quinta-feira, 24 de março de 2011

MELINDRISMO

“Toda a casa dividida contra si mesma não subsistirá”. Jesus. (Mt., 12:25.)
Uma equipe de Espíritos capitaneada pelo Dr. Bezerra de Menezes foi convocada a prestar socorro de emergência em uma determinada Casa Espírita, não pelas condições oferecidas pelos trabalhadores da Casa, mas pelos méritos da criatura que ia receber o benefício. Tratava-se de uma senhora, portadora de um carcinoma em insidioso estágio de metástase, já desenganada pelos médicos, vez que falharam todos os recursos da medicina conhecida na Terra. A desencarnação fora prevista para dentro de no máximo 1 ou 2 meses, segundo os prognósticos baseados nos exames realizados nos sofisticadíssimos equipamentos de última geração. Fazia-se urgente, então, o auxílio da medicina espiritual da qual nós, os encarnados estamos longe de avaliar a dimensão e a potencialidade dos recursos...
Os integrantes da equipe à exceção do Dr. Bezerra de Menezes, já veterano das lides socorristas, não disfarçavam a surpresa ao se depararem com a indigência espiritual a que estava relegado aquele Centro Espírita. Notava-se claramente que ali abundavam as reuniões mediúnicas e faltavam as reuniões de estudo. Os trabalhadores eram extremamente personalistas e ciosos de suas respectivas “sapiências e autoridades”. Por um “dá cá esta palha” implantava-se a cizânia entre eles, dificultando a aproximação dos Espíritos do Senhor. A maledicência campeava solta, à vontade, sem peias; a vigilância há muito já havia batido em retirada...
Não sem despender muita energia para assegurar um mínimo de equilíbrio e higiene no ambiente, a tarefa foi concluída, por sinal com tão retumbante sucesso que até hoje mantém abertas de perplexidade as bocas dos facultativos que prognosticaram, sem apelação, a morte da paciente.
Na viagem de volta aos páramos celestes, um neófito integrante da equipe espiritual, um tanto reticente e tímido aproxima-se do bondoso Mentor e pergunta:
“Como é possível tanta dissidência e invigilância num agrupamento de pessoas que dizem estar reunidas em nome de Jesus? É válida tal “prática” de Espiritismo?
O “Médico dos Pobres”, com certa tristeza na entonação de voz, respondeu paternalmente:
“Filho, infelizmente, muitas Casas Espíritas não nos oferecem a mínima condição de trabalho em benefício dos sofredores da Terra. Mas Jesus, sempre atento, em Sua infinita misericórdia oferece-nos os recursos adicionais para vencermos a má-vontade dos encarnados, quando o beneficiário dispõe de méritos que justifiquem a interferência do Mundo Maior.
Naquela Casa Espírita que acabamos de deixar não existe, na verdade, a prática do Espiritismo, mas sim a prática do melindrismo, onde pululam os Espíritos malfazejos que estão todo o tempo insuflando a acrimônia entre os “soi-disants” trabalhadores do Cristo, contumazes na invigilância”.
Recolhendo-se em profundas reflexões o inexperiente neófito entregou-se a sentida oração em favor dos “Espíritas Imperfeitos” que enxameiam nas hostes espiritistas.
No Mundo Espiritual, em conversa com o Dr. Odilon Fernandes, Ramiro Gama obteve a seguinte explicação:
“(...) Existem Centros Espíritas que não se preocupam com reuniões de estudo, apesar de promoverem reuniões mediúnicas a semana inteira... Os diversos grupos de mediunidade, inclusive, chegam a disputar entre si – médiuns contra médiuns, dirigentes contra dirigentes e, pasmem, Espíritos contra Espíritos!...
E quando as desavenças existem entre os membros de um mesmo grupo mediúnico? Aí é que a coisa se transforma num “prato cheio” onde os obsessores se locupletam! A incompatibilidade entre os integrantes de uma mesma equipe de serviço mediúnico, acaba por atrair Espíritos que não comungam as mesmas idéias. Assim como em uma casa espírita ocorrem lamentáveis divisões, com grupos de tarefeiros se isolando uns dos outros, os Espíritos, que nada mais são do que homens fora do corpo, também mutuamente se rebelam, sustentando entre si intermináveis polêmicas doutrinárias... Evidentemente que tais coisas ocorrem devido à falta de assimilação dos ensinamentos de Jesus agravada pela falta de estudo doutrinário. Os médiuns ficam tão preocupados em doutrinar os Espíritos, que não se preocupam com a própria evangelização... Aliás, nessas casas às quais nos referimos há mais mediunismo que mediunidade. Em suas múltiplas reuniões, a mistificação e o animismo campeiam, livres, induzindo à fascinação a maioria dos seus componentes. Um templo Espírita bem orientado preocupa-se, primeiro, em estruturar-se doutrinariamente; apenas quando os seus integrantes revelem, da mediunidade, o mínimo de conhecimento necessário é que se deve cogitar da formação de um grupo consagrado às atividades mediúnicas propriamente ditas.
