseverar-se inseguras na execução das boas obras.
Ouvem preleções edificantes ou mergulham-se na assimilação de livros nobres, prometendo heroísmo para o dia seguinte, mas, passada a emoção, volvem à estaca zero, à maneira de viajante que desiste de avançar nos primeiros passos de qualquer jornada.
Louvam na rua o equilíbrio e a serenidade e, às vezes, dentro de casa, disputam campeonatos de irritação.
O dever jaz à frente, a oportunidade de elevação surge brilhando, os recursos enfileiram-se para o êxito e realizações chamam urgentes, mas preferem a fuga da obrigação sob o pretexto de que é preciso cautela para evitar o mal, quando o bem francamente lhes bate à porta.
Trabalho, ação, aprendizado, melhoria!...
Não te ponhas à espera deles sob a imaginária incapacidade de procurá-los, à vista de imperfeições e defeitos que te marcaram ontem.
Realização pede apoio da fé.
Mãos à obra.
Tudo o que serve para corrigir, elevar, educar e construir, nasce primeiramente no esforço da vontade unida à decisão.

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Rumo Certo.
Ditado pelo Espírito Emmanuel.
5a edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ACIDENTADOS DA ALMA

Compadeces-te dos caídos em moléstia ou desastre, que e apresentam no corpo comovedoras mutilações. Inclina-te, porém, com igual compaixão para aqueles outros que comparecem, diante de ti, por acidentados da alma, cujas lesões dolorosas não aparecem. Além da posição de necessitados, pelas chagas ocultas de que são portadores, quase sempre se mostram na feição de companheiros menos atrativos e desejáveis.
Surgem pessoalmente bem-postos, estadeando exigências ou formulando complicações, no entanto, bastas vezes trazem o coração sob provas difíceis; espancam-te a sensibilidade com palavras ferinas, contudo, em vários lances da experiência, são feixes de nervos destrambelhados que a doença consome; revelam-se na condição de amigos, supostos ingratos, que nos deixam em abandono, nas horas de crise, mas, em muitos casos, são enfermos de espírito, que se enviscam, inconscientes, nas tramas da obsessão; acolhem-te o carinho com manifestações de aspereza, todavia, estarão provavelmente agitados pelo fogo do desespero, lembrando árvores benfeitoras quando a praga as dizima; são delinqüentes e constrangem-te a profundo desgosto, pelo comportamento incorreto; no entanto, em múltiplas circunstâncias, são almas nobres tombadas em tentação, para as quais já existe bastante angústia na cabeça atormentada que o remorso atenaza e a dor suplicia...
Não te digo que aproves o mal sob a alegação de resguardar a bondade. A retificação permanece na ordem e na segurança da vida, tanto quanto vige o remédio na defesa e sustentação da saúde. Age, porém, diante dos acidentados da alma, com a prudência e a piedade do enfermo que socorre a contusão, sem alargar a ferida.
Restaurar sem destruir. Emendar sem proscrever. Não ignorar que os irmãos transviados se encontram encarcerados em labirintos de sombra, sendo necessário garantir-lhes uma saída adequada.
Em qualquer processo de reajuste, recordemos Jesus que, a ensinar servindo e corrigir amando, declarou não ter vindo à Terra para curar os sãos.

Emmanuel
( Do livro "Estude e Viva" )

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

EM HOMENAGEM AOS 214 ANOS DE NASCIMENTO DE AMÉLIE GABRIELLE BOUDET


Amélie Gabrielle Boudet (Mms Allan Kardec)
(23.11.1795 - 23.01.1883)



Filha única de Julien Louis Boudet e de Julie Louise Segneat de Lacomb, Améllie aliou desde cedo grande vivacidade a forte interesse pelos estudos, tendo uma fina educação moral, o que lhe proporcionou apurados dotes intelectuais.
Amélie Gabrielle Boudet nasceu em Thiais, comuna do Departamento do Val-de-Marne, a 12 quilômetros ao sul de Paris a 23 de novembro de 1795.
Diplomou-se numa Escola Normal em Paris, em professora de 1ª Classe e, segundo Canuto Abreu, em O Livro dos Espíritos e sua Tradição Histórica e Lendária, foi também professora de Letras e Belas Artes. Escreveu diante desta fecundidade intelectual, 3 obras: Contos Primaveris (1825), Noções de Desenho (1826), O Essencial em Belas Artes (1828). Imersa em meio de tanta cultura, tornou-se óbvio o encontro de almas afins, o encontro com o circunspecto, polido e reto, Hypollite Leon Denizard Rivail.
Veio o consórcio matrimonial à 6 de fevereiro de 1832, reafirmando um amor de vidas passadas, cujo compromisso mútuo de auxílio, os religaram de maneira tão apropriada . Apesar da diferença de 9 anos, a vivacidade que lhe era inerente, se tornou cúmplice de tamanho amor.
Seguindo a sua formação pestalozziana, Kardec veio a fundar um Instituto Técnico com base nos métodos do seu professor. Amélie acompanhou-o através de uma fase difícil para a educação francesa, que não tinha o apoio governamental para o ensino primário, o que só se modificou em 1833. Dois anos após, este Instituto veio a cerrar as suas portas por dificuldades financeiras. Amélie como toda grande mulher, apoiou-lhe em momento tão revés, auxiliando-lhe enquanto ele fazia a contabilidade de estabelecimentos comerciais, na preparação de cursos gratuitos que eles deram origem em 1835, na sua própria casa.
Diante de tanta luta e empenho, o casal Rivail veio a restabelecer sua situação financeira. Sr. Rivail tornou-se bastante respeitado em meio acadêmico, através de obras pedagógicas adotadas pela Universidade de França, cursos públicos de matemática e astronomia, para alunos e professores.
Em 1854, em meio a fenomenologia das mesas girantes e ao célebre episódio de Hydlesville (em Nova York), a Europa estava imersa no maravilhoso e desconhecido limite entre os planos físicos e espiritual. Através de Sr. Baudin, Rivail assistia a sua primeira manifestação da Dança das Mesas, em 1855 iniciar seus primeiros estudos em casa do amigo. Amélie o acompanhava, irradiando uma alegria pelo novo horizonte que descortinava a sua mente.
Iniciando a escrita do Pentateuco, Rivail encontrava em sua esposa a incentivadora, secundando-lhe nos árduos, porém tão dignos trabalhos. Rivail lança em 1º de janeiro de 1858, o Livro dos Espíritos com o apoio de sua esposa. Dado ao âmbito de suas atividades, a sua casa tornou-se foco de sucessivas reuniões que exigiram de Sra. Rivail extenuante, porém abnegado zelo pelos que ali chegavam. Tamanha era a frequência das pessoas, que levou um grande número a sua casa deixando-a apertada a ponto de Sr. Rivail em abril de 1858 criar a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
A época era de extremo domínio clerical, o que rendeu a Sr. Rivail inimigos gratuitos, injúrias, calunias, traições... Amélie era a consolação e o amparo para o codificador.
Iniciaram-se as célebres viagens de Kardec, que tinham, na medida do possível, a compania da abnegada esposa.
Aos 31 de março de 1869, Kardec desencarnava. Amélie dava testemunho vivo do entendimento da proposta espírita, apesar da profunda dor. Trinta e sete anos acompanhando o Mestre Lionês, na infinita luta em prol do esclarecimento da humanidade. Silenciara Madame Rivail em face as calúnias que foram feitas ao seu iluminado marido.
Recebera manifestações da França e do estrangeiro, e uma manifestação incontestável dos espiritistas dos préstimos do Bom Senso Encarnado, que arrecadaram contribuições para erguerem um dólmen que lembra as arquiteturas druidescas, e um busto de bronze do Mestre Lionês, inaugurada a 31 de março de 1870.
O desencarne e morte de Kardec em nada abalou o espírito trabalhador e virtuoso de Madame Rivail, que geriu, apesar da avançada idade, os recursos, as propriedades e as obras que a tinham como única proprietária. O seu empenho pessoal deu motivação ao prosseguimento da doutrina, fazendo do seu esforço pessoal a marca viva do entendimento concreto e real, de um pensamento que vive até hoje em nossa mentes e corações.
Sr. Leymarie foi um dos mais célebres colaboradores da doutrina, assumindo a administração da Revue Spirite, ajudando Sra. Rivail na propagação da doutrina espírita. Teve a Sociedade Espírita o nome: Madame Allan Kardec, o que causou ciúmes de determinados membros, mas a anciã em Assembléia pediu que fosse chamada: Sociedade para a continuação das Obras espíritas de Allan Kardec. Aos 87 anos, mantinha a lucidez que poucas pessoas conseguem ter.
Desencarnou a 23 de janeiro de 1883, sendo enterrada junto ao dólmen de Allan Kardec. Participaram do seu enterro Gabriel Delane, Sr. Leymarie, entre outros e Sr. Lecoq que leu uma mensagem de Antônio de Pádua que relatara a chegada na espiritualidade daquele ser tão bem-aventurado.

domingo, 22 de novembro de 2009

AMOR LIVRE


Pergunta: Qual das duas, a poligamia ou a monogamia é mais conforme à lei da Natureza? Resposta: A poligamia é lei humana cuja abolição marca Progresso social.
O casamento segundo as vistas de Deus tem que se fundar na afeição dos seres que se unem.
Na poligamia, não há afeição real: há apenas sensualidade.
Item n° 701, de "O livro dos Espíritos".

