terça-feira, 31 de janeiro de 2012

AOS ENFRAQUECIDOS NA LUTA

Almas enfraquecidas, que tendes, muitas vezes, sentido sobre a fronte o sopro frio da adversidade, que tendes vertido muitos prantos nas jornadas difíceis em estradas de sofrimentos rudes, buscai na fé, os vossos imperecíveis tesouros.

Bem sei a intensidade da vossa angústia e sei de vossa resistência ao desespero. Ânimo e coragem! No fim de todas as dores, abre-se uma aurora de ventura imortal; dos amargores experimentados, das lições recebidas, dos ensinamentos conquistados à custa de insano esforço e de penoso labor, tece a alma sua auréola de eternidade gloriosa; eis que os túmulos se quebram e da paz cheia de cinzas e sombras, dos jazigos, emergem as vazes comovedoras dos mortos. Escutai-as!... elas vos dizem da felicidade do dever cumprido, dos tormentos da consciência nos desvios das obrigações necessárias.

Orai, trabalhai e esperai. Palmilhai todos os caminhos da prova com destemor e serenidade. As lágrimas que dilaceram, as mágoas que pungem, as desilusões que fustigam o coração, constituem elementos atenuantes da vossa imperfeição, no tribunal augusto, onde pontifica o mais justo, magnânimo e integro dos juízes. Sofrei e confiai, que o silêncio da morte é o ingresso para uma outra vida, onde todas as ações estão contadas e gravadas as menores expressões dos nossos pensamentos.

Amai muito, embora com amargos sacrifícios, porque o amor é a única moeda que assegura a paz e a felicidade no Universo.

Emmanuel

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

ENTREVISTA SOBRE O CARNAVAL - RAUL TEIXEIRA

1 — O que significa para você o carnaval, diante do mundo?

R — Valendo-me da expressão de um Benfeitor Espiritual, direi que, para mim, o carnaval é aquele fruto apodrecido, do qual ainda não soubemos retirar a mensagem de advertência, de atenção e vigilância, observando, ao longo do tempo, a semente infeliz que há germinado nas almas incautas, gerando colheitas de decepções e dores de elevada monta.



2 — Como você melhor colocaria o carnaval: como um mal para o homem que preza a elevação da moral, ou um remédio para o homem asfixiado pelas lutas amargas do cotidiano. Necessitado de extravasar seu psiquismo?

R — Verdadeiramente, o carnaval, como se vem apresentando. Representa um mal não apenas para o homem que busca evoluir moral e espiritualmente, como também para os demais ainda apegados às sensações físicas muito mais que às emoções sutis, que só a pouco e pouco o Espírito vai desenvolvendo.

Reconhecemos que a alegria, a descontração, as expansões dos júbilos entre as criaturas humanas funcionam como excelente válvula de escape para as tensões diárias, fomentando a tranqüilização da alma, quanto o re-equilíbrio das funções psíquicas. Contudo, não é o que estamos observando na estrutura carnavalesca.

Encontramos isso sim. A perversão, a enfermidade espiritual que jorra, absolutizando a loucura que campeia desenfreada, devassando e infelicitando. Não creio que ao homem mais simples. Porém, de bom senso, isso lhe pareça extravasamento para os júbilos anelados, senão desbordamento das paixões inferiores que mais fazem amargar seu cotidiano. Já, de si mesmo, tão amaro.



3. – Por ser uma festa de cunho material, somos induzidos a pensar que a maioria dos participantes não sejam religiosos. Dado que o ser humano precisa dissipar as energias acumuladas, não poderíamos, então, classificar o carnaval como “um mal necessário”, pois, sem ele, que permite extravasar, e sem a religião, que permite equilibrar essas cargas energéticas, os homens, inevitavelmente seriam levados a atitudes agressivas ou neuróticas no dia-a-dia?

R – A mim me parece que tudo isso não passa de tenebroso sofisma. Vamos por partes, a fim de expressar-me melhor.

O carnaval não é somente uma festa de cunho material, como se poderia supor. Ele é profundamente espiritual, só que a faixa espiritual, em que se situa, é a dos Espíritos infelizes que se locupletam com os desejos e usanças daqueles outros que, embora encarnados, ajustam-se aos apelos do Além infeliz, servindo-lhes de alimárias ou de vasos nutrientes, onde as sombras babejam e triunfam por momentos. Está claro, com isso, que os que se banqueteiam nesse festim, embora se digam religiosos, só o são na fachada. Não aprenderam que não se pode servir a Deus e a Mamon, que ser religioso é assumir um compromisso com a própria consciência. Não foram advertidos por seus líderes que tais festividades momescas tiveram seu incremento nas orgias templárias da Velha Roma. Do mundo antigo, nas loucuras das homenagens aos deuses Lupércio, Saturno. Baco etc, ditas festas em que não faltavam à luxúria, os excessos de toda ordem, do prato às explorações sexuais, determinando miséria moral e material, como enorme soma de sofrimentos.

Por outro lado, meu companheiro, se me é dito que o carnaval é o extravasador e que a Religião é equilibrante, creio que, em boa linha, nos quedaríamos com a Religião. Entretanto, a grande parte escolhe a descarga carnavalesca.

O que vemos é que, muito embora se afirme ser o carnaval um extravasador das tensões, não encontramos diminuídas as taxas de agressividade e de neuroses, que infestam nossas cidades, as mais diversas, dando-nos, isso sim, um somatório de violência urbana, de infelicidade familiar como jamais ocorreu no mundo contemporâneo. Creio que devamos repensar a questão do carnaval, a fim de não desculparmos o que é indesculpável, pelo menos na conotação que se lhe dá atualmente.



4. No campo físico, já conhecemos algumas das conseqüências do “reinado do Momo”, como por exemplo a proliferação dos abortos, o aumento da criminalidade, múltiplos suicídios, o incremento do uso dos tóxicos e de bebidas alcoólicas, assim como o surgimento de novos viciados, e muitas outras. O que você citaria como conseqüência no campo espiritual?

R - No hemisfério espiritual, encontramos por conseqüências todas as decorrentes dos excessos e erros e crimes apontados na sua pergunta. É mais um testemunho de que as “alegrias de Momo” não são tão alegres como parecem e que, ao invés de descontrair, muitos são traídos pela invigilância, pela irreflexão, pela imoderação.



