quinta-feira, 29 de setembro de 2011

SOFRIMENTO DOS ESPÍRITOS


Sensações dos Espíritos (01)

Sofrem os Espíritos? Que sensações experimentam?

Tais questões nos são naturalmente dirigidas e vamos tentar resolvê-las. Inicialmente devemos dizer que, para isso, não nos contentamos com as respostas dos Espíritos. De certa maneira, através de numerosas observações, tivemos que considerar a sensação com o fato.

 Em uma de nossas reuniões, pouco depois que São Luís nos transmitiu a bela dissertação sobre a avareza, inserida em nosso número do mês de fevereiro, um de nossos associados narrou o seguinte fato, a propósito dessa mesma dissertação.

 “Estávamos ocupados de evocações numa pequena reunião de amigos quando se apresentou, inopinadamente e sem que o tivéssemos chamado, o Espírito de um homem que havíamos conhecido muito bem e que, quando vivo, poderia ter servido de modelo ao retrato do avarento, feito por São Luís: um desses homens que vivem miseravelmente no meio da fortuna e que se privavam, não pelos outros, mas para acumular sem proveito para ninguém. Era inverno, estávamos perto do fogo; de repente aquele Espírito lembrou-nos seu nome, no qual absolutamente não pensávamos, pedindo-nos permissão para vir, durante três dias, aquecer-se à nossa lareira, pois que sofria horrivelmente do frio que voluntariamente suportara durante a vida e que, por sua avareza, também fizera os outros suportar. Era um alívio que experimentaria, acrescentou, caso concordássemos com o pedido.”

 Aquele Espírito, pois, experimentava penosa sensação de frio; mas, como a experimentava? Eis aí a dificuldade. A esse respeito dirigimos a São Luís as seguintes perguntas:

– Consentiríeis em dizer-nos como esse Espírito de avarento, que não tinha mais o corpo material, podia sentir frio e pedir para se aquecer?

 Resp. – Podes representar os sofrimentos do Espírito pelos sofrimentos morais.

 – Concebemos os sofrimentos morais, como pesares, remorsos, vergonha; mas o calor e o frio, a dor física, não são efeitos morais; experimentariam os Espíritos tais sensações?

 Resp. – Tua alma sente frio? Não; mas tem consciência da sensação que age sobre o corpo.

 – Disso parece resultar que esse Espírito de avarento não sentia um frio real, mas a lembrança da sensação do frio que havia suportado e essa lembrança, tida por ele como realidade, tornava-se um suplício.

 Resp. – É mais ou menos isso. Fique bem entendido que há uma distinção, que compreendeis perfeitamente, entre a dor física e a dor moral; não se deve confundir o efeito com a causa.

 – Se bem entendemos, poderíamos ao que nos parece, explicar as coisas do seguinte modo: O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primeira desta é, pelo menos, a causa imediata. A alma tem a percepção da dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. De fato, nem o frio, nem o calor são capazes de desorganizar os tecidos da alma, que não é susceptível de congelar-se, nem de queimar-se. Não vemos todos os dias a recordação ou a apreensão de um mal físico produzirem o efeito desse mal, como se real fosse? Não as vemos até causar a morte? Toda gente sabe que aqueles cujos membros foram amputados costumam sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está à sede, ou, sequer, o ponto de partida da dor. O que há, apenas, é que o cérebro guardou esta impressão. Lícito, portanto, será admitir-se que coisa análoga ocorra nos sofrimentos do Espírito após a morte. Essas reflexões são justas?

 Resp. – Sim; mais tarde, porém, compreendereis melhor ainda. Esperai que novos fatos venham vos fornecer motivos de observação; deles tirareis conseqüências mais completas.

 Isso se passava no começo de 1858; desde então, com efeito, um estudo mais aprofundado do períspirito, que desempenha um papel tão importante em todos os fenômenos espíritas, e do qual não se tinha ainda conhecimento; as aparições vaporosas ou tangíveis; o estado do Espírito no momento da morte; a idéia, tão freqüente no Espírito, de que ainda está vivo; o quadro tão impressionante dos suicidas, dos supliciados, das pessoas que se deixaram absorver pelos prazeres materiais e tantos outros fatos mais, vieram projetar nova luz sobre essa questão e ensejaram explicações, cujo resumo faremos aqui.

 O períspirito é o laço que à matéria do corpo prende o Espírito, o qual o tira do meio ambiente, do fluido universal. Participa ao mesmo tempo da eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da matéria. É o princípio da vida orgânica, porém não o da vida intelectual, que reside no Espírito. É, além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo, os órgãos, servindo-lhes de condutos, localizam essas sensações. Destruído o corpo, elas se tornam gerais. Daí o Espírito não dizer que sofre mais da cabeça do que dos pés, ou vice-versa. Não se confundam, porém, as sensações do períspirito, que se tornou independente, com as do corpo. Estas últimas só por termo de comparação as podemos tomar e não por analogia. Um excesso de calor ou de frio pode desorganizar os tecidos do corpo, mas não pode causar nenhum dano ao períspirito. Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é corporal, embora não seja exclusivamente moral, como o remorso, pois que ele se queixa de frio e calor. Também não sofre mais no inverno do que no verão: temo-los visto atravessar chamas, sem experimentarem qualquer dor. Nenhuma impressão lhes causa, conseguintemente, a temperatura. A dor que sentem não é, pois, uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo, que o próprio Espírito nem sempre compreende bem, precisamente porque a dor não se acha localizada e porque não a produzem agentes exteriores; é mais uma reminiscência do que uma realidade, reminiscência, porém, igualmente penosa. Algumas vezes, entretanto, há mais do que isso, como vamos ver.

 Ensina-nos a experiência que, por ocasião da morte, o períspirito se desprende mais ou menos lentamente do corpo; que, durante os primeiros minutos depois da desencarnação, o Espírito não encontra explicação para a situação em que se acha. Crê não estar morto, por isso que se sente vivo; vê ao lado o corpo, sabe que lhe pertence, mas não compreende que esteja separado dele. Essa situação dura enquanto haja qualquer ligação entre o corpo e o períspirito. Que nos reportemos à evocação do suicida dos banhos da Samaritana que relatamos em nosso número do mês de junho. Como todos os outros, ele dizia: “Não, não estou morto.” E acrescentava: “No entanto, sinto os vermes a me corroerem.” Ora, indubitavelmente, os vermes não lhe roíam o períspirito e ainda menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. Como, porém, não era completa a separação do corpo e do períspirito, uma espécie de repercussão moral se produzia, transmitindo ao Espírito o que estava ocorrendo no corpo. Repercussão talvez não seja o termo próprio, porque pode induzir à suposição de um efeito muito material. Era antes a visão do que se passava com o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o períspirito, o que lhe causava a ilusão, que ele tomava por realidade. Assim, pois, não haveria no caso uma reminiscência, porquanto ele não fora, em vida, roído pelos vermes: havia o sentimento de um fato da atualidade. Isto mostra que deduções se podem tirar dos fatos, quando atentamente observados.