Comenta-se a possibilidade de legalização das relações sexuais livres, como se fora justo escolher companhias para a satisfação do impulso genésico, qual se apontam iguarias ou vitaminas mais desejáveis numa hospedaria.
Relações sexuais, no entanto, envolvem responsabilidade.
Homem ou mulher, adquirindo parceira ou parceiro para a conjunção afetiva, não conseguirá, sem dano a si mesmo, tão-somente pensar em si.
Referentemente ao assunto, não se trata exclusivamente da ligação em base do matrimônio legalmente constituído.
Se os parceiros da união sexual possuem deveres a observar entre si, à face de preceitos humanos, voluntariamente aceitos, no plano das chamadas ligações extralegais acham-se igualmente submetidos aos princípios das Leis Divinas que regem a Natureza.
Cada Espírito detém consigo o seu íntimo santuário, erguido ao amor, e Espírito algum menoscabará o "lugar sagrado" de outro Espírito, sem lesar a si mesmo.
Conferir pretensa legitimidade às relações sexuais irresponsáveis seria tratar "consciências" qual se fossem "coisas", e se as próprias coisas, na condição de objetos, reclamam respeito, que se dirá do acatamento devido à consciência de cada um? É óbvio que ninguém se lembrará, em são juízo, de recomendar escravidão às criaturas claramente abandonadas ou espezinhadas pelos próprios companheiros ou companheiras a que se entregaram, confiantes; isso, no entanto, não autoriza ninguém a estabelecer liberdade indiscriminada para as relações sexuais que resultariam unicamente em licença ou devassidão.
Instituído o ajuste afetivo entre duas pessoas, levanta-se, concomitantemente, entre elas, o impositivo do respeito à fidelidade natural, ante os compromissos abraçados, seja para a formação do lar e da família ou seja para a constituição de obras ou valores do espírito.
Desfeitos os votos articulados em dupla, claro que a ruptura corre à conta daquele ou daquela que a empreendeu, com o aceite compulsório das conseqüências que advenham de semelhante resolução.
Toda sementeira se acompanha de colheita, conforme a espécie.
É razoável nos lembremos disso, porquanto o autor ou autora da defecção havida, ante os princípios de causa e efeito, é considerado violador de almas, assumindo com as vítimas a obrigação de restaurá-las, até o ponto em que as injuriou ou prejudicou, ainda mesmo quando na conceituação incompleta do mundo essas criaturas tenham sido encontradas supostamente já prejudicadas ou injuriadas por alguém.
O diamante no lodo não deixa de ser diamante, sem perder o valor que lhe é próprio, diante da vida.
A criatura em sofrimento não deixa de ser criação de Deus, sem perder a imortalidade que lhe é própria, à frente do Universo.
Que a tentação de retorno dos sistemas poligâmicos pode ocorrer habitualmente com qualquer pessoa, na Terra, é mais que natural - é justo.
Em circunstâncias numerosas, o pretérito pode estar vivo nos mecanismos mais profundos de nossas inclinações e tendências.
Entretanto, os deveres assumidos, no campo do amor, ante a luz do presente, devem prevalecer, acima de quaisquer anseios inoportunos, de vez que o compromisso cria leis no coração e não se danificarão os sentimentos alheios sem resultados correspondentes na própria vida.
Observem-se, nos capítulos do sexo, os desígnios superiores da Infinita Sabedoria que nos orienta os destinos e, nesse sentido, urge considerar que a Vontade de Deus, na essência, é o dever em sua mais alta expressão traçado para cada um de nós, no tempo chamado "hoje".
E se o "hoje" jaz viçado de complicações e problemas, a repontarem do "ontem", depende de nós a harmonia ou o desequilíbrio do "amanhã".