5 - Estaria sujeito às influências negativas o indivíduo que, não se integrando aos folguedos, saísse à rua, apenas para assistir aos desfiles, ou mesmo para, simplesmente, apreciar os acontecimentos?

R - Os Espíritos do Senhor orientam-nos, através da Doutrina Espírita, que Deus vê as intenções nossas. Jesus Cristo, por seu turno, diz-nos, em Lucas 6:45, que onde estivesse o nosso tesouro, aí estaria o nosso coração, dizendo, sem dúvida, que nos deslocaríamos em espírito para aquilo a que déssemos valor. Há um provérbio popular que prega que quem sai na chuva é porque deseja molhar-se...

Entendemos que, se tomamos conhecimento do que está ocorrendo nas ruas e nos clubes, se nos damos conta das nossas próprias tendências pouco recomendáveis, na condição de “homem-velho” da referência paulina, há que pensar um pouco, antes de nos expormos às ruas, ainda que seja para assistir.



6. — Como você acha que o cristão-espírita deve proceder diante do companheiro que se mostra favorável ao evento?

R — Como deve. Proceder com qualquer um que não nos compartilhe os conceitos e idéias, ou seja, respeitando-o, compreendendo-o, sem. Contudo, permitir que ele nos “faça a cabeça”, usando uma expressão muito em moda.



7 - Que atitude se poderá tomar para mantermos nossos filhos, ainda crianças, quando não livres da influência, pelo menos livres da fascinação que o carnaval exerce sobre eles?

R — Entendemos que a família tem fundamental importância em tudo isso. É a velha questão tão educacional que vem à tona, Se os pais não freqüentam os festejos carnavalescos; se os pais aproveitam os dias dos feriados de tais festas para o descanso, para a convivência familiar harmoniosa e boa; se sabem conversar com os pequenos sobre a improcedência de nos arrojarmos a tais loucuras, exemplificando com a própria conduta o que diz, não vemos por que os filhos ficariam fascinados com Momo. Se mesmo diante do exemplo e dos informes e esclarecimentos eles o desejarem, deverá prevalecer o bom senso dos pais, não o permitindo, até que os pequenos de hoje conduzam as suas experiências de vida, fazendo o que bem entenderem; porém não antes de serem devidamente educados para viverem o bem que todos buscamos.

Muitos pais afirmam que soltaram seus filhos por causa das pressões de vizinhos, de familiares outros, dos colegas etc. Não se lembram, entretanto, os pais espíritas, que estamos diante dos graves compromissos com Espíritos ligados a nós, pelos vínculos reencarnatórios e que teremos que prestar contas da orientação e da condução que lhes tenhamos dado. Sem que isto pese nos ombros dos demais, pelo menos a princípio. Tomemos por compromisso de honra a condução dos nossos, deixando de lado admoestações e zombarias, motejos e incompreensões, porque somente o tempo dirá do nosso acerto, com o salário da paz e da alegria.



8 — Com relação aos nossos Centros Espíritas, é válido fechar as portas nos dias do carnaval, ou mudar o procedimento das reuniões?

R — Realmente, seria muito bom se pudéssemos continuar nossas atividades doutrinárias, em nossas Instituições, exatamente porque são os dias em que mais necessárias se fazem as preces e as vinculações com os Bons Espíritos, por múltiplas razões, bem óbvias, por sinal. Entretanto, não deveremos olvidar que grande parte dos Centros estão em locais de muito movimento carnavalesco e que, ainda que não estejam, os companheiros das tarefas deverão deslocar-se de seus lares, atravessando o tumulto e as dificuldades, se ampliam com os riscos de variada monta para os passantes. E is a razão porque, costumeiramente, se interrompem os trabalhos nos Centros Espíritas nesses dias, o que não representa que devamos deixar de orar e vigiarmos, onde e com quem estivermos, servindo como antenas de nobres inspirações e assistência necessárias, como verdadeiros cristãos que desejamos ser.

* * *

  [Transcrito de Mundo Espírita, fevereiro de 1986, p. 10. (Informa-se que originalmente a entrevista “foi publicada no jornal Unificador, de Ipatinga, MG”.)]

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ESTUDAI O ESPIRITISMO



“A vós que habitais o mundo terreno nesse grave momento de transformação planetária, paz e ânimo no espírito de Jesus, a quem servimos dia e noite. Venho falar-vos das vossas tribulações momentâneas, ligadas às mudanças que se operam em vossa humanidade. Diante das injustiças e catástrofes físicas e humanas que aparecem por toda parte, há quem maldiga a Deus pelos sofrimentos e dores”.


O homem, que supõe a tudo compreender, continua com a mesma mentalidade de vinte ou trinta séculos atrás. Para ele, o Criador continua inacessível e teria feito o mundo para que nele, independente de Sua atuação direta, os seres humanos pudessem viver suas experiências de realizações. Vieram os profetas, desceram ao orbe os anjos do Senhor para trazerem a Boa Nova, mensagem que liberta. Poucos foram os que deram ouvidos. A maioria, por incapacidade ou má vontade, fez de conta que não viu, nem ouviu.

O clima que se vê formar por toda parte no vosso mundo é conseqüência da colheita de um plantio fundado na irresponsabilidade moral diante das Leis Divinas. O afastamento progressivo do espírito existente nas lições preciosas deixadas pelo Cristo deu origem a um intenso desregramento que durou séculos, arrefecendo-se com a Reforma, na Idade Média e que torna a recrudescer, vestido com a capa da liberdade e progresso.

Nenhuma sociedade, em nenhum dos mundos habitados do Universo, pode subsistir sem elementos morais que lhe sirva de referência, de âncora, para guiar-lhe a conduta. É como se alguém se lançasse à travessia do oceano sem experiência, nem planejamento. O desastre seria certo. O homem terreno não consegue compreender que a lei revelada por Jesus é o referencial para conduzi-lo nos caminhos do comportamento. O ser humano é imaturo e colhe os frutos dessa imaturidade.