Durante a vida, o corpo recebe impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do períspirito, que constitui, provavelmente, o que se chama fluido nervoso. Uma vez morto, o corpo nada mais sente, por já não haver nele Espírito, nem períspirito. Este, desprendido do corpo, experimenta a sensação, porém, como já não lhe chega por um conduto limitado, ela se lhe torna geral. Ora, não sendo o períspirito, realmente, mais do que simples agente de transmissão, pois que no Espírito é que está à consciência, lógico será deduzir-se que, se pudesse existir períspirito sem Espírito, aquele nada sentiria exatamente como um corpo que morreu. Do mesmo modo, se o Espírito não tivesse períspirito, seria inacessível a toda e qualquer sensação dolorosa. É o que se dá com os Espíritos completamente purificados. Sabemos que quanto mais eles se purificam, tanto mais etérea se torna a essência do períspirito, donde se segue que a influência material diminui à medida que o Espírito progride, isto é, à medida que o próprio períspirito se torna menos grosseiro.

Mas, dir-se-á, desde que pelo períspirito é que as sensações agradáveis, da mesma forma que as desagradáveis, se transmitem ao Espírito, sendo o Espírito puro inacessível a umas, deve sê-lo igualmente às outras. Assim é, de fato, com relação às que provêm unicamente da influência da matéria que conhecemos. O som dos nossos instrumentos, o perfume das nossas flores nenhuma impressão lhe causam. Entretanto, ele experimenta sensações íntimas, de um encanto indefinível, das quais idéia alguma podemos formar, porque, a esse respeito, somos quais cegos de nascença diante da luz. Sabemos que isso é real; mas, por que meio se produz? Até lá não vai a nossa ciência. Sabemos que no Espírito há percepção, sensação, audição, visão; que essas faculdades são atributos do ser todo e não, como no homem, de uma parte apenas do ser; mas, de que modo ele as tem? Ignoramo-lo. Os próprios Espíritos nada nos podem informar sobre isso, por inadequada a nossa linguagem a exprimir idéias que não possuímos, do mesmo modo que numa população de cegos não haveria termos que exprimissem os efeitos da luz; o mesmo ocorre com respeito à língua dos selvagens, para traduzir idéias referentes às nossas artes, ciências e doutrinas filosóficas.

Dizendo que os Espíritos são inacessíveis à impressão da matéria que conhecemos, referimo-nos aos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não encontra analogia neste mundo.

 Outro tanto não acontece com os de períspirito mais denso, os quais percebem os nossos sons e odores, não, porém, apenas por uma parte limitada de suas individualidades, conforme lhes sucedia quando vivos. Pode-se dizer que, neles, as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o ser e lhes chegam assim ao sensorium commune, que é o próprio Espírito, embora de modo diverso e talvez, também, dando uma impressão diferente, o que modifica a percepção. Eles ouvem o som da nossa voz, entretanto nos compreendem sem o auxílio da palavra, somente pela transmissão do pensamento. Em apoio do que dizemos há o fato de que essa penetração é tanto mais fácil quanto mais desmaterializado está o Espírito. Pelo que concerne à vista, essa, para o Espírito, independe da luz, qual a temos. A faculdade de ver é um atributo essencial da alma, para quem a obscuridade não existe. É, contudo, mais extensa, mais penetrante nas mais purificadas. A alma, ou o Espírito tem, pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções. Estas, na vida corpórea, se obliteram pela grosseria dos órgãos do corpo; na vida extracorpórea, se vão desanuviando, à proporção que o invólucro sem imaterial se eteriza.

 Haurido no meio ambiente, esse invólucro varia de acordo com a natureza dos mundos. Ao passarem de um mundo a outro, os Espíritos mudam de envoltório, como nós mudamos de roupa, quando passamos do inverno ao verão, ou do pólo ao equador. Quando vêm visitar-nos, os mais elevados se revestem do períspirito terrestre e então suas percepções se produzem como no comum dos Espíritos. Todos, porém, assim os inferiores como os superiores, não ouvem, nem sentem, senão o que queiram ouvir ou sentir. Não possuindo órgãos sensitivos, eles podem, livremente, tornar ativas ou nulas suas percepções. Uma só coisa é obrigada a ouvir – os conselhos dos Espíritos bons. A vista, essa é sempre ativa; mas, eles podem fazer-se invisíveis uns aos outros. Conforme a categoria que ocupem, podem ocultar-se dos que lhes são inferiores, porém não dos que lhes são superiores. Nos primeiros instantes que se seguem à morte, a visão do Espírito é sempre turbada e confusa.

 Aclara-se, à medida que ele se desprende, e pode alcançar a nitidez que tinha durante a vida terrena, independentemente da possibilidade de penetrar através dos corpos que nos são opacos. Quanto à sua extensão através do espaço infinito, no passado e no futuro, vai depender do grau de pureza e de elevação do Espírito.

 Objetarão, talvez: toda esta teoria nada tem de tranqüilizadora. Pensávamos que, uma vez livres do nosso grosseiro envoltório, instrumento das nossas dores, não mais sofreríamos e eis que nos informais que ainda sofreremos. Desta ou daquela forma, será sempre sofrimento. Ah! Sim, pode dar-se que continuemos a sofrer, e muito, e por longo tempo, mas também que deixemos de sofrer, até mesmo desde o instante em que se nos acabe a vida corporal.

 Os sofrimentos deste mundo independem, algumas vezes, de nós; muito mais vezes, contudo, são devidos à nossa vontade. Remonte cada um à origem deles e verá que a maior parte de tais sofrimentos são efeitos de causas que lhe teria sido possível evitar. Quantos males, quantas enfermidades não deve o homem aos seus excessos, à sua ambição, numa palavra: às suas paixões? Aquele que sempre vivesse com sobriedade, que de nada abusasse, que fosse sempre simples nos gostos e modesto nos desejos, a muitas tribulações se forraria. O mesmo se dá com o Espírito. Os sofrimentos por que passa são sempre a conseqüência da maneira por que viveu na Terra. Certo já não sofrerá de gota, nem de reumatismo; no entanto, experimentará outros sofrimentos que nada ficam a dever àqueles. Vimos que seu sofrer resulta dos laços que ainda o prendem à matéria; que quanto mais livre estiver da influência desta, ou por outra, quanto mais desmaterializado se achar, menos dolorosas sensações experimentará. Ora, está nas suas mãos libertar-se de tal influência desde a vida atual. Ele tem o livre-arbítrio, tem, por conseguinte, a faculdade de escolha entre o fazer e o não fazer. Dome suas paixões animais; não alimente ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho; não se deixe dominar pelo egoísmo; purifique-se, nutrindo bons sentimentos; pratique o bem; não ligue às coisas deste mundo importância que não merecem; e, então, embora revestido do invólucro corporal, já estará depurado, já estará liberto do jugo da matéria e, quando deixar esse invólucro, não mais lhe sofrerá a influência. Nenhuma recordação dolorosa lhe advirá dos sofrimentos físicos que haja padecido; nenhuma impressão desagradável eles lhe deixarão, porque apenas terão atingido o corpo e não a alma. Sentir-se-á feliz por se haver libertado deles e a paz da sua consciência o isentará de qualquer sofrimento moral.

