sexta-feira, 30 de abril de 2010

FIDELIDADE A DEUS

Depois das primeiras prédicas de Jesus, respeito aos trabalhos ingentes que a edificação do d Deus existia dos seus discípulos, esboçou-se na fraterna comunidade um leve movimento e incompreensão. Que? Pois a Boa-Nova reclamaria tamanhos sacrifícios? Então o Senhor, que sondava o íntimo de seus companheiros diletos, os reuniu, uma noite, quando a turba os deixara a sós e já algumas horas haviam passado sobre o por do sol.

Interrogando-os vivamente, provocou a manifestação dos seus pensamentos e dúvidas mais íntimas. Após escutar-lhes as confidencias simples e sinceras, o Mestre ponderou:

– Na causa de Deus, a fidelidade deve ser uma das primeiras virtudes. Onde o filho e o pai que não desejem estabelecer, como ideal de união, a confiança integral e recíproca? Nós não podemos duvidar da fidelidade do Nosso Pai para conosco. Sua dedicação nos cerca os espíritos, desde o primeiro dia. Ainda não o conhecíamos e já ele nos amava. E, acaso, poderemos desdenhar a possibilidade da retribuição? Não seria repudiarmos o título de filhos amorosos, o fato de nos deixarmos absorver no afastamento, favorecendo a negação?

Como os discípulos o escutassem atentos, bebendo-lhe os ensinos, o Mestre acrescentou:

– Tudo na vida tem o preço que lhe corresponde. Se vacilais receosos ante as bênçãos o sacrifício e as alegrias do trabalho, meditai nos tributos que a fidelidade ao mundo exige. O prazer não costuma cobrar do homem um imposto alto e doloroso? Quanto pagarão, em flagelações íntimas, o vaidoso e o avarento? Qual o prego que o mundo reclama ao gozador e ao mentiroso?

Ao clarão alvacento da Lua, como pai bondoso rodeado de seus filhinhos, Jesus “reconheceu que os discípulos, diante das suas cariciosas perguntas, haviam transformado a atitude mental, como que iluminadas por súbito clarão”.

Tìmidamente, Tiago, filho de Alceu, contou a história de um amigo que arruinara a saúde, por excessos nos prazeres condenáveis.

Tadeu falou de um conhecido que, depois de ganhar grande fortuna, se havia tornado avarento e mesquinho a ponto de privar-s do necessário, para multiplicar o número de suas moedas, acabando assassinado pelos ladrões.

Pedro recordou o caso de um pescador de sua intimidade, que sucumbira tràgicamente, por efeito de sua desmedida ambição.

Jesus, depois de ouvi-los, satisfeito, perguntou:

– Não achais enorme o tributo que o mundo exige dos que se apegam aos seus gozos e riquezas? Se o mundo pede tanto, porque não poderia Deus pedir-nos lealdade ao coração?

Trabalhamos agora pela instituição divina do seu reino na Terra; mas, desde quando estará o Pai trabalhando por nós? As interrogativas pairavam no espaço sem resposta dos discípulos, porque, acima de tudo, eles ouviam a que lhes dava o próprio coração. Do firmamento infinito os reflexos do luar se projetavam no lençol tranquilo do lago, dando a impressão de encantador caminho para o horizonte, aberto sobre as águas, por entre deslumbramentos de luz.

Enquanto os companheiros meditavam no que dissera Jesus, Tiago se lhe dirigiu, nestes termos:

– Mestre, tenho um amigo, de Corazin que vos ouviu a palavra santificante e desejava seguir-vos; porém, asseverou-me que o reino pregado pela vossa bondade está cheio de numerosos obstáculos, acrescentando que Deus deve mostrar-se a nós outros somente na Vitória e na ventura. Devo confessar que hesitei ante as suas observações, mas, agora, esclarecido pelos vossos ensinamentos, melhor vos compreendo e afirmo-vos que nunca esquecerei minha fidelidade ao reino!...

A voz do apóstolo, na sua confissão espontânea, se revelava tocada de entusiasmo doce e amigo e o Senhor, aproveitando a hora para a semeadura divina, exclamou bondoso:

– Tiago, nem todos podem compreender a verdade de uma só vez. Devemos considerar que o mundo está cheio de crentes que não entendem a proteção as céu, senão nos dias de tranquilidade e de triunfo. Nós, porém, que conhecemos a vontade suprema, temos que lhe seguir o roteiro. Não devemos pensar no Deus que concede, mas no Pai que educa; não no Deus que recompensa, sim no Pai que aperfeiçoa. Daí se segue que a nossa batalha pela redenção tem de ser perseverante e sem tréguas...

Nesse ínterim, todos os companheiros de apostolado, manifestando o interesse que os esclarecimentos da noite lhes causavam, se puseram a perguntar, com respeito e carinho.

– Mestre – exclamou um deles – não seria melhor fugirmos do mundo para, viver na incessante contemplação do reino?...

– Que diríamos do filho que se conservasse em perpétuo repouso, junto de seu pai que trabalha sem cessar, no labor da grande família? Respondeu Jesus.

– Mas, de que modo se há de viver como homem e como apóstolo do reino de Deus na face deste mundo”. – inquiriu Tadeu.

– Em verdade – esclareceu o Messias – ninguém pode servir, simultaneamente, a dois senhores. Fora absurdo viver ao mesmo tempo para os prazeres condenáveis da Terra e para as virtudes sublimes do céu. O discípulo da Boa-Nova tem de servir a Deus, servindo à sua obra neste mundo. Ele sabe que se acha a laborar com muito esforço num grande campo, propriedade de seu Pai, que o observa com carinho e atenta com amor nos seus trabalhos.

Imaginemos que esse campo estivesse cheio de inimigos: por toda parte, vermes asquerosos, víboras peçonhentas, tratos de terra improdutiva. É certo que as farsas destruidoras reclamarão a indiferença e a submissão do filho de Deus; mas, o filho de coração fiel a seu Pai se lança ao trabalho com perseverança e boa vontade. Entrará em luta silenciosa com o meio, sofrer-lhe-á os tormentos com heroísmo espiritual, por amor do reino que traz no coração, plantará uma flor onde haja um espinho, abrirá uma senda, embora estreita, onde estejam em confusão os parasitos da Terra, cavará pacientemente, buscando as entranhas do solo para que surja uma gota d’água onde queime um deserto. Do íntimo desse trabalhador brotará sempre um cântico de alegria, porque Deus o ama e segue com atenção.

– Qual a primeira qualidade a cultivar no coração – perguntou um dos filhos de Zebedeu – para que nos sintamos plenamente identificados com a grandeza espiritual da tarefa?

– Acima de todas as coisas – respondeu o Mestre – é preciso ser fiel a Deus.

A pequena assembleia parecia altamente enlevada e satisfeita; mas, André inquiriu:

– Mestre, estes últimos dias, tenho-me sentido doente e receio não poder trabalhar como os demais companheiros. Como poderei ser fiel a Deus, estando enfermo?

– Ouvi. – Replicou o Senhor com certa ênfase.

– Nos dias de calma, é fácil provar-se fidelidade e confiança. Não se prova, porém, dedicação, verdadeiramente, senão nas horas tormentosas, em que tudo parece contrariar e perecer. O enfermo tem consigo diversas possibilidades de trabalhar para Nosso Pai, com mais altas probabilidades de êxito no serviço'. Tateando ou rastejando, busquemos servir ao Pai que está nos céus, porque em suas mãos divinas vive o Universo inteiro!...

“André, se algum dia teus olhos se fecharem para a luz da Terra, serve a Deus com a tua palavra e com os ouvidos; se ficares mudo toma, assim mesmo, a charrua, valendo-te das tuas mãos. Ainda que ficasses privado dos olhos e da palavra, das mãos e dos pés, poderias servir a Deus com a paciência e a coragem, porque a virtude é o verbo dessa fidelidade que nos conduzirá ao amor dos amores!”

O grupo dos apóstolos calara-se, impressionado, ante aquelas recomendações. O luar esplendia sobre as águas silenciosas. O mais leve ruído não traía o silêncio augusto da hora.

André chorava de emoção, enquanto os outros observavam a figura do Cristo, iluminada pelos clarões da Lua, deixando entrever um amoroso sorriso. Então, todos, impulsionados por soberana força interior, disseram, quase a um só tempo:

– Senhor, seremos fiéis!...

***

Jesus continuou a sorrir, como quem sabia a intensidade da luta a ser travada e conhecia a fragilidade das promessas humanas. Entretanto, do coração dos apóstolos jamais se apagou a lembrança daquela noite luminosa de Cafarnaum, aureolada pelo sentimento divino.

Humilhados e perseguidos, crucificados na dor e esfolados vivos, souberam ser fiéis, através de todas as vicissitudes da Natureza, e, transformando suas angústias e seus trabalhos num cântico de glorificação, sob a eterna inspiração do Mestre renovaram a face do mundo.

Irmão X - Humberto de Campos
Do livro “Boa Nova”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

OLHEM PARA O VOSSO MUNDO

Homens, olhem para vosso mundo. O que estão fazendo deste planeta senão um celeiro de iniquidades onde a maldade, a dor e o sofrimento campeiam por todos os lados? Não percebeis que estais apenas erguendo muralhas ao teu derredor, onde vossos espíritos se agitarão em agonia no futuro?

Onde o amor a Deus?! Na moeda e nas riquezas que a exploração de seu nome pode proporcionar? Pobres criaturas que perambulam pelas avenidas da vida sem rumo certo, envolvidos pelas sombras da insensatez.

Vossas mentes se transtornaram pela luxúria, pelo prazer desvairado e alucinado, pelas facilidades e imediatismos que homens mundanos e espíritos inferiores nutriram em vossas almas.

A cada um segundo suas obras e eis que a miséria, a fome, o crime, vos assaltam os lares, construídos tantas vezes sob alicerces frágeis de ilusões e fantasias.

Julgais então que o que vês é tudo? Oh não, a colheita está apenas começando. Todo o mal que plantaste durante décadas está agora sendo colhido por vós mesmos. São os frutos apodrecidos da má semeadura.