Quando o Espírito encontra-se encarnado em mundos selvagens, o instinto o conduz, sem que tenha de considerar sua capacidade de enxergar com a inteligência. Porém, o mundo terreno já deixou esta fase. O homem pensa, imagina. Na condição de escola de expiação e provas, abriga entidades que já tiveram contato com a Lei, mas que ainda não conseguiram colocá-la em prática. Dotadas agora de maior liberdade intelectual em relação ao instinto, essas criaturas julgam as coisas segundo a visão mais ou menos esclarecida que possuem. Mas, seu entendimento não vai além do comum.

Com dificuldades para compreender a verdade, a humanidade se afoga nos erros da interpretação que dá às coisas terrenas e celestiais. Jesus e seus seguidores diretos, os apóstolos, tudo fizeram para que o espírito da reeducação pelo esforço individual não morresse. Mas, sem poderem compreender a vida além dessa vida, os que vieram mais tarde e que deveriam passar os ensinamentos às gerações futuras, negligenciaram.

As lições do Mestre e dos mestres estão tão diluídas e distorcidas que para pouca coisa servem em termos espirituais. O fanatismo e a idolatria campeiam soltas entre as religiões, inclusive entre os espíritas, que vagueiam cada um pensando por si, sem referenciais de ordem doutrinária. Procurai entender. Vossa humanidade perdeu-se em devaneios, sonhos e ilusões. Deixou-se enganar por um falso profeta, chamado tecnologia, que promete um futuro que não haverá.

Fora das leis divinas não há salvação. Não há solução para as questões humanas, sem que se observem os fundamentos morais que regulam o comportamento das pessoas e das coletividades. Estudai o Espiritismo revelado por Allan Kardec. Estudai o Evangelho dos espíritas. Buscai salvar vossa alma da perdição que vem sobre o mundo.

Não à sabedoria do homem. Sim à sabedoria celestial. É simples aceitar esse axioma? Não. O homem não pode fazê-lo, pois seu orgulho o cega. Seu anseio pelos prazeres carnais o faz perder-se. Nem imagina quantas alegrias o aguardam no reino celestial. Quem são esses que falam em nome da sabedoria? Ninguém. Sábios do mundo, que mal conseguem entender e entenderem-se. A visão de tudo que os cerca é apenas superficial. Cegos guiando cegos, diria o Senhor. O destino poderá ser outro, senão o buraco?”. – Simeão.



Espírito: Simeão

Grupo Espírita Bezerra de Menezes

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

TERRORISMO DE NATUREZA MEDIÚNICA


Sutilmente vai-se popularizando uma forma lamentável de revelação mediúnica, valorizando as questões perturbadoras que devem receber tratamento especial, ao invés de divulgação popularesca de caráter apocalíptico.
Existe um atavismo no comportamento humano em torno do Deus temor que Jesus desmistificou, demonstrando que o Pai é todo Amor, e que o Espiritismo confirma através das suas excelentes propostas filosóficas e ético-morais, o qual deve ser examinado com imparcialidade.
Doutrina fundamentada em fatos, estudada pela razão e lógica, não admite em suas formulações esclarecedoras quaisquer tipos de superstições, que lhe tisnariam a limpidez dos conteúdos relevantes, muito menos ameaças que a imponham pelo temor, como é habitual em outros segmentos religiosos.
Durante alguns milênios o medo fez parte da divulgação do Bem, impondo vinganças celestes e desgraças a todos aqueles que discrepassem dos seus postulados, castrando a liberdade de pensamento e submetendo ao tacão da ignorância e do primitivismo cultural as mentes mais lúcidas e avançadas...
O Espiritismo é ciência que investiga e somente considera aquilo que pode ser confirmado em laboratório, que tenha caráter de revelação universal, portanto, sempre livre para a aceitação ou não por aqueles que buscam conhecer-lhe os ensinamentos. Igualmente é filosofia que esclarece e jamais apavora, explicando, através da Lei de Causa e Efeito, quem somos de onde viemos, para onde vamos, porque sofremos, quais são as razões das penas e das amarguras humanas... De igual maneira, a sua ética-moral é totalmente fundamentada nos ensinamentos de Jesus, conforme Ele os enunciou e os viveu, proporcionando a religiosidade que integra a criatura na ternura do seu Criador, sendo de simples e fácil formulação.
Jamais se utiliza das tradições míticas greco-romanas, quais as das Parcas, sempre tecendo tragédias para os seres humanos, ou de outras quaisquer remanescentes das religiões ortodoxas decadentes, algumas das quais hoje estão reformuladas na apresentação, mantendo, porém, os mesmos conteúdos ameaçadores.
De maneira sistemática e contínua, vêm-se tornando comuns algumas pseudorrevelações alarmantes, substituindo as figuras mitológicas de Satanás, do Diabo, do Inferno, do Purgatório, por Dragões, Organizações demoníacas, regiões punitivas atemorizantes, em detrimento do amor e da misericórdia de Deus que vigem em toda parte.
Certamente existem personificações do Mal além das fronteiras físicas, que se comprazem em afligir as criaturas descuidadas, assim como lugares de purificação depois das fronteiras de cinza do corpo somático, todos, no entanto, transitórios, como ensaios para a aprendizagem do Bem e sua fixação nos painéis da mente e do comportamento.
O Espiritismo ressuscita a esperança e amplia os horizontes do conhecimento exatamente para facultar ao ser humano o entendimento a respeito da vida e de como comportar-se dignamente ante as situações dolorosas.
As suas revelações objetivam esclarecer as mentes, retirando a névoa da ignorância que ainda permanece impedindo o discernimento de muitas pessoas em torno dos objetivos essenciais da existência carnal.
Da mesma forma como não se deve enganar os candidatos ao estudo espírita, a respeito das regiões celestes que os aguardam, desbordando em fantasias infantis, não é correto derrapar nas ameaças em torno de fetiches, magias e soluções miraculosas para os problemas humanos, recorrendo-se ao animismo africanista, de diversos povos e às suas superstições. No passado, em pleno período medieval, as crenças em torno dos fenômenos mediúnicos revestiam-se de místicas e de cerimônias cabalísticas, propondo a libertação dos incautos e perversos das situações perniciosas em que transitavam.
O Espiritismo, iluminando as trevas que permanecem dominando incontáveis mentes, desvela o futuro que a todos aguarda rico de bênçãos e de oportunidades de crescimento intelecto-moral, oferecendo os instrumentos hábeis para o êxito em todos os cometimentos.
A sua psicologia é fértil de lições libertadoras dos conflitos que remanescem das existências passadas, de terapêuticas especiais para o enfrentamento com os adversários espirituais que procedem do ontem perturbador, de recursos simples e de fácil aplicação.
A simples mudança mental para melhor proporciona ao indivíduo a conquista do equilíbrio perdido, facultando-lhe a adoção de comportamentos saudáveis que se encontram exarados em O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, verdadeiro tratado de eficiente psicoterapia ao alcance de todos que se interessem pela conquista da saúde integral e da alegria de viver.
Após a façanha de haver matado a morte, o conhecimento do Espiritismo faculta a perfeita integração da criatura com a sociedade, vivendo de maneira harmônica em todo momento, onde quer que se encontre, liberada de receios injustificáveis e sintonizada com as bênçãos que defluem da misericórdia divina.
A mediunidade, desse modo, a serviço de Jesus, é veículo de luz, de seriedade, dignificando o seu instrumento e enriquecendo de esperança e de felicidade todos aqueles que se lhe acercam.
Jamais a mediunidade séria estará a serviço dos Espíritos zombeteiros, levianos, críticos contumazes de tudo e de todos que não anuem com as suas informações vulgares, devendo tornar-se instrumento de conforto moral e de instrução grave, trabalhando a construção de mulheres e de homens sérios que se fascinem com o Espiritismo e tornem as suas existências úteis e enobrecidas.
Esses Espíritos burlões e pseudossábios devem ser esclarecidos e orientados à mudança de comportamento, depois de demonstrado que não lhes obedecemos, nem lhes aceitamos as sugestões doentias, mentirosas e apavorantes com as histórias infantis sobre as catástrofes que sempre existiram, com as informações sobre o fim do mundo, com as tramas intérminas a que se entregam para seduzir e conduzir os ingênuos que se lhes submetem facilmente...
O conhecimento real do Espiritismo é o antídoto para essa onda de revelações atemorizantes, que se espalha como um bafio pestilencial, tentando mesclar-se aos paradigmas espíritas que demonstraram desde o seu surgimento a legitimidade de que são portadores, confirmando o Consolador que Jesus prometeu aos seus discípulos e se materializou na incomparável Doutrina.
Ante informações mediúnicas desastrosas ou sublimes, um método eficaz existe para a avaliação correta em torno da sua legitimidade, que é a universalidade do ensino, conforme estabeleceu o preclaro Codificador.
Desse modo, utilizando-se da caridade como guia, da oração como instrumento de iluminação e do conhecimento como recurso de libertação, os adeptos sinceros do Espiritismo não se devem deixar influenciar pelo moderno terrorismo de natureza mediúnica, encarregado de amedrontar, quando o objetivo máximo da Doutrina é libertar os seus adeptos, a fim de torná-los felizes.