 Interrogamos, aos milhares, Espíritos que na Terra pertenceram a todas as classes da sociedade, ocuparam todas as posições sociais; estudamo-los em todos os períodos da vida espírita, a partir do momento em que abandonaram o corpo; acompanhamo-los passo a passo na vida de além-túmulo, para observar as mudanças que se operavam neles, nas usas idéias, nos seus sentimentos e, sob esse aspecto, não foram os que aqui se encontraram entre os homens mais vulgares os que nos proporcionaram menos preciosos elementos de estudo. Ora, notamos sempre que os sofrimentos guardavam relação com o proceder que eles tiveram e cujas conseqüências experimentavam; que a outra vida é fonte de inefável ventura para os que seguiram o bom caminho. Deduz-se daí que, aos que sofrem isso acontece porque quiseram; que, portanto, só de si mesmos devem queixar-se, quer neste, quer no outro mundo.

 Certos críticos ridicularizaram algumas de nossas evocações, por exemplo, a do assassino Lemaire, achando singular que nos ocupássemos de seres assim tão ignóbeis, quando temos tantos Espíritos superiores à nossa disposição. Esquecem que é justamente por isso que, de alguma sorte, apreendemos a natureza do fato, ou, melhor dizendo, em sua ignorância da ciência espírita eles não vêem nesses diálogos senão uma conversa divertida, da qual não compreendem o alcance. Lemos em algum lugar que um filósofo dizia, depois de se entreter com um camponês: “Aprendi muito mais com este homem simplório do que com todos os sábios.” É que ele era capaz de perceber algo além da superfície. Para o observador nada é perdido, encontrando ensinamentos até mesmo no criptógamo que cresce no adubo. Recusa-se o médico a tocar numa ferida horrenda, quando se trata de aprofundar a causa do mal?

 Acrescentemos ainda uma palavra sobre o assunto. Os sofrimentos de além-túmulo têm um termo; sabemos que ao mais inferior dos Espíritos é dado o ensejo de elevar-se e purificar-se através de novas provas; isso pode ser demorado, muito demorado, mas depende de cada um abreviar esse tempo penoso, porquanto Deus o escuta sempre, desde que se submeta à sua vontade. Quanto mais desmaterializado é o Espírito, tanto mais vastas e lúcidas são as suas percepções; quanto mais está sob o domínio da matéria, o que depende inteiramente de seu gênero de vida terrestre, mais elas serão limitadas e veladas; quanto mais à visão moral de um se estende para o infinito, tanto mais restrita é a do outro. Os Espíritos inferiores têm apenas uma noção vaga, confusa, incompleta e muitas vezes nula do futuro; como não vislumbram o termo de seus sofrimentos, acreditam que sofrerão sempre, o que, para eles, ainda é um castigo. Se a posição de uns é aflitiva, terrível mesmo, não é, por isso, desesperadora; a dos outros é eminentemente consoladora. Cabe, pois, a nós escolher: isto é da mais elevada moralidade. Os cépticos duvidam da sorte que nos aguarda após a morte; nós lhes mostramos o que há, acreditando ter-lhes prestado um serviço. Assim, vimos mais de um deles recuar de seu erro ou, pelo menos, refletir sobre aquilo que antes censurava. Nada como nos darmos conta da possibilidade das coisas. Se tivesse sido sempre assim, não haveria tantos incrédulos e a religião e a moral só teria a ganhar. Entre muitos, a dúvida religiosa não procede senão da dificuldade que têm em compreender certas coisas; são Espíritos positivos, não organizados para a fé cega, que só admitem aquilo que, para eles, tem uma razão de ser. Tornai as coisas acessíveis à sua inteligência e eles as aceitarão, porque, no fundo, não pedem mais do que isso para crerem, e porque a dúvida lhes é uma situação mais penosa do que imaginamos e do que eles gostariam de admitir.

De tudo o que foi dito não há absolutamente um sistema, nem idéias pessoais; nem mesmo foram alguns Espíritos privilegiados que nos ditaram essa teoria: trata-se do resultado de estudos feitos sobre as individualidades, corroborados e confirmados pelos Espíritos, cuja linguagem não pode deixar dúvida sobre sua superioridade. Julgamo-los por suas palavras, e não pelo nome que carregam ou que se podem atribuir.



REVISTA ESPÍRITA, dezembro de 1858.



(01) N. do T.: Vide O Livro dos Espíritos – Livro II – capítulo VI – item 257: Ensaio teórico sobre a sensação dos Espíritos.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011