Vossa juventude se perdeu, escravizou-se junto ás drogas, vossas crianças crescem desorientadas, carentes de exemplos edificantes. Vossos idosos jazem nas cátedras do esquecimento acreditando-se realmente inúteis para a sociedade devido aos vossos pensamentos hipnotizantes, mesquinhos e egoístas.

Até quando a venda cobrirá vossos olhos? Acreditais então que permanecendo com ela Deus vos julgará inocente e vos isentará das consequências de Ter permanecido tanto tempo na escuridão quando a luz do Evangelho te alcançava as vistas e convidava-te a viver sob as claridades do Teu amor? Não podeis mais fingir-vos crianças inocentes e ingênuas. Sereis inevitavelmente descobertos e desmacarados, acreditem nisso.

Ninguém está isento de sofrer pela própria rebeldia. Somente os mais incautos depositam confiança neste tipo de pensamento e mesmo para esses chegará o momento propício do despertar, através das sacudidas da dor. Invigilância é sinônimo de possíveis perdas e sofrimentos. Atentem mais do que nunca para a advertência do Cristo que lhes solicitou orar e vigiar para que não venham a sucumbir no minuto seguinte.

As vozes dos seres que atravessaram os portais da morte vêm falar-vos aos corações e previní-los.

Os campos estão repletos de ervas daninhas e a foice da justiça divina já está preparada para lança-las ao fogo.

Que vejam os que tiveram olhos de ver e ouçam os que tiverem ouvidos de ouvir.

Espírito Luís.

terça-feira, 27 de abril de 2010

DECÁLOGO DO JUIZ ESPÍRITA

Primeiro - Reconheça-se filho de Deus, a quem você deve amar com absoluta e irrestrita devoção, como ao seu verdadeiro Pai e a quem deve prestar obediência através do cumprimento de sua Lei de Amor Universal;

Segundo - Veja em cada ser humano um irmão, filho do mesmo Pai, e em cada ser do mundo animal ou vegetal uma criatura em evolução para os reinos superiores, a quem você deve proteger e amar na qualidade de irmão mais velho e esclarecido, trabalhando pelo progresso tanto das demais pessoas em particular como da coletividade em geral, bem como dos seres inferiores em particular e da Ecologia em geral;

Terceiro - Lembre-se sempre de que você é um espírito encarnado em evolução, que foi criado como todos os demais, numa forma inferior aos vírus e bactérias e que se destina a um futuro glorioso de evolução infinita, tanto quanto todas as demais criaturas seguem no mesmo rumo, sem nenhum privilégio para quem quer que seja frente à Lei do Pai;

Quarto - Tenha em mente que a reencarnação é sempre uma oportunidade para a realização do progresso moral, espiritual e intelectual, com o desenvolvimento das duas simbólicas asas espirituais do Amor e da Sabedoria, não podendo ser encarada como mero estágio turístico no mundo material ou motivo para a busca inconseqüente de posições de destaque;

Quinto - Saiba que você recebe ajuda espiritual, normalmente de forma imperceptível para você, através de sugestões benévolas de pessoas muitas vezes sem cultura jurídica, através das intuições que você faça por merecer nas suas reflexões bem intencionadas, também durante o sono físico ou por outras formas que seus amigos espirituais conseguirem alcançar sua sensibilidade, razão pela qual você deve levar uma vida de estudo tanto de matérias jurídicas quanto religiosas e filosóficas, trabalho sério e boa conduta pública e privada para facilitar o recebimento da ajuda desses benfeitores invisíveis;

Sexto - Veja sempre nos processos sob sua análise a dificuldade de irmãos em humanidade que você pode ajudar a se tranqüilizarem através das soluções jurídicas ou, pelo menos, servir de rumo para que eles se adaptem às normas de respeito ao direito dos outros, mas procure sempre conciliar os desavindos e nunca incentivar desavenças ou utilizar a Justiça para humilhar mesmo aqueles que mereçam a reprimenda legal;

Sétimo - Saiba que muitas vezes seus auxiliares e demais pessoas da sua convivência profissional são antigos companheiros de injustiças praticadas em outras épocas ou vítimas suas de outros tempos, que retornam para reviver o aprendizado, competindo a você ajudá-los de fato e efetivamente para que se graduem intelectual e moralmente, principalmente utilizando os argumentos irrespondíveis da bondade espontânea e da simpatia;

Oitavo - Tenha na esposa e nos filhos o esteio imprescindível para seu equilíbrio emocional, a fim de que, ao chegar ao ambiente de trabalho, você esteja feliz depois de receber o beijo carinhoso da companheira e o abraço apertado dos seus rebentos amados e assim encare a jornada diária como uma tarefa agradável de fraternidade e oportunidade de realizar boas obras;

Nono - Nos momentos difíceis socorra-se dos conselhos dos verdadeiros amigos e da família, mas procure sobretudo a segurança em Deus, através da oração confiante e das boas realizações cotidianas, que são a oração mais valiosa, para livrar-se de armadilhas dos mal-intencionados encarnados e desencarnados, que surgem muitas vezes com a aparência sedutora das facilidades e sucessos enganosos;

Décimo - Em resumo, saiba que você não é um missionário (pois poucos o são), mas um espírito em situação de prova, que sua permanência na cadeira de julgador é temporária e que, se você cumprir sua função sempre com amor às pessoas que passarão pelas suas vistas, sua vida será muito feliz, apesar das dificuldades que naturalmente surgem para todos, e você conquistará a vitória maior, que é a paz da consciência, porta por onde Deus abraça cada um de Seus filhos mais graduados perante Sua Justiça invisível, que não erra uma vez que seja e recompensa em décuplo cada um que merece.

sábado, 24 de abril de 2010

VINTE E SEIS MANEIRAS DE IDENTIFICAR SEUMA MENSAGEM PROVÉM DE UM BOM ESPÍRITO

Seja você espírita ou não, provavelmente, já se viu em determinada situação em que alguém lhe transmitiu alguma "mensagem", recebida por algum médium, adivinho ou "sensitivo", tendo você como especial destinatário.
É muito provável, também, você conhecer pessoas que andam consultando e recebendo instruções de espíritos por aí, na intenção de obter soluções rápidas para seus problemas ou aflições. Há também o caso daquele seu vizinho que "recebe" tal e qual entidade e "trabalha" em casa mesmo.
Pois bem, você deve ter ficado em dúvida, sem saber discernir o conteúdo dessas mensagens. Teria sido proveniente de um espírito mesmo? Ou então, no mínimo, teria esse espírito uma índole moral superior capaz de merecer a sua confiança?
Levando ainda essa questão para o campo estritamente psíquico, da influenciação espiritual, a que todos estamos sujeitos e que ocorre inconscientemente, na rotina de nossas vidas, podemos observar a natureza de nossas próprias cogitações mentais. O que estamos cogitando? Seja o que for, será algo digno de alguém preocupado com a auto-educação espiritual?
Respostas para dúvidas mediúnicas estão na obra de Allan Kardec
O codificador do espiritismo, Allan Kardec, em sua obra O Livro dos Médiuns, deixou tudo isso muito bem claro e, para os estudiosos da doutrina, o que falamos aqui não é nenhuma novidade. Mas, para quem está chegando agora e para os que se interessam em recapitular o aprendido, aqui vão 26 maneiras de identificar se uma comunicação é proveniente de um espírito superior ou não:

1.- Não há outro critério para discernir o valor dos espíritos senão o bom-senso.

2.- Conhecemos os espíritos pela sua linguagem e pelos seus conselhos, ou seja, pelos sentimentos que inspiram e os conselhos que dão.

3.- Uma vez admitido que os bons espíritos não podem dizer e fazer senão o bem, tudo o que for mau não pode provir de um bom espírito.

4.- A linguagem dos espíritos superiores é sempre digna, nobre e elevada, sem mistura de trivialidades. Dizem tudo com simplicidade e modéstia, não se gabam jamais, não exibem seu saber nem a sua posição entre os outros.

A linguagem dos espíritos inferiores ou vulgares tem sempre algum reflexo das paixões humanas. Toda expressão que indique baixeza, presunção, arrogância, fanfarrice, acrimônia, é indício característico de inferioridade, ou de fraude se o espírito se apresenta sob um nome respeitável e venerado.

5.- Não é pela forma material e nem pela correção do estilo que se julga um espírito mas, sim, sondando-lhe o íntimo, esquadrinhando suas palavras, pesando-as friamente, maduramente e sem prevenção. Todo desvio de lógica, razão e de sabedoria, não pode deixar dúvida quanto à sua origem, qualquer que seja o nome com o qual se vista a entidade espiritual comunicante.

6.- A linguagem dos espíritos elevados é sempre idêntica, senão quanto à forma, pelo menos quanto ao fundo. Não são contraditórios.

7.- Os bons espíritos não dizem senão o que sabem, calam-se ou confessam sua ignorância sobre o que não sabem.

Os maus falam de tudo com segurança, sem se preocuparem com a verdade. Toda heresia científica notória, todo princípio que choque o bom-senso, mostra a fraude se o espírito se diz esclarecido.

8.- É fácil reconhecer os espíritos levianos pela facilidade com que predizem o futuro e precisam fatos materiais que não nos é dado conhecer. Os bons espíritos podem fazer pressentir as coisas futuras quando esse conhecimento for útil, mas não precisam jamais as datas: todo anúncio de acontecimento com época fixada é indício de uma mistificação.

9.- Os espíritos elevados se exprimem de maneira simples, sem prolixidade. Seu estilo é conciso, sem excluir a poesia de idéias, de expressões sempre inteligíveis e ao alcance de todos, sem exigir esforço para ser compreendido. Têm a arte de dizerem muitas coisas com poucas palavras, porque cada palavra tem sua importância.

Os espíritos inferiores, ou falsos sábios, escondem sob a presunção e ênfase o vazio dos pensamentos. Sua linguagem, freqüentemente, é pretensiosa, ridícula, ou obscura à força de querer parecer profunda. Mas não é.