As maiores perturbações que pude conhecer assolando uma Casa Espírita começaram justamente através da invigilância do que denominamos reunião de desobsessão... Uma reunião mediúnica seja ela qual for, pode, quando não bem orientada, ser uma porta escancarada para o desequilíbrio do grupo onde medrarão infrenes as disputas, os ciúmes, inveja, personalismo, etc... Se uma atividade mediúnica qualquer estiver perturbando o bom andamento das demais atividades do Centro, é melhor que ela seja extinta e que, em seu lugar, se crie uma reunião de estudos sistematizados da Doutrina ou... nada. E que ninguém fique de consciência pesada, se semelhante providência tiver de ser tomada...
Temos que ser apologistas da mediunidade com responsabilidade. Os Espíritos irresponsáveis, que enxameiam pelos caminhos da Terra, sentem-se extremamente à vontade nos Centros onde as reuniões de mediunidade prevaleçam sobre as reuniões de estudo; já os Espíritos esclarecidos freqüentam com maior assiduidade os grupos onde haja uma predominância do estudo que se alie à prática, ou seja, do conhecimento teórico que se vincule à vivência do bem no cotidiano”.
Jesus foi muito claro ao ensinar: (Mt., 5:38 a 42.)
“(...) Não resistais ao mal que vos queiram fazer; se alguém vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra; se alguém quiser pleitear contra vós, para vos tomar a túnica, também lhe entregueis o manto; se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois mil”.
Desenvolvendo este ensinamento de Jesus, o Mestre Lionês aduz:
“(...) Dizendo que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido numa, disse Jesus sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que maior glória lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que arruinar os outros. É, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não passa de uma manifestação de orgulho. Somente a fé na Vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio. Daí vem o repetirmos incessantemente: Lançai para diante o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra”.
Ao convidar-nos alançar para diante o olhar”, Kardec nos faz reportar à belíssima página de Emmanuel, intitulada:
A V A N C E M O S !...
Na estrada cristã, somos defrontados sempre por grande número de companheiros que se aquietaram à sombra da improdutividade, declarando-se acidentados por desastres espirituais: É o trabalhador que se viu dilacerado pela incompreensão de um amigo; é um missionário que se imobilizou à face da calúnia; é alguém que lastima a deserção de um consócio da boa luta; é o operário que clama indefinidamente contra a fuga da companheira que lhe não percebeu a dedicação afetiva; é o idealista que espera uma fortuna material para dar início às realizações que lhe competem; é a mulher que se enrola no cipoal da queixa contra os familiares incompreensivos; é o colaborador que se escandaliza com os defeitos do próximo, congelando as possibilidades de servir; é alguém que deplora um erro cometido, menosprezando as bênçãos do tempo em remorso destrutivo...
O passado, porém, se guarda a virtude das experiências, nem sempre é o melhor condutor da Vida para o futuro. É imprescindível exumar o coração de todos os envoltórios entorpecentes que, por vezes, nos amortalham a Alma.
Paulo de Tarso, que conhecera terríveis aspectos do combate humano, na intimidade do próprio coração, e que subiu às culminâncias do apostolado com o Cristo, nos oferece roteiro seguro ao aprimoramento escrevendo fraternal carta à comunidade de Filipos: “(...) Irmãos, quanto a mim, não julgo que haja alcançado a perfeição, mas uma coisa faço, e é que esquecendo-me das coisas que atrás ficam, avanço para as que se encontram diante de mim.
Esqueçamos todas as expressões inferiores do dia de ontem e avancemos para os dias iluminados que nos esperam.”
Centralizemos nossas energias em Jesus e caminhemos para diante.
Ninguém progride sem renovar-se”.

quarta-feira, 9 de março de 2011

A MAGNITUDE DA FÉ EM NOSSAS VIDAS.