 Há dias que parecem não ter sido feitos para ti.
Amontoam-se tantas dificuldades, inúmeras frustrações e incontáveis aborrecimentos, que chegas a pensar que conduzes o globo do mundo sobre os ombros dilacerados.
Desde cedo, ao te ergueres do leito, pela manhã, encontras a indisposição moral do companheiro ou da companheira, que te arremessa todos os espinhos que o mau humor conseguiu acumular ao longo da noite.
Sentes o travo do fel despejado em tua alma, mas crês que tudo se modificará nos momentos seguintes.
Sais à rua, para atender a esse ou àquele compromisso cotidiano, e te defrontas com a agrestia de muitos que manejam veículos nas vias públicas e que os convertem em armas contra os outros; constatas o azedume do funcionário ou do balconista que te atende mal, ou vês o cinismo de negociantes que anseiam por te entregar produtos de má qualidade a preços exorbitantes, supondo-te imbecil. Mesmo assim, admites que, logo, tudo se alterará, melhorando as situações em torno.
Encontras-te com familiares ou pessoas amigas que te derramam sobre a mente todo o quadro dos problemas e tragédias que vivenciam, numa enxurrada de tormentos, perturbando a tua harmonia ainda frágil, embora não te permitam desabafar as tuas angústias, teus dramas ou tuas mágoas represadas na alma. Em tais circunstâncias, pensas que deves aguardar que essas pessoas se resolvam com a vida até um novo encontro.
São esses os dias em que as palavras que dizes recebem negativa interpretação, o carinho que ofereces é mal visto, tua simpatia parece mero interesse, tuas reservas são vistas como soberba ou má vontade. Se falas, ou se calas, desagradas.
Em dias assim, ainda quando te esforces por entender tudo e a todos, sofres muito e a costumeira tendência, nessas ocasiões, é a da vitimação automática, quando se passa a desenvolver sentimentos de auto piedade.
No entanto, esses dias infelizes pedem-nos vigilância e prece fervorosa, para que não nos percamos nesses cipoais de pensamentos, de sentimentos e de atitudes perturbadores.
São dias de avaliação, de testes impostos pelas regentes leis da vida terrena, desejosas de que te observes e verifiques tuas ações e reações à frente das mais diversas situações da existência.
Quando perceberes que muita coisa à tua volta passa a emitir um som desarmônico aos teus ouvidos; se notares que escolhendo direito ou esquerdo não escapas da ácida crítica, o teu dever será o de te ajustares ao bom senso. Instrui-te com as situações e acumula o aprendizado das horas, passando a observar bem melhor as circunstâncias que te cercam, para que melhor entendas, para que, enfim, evoluas.
Não te olvides de que ouvimos a voz do Mestre Nazareno, há distanciados dois milênios, a dizer-nos: No mundo só tereis aflições...
Conhecedores dessa realidade, abrindo a alma para compreender que a cada dia basta o seu mal..., tratarás de te recompor, caso tenhas te deixado ferir por tantos petardos, quando o ideal teria sido agir como o bambuzal diante da ventania. Curvar-se, deixar passar o vendaval, a fim de te reergueres com tranqüilidade, passado o momento difícil.
Há, de fato, dias difíceis, duros, caracterizando o teu estádio de provações indispensáveis ao teu processo de evolução. A ti, porém, caberá erguer a fronte buscando o rumo das estrelas formosas, que ao longe brilham, e agradecer a Deus por poderes afrontar tantos e difíceis desafios, mantendo-te firme, mesmo assim.
Nos dias difíceis da tua existência, procura não te entregares ao pessimismo, nem ao lodo do derrotismo, evitando alimentar todo e qualquer sentimento de culpa, que te inspirariam o abandono dos teus compromissos, o que seria teu gesto mais infeliz.
Põe-te de pé, perante quaisquer obstáculos, e sê fiel aos teus labores, aos deveres de aprender, servir e crescer, que te trouxeram novamente ao mundo terrestre.
Se lograres a superação suspirada, nesses dias sombrios para ti, terás vencido mais um embate no rol dos muitos combates que compõem a pauta da guerra em que a Terra se encontra engolfada.
Confia na ação e no poder da luz, que o Cristo representa, e segue com entusiasmo para a conquista de ti mesmo, guardando-te em equilíbrio, seja qual for ou como for cada um dos teus dias.
Sentes o travo do fel despejado em tua alma, mas crês que tudo se modificará nos momentos seguintes.
Sais à rua, para atender a esse ou àquele compromisso cotidiano, e te defrontas com a agrestia de muitos que manejam veículos nas vias públicas e que os convertem em armas contra os outros; constatas o azedume do funcionário ou do balconista que te atende mal, ou vês o cinismo de negociantes que anseiam por te entregar produtos de má qualidade a preços exorbitantes, supondo-te imbecil. Mesmo assim, admites que, logo, tudo se alterará, melhorando as situações em torno.
Encontras-te com familiares ou pessoas amigas que te derramam sobre a mente todo o quadro dos problemas e tragédias que vivenciam, numa enxurrada de tormentos, perturbando a tua harmonia ainda frágil, embora não te permitam desabafar as tuas angústias, teus dramas ou tuas mágoas represadas na alma. Em tais circunstâncias, pensas que deves aguardar que essas pessoas se resolvam com a vida até um novo encontro.
São esses os dias em que as palavras que dizes recebem negativa interpretação, o carinho que ofereces é mal visto, tua simpatia parece mero interesse, tuas reservas são vistas como soberba ou má vontade. Se falas, ou se calas, desagradas.
Em dias assim, ainda quando te esforces por entender tudo e a todos, sofres muito e a costumeira tendência, nessas ocasiões, é a da vitimação automática, quando se passa a desenvolver sentimentos de auto piedade.
No entanto, esses dias infelizes pedem-nos vigilância e prece fervorosa, para que não nos percamos nesses cipoais de pensamentos, de sentimentos e de atitudes perturbadores.
São dias de avaliação, de testes impostos pelas regentes leis da vida terrena, desejosas de que te observes e verifiques tuas ações e reações à frente das mais diversas situações da existência.
Quando perceberes que muita coisa à tua volta passa a emitir um som desarmônico aos teus ouvidos; se notares que escolhendo direito ou esquerdo não escapas da ácida crítica, o teu dever será o de te ajustares ao bom senso. Instrui-te com as situações e acumula o aprendizado das horas, passando a observar bem melhor as circunstâncias que te cercam, para que melhor entendas, para que, enfim, evoluas.
Não te olvides de que ouvimos a voz do Mestre Nazareno, há distanciados dois milênios, a dizer-nos: No mundo só tereis aflições...
Conhecedores dessa realidade, abrindo a alma para compreender que a cada dia basta o seu mal..., tratarás de te recompor, caso tenhas te deixado ferir por tantos petardos, quando o ideal teria sido agir como o bambuzal diante da ventania. Curvar-se, deixar passar o vendaval, a fim de te reergueres com tranqüilidade, passado o momento difícil.
Há, de fato, dias difíceis, duros, caracterizando o teu estádio de provações indispensáveis ao teu processo de evolução. A ti, porém, caberá erguer a fronte buscando o rumo das estrelas formosas, que ao longe brilham, e agradecer a Deus por poderes afrontar tantos e difíceis desafios, mantendo-te firme, mesmo assim.
Nos dias difíceis da tua existência, procura não te entregares ao pessimismo, nem ao lodo do derrotismo, evitando alimentar todo e qualquer sentimento de culpa, que te inspirariam o abandono dos teus compromissos, o que seria teu gesto mais infeliz.
Põe-te de pé, perante quaisquer obstáculos, e sê fiel aos teus labores, aos deveres de aprender, servir e crescer, que te trouxeram novamente ao mundo terrestre.
Se lograres a superação suspirada, nesses dias sombrios para ti, terás vencido mais um embate no rol dos muitos combates que compõem a pauta da guerra em que a Terra se encontra engolfada.
Confia na ação e no poder da luz, que o Cristo representa, e segue com entusiasmo para a conquista de ti mesmo, guardando-te em equilíbrio, seja qual for ou como for cada um dos teus dias.

Camilo Castelo Branco

domingo, 25 de setembro de 2011

A HORA DE SERVIR (*)

Nestes dias gloriosos, assinalados por tremendos conflitos no âmago da criatura humana; nesta hora em que todos somos convocados à solidariedade cristã, deveremos descruzar os braços para utilizar as armas do amor, construindo um mundo melhor de paz e de caridade pelo qual todos anelamos.

