quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

É NATAL - QUE OFERTAMOS AO ANIVERSARIANTE?


No Livro “Os Mais Belos Contos de Natal”, com o título de O Quarto Rei Mago, há um deles, belíssimo, escrito pôr Joannes Joergensen, no qual atribui a uma lenda o fato de que Jesus não sorriu, ao receber as oferendas dos Reis Magos (Gaspar, Melquior e Baltazar), que se constituíam de ouro, incenso e mirra.
Mas o autor se refere ä existência de um quarto rei, originário da Pérsia, que chegou atrasado ... e de mãos vazias. Ao narrar pôr que chegara de mãos vazias, fez o pequeno Jesus se voltar para ele, estender-lhe suas mãozinhas e sorri-lhe.
Em seu relato afirma que, ao partir de seu amado país, trazia-Lhe precioso tesouro: três pérolas brancas, cada uma semelhante a um ovo de pomba, retiradas do mar da Pérsia.
Contudo, a primeira delas ofertou ao hospedeiro de uma estalagem, a fim de que buscasse um médico para um velho que tremia de febre, estendido num banco, próximo ä lareira. Era magro e pobre, e muito parecido com seu próprio pai... Certamente seria enxotado no dia seguinte, se não morresse até lá. Que cuidasse dele e, se fosse o caso, desse-lhe uma sepultura digna.
No dia seguinte, em viagem, ouviu gritos vindo de um bosque. Verificou que se tratava de soldados que iam violentar jovem mulher.
Com a segunda pérola comprou sua liberdade. Ela beijou as mãos do rei e fugiu célere para as montanhas.
Restava-lhe uma pérola e, ao menos esta, pensava consigo, seria entregue ao pequeno Rei, nascido no Ocidente.
Seguindo em frente, aproximou-se de uma pequena cidade em chamas. Eram os soldados de Herodes, a executar-lhe as ordens de matar as crianças de dois anos para baixo.
Um deles mantinha, dependurado pôr uma perna, pequeno menino que se debatia e gritava. Ameaçava jogá-lo ao fogo. Sua mãe gritava desesperadamente.
Com a terceira pérola resgatou a criança, devolvendo-a á mãe, que a enlaçou em seus braços, fugindo, sem ao menos agradecer-lhe, tamanha era sua angústia.
Pôr isso, chegara de mãos vazias... e lhe pedia perdão.

Aquele rei trazia, sim, as mãos vazias, mas o coração, esse, estava pleno de amor.
A compaixão que o moveu, nas três circunstancias, foi o melhor presente que, afinal, ofereceu ao meigo Jesus, ainda infante. Na sua conduta, demonstrou que se harmonizava com os futuros ensinos de Jesus em seu Evangelho. Nele, a vivência era visível e já se tornara uma segunda natureza. Já possuía o salutar hábito da bondade, em todas as suas ações.
O Espiritismo, o Consolador prometido pôr Jesus tem como objetivo primordial restabelecer, na Terra, o Cristianismo primitivo, sem os atavios e distorções que lhe acrescentamos, os homens que o não assimilamos, que o não compreendemos.
Em Jesus temos “o conquistador diferente”, no, dizer do Irmão X. “Jamais humilhou e feriu (...) recebeu sem revolta, ironias e bofetadas (...)” Ainda assim o temos tratado.
Pois, que temos nós ofertado ao Divino Amigo ? Que temos feito de nossas vidas?
Será que o fazemos sorrir ? Ou chorar ?
Nossas mãos estão vazias porque nos despojamos de egoísmo e somos mais fraternos, mais dados a compaixão, mais caridoso material e moralmente, ou porque nada nos comove ?
Temos hoje nova visão do Natal, ou permanecemos nas velhas ilusões do desperdício, da matança de animais, das bebedeiras, da alegria exterior? Compartilhamos com o próximo, de qualquer condição social, o júbilo íntimo, os bens e os talentos?

No nosso Natal, o Cristo está presente?