Quando Ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e, lançando-se de joelhos aos seus pés, disse:
Senhor tem piedade de meu filho, que é lunático e sofre muito; pois cai muitas vezes no fogo e, muitas vezes, na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não o puderam curar.
Jesus respondeu, dizendo: Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui este menino.
E, tendo Jesus ameaçado o demônio, este saiu do menino, que no mesmo instante ficou são.
Os discípulos, então, vieram ter com Jesus em particular e lhe perguntaram: Por que não pudemos nós outros expulsar esse demônio?
Respondeu-lhes Jesus: Por causa da vossa incredulidade. Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: transporta-te daí para ali e ela se transportaria e nada vos seria impossível. (Mateus,17:14-20.)
Muito significativa essa passagem de Jesus.
A parábola da figueira que secou é outra demonstração deixada por Jesus para refletirmos seriamente sobre a fé, encontrada em Lucas (13:6-9). Nela, passamos a ver o homem na figueira que foi plantada, mas que não frutificou. Assim é o religioso que se diz cristão, mas em verdade, não mostra seus “frutos”.
Todos os homens, deliberadamente inúteis por não terem posto em ação os recursos que traziam consigo, serão tratados como a figueira que secou.
Pedro, ao não conseguir andar sobre as águas, mereceu de Jesus uma advertência quanto à sua falta de fé, em Lucas (8:25). Quantos de nós não nos amedrontaríamos como o fez Pedro, e também afundaríamos!?
Tomé, em João (20:24), não acreditou no reaparecimento de Jesus após a sua crucificação. Tornou-se, por isso mesmo, até hoje, um símbolo da falta de fé. Essa passagem é sempre lembrada por todos quantos desejam enfatizar a ausência da fé na criatura.
Jesus, em várias de suas lições, querendo destacar a significativa importância da fé, mostrou, com sua exemplificação, que será necessário ao homem acreditar nas próprias forças, o que o tornará capaz de executar certos feitos materiais. Quem duvida é um pessimista e se vê impossibilitado de crescimento moral. Se não acreditarmos que somos capazes de amar até os inimigos, de que adianta afirmar que acreditamos em Jesus? Estabeleceria, por acaso, Jesus um objetivo educativo para nós impossível de ser alcançado?
Como ficaria sua condição de Mestre dos mestres?
Tiago, em sua Carta (2:14), foi extraordinário quando se referiu à associação que deve existir entre a fé e as ações da criatura, ao afirmar que “[...] nenhum proveito existe, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras. Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?”.
Uma realidade fica patente: da fé vacilante resulta a incerteza, a dúvida; já a fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, nas grandes como nas pequenas tarefas.
Quem acredita no tratamento a que está submetido – dizem os entendidos – está com meio caminho andado para curar-se. Todavia, quem não acredita...
Inquestionavelmente, são a fé e o amor os dois fundamentais instrumentos de trabalho do espírita.
“A fé é a garantia do que se espera a prova das realidades invisíveis”, testificou Paulo, em Carta aos Hebreus (11:1). E ele sabia, perfeitamente, do que falava, pois sem essa virtude, teria fracassado em sua missão de ser o maior divulgador do Cristianismo nascente.
A força e o poder da fé se transmitem à prece, enunciada com emoção e sinceridade. A prece é a manifestação mais pura do diálogo entre o homem e Deus.
A fé sincera e verdadeira é sempre calma, facultando a paciência que sabe esperar.
A confiança nas suas próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais, que não consegue fazer quem duvida de si.
Aqui, porém, unicamente no sentido moral se devem entender tais palavras. As montanhas que a fé, exaltada por Jesus, desloca, são as dificuldades, as resistências, a má vontade; em suma, tudo com que se depara da parte dos homens, ainda quando se trate das melhores coisas.
Como se adquire a fé inabalável?
Através do conhecimento que se obtém com o estudo dos postulados da Doutrina Espírita, que não arregimenta, em suas fileiras, crentes devotos, mas homens de fé raciocinada.