Ouvistes, durante estes dias, as vozes espirituais que desceram sobre vós outros, como no Pentecostes recuado...

Médiuns expositores, lavradores da seara de Jesus, apresentaram-se aqui para falar da era nova da imortalidade.

Acompanhastes as suas mensagens com sorrisos e com emoções!

Aplaudistes o verbo inflamado dos oradores, dos expositores, dos que desenvolveram os seminários.

Anotastes na mente e no coração os conteúdos profundos em torno da imortalidade.

Encontrai-vos ricos de informações...

...E agora, quando vos preparais para retornar ao dia-a-dia, ao labor de toda hora, aplicai, aplicai as lições profundas de sabedoria, de misericórdia e de amor.

Sois os embaixadores da Era Nova!

Jesus elegeu aqueles setenta da Galiléia e os mandou dois a dois, para que divulgassem o reino.

Agora vos conclama a todos vós, para que proclameis o reino da concórdia, a era da misericórdia, o momento da construção do mundo novo.

Não tergiverseis, não vos permitais a sintonia com a onda avassaladora que toma conta da Terra nesta transição de loucura.

Por certo, as aflições tendem a piorar e o homem moderno, rico de tecnologia e pobre de amor, sentirá falta das questões simples, da amizade pulcra, da bondade fraternal, do sorriso espontâneo, e terá que fazer a viagem de volta, infelizmente, através das lágrimas.

Evitai, portanto, que isso aconteça, e semeai a esperança, a alegria de viver, a irrestrita confiança em Deus que nos orienta através de Jesus, que prossegue conosco até o fim.

Ele disse que nunca nos deixaria órfãos.

Os Seus embaixadores estão entre nós, conosco, e auxiliam-nos na grande arrancada para  o mundo de regeneração.

Filhos e filhos e filhos, filhas e filhas e filhas da alma: amai, não vos importe a ausência da resposta do amor por enquanto.

Disputai a honra de amar.

Sede vós aqueles que semeiam os formosos dias do porvir, exultando pela honra de haverdes sidos convidados à hora última para a seara do bem.

Em nome dos Espíritos-espíritas que aqui têm estado durante esta Semana e dos Benfeitores que a todos nos ajudam, suplicamos a Deus e a Jesus que nos abençoem, que nos dêem a Sua paz.

São os votos do servidor humílimo e paternal.



Bezerra.





Mensagem psicofônica ditada pelo Espírito Adolfo Bezerra de Menezes, por intermédio do médium Divaldo Pereira Franco, no momento do encerramento da sua conferência de clausura da 58ª. Semana Espírita de Vitória da Conquista, no dia 11 de setembro de 2011.




(*) Revisada e corrigida pelo autor espiritual.

Nota do médium. 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A RESPONSABILIDADE DOS ESPÍRITAS

 


O Cristianismo autêntico baseia-se no Amor a Deus e ao próximo, como ensinou o Cristo.

Na doutrina cristã, a Fé identifica-se com a Verdade, de tal forma que a fuga à realidade torna-se incompatível com a Fé verdadeira.

Se uma doutrina que se diz cristã divorcia-se das realidades dos fatos e da razão, a fé que ela inspira compromete-se e enfraquece-se naturalmente.

A Doutrina Espírita não foge à s bases ensinadas pelo Cristo de Deus, desdobrando-as e interpretando-as com as revelações do Espírito de Verdade e da plêiade de Espíritos que se propuseram trazer à Humanidade os conhecimentos novos a que ela faz jus.

O progresso da Humanidade não pode resumir-se no conhecimento científico e na variada aplicação tecnológica dele derivada.

A verdadeira evolução humana fundamenta-se no conhecimento, sim, conjugado à s leis de amor, de justiça e de caridade, que resumem todas as leis morais.

A grande força do Espiritismo está na sua abrangência e na resposta que dá às interrogações do homem, em todos os tempos: de onde vem; para onde vai; o que significa a vida atual.

A certeza da vida futura é demonstrada experimentalmente.

A filosofia espírita é baseada em fatos. Ela demonstra e aceita verdades já conhecidas no passado, aclarando-as com os novos conhecimentos revelados. É o que ocorre com a doutrina da reencarnação, ou das vidas sucessivas, hoje percebida em sua lógica a serviço da justiça divina.

As interpretações literais de muitos escritos antigos e as idéias pessoais de fundadores de religiões tradicionais influenciaram poderosamente na concepção de doutrinas e informações inteiramente divorciadas da realidade.

É o caso das concepções de céu, de inferno, das penas eternas, do Deus trino da Santíssima Trindade e de tantos dogmas impróprios que fazem parte das religiões.

O Espiritismo, como o Consolador, procura repor a realidade, retificar os desvios, identificar a verdade, evitar as ilusões.

Por isso mesmo, sua aceitação e sua prática no mundo áspero e rebelde dos homens não será nem fácil, nem rápida. Pelo contrário, há necessidade de tempo, de paciência, de compreensão, de parte de sucessivas gerações, para que a idéia espírita seja implantada por toda parte, independentemente das barreiras religiosas, raciais, lingüísticas, institucionais.

O progresso, no sentido do bem e do aperfeiçoamento, aplica-se a todos os indivíduos, povos e civilizações. Não há dúvida de que o futuro reserva melhores condições de vida para todos os habitantes da Terra.

Mas, nas condições atuais do mundo em que vivemos, com a presença predominante de três fatores negativos

– ignorância das leis divinas, orgulho e egoísmo

– não têm os homens possibilidade de previsão de quando, em que tempo, ocorrerá a regeneração da Humanidade, já que o progresso coletivo tem como fundamento essencial a transformação individual, intelectual e moral.

Diante da civilização do terceiro milênio da Era Cristã já se notam sinais de melhoria nas relações entre os povos. Diminuem as barreiras que antes os separavam.

Acertaram-se tratados internacionais para a proscrição de várias determinantes de guerras, depois das duas hecatombes ocorridas na primeira metade do século XX.

Por outro lado, a Organização das Nações Unidas, organização que reflete o idealismo de boa parte da Humanidade, esforça-se contra toda espécie de conflitos, procura defender as condições ambientais em favor das futuras gerações, chama a atenção dos povos e nações para o problema da pobreza e da miséria, que podem ser desde já proscritas do mundo, e procura aproximar as religiões para a prática comum dos princípios que implicam compreensão, solidariedade, cooperação e não-violência, entre todos os homens, o que corresponde à prática do amor nas relações humanas.

Há, portanto, sinais positivos de um mundo melhor.

Mas, de outro lado, o atraso moral da maioria dos habitantes da Terra provoca conflitos armados de graves conseqüências, com o emprego da tecnologia para a destruição. O ódio entre grupos religiosos e raciais ainda subsiste neste mundo contraditório.