Vianna de Carvalho
(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no dia 7 de dezembro de 2009, durante o período de realização do XVII Congresso Espírita Nacional, em Calpe, Espanha.).
Reformador Março 2010

sábado, 21 de janeiro de 2012

O ORGULHO


Revista Espírita, maio de 1858
DISSERTAÇÃO MORAL DITADA POR SÃO LUÍS À SENHORITA HERMANCE DUFAUX
(19 e 26 de janeiro de 1858.)



 Um orgulhoso possuía alguns hectares de boa terra; estava vaidoso com as pesadas espigas que cobriam o seu campo, e não abaixava senão um olhar de desdém sobre o campo estéril do humilde. Este se levantava ao canto do galo, e passava o dia todo curvado sobre o solo ingrato; recolhia pacientemente as pedras, e ia jogá-las à beira do caminho; revolvia profundamente a terra e extirpava, penosamente, os espinheiros que a cobriam. Ora, seus suores fecundaram seu campo e resultou em puro frumento.

No entanto, o joio crescia no campo do soberbo e sufocava o trigo, enquanto o senhor ia se glorificar da sua fecundidade, e olhava com um olhar de piedade os esforços silenciosos do humilde.

Eu vos digo, em verdade, o orgulho é semelhante ao joio que sufoca o bom grão. Aquele dentre vós que se crê mais do que seu irmão, e que se glorifica de si, é insensato; mas é sábio esse que trabalha em si mesmo, como o humilde em seu campo, sem tirar vaidade da sua obra.

Houve um homem rico e poderoso que detinha o favor do príncipe; habitava palácios, e numerosos servidores se apressavam sobre os seus passos a fim de prevenirem os seus desejos.

Um dia em que suas matilhas forçavam o cervo nas profundezas de uma floresta, percebeu um pobre lenhador que caminhava penosamente sob um fardo de lenha; chama-o e lhe diz:

- Vil escravo! por que passas em teu caminho sem te inclinares diante de mim? Eu sou igual ao soberano, minha voz decide nos conselhos da paz ou da guerra, e os grandes do reino se curvam diante de mim. Sabe que sou sábio entre os sábios, poderoso entre os poderosos, grande entre os grandes, e a minha elevação é a obra das minhas, mãos.

- Senhor! Respondeu o pobre homem, temi que minha humilde saudação fosse uma ofensa para vós. Sou pobre e não tenho senão os meus braços por todo o bem, mas não desejo as vossas enganosas grandezas. Durmo o meu sono, e não temo, como vós, que o prazer do soberano me faça cair em minha obscuridade.

Ora, o príncipe se cansou do orgulho do soberbo; os grandes humilhados se reergueram sobre ele, que foi precipitado do auge do seu poder, como a folha seca que o vento varre do cume de uma montanha; mas o humilde continua pacificamente seu rude trabalho, sem preocupação com o futuro.

Soberbo, humilha-te, porque a mão do Senhor curvará o teu orgulho até o pó!

Escuta! Nasceste onde a sorte te colocou; saíste do seio de tua mãe fraco e nu como o último dos homens. De onde vem, pois, que eleves tua fronte mais alta do que teus semelhantes, tu que nasceste, como eles, para a dor e para a morte?