Emmanuel
Psicografia : Francisco Cândido Xavier Livro : Vida e Sexo

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

FRANCISCO RAIMUNDO EWERTON QUADROS


EM HOMENAGEM AOS 90 ANOS DE DESENCARNE


Entre os trabalhadores da primeira hora, no Espiritismo do Brasil, o Marechal Francisco Raimundo Ewerton Quadros ocupa lugar de justificada saliência, em virtude da valiosa colaboração que prestou à ingente obra de disseminação e explanação da doutrina codificada por Allan Kardec.
Homem de grande envergadura moral, possuidor de sólida e generalizada cultura, doutor em engenharia e figura de prestígio na sociedade e no Exército nacionais, tendo sucedido ao General Franklin do Rego Cavalcanti de Albuquerque Barros na presidência do Clube Militar, exatamente no governo de Prudente de Morais, o marechal Ewerton Quadros, não obstante tudo isso, não se deixou fascinar pelas ambições da vida material.
Espírito ativo e familiarizado com estudos profundos, escreveu numerosos trabalhos de cunho filosófico, os quais constituem inequívoco atestado do seu valor intelectual.
De costumes austeros, mas de visão larga, não tardou fosse atraído pelo Espiritismo, dele se tornando, desde 1872, dos mais probos e autorizados propagandistas, pelo verbo e pela pena, ajudado pelas várias mediunidades que possuía, principalmente a da vidência, o que maior força imprimia às suas já alicerçadas convicções doutrinárias.
Ele mesmo, através das páginas de “Reformador”, contou uma série de notabilíssimos fenômenos devidos aos seus dons mediúnicos, os quais nele se manifestavam desde a idade de oito anos.
Em março de 1873, desenvolveu-se-lhe a psicografia, e, em pouco tempo, começou a produzir trabalhos admiráveis. Experimentando a sua nova faculdade mediúnica, no sentido de comprovar a não participação do seu próprio Espírito nas comunicações, obteve, certa vez, que um Espírito evocado por um seu amigo seu manifestasse, a este respondendo a perguntas mentais, sobre História.
Ao ser criada a Federação Espírita Brasileira, foi ele eleito seu primeiro presidente, cargo que ocupou até 1888, quando cedeu o posto ao Dr. Bezerra de Menezes, cujo nome havia sido sufragado para esse fim.
Francisco Raimundo Ewerton Quadros mostrou-se à altura de sua missão.
Cultivou sempre com acendrado carinho as virtudes cristãs, servindo ao Espiritismo e à Federação Espírita Brasileira, com a superioridade e firmeza dos verdadeiros crentes.
Foi legítimo semeador das verdades evangélicas, pregando-as pelo exemplo constante e pela palavra.
Jamais ocultou, a quem quer que fosse, as suas convicções.
Serviu à fé espírita com ilimitado devotamento, deixando, ao retornar à vida espiritual, o testemunho seguro do trabalhador que bem cumpriu seus deveres, como sói acontecer com todos aqueles que se propõem seguir a consoladora doutrina do Cristo.
Ewerton Quadros nasceu na capital do Maranhão, em 17 de outubro de 1841, e faleceu no Rio de Janeiro aos 20 de novembro de 1919.
Seu pai, Capitão honorário Francisco Raimundo Quadros, desencarnado no referido Estado do norte brasileiro, em 1874, criou outros filhos, entre eles um futuro oficial da Armada, falecido em Montevidéu, também em 1874.
Órfão de mãe em tenra idade, Ewerton Quadros foi criado por sua tia e madrinha, que partiu para o Além em 1868.
Fez na terra natal, com o maior brilhantismo, o seu curso de humanidades e, em princípios de 1860, rumou para o Rio.
Aí, mal saído da Escola Militar, em 1864, como Alfares-aluno adido ap 1o. Batalhão de Artilharia a pé, segue a reunir-se às forças invasoras da Republica Oriental, o que lhe valeu as medalha C.O.
Daí avança para o Paraguai, de onde volta, em 1870, como Capitão, Cavaleiro da Ordem da Rosa, da Ordem de Cristo e da Ordem de S. Bento de Aviz, e fazendo jus à medalha geral da Campanha do Paraguai com o passador de prata e o número 5(P-5), bem como à medalha Argentina, concedida pelo governo dessa República, e à medalha(oval) de Paissandu.
Desempenhou depois, e até 1872, várias funções nos Comandos Militares do Pará e Amazonas, sempre louvado em ordens regimentais “pelas nobres qualidades que o distinguem como militar disciplinado e severo cumpridor de seus deveres, pelos bons serviços que prestou com dedicação, zelo, inteligência e sisudez que o caracteriza”.
Forma-se me Engenharia pela Escola Central da Corte (atual Escola Politécnica), toma grau de Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas em 3/7/1874, e vai trabalhar um lustro no Rio Grande do Sul, como Ajudante da Comissão de Engenharia Militar naquele Estado sulino.
Espírita desde 1872, conforme já falamos, logo começou a colaborar na propaganda da Doutrina Espírita, tendo sido um dos fundadores, em 7 de junho de 1881, do Grupo Espírita Humildade e Fraternidade, no Rio.
Este Grupo, desdobramento do Grupo Espírita Fraternidade, que se instalara aos 21 de março de 1880, compunha-se de “algumas pessoas ilustradas que se consagravam ao estudo sério da doutrina espírita”.
Seus primeiros escritos espíritas saíram publicados na “Revista da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade”, periódico fundado em Janeiro de 1881, o segundo órgão espírita surgido no Rio de Janeiro.
O primeiro trabalho de Ewerton Quadros ali apareceu nos meses de agosto e setembro de 1881.
Era um erudito estudo sobre “O Magnetismo na Criação”.
Seguiu-se a este, em Fevereiro de 1882, bela poesia de sua autoria, em dezesseis estrofes de quatro versos, intitulada – “O Redivivo”.
E em seu número de Julho de 1882, a referida Revista estampava primorosa e edificante página poética recebida, através da mediunidade de Ewerton Quadros, aos 18 de junho de 1880.
Intitulava-se “Morrer é deixar a ilusão pela verdade”, e fora assinada com as iniciais A.A.
Participou ativamente da fundação da Federação Espírita Brasileira, e foi eleito seu primeiro presidente (1884-1888).
Nesse tempo era ele Major do Estado Maior de Artilharia do Exército.
Em 1888, deu à FEB sede independente, pois que até então funcionava na residência de um que outro confrade.
É assim que a FEB ficou instalada no sobrado do prédio número 17 da Rua Clube Ginástico Português, depois Rua Silva Jardim. Ewerton Quadros realizou, além de outras, duas eruditas conferências no salão da Guarda Velha, na Rua Guarda Velha (atual Av. 13 de Maio), enfileirando-se entre os que abrilhantaram aquele memorável ciclo de conferências públicas, de larga repercussão, patrocinadas pela FEB.
Colaborou no “Reformador” e em outros órgãos da imprensa espírita até os derradeiros meses de sua vida terrena.
Alguns meses antes de falecer, doou à FEB, da qual era presidente honorário desde 1891, muitos exemplares do seu livro “Os Astros”, para com o produto de sua venda socorrer os pobres da Assistência aos Necessitados.
Possuía Ewerton Quadros incontestável cultura e vasta erudição, sendo amplos os seus conhecimentos de Astronomia, História Natural e História Universal.
Seus artigos em prosa eram às vezes assinados com o pseudônimo Freq.
Revelou-se igualmente como poeta, publicando de vez em quando suas produções nos periódicos espíritas.
Deixou em numerosos escritos e em várias obras o fruto de suas meditações iluminadas pelo Espiritismo.
São de sua lavra: “História dos Povos da Antiguidade”, escrita sob o ponto de vista espírita, até a vinda do Messias,etc.; “Os Astros”, estudos da Criação; Conferência sobre “O Espiritismo”, seu lugar na classificação das ciências, etc.; “As Manifestações do Sentimento Religioso Através dos Tempos”; “Catecismo Espírita”, dedicado às meninas; etc.
Logo que saiu o primeiro livro acima citado, a Revista da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, de fevereiro de 1882, deu dele ciência ao público ledor, dizendo a seguir: “O Sr. Dr.Quadros é mais um trabalhador incansável e corajoso que se apresenta na arena da propaganda, como demonstra o importante volume que acaba de publicar, cujo assunto só por si é recomendação para os estudiosos, abona o autor, e dá testemunho da perseverança com que se dedica aos trabalhos espiríticos.”
Traduziu muitos artigos, bem como obras, do francês e do inglês, sobressaindo entre estas últimas “O Fenômeno Espírita”, de Gabriel Delanne; “Bases Cientificas do Espiritismo”, de Epes Sargent; “Região em Litígio entre este mundo e o outro”, de Robert Dale Owen.
Cristão sincero, depressa compreendeu a necessidade de vulgarizar a notável obra mediúnica coordenada e publicada em França por J.B.Roustaing – “Os Quatro Evangelhos”.
Atirou-se a árdua tarefa com entusiasmo e, em 1883, terminou a sua tradução, que foi a primeira em língua portuguesa.
“Reformador” começou a publicá-la em 15 de janeiro de 1898, só o fazendo parcialmente.
Em 1900, saiu, editada pela FEB, a 1a. edição da referida obra, em três volumes, traduzida, ao que parece, pelo Sr. Henrique Vieira de Castro(cf. “Reformador”, 1921,pg.443).
Em fins de 1918, a Federação Espírita Brasileira cogitou em reeditar a referida obra de Roustaing, agora na tradução do dr. Guillon Ribeiro, para isso tendo encetado uma campanha.
Pois bem, Ewerton Quadros formou-se, imediatamente entre os primeiros subscritores dessa edição, que saiu em 1920.
Tomou parte nas conferências escolares que em fins do século passado se realizavam anualmente no Liceu de São Cristóvão.
Discorria, então, para os alunos, sobre assuntos ligados à Astronomia.
De 1880 a 1887 participou de várias e importantes atividades no Exército, inclusive num projeto de uma estrada que ligasse a Corte às Províncias do Paraná, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, bem assim na confecção de plantas de dezenas de cidades do Rio Grande do Sul, com planos defensivos e memórias descritivas.
Em 1889 é comissionado pelo governo central nos sertões de Goiás, daí porque não fora reeleito para a presidência da FEB.
E, depois disso, andou por várias regiões brasileiras, em comissões científicas e militares, tendo trabalhado, por exemplo, junto à comissão militar(que também chefiou) encarregada da linha telegráfica entre Uberaba e Cuiabá, cujos trabalhos de observação e exploração ele publicou numa Memória.
Esta Memória terminava com um vocabulário comparado, do português com as línguas indígenas: guarani, caiuá, coroado e xavante.
Ewerton Quadros prestou ao País relevantes serviços, tendo exercido cargos de elevada responsabilidade, recebendo várias medalhas de mérito científico e militar.
Não foi o sétimo presidente do Clube Militar, conforme assinala a “Revista do Clube Militar” de abril de 1940,pág.22.
Pesquisas por nós realizadas em extensa documentação, inclusive nas Atas das Assembléias Gerais do referido clube, patenteiam ter sido Ewerton Quadros o sexto presidente(1895-1896), eleito em sucessão ao Gen. Franklin do Rego Cavalcanti de Albuquerque Barros.
O jornal “O Paíz” põe por terra qualquer dúvida que ainda possa subsistir.
Em seu número de 30 de abril de 1895, ele relacionou os membros da nova diretoria do Clube Militar, eleitos no dia anterior. Ewerton Quadros foi, também, diretor do Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, Comandante da Escola Militar do Rio de Janeiro(1894-95), então localizada na Praia Vermelha, e lente da Escola Politécnica.
Agraciado pelo governo do Marechal Deodoro com a Ordem de Avis, no grau de Oficial.
Constituiu-se num dos mais esforçados auxiliares do Marechal Floriano Peixoto durante a revolta de 1893-1894, tendo sido Comandante do 5o. Distrito Militar, Comandante-em-Chefe das forças em operações no Paraná, Comandante das Fortalezas de São João e da Laje.
Reformado no posto de Marechal, por Decreto de 4 de julho de 1895.
Por volta de 1908, dirigiu, com outros diretores, a “Liga de Propaganda das Ciências Psico-Físicas”, que se ocupava dos fenômenos regidos por forças supranormais.
Além da notável cultura filosófica e científica que demonstrou possuir, era ele senhor de riqueza bem maior e mais apreciável – a do coração, a dos sentimentos cristãos.
Suportou, sereno e resignado, todos os golpes da calúnia, da intriga e do sarcasmo com que tentaram empanar-lhe o brilho da trajetória terrena.
A causa do Espiritismo no Brasil teve nele uma das mais fortes colunas.
Com a sua pena culta, com a sua palavra esclarecida e autorizada, com seu exemplo de cidadão reto e honrado, foi um dos maiores propagandistas a serviço da Doutrina Espírita.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

DESENCARNAÇÃO; PROCESSO DE TRANSIÇÃO.

Morte é a cessação da vida orgânica; desencarnação é a libertação do Espírito imortal, período de transição, na sua mudança de plano. "A morte é hereditária" (1) e quando o corpo morre, o Espírito está pronto para delivrar-se, porque "não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito;"(2) mas este, nem sempre está em condições de fazê-lo. Neste caso, a morte biológica acontece mas, o Espírito não se desprende, não se liberta, fica preso ao corpo físico, isto é, continua encarnado, porque "nem todos os que morrem desencarnam." (3)
"Disse-nos, certa vez, um suicida: ‘Não estou morto.’ E acrescentava: ‘No entanto sinto os vermes a me roerem.’ Ora indubitavelmente, os vermes não lhe roíam o perispírito e ainda menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. (...) Era antes a visão do que se passava com o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o perispírito, o que lhe causava a ilusão, que ele tomava por realidade." (4)
A reencarnação não é um processo punitivo, mas educativo, pois aqui "é escola, é prisão, é hospital"; para atingir a perfeição, a felicidade e a plenitude, é necessário renovar-se na experiência da matéria densa.. Tendo escolhido o caminho do progresso, evoluído, e assim realizado a sua reforma íntima, ou, ao contrário estagnado, com a ressalva que, por mínimo que seja, sempre se evolui alguma cousa, inexoravelmente sobrevem a morte (Fig. 1) , que é a fatalidade do corpo físico, assim como "a evolução é a fatalidade do Espírito"(5), um dos objetivos da reencarnação.(4); o outro é " trabalhar para o Universo, como o Universo trabalha para nós, tal é o segredo do destino" (6), "é por o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação (...) e concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta." (4) (FIG. 1); este último é atingido consciente ou inconscientemente pelo Espírito. A reestruturação ou não de seu perispírito, vai depender em ter atingido ambos os objetivos, com influências importantes no seqüênciamento do processo desencarnatório. Quanto mais depurado esteja mais fácil se torna o seu desligamento gradual, porque "os laços se desatam, não se quebram." .(4)
Dois fatores são seqüenciais à morte (Fig. 1), ocorrendo paralelamente e vinculados às suas circunstâncias e ao grau evolutivo do Espírito desencarnante:


o desprendimento do corpo físico
a perturbação do Espírito.
Léon Denis assinala que deveríamos chorar na hora da reencarnação, que é um momento de intenso sofrimento para o Espírito, e rirmos na hora da morte, quando o Espírito se liberta, já que encarnação é seu encarceramento fluídico e a desencarnação a sua libertação; isto, é importante frisar, se o Espírito cumpriu os objetivos da encarnação, porque se não o fez, serão dois choros, um ao encarnar e o outro ao desencarnar, tal a influência que esta sua conduta projetará na desencarnação.