Seja, portanto, inabalável a nossa fé, alicerçada nos postulados fundamentais do Espiritismo:
Deus, Espírito, imortalidade da alma, reencarnação, mediunidade, pluralidade dos mundos habitados, lei de ação e reação, lei da evolução, prática da caridade, vivência do Evangelho de Jesus, e outros.
A “preceterapia” é hoje testada por estudiosos do assunto, renomados homens de ciência. Servindo-se de um número de pacientes portadores da mesma enfermidade, chegaram à conclusão de que em dois grupos, um com 192 enfermos e outro com 214, o número maior dos que apresentaram resultados positivos, após tratamento, foram justamente os que nele acreditavam, e, consequentemente na cura. O mais importante de tudo: igual tratamento foi dispensado a todos.
Relevante é “[...] não confundir a prece com a presunção. A verdadeira fé se conjuga à humildade [...].” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX – que serviu de base para este artigo –, item 4.) Aquele que a tem deposita mais confiança em Deus do que em si mesmo, porque sabe que nada lhe é possível sem a ação de Deus.
Com a fé pulsante em seu interior, o homem movimenta seu magnetismo atuando sobre o fluido, o agente universal, modificando-lhe as qualidades e lhe dando uma impulsão irresistível. É sempre a fé dirigida para o bem que podem operar os chamados, equivocadamente, “milagres”.
A fé pode ser raciocinada ou cega. A espírita é raciocinada. A fé cega, levada ao excesso, conduz ao fanatismo, ao “homem-bomba”.
A fé cega imposta é sinal de confissão de impotência para demonstrar que se está de posse da verdade. A fé não se prescreve nem se impõe.
A fé não procura ninguém, é ao homem que compete buscá-la, encontrá-la. Quem a procurar sinceramente não deixará de encontrá-la. Ensina Allan Kardec:
A resistência do incrédulo, devemos convir, muitas vezes provém menos dele do que da maneira por que lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender.
A fé cega já não é deste século [...]. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 7.) A criatura deve crer, porque tem certeza, apoiando-se nos fatos e na lógica. Somente tem certeza porque compreendeu.
“Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”, é o que encontramos no livro acima citado.
Sob o título “A fé: mãe da esperança e da caridade”, o Espírito protetor José afirma:
Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou.
A fé sincera é empolgante e contagiosa; comunica-se aos que não na tinham, ou, mesmo, não desejariam tê-la. Encontra palavras persuasivas que vão à alma [...]. (Op. cit., item 11).
Preguemos pelo exemplo de nossa fé.
Não admitamos a fé sem comprovação: fé cega é filha da cegueira.
Amemos a Deus, mas sabendo por que o amamos; acreditemos em suas promessas, mas sabendo por que acreditamos; sigamos os seus conselhos, mas compenetrados do fim que nos é apontado e dos meios que nos são trazidos para atingi-lo.
Precisamos colocar a vontade a serviço dessa força que todos trazemos – a fé, que é ainda tão pouco utilizada.
A fé é humana e divina.
Se todos nos achássemos persuadidos da força que em nós trazemos, e se quiséssemos pôr a vontade a serviço dessa força, seríamos capazes de realizar o que hoje é considerado prodígios mas que, no entanto, não passa de um natural desenvolvimento das faculdades humanas.
A certeza na obtenção de algo é resultado da vontade de querer e a certeza de que esta vontade pode obter satisfação.
É a fé que conduz a Deus. Deve ser, portanto, ativa para ser proveitosa.
Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade. Assim, preconizar a fé cega sobre um ponto de crença é confessar-se impotente para demonstrar que está com a razão.
Pondera o Codificador:
[...] A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao contrário, denota fraqueza e dúvida de si mesmo. (Op. cit., cap. XIX, item 3.)
A fé, saibamos em definitivo, não se impõe nem se prescreve.
Ela é adquirida e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários.
Hoje ou amanhã, nesta ou noutra encarnação, todos a possuirão.