O progresso dos povos demonstra a justiça da lei divina da reencarnação.

Com a pluralidade das existências as vantagens do progresso geral aproveita a todos, podendo gozar das novas condições de vida os que não as conheceram em existências anteriores.

Diariamente morrem e renascem milhares de criaturas nas diversas regiões do mundo. Ao cabo de um milênio renovam-se costumes, hábitos e muitas concepções.

É evidente que o renascimento do Espírito em novas condições vai proporcionar-lhe o progresso que não lhe foi possível antes.

Assim, quando todos os povos estiverem em nível adiantado de sentimentos, os terrícolas terão substituído o egoísmo e orgulho, que ora os caracteriza, pela solidariedade, pela compreensão e pela simpatia.

Será o tempo da Terra regenerada, habitada por Espíritos fraternalmente unidos, onde os maus e egoístas, sentindo-se repelidos, procurarão mundos adequados às suas condições morais.

Sendo incontestável o progresso humano, bastando, para percebê-lo, a comparação de dois períodos distanciados no tempo, por exemplo, a época atual com os séculos passados, não há que duvidar que o futuro reserva a toda a Humanidade melhores dias.

Já que o progresso intelectual, pelos descobrimentos da ciência, é fato notório e incontestável, resta aos homens buscar a segurança e o equilíbrio em suas relações sociais, pelo avanço no campo moral.

A fase nova de um progresso moral mais acentuado para os habitantes deste Planeta já começou, neste largo período de transição em que tem havido melhor compreensão da vida por aqueles que já conseguem ver além de uma existência terrena.

São os idealistas espalhados pelos diversos grupamentos religiosos do Mundo que crêem firmemente na existência de uma Inteligência Suprema e Criadora de todas as coisas, que têm a certeza da imortalidade da Essência Espiritual e da sua evolução contínua no sentido do Bem.

A Espiritualidade Superior, sob a orientação do Governador deste orbe, através de um corpo de idéias claras e sintéticas, englobando conhecimentos antigos e atuais, intui, inspira, ensina e apóia o progresso moral da Humanidade.

É o Espiritismo a Doutrina Consoladora do Cristo de volta à Terra orientando os que estão à procura da Verdade e da própria felicidade.

A felicidade, individual e coletiva, nesta vida e na futura, é um dos segredos da força das idéias espíritas. Outra parcela dessa força é a fundamentação lógica e realista das informações e revelações que vieram com o Consolador, pondo à mostra as leis divinas, imutáveis e justas.

A certeza da responsabilidade individual, na prática do bem ou do mal, afasta inúmeras ilusões criadas por concepções humanas, como a salvação pelo “sangue do Cristo”, pela “doutrina da graça”, pela indulgência comprada e tantas outras de favorecimento ao erro, praticado conscientemente na vida terrestre.

A responsabilidade dos espíritas, nesta fase de transição em que vive a Humanidade, é enorme.

Em primeiro lugar porque, ao conhecer a Doutrina e verificar a realidade e as firmes bases em que se assenta, cumpre ao espírita não somente o conhecimento doutrinário, mas a prática, a vivência das normas e leis que se apóiam em revelações superiores e não em teorias e conceitos humanos.

Em segundo lugar, o conhecimento da Verdade impõe-lhe o dever de divulgar todo o conhecimento adquirido, para que outras criaturas que estejam em condições de beneficiarem-se não se privem dela.

A divulgação da Doutrina Espírita, entretanto, pela razão mesma de sua natureza, há que obedecer a critérios éticos e morais compatíveis com seus próprios princípios e postulados.

Nesse caso, a tecnologia moderna, a mídia, os múltiplos sistemas de comunicação oral e escrita podem e devem ser utilizados, evitando-se, entretanto, os excessos de marketing e os apelos ao proselitismo puro e simples.

Como conclama o luminoso Espírito Bezerra de Menezes, dirigindo-se especialmente aos espíritas:

“Nós, vossos amigos espirituais, aqui estamos de pé, em intercâmbio convosco, para apressarmos o grande momento da fraternidade universal, para construirmos a civilização justa, onde os fatores de perturbações sociais, econômicas, desapareçam diante da grandeza moral dos postulados avançados. Ide, servidores da Boa Nova! Cantai a música da Nova Era.”





Juvanir Borges de Souza

Reformador de dezembro, 1995, p. 357.



 ·                        Fonte: Palavras de Bezerra de Menezes no encerramento do 1o Congresso Espírita Mundial – Médium Divaldo P. Franco.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

AOS QUE AINDA SE ACHAM NAS SOMBRAS DO MUNDO


23 de Abril de 1935

Antigamente eu escrevia nas sombras para os que se conservavam nas claridades da Vida.

Hoje, escrevo na luz branca da espiritualidade para quantos ainda se acham mergulhados nas sombras do mundo. Quero crer, porém que tão dura tarefa me foi imposta nas mansões da Morte, como esquisita penitência ao meu bom gosto de homem que colheu quando pôde dos frutos saborosos na árvore paradisíaca dos nossos primeiros pais, segundo as Escrituras.

Contudo não desejo imitar aquele velho Tirésias que à força de proferir alvitres e sentenças conquistou dos deuses o dom divinatório em troca dos preciosos dons da vista.

Por esta razão o meu pensamento não se manifesta entre vocês que aqui acorreram para ouvi-lo como o daquelas entidades batedoras, que em Hydesville, na América do Norte, por intermédio das irmãs Fox, viviam nos primórdios do Espiritismo, contando histórias e dando respostas surpreendentes com as suas pancadas ruidosas e alegres.

Devo também esclarecer ao sentimento de curiosidade que os tangeu até aqui, que não estou exercendo ilegalmente a medicina como a grande parte dos defuntos, os quais, hoje em dia, vivem diagnosticando e receitando mezinhas e águas milagrosas para os enfermos.

Tampouco, na minha qualidade de repórter “falecido” sou portador de alguma mensagem sensacional dos paredros comunistas que já se foram dessa vida para a melhor, êmulos dos Lenine, dos Kropotkine, cujos cérebros, a esta hora, devem estar transbordando teorias momentosas para o instante amargo que o mundo está vivendo.

O objetivo das minhas palavras póstumas é somente demonstrar o homem... desencarnado e a imortalidade dos seus atributos. O fato é que vocês não me viram.

Mas contem lá fora eu enxergaram o médium. Não afirmam que ele se parece com o Mahatma Gandhi em virtude de lhe faltar uma tanga, uma cabra e a experiência “anosa” do “líder” nacionalista da Índia. Mas historiem, com sinceridade, o caso das suas roupas remendadas e tristes de proletário e da sua pobreza limpa e honesta que anda por esse mundo arrastando tamancos para a remissão de suas faltas nas anteriores encarnações.