O desprendimento.
Ao reencarnar o Espírito se liga ao corpo, através de seu perispírito, que a ele se une, molécula a molécula, átomo a átomo e ao desencarnar, inversamente se desprende, também, átomo a átomo, molécula a molécula.
O princípio vital e´ "o interruptor da vida",(7) enquanto que o fluido vital é a eletricidade que carrega nossas baterias, o fluido cósmico animalizado; ao ser desligado aquele, a vida se esvai, cessa e sobrevem a morte (morte natural), que se dá por esgotamento do fluido vital ou embora com sua presença, por falência orgânica súbita (morte violenta), ficando ele impotente para transmitir o movimento da vida. (8) Esta fuga energética do corpo físico e do perispírito, que se encontravam dela impregnados, desde o primeiro instante da concepção, realiza-se de forma suave ou abrupta,(Fig. 1) de acordo com a sua distribuição, que é peculiar a cada ser, a cada órgão, a cada célula; há nos centros vitais ou de força, maior atividade vital e pontos de ligação com maior densidade entre o Espírito-perispírito e o corpo físico; destes o que tem mais forte esta união com o Espírito, via perispírito, é o centro coronário ou regente que, pelo fato mesmo, é o último que se desliga, desfazendo-se as conexões Espírito-perispírito-glândula pineal, a "glândula da vida espiritual". O rompimento destes laços fluídico-magnéticos que compõe o cordão fluídico ou de prata, representa o selo da desencarnação, iniciando-se pelas extremidades e terminando, como dissemos, no cérebro.
A natureza das demais ligações dos centros vitais, variam de acordo com cada ser, dependentes da evolução do Espírito, modulador e estruturador do perispírito e portanto de suas ligações com a matéria densa, através dos centros vitais controladores e seus órgãos súditos e que serviço prestou ao comandante de suas ações_ o Espírito. Assim quem usou desregradamente o sexo, ou praticou aborto, por exemplo, terá suas ligações com o centro vital genésico difíceis de serem desligadas; quem foi tabagista inveterado, igualmente terá fortes ligações fluídico-magnéticas com o centro cardíaco, a retardar o processo desencarnatório, e daí por diante.
Assim o desprendimento acontece de forma lenta (envelhecimento natural, doenças crônicas, etc.) por esgotamento do fluido vital, ou de forma abrupta (morte violenta: acidentes, desastres, assassinatos, suicídios) por injúria grave, determinando a incapacidade funcional orgânica definitiva.(FIG. 1); nos primeiros, o desligamento já vinha se fazendo quando ocorreu a morte e nos últimos, a morte corresponde ao início do processo desencarnatório; eqüivale a dizer que o período morte-libertação, genericamente, é maior nestes. Com os Espíritos evoluídos ocorre que o momento da morte corresponde ao da libertação, mas, ao contrário, certos Espíritos que têm seu perispírito ainda muito densificado, ficam presos ainda ao corpo, após a morte.
"O Espiritismo, pelos fatos cuja observação ele faculta, dá a conhecer os fenômenos que acompanham esta separação, que, às vezes, é rápida, fácil, suave e insensível, ao passo que doutras é lenta, laboriosa, horrivelmente penosa, conforme o estado moral do Espírito, e pode durar meses inteiros", (2) e até anos.

A perturbação.
A consciência é do Espírito e após a morte corporal, ele passa por um período variável de perturbação, de acordo com o estado moral da alma, "fruto das suas construções mentais, emocionais e volitivas" (9) e o gênero ou circunstâncias da morte, para voltar a readquiri-la.
O Espírito purificado se desvencilha dos tênues laços que o prendiam ao corpo físico, tomando então consciência de si mesmo, da sua volta ao mundo espiritual e da memória do passado, que é também do Espírito e aos poucos vai retornando do inconsciente, sediado no perispírito (8); este "livro misterioso, fechado a nossa vista, durante a vida terrena, abre-se no espaço. O espírito adiantado percorre-lhe à vontade as páginas (...)." (6) Nestes casos a sensação é de alívio, como quem acordou de uma intervenção cirúrgica e obteve alta, curado; não é pois, nem penosa, nem duradoura; é um despertamento, pois a "vida na carne é o sono da alma; é o sonho triste ou alegre." (6)
Naqueles Espíritos que não aproveitaram o retorno à vida corporal, para sua evolução, estagnados na escala do progresso, o desencarne será um processo extremamente doloroso, "tétrico, aterrador, ansioso (...) qual horrendo pesadelo" (10), demorado e a perturbação espiritual que se seguirá, será muito intensa e prolongada; muitas vezes, mal se lembram até da última encarnação e muito menos das outras, em mais uma concessão da bondade e da misericórdia divina, mas um dia o farão, pois terão que "entrar no conhecimento do seu estado, antes de serem levadas para o meio cósmico adequado ao seu grau de luz e densidade. "(6)
Na morte violenta, situação não esperada na maioria das vezes pelo Espírito, sua conscientização da morte e conseqüente passagem à vida espiritual é difícil e demorada, tanto mais prolongada quanto menor a evolução espiritual.

Na Espiritualidade.
A espiritualidade não está parada, nem contemplativa, ao contrário, trabalha incessantemente e "Espíritos evoluídos, com fortes vínculos com a caridade", (11) se incumbem da tarefa da desencarnação, ajudando nos desligamentos dos laços que unem o Espírito ao corpo físico, sob influxo do pensamento divino. Espíritos amigos e familiares, já desencarnados, colaboram nesta tarefa. Esta mesma atuação, pode ser prejudicada por Espíritos inimigos, obsessores até, que têm a finalidade de tornar o desligamento mais penoso, contribuindo também para maior perturbação do Espírito desencarnante, seu desafeto.

Destino dos componentes do homem.
Após a morte, o corpo físico desintegra-se, seguindo as leis físico-químicas, que também são divinas, nunca mais voltando a recompor-se, ou destinar-se à ressurreição, que seria desprovida de qualquer finalidade.
O fluido vital volta ao seu lugar de origem _ o fluido cósmico ou universal.
O perispírito poderá apresentar modificações em relação à sua densidade; não se segmenta e não se sedimenta; se depura, tornando-se tanto mais sutil quanto maior for o progresso espiritual.
O Espírito pode apresentar modificações em relação ao seu estado moral reencarnatório, porque o "Espírito evolui, tudo o mais se transforma", por menor que seja esta mesma evolução, às vezes mínima, o que não pode nunca acontecer, é retrogradar.

Conclusão
Um dia, depois da morte corporal, nós teremos um decisivo encontro marcado com nós mesmos, nos recônditos da nossa consciência, apanágio do Espírito, onde foram impressas por Deus as suas leis morais (4); aí serão julgados por ela, todos os nossos atos da senda reencarnatória, no uso do nosso livre arbítrio e comparados com os nossos propósitos ao reencarnar, escolhidos ou impostos pela justiça divina, sempre de acordo com as aptidões de cada um; depende de nós, e só de nós, se este será o "dia mais feliz de nossa existência", momento de puro êxtase ou, "ao contrário, o pior deles", o seu momento mais fatídico.
"Cremos que a educação para o desencarne implica na educação para a vida". (9), para que consigamos a morte de que nos fala Hernani Santanna :(12)
"A morte (...) é a liberdade !
É o vôo augusto para a luz divina, sob as bênçãos da paz da eternidade!
É bem começo de uma nova idade, antemanhã formosa e peregrina, da nossa vera e grã felicidade."

BIBLIOGRAFIA
1 _ FORMIGA, Luiz Carlos D. "Dores, Valores, Tabus e Preconceitos", CELD Ed., maio/96, pg.89-102.
2 _ KARDEC, Allan. "A Gênese". 22ª ed. Trad. Guillon Ribeiro. 1980, pg. 215.
3 _ RIBEIRO, Gêmison. "Nem todos que morrem desencarnam." Revista Internacional de Espiritismo, Dez/1999, pg. 504.
4 _ KARDEC, Allan. "O Livro dos Espíritos". 68ª ed.: FEB, 1987. perg. 132, 155, 257, 621.
5 _ SANTOS, Edson Ribeiro dos. Comunicação pessoal.
6 _ DENIS, Léon. "O Problema do Ser, do Destino e da Dor." 4ª ed. 1936: FEB, pg. 167, 261, 323.
7 _ MELO, Jacob. "O Passe". 8ª ed.: FEB,1992, pg 60.
8 _ MOREIRA, Fernando Augusto. "Fisiologia da Alma". Revista Inter-nacional de Espiritismo, Out/2000, pg.399.
9 _ JERRI, Roberto. "A Fisiologia do Desencarne" A Reencarnação. Nº 414, ano XIII, 1º semestre, 1997, pg. 39 e 42.
10 _ KARDEC, Allan. "O Céu e o Inferno". 37ª ed. Trad. Manuel J. Quintão: FEB, 1991, pg. 169.
11 _ CARNEIRO, Oscar F. "Reflexões". Ozon Editor, 1960, pg. 15.
12 _ SANTANNA, Hernani. "Canção do Alvorecer". 2ª ed,: FEB, 1983, pg. 46.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

SOFRIMENTO E EUTANÁSIA

O Homem tem o direito de dispor da sua própria vida?
— Não; somente Deus tem esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão dessa lei.
O suicídio não é sempre voluntário?
— O louco que se mata não sabe o que faz.
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec (questões 944 e 944 A)
Quando te encontres diante de alguém que a morte parece nimbar de sombra, recorda que a vida prossegue, além da grande renovação...
Não te creias autorizado a desferir o golpe supremo naqueles que a agonia emudece, a pretexto de consolação e de amor, porque, muita vez, por trás dos olhos baços e das mãos desfalecidas que parecem deitar o último adeus, apenas repontam avisos e advertências para que o erro seja sustado ou para que a senda se reajuste amanhã.
Ante o catre da enfermidade mais insidiosa e mais dura, brilha o socorro da Infinita Bondade facilitando, a quem deve, a conquista da quitação.
Por isso mesmo, nas próprias moléstias reconhecidamente obscuras para a diagnose terrestre, fulgem lições cujo termo é preciso esperar, a fim de que o homem lhes não perca a essência divina.
E tal acontece, porque o corpo carnal, ainda mesmo o mais mutilado e disforme, em todas as circunstâncias, é o sublime instrumento em que a alma é chamada a acender a flama da evolução.
É por esse motivo que no mundo encontramos, a cada passo, trajes físicos, em figurino moral diverso.
Corpos – santuários...
Corpos – oficinas...
Corpos – bênçãos...
Corpos – esconderijos...
Corpos – flagelos...
Corpos – ambulâncias...
Corpos – cárceres...
Corpos – expiações...
Em todos eles, contudo, palpita a concessão do Senhor, induzindo-nos ao pagamento de velhas dívidas que a Eterna Justiça ainda não apagou.
Não desrespeites, assim, quem se imobiliza na cruz horizontal da doença prolongada e difícil, administrando-lhe o veneno da morte suave, porquanto, provavelmente, conhecerás também mais tarde o proveitoso decúbito indispensável à grande meditação.
E usando bondade para os que atravessam semelhantes experiências para que te não falte a bondade alheia, no dia de tua experiência maior, lembra-te de que, valorizando a existência na Terra, o próprio Cristo arrancou Lázaro às trevas do sepulcro, para que o amigo dileto conseguisse dispor de mais tempo para completar o tempo necessário à própria sublimação.