Escuta! Tuas riquezas e tuas grandezas, vaidades do nada, escaparão das tuas mãos quando o grande dia chegar, como as águas inconstantes das torrentes que o sol seca. Não carregarás de tua riqueza senão as tábuas do teu caixão, e os títulos gravados sobre a tua pedra tumular serão palavras vazias de sentido.

Escuta! O cão do coveiro brincará com os teus ossos, e eles serão misturados com os ossos do mendigo, e o teu pó se confundirá com o dele, porque um dia vós ambos não sereis senão pó. Então amaldiçoarás os dons que recebeste vendo o mendigo revestido com a sua glória, e chorarás o teu orgulho.

Humilha-te, soberbo, porque a mão do Senhor curvará o teu orgulho até o pó.


Pergunta : Por que, São Luís, nos falas em parábolas?
 - R. O espírito humano ama o mistério; a lição se grava melhor no coração, quando procurada.

Pergunta : Pareceria que, hoje, a instrução deva ser dada de um modo mais direto, e sem que haja necessidade da alegoria?
 - R. Encontrá-la-eis no desenvolvimento. Desejo ser lido, e a moral tem necessidade de estar disfarçada sob o atrativo do prazer.



São Luis
(Revista Espírita - Maio 1858)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

DOUTRINAÇÃO: VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA COMPLEXO


Antes de ir adiante, uma tentativa de definição. A expressão doutrinador, de uso corrente na prática espírita, parece algo inadequada, ou, pelo menos, incompleta, sendo admitida apenas à falta de outra mais precisa. Isso porque, na realidade, aquele que se incumbe de falar aos Espíritos manifestantes não está limitado exclusivamente a doutrinar, isto é, instruí-los quanto à Doutrina Espírita em particular. Seu objetivo é bem mais amplo e menos específico, dado que, antes de qualquer instrução ou doutrinação propriamente dita, o Espírito em crise necessita de acolhida paciente, amorosa, compreensiva, de socorro mais urgente e imediato, de tratamento de emergência que o coloque em condições de pelo menos compreender a sua posição, Por outro lado, parece igualmente inadequado posicionar aquele que dialoga com os Espíritos manifestantes como diretor ou dirigente dos trabalhos. Ele não passa de um dos componentes do grupo com atribuição específica, tal como os médiuns - psicofônicos, psicográficos, videntes ou de cura - e os que emprestam ao grupo o apoio silencioso, sem mediunidade ostensiva. De todos eles, indistintamente, precisa o grupo. Todos devem estar sintonizados com o Mundo Maior e harmonizados entre si mesmos, inteiramente voltados para as tarefas de que foram incumbidos.

As informações que hoje temos, com riqueza de pormenores, sobre o relacionamento entre o mundo dos desencarnados e o nosso, confirmam e ampliam o que os princípios da codificação deixaram estabelecidos. O chamado dirigente é apenas a pessoa que no plano dos encarnados coordena os trabalhos que ali se desenrolam. Mantém-se usualmente em estado de vigília e alertamento para melhor acompanhar o que ocorre à sua volta, dado que qualquer forma de mediunidade que provocasse seu alheamento poderia dificultar sua atuação. Por isso, deve estar sempre atento às sugestões e recomendações que recebe por via intuitiva dos verdadeiros dirigentes do grupo, que são os Espíritos mais experimentados do mundo invisível. Dessa forma, o doutrinador não é, usualmente, dotado de mediunidade ostensiva. Quando muito, dispõe de alguma vidência ou audição. A via de comunicação mais intensamente utilizada pelos seus mentores é a da intuição, que, com a prática, se desenvolve de maneira satisfatória. É preciso, para tanto, preparar-se continuamente, por meio da prece, da purificação interior, da meditação, a fim de conseguir captar os “flashes” rápidos que recebe do mundo espiritual, enquanto atende seus companheiros desencarnados. É claro também que, no decorrer das tarefas mediúnicas, o padrão vibratório de todos os componentes do grupo é elevado pela concentração e pela atuação dos técnicos espirituais, a fim de afinar os trabalhadores encarnados com os desencarnados, buscando estabelecer entre eles uma aproximação que possibilite o intercâmbio.

Mas, afinal, que nome proporíamos em lugar de doutrinador ou dirigente? Instrutor? Monitor? Bem. É preciso confessar que a esta altura tão generalizado se encontra o uso da palavra doutrinador que a discussão se torna algo acadêmica. O objetivo desta digressão foi apenas mostrar que o trabalho do doutrinador nos grupos mediúnicos não é propriamente o de transmitir aos Espíritos desajustados instruções doutrinárias pura e simplesmente, consistindo antes em acolher irmãos mergulhados na dor, na revolta, na angústia, na ignorância, na alienação, na desorientação e, até, muitas vezes, na total inconsciência de si mesmos. Muitos desses Espíritos, senão a maioria deles precisa de primeiros socorros urgentes. Trazem angústias e desordens seculares, às vezes, que não se apagam com um passe de mágica. Precisam de tempo para se colocar em condições de receber instruções e esclarecimentos que os habilitem ao prosseguimento da jornada evolutiva. No estado de choque emocional em que estão se tornam, às vezes, inacessíveis até mesmo à voz do doutrinador, prosseguindo como surdos no alucinante monólogo da dor, girando incessantemente em torno de um núcleo interior.

Os grupos mediúnicos que se dedicam, pois, ao trabalho de atendimento espiritual, funcionam como postos avançados de pronto-socorro, ambulatórios de primeiros cuidados, recebendo seres que se desequilibraram seriamente e se perderam pelos escuros desvãos de regiões onde imperam a revolta, o ódio, a dor, a aflição em graus superlativos. Por isso, os povos da língua inglesa chamam a essa atividade de “rescue work”, ou seja, trabalho de resgate. É realmente o que se passa. Por mais graves que sejam as faltas cometidas pelo Espírito, chega afinal o momento do resgate. Abnegados e competentes companheiros do mundo espiritual descem então às furnas da dor para trazê-los aos postos de atendimento. Não é fácil esta missão, porque aqueles que adquiriram domínio sobre a vítima não desejam liberá-la de maneira alguma e se defendem e reagem com inaudita violência. Tais seres, secularmente endurecidos no mal, dispõem de poderes consideráveis, comandam organizações inteiramente voltadas à prática da violência e da opressão organizadas, a serviço das suas paixões incontroladas. É difícil e arriscada a retirada de alguém que esteja aprisionado nesses autênticos infernos. O trabalho é realmente de resgate.