10.- Os bons espíritos jamais ordenam: não se impõem, aconselham e, se não são escutados, se retiram. Os maus são imperiosos, dão ordens, querem ser obedecidos e permanecem mesmo assim. Todo espírito que se impõe, trai sua origem. São exclusivos e absolutos em suas opiniões, e pretender ter, só eles, o privilégio da verdade. Exigem uma crença cega e não apelam à razão, porque sabem que a razão os desmascariam.

11.- Os bons espíritos não lisonjeiam. Aprovam quando se faz o bem, mas sempre com reservas. Os maus dão elogios exagerados, estimulam o orgulho e a vaidade, pregando a humildade, e procuram exaltar a importância pessoal daqueles a quem desejam captar.

12.- Os espíritos superiores estão acima das puerilidades da forma e em todas as coisas. Só os espíritos vulgares podem dar importância a detalhes mesquinhos, incompatíveis com as idéias verdadeiramente elevadas. Toda prescrição meticulosa é um sinal certo de inferioridade e de fraude da parte de um espírito que toma um nome importante.

13.- Desconfie dos nomes bizarros e ridículos que tomam certos espíritos que querem se impor à credulidade. Seria soberanamente absurdo tomar esses nomes a sério.

14.- Desconfie também dos espíritos que se apresentam muito facilmente com nomes extremamente venerados e não aceite suas palavras senão com a maior reserva.

Neste caso é necessário um controle severo e indispensável, porque, freqüentemente, é uma máscara que tomam para fazer crer em pretendidas relações íntimas com os espíritos excepcionais. Por esse meio afagam a vaidade do médium e dela se aproveitam para induzi-lo, constantemente, a diligências lamentáveis ou ridículas.

15.- Os bons espíritos são muito escrupulosos sobre as atitudes que podem aconselhar. Em todos os casos, não aconselham jamais se não houver um objetivo sério eminentemente útil. Deve-se considerar como suspeitas todas as que não tiverem esse caráter, ou não estiverem de acordo com a razão. É ainda necessário refletir maduramente todo conselho recebido para não correr o risco de expor-se a mistificações desagradáveis.

16.- Os bons espíritos podem também serem reconhecidos pela sua prudente reserva sobre todas as coisas que podem comprometer. Repugna-lhes revelar o mal.

Os espíritos levianos ou malévolos se comprazem em faze-lo realçar. Enquanto que os bons procuram suavizar os erros e pregam a indulgência, os maus os exageram e sopram a cizânia por meio de insinuações pérfidas.

17.- Os bons espíritos prescrevem unicamente o bem. Toda máxima, todo conselho que não esteja estritamente conforme a pura caridade evangélica, não pode ser obra dos bons espíritos.

18.- Os bons espíritos não aconselham jamais senão coisas perfeitamente racionais.

Toda recomendação que se afaste da reta linha do bom-senso ou das leis imutáveis da natureza, acusa um espírito limitado e, por conseqüência, pouco digno de confiança.

19.- Os espíritos maus ou simplesmente imperfeitos se traem ainda por sinais materiais ante os quais a ninguém poderiam enganar. Sua ação sobre o médium é algumas vezes violenta, nele provocando movimentos bruscos e sacudidos, uma agitação febril e convulsiva, que se choca com a calma e a doçura dos bons espíritos.

20.- Os espíritos imperfeitos, freqüentemente, aproveitam os meios de comunicação de que dispõem para dar pérfidos conselhos. Excitam a desconfiança e animosidade contra aqueles que lhe são antipáticos, os que podem desmascarar suas imposturas são, sobretudo, o objeto de sua repreensão.

Os homens fracos são seu alvo para os induzir ao mal. Empregando, sucessivamente, os sofismas, os sarcasmos, as injúrias e até sinais materiais de seu poder oculto para melhor convencer, procuram desviá-los da senda da verdade.

21.- O espírito de homens que tiveram, na Terra, uma preocupação única, material ou moral, se não estão libertos da influência da matéria, estão ainda sob o império das idéias terrestres, e carregam consigo uma parte de preconceitos, de predileções e mesmo de manias que tinham neste mundo. O que é fácil de se reconhecer pela sua linguagem.

22.- Os conhecimentos com os quais certos espíritos se adornam, com uma espécie de ostentação, não são um sinal de sua superioridade. A inalterável pureza dos sentimentos morais é, a esse respeito, a verdadeira prova de sua superioridade moral.

23.- Não basta interrogar um espírito para conhecer a verdade. É preciso, antes de tudo, saber a quem se dirige, porque os espíritos inferiores, ignorantes eles mesmos, tratam com frivolidade as questões mais sérias.

Também não basta que um espírito tenha tido um grande nome na Terra, para ter, no mundo espírita, a soberana ciência. Só a virtude pode, em purificando-o, aproximá-lo de Deus e desenvolver seus conhecimentos.

24.- Da parte dos espíritos superiores, o gracejo, freqüentemente, é fino e picante, mas jamais é trivial. Entre os espíritos gracejadores que não são grosseiros, a sátira mordaz é sempre muito oportuna.

25.- Estudando-se com cuidado o caráter dos espíritos que se apresentam, sobretudo do ponto de vista moral, se reconhece sua natureza e o grau de confiança que se lhe pode conceder. O bom-senso não poderia enganar.

26.- Para julgar os espíritos, como para julgar os homens, é preciso saber primeiro julgar a si mesmo. Infelizmente, há muitas pessoas que tomam sua opinião pessoal por medida exclusiva do bom e do mau, do verdadeiro e do falso. Tudo o que contradiga sua maneira de ver, suas idéias, o sistema que conceberam ou adotaram, é mau aos seus olhos. A tais pessoas, evidentemente, falta a primeira qualidade para uma justa apreciação: a retidão do julgamento. Mas disso não suspeitam. É o defeito sobre o qual mais nos iludimos.

Acreditamos que tendo essas considerações em mente, fica bem mais fácil discernirmos a qualidade de nossos próprios pensamentos e também nos precavermos de tanta charlatanice que anda deturpando a essência esclarecedora do espiritismo por aí.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

TIRADENTES - ÚLTIMOS MOMENTOS


Em bazófias próprias de mentes perversas, diziam os soldados na rua que o Tiradentes deveria ser morto de forma mais meritória, atado a um cavalo e marretassem-lhe peito, pernas e pés, para que tivesse uma agonia lenta e dolorosa. Se algum passante se atrevia a repostar1, ia logo curtir a cadeia. Os lusos atrevidos tinham ainda medo daquele homem acabado fisicamente, o alferes Xavier!

No oratório da cadeia, panos pretos e cruz pendente do altar, só estavam naquele dia 20 de abril de 1792 o Tiradentes, uns guardas, e dois frades, que o tentavam consolar. A um dado momento, pensando na sua vida de sacrifício e luta, embora contente por só ele ser o condenado à pena máxima, ainda repostou ao padre, com mágoa e ironia simples:

- A corda sempre rebenta pelo lado mais fraco!

Como se enganava o alferes. Nenhum de nós poderia ser mais forte do que ele naquele instante!

De madrugada, às quatro horas, após uma noite sem dormir, em pensamentos cheios de oração e dor, chegou-se ao alferes o barbeiro. Vinha cumprir o de praxe: raspou-lhe os cabelos e a barba. Em seguida, um meirinho tirou-lhe as roupas e fê-lo vestir a serapilheira2 branca, a alva dos condenados, cujas mangas eram cosidas nas extremidades, com cordas que se amarravam em nó. Foi ouvido, então, em confissão, por Frei Raimundo Penaforte, que lhe fez uma missa e ministrou-lhe a extrema-unção.

A Tiradentes nada daquilo parecia real. Talvez que Deus o condenasse, porque os homens haviam atingido tal fim, porque ele se houvera como voluntário para cortar a cabeça ao governador! - pensava cansado. No entanto, sabia que a morte não era o fim de tudo! Lembrava-se da lenda maçônica segundo a qual o herói vira estrela no céu! Sorria tristemente. Repostava ao frade por monossílabos!

Já raiava o dia 21 de abril de 1792, um sábado de sol esplêndido, sendo Portugal regido por D. Maria I, o vice-rei Dom Luís de Castro, conde de Resende. Logo mais seria executada a sentença. Assistiriam a execução os mesmos “marotos”, palavra ofensiva que os lusos detestavam, e que havia custado ao Victoriano Veloso os açoites ao redor da forca e a caminho da cadeia, o Silvério, o Parada e Souza, o Manitti, o Basílio Brito Malheiros. Dos traidores só o Pamplona não foi contemplado pelos “serviços” prestados à sua Real Soberana!
Vários corpos de Infantaria, um de Artilharia e um Esquadrão de Cavalaria da Guarda dos vice-reis, com duas companhias, se apressavam para guarnecer as ruas e a execução. A serviço da segurança do vice-rei e sua magistratura três batalhões de granadeiros...

Pela manhã, logo cedo estavam todos com seus fardamentos de gala, os cavalos com fitas cor-de-rosa nas crinas e mais nas espingardas e baionetas dos soldados. Os arreios de prata dos maiorais haviam sido polidos e brilhavam ao sol. As ruas do Piolho, da Cadeia, da Barreira de Santo Antônio e do largo de Lampadosa, onde fora erguida a forca descomunal, cujas traves se encontram no Museu da Inconfidência, foram visitadas por soldados. Deveriam guarnecer as janelas de colchas adamascadas, festões, rendas, para enfeitar aquela demonstração de força. Para espanto dos promotores da execução o povo acorreu às ruas. Ia a dar espórtulas aos padres que a pediam, segundo o costume, para as missas ao condenado. Era uma última homenagem, covarde embora, daqueles por quem o Tiradentes se propusera a lutar! O coronel José da Silva Santos, comandante do Regimento da Artilharia do Rio de janeiro, teria que guarnecer a forca, junto com os regimentos de Bragança e Moura, primeiro e segundo batalhão dos granadeiros, sob o comando do coronel José Vitorino Coimbra. Ironia cruel! Estes homens eram companheiros nossos, e inspirados pelo Plano Espiritual, sob o cego olhar das autoridades presentes guarneceram a forca, formando-se num gigantesco e humano triângulo, o mesmo símbolo da bandeira Inconfidente!