Emmanuel
Do livro: Religião dos Espíritos
Psicografia: Francisco Cândido Xavier

domingo, 15 de novembro de 2009

ASSUNTOS DA VIDA:

Com mais de dez comensais à mesa, naquele meio-dia de sábado, o médium Xavier pede que cada um se sirva daquilo que preferir, enquanto ele próprio serve refrigerante aos presentes.
Finda a refeição, e antes que Chico Xavier se retire para um repouso de meia hora recuperando energias para a tarefa evangélica de sábados à tarde, retenho-o por alguns instantes em palestra sobre planos para este livro. Sugeri-lhe que o título fosse Janela Para o Céu, tendo ele preferido que o título seja Janela Para a Vida, já que seu tema principal é a mediunidade.
Enquanto concordava com ele que sua sugestão era a mais indicada, notei que o médium Xavier me observava com uma expressão indefinível. Ou melhor, aquele olhar compassivo e doce, compreensivo e profundo, não era o olhar de Chico Xavier a que eu me habituara.
Aquela luz vertendo do Mais Alto proporcionava-me sentimentos de profunda paz, aliados a uma indescritível vontade de superar-me em minhas limitações, de já me ter libertado das algemas das ilusões materiais. Uma luz de inavaliável beleza, vinda de regiões desconhecidas de minha alma mas presentes nas mais recônditas esperanças de meu espírito sedento de Luz e Sabedoria Divina.
Poderia afirmar tratar-se de Emmanuel, o Benfeitor e o Amigo dos necessitados. Seja como for, penso que nunca esquecerei os vívidos sentimentos que me avassalaram a alma naqueles breves e infinitos minutos de enlevo espiritual.
Antes de recolher-se aos seus aposentos, o médium Xavier entregou-me um envelope contendo respostas às perguntas que eu lhe formulara em várias folhas datilografadas.
Tratando de muitos e variados assuntos, disse ao médium que respondesse somente as que lhe parecessem mais apropriadas ou significativas. Apesar disso, nem uma só ficou sem resposta. Ei-las:

Psicanálise

P – A psicanalista Karen Horney afirma que enquanto dormimos verifica-se oculta atividade mental inconsciente, fazendo com que, ao acordarmos, encontremos a impensada solução para esse ou aquele problema que nos preocupava até antes de adormecermos. Como no caso do famoso problema matemático, cuja solução aparece pronta pela manhã... Acha que essa imperceptível atividade onírica, que tantas vezes nos oferece soluções surpreendentes, é de ordem puramente mental, da própria pessoa, ou pode ter o concurso de Espíritos afins?

R – Respeito a interpretação da ciência psicológica com referência à nossa vida mental inconsciente, entretanto, creio que, na maioria dos casos em que despertamos após o sono comum com determinadas “soluções prontas” para problemas que nos inquietavam, isso se deve ao amparo de Espíritos Amigos e Benfeitores que nos estendem auxílio, quando a nossa mente repousa entre as atividades de vigília.
Aliás, não nos seria lícito esquecer que os magnetizadores, mesmo entre nós, os espíritos encarnados, conseguem prestar valioso auxílio aos companheiros por eles magnetizados, enquanto se encontram esses, no estado de hipnose, sem que eles, os magnetizados, conservem, pelo menos temporariamente, qualquer lembrança dos benefícios recebidos.

P – Mais ou menos dentro dessa mesma teorização Karen Horney denomina de insight o fenômeno conscientizador da mente humana, termo que em nossa língua equivaleria ao famoso “estalinho do Padre Vieira”. Por exemplo, segundo Horney: se eu sinto medo de lugares altos, no instante em que me dou conta desse temor, tenho um primeiro insight conscientizador. Se, eventualmente, mais tarde consigo descobrir as causas desse medo das alturas, tenho um novo e mais amplo insight, capaz até mesmo de diluir o medo que me atormenta. Á luz da Espiritualidade, como definiria o enfoque dessa lúcida psicanalista?

R – Compreendemos o fenômeno não só por socorro indireto de amigos desencarnados, como também por impacto de recordações instintivas, decorrente de circunstâncias em que a personalidade reencarnada recapitula experiências pelas quais haverá passado em existências anteriores.

P – De acordo com teorias psicanalistas, a neurose é uma anomalia que induz o paciente a sentir exagerada necessidade de afeto e aprovação por parte das pessoas e do meio em que vive. Qual o remédio eficaz para as afecções neuróticas e as obsessões da alma?

R – Admitimos que o conhecimento dos princípios reencarnacionistas, auxiliando-nos a aceitar com paciência e coragem os problemas e provações criados por nós mesmos, com o aprendizado e prática da tolerância recíproca nos imunizará contra os prejuízos das neuroses, auxiliando-nos, igualmente, na cura das obsessões.

P – Que diria aos pais que inconscientemente suscitam em suas crianças a idéia de que seu direito à vida de certa forma depende exclusivamente de que elas, como filhos, correspondam às expectativas nelas depositadas pelos pais?

R – Com a maturidade espiritual necessária, o homem perceberá que os filhos são espíritos imortais, independentes dos pais, que lhes são tutores perante Deus e a Vida.
Isso desfará a ilusão de que os filhos são cópias dos genitores que lhes propiciaram a formação de novo corpo, na Terra, conquanto saibamos que, em numerosos casos, os filhos se parecem extraordinariamente com os pais, conforme os princípios da afinidade, compreensíveis em nossas vivências comuns.

P – Goethe afirmou certa vez que no mundo só existiu e existe um único conflito: o conflito entre a incredulidade e a fé. Você concorda com tal síntese?

R – Cremos que o admirável poeta condensou todo um mundo de pensamentos complexos na síntese apresentada, porque renteando com esse conflito entre a incredulidade e a fé, somos induzidos a reconhecer outros, como sejam os conflitos entre o ódio e o amor, entre o equilíbrio e o desequilíbrio, e outros muitos, entre os quais lidamos e lutamos, todos, nós, à busca de nosso próprio burilamento.

P – Você concorda com a teoria freudiana quando diz que problemas afetivo-sexuais mal resolvidos na infância e na mocidade criam problemas ao longo de toda a existência?

R – A educação do impulso sexual é trabalho não só para a infância e para a juventude, mas para todo o tempo da existência terrestre, continuando além da morte para as inteligências desencarnadas.

P – Acha válido o dogma psicanalítico que diz que até a idade de 3 ou 4 anos TUDO está formado na personalidade da criança, sendo o restante da existência nada mais que uma continuação do que até ali ficou construído dentro dela?

R – Ao que nos parece, o conteúdo da personalidade, formada na criança, é um testemunho eloqüente da reencarnação, compelindo toda criatura humana a ser educada e a educar-se no curso da existência berço-túmulo.

P – Acha que a mamadeira, dada desde muito cedo à criança, pode criar um clima de artificialismo entre a mãe e o bebê, suscitando neste uma senda de insegurança que poderia prolongar-se pela vida a fora?

R – Um assunto para a pediatria que merece consideração.

P – Por que as crianças não têm medo da morte?

R – A amnésia parcial ou total em que se encontra o espírito encarnado no período da infância equivale a um estado de semi-consciência no qual a criança não dispõe de recursos para raciocínios mais profundos.

P – Há pais que a pretexto de uma educação liberal e sem tramas preferem nada esconder dos filhos, em termos de educação sexual. Alguns chegam a tomar banho despidos junto aos filhos, apesar de que isso poderia suscitar complexos de inferioridade ou outros. Alguns pais se permitem acariciar seus rebentos de maneira inconveniente, originando nestes uma espécie de pudor doentio. Peço consideração sobre isso.

R – Somos partidários do respeito recíproco entre pais e filhos, adultos e jovens, em todas as fases da vida. Cada espírito é um mundo por si, com a obrigação de descobrir-se a aprimorar-se, conquanto deva e possa receber o auxílio de outrem para isso, mas sempre na base do apreço mútuo.

P – Afirmam os médicos que uma criança já nascida sente inconscientemente, por intuição ou telepaticamente, quando seus pais tentam rejeitá-la sendo que tal fato transparece nos desenhos e criações infantis pois ela considera o fato um assassínio embora nem justo nem injusto.

R – Verdade. O espírito do nascituro, mais ou menos conscientemente, conhece as disposições dos pais a seu respeito.

P – Que é pior para a criança ou para o adolescente: a violência que vê na televisão ou no cinema, ou a que presencia ao redor de si?

R – Qualquer violência, em qualquer lugar e em qualquer tempo, é prejudicial ao autor e aos que lhe assistem a exteriorização, seja qual for a idade do espectador.