Reformador Fev.08

terça-feira, 8 de março de 2011

APRENDENDO COM A DOR

Amigo(a), a vida nos fornece matérias como recurso didático no rumo da sabedoria e da paz. Um destes recursos, ainda não compreendido por nós, é a DOR...
Se perdermos um ente querido nos arrasamos de saudade; rompendo-se uma relação afetiva, cultivamos a "fossa"; se tivermos perdas financeiras, abraçamos o desânimo; se alguém nos ofende ou lesa, regamos a mágoa; e na maioria das situações que somos visitados pela irmã dor, preferimos a postura do(a) coitadinho(a), nos afundando na baixa da auto-estima, escolhendo infelizmente o desespero ou até o suicídio.
Faz-se mister mudar nossa visão.
A dor é matéria importante na escola da vida, juntamente com outras: alegria, paz, amizade, estudo, convivência, observação, exemplos alheios, etc.
Isso não quer dizer sermos insensíveis ou frios, mas reforçar nosso ânimo, mantendo-nos firmes, extraindo da dor o melhor aprendizado.
Mesmo que dolorosa, toda experiência é lição e não queda.
Ânimo!
Avante!

quarta-feira, 2 de março de 2011

LEI DE DESTRUIÇÃO

Desde os tempos remotos, há bilhões de anos, quando os primeiros habitantes do orbe ainda eram animálculos unicelulares, abrigados no seio das águas tépidas dos mares, a saga evolutiva dos seres vivos sempre foi marcada pela constante luta pela sobrevivência, em que duelam dois instintos: o da conservação e o da destruição. Para sustentar a vida, as criaturas precisam de energia, que encontram nos alimentos. Nessa faina, impulsionadas pelo instinto, entre devoram-se mutuamente.
É quando se opera o ciclo de transferência de energia e de nutrientes, que segue numa espiral infinita. Em uma das pontas dessa cadeia estamos nós, que também nos alimentamos dos vegetais e das vísceras dos animais, “nossos irmãos inferiores”. 1
Não bastasse isso, os hóspedes da casa planetária têm, ainda, que enfrentar os flagelos naturais que ameaçam a vida e outros valores, causando grande sofrimento. Essa constatação, impactante a princípio, já nos dá uma ideia da faixa evolutiva em que ainda nos situamos, apesar da idade estimada do Planeta em 4,6 bilhões de anos. 2
Todavia, os mentores celestes, por meio do Espírito André Luiz, informam que o homem lida com a razão há apenas 40 mil anos, aproximadamente. Assim, cálculos elementares nos levam a concluir que estamos ainda nas primeiras lições da cartilha da vida. Não é sem razão que o comportamento social da criatura humana, blindado com o verniz da civilização, ainda apresenta os atavismos de competição e beligerância:
[...] com o mesmo furioso ímpeto com que o homem de Neandertal aniquilava o companheiro, a golpes de sílex, o homem da atualidade, classificada de gloriosa era das grandes potências, extermina o próprio irmão a tiros de fuzil. 3
Por isso, a convivência em sociedade, muitas vezes marcada pela opressão e pela violência de todos os tipos contra o semelhante, é interpretada por algumas pessoas com fundamento no célebre aforismo, cunhado pelo filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), de que “o homem é o lobo do homem”.
Que razões teria a Sabedoria Divina para estabelecer entre os seres vivos, como regra da natureza, a luta pela sobrevivência, a destruição recíproca e a destruição pelos flagelos naturais? Estariam esses princípios em consonância com a bondade e a justiça do Criador? O estudo das Leis Morais reveladas em O Livro dos Espíritos abre uma ampla visão filosófica e científica, baseada na unidade da criação, na imortalidade, na reencarnação e no progresso dos seres, que permite um entendimento melhor dos propósitos superiores da Inteligência Suprema, em que “as aquisições de cada indivíduo resultam da lei do esforço próprio no caminho ilimitado da Criação”4 (Grifo nosso):
[...] Só o conhecimento do princípio espiritual, considerado em sua verdadeira essência, e o da grande lei de unidade, que constitui a harmonia da criação, pode dar ao homem a chave desse mistério e mostrar-lhe a sabedoria providencial e a harmonia, exatamente onde apenas vê uma anomalia e uma contradição. 5
O homem começa a perceber que também integra os ecossistemas, tanto que já propugna pela substituição do modelo de desenvolvimento atual, ecologicamente predatório,
socialmente perverso e politicamente injusto, por outro sustentável, que tem por divisa progredir sem destruir. Mas será que é possível progredir sem destruir? Em caso afirmativo, onde estariam os limites éticos da destruição? Destruição, no sentido comum, significa extinção, aniquilamento. Sob o ponto de vista espírita, contudo, a Lei de Destruição é transformação, metamorfose, tendo por fim a renovação e a melhoria dos seres vivos.