Quanto a mim, digam que eu estava por detrás do véu de Ísis.

Mesmo assim, na minha condição de intangibilidade, não me furto ao desejo de lhes contar algo a respeito desta “outra vida” para onde todos têm de regressar. Se não estou nos infernos de que fala a teologia dos cristãos, não me acho no sétimo paraíso de Maomé. Não sei contar as minhas aperturas na amarga perspectiva de completo abandono em que me encontrei, logo após abrir os meus olhos no reino extravagante da Morte. Afigurou-se-me que eu ia, diretamente consignado ao Aqueronte, cujas águas amargosas deveria transpor como as sombras para nunca mais voltar, porque não cheguei a presenciar nenhuma luta entre São Gabriel e os Demônios, com as suas balanças trágicas, pela posse de minha alma.

Passados, porém, os primeiros instantes de “inusitado” receio, divisei a figura miúda e simples do meu Tio Antoninho, que me recebeu nos seus braços carinhosos de santo.

Em companhia, pois, de afeições ternas, no reconto fabuloso, que é a minha temporária morada, ainda estou como aparvalhado entre todos os fenômenos da sobrevivência. Ainda não cheguei a encontrar os sóis maravilhosos, as esferas, os mundos comentários, portentos celestes, que descreve Flammarion na sua “Pluralidade dos Mundos”. Para o meu espírito, a Lua ainda prossegue na sua carreira como esfinge eterna do espaço, embuçada no seu burel de freira morta.

Uma saudade doida e uma ânsia sem termo fazem um turbilhão no meu cérebro: é a vontade de rever, no reino das sombras, o meu pai e a minha irmã. Ainda não pude fazê-lo. Mas em um movimento de maravilhosa retrospecção pude volver à minha infância, na Miritiba longínqua. Revi as suas velhas ruas, semi-arruinadas pelas águas do Piriá e pelas areias implacáveis... Revi os dias que se foram e senti novamente a alma expansiva de meu pai como um galho forte e alegre do tronco robusto dos Veras à minha frente, nos quadros vivos da memória, abracei a minha irmãzinha inesquecida, que era em nossa casa modesta como um anjo pequenino da Assunção de Murilo, que se tivesse corporificado de uma hora para outra sobre as lamas da terra...

Descansei à sombra das árvores largas e fartas, escutando ainda as violas caboclas, repinicando os sambas da gente das praias nortistas e que tão bem ficaram arquivadas na poesia encantadora e simples de Juvenal Galeno.

Da Miritiba distante transportei-me à Parnaíba, onde vibrei com o meu grande mundo liliputiano... Em espírito, contemplei com a minha mãe as folhas enseivadas do meu cajueiro derramando-se na Terra entre as harmonias do canto choroso das rolas morenas dos recantos distantes de minha terra.

De almas entrelaçadas contemplei o vulto de marfim antigo daquela santa que, como um anjo, espalmou muitas vezes sobre o meu espírito cansado as suas asas brancas. Beijei-lhe as mãos encarquilhadas genuflexo e segurei as contas do seu rosário e as contas miúdas e claras que corriam furtivamente dos seus olhos, acompanhando a sua oração...

Ave Maria... Cheia de graça... Santa Maria... Mãe de Deus...

Ah! de cada vez que o meu olhar se espraia tristemente sobre a superfície do mundo, volvo a minha alma aos firmamentos, tomada de espanto e de assombro... Ainda há pouco, nas minhas surpresas de recém-desencarnado, encontrei na existência dos espaços, onde não se contam as horas, uma figura de velho, um espírito ancião, em cujo coração milenário presumo refugiadas todas as experiências. Longas barbas de neve, olhos transudando piedade infinita doçura, da sua fisionomia de Doutor da Lei, nos tempos apostólicos, irradiava-se uma corrente de profunda simpatia.

- Mestre! – disse-lhe eu na falta de outro nome – que podemos fazer para melhorar a situação do orbe terreno? O espetáculo do mundo me desola e espanta... A família parece se dissolve... o lar está balançando como os frutos podres, na iminência de cair... a Civilização, com os seus numerosos séculos de leis e instituições afigura-se haver tocado os seus apogeus... De um lado existem os que se submergem num gozo aparente e fictício, e do outro estão as multidões famintas, aos milhares, que não têm senão rasgado no peito o sinal da cruz, desenhado por Deus com a suas mãos prestigiosas como os símbolos que Constantino gravara nos seus estandartes... E, sobretudo Mestre, é a perspectiva horrorosa da guerra...

Não há tranqüilidade e a Terra parece mais um fogareiro imenso, cheio de matérias em combustão...

Mas o bondoso espírito-ancião me respondeu com humildade e brandura:

- Meu filho... Esquece o mundo e deixa o homem guerrear em paz!...

Achei graça no seu paradoxo, porém só me resta acrescentar:

- Deixem o mundo em paz com a sua guerra e a sua indiferença!

Não será minha boca quem vá soprar na trombeta de Josafá. Cada um guarde aí a sua crença ou o seu preconceito.



Irmão X

Livro Crônicas de Além Túmulo

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

ABORTO


PERGUNTA: Reconhecendo-se que os crimes do aborto provocado criminosamente surgem, em esmagadora maioria, nas classes mais responsáveis da comunidade terrestre, como identificar o trabalho expiatório que lhes diz respeito, se passam quase totalmente despercebidos da justiça humana?



RESPOSTA DE ANDRÉ LUIZ:

Temos no Plano Terrestre cada povo com seu código penal apropriado à evolução em que se encontra, mas, considerando o universo em sua totalidade como o Reino Divino, vamos encontrar o Bem do Criador para todas as criaturas, como Lei Básica, cujas transgressões deliberadas são corrigidas no próprio infrator, com o objetivo natural de conseguir-se, em cada círculo de trabalho no Campo Cósmico, o máximo de equilíbrio com o respeito máximo aos direitos alheios, dentro da mínima quota de pena.

Atendendo-se, no entanto, a que a Justiça Perfeita se eleva, indefectível, sobre o Perfeito Amor, no hausto de Deus "em que nos movemos e existimos", toda reparação, perante a Lei Básica a que nos reportamos, se realiza em termos de vida eterna e não segundo a vida fragmentária que conhecemos na encarnação humana, porquanto, uma existência pode estar repleta de acertos e desacertos, méritos e deméritos e a Misericórdia do Senhor preceitua, não que o delinqüente seja flagelado, com extensão indiscriminada de dor expiatória, o que seria volúpia de castigar nos tribunais do destino, invariavelmente regidos pela Equidade Soberana, mas sim que o mal seja suprimido de suas vítimas, com a possível redução de sofrimento.