P – No livro Amor e Sexo, Cap. 21, Emmanuel nos fala dos problemas das minorias sexuais e a necessidade de respeito fraterno para com esses irmãos em prova. Observa-se na sociedade atual que a predominante maioria dos heterossexuais habitualmente ridiculariza aqueles que não lhe seguem a prática, o mesmo acontecendo com certos núcleos religiosos que vêem o problema sob o prisma de endemonianamento no p!ano da unicidade da existência. Acha você que, no futuro, as religiões irão compreender melhor a situação de resgate desses irmãos, amparando-os mais adequadamente?

R – Em matéria de relacionamento sexual tão só o tempo com a maturidade espiritual das criaturas encarnadas na Terra é que solucionará problema da compreensão necessária ao equilíbrio e segurança dos grupos sociais.

P – De todos os relacionamentos entre seres humanos (materno-paterno, amistoso, social, profissional, de companheirismo, etc.), nenhum me parece mais conflitante que o relacionamento entre homem e mulher. Por que são tão raros os casais que vivem num clima de harmonia perfeita?

R – O relacionamento entre os parceiros da vida íntima no lar, na essência, é uma escola ativa de aperfeiçoamento do espírito. Até que duas criaturas alcancem o amor integral, uma pela outra, sob todos os aspectos da individualidade, é compreensível o atrito mais ou menos freqüente entre ambas, visando ao burilamento recíproco.

P – Quando um dos cônjuges não assume a responsabilidade na parte que lhe toca na sustentação do equilíbrio recíproco, qual a responsabilidade do outro que for buscar fora do lar vinculações extraconjugais?

R – Alguém que fira outro alguém, depois dos compromissos afetivos devidamente assumidos em dupla, é responsável pela lesão psicológica que cause, criando para outrem e para si mesmo dificuldades que só pelo amparo do tempo conseguirá resgatar.

P – Por que nunca há divórcio entre os Espíritos sublimados no Bem?

R – Os espíritos sublimados nas leis do Bem aprenderam a amar sem exigência e a aceitar as pessoas amadas como realmente são ou estão. (Emmanuel)

Mediunidade

P – Muitas pessoas presumem ou estão convictas de que você, não possuindo nenhum curso acadêmico capaz de oferecer condições de poder escrever os livros que levam seu nome, dedica-se intensivamente ao hábito da leitura, surgindo daí a cultura que adquiriu ao longo dos anos. Pode dizer-nos quantos livros lê por mês? Poderia acrescentar algo acerca desse presumido autodidatismo?

R – Realmente são muitas as pessoas que me supõem na condição de uma criatura que devora livros e mais livros. Não me ofendem com isso. Ficaria até mesmo feliz se assim fosse. Acontece, porém, que comecei a trabalhar profissionalmente aos dez janeiros de idade e, desde 1931, sou portador de enfermidade irreversível num dos olhos. Em vista disso, nunca pude ler excessivamente, conquanto seja um dever para cada pessoa cultivar-se quanto lhe seja possível. Nos anos últimos, a fim de poupar trabalho aos poucos recursos visuais de que disponho, procuro realmente ler apenas livros que me sejam recomendados por amigos para não perder forças experimentando leituras que não me trariam qualquer proveito.

P – Ao descrente não será difícil afirmar que o livro psicografado, do Espírito André Luiz, sob o título Nosso Lar, é pura ficção científica sob enfoque espiritual. Qual sua opinião?

R – Pessoalmente guardo a convicção de que o livro Nosso Lar nos oferece plena realidade da vida além da morte física. Os contatos mediúnicos com André Luiz e outras entidades da Vida Maior não me deixam qualquer dúvida quanto a isso.

P – A respeito da auto-imunização contra os males e tentações da fama, Einstein fez o seguinte comentário: “A única forma de iludir a corrupção pessoal dos elogios é seguir trabalhando. A gente sente a tentação de deter-se para escutar os que nos elogiam. A única coisa a fazer é não prestar atenção e continuar trabalhando. Não há nada melhor que o trabalho”. Qual sua fórmula ou meio de defesa ante as tentações da fama?

R – Não me considero com créditos para adquirir popularidade. Mas devendo responder à pergunta creio que a fama é uma grande oficina de fotografias. Uma criatura conquista renome e, com isso, passa a ser vista por numerosas pessoas que simpatizam ou não simpatizam com ela. Começam aí as “fotos” da pessoa em causa. Cada amigo ou cada adversário apresenta a imagem que mentaliza e os retratos falados ou comentados vão aparecendo. Entretanto, no íntimo penso que uma criatura famosa se vê, na realidade, tal qual é, com muito mais necessidade de amparo a fim de viver do que de popularidade, embora, a meu ver, as pessoas famosas devam ser agradecidas a quantos lhes dispensam atenção. Não conhecia a fórmula de Einstein para que alguém se imunize contra os riscos do elogio, mas nela encontro um modelo de equilíbrio e sensatez. Aliás, Emmanuel sempre me adverte que o trabalho é o caminho para a verdadeira paz, quando o trabalho se encontre alicerçado no bem. Refiro-me ao assunto com o respeito que me vincula à indagação, mas preciso esclarecer que, quanto a mim, nunca precisei estar vigilante contra os inconvenientes da fama, de vez que nada fiz para conquistá-la e se trabalho sempre é porque preciso aprender a servir, em meu próprio benefício, competindo-me ainda acrescentar que os Espíritos Amigos me ensinam que devo sempre trabalhar porque, sinceramente, não tenho algo de melhor para fazer.

P – Uma das afirmações mais interessantes de Einstein é a de que o ser humano, de um modo geral, não utiliza mais do que 10% de sua capacidade mental. Quanto aos restantes 90% dessa capacidade, poderiam ser alcançados exclusivamente através de desdobramentos mentais, isto é, sem o concurso do Espírito?

R – Os Benfeitores Espirituais comumente nos dizem que, o tempo, com a evolução do ser humano, através de múltiplas experiências, a todos nos ensinará como aproveitar toda a capacidade mental de que somos dotados.

P – Durante os quase seis anos da Segunda Guerra Mundial, médicos e psicólogos europeus constataram um decréscimo no número de doenças mentais enquanto perdurou o conflito. Encerrada a guerra, as estatísticas constataram a reintensificação das doenças psíquicas. Como isso pode ser explicado?

R – A opinião aqui exposta pertence ao nosso Emmanuel. Diz nosso Amigo Espiritual que, no curso das provações coletivas, somos instintivamente induzidos a trabalhar em auxílio do próximo, com esquecimento de nós mesmo e, com isso, aprendemos espontaneamente solidariedade, união, tolerância e entendimento recíproco, imunizando-nos contra muitas das doenças consideradas mentais. E acrescenta que se nos decidirmos a trabalhar, todos nós, voluntariamente, uns pelos outros, sem propósitos de egoísmo e ambição, nos tempos de paz, teremos sempre os mesmos resultados. Isso acontece em nosso atual estágio evolutivo, porque carregar as dificuldades alheias, auxiliando aos outros com amor e desinteresse é muito mais fácil que carregar, sozinhos, o peso mental de nós mesmos.

Moradas do Universo

P – A cada 76 anos o cometa Halley visita regularmente o nosso Planeta, encantando e ao mesmo tempo atemorizando a comunidade terrestre com sua cauda esplendorosa de 32 milhões de quilômetros. Em 1986 essa “visita luminosa” repetir-se-á indesviavelmente. Haverá algum significado espiritual ou existencial, ainda não percebido pela Humanidade, nessa matemática periodicidade? Que espécie de vida poderia existir num cometa como esse?

R – O assunto é de resposta impraticável para os obreiros do Evangelho do Cristo, de vez que demanda ciência absoluta, o que nos induziria provavelmente a regiões polêmicas sem proveito para as construções do homem interior.

P – Os chamados “poços negros” do espaço exterior têm provocado crises de espanto e perplexidade entre físicos e astrônomos de todo o mundo. Com um empuxo gravitacional de força quase infinita, inexistindo em seu interior o espaço-tempo e a matéria tais como os conhecemos, o aturdimento entre os cientistas é tal que até aqui eles não encontraram um caminho ou premissa capaz de induzi-los, pelo menos, a conjeturas teóricas. Há algo que possa ser dito capaz de libertar alguma luz sobre o impenetrável significado dessa incógnita do mundo físico sustentada pela Sabedoria Divina?

R – Um tema para os cientistas, cujos labores e realizações profundamente respeitamos.

P – Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, Plutão, além do Sol, são astros do nosso sistema solar que poderiam abrigar a vida em suas variadas manifestações. Você confirma que lá existem formas de vida mais, ou menos,densas em conteúdo perispiritual, ou seja, mais, ou menos, evoluídas que a nossa própria?

R – Uma gota dágua comum é um mundo microscópico, intensamente habitado. Não existem planetas vazios de vicia, mas as formas de manifestação da vida variam ao infinito e não nos serviria a penetração num terreno de discussões inoportunas ou estéreis.

P – Que é que você provavelmente pensaria se, tal qual os astronautas do Projeto Apoio, pudesse ver a Terra à distância, pequenina e frágil ante a imensidão do Universo?

R – A Terra, observada à imensa distância nas vastidões do Cosmo pode ser considerada pequena moradia das criaturas em evolução, confrontada com outros mundos da galáxia, mas examinada pelo sentimento, em qualquer ângulo pelo qual se nos apresente é maravilhosa mansão do Espírito, pelos bens inestimáveis que a todos nos proporciona.

P – De algumas décadas a esta parte vem se acentuando, nos mais variados países e continentes, os testemunhos, alguns insuspeitos, de pessoas que mantiveram contatos diretos com seres de outras civilizações do Espaço Sideral. Seriam seres de mundos mais evoluídos que o nosso, aqui vindos com propósitos ainda não definidos.
Você crê que num futuro mais ou menos próximo esses seres venham a estabelecer contatos oficiais com pessoas ou grupos organizados do nosso Planeta? Em que aspecto isso iria contribuir para uma maior elevação do pensamento humano?