Às nove horas da manhã abriu-se o portão da cadeia, e com os padres da Irmandade da Misericórdia, que iam a rezar a prece de S. Atanásio, apareceu diante dos primeiros assistentes Tiradentes, vestindo a alva, com as mãos amarradas por grossas cordas. Dirigiu-se a ele o Galé3 Jerônimo Capitania, escolhido para a execução da sentença! Pediu ao Tiradentes que o perdoasse pelo que ia fazer, que a isto era obrigado.
Era costume fazê-lo, como a se aliviar do que tinha que cumprir.

Tiradentes ajoelhou-se diante do negro e beijou-lhe as mãos, repostando:

- Assim também o Meu Senhor morreu por meus pecados!

Jerônimo jamais esqueceria enquanto vivesse aquele condenado, que o haveria de ajudar, desde então. Curvada a cabeça do alferes, passou-lhe o baraço4 ao pescoço, seguindo à frente a puxá-lo. Nas mãos, os padres lhe puseram um crucifixo de dois palmos, o qual Tiradentes passou a olhar, para não mais pensar em ninguém e pedindo ao Cristo o ajudasse no derradeiro instante.

As cornetas soaram e a Companhia da Cavalaria abriu o séquito fúnebre, seguida de três meirinhos, que iam badalando sinos e repetindo a sentença para ciência dos assistentes. Várias Irmandades seguiam o cortejo: a do Rosário, dos Terceiros de São Francisco, do Santíssimo Sacramento, da Sé dos Beneditinos e Carmelitas, que havia recolhido minha Dalva, das Almas do Purgatório. Atrás Silva Xavier, o Tiradentes, seguido pelos irmãos de Santo Antônio e Santa Casa de Misericórdia. A alçada régia estava representada pelo escrivão, ouvidores, juízes-de-fora.

No prédio que me acolhera, bem como nos demais, ouvimos o toque das cornetas e sabíamos o que representava.

O trajeto era longo para ser feito a pé por um condenado. Tiradentes era provado por última vez. E seguiu, tendo por duas vezes olhado os céus. Alguns curiosos tiveram pena. Mulheres choravam e afastavam-se do lugar.

Assim que foram chegando os padres, os meirinhos e todos perto da Igreja de Lampadosa, ouviram de dentro um coral de vozes. Era o conta do amigo do Tejuco, o Mesquita Lobo, cantado por um coral de mulatos, o Domenica Palmarum. Tiradentes entendeu a mensagem muda. Logo mais viria o seu sacrifício, como o de Jesus, pelos seus irmãos, só que, por diferente havia ele sonhado com um reino neste Brasil, provera Deus lhe reservasse um lugar no outro Reino. Olhou para dentro, parando por uns instantes. No altar viu acesas velas. Formavam um perfeito triângulo. Sinal que, se ele morreria breve, as idéias de liberdade permaneceriam. Atrás de uma coluna julgou ver uma mulher e uma criança. Talvez Eugênia. O sol forte o impedia de ver direito na Igreja escura. Melhor não fosse ela, pobre mulher - pensou.
Seguiu adiante. Ao seu lado, acompanhando-o no derradeiro momento as entidades amigas5 ministravam-lhe conforto. Uma paz estranha o envolvia a poucos metros da forca que avistou adiante. Um entorpecimento, e uma alegria nova no coração. Era nisto a morte? A liberdade?

Diante da escada parou um instante. Frei Penaforte ajudou-o a galgar os vinte e quatro degraus. Diante de si viu a multidão e os guardas em seus uniformes. Não! Não se enganava! Era novamente o triângulo6 que tinha diante de si. Olhou para as autoridades. Seu pensamento se elevou aos céus, enquanto se ouvia um discurso encomendado ao padre, para lição à multidão presente.

- Seja breve, padre - pediu Tiradentes, baixando a voz.

O padre parou um instante. Tiradentes pensou que já não lhe poderiam negar falasse àquele povo porque iria morrer por aquele modo por ele. Com um coragem, abriu a boca para falar-lhes. A um sinal, o carrasco puxou a corda, atando-a à trave. Não lhe permitiriam aquele último recurso!

Frei José Maria do Desterro começou sua fala, condenando aqueles que fugiam à desobediência dos reis e seus ministros! Aproveitou para falar da sentença aos outros condenados, com o que pudesse fazer saber a todos os que ainda não soubessem, devido a amizade que tinha a alguns acusados. Por três vezes Tiradentes lhe pediu que terminasse a prédica. O Sol estava a pino. Pediu água e lhe deram, mas como que se lembrasse de pedido semelhante a um outro condenado à morte, a quem pedia coragem e perdão para os algozes, mal a pôde beber. Frei José começou a orar o Credo dos apóstolos, lentamente. Para que também se pusesse, por fim, pronto para aquele instante Tiradentes repetiu alto, para que as pessoas próximas ouvissem, palavra por palavra. Todos estavam magnetizados por aquele homem magro e abatido, cujo olhar espelhava uma força e resignação divinas. Amparado por forças invisíveis ao populacho e à tropa, seu espírito, meio liberto do corpo, pairava acima do solo, ligado por tênues fios ao corpo maltratado, impulsionando a fala. Tirou-lhe o carrasco o crucifixo das mãos. Quando a oração terminasse, teria que cumprir a sentença. Para que a multidão não visse a fisionomia do réu e este a de todos, amarrou-lhe aos olhos uma tira de bretanha preta.

Tiradentes, com os olhos mortais velado, começou a ver o triângulo da guarda radioso em luz, como se um Sol o centrasse!

- Delírios de condenado? - pensou e clamou em espírito: Jesus! Jesus! Jesus!

Descendo os últimos degraus Pe. José terminava a prece encomendada: “Na vida eterna!” Como se obedecendo a senha, Jerônimo puxou violentamente a corda, suspendendo o alferes no ar. Estertores convulsos sacudiam o corpo. Eram onze horas e vinte minutos do dia 21 de abril de 1792. Pulando sobre os ombros do condenado, balouçado pelo ar, Jerônimo Capitania apressava a morte do Tiradentes.

Vendo o triângulo de gentes alegres a saudá-lo, sentiu o alferes uma dor funda no pescoço e a sufocação. Seu corpo estava levantado, suspenso, como que desmaiava, e, no entanto, ouvia um coral cantando, cantando o Te Deum. O centro solar do triângulo tomava vida: Era o Cristo a lhe estender os braços. Queria falar, correr ao seu encontro, mas não tinha forças. Amparavam-no de cada lado Felipe7 e o romano Lício. Então a morte era assim? E de onde partiam aqueles longínquos ruídos?

Ouvia o Tiradentes, bem abafado, no outro Plano da Vida, o rufar dos tambores que finalizava sua execução e abafava qualquer voz de horror que o povo pudesse erguer.

Também nós o ouvimos e, sabendo-lhe a causa, choramos amargamente.

( Espírito Tomás Antônio Gonzaga - Médium: Marilusa Moreira Vasconcellos - Obra: Confidências de um Inconfidente). EDITORA RADHU


Notas do compilador:
1 - repostar = retrucar;
2 - serapilheira = pano de estopa grosseira, destinado à embalagem de fardos e à limpeza - tecido grosseiro com que os camponeses fazem seus trajes de serviço;
3 - Galé = pessoa escravizada a trabalho penoso e duro;
4 - baraço = corda fina, cordel - laço de forca - corda com que se enforcavam os condenados;
5 - Entidades amigas = Tomás refere-se aos Espíritos encarregados de acompanhar o desencarne de Tiradentes;
6 - Triângulo = Desenho triangular no qual está inscrita a expressão "Libertas Quae Sera Tamen" (liberdade ainda que tarde, ou tardia), divisa da Inconfidência Mineira, hoje lema do Estado de Minas Gerais. É parte de um verso latino do gênio da literatura latina e ocidental Virgílio (Publius Virgilius Maro, poeta latino (70-19 a.C);
7 - Felipe = Trata-se do Espírito de Felipe dos Santos Freire, que havia sido o chefe da revolta de 1720, em Vila Rica (Ouro Preto) contra a lei que instituiu no Brasil as casas de fundição e lançava novos impostos sobre a mineração de ouro. Foi preso e executado no mesmo ano, na mesma cidade de Vila Rica.

terça-feira, 20 de abril de 2010

PARA UM AMIGO TRISTE


Você me diz que vive irritado e inseguro; triste e vazio. E no entanto é o tipo de homem "bem colocado" na vida, com excelente posição social e ótima situação financeira. É o tipo de homem "bem casado"; possui uma esposa que o ama e que é também muito amada por você. Com dois filhos que recebem todo o carinho de ambos.

"Vou a festas, passeios, programas de diversão e não me divirto; quando tudo é alegria em volta de mim, eu estou interiormente triste. Às vezes estou até exteriormente alegre, dando a impressão da participação. Mas, por dentro, tudo é angústia, tristeza, insegurança. Quanto maior a alegria circundante, maior a minha tristeza íntima. Se ao menos eu tivesse alguma razão aparente; se fosse necessitado de recursos, se não tivesse o apoio da mulher e dos filhos. No entanto tenho tudo isso."

Você me diz que não tem nenhuma preocupação de ordem religiosa. "Meus pais são religiosos, mas não vejo porque deva me submeter a uma série de proibições da religião deles. Isso só viria aumentar minhas aflições íntimas. Francamente, não sei porque deva cultivar alguma religião; não acho que Deus se preocuparia mais comigo se adotasse uma religião."

Meu caro amigo, você está precisando urgentemente de uma religião. Toda essa irritação, insegurança, tristeza e vazio denotam intimamente, você está à procura de alguma coisa que não sabe o que é. Se essa procura lhe causa tudo isso, é algo muito importante você está buscando. Não acho que, conscientemente, você conscientemente concorde comigo. O orgulho e o amor próprio o impedirão de concordar. Mas, creia, isso tudo é uma busca. Só que até agora você não se dispôs a sair de seu castelo para o encontro: você está em curto-circuito.