Desse modo, segundo o princípio universal do Direito Cósmico e expressar-se, claro, nos ensinamentos de Jesus que manda conferir "a cada um de acordo com as próprias obras", arquivamos em nós as raízes do mal que acalentamos para extirpá-las à custa do esforço próprio, em companhia daqueles que se nos afinem à faixa de culpa, com os quais, perante a Justiça Eterna, os nossos débitos jazem associados.

À face de semelhante fundamentos, certa romagem na carne, entremeada de créditos e dívidas, pode terminar com aparências de regularidade irrepreensível para a alma que desencarna, sob o apreço dos que lhe comungam a experiência, seguindo-se de outra em que essa mesma criatura assuma a empreitada do resgate próprio, suportando nos ombros as conseqüências das culpas contraídas diante de Deus e de si mesma, afim de reabilitar-se ante a Harmonia Divina, caminhando, assim, transitoriamente, ao lado de espíritos incursos em regeneração da mesma espécie.

É dessa forma que a mulher e o homem, acumpliciados nas ocorrências do aborto delituoso, mas principalmente a mulher, cujo grau de responsabilidade nas faltas dessa natureza é muito maior, à frente da vida que ela prometeu honrar com nobreza, na maternidade sublime, desajustam as energias psicossomáticas, com mais penetrante desequilíbrio do centro genésico, implantando nos tecidos da própria alma a sementeira de males que frutescerão, mais tarde, em regime de produção a tempo certo.

Isso ocorre não somente porque o remorso se lhes entranhe no ser, à feição de víbora magnética, mas também porque assimilam, inevitavelmente, as vibrações de angústia e desespero e, por vezes, de revolta e vingança dos Espíritos que a Lei lhes reservara para filhos do próprio sangue, na obra de restauração do destino.

No homem, o resultado dessas ações aparece, quase sempre, em existência imediata àquela na qual se envolveu em compromissos desse jaez, na forma de moléstias testiculares, disendocrinias diversas, distúrbios mentais, com evidente obsessão por parte de forças invisíveis emanadas de entidades retardatárias que ainda encontram dificuldade para exculpar-lhes a deserção.

Nas mulheres, as derivações surgem extremamente mais graves. O aborto provocado, sem necessidade terapêutica, revela-se matematicamente seguido por choques traumáticos no corpo espiritual, tantas vezes quantas se repetir o delito de lesa-maternidade, mergulhando as mulheres que o perpetram em angústias indefiníveis, além da morte, de vez que, por mais extensas se lhe façam as gratificações e os obséquios do Espíritos Amigos e Benfeitores que lhe recordam as qualidades elogiáveis, mais se sentem diminuídas moralmente em si mesmas, com o centro genésico desordenado e infeliz, assim como alguém indebitamente admitido num festim brilhante, carregando uma chaga que a todo instante se denuncia.

Dessarte, ressurgem na vida física, externando gradativamente, na tessitura celular de que se revestem, a disfunção que podemos nomear como sendo a miopraxia do centro genésico atonizado, padecendo, logo que reconduzidas ao curso da maternidade terrestre, as toxemias da gestação.

Dilapidado o equilíbrio do centro referido, as células ciliadas, mucíparas e intercalares não dispõe da força precisa na mucosa tubária para a condução do óvulo na trajetória endossalpingeana, nem para alimentá-lo no impulso da migração por deficiência hormonal do ovário, determinando não apenas os fenômenos da prenhez ectópica ou localização heterotópica do ovo, mas também certos síndromes hemorrágicos de suma importância, decorrentes da nidação do ovo fora do endométrio ortotópico, ainda mesmo quando este já esteja acomodado na concha uterina, trazendo habitualmente os embaraços da placentação baixa ou a placenta prévia hemorragía para que constituem, na parturição, verdadeiro suplício para as mulheres portadoras do órgão germinal em desajuste.

Enquadradas na arritmia do centro genésico, outras alterações orgânicas aparecem, flagelando a vida feminina, , como sejam o descolamento da placenta eutópica, por hiperatividade histolítica da vilosidade corial; a hipocinesia uterina, favorecendo a germicultura do estreptococo ou do genococo, depois das crises endometríticas puerperais, a salpingite tuberculosa, a degeneração cística do cório; a salpigooforite, em que o edema e o exsudato fibrinosos provocam a aderência das pregas da mucosa tubária, preparando campo propício às grandes inflamações anexiais, em que o ovário e a trompa experimentam a formação de tumores purulentos que os identificam no mesmo processo de desagregação; os síndromes circulatórios da gravidez aparentemente normal, quando a mulher, no pretérito, viciou também o centro cardíaco, em conseqüência do aborto calculado e seguido por disritmia das forças psicossomáticas que regulam o eixo elétrico do coração, ressentindo-se, como resultado, na nova encarnação e em pleno surto de gravidez, da miopraxia do aparelho cardiovascular, com aumento da carga plasmática na corrente sanguínea, por deficiência no orçamento hormonal, daí resultando graves problemas da cardiopatia conseqüente.

Temos ainda a considerar que a mulher sintonizada com os deveres da maternidade na primeira ou, às vezes, até na segunda gestação, quando descamba para o aborto criminoso, na geração dos filhos posteriores, inocula, automaticamente no centro genésico e no centro esplênico do corpo espiritual as causas sutis de desequilíbrio recôndito, a se lhe evidenciarem na existência próxima pela vasta acumulação do antígeno que lhe imporá as divergências sanguíneas com que asfixia, gradativamente, através da hemólise, o rebento de amor que alberga carinhosamente no próprio seio, a partir da segunda ou terceira gestação, porque as enfermidades do corpo humano, como reflexos das depressões profundas da alma, ocorrem dentro de justos períodos etários.

Além dos sintomas que abordamos em sintética digressão na etiopatogenia das moléstias do órgão genital da mulher, surpreenderemos largo capítulo a ponderar no campo nervoso, à face da hiperexitação do centro cerebral, com inquietantes modificações da personalidade, a raiarem, muitas vezes, no martirológico da obsessão, devendo-se ainda salientar o caráter doloroso dos efeitos espirituais do aborto criminoso, para os ginecologistas e obstetras delinqüentes.

 Para melhorar a própria situação, que deve fazer a mulher que se reconhece, na atualidade, com dívidas no aborto provocado, antecipando-se, desde agora, no trabalho de sua própria melhoria moral, antes que a próxima existência lhe imponha as aflições regenerativas?



ANDRÉ LUIZ:



Sabemos que é possível renovar o destino todos os dias. Quem ontem abandonou os próprios filhos pode hoje afeiçoar-se aos filhos alheios, necessitados de carinho e abnegação.

O próprio Evangelho do Senhor, na palavra do Apóstolo Pedro (I Pedro, 4:8), adverte-nos quanto à necessidade de cultivarmos ardente carinho uns para com os outros, porque a caridade cobre a multidão de nossos males.



 Evolução em Dois Mundos, Parte II, caps. X e XI, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)