Trazidos, pois, aos grupos mediúnicos, os pobres irmãos que já perderam a noção do tempo e, muitas vezes, até a consciência de si mesmos, não oferecem condições de diálogo fácil. Não estão ainda em posição de serem doutrinados.

Mais difíceis, porém, são aqueles que exercem no mundo das trevas essa terrível liderança de opressão. São Espíritos prepotentes, acostumados ao mando incontestado, inteligentes, sutis, envolventes, violentos, que há séculos não experimentam um sentimento de piedade, de afeição ou de paz. Vivem num processo contínuo de alucinação, inteiramente voltados para o livre exercício de suas paixões. Têm, no entanto, nítida consciência de suas responsabilidades. Conhecem as leis divinas e sabem como, onde e por que a estão desrespeitando. Sabem das consequências da rebeldia e sabem que um dia, afinal, não importa quando, terão de enfrentar a dura realidade do resgate.

Nada disso, porém, importa, porque enquanto se acharem envolvidos no processo da vingança, do ódio, da violência, estão ao abrigo da dor maior do arrependimento. Sabem disso muito bem. Suas organizações são fundadas em estrito regime disciplinar e hierárquico e sabem que, enquanto ali estiverem, estarão sob a proteção da própria violência. Enquanto infligem à dor aos outros, esquecem-se das próprias, num processo de auto anestesia da sensibilidade. Protegem-se a todo custo de qualquer aproximação amorosa, de qualquer movimento conciliador, de qualquer socorro através da prece. Quando as equipes do bem conseguem resgatar algum tutelado que considerem importante, ou interferir de maneira decisiva ferir de maneira decisiva nas suas atividades, dificultando-lhes o trabalho impiedoso e os planos de longo curso, ficam alucinados de ódio e se atiram com todos os seus recursos à vingança, à tentativa de aniquilamento e destruição dos que ousaram perturbar o andamento de suas tarefas. Ai daquele que se atreve a interromper um processo de obsessão, ou a subtrair uma vítima inerme das garras do seu verdugo implacável!

Nesse estado de exaltação e rancor é que costumam manifestar-se através de médiuns dedicados. Por isso, os grupos mediúnicos precisam estar muito bem preparados e protegidos pela prece, pelas boas intenções, pelo sentimento de fraternidade. Têm de contar com muito boa assistência das mais elevadas entidades espirituais e com a presença de Espíritos que conheçam profundamente os mecanismos que se põem em movimento para que se realize uma sessão espírita.

O trabalho do doutrinador é, então, altamente crítico. Sua atitude mental e emocional, sua posição espiritual, seus conhecimentos doutrinários, sua familiaridade com os processos mediúnicos são de vital importância, dado que por um simples descuido seu muitas dores angustiantes podem ter o seu fim adiado por tempo indeterminado.

Em primeiro lugar, o doutrinador nunca sabe que tipo de Espírito se aproxima, em que condições e com que problemas. Desconhece de início, suas intenções e propósitos. Sabe, por outro lado, que o ser manifestante pode levar a grande vantagem inicial de estar na posse de conhecimentos do lado espiritual da vida de que ele, doutrinador, não dispõe. Persegue-se, oprime, ou obsidia alguém que o grupo foi incumbido de tentar socorrer, o perseguidor vem munido de fatos que os encarnados desconhecem. Sabe dos antecedentes do processo, está convencido da legitimidade de seu direito de perseguir e odiar. De certa forma, não deixa de ter alguma razão, porque a lei divina que protege a todos nós foi desrespeitada por aquele que o feriu no passado. Foi aquele mesmo que agora o grupo pretende proteger, e para quem se pede perdão e piedade, que lhe roubou a esposa, que o arruinou, que o levou ao crime, à vergonha, à miséria, à desonra. Foi aquele que lhe tirou a vida, que o traiu na sua confiança, que o levou ao desespero e ao suicídio.

Os primeiros apelos ao perdão não lhe fazem o menor sentido. No seu raciocínio deformado, o próprio Deus permitiria a vingança porque se Deus não o quisesse nada daquilo seria possível. Ou, então, ele não acredita na justiça divina e resolveu tomar a vingança em suas próprias mãos. Não venham, pois, pedir perdão para quem o arrasou. Precisavam ver que monstro foi aquele que agora comparece em lágrimas para implorar socorro! ...

De outras vezes, o processo da perseguição e da opressão tornou-se, por assim dizer, impessoal. O Espírito violento e arbitrário não se interessa pessoalmente pela sua vítima. Ele faz parte de uma organização com objetivos bem demarcados e com planejamentos em longo prazo; recebe uma tarefa específica que lhe cumpre desempenhar com dedicação e rigor, seja quem for à vítima, porque do bom desempenho do seu trabalho depende sua promoção na escala hierárquica da organização a que serve, como em qualquer instituição humana que premia aqueles que lhe são úteis e fiéis. Recebem condecorações e galgam postos importantes na medida em que se destacam no trabalho bem feito, ou seja, quanto mais eficientes forem nas odiosas e lamentáveis tarefas a que se entregam. A estes também não adianta o apelo à clemência. São frios executores de um planejamento global. Não se sentem nem mesmo responsáveis ou culpados pela dor que infligem, porque, segundo dizem, apenas cumprem ordens superiores. Se há culpa, não lhes cabe nenhuma parcela e sim aos seus mandantes. Foram treinados para isso e condicionados a esse procedimento. Dão sempre as mesmas respostas e têm atrás de si a segurança que julgam incontestável da terrível organização a que pertencem.

Quanto aos que planejam, colocados, evidentemente, em plano superior de inteligência e conhecimento, também não se julgam responsáveis. São meros teóricos. Não executam ninguém, não julgam ninguém: limitam-se a traçar os programas estratégicos de ação; não descem aos pormenores da execução propriamente dita.