Eu o convido a pesquisar no campo religioso, em benefício próprio. Eu o convido a analisar os benefícios, em você mesmo, do estudo e da prática de uma religião racional e objetiva como o Espiritismo. Uma religião que não tem proibições; apenas esclarecimentos. Uma religião de respostas às recalcadas indagações de seu Espírito insatisfeito. Comece, meu amigo, a ler O Evangelho segundo o Espiritismo, um livro que reúne os ensinamentos de elevada moral e consolo de Jesus, comentados pelos Espíritos Superiores. Leia e analise. E julgue você mesmo.

Deus preocupa-se com todos os seus filhos. E todos nós somos seus filhos. Não é o fato de um homem professar esta ou aquela religião que terá maior ou menor preferência do Amor Divino. Importa que o homem seja fraterno, simples e caritativo. Estas são características que podem ser assumidas por qualquer pessoa, de qualquer religião, de qualquer condição social. Entretanto, importa ir ao encontro do Criador. abrir-se ao Seu amor. Se não alimentarmos nenhuma preocupação religiosa, estaremos fechados a Ele. Embora Ele continue nos amando e tentando nos ajudar da melhor forma possível.

Deus está a seu lado, meu amigo. Abra o seu coração a Ele e sinta a paz, a segurança e a alegria. Comece agora a tomar o remédio para o seu mal íntimo; busque uma religião que esclareça. Uma religião que o ajude a abrir-se melhor para Deus e a continuar a viver entre os homens. Uma religião que não quer o seu isolamento, mas a sua integração alegre e fraterna no seio da sociedade. Comece hoje a ler O Evangelho segundo o Espiritismo.

domingo, 18 de abril de 2010

O CONSOLADOR



EM 18 DE ABRIL É COMEMORADO O DIA DO LIVRO ESPÍRITA, DIA NACIONAL DO ESPIRITISMO E TAMBÉM COMEMORAMOS O ANIVERSÁRIO DA PUBLICAÇÃO DE “O LIVRO DOS ESPÍRITOS” OCORRIDO NO ANO DE 1857.

Seria grande erro supor que a Mensagem do Cristo de Deus terminara com sua passagem pela Terra.
O Mestre não se limitou a deixar à Humanidade seu Evangelho que ilumina os caminhos humanos.
Sabia Ele que as imperfeições e rebeldias dos homens não seriam removidas somente com seu serviço ativo e com a dedicação dos primeiros discípulos e seguidores, a trabalhar nos corações e nas mentes.
Ele mesmo declarou que não viera para ensinar tudo aos homens, que não possuíam ainda as condições necessárias ao entendimento de lições que transcendiam à compreensão de então.
O caminho que indicou foi o do amor, o do esforço individual, o do sacrifício em prol da elevação moral de cada um.
Ficaria para o futuro a complementação da Boa Nova.
São palavras do Mestre incomparável:
"Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas presentemente não as podeis suportar."
E acrescenta:
"Se me amais, guardai os meus mandamentos - e eu pedirei ao meu Pai e ele vos enviará outro Consolador a fim de que fique eternamente convosco: - o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê; vós, porém, o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós - mas o Consolador, que é o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e fará vos lembreis de tudo o que vos tenho dito."
(João, 14:15-17 e 26).

O que as palavras de Jesus, registradas pelo evangelista, deixam muito claro é que Ele não ensinara tudo a seus discípulos, pela simples razão de que não podiam, não tinham condições de compreender o que estivesse acima de sua capacidade de entendimento.
Torna-se evidente, na passagem evangélica, confirmada pelos fatos, que o Mestre não esgotou seus ensinamentos naquele pequeno período de vivência entre os homens.
Ao contrário, tornou claro que sua Mensagem se desdobraria em etapas: o Consolador prometido complementaria suas lições de há dois mil anos, e lembraria tudo o que fosse esquecido ou desvirtuado, restabelecendo as verdades ensinadas.
As religiões tradicionais que se baseiam nos Evangelhos, ao lado dos muitos desvios interpretativos, cometeram o grave erro de considerar os ensinamentos de Jesus como completos e definitivos, em contraposição às próprias palavras do Mestre.
Esqueceram do papel importantíssimo do Consolador, que viria futuramente, mas que dependeria dos desígnios do Alto, para complementar a grande Mensagem.
Com esse posicionamento as igrejas denominadas cristãs tornaram imutáveis e estratificadas suas Doutrinas. Decorridos os séculos, essas doutrinas foram se desvirtuando não só diante da verdadeira Mensagem Crística, mal interpretada em muitas de suas passagens, mas também perante os conhecimentos novos trazidos pelas Ciências. Apenas os ensinos morais do Cristo permaneceram incólumes.
A reconsideração da Igreja Romana quanto ao tristíssimo Tribunal do Santo Ofício, no tocante à Inquisição, nos episódios que envolveram muitos sábios e escritores como Galileu Galilei e Charles Darwin, Giordano Bruno e Dante, Descartes e Diderot, Erasmo e Fénelon, João Huss e Lutero, Montesquieu, Pascal, Rousseau, Voltaire e muitos outros são alguns dos muitos enganos em que incorreu a milenar instituição, que se tornaram insuportáveis por ela mesma.
Para os estudiosos e seguidores do Espiritismo não há dificuldade de compreensão da promessa do Cristo, já que os acontecimentos mostraram claramente que a Doutrina dos Espíritos é o próprio Consolador prometido.

Eis alguns sinais que confirmam não a presunção, mas a certeza da vinda do Consolador com a Terceira Revelação ("A Gênese" - A. Kardec - Cap. XVII):
- Desde a vinda do Cristo até meados do século XIX, nenhuma outra revelação significativa apareceu no mundo que tenha completado os Evangelhos e elucidado suas passagens obscuras.
- Com "O Livro dos Espíritos" (1857) e as demais obras da Codificação corporificou-se a Doutrina Espírita, a Terceira Revelação.
- A Nova Revelação, obra coletiva, caracterizando o "Espírito Santo" – os Espíritos do Senhor - tem à sua frente o Espírito de Verdade.
- Toda a Nova Revelação se ocupa do Evangelho de Jesus, interpretando-o em espírito e não somente na letra.
- Coisas novas são anunciadas pelos Espíritos reveladores, especialmente no que concerne à Vida Espiritual e ao Mundo Invisível.
- A Nova Revelação está destinada a ficar eternamente com os habitantes deste Planeta, o que corresponde à promessa do Cristo.
- A Doutrina dos Espíritos, além de toda a parte moral da Doutrina do Cristo, é profundamente consoladora, inspirada pelo Espírito de Verdade, representando o Cristo.
- O Espiritismo, doutrina não individual, mas extremamente abrangente, é o resultado do ensino coletivo de muitos Espíritos, orientados pelo Espírito de Verdade.
- O Espiritismo, o Consolador, teve precursores, preparadores de seu advento.

Pela sua força moralizadora já está preparando o advento da Era da Regeneração.
Quanto ao fenômeno do dia de Pentecostes, que muitos entendem como sendo a manifestação do Espírito Santo e a vinda do Consolador, pode-se entender que as aptidões mediúnicas de muitos dos discípulos foram desenvolvidas pelos Espíritos, auxiliando-lhes as futuras tarefas e missões.
Entretanto, o fenômeno nada acrescentou aos ensinos de Jesus, não trazendo conhecimentos novos e nem aclarando o que se achava obscuro.
Por isso, o Pentecostes não se pode confundir com o Consolador, cujas características o Mestre enunciou com precisão, e só se corporificaria com um mínimo de progresso geral do mundo, com o avanço espetacular das ciências; a partir dos últimos séculos, e com o triunfo da liberdade, contra as imposições dogmáticas dos poderes absolutistas dos governos e das religiões.
De outro lado, afirmando aos apóstolos que o Consolador vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito, Jesus proclama a doutrina da reencarnação, já que aqueles a quem se dirigia só poderiam aproveitar dos novos ensinos no futuro indefinido, naturalmente em outras vidas.
E a doutrina da reencarnação, tal como a apresenta a Doutrina Espírita, de suma importância para a compreensão das leis divinas do Amor e da Justiça, não poderia ser compreendida, em toda a sua abrangência, senão com o advento do Consolador prometido, que já está no mundo.
O caráter consolador da Doutrina dos Espíritos manifesta-se a todos os sofredores do mundo, mostrando-lhes a causa dos sofrimentos e dores, que reside na ignorância, na maldade e nos transvios dos próprios homens com relação às leis naturais, ou divinas.
A Doutrina mostra a justiça dos sofrimentos sem esquecer a consolação da busca da felicidade na vida presente ou futura.
Ela é inspiradora da fé viva e racional e da esperança, por pior que seja a situação individual. Afasta as dúvidas cruéis, decorrentes da descrença materialista e das crenças infundadas no inferno dos sofrimentos eternos.

Juvanir Borges de Souza
REFORMADOR, ABRIL, 1998

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O ALVO DA VIDA

Por esses dados, em torno de nós se estabelece a ordem; o nosso caminho se esclarece; mais distinto se mostra o alvo da vida. Sabemos o que somos e para onde vamos.

Desde então não devemos mais procurar satisfações materiais, porém trabalhar com ardor pelo nosso adiantamento. O supremo alvo é a perfeição; o caminho que para lá conduz é o progresso. Estrada longa que se percorre passo a passo. A proporção que se avança, parece que o alvo longínquo recua, mas, em cada passo que dá, o ser recolhe o fruto de seus trabalhos, enriquece a sua experiência e desenvolve as suas faculdades.

Nossos destinos são idênticos. Não há privilegiados nem deserdados.

Todos percorrem a mesma vasta carreira e, através de mil obstáculos, todos são chamados a realizar os mesmos fins. Somos livres, é verdade, livres para acelerar ou para afrouxar a nossa marcha, livres para mergulhar em gozos grosseiros, para nos retardarmos durante vidas inteiras nas regiões inferiores; mas, cedo ou tarde, acorda o sentimento do dever, vem a dor sacudir-nos a apatia, e, forçosamente, prosseguiremos a jornada.