A destruição tem dupla finalidade: manutenção do equilíbrio na reprodução, que poderia tornar-se excessiva, e utilização dos despojos do envoltório exterior que sofre a destruição: [...] É esse equilíbrio dinâmico baseado em sofisticadas engrenagens que regem a vida e a morte que assegura a perenidade dos ecossistemas e dos seres vivos que neles existem. 6
A parte essencial do ser pensante (elemento inteligente) é distinta do corpo físico e não se destrói com a desintegração deste. Logo, a verdadeira vida, seja do animal, seja do homem, não está no organismo físico. Está no princípio inteligente, que preexiste e sobrevive ao corpo material, que se consome nesse trabalho, ao contrário do Espírito, que sai daquele cada vez mais forte, mais lúcido e mais apto. Enfim, a vida e a morte, dentro do planejamento divino, se apresentam como faces da mesma moeda:
[...] a lei de destruição é, por assim dizer, o complemento do processo evolutivo, visto ser preciso morrer para renascer e passar por milhares de metamorfoses, animando formas corporais gradativamente mais aperfeiçoadas, e é desse modo que, paralelamente, os seres vão passando por estados de consciência cada vez mais lúcidos, até atingir, na espécie humana, o reinado da razão. 7
O instinto de destruição coexiste com o de conservação, a título de contrapeso, de equilíbrio, para que a primeira não se dê antes do tempo, visto que toda destruição antecipada constitui obstáculo ao desenvolvimento da inteligência, motivo pelo qual Deus fez que cada ser experimentasse a necessidade de viver e de se reproduzir.
Há dois tipos de destruição: a destruição natural e a destruição abusiva. A destruição natural opera-se com o objetivo de manter o equilíbrio dos ecossistemas, como, por exemplo, na morte natural dos corpos pela velhice, nos incêndios naturais das matas que dizimam pragas, na erupção de vulcões, nos terremotos, nas cheias dos rios, que regulam os ciclos de renovação da vida.
Os flagelos naturais que ceifam a vida de milhares de pessoas não constituem meros acidentes da Natureza, uma vez que o globo não está sob a direção de forças cegas. Ninguém sofre sem uma razão justa. Tais fenômenos representam fator de elevação moral, com vistas à felicidade dos indivíduos. Além de favorecerem o desenvolvimento da inteligência ante os desafios, auxiliam o desabrochar dos sentimentos, tais como paciência, resignação, solidariedade e amor ao próximo. Isto é, [...] as comoções do globo são instrumentos de provações coletivas, ríspidas e penosas. Nesses cataclismos, a multidão resgata igualmente os seus crimes de outrora e cada elemento integrante da mesma quita-se do pretérito na pauta dos débitos individuais. 8
Já a destruição abusiva, que exprime faces diferentes da violência, é aquela provocada de forma predatória, com fins egoísticos, a pretexto de prover o sustento alimentar ou para satisfazer paixões e necessidades supérfluas, a exemplo do consumismo desenfreado, das caçadas de animais, das touradas. Sem embargo da destruição abusiva, o homem também ofende gravemente a lei divina quando assassina, quando pratica o suicídio e o aborto ilícito, quando provoca guerras etc. Os animais, por terem no instinto um guia seguro, somente destroem para satisfação de suas próprias necessidades, mas o homem, dotado de livre-arbítrio, nem sempre utiliza sua liberdade com sabedoria, sujeitando-se ao princípio de causa e efeito.
As leis divinas são perfeitas! A necessidade de destruição tende a desaparecer, à medida que o homem (Espírito encarnado), pela evolução intelectual e moral, sobrepuja a matéria. À proporção que adquire senso moral, vai desenvolvendo a sensibilidade e tomando aversão à violência. É quando passa a ver no seu semelhante não mais o “lobo”, mas o companheiro necessitado de amparo e de solidariedade. Entretanto, ainda que se despoje dos sentimentos belicosos, o homem, até que desenvolva plenamente o Espírito, sempre estará sujeito aos desafios da luta humana, cuja superação depende do trabalho, do esforço, da experiência e do conhecimento:
[...] Mas, nessa ocasião, a luta, de sangrenta e brutal que era se torna puramente intelectual.
O homem luta contra as dificuldades, não mais contra os seus semelhantes. 9
Há, da parte das instituições, grande preocupação com o desequilíbrio ambiental, com o crescimento demográfico e as desigualdades sociais, com a miséria, a criminalidade,
a corrupção. As medidas tópicas, de ordem econômica, tecnológica, muitas delas com a utilização da força bruta, não alcançam as verdadeiras causas do problema, que estão na ausência de educação moral do Espírito, educação essa que deve iniciar desde a infância como forma preventiva.
É possível colher os benefícios de uma vida sóbria, sem necessidade de agir com violência ou de destruir o próximo: “A vida é muito menos uma luta competitiva pela sobrevivência do que um triunfo da cooperação e da criatividade”. 10 Que o homem não se iluda: sem dominar a si mesmo, ele jamais dominará a Natureza.