R – Consideramos que o problema proposto pertence ao domínio da ciência, mesmo porque, nós outros, os espíritos desencarnados, somos habitantes de outras faixas evolutivas do Planeta, quase que em comunicação constante com os irmãos corporificados no Plano Físico, sem que muitos companheiros da Humanidade estejam conscientizados a respeito disso. (Emmanuel)

Acerca da morte

P – De acordo com renomados meios científicos a “morte clínica” de uma pessoa se verifica quando o cérebro deixa de dar registros de atividade cerebral, mesmo que o coração ainda esteja batendo. Do ponto de vista espiritual, em que preciso instante ocorre a desencarnação da alma?

R – A desencarnação não é uma ocorrência absolutamente igual para todos. Por isso mesmo consideramos por desencarnação o estado do espírito que já se desvencilhou de todos os liames que o prendiam ao corpo propriamente material.

P – Será lícito manter-se uma pessoa viva por recursos inteiramente artificiais quando não reste nem uma só esperança de que essa pessoa possa sobreviver sem tal artificialismo?

R – A ciência na Terra pode, em muitos casos, realizar processos artificiais de retenção do espírito no corpo físico, mas sempre a título precário, sem ligação com as realidades definitivas da vida.

P – Como se explica o caso da norte-americana que jaz inconsciente num leito há anos e que, mesmo retirada da tenda de oxigênio que amparava sua vida física continua vivendo contra todas as previsões médicas?

R – Um problema na lei de causa e efeito a que a ciência no mundo, muito louvavelmente, não aplicou a eutanásia, permitindo que as leis superiores da existência claramente se manifestem.

P – Em meio ao pragmatismo da era atual uma onda de misticismos e magia parece avassalar amplas comunidades humanas, induzindo-as a movimentos de fanatismo e loucura. Tivemos um exemplo disso na Guiana, quando mais de 900 pessoas foram induzidas ao auto-extermínio por um desses líderes do fanatismo impregnado de violência. Qual a palavra orientadora do Plano Mais Alto sobre tais movimentos?

R – A doutrina Espírita, restaurando os ensinamentos de Jesus, pede ao homem discernimento e não o exonera da responsabilidade sobre os próprios atas. (Emmanuel)

P – O poder da palavra. Com a palavra podemos edificar ou destruir vidas, reerguer ou arruinar esperanças, balsamizar ou acicatar feridas, etc. Quantas pessoas não esperariam apenas uma palavra nossa para se erguerem às alturas celestiais ou se jogarem no mais escuro abismo. Toda palavra é um mundo cambiante. Pediria considerações acerca da profunda influência e instrumentalidade da palavra nos dois Planos da Vida.

R – A palavra é tão importante, em qualquer domínio da vida, que o próprio Apóstolo João começa a narrativa evangélica que nos legou com o trecho inesquecível: “No princípio era o Verbo...”.

P – Espera mudanças ou modificações no instituto do dogma, abrindo oportunidades novas à propagação do Cristianismo Redivivo?

R – Com os instrutores da Vida Maior acreditamos que as instituições cristãs, em futuro próximo ou talvez ainda um tanto distante, farão grandes aberturas nos princípios criados por elas mesmas, para que sejam os ensinamentos de Jesus interpretados com base nas realidades simples da vida.

P – Como vê a opção feita por milhares de pessoas entregues à uma religiosidade mística, que se refugiam na intimidade de mosteiros e carmelos, preferindo desta forma a pura contemplação de Deus, em vez do esforço de relacionamento e troca com os seres humanos, seus iguais que vivem no mundo cá fora?

R – Entendemos a inconveniência da solidão e da inércia, em nome da fé; no entanto, será justo reconhecer que os refúgios da Religião para o exercício da vida conventual tiveram manifesto valor para milhares de criaturas portadoras de conflitos psicológicos ou vítimas de anseias que os preconceitos do mundo positivamente hostilizavam e que se reconheciam em muito melhores condições, no passado, nas casas de oração, consagradas à confiança em Deus e ao estudo dos problemas espirituais do que hoje, se procurassem abrigo e segregação em sanatórios e recantos de repouso mental. Conservamos, aliás, a convicção de que esses recantos de solidariedade e disciplina religiosa serão restaurados no futuro, não apenas para a contemplação de Deus, mas para a crença em Deus com trabalho e proveito para a vida comunitária, já que teremos inevitavelmente, reencarnados na Terra, por muito tempo ainda, milhares de companheiros em pesadas dificuldades psicológicas ou marcados por frustrações, para os quais a cura ou o tratamento pela fé e pela terapêutica ocupacional serão de eficiência mais ampla do que os processos curativos aconselhados, na atualidade, nas terapias que se interligam com a patologia da mente, muito embora não nos seja lícito esquecer ou desprezar o valor inconteste da medicação moderna em numerosos casos específicos.

P – O instrumento da mediunidade tem sido comparado a um telefone. Toca do lado de lá e alguém poderá ou não atender ao nosso chamado. Ás vezes o chamado vem de lá, mas o aparelho não está em condições de recepção. Esta segunda hipótese ocorre com mais freqüência do que a primeira, ou se dá o inverso?

R – A segunda hipótese é muito mais freqüente nas tentativas de intercâmbio espiritual. Entretanto, qual ocorria nas comunidades terrestres de outro tempo, sequiosas por facilidade de comunicação uma com as outras, antes da era do telefone, há que esperar a época em que os desencarnados consigam recursos mais amplos para a troca de notícias com os irmãos domiciliados no Plano Físico, a fim de que o problema seja devidamente solucionado.

P – Em termos espirituais o marxismo é um mal em si mesmo?

R – O assunto é de natureza política, pertinente à responsabilidade dos irmãos transitoriamente encarnados na Terra, sem conexão com as nossas construções espirituais. Entretanto, os amigos ainda residentes no mundo podem estar de braços dados conosco, os amigos que já atravessamos as barreiras da Grande Mudança.

P – Quando jovem, vinculado a conflitos emocionais, freqüentei consultórios de psicanalistas por mais de ano. Certos problemas pessoais, como a timidez, por exemplo, foram solucionados com a ajuda dessa venerável ciência. Para outras questões existenciais, tais como “de onde vim, por que estou aqui, para onde vou", a Psicanálise não teve, não tem, nenhuma resposta. Inobstante, todo o panorama modificou-se para mim a partir do dia em que aceitei convictamente a Lei das Vidas Sucessivas, através da reencarnação. Agora a minha pergunta é: que acontecerá com os líderes religiosos do mundo atual quando ficar cientificamente comprovado ser a Reencarnação uma lei tão precisa e inelutável quanto o é, por exemplo, a lei da gravidade. Quando tal ocorrer não haverá modificações profundas no próprio governo terrestre que esteja na administração do planeta?

R – Os princípios da Reencarnação, quando forem aceitos pela Ciência na Terra, conseguirão liquidar aflitivas questões do espírito humano; entretanto, não seria justo, de nossa parte, impor a verdade ou exigi-la em bases de violência. Enquanto na experiência física, saibamos recolher da Ciência os benefícios que ela nos consiga prestar, sem reclamar-lhe realizações que ela própria considere de caráter prematuro.

P – Qual a solução profunda para o problema da violência nos grandes centros urbanos?

R – Admitimos que a violência pode e deve ser contida pelos órgãos de repressão, mas acreditamos que será erradicada do campo humano somente quando nos voltar-mos todos – os espíritos vinculados à Terra – para o serviço de educação a partir da criança recém-nascida.

P – Jean Jacques Rousseau afirmou que o homem nasce essencialmente bom e a sociedade o torna mal. Certo ramo evolucionista contradiz essa tese ao contrapropor que o ente humano nasce rude e primitivo e que os choques da vida é que o vão tornando bom. Erich Fromm por sua vez acrescenta que o homem não é essencialmente bom nem mau, no fundo ele é apenas contraditório. Sob prisma espiritual, qual é a essência da criatura humana?

R – Ante a grandeza do Universo somos inevitavelmente compelidos a reconhecer na criatura humana um espírito imortal, em evolução no rumo da Vida Superior, cujo burilamento não prescinde das relações com as demais criaturas do mesmo nível de inteligência, a fim de que se lhe acentue a compreensão e se lhe aprimorem os sentimentos, em demanda dos cimos do progresso e da elevação a que aspira alcançar.

P – No Além a decomposição da luz através de um prisma etérico gera cores desconhecidas do homem terrestre? Pode dizer-nos quais e como são essas cores?

R – No Mais Além, outras cores se nos descortinam às percepções, na decomposição da luz, mas não encontramos as palavras adequadas para definir a ocorrência, nas áreas atuais do conhecimento terrestre.

P – Afirmam os especialistas terrestres que a cor é dimensão, peso, iluminação, temperatura, simbolismo e emoção. Explicam, por exemplo, que o amarelo é iluminativo, alegre, quente. Alaranjado é cor excitante; ele é eufórico, digestivo, dinâmico. Violeta é cor mística, atormentada, fria. Já o azul é cor atmosférica, tranqüilizadora, esperançosa. Alguns estudiosos vêm afirmando que a música, por seu turno, irradia cores, invisíveis ao olho humano, mas nem por isto menos reais, o que, aliás, é amplamente confirmado nos livros de André Luiz. A cor é importante para a interação e evolução do Espírito nos Dois Planos da Vida?