Entre as almas só há diferenças de graus, diferenças que lhes é lícito transpor no futuro. Usando do livre-arbítrio, nem todos havemos caminhado com o mesmo passo, e isso explica a desigualdade intelectual e moral dos homens; mas todos, filhos do mesmo Pai, nos devemos aproximar d’Ele na sucessão das existências, para formar com os nossos semelhantes uma só família, a grande família dos bons Espíritos que povoam o Universo.

Estão banidas do mundo as Ideias de paraíso e de inferno eterno. Nesta imensa oficina, só vemos seres elevando-se por seus próprios esforços ao seio da harmonia universal. Cada qual conquista a sua situação pelos próprios atos, cujas consequências recaem sobre si mesmo, ligam-no e prendem. Quando a vida é entregue às paixões e fica estéril para o bem, o ser se abate; a sua situação se apouca. Para lavar manchas e vícios, deverá reencarnar nos mundos de provas e ali purificar-se pelo sofrimento. Cumprida a purificação, sua evolução recomeça. Não há provações eternas, mas sim reparações proporcionadas às faltas cometidas. Não temos outro juiz nem outro carrasco a não ser a nossa consciência, pois essa consciência, assim que se desprende das sombras materiais, torna-se um julgador terrível. Na ordem moral como na física só há efeitos e causas, que são regidos por uma lei soberana, imutável, Infalível. Esta lei regula todas as vidas. O que, em nossa ignorância, chamamos injustiça da sorte não é senão a reparação do passado. O destino humano é um pagamento do débito contraído entre nós mesmos e para com essa lei.

A vida atual é a consequência direta, inevitável das nossas vidas passadas, assim como a nossa vida futura será a resultante das nossas ações presentes, da nossa maneira de viver. Vindo animar um corpo novo, a alma traz consigo, em cada renascimento, a bagagem das suas qualidades e dos seus defeitos, todos os tesouros acumulados pela obra do passado. Assim, na série das vidas, construímos por nossas próprias mãos o nosso ser moral, edificamos o nosso futuro, preparamos o meio em que devemos renascer, o lugar que devemos ocupar.

Pela lei da reencarnação, a soberana justiça reina sobre os mundos. Cada ser, chegando a possuir-se em sua razão e em sua consciência, torna-se o artífice dos próprios destinos. Constrói ou desmancha, à vontade, as cadeias que o prendem à matéria. Os males, as situações dolorosas que certos homens sofrem, explicam-se pela ação desta lei. Toda vida culpada deve ser resgatada. Chegará a hora em que as almas orgulhosas renascerão em condições humildes e servis, em que o ocioso deve aceitar penosos labores.

Aquele que fez sofrer sofrerá a seu turno.

Porém, a alma não está para sempre ligada a esta Terra obscura. Depois de ter adquirido as qualidades necessárias, deixa-a e vai para mundos mais elevados. Percorre o campo dos espaços, semeado de esferas e de sóis. Ser-lhe-á arranjado um lugar no seio das humanidades que os povoam. E, progredindo ainda nesses novos meios, ela, sem cessar, aumentará a sua riqueza moral e o seu saber. Depois de um número incalculável de vidas, de mortes, de renascimentos, de quedas e de ascensões, liberta das reencarnações, gozará vida celeste, tomará parte no governo dos seres e das coisas, contribuindo com suas obras para a harmonia universal e para a execução do plano divino.

Tal é o mistério de psique — a alma humana —, mistério admirável entre todos. A alma traz gravada em si mesma a lei dos seus destinos. Aprender a soletrar os seus preceitos, aprender a decifrar esse enigma, eis a verdadeira ciência da vida. Cada farrapo arrancado ao céu da ignorância que a cobre, cada faísca que adquire do foco supremo, cada conquista sobre si mesma, sobre suas paixões, sobre seus instintos egoísticos permite-lhe uma alegria pura, uma satisfação íntima, tanto mais viva quanto maior for o trabalho executado.

Eis aí o céu prometido aos nossos esforços. O céu não está longe de nós, mas, sim, conosco. Felicidades íntimas ou remorsos pungentes, o homem traz, nas profundezas do ser, a própria grandeza ou a miséria consequente dos seus atos. As vozes harmoniosas ou severas que em si percebe são as intérpretes fiéis da grande lei, tanto mais potentes e imperiosas quanto mais elevado ele estiver na escala dos aperfeiçoamentos infinitos. A alma é um mundo em que se confundem ainda sombras e claridades, mundo cujo estudo atento faz-nos cair de surpresa em surpresa. Em seus recônditos todas as potências estão em germe, esperando a hora da fecundação para se desdobrarem em feixes de luz. À medida que ela se purifica, suas percepções aumentam. Tudo o que nos encanta em seu estado presente, os dons do talento, os fulgores do gênio, tudo isso nada é, comparado ao que um dia adquirirá, quando tiver atingido as supremas altitudes espirituais.

Já possui imensos recursos ocultos, sentidos íntimos, variados e sutis, fontes de vivas impressões, mas o pesado e grosseiro invólucro embaraça-lhe quase sempre o exercício.

Somente algumas almas eleitas, destacadas por antecipação das coisas terrestres, depuradas pelo sacrifício, sentem as primícias desse mundo; todavia, não encontram palavras para descrever as sensações que as enlevam, e os homens, em sua ignorância da verdadeira natureza da alma e das suas potências latentes, os homens têm escarnecido disso que julgam ilusões e quimeras.

Léon Denis
Livro: O Porquê da Vida

EXERCITAI O AMOR

“Que Jesus abençoe este momento em que o mundo invisível e visível se entrelaçam num esforço de esclarecimento a respeito dos propósitos da vida, concedida por Deus aos seus filhos para conhecimento da Verdade. O mundo terreno vive imerso em ilusões e fantasias, voltado quase que em sua totalidade para o materialismo, que se manifesta de modo disfarçado por toda parte. As inteligências superiores, responsáveis pela vida social do planeta, vem desde há muito tempo, apresentando os conceitos fundamentais que regem a vida do ser.

Esforços têm sido envidados, missionários encarnam-se na superfície terrena para ensinar, alertar, plantar a semente do Bem. Mas, como o grão plantado em terra inóspita, a verdade encontra imensa dificuldade para florescer na sua lídima expressão. Os corações humanos, limitados pelo estado evolutivo dos Espíritos viventes nesse plano, não conseguem alcançar a profundidade e todas as conseqüências das leis reveladas. Sabeis todos vós que os ensinos da Espiritualidade são gradualmente manifestos. Cada período da humanidade guarda condições para que novos pontos de vistas sejam apresentados.

Porém, o homem do mundo ainda tem imensas dificuldades para assimilar as leis de Deus e colocá-las na sua vida diária, constituindo-as como regras de comportamento. Não se pode afirmar que haja coisas erradas ou fora de lugar. O Criador, pai de justiça, perfeição e bondade, não iria permitir que a criação de um orbe destinado ao abrigo de seus filhos pudesse estar sujeito a enganos. O mundo move-se na história, guiado por leis eternas e imutáveis. A evolução dos habitantes terrenos e da ordem material do próprio orbe determinam as muitas fases a que a coletividade deverá passar, até que supere o estado de vida primária que caracteriza os mundos inferiores.

A dificuldade em se compreender a palavra de Deus vem da dureza dos corações, das limitações de entendimento daqueles que se encontram matriculados na abençoada escola terrena. Mas passo a passo, a semente da Boa Nova será disseminada entre grupos e indivíduos. A verdade vai se manifestando e se impondo aos homens que a conseguem vislumbrar. Poderíeis afirmar que ainda não se fez presente a ponto de modificar os rumos das pessoas em geral. No entanto, é preciso considerar que uma obra desse vulto, não envolve apenas o ato de se divulgar. Muitas outras forças e movimentos deverão ser implementados com a finalidade de conduzir a Terra para um estágio superior de vida e entendimento.

Aquele, porém, que compreender a essência dos ensinos, exercerão em tempo propício um papel de esclarecimento junto às pessoas e lugares onde estão encarnados. Nada poderá impedir a transformação que hora se opera. E se não podeis modificar o mundo de súbito, pelo menos vos dediqueis à modificação de vossas personalidades. Muito trabalho existe para se fazer nesse sentido. Amai-vos, eis o primeiro mandamento. Instrui-vos, eis o segundo. Assim o Espírito de Verdade se manifestou mostrando quais eram as providências primeiras.

O amor deve ser o elo de ligação entre os seres humanos. A instrução precisa, sem subterfúgios, deve ser instrumento de reeducação para que o amor não seja irracional e apenas de aparências. E não se pode instruir alguém, em sentido espiritual, se ele não o desejar, ou se preferir dar ouvidos às doutrinas do mundo. O Evangelho é vosso manual de orientação moral. Como se pode compreender, examinando suas páginas, trata-se de escolha onde se educa, onde se descobre as próprias imperfeições, onde se coloca peias nos baixos instintos. Pode parecer enfadonho às almas fracas, a meditação diante das preciosas parábolas e questões ali apresentadas. Mas vós, que ouvis a doce voz do Senhor, sabeis que o caminho da salvação e da felicidade eterna é apenas um. Seja no catolicismo, no protestantismo ou no Espiritismo, adentra o Reino de Deus apenas os que estudam e praticam a Lei apresentada por Jesus.

Espíritas! Não perdeis o vosso tempo envolvidos em histórias contadas por Espíritos pouco adiantados, cujos ensinos falam apenas ao coração, mas pouco ou quase nada à razão. O tempo flui com rapidez, nesse grave momento que envolve vossas existências. Podeis considerar que viveis num período de emergência. E, diante dessa situação, é urgente vosso cuidado em compreender e praticar os princípios fundamentais da lei de Deus: amar vosso próximo; fazer a ele o que desejaríeis para vós mesmos. Orai pelos vossos inimigos, procurando compreender suas infelizes atitudes. Estendei vossa mão ao carente, socorrendo-o, distribuindo amor em forma de bênção e realizações.