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

REFLEXÕES DE DEZEMBRO

O mês de dezembro é, talvez, o mais propício para uma espécie de balanço de nossas realizações, de nossas aspirações e experiências de todo um período que se finda.
O último mês do ano é a época preferida para as avaliações das atividades individuais e coletivas, para que se firmem diretrizes ou se busquem novos caminhos.
Coincidentemente, é o mês em que se comemora a vinda do Cristo de Deus à Terra, trazendo sua Mensagem de Luz aos homens. Seu Natal é um convite à reflexão do que Ele representa para a Humanidade, do que é verdadeiramente essa Mensagem e o que significa para nós.
Os espíritas, que convivemos com os irmãos de diferentes credos e concepções de vida, aprendemos a respeitá-los, sem, contudo, aderir a usos e costumes que não se coadunam com os princípios da Doutrina Libertadora.
Somos todos regidos pela lei de evolução.
Cada um se encontra em determinado estágio evolutivo. Nesse caso, não podemos desprezar ou condenar nosso companheiro de jornada que ainda se prende a interesses puramente materiais, a representações grosseiras das quais já nos libertamos.
Cumpre-nos entender que o estado de ignorância é transitório para todos, sendo necessariamente um estágio evolutivo em cada criatura, mas não um mal em si mesmo.
No mundo de provas e expiações em que vivemos, somos todos imperfeitos, sujeitos a erros, provações e sofrimentos.
Sem embargo das próprias imperfeições, compete a todos utilizar a inteligência e a razão no esforço constante para a elevação, através da autoeducação.
A busca da felicidade de cada um é uma lenta ascensão, já que, por ignorância ou por comodismo, escolhemos os caminhos ilusórios das miragens, só reconhecidos como tais quando aparecem os erros e as decepções.
Entretanto, os sofrimentos e dores, os enganos e desilusões são experiências e lições duras que nos ensinam a necessidade de procurar as sendas corretas que conduzem à felicidade.
Cedo ou tarde aprendemos que as coisas materiais e seus interesses - bens e riquezas da Terra - são transitórios e mutáveis, destinados à satisfação das necessidades da vida material.
O despertamento do Espírito acontece quando descobre que a perfeição moral é sua meta e seu destino e que seus erros e as consequências deles constituem experiências e lições aproveitáveis no descobrimento da verdade e do roteiro certo.
No Universo os seres se ligam e se influenciam reciprocamente. Não somente as galáxias e os sistemas planetários são solidários entre si, mas nas diversas manifestações da vida, a solidariedade está presente em toda parte.
Basta um olhar pelos reinos da Natureza para se constatar a solidariedade entre eles. O reino mineral sustenta os seres vegetais; os animais, por sua vez, sustentam-se de elementos vegetais, minerais e animais que lhes asseguram a vida. Com a morte, os elementos materiais voltam ao reino mineral e o princípio espiritual continua sua trajetória.
Nós, os Espíritos eternos, qualquer seja o estágio em que nos encontramos, devemos ter presente a solidariedade existente entre todos determinada pela semelhança do seu destino e da sua natureza.
Todos começam num estádio de simplicidade e ignorância. Passam pela inferioridade, sujeitos às mesmas leis divinas e eternas que determinam sua ascensão, de conformidade com o esforço de cada um.
Por isso, a solidariedade deve estar presente entre todas as criaturas de Deus, independentemente do grau evolutivo em que se encontre cada uma.
O amor ao próximo, como ensinou Jesus, é a expressão mais pura da lei de solidariedade.
O dever de amar o próximo é a mais bela expressão da lei Divina, ensinada pelo Cristo, que a coloca junto e após o imperativo de amar a Deus, o Criador de todas as coisas. Não há exceção nessa lei geral. Precisamos aprender a amar a todos, a nos solidarizar com todos.
Assim como somos auxiliados e socorridos pelos seres superiores, que já alcançaram poderes e graus acima dos nossos, assim também nos cumpre ajudar e auxiliar, sob múltiplas formas, os que se encontram à retaguarda.
O exemplo maior vem-nos do Cristo. Sua mensagem, seu sacrifício e sua renúncia são lições permanentes e indeléveis convocando à solidariedade com os semelhantes, especialmente os que se encontram abaixo de sua posição evolutiva. Quando Jesus, o Cristo, guia e governador espiritual da Humanidade; o modelo perfeito que o Pai Celestial oferece aos homens, resume no amor toda a lei divina, está mostrando que a solidariedade é a grande corrente que liga todas as almas.
Se deixamos de amar nosso semelhante, seja qual for sua condição, se odiamos, se desprezamos, se desejamos o mal até mesmo aos inimigos e adversários, essa atitude é a quebra de um elo da grande cadeia da solidariedade.
Manifestações patentes da lei de solidariedade entre os seres são as revelações que sempre fluíram da Espiritualidade Superior para todos os povos e nações da Terra, em todos os tempos.
São também as intuições e as inspirações captadas pelos gênios e pelos missionários encarregados pelo Plano Superior de trazer aos homens novas idéias e novas concepções de vida mais abundante, à medida que sua capacidade se toma apta a entendê-las e assimilá-las.
O Espírito encarnado sofre a poderosa influência da matéria. O mundo que o cerca é o império da vida material. Seu corpo material, suas necessidades físicas, seus sentidos físicos induzem o Espírito a só cuidar dos interesses imediatos do mundo material, fazendo-o esquecer sua condição de essência espiritual. Essa é uma característica peculiar dos mundos materiais atrasados como o nosso.
A Providência Divina não permite que prevaleça absoluta a influência exclusiva da materialidade. O Espírito guarda sempre a intuição de sua natureza, de sua origem e de seu destino, auxiliado, em todas as épocas, a cultivar suas qualidades latentes, suas aspirações adormecidas. As revelações superiores, os missionários e enviados do Alto são os agentes incumbidos de despertar no homem o interesse pelas coisas espirituais, contrabalançando a poderosa influência da matéria.
As grandes religiões da Humanidade tiveram e têm esse papel de extrema importância, que é o de despertar na criatura a consciência da existência de um Ser Supremo, criador do Universo e da essência da vida.
Como diz Emmanuel ("A Caminho da Luz"), "as tradições religiosas da antiguidade guardam, entre si, a mais estreita unidade substancial. As revelações evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento".
Através das revelações e das religiões homem se furta à exclusiva influência da materialidade, lembrando-se de sua condição de essência espiritual. É, pois, de extrema importância o papel das religiões ao contrabalançar a influência do materialismo, mesmo considerando-se que elas "evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento".
As revelações do Mundo Espiritual Superior são sucessivas e gradativas.
Sendo o Cristo o Governador Espiritual da Terra, desde sua formação, como executor da vontade de Deus, torna-se evidente que todas as Revelações obedeceram à sua orientação e por isso mantém uma unidade substancial.
"A história da China, da Pérsia, do Egito, da Índia, dos árabes, dos israelitas, dos celtas, dos gregos e dos romanos está alumiada pela luz dos seus poderosos emissários." ("A Caminho da Luz", pág. 83, 22ª ed. FEB.)
Mas é lógico que as Revelações haveriam de atender às possibilidades de percepção de cada raça, de cada povo e às condições de adiantamento de cada época.
O próprio Cristo viria, em pessoa, trazer orientações e conhecimentos de extrema importância para a Humanidade. Sabendo, entretanto, das limitações dos homens e dos entraves que iriam atingir sua Mensagem, por desvios no entendimento e na prática de seus ensinamentos, prometeu a vinda posterior do que Ele denominou "O Consolador", destinado a ensinar todas as coisas e a recordar tudo o que já ensinara. (João, 14:15-17 e 26.)
O Consolador veio e está entre nós. É a Doutrina dos Espíritos, esclarecedora e consoladora por sua natureza, que nos ensina as coisas transcendentes de que necessitamos no atual estágio da Humanidade, que recorda os ensinos do Cristo para o correto comportamento dos homens perante as leis divinas e que retifica os transvios das religiões nas suas práticas através dos séculos.
Mas o Espiritismo não esclarece somente o transcendente, oferecendo-nos noções mais realistas a respeito de Deus, a Inteligência Suprema e sobre o Cristo, o Filho de Deus.
Dá-nos a conhecer muitas das leis divinas que já podemos compreender - a evolução contínua, as vidas sucessivas em mundos materiais como o nosso, a lei de causa e efeito, a eternidade da vida do Espírito - leis que mostram ao ser humano suas próprias possibilidades de crescimento, na proporção da aplicação de sua vontade, de sua inteligência e da liberdade de que goza.
O homem, Espírito encarnado neste mundo atrasado, vem, há milênios, cumprindo seu destino, aprendendo as coisas rudimentares da vida, aperfeiçoando-se através de trabalhos rudes, repetitivos, através das reencarnações.
Por vezes alça altos voos, impelido por ideais elevados resultantes de aprendizado adquirido no núcleo substancial das religiões.
Agora, com a Revelação Nova, encontra recursos para desenvolver os valores que jazem no recôndito de seu ser.
Sua fé e esperança fundam-se em realidades que ele conhece. Seu futuro torna-se mais claro, na certeza de que é a continuação da vida em outra dimensão, longe da idéia asfixiante do nada ou da ilusão de um céu indefinido, ou de uma condenação eterna.
Cumpre-lhe, com a certeza dessa realidade, preparar o porvir, através dos pensamentos e ações presentes, que dizem respeito à sua vida íntima e à sua vida de relações com seus semelhantes.
Agora o viajor eterno não anda a esmo. Tem um roteiro a seguir, que lhe é conhecido. Amar e servir resumem esse roteiro.

Juvanir de Souza
Reformador

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O MÉDICO DAS ALMAS

Jesus curava o corpo, pretendendo com isso curar a alma.
A enfermidade, disse elle, é herança do peccado. Por esta expressão simples, porém profunda, concluimos que a origem das doenças está no Espirito. As manifestações exteriores são effeitos de uma causa interna.
Coherente com este criterio, Jesus disse ao paralytico que padecera 38 annos e a quem havia curado: “Olha, já estás bom; portanto, toma cuidado, não peques mais, para que não te succeda coisa peor”.
Peccar é tentar contra as leis naturaes, que tudo abrangem, envolvendo os planos physico e moral. Deus creou o Espirito e creou o corpo, sujeitando ambos ao imperativo daquellas leis. A Hygiene é a religião do corpo; a Religião é a hygiene da alma.
Toda cura opera-se de dentro pára fóra, precisamente porque, as raizes do mal que affecta o corpo estão no Espírito. “Mens sana in corpore sano”. Ha causas cujos effeitos são immediatos; outras existem de con­sequencias remotas; mas, o facto incontestavel é que o principio de causalidade rege á Vida.
As enfermidades constituem anomalias, pois o natural é que o homem seja são. Para remi-lo da servidão do peccado, origem dos disturbios physicos e psychicos, veiu Jesus ao mundo. Por isso, quando deu a vista aos cégos, audição aos surdos, voz aos mudos, etc., não agiu em desaccordo com as leis naturaes, mas de plena conformidade com ellas, de vez que, restituindo a vitalidade áquelles orgãos, restabeleceu as suas legitimas funcções. Os olhos foram feitos para ver, os ouvidos para ouvir, as cordas vocaes para articularem a palavra.
Aprendemos no Evangelho que o corpo não é coisa desprezivel. Jesus attendeu sempre com solicitude e bondade ás supplicas de todos os enfermos que o procuravam, restaurando-lhes a saude. Encarando as mazellas humanas com piedade e commiseração, Elle não se enojava dellas. Extendeu, por vezes suas mãos bemfazejas sobre os estigmas e as deformidades occasionadas pela lepra, restabelecendo o corpo doente na sua conformação natural e nas suas linhas de harmonia e de belleza.
Jamais deu a entender a qualquer enfermo que não convinha zelar do physico e curar da sua conservação. Ensinou, pelo exemplo, que a materia, como instrumento do Espirito, deve ser convenientemente cuidada, de modo a prestar-se aos fins a que se destina.
Instrumentos desafinados e faltos de zelo compromettem a obra dos melhores artistas. As reacções entre o physico e o moral, o moral e o physico, são reciprocas e continuas, decorrendo desse phenomeno a necessidade do Espirito trazer o corpo debaixo do seu dominio. Governar e dirigir a materia, nunca, porém, despreza-la e, menos ainda, abandona-la aos caprichos e aos arrastamentos do instincto.
O corpo, disse S. Paulo, é templo de Deus. Para que o seja de facto, accrescentamos nós, é preciso que esteja sob o impe­rio do Espirito.
Das curas operadas pelo Divino Escu­lapio resultam dois beneficios: um de ordem material, outro de natureza espiritual. O primeiro consiste em sarar o corpo, que é geralmente o que todo doente procura; o segundo revela-se na communhão que então se estabelece entre o beneficiado e o bemfeitor, isto é, entre o paciente restabelecido e aquelle que promoveu a cura. Desta relação decorre o supremo bem para o Espirito, a sua redempção, ou, seja, a conquista da saude permanente do ser imperecivel.
Tal a méta visada pelo Christo de Deus.

Vinícius
Fonte: Reformador – abril, 1936

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

CIRANDA

A vida circula rápido demais para quem tem, na maioria das vezes, necessidade de parar para acertar comandos. A cada momento e em todos os momento de nossa existência terrena, nos encontramos à frente com circunstâncias às quais devemos dar direção. E, cada instante nos vemos, sem sombra de dúvida, diante da eterna e angustiante paralisia da escolha. Um passo determinará sempre o seguinte... Um movimento criará sempre as conseqüências para o próximo... E, quando temos consciência disso, tudo fica mais difícil, porque nos permitimos errar. Mas, querendo ou não querendo essas circunstâncias em nossa vida, elas aí estão nos impondo sua presença, nos obrigando a tomadas de decisões que desejaríamos protelar indefinidamente, se possível. E é na ciranda da vida que nossa tibieza se mostra sem subterfúgios, sem máscaras a nos proteger, a nos camuflar.

Cada aspecto que vivenciamos é como um obstáculo a ser vencido.

A indolência característica de quem busca eternizar o adiantamento a essa tomada de posições, nos leva a acreditar que a vida nos espera e que, portanto, não há pressa. Tudo pode e deve ser deixado para depois, pois cada dia representa enorme fardo a ser carregado. Cada aspecto que vivenciamos no dia-a-dia representa, na nossa visão tacanha, um obstáculo a ser vencido, exigindo de nós um imenso esforço. Nossas experiências, ao invés de nos servirem de elemento transformador e de progresso, nos lembram arenas de lutas ferrenhas onde somente os mais bem dotados saíam vivos. Todavia, se prestarmos atenção a essas experiências, buscando modificar esse enfoque, onde percebemos tão somente o elemento obstrutor, sem contudo nos darmos conta do elemento renovador, poderemos aprender seu real significado. Procuremos entender esse sinal que a vida nos dá, e busquemos observar o que nos acontece, verdadeiramente. Brinquemos um pouco de roda, a partir de agora. Nossa imaginação pode correr solta nos tempos em que, com liberdade infantil, nos reuníamos nas ruas para buscar, na ingenuidade dos tempo, o melhor divertimento. Ah!, a ciranda de rodas! Naquele momento, unidos pelo mesmo objetivo, vidas diferentes, representadas por um a um naquela roda, giravam um uníssono: a mesma música, o mesmo riso, a mesma alegria. Momento mágico a se perder no tempo... Será? Continuemos a girar... A música era sempre a mesma e a alegria também. O riso? Quase sempre o mesmo. Mas as vidas que giravam juntas, nem sempre o eram. Tantas mudaram de endereço ou se perderam de nós. Outras surgiram e enriqueceram a roda. Aceitávamos, com certa tranqüilidade, esse ir e vir de vidas pois o que contava sempre era a roda que precisava girar. Hoje, não mais crianças, acreditamos que a brincadeira acabou. A rua não existe mais. O objetivo não existe mais. As vidas se transformaram porque nossa vida se transformou e com isso a roda parou. Parou? A vida não pára porque nós paramos! A vida deixa de existir porque nós insistimos em nos mantermos paralisados. A vida circula eternamente dentro de nós e que pulsa ininterruptamente nos acordando para cada novo dia, também coloca à nossa disposição um imenso arsenal de oportunidades de trabalho a nos mostrar que, mesmo que não queiramos, ela vai continuar girando; que, independente de nossa vontade, continuamos respirando, renovando ares, criando esperanças, determinando caminhos. Imensas dificuldades produzimos para não percebermos esse processo. Temos medo de tomar nossas vidas nas próprias mãos; temos receios em sermos os únicos responsáveis pelas escolhas que fizermos. Tão mais fácil culpar o outro... não importa quem ele seja. Longe estamos de entender ainda que a ciranda é a própria vida que se inicia em nós e termina em nós. Longe ainda está o dia em que poderemos compreender, com lucidez, que a vida somos nós, pulsando em uníssono com a música do Universo; colocando nessa roda vidas idas e por virem; deixando marcas indeléveis que nos transformam, nos enriquecem e nos fazem crescer. E mesmo paralisados ou indolentes seremos sempre forçados a girar. Criamos tempos, abrimos espaços na execução da divina tarefa de crescimento interior em busca da perfeição. Cada movimento para frente, retornando a nós em forma de sabedoria - experiência vivida - e cada impulso para o alto, projetando-se sobre nós em forma de iluminação - consciência divina, inerente a todo Ser - fecham o círculo perfeito da evolução. Ora para a frente, ora para o alto, cada um desses movimentos se intercala com os demais enriquecendo nossa roda, ciranda bendita, de vidas vividas, de vidas que hão de vir, permitindo o caminhar eterno do nosso Espírito livre em direção ao AMOR.

Jornal O Semeador - Fevereiro de 2000

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ESPIRITISMO ESTUDADO

Impostergável, nos cometimentos diários, o dever de estudar e aplicar as nobres lições do Espiritismo, no atual estágio da evolução do pensamento.

À medida que as luzes da Doutrina Espírita clarificam o entendimento humano, mais imperioso se torna o cultivo das informações que ressumam da Revelação, a fim de que a ignorância em torno dos problemas do espírito seja em definitivo combatida.

A responsabilidade dos que travaram contato com a Mensagem de Jesus, desvelada e atualizada pelos Espíritos, é muito grande, pois que àquele que usufrui a bênção do esclarecimento não se pode conceder a indulgência da leviandade, nem tampouco a reprochável conduta da indiferença em face das magnas questões que se agigantam em todo lugar.

Até hoje o egoísmo tem exercido sobre o espírito humano um soberano comando, O Espiritismo, preconizando o amor que liberta e a fraternidade que socorre, é o mais severo adversário desse sicário destruidor.

Todavia, para que o adepto do Espiritismo se integre realmente no espírito da Doutrina, exige-se-lhe aprofundamento intelectual no conteúdo da informação espírita, de modo a poder corporificá-la conscientemente no comportamento moral e social, na jornada diária.

Nesse sentido, há que fazer justa quão indispensável diferença entre o Espiritismo e o Movimento Espírita.

Vigem, em muitos setores da prática espiritista, normas e diretrizes ultrajantes à Mensagem de que Allan Kardec foi instrumento do Alto, seja por negligência de muitos dos seus membros, seja pela crassa ignorância daqueles que assumem responsabilidades definidas, ante os dispositivos abraçados, sem os necessários recursos culturais indispensáveis.

Ante a grandeza da Revelação, por estarem acostumados às limitações típicas das seitas do passado, ou porque ainda vinculados às superstições nefandas dos dias recuados, muitos pseudo-espiritas pretendem reduzir a grandeza imensurável do Espiritismo à estreiteza de uma nova seita, em cujo organismo grassem os erros derivados da incompetência e do abastardamento, de que o desconhecimento da Codificação se faz motivação poderosa.

O Movimento Espírita é o resultado do labor dos homens, enquanto o Espiritismo é a Doutrina dos Espíritos dirigida aos homens.

O Espiritismo, pois, não cessemos de repetir, é ciência de observação e investigação incessante. Tateamos agora as primeiras constatações, ante o infinito das realidades que ele busca, devassa e esclarece. Há, ainda e continuamente, infindo campo de informação a perquirir e constatar no eloqüente continente da vida espiritual.

Estudado, o Espiritismo dealba a antemanhã luminosa da humanidade do futuro, desde agora.

Como Filosofia, a sua escola de indagação não se limita às linhas clássicas da discussão, nem se empareda na estreiteza dos conceitos ultramontanos ou do debate limitado, porquanto estas não são as primeiras nem as últimas palavras das elucidações que faculta, nem dos esclarecimentos que oferta.

Religião da ciência, como ciência da filosofia, é, ao mesmo tempo, a filosofia da religião, e sua ética não se estratifica na moralidade das convenções transitórias, nem se resume a dogmas atentatórios à razão.

Com fundamentos na Revelação Moisaica, através do insubstituível código do Decálogo, sempre oportuno e novo em toda a sua elaboração — segurança para cada homem e arbítrio para todas as nações — abranda, com a excelsa beleza do Evangelho do Cristo, a aspereza severa das antigas leis de Talião, dando cumprimento às promessas dos Profetas e de Jesus.

Doutrina que acompanha o progresso do Conhecimento e estimula novas formas de averiguação e pesquisa, não se detém nas conquistas conseguidas, antes projeta para o mundo das causas as suas alocuções filosóficas, facultando empreendimentos mais audaciosos e profundos, tendo em vista o investimento homem — esse objetivo essencial da sua obstinada busca transcendental.

Convertê-lo em resíduo seitista é desfigurá-lo danosamente, ceifando os elevados objetivos a que se propõe. Mantê-lo em círculo de mediunismo desregrado, significa desconsiderá-lo no aspecto superior das suas realizações: o da pesquisa científica, por cujos roteiros a ciência e a fé se unirão na romagem para a vida e para Deus.

É verdade que se alastram formas primitivas de mediunismo em toda parte, merecendo esta questão mais cuidadoso exame, para melhor serem debeladas as nefastas conseqüências de tal fenômeno. E, por essa razão, maior deve ser o nosso empenho na sadia divulgação dos postulados espíritas, lavrados no estudo sistemático e constante do contexto doutrinário, para que o medicamento com que pretendemos amenizar ou erradicar os males morais da sociedade hodierna, não venha a produzir maiores danos, como resultado da sua má dosagem e aplicação.

A princípio, o Cristianismo foi eficiente remédio aplicado sobre as feridas do Paganismo. A indiscriminada e irracional utilização da Doutrina do Cristo, deformada nos seus pontos básicos, sobre as chagas sociais da época, produziu cânceres mais virulentos do que aqueles que visava a combater e de cujos danos ainda sofrem as comunidades modernas...

Fenômeno consentâneo pode ocorrer nestes dias com o Espiritismo... Sem dúvida, a Doutrina é irreversível e sadia. Todavia, a Boa Nova também o é. . .

Dilatam-se as referências espíritas no organismo social do momento; multiplicam-se as Casas Espíritas; há adesões em massa ao Espiritismo; surgem os primeiros sintomas de cultos espíritas; aparecem fartas concessões ao Espiritismo. . . Respeitando e considerando todas as formas de divulgação, não nos podemos furtar à conclusão de que a quantidade tem recebido maior valorização do que a qualidade, que deve manter o caráter específico de pureza que não podemos subestimar.

O movimento espírita cresce e se propaga, mas a Doutrina Espírita permanece ignorada, quando não adulterada em muitos dos seus postulados, ressalvadas as excelentes e incontáveis exceções.

O que se possa lucrar pela quantidade pode redundar em prejuízo na qualidade.

No que diz respeito ao capítulo das obsessões, aventureiros inescrupulosos se intrometem, inspirados por mentes desencarnadas afeiçoadas à lavoura da perturbação, fazendo que promovam espetáculos lamentáveis, nos quais a mediunidade se transforma em chaga espiritual, por cuja purulência exsudam as misérias pretéritas...

Alardeiam perseguições, esses malfazejos diretores de trabalhos, e, em nome do esclarecimento, apavoram os neófitos, fazendo que, pelo medo e através do desconhecimento do Espiritismo, se vinculem aos seus desafetos desencarnados, mediante a fixação mental ou ao pavor que os dominam, após as incursões inconscientes em misteres de tal monta.

O Espiritismo é doutrina de otimismo, de educação integral, de higiene mental e moral. É o retorno do Cristo ao atormentado homem do século ciclópico da Tecnologia, através dos seus emissários, renovando a Terra e multiplicando a esperança e a paz nas mentes e nos corações que Lhe permaneçam fiéis.

Nos redutos em que o estudo da Doutrina Espírita é considerado desnecessário, afirma-se que êle se faz adversário da cultura e, a pretexto de auxílio aos que sofrem, atenta-se contra a ciência médica, principalmente, reduzindo-o a superstição danosa e inconseqüente.

Destinado aos infelizes, estes não são apenas os que sofrem as dificuldades econômicas e são conhecidos como constituintes das c1asses humildes. A dor não se limita a questões de circunstância, tempo e lugar. Dessa maneira, não prescreve a ignorância, mas proscreve-a.

lmpostergável, portanto, o compromisso que temos, todos nós, desencarnados e encarnados, de estudar e divulgar o Espiritismo nas bases nobres com que no-lo apresentou Allan Kardec, a fim de que o Consolador, de que se faz instrumento, não apenas enxugue em nós os suores e as lágrimas, mas faça estancar, nas fontes do sofrimento, as causas de todas as aflições que produzem as lágrimas e os suores.

Nesta aferição de valores, para o elevado mister da divulgação espírita, oremos e vigiemos, conforme a recomendação do Mestre, para que nos desincumbamos a contento do cometimento aceito, dando conta da nossa responsabilidade, com o espírito tranqüilo e a mente pacificada.

Vianna de Carvalho

(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão da noite de 4-11-1970, no Centro Espirita “Caminho da Redenção”, em Salvador, Bahia).