R – Consideramos a poesia dos especialistas terrestres, no terreno das cores, por ingrediente respeitável nas definições expostas e não nos consideramos capazes de lhe aditar ponderações científicas por falta de termos próprios' que funcionariam em apoio da argumentação que porventura pudéssemos agora articular. Quanto à música é certo que ela irradia cores, a traduzir-se em espectro multicor. Reconhecemos, outrossim, que a cor se reveste de muita importância para a harmonização e evolução do Espírito, seja no Plano Físico ou no Plano Espiritual.

P – Já no crepúsculo da existência física o encanecido Platão deu a seguinte definição de Deus: “Deus deve ser para nós a medida de todas as coisas, muito mais que qualquer homem, como hoje em dia se apregoa. Quem quiser tornar-se agradável a um ser tão eminente, deve, necessariamente, assemelhar-se a Ele o mais possível. Eis a razão por que é agradável a Deus um homem ponderado, pois este lhe assemelha, ao passo que o irrefletido não se parece com Ele,incorre na sua inimizade e termina na improbidade; e em tudo acontece o mesmo”.Preponderava na época de Platão a teoria sofista, que pretendia fazer do homem a medida de todas as coisas. De qualquer forma , se refletirmos que tal definição foi emitida quase cinco séculos antes de Cristo, não lhe parecem admiráveis as palavras do discípulo preferido de Sócrates?

R – As expressões do grande filósofo são indiscutivelmente admiráveis e, a nosso ver, preparavam os ouvidos humanos para entenderem a afirmativa do Cristo: “Sede perfeitos, tanto quanto perfeito é o vosso Pai Celestial”.

P – Concorda com o pensamento de que a pessoa descrente de Deus, mesmo que tal não seja só por mera revolta, no fundo o que deseja é não acreditar no Espírito imortal e nas implicações morais e de comportamento que uma tal crença na Suprema Divindade trariam para a pessoa?

R – Estamos na convicção de que assim é, Freqüentemente observamos que a pessoa culta, quando não admite a sobrevivência do Espírito além da morte, não raro também se declara descrente da existência de Deus, muitas vezes criando teorias que lhe justifiquem o ateísmo, unicamente para não aceitar as responsabilidades que a certeza da existência de Deus e da imortalidade da alma implicam, nela mesma.

P – O pensador Holbach, um dos pilares do materialismo dialético, fez certa vez a seguinte afirmação: “À luz de um exame o nome de Deus sobre a Terra se anises apenas como pretexto das paixões humanas. Quando o homem adora Deus, adora a si mesmo”. Chegados ao mundo espiritual, o que normalmente ocorre com os superdotados de inteligência e que utilizaram esse dom para negar e confundir os caminhos que levam o homem a Deus?

R – Sabemos que no Plano Espiritual, os que se utilizaram na Terra do nome de Deus pira extravasarem as paixões próprias, mais enquistados se tornam nessa atitude infeliz, adorando a si mesmos e tiranizando as criaturas culpadas em nome do Criador. Isso ocorre com as inteligências que desertaram do bem – que é o Bem de todos – de vez que os Espíritos, encarnados ou desencarnados, que amam a Deus, procuram revelar esse amor junto aos semelhantes, neles encontrando os seus próprios irmãos e, igualmente, filhos de Deus.

P – Como se explica que homens do porte intelectual de Charles Darwin e Sigmund Freud se tenham autoproclamado ateus?

R – Temos a impressão de que cientistas do porte de Darwin e Freud, se afirmando ateus estariam intimamente procurando a tranqüilidade da fé religiosa, na torturante indagação que lhes assinalava a mente insatisfeita. Na imensidade das perquirições mentais em que viviam, a solução do problemas de vida interior em que se fixavam seria muito difícil, no curto espaço de tempo em que perdura uma só das múltiplas existências humanas.

P – Perplexo, bradava Jó em seu infortúnio (9, 32, ss.) : “Deus não é um homem semelhante a mim, a quem eu possa retrucar e que possa entrar em juízo comigo. Não existe entre nós juiz intermediário que possa sobre nós estender sua mão. Assim mesmo me dirijo ao Onipotente; desejo unicamente raciocinar com Ele. Oh! Todos os que me cercais, conservai-vos em silêncio, para que eu possa contar o que me está acontecendo! Por que estou dilacerando minhas carnes com meus dentes e trago minha alma entre as mãos? Ainda que Ele me mate. confiarei nEle. Porém, com os olhos fitos nEle lhe direi o que tenho a dizer e Ele será meu Salvador! Que Ele me julgue! Sou inocente! Reclamo um árbitro! Silenciar equivale para mim a morrer. Não me queirais amedrontar! Ponhamos as cartas na mesa para então conversarmos um com o outro! Por que Te escondes? O que Te diz que sou Teu inimigo?”. (Já, Cap. 13.) Na atualidade muitas criaturas parecem repetir o monólogo do atormentado patriarca do Velho Testamento quando, ao se verem fustigadas pelos rigores da adversidade, oscilam radicalmente entre a desesperança e a fé, entre a dor e a certeza de se saberem filhos de Deus. Que dizer dessa repetência das preplexidades de Jó?

R – cremos que se o ferro, conduzido ao clima de alta temperatura para converter-se em aço, pudesse falar ao homem que o retempera e aperfeiçoa,repetiria as alegações de Jó, clamando diante daquele que o eleva de condição e o habilita para mais nobre destino nas áreas da utilidade.

P- Tal com aconteceu a Jó assim acontece a muitas criaturas que só vão encontrar o amor e a misericórdia de Deus dentro do próprio infortúnio. Não será por isso que se diz ser o ateísmo a ante-sala da fé?

R – Os Benfeitores Espirituais asseveram comumente que “a miséria humana é um dos grandes caminhos para o encontro da criatura com a Misericórdia Divina”.

P – O filósofo Spinoza afirmou o seguinte: “Um homem livre pensa em último lugar na morte; e sua sabedoria é uma meditação não sobre a morte mas sobre a vida”. Em termos espirituais, é certa tal acepção?

R – O filósofo apresenta o enunciado com claras razões, a nosso ver, porquanto o homem que se livrou das amarras da ignorância, refletindo na morte, está meditando na vida, compreendendo, perante a imortalidade, que a morte do corpo físico significa renascimento da vida em outras dimensões vibratórias.

P – Que dizer daqueles que, mais desapegados da vida, amam a morte na certeza de que ela é libertação para o Espírito?

R – Será justo esclarecer aos que amam a morte, na certeza de que ela expressa libertação, que essa libertação unicamente traduz tranqüilidade e renovação, alegria e progresso quando a criatura humana, dentro de si própria, já se libertou de hábitos e paixões nitidamente inferiores.

P – Um dos pioneiros dos transplantes cardíacos fez esta afirmação ao referir-se à prática da eutanásia: “Não tenho dúvidas em receitar doses excessivas de morfina para pacientes à beira da morte, quando a anestesia já não consegue exterminar a dor. Sou a favor da eutanásia passiva, ou seja, da não realização de tratamento que simplesmente adiaria a morte, como também sou favorável, em certos casos, à eutanásia ativa, ou seja, a que ajuda o paciente a morrer a morrer. São os vivos que temem a morte, não os moribundos”. Deparamos-nos, aqui, pois, com o delicado tema da eutanásia médica. Essa prática é moralmente correta aos olhos de Deus?

R – A eutanásia, observada do Plano Espiritual para o Plano Físico, constitui sempre descaridade e imprudência praticadas pelo homem para com os seus semelhantes. Até nos instantes últimos do veículo físico, o espírito encarnado ainda é suscetível de colher valiosas lições e conquistar recursos de importância inavaliável para os entes que ficam, recursos esses que lhe serão de alto proveito logo após a desencarnação.

P – Diz o atormentado Shakespeare através dos lábios atormentados de seu genial personagem Hamlet: “Dialogai com a vida deste jeito: és simplesmente joguete da morte, pois só cuidas de evitá-la e não fazes outra coisa senão correr para ela’.” Embora desde o início da era humana o homem tenha sido confundido acerca do fenômeno da morte, a doutrina reencarnacionista veio mostrar-nos que morte física e renascimento são etapas complementares da existência do espírito imortal. Dentro desse prisma parece-nos que o célebre solilóquio hamleteano (SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO), não pode referir-se ao Espírito que, por ser imortal, é por isso mesmo indestrutível.

R – Para nós outros, os leitores do eminente escritor e dramaturgo, a afirmativa dele, “Ser ou não ser”, não se reporta ao Espírito que, por ser imortal, é imperecível. Entretanto, para ele próprio, ao que nos parece, ao gravar tais expressões, estaria Shakespeare procurando retratar a angústia da

maioria dos homens, diante das ocorrências da vida fatalmente encaminhadas para as transformações da morte. (EMMANUEL)

P – Uma última pergunta para o término deste capítulo: certa vez você disse que, se pudesse escolher, optaria por continuar médium após seu desencarne. Como se processa a mediunidade em sentido inverso, isto é, ser médium do lado de lá para os que ainda estão domiciliados na Terra?

R – “Caro Fernando,segundo minhas observações modestas, creio que o médium na Terra pode servir aos espíritos que se comunicam, cedendo-lhes, provisoriamente, o corpo físico em que se encontra, e pode igualmente prestar-lhes cooperação, depois da existência física cedendo-lhes, também provisoriamente o corpo de natureza espiritual em que se veja nas faixas de trabalho do Mais Além" (Chico Xavier).

P – Como vê ou espera ver a humanidade terrestre, digamos daqui a um milênio, no que se refere ao amor ao próximo, às guerras fratricidas, às doenças físicas, aos costumes sexuais, aos poderes da mente e do Espírito, à unificação das crenças e ao evoluir das religiões?

R – Com a cooperação do homem, a Divina Providência, no curso de um milênio, pode esculpir primores indefiníveis de paz e amor, progresso e união para a Humanidade. (Emmanuel)

Do livro “Janelas para a vida”. De Francisco Cândido Xavier e Fernando Worm