A voz do Espírito vos chama para que não vos deixeis iludir pelo mundo e suas perdições. Amai no sentido pleno da palavra, fazendo viver em vossa intimidade a chama viva d’Aquele que a tudo criou. Que permaneça sempre entre vós o entendimento da Doutrina Espírita e que ela seja utilizada como instrumento de crescimento para aqueles que tiverem contato com suas sublimes lições.” – Antônio de Larzim.

Espírito: Antônio de Larzim
Grupo Espírita Bezerra de Menezes

quarta-feira, 14 de abril de 2010

VONTADE

Dentre tantos atributos essenciais da alma humana tais como livre-arbítrio, consciência de si mesma, inteligência, racionalidade, percepções, a vontade é, inquestionavelmente, um dos principais.

O ser humano, embrutecido em suas origens, tem sido ajudado a caminhar na esteira do tempo por sua vontade. Das brumas do passado aos dias atuais aprendeu a discernir e poder alcançar o senso moral mas ainda hoje não conseguiu adaptar-se à observância das leis naturais. Caminha em largas passadas em inteligência porém arrasta-se lentamente em moralidade. Transgride reincidentemente as normas divinas, notadamente o postulado universal do amor ao próximo descerrado ao Mundo pelo Divino Mestre. O cediço hábito de ferir é ainda freqüente entre as pessoas.

Jesus desceu das luzes do infinito para viver entre os homens arrostando imperfeições, e aflições de toada ordem, sem jamais deixar de tolerar incompreensões, de socorrer, aliviar, curar e encaminhar as criaturas no meio das trevas mais densas do Planeta. Para implantar no solo da Terra a Sua Doutrina recomendou a seus discípulos: “Ide e pregai”.

Hoje, próxima do terceiro milênio da Era Cristã, a Humanidade necessita urgentemente assimilar as verdades da Doutrina Consoladora e Esclarecedora por Ele enviada para se libertar do erro, da ignorância, dos sofrimentos. Fincada definitivamente a bandeira do Espiritismo Cristão, incumbe a seus adeptos conscienciosos espalhar as luzes da sublime candeia da Nova Revelação sob o lema de Deus, Cristo e Caridade.

O Espiritismo é a senda da verdade, a luz que clareia a via do destino. As almas desviadas dos rumos do bem se entediarão de errar e sofrer e serão despertadas do longo letargo da ignorância e das maldades. Suas vontades as conduzirão aos pagos onde se edifica o bem. As que obram com Deus encontram o lenitivo para os sofrimentos, a medicação contra os males.

A sociedade humana exibe muitas chagas morais abomináveis: o egoísmo, a cobiça e ambição delirantes, as guerras, a violência de várias feições, o consumo e o mercado de drogas, vícios e desregramentos diversos, e tantas outras. A descrença em Deus, o desconhecimento de Suas leis fazem com que os portadores dessas nódoas ignorem que têm encontro marcado com a Soberana Justiça Divina.

Por outro lado, grande parte dos homens se esquece que pequena parcela do supérfluo do que possui é suficiente para minorar a fome, amparar crianças órfãs e desvalidas, idosos desprotegidos e vítimas dos infortúnios. A dureza dos corações é, muitas vezes, o carrasco do erro e da injustiça. Bastaria que se unissem as vontades de socorrer, não com simples esmolas, mas com a ajuda efetiva ou seja, o desejo de cumprir o dever de fraternidade. A certeza da vida futura e a consciência de que somos irmãos, filhos do Pai eterno, sustentam os esforços nesse sentido.

Nossas ações devem estar voltadas para o futuro. Não devemos perder de vista em nenhuma delas que as suas conseqüências são inexoráveis. Passado, presente e futuro são sempre solidários. O porvir mais próximo ou mais distante nos reserva o efeito das nossas práticas de hoje, isso rigorosamente em decorrência do bem ou do mal que delas resultem, tudo de conformidade com as leis da Divina Providência.

A descrença na vida futura é uma das principais causas do egoísmo, do orgulho e das vicissitudes deles decorrentes. Quando as pessoas somente praticarem o bem não haverá necessidade dos resgates dolorosos. Numa sociedade fraterna em que todos se ajudarem mutuamente, todos serão venturosos. Isso não é utopia. A razão pura nos informa que é perfeitamente realizável. Para tanto o imprescindível é a evolução, a educação em sentido amplo a nos conduzirem às verdades da existência de Deus, da imortalidade da alma, das vidas sucessivas, das leis naturais.

Pelo progresso já feito verifica-se, sem dificuldade, que a evolução não tem termo. Fácil é, pois, entender que há mundos ditosos onde impera a fraternidade e a prática do bem é usual, sendo os sofrimentos limitados à transformação natural da matéria, excluídos, portanto, os resultantes da prática do mal.

Desde que se alcance a consciência da verdade, o desejo de progredir é a poderosa alavanca da evolução e quanto mais se oferece à vida mais ela devolve.

A expressão da vontade varia de um para outro indivíduo. Sendo manifestação da alma revela-se de acordo com o seu grau de adiantamento. Na erraticidade pode não ser a mesma a vontade do Espírito quando encarnado, podendo, também, ser superior às suas forças.

A vontade dos maus está costumeiramente voltada para a inveja, a cobiça, a vaidade, para as más tendências, valendo notar, contudo, que não há seres votados permanentemente ao mal, como entendem algumas crenças, o que atentaria contra a Justiça e a Sabedoria das leis naturais.

Submeter-se à vontade de Deus é o meio seguro de incrementar o progresso, vencer as provas e expiações. Devemos, pois, nos esforçar para aproximar da d’Ele a nossa vontade, já que essa comunhão de propósitos somente nos fará ditosos.

A Doutrina Espírita ensina também que a vontade do Espírito se modifica à medida que ele evolui, podendo apressar ou retardar o próprio progresso.

Bem ou mal dirigida, a vontade gera alegrias ou arrependimentos. Incumbe a cada criatura, portanto, esforçar-se para se aproximar das virtudes, absorvê-las e cultivá-las a fim de sentir a abençoada presença divina em sua vida. O amor, sumário de todas elas, é o agente e o poder capazes de construir e sustentar a vida, de fecundar e fertilizar a alma.

Muitas vezes as pessoas perdem o ânimo de viver por motivos e razões variados. Chegam mesmo a atentar contra a própria vida. Isso constitui afronta gravíssima às leis de Deus a proporcionar padecimentos futuros angustiosos.

Por outro lado, imenso contingente humano tem pavor da morte, quase sempre devido à descrença na vida futura. Santo Agostinho nos lembra que morremos todos os dias. A morte é, na realidade, a passagem para uma vida melhor sob o ponto de vista de que nos livra dos males da matéria. Contudo, não nos livra dos sofrimentos. Para o homem de bem a morte é ensejo de júbilo que o corpo físico não pode proporcionar. A morte é para os bons o encontro da paz enquanto que para os que se desviam do caminho do bem significa a entrada para o suplício.

As pessoas marginalizadas da sociedade, crianças, adolescentes e adultas, que vagueiam pelas vias públicas em grande número, espalhadas pelos recantos da imensa Nação Brasileira, compõem um quadro de penúria. Muitas, estiradas no chão da Pátria, sem teto e sem alimento, em situação degradante, inferior mesmo à dos animais irracionais. Estômagos vazios ulcerados pela carência de alimentação, pulmões minados pela fome, o corpo exibindo chagas. Já não se trata de pobreza aquela que acompanha o homem há milênios, mas de absoluta miséria. Todas as vistas devem voltar-se para essa realidade aviltante. Há necessidade urgente e imperiosa de enfrentar essa questão, fazer cessar a indiferença, pôr cobro em tal situação ou pelo menos minorar tal degradação.

Criam-se programas e impostos, destacam-se verbas para outras destinações, mas esse problema não tem sido solucionado nem mesmo considerado, não faz parte do sentimento das criaturas, não há vontade de resolvê-lo. Não se trata de retirar das ruas desocupados e mendigos para que não criem embaraços à vida e aos olhos dos transeuntes. Trata-se de encarar um realidade que atenta contra a dignidade da pessoa humana. É tema que diz respeito a todos, governantes e governados, religiosos ou não. A comunidade inteira tem obrigação irrecusável de dar solução a essa questão, venham de que fonte for os recursos necessários.

Queiram ou não os orgulhosos e os insensíveis, essas criaturas em infamante miséria são nossas irmãs e como tais devem ser consideradas e tratadas. Que se tribute com eqüidade a coletividade, até mesmo os próprios beneficiados, mas que encontre termo esse panorama desolador que envilece qualquer civilização.

Nem só de pão vive o homem. Entretanto, não se pode nem pensar em fazer discurso ou pregação de qualquer natureza ou procedência para os que têm permanentemente o estômago vazio e o corpo dilacerado pelos pedrouços da vida. É inelutável a necessidade de combate às causas profundas que dão origem a esses quadros tristes. Mas não há como esperar os resultados de outras medidas que possam ter repercussão sobre esses casos. O socorro e o amparo a essas criaturas devem ser urgentes. Quem não prestar colaboração nesse sentido está cometendo infração moral contra a Humanidade.

Neste momento não devemos levar em consideração se merecem ou não ser socorridas todas essas criaturas. Embora saibamos da existência das que preferem morrer na indigência a trabalhar, jamais devemos esquecer que também essas devem ser socorridas, eis que são portadoras de enfermidades da alma e que, por sua vez, serão um dia curadas. A distribuição da infalível justiça cabe às leis de Deus. A nós, filhos do Senhor da Vida, segundo as mesmas leis, incumbe a prática da caridade.