Christiano Torchi
Reformador Março/2011

Referências:

1 XAVIER, Francisco C. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 17, it. Os animais – nossos parentes próximos, p. 122.
2 Disponível em: .Acesso em 28/11/ 2010.
3 XAVIER, Francisco C. Libertação. Pelo Espírito André Luiz. 31. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 1, p. 18.
4 Idem. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 86.
5 KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 52. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 3, it. 20.
6 TRIGUEIRO, André. Espiritismo e ecologia. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. Lei de destruição.
7 CALLIGARIS, Rodolfo. As leis morais. 15. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. A lei da destruição. Apud ROCHA, Cecília (Organizadora). Estudo sistematizado da doutrina espírita. Programa fundamental. Tomo 2. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Módulo 13, rot. 1, p. 99.
8 XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 88.

terça-feira, 1 de março de 2011

CARNAVAL

Chegou a hora de um novo carnaval, mas este que vai começar agora não será como os outros. Desta vez, a festa da carne já não será tão caracterizada pelo disfarce das fantasias, com as quais as potências malignas sempre se esmeraram em camuflar e colorir os seus mais temíveis propósitos. As máscaras não são mais tão necessárias, nem mesmo desejáveis. Agora a nudez é a norma, com toda a sua agressiva desfaçatez. Não apenas a nudez de corpos frenéticos, a nudez da carne soberana e sem freios, mas sobretudo a nudez dos pensamentos que se descobrem, acintosamente, sem qualquer pudor, na ostensiva clareza das pretensões mais abjetas.

Neste fim de tempos, com a permissão divina, para a necessária triagem, que vai finalmente separar o joio do trigo, o mal dispensa as velhas armaduras e não teme mostrar-se na completa arrogância da sua fria crueza.

O crime não escolhe mais nem hora, nem meios, nem ambientes, nem vitimas.

A festa que se prenuncia é de carne, mas de carne sangrenta, sofrida e humilhada, de carne em processo de franca decomposição, ainda antes do processo da morte física.

A violência já armou o seu cenário no grande palco do mundo e a função não tardará a começar, Nos bastidores da realidade, já começou, e dentro em pouco a cortina das conveniências será rasgada, para que o drama vingue, infrene, em toda a sua arrasadora plenitude.

A subida dos infernos é como o levantar-se do lodo dos abismos, que tolda todas as águas, antes de cristalina aparência. Não se poderia, no entanto, purificar verdadeiramente os mananciais, sem que o lodo do fundo fosse antes trazido à superfície, para ser então coado.

Os espíritos prevenidos, que tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, agirão como aquelas criaturas prudentes a que os Evangelhos se referem, ao invés de deixar-se arrastar pela correnteza das aluviões sem freio e sem rumo.

Depois das orgias e dos excessos, das violências e dos enganosos triunfos da força humana, virão as lágrimas redentoras e as penas merecidas, mas a noite se escoará, com todas as suas amarguras, nas claridades sublimes e definitivas da Nova Era Cristã.