Há, ainda, os terríveis juristas do Espaço. Estes também, autoritários e seguros de si, exoneram-se facilmente de qualquer culpa porque, segundo informam ao doutrinador, cingem-se aos autos do processo. Em sua opinião, qualquer juiz terreno, medianamente instruído, proferiria a mesma sentença diante daqueles fatos. Todo o formalismo processualístico ali está: as denúncias, os depoimentos, as audiências, os pareceres, os laudos, as perícias, os despachos e, por fim, a sentença - invariavelmente condenatória. E até as revisões, e os apelos, quando previstos nos “códigos” pelos quais se orientam (ou melhor: se desorientam).

Muitos se dizem trabalhadores fiéis do Cristo e lutam denodadamente pelo restabelecimento de sua “verdadeira igreja”. Citam os mesmos textos evangélicos para dizer coisas diametralmente opostas à lei universal do amor e da tolerância que o Cristo pregou. Se advertidos quanto à violência que empregam, invocam invariavelmente a cena da expulsão dos mercadores do templo.

É difícil o trato com esses irmãos desesperados. Não podemos recebê-los como celerados, mas como companheiros doentes que se comprometeram profundamente ante as leis de Deus. Não podemos responder à sua violência com a nossa. Por outro lado, muitos são os que se tornaram inacessíveis à linguagem de excessiva doçura, pois algumas verdades precisam e devem ser ditas a eles. Mas como? Que verdades? O que lhes convém dizer? De que maneira? Pouco sabemos deles, a não ser o que eles próprios revelam no diálogo penoso e fragmentário que se desenvolve. O melhor é deixá-los falar por algum tempo, depois de recebê-los amorosamente, com o Espírito desarmado e atento, tranquilo e vigilante. Pouco a pouco, vão revelando suas motivações e impulsos. Qual o momento de interferir com uma palavra mais firme? Será agora, desta primeira vez, ou convém esperar um pouco mais? Devemos dar-lhe um passe? Qual o melhor momento para a prece? Quais são as razões profundas da sua dor?

No fundo há sempre a dor que eles, naturalmente, não admitem. Mas, fogem dela, procurando esconder-se de si mesmos. Quando lhes dizemos que a razão do sofrimento está no seu próprio passado, reagem energicamente à ideia de uma incursão pelos porões da memória, porque regra geral sabem muito bem que lá é que se escondem as raízes profundas das suas angústias e não se julgam ainda preparados para identificá-las. E se no fundo do ser está à dor, lá também está o amor, porque são legião aqueles de nós que nos despenhamos nos abismos da dor pelo amor frustrado, traído, maculado, e de lá saímos pelo amor restaurado, compreendido, redimido. Que tremenda força tem esse sentimento que constitui a essência mesma de Deus! Nos corações mais duros, mais frios, mais implacavelmente voltados ao ódio, remanesce sempre, invariavelmente, a chama adormecida de amores milenares, talvez esquecidos, quase sempre soterrados nas cinzas dos séculos, mas ainda vivos. Cabe-nos descobrir naquele mar tormentoso de paixões desencadeadas o remanso tranquilo onde se depositou o amor. Se tivermos paciência e sabedoria para esperar o momento certo e soprar amorosamente o coração chagado pela angústia, veremos que debaixo da cinza dormitam fagulhas que um dia reacenderão aquela chama dourada do amor que aquece sem queimar e que ilumina sem ofuscar. Há sempre, alhures, naquele tumulto interior, a memória querida de uma dedicada mãe, de um filho inesquecível, de uma esposa muito amada, de um irmão, de um amigo que parecia esquecido.             

A despeito disso, o Espírito atormentado se defende, porque, consciente ou inconscientemente, ele sabe que, se “fraqueja”, ou seja, se abrir a menor fresta à penetração da luz, todo o seu interior se iluminará e ele não poderá mais impedir que as suas pesadas culpas se identifiquem e se apresentem diante da sua consciência atribulada.

Cabe ao doutrinado dizer a palavra oportuna, no momento exato. Precisa ser doce e humilde, mas também positivo e firme. Sua própria autoridade moral é importante, porque o Espírito que o enfrenta respeita-o por isso, mas quem de nós na Terra, nas lutas contra imperfeições e mazelas que remanescem teimosamente, tem condições morais para impor-se ao pobre irmão que sofre? Muitas vezes ele sabe de nossas fraquezas tanto quanto nós. Ele nos vigia nos observa nos analisa, nos estuda de uma posição vantajosa para ele, na invisibilidade. Segue-nos nas nossas atividades diárias, acompanha-nos ao trabalho. Vê como agimos com os semelhantes e por aí afere a nossa personalidade e propósitos. É fácil para ele apurar se no nosso relacionamento humano agimos dentro da mesma moral que pregamos a ele. Ele percebe mais as nossas intenções, a intensidade e sinceridade do nosso sentimento do que o mero som das palavras que pronunciamos. Se estivermos recitando lindos textos evangélicos sem a sustentação da afeição legítima, ele o saberá também. E é preciso ter muito amor a dar, para distribuí-lo assim, indiscriminadamente, a qualquer companheiro espiritual que se manifeste.

Muitas vezes, o médium doutrinador não se encontra na sua vida de encarnado cercado pelo sentimento de afeição de familiares e companheiros. Tem seus parentes, vive rodeado de conhecidos no ambiente de trabalho, mas não conta com grandes afeições e dedicações. A sustentação do seu teor vibratório no campo do amor deverá vir de cima e, para isso, precisa estar ligado aos planos superiores que o ajudam e assistem a distância. Sem amor profundo, pronto na doação, incondicional, legítimo, sincero, é impraticável o trabalho mediúnico realmente produtivo e libertador. Esse dispositivo emocional, afetivo, precisa estar solidamente conjugado com boa dose de conhecimento doutrinário, adquirido não apenas na prática prolongada, na observação atenta dos fenômenos e mecanismos envolvidos, mas também no estudo repetido, contínuo dos textos elucidativos da Doutrina Espírita. Ninguém deveria aventurar-se a esse trabalho sem preparo prévio. Ê claro que um coração amoroso, habituado a doar-se sem reservas ao semelhante, supre em grande parte o despreparo doutrinário. Numa situação mais crítica, porém, diante de um Espírito mais artificioso, intelectualmente bem preparado e amoral, podem resultar embaraços bastante penosos para o doutrinador, os quais, de tão sérios, às vezes chegam a acarretar a desagregação do grupo.

Acontece, - também, que alguns dos Espíritos que se apresentam diante de nós conhecem-nos do passado mais recente ou mais remoto, de outras encarnações alhures. Sabem de nossas tendências, conhecem mais de nossa história pregressa do que nós mesmos e fazem bom uso de seus conhecimentos. Vendo-nos hoje a falar-lhes como santarrões, que ainda não somos, vêm-lhes à lembrança as figuras hediondas que fomos ao passado. Odeiam-nos, às vezes, pelas nossas crenças ou descrenças, pela oposição em que nos colocamos no passado, ou no presente. Esses ódios e rancores são particularmente dramáticos quando estamos em campos religiosos opostos.

Poucas paixões são tão persistentes e nefastas como essas. Permanecemos, com frequência, agarrados durante séculos inteiros às mesmas ideias religiosas, insuscetíveis de evolução, refratários a elas, inimigos delas. E os que nos conheceram como “bons” religiosos no passado, isto é, fanáticos, e nos veem hoje ligados a um movimento “herético”, como classificam o Espiritismo, nos detestam veementemente, mesmo que nada lhes devamos em termos cármicos. O ódio deles é pronto, verbal, agressivo, irracional. Estão convictos de defenderam a pureza dos dogmas a que se aferraram tenazmente e tudo e todos quantos se lhes oponham devem ser removidos a ferro e fogo, a qualquer custo, por amor do Cristo, dizem, de quem se julgam trabalhadores fiéis. E quantas vezes, mergulhando no passado distante, acabam descobrindo que ajudaram a cravar um prego nas mãos do Mestre, de quem se julgavam defensores intransigentes!

Chega, então, o momento difícil e doloroso da crise. Desarma-se subitamente toda a estrutura da proteção, da defesa. O Espírito não pode mais fugir de si mesmo. A tarefa que vê à frente é gigantesca, pois aquele que desceu para os abismos, espalhando dores e espinhos, tem de retraçar os seus passos- e não encontrará pelos caminhos de retorno outra coisa senão espinhos e dores. Mesmo assim, tem de palmilhá-lo, inapelavelmente, pois não há outro roteiro...

O primeiro impulso de ódio é ainda contra o doutrinador. Ele é o agente da sua dor, é aquele que teve a audácia de despertá-lo e, como qualquer um de nós, ele reage contra aquele que o sacudiu e o arrancou da anestesia cômoda do sono profundo que o isentava da dor. Terminou a fuga e o primeiro momento é absorvido pela revolta. Depois vem o duro choque da realidade, o arrependimento, a terrível sensação de esmagamento ante a magnitude de suas culpas e das tarefas de recuperação que o esperam. É um ser arrasado, um trapo humano que não pode mais fugir de si mesmo, nem desaparecer no não-ser. Ele sabe que a vida continua inexoravelmente.

É chegado o momento em que o doutrinador tem de se portar com a maior grandeza e tato. Tem de evitar o agravamento das dores, a implantação do desânimo, o esmagamento pelo rolo compressor do arrependimento. Não pode o doutrinador apresentar-se como cobrador da lei, nem como aquele que venceu, afinal. Ao irmão que ali está, mais do que nunca deve servir, oferecer o braço amigo, ainda que também fraco e imperfeito; colocar à disposição do companheiro tão fundamente atingido o abrigo precário e provisório de seu próprio coração, assegurar-lhe o amparo de companheiros mais esclarecidos e competentes, mostrar-lhe que o caminho é longo, mas é possível, é necessário, é o único; que ele terá repouso e instrução. Será preparado para as tarefas que o esperam, reencontrará afeições profundas que pareciam esquecidas. Não se deve afligir ante a aspereza da dor, porque as leis divinas não dosam o resgate acima das nossas resistências e possibilidades. Que chegou, afinal e graças a Deus, o momento da verdade, quando os nossos passos deixam de nos aprofundar nos escuros caminhos da angústia, para nos dirigirem à escalada na direção da paz. Tenha o irmão confiança em si e nos poderes superiores que velam por nós todos. É também chegado o momento da prece de recomendação e despedida. Se antes oramos para encontrar o caminho de seu coração, agora oramos para que ele o siga amparado pelos que o amam e há tanto tempo esperam por ele. Há sempre uma mãe carinhosa ali, ou um filho esquecido, ou uma companheira amada que os séculos guardaram para nós.

E enquanto agradecemos a Jesus por mais um Espírito que, por nosso intermédio, se entregou aos trabalhadores da luz, voltamo-nos para outro médium para receber novo irmão desarvorado a deblaterar enraivecido e alucinado, sem saber ainda que está desesperado pela salvação. Talvez Jesus permita que possamos recolhê-lo também. Recomeça o ciclo: vigilância, paciência, ternura, compreensão, firmeza, lealdade, humildade, amor, amor, amor...

É o que o mundo espiritual espera de nós. Lembremo-nos disso, quando nos sentarmos em torno da mesa de trabalho. E o Cristo não se esquecerá de nós...



Hermínio C Miranda

Reformador (FEB) Abril 1970

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

CARNAVAL - UMA FALSA ALEGRIA


Entre o Espiritismo e o carnaval não existem barreiras intransponíveis, mas, sim, a possibilidade abençoada de a criatura exercitar uma de suas prioridades existenciais, isto é, saber escolher o que mais lhe convém, o que realmente priorizar como verdadeira diversão.

Podemos, neste ensejo, buscar a palavra de Paulo de Tarso, quando ele afirmou de forma a não deixar dúvidas sobre a questão aqui enfocada: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém” (I Cor.,10: 23).

As “alegrias” experimentadas nos dias de carnaval costumam deixar resíduos morais nocivos na alma, tornando-os traumáticos, permanentes, marcantes. A história desta festividade mostra as sobras da amargura, da tristeza, dos aborrecimentos, dos desajustes familiares, dos desequilíbrios financeiros, das