Reformador Jan/99

terça-feira, 13 de abril de 2010

DOIS RICOS DESENCARNADOS DISPUTAM A POSSE DE RIQUEZA


“A influência das pessoas presentes, contribui com alguma coisa?
R. Quando há incredulidade, oposição, podem nos incomodar muito; gostamos bem mais de fazer nossas provas com os crentes e pessoas versadas no Espiritismo; mas não quero dizer que a má vontade poderia nos paralisar completamente.”
Allan Kardec, O livro dos médiuns, Cap. V – q. 99;4

Curioso caso ocorreu em determinada noite quando, contrariando os procedimentos habituais da equipe de médiuns, logo que um Espírito se manifestou com queixas e reclamações através de um dos médiuns, outro “incorporou” em outro membro da equipe e passaram a se falar, trocando acusações.

Apesar do inusitado, tal coisa acontecia, sem nenhuma dúvida, com o consentimento e supervisão dos orientadores espirituais da equipe. Todos se postaram de acordo com o que exigia a situação, deixando ao dirigente encarnado a incumbência de intermediar o litígio, cuja origem era uma caixa que supostamente continha valores e que cada um dos litigantes reclamava para si, acusando o outro de furto.

Deixou-se a conversa entre os dois prosseguir por alguns minutos, enquanto o dirigente tomava conhecimento dos detalhes através desse diálogo pouco amigável, ao mesmo tempo que lhe vinham à mente, por intuição dos mentores, as linhas gerais do caso.

Em momento oportuno o dirigente interveio e pediu silêncio aos dois, solicitando a ambos que respeitassem o local e as pessoas presentes, e que se explicassem com mais calma, após ouvi-lo. O orientador encarnado recebeu a intuição de “confiscar” provisoriamente a caixa e informar aos dois tal procedimento, até que se apurasse a quem de fato aqueles valores pertenciam.

Os dois envolvidos concordaram com o suposto confisco, e consentiram em refletir sobre a própria situação. Foi-lhes recomendado olhar em volta, com atenção, ouvir o que se dizia, procurar reconhecer o ambiente e, finalmente, a descrever o que percebiam.

Mencionaram que o ambiente embaçado se iluminava um pouco mais. Pediu-se a eles que prestassem mais atenção por que logo pessoas amigas se aproximariam para falar-lhes.

Aos poucos foram percebendo sua condição de desencarnados e vendo, cada vez mais claramente, o ambiente em que estavam. Chegaram a comentar a presença de muita gente doente. Foram esclarecidos de que o local era uma espécie de pronto-socorro espiritual que atendia a eles naquele momento e também a outros que igualmente sofriam, mesmo que de outros males.

Finalmente, foi perguntado a eles se queriam a caixa de volta. Olharam para um ponto fora do alcance de nossos olhos, e perguntaram porque a caixa se transformara em algo como lama. Explicamos que se tratava de uma fixação mental que ambos alimentaram por longo tempo, em disputa por algo que ficara na Terra.

Um tanto constrangidos, agradeceram e despediram-se acompanhados de enfermeiros da Espiritualidade que os encaminhariam aos locais de recuperação e esclarecimento de que necessitavam.

Eis um ótimo exemplo do quanto podemos ser enganados pelos desejos e ambições que carregamos conosco pela vida afora. Um objeto, algo que prezamos muito enquanto estamos na Terra, uma jóia ou coisa assim, torna-se real e relativamente permanente na vida extra-física.

Daí a importância do desapego aos bens materiais, sejam objetos ou valores, mesmo pessoas, pois tudo que é material é também transitório, apesar de podermos criar na vida no Invisível praticamente tudo que prezamos, na condição de fixação mental.

Livro: Casos e Experiências com a Mediunidade Paulo R. Santos

segunda-feira, 12 de abril de 2010

DEVER E LIBERDADE


EM LEMBRANÇA AOS 83 ANOS DO DESENCARNE DE LÉON DENIS,
OCORRIDO EM 12 DE ABRIL DE 1927.

Quem é que, nas horas de silêncio e recolhimento, nunca interrogou à natureza e ao seu próprio coração, perguntandolhes o segredo das coisas, o porquê da vida, a razão de ser do universo? Onde está aquele que jamais procurou conhecer seu destino, levantar o véu da morte, saber se Deus é uma ficção ou uma realidade?

Não seria um ser humano, por mais descuidado que fosse, se não tivesse considerado, algumas vezes, esses tremendos problemas. A dificuldade de os resolver, a incoerência e a multiplicidade das teorias que têm sido feitas, as deploráveis conseqüências que decorrem da maior parte dos sistemas já divulgados, todo esse conjunto confuso, fatigando o espírito humano, os têm relegado à indiferença e ao ceticismo.

Portanto, o homem tem necessidade do saber, da luz que esclareça, da esperança que console, da certeza que o guie e sustente. Mas tem também os meios para conhecer, a possibilidade de ver a verdade se destacar das trevas e o inundar de sua benfazeja luz.

Para isso, deve se desligar dos sistemas preconcebidos, descer ao fundo de si mesmo, ouvir a voz interior que nos fala a todos, e que os sofismas não podem enganar: a voz da razão, a voz da consciência.

Assim tenho feito. Por muito tempo refleti, meditei sobre os problemas da vida e da morte e com perseverança sondei esses profundos abismos. Dirigi à Eterna Sabedoria um ardente apelo e Ela me respondeu, como sempre responde a todos.

Com o espírito animado do amor ao bem, provas evidentes e fatos da observação direta vieram confirmar as deduções do meu pensamento, oferecer às minhas convicções uma base sólida e inabalável. Após haver duvidado, acreditei, após haver negado, vi. E a paz, a confiança e a força moral desceram em mim. Esses são os bens que, na sinceridade de meu coração desejoso de ser útil aos meus semelhantes, venho oferecer àqueles que sofrem e se desesperam.

Jamais a necessidade de luz fez-se sentir de maneira mais imperiosa. Uma imensa transformação se opera no seio das sociedades. Após haver sido submetido, durante uma longa seqüência de séculos, aos princípios da autoridade, o homem aspira cada vez mais a libertar-se de todo entrave e a dirigir a si próprio. Ao mesmo tempo em que as instituições políticas e sociais se modificam, as crenças religiosas e a fé nos dogmas se tornam enfraquecidas. É ainda uma das conseqüências da liberdade em sua aplicação às coisas do pensamento e da consciência. A liberdade, em todos os domínios, tende a substituir a coação e o autoritarismo e a guiar as nações para horizontes novos. O direito de alguns torna-se o direito de todos; mas, para que esse direito soberano esteja conforme com a justiça e traga seus frutos, é preciso que o conhecimento das leis morais venha regulamentar seu exercício. Para que a liberdade seja fecunda, para que ofereça às ações humanas uma base certa e durável, deve ser complementada pela luz, pela sabedoria e pela verdade. A liberdade, para os homens ignorantes e viciosos, não seria como uma arma possante nas mãos da criança? A arma, nesse caso, freqüentemente se volta contra aquele que a porta e o fere.
 
Léon Denis
O PORQUÊ DA VIDA

domingo, 11 de abril de 2010

BONDADE E RENÚNCIA

EM LEMBRANÇA AOS 110 ANOS DO DESENCARNE DE ADOLFO BEZERRA DE MENEZES CAVALCANTI, OCORRIDA EM 11 DE ABRIL DE 1900, ÀS 11h30min.


A companheira do abnegado médico já havia combinado com o amigo Cordeiro para cobrar aos que pudessem pagar à razão de cinco mil réis por consulente. O dinheiro não passaria pelas mãos de Bezerra e deveria ser encaminhado a D. Cândida. Bezerra sabia disto e concordou desde que recebesse apenas dos que estivessem em condições de pagar...

Certa vez, penetra no seu consultório da Farmácia Cordeiro uma pobre mulher com uma criança ao colo. Sentou-se e apresentou-lhe o filhinho para exame.

O aspecto da pobre mulher como o da criança traduzia miséria e fome.

Bezerra atendeu à criança. Sentiu-lhe o físico em mísero estado. E receitou, aconselhando à mão sofredora:

- Minha filha, dê a seu filho estes remédios de hora em hora. São remédios homeopáticos e, se desejar, pode comprá-los aqui mesmo...

- Comprá-los, doutor, com quê, se não tenho comigo nenhum níquel! Se eu e meu filho estamos até agora em jejum...

O bondoso médico olhou para a mãe sofredora. Seus olhos mansos e verdes, refletindo compaixão, encheram-se de pranto.

Ambos choravam!

O ambiente deveria ser tocante e vestido de luz e amor!

Abraçando-a, disse-lhe Bezerra: Não se apoquente, minha filha, vou ajudá-la. Confiemos no amor da Virgem, que vela por todos nós.

Procurou nos bolsos das calças e do paletó algum dinheiro e nada encontrou.

Pôs-se a pensar, olhando para cima, como se fizesse uma Prece muda e sentida.

De repente, fazendo-a sentar-se, sai e procura seu amigo Cordeiro, também manso e bom.

- Cordeiro, prometi-lhe não mexer no dinheiro das consultas, a fim de que você o encaminhe diretamente à minha esposa. Mas o caso de hoje é doloroso... Já rendeu alguma coisa?

- Nada, porque os doentes, até agora, são pobres e como sua ordem é para receber apenas dos que podem pagar...

- E o resultado de ontem, já o entregou?

- Não, está ainda comigo.

- Dê-me, então, este dinheiro e esperemos na proteção da Virgem, que há de nos mandar algum, mais tarde.

Cordeiro lhe atendeu. Bezerra penetra o consultório.

E, dirigindo-se à infeliz irmã em provas:

- Tome, minha filha, este envelope. Com o dinheiro que está aí, compre remédios, também leite e alimentos para seu filho.

A pobre mãe, de olhos surpresos, lacrimosos, lábios trêmulos, tartamudeia e nada pode dizer para lhe agradecer. Chora...

E Bezerra, abraçando-a:

- Nada de lágrimas, vamos, vá na santa Paz de Deus e que a Virgem a proteja e o seu filhinho. Ele há de ficar bom...

Assim atendida, a sofredora mãe deixa o consultório.

E, quando volta, da porta, para agradecer, ouve apenas a voz mansa e boa de Bezerra:

- Entre aquele que estiver em primeiro lugar.

Lindos Casos de Bezerra de Menezes