É bem de ver que, para os discípulos leais a Jesus, as horas que se aproximem, tão ansiosamente aguardadas pelos gozadores e pelos velhacos, não serão de festa, mas de vigília, de jejum e de oração, de testemunhos de renúncia e de coragem.

Isso será, porém, altamente compensador, porque é vindo o momento anunciado em que os habitantes dos "vales" devem fugir para os "montes".

Em face da turbulência que se avizinha, nós vos almejamos muita paz ao coração. E enquanto os tambores, os clarins, as balas e os impropérios estiverem poluindo o ar da Terra, que haja no íntimo de nossas almas, a ecoar como música celeste, o som excelso das promessas de amor de Nosso pai.

Áureo(Espírito)

CIDADE MARAVILHOSA

A segunda capital do Brasil, Rio de Janeiro, é cantada e conhecida como a cidade maravilhosa. Aquela cheia de encantos mil.
E, verdadeiramente o é. Chegar àquela cidade e contemplar, à distância, o Cristo Redentor no alto do morro, é comovente.
E depois, se sucedem as praias, a natureza em total exuberância, a entrada da Baía de Guanabara, o mar beijando a orla...
Um verdadeiro encanto para quem tem olhos de ver e não se detém somente nas dificuldades que aquela metrópole, à semelhança de outras tantas, padece.
Talvez, por isso, aquele jovem de uma localidade do interior do Estado tenha se surpreendido, ao receber uma nota em que sua amiga se referia à cidade em que ele reside como maravilhosa.
Maravilhosa em quê?, redarguiu.
A cidade onde moro não é nenhuma metrópole, não tem nenhuma atração especial e o máximo que temos em beleza é a praça central, com alguns canteiros e bancos para desfrutar do sol.
A resposta que recebeu o deixou emocionado.
Amigo, para mim, o local onde moram os meus amigos, será sempre maravilhoso. Isso porque eu sei que, chegando ali, encontrarei as flores da amizade em ricos ramalhetes para me receber.
Sei que, passeando pelas ruas, poderei sentir o perfume dessa virtude que alimenta as nossas vidas exalando de cada coração.
Sei que, mesmo em dias de chuva e frio, encontrarei o calor dos seus abraços e o sol dos seus sorrisos.
Por isso, acredite, a sua cidade é maravilhosa. Ali residem você e outros tantos amigos, cujas fotos trago muito bem guardadas, no álbum do coração.
Quando viajo pelo mundo, quando chego às cidades onde ninguém me conhece e a ninguém conheço, tenho o cuidado de fechar os olhos e folhear esse precioso álbum.
As faces de cada um dos que residem nessa cidade passam pela minha memória e acalentam a minha soledade.
Sei então que não estou só. Os amigos distantes vibram por mim, me indagam de notícias, me enviam seu carinho em torpedos diários, em e.mails que chegam a horas perdidas da madrugada.
Existem sim, no mundo, localidades de espetacular beleza, que enchem os olhos com suas alamedas bem desenhadas, flores em abundância, jardins e praças esculturais.
Cidades que ofertam belezas naturais, com rios de águas cantantes, pontes de invejável arquitetura.
Cidades antigas que conservam o romantismo das ruelas estreitas, entre o casario de uma ou outra época. Cidades culturais, cidades modernas, de linhas arrojadas, edifícios que desafiam as alturas, monumentos extraordinários que honram a criatividade humana, sempre insuperável em suas manifestações.
Sim, já visitei muitas cidades e fotografei um número imenso de logradouros, museus, bibliotecas, pontes, riachos e concertos de cores da natureza.
Já fotografei obras de incalculável valor, que atestam como o homem é verdadeiramente esse ser que deixa seus traços de imortalidade nas expressões da arquitetura, da engenharia, da pintura, da escultura. Tantas e diversificadas concretizações da sua grandiosidade de filho de Deus.
Mas, de todas, a mais maravilhosa cidade das que já visitei, conheci, admirei é, sim, essa cidade onde estão os meus amigos.
Essa cidade onde estão os ramalhetes perfumados que me envolvem a alma em afagos, carinho e atenção.

Redação do Momento Espírita.
Em 01.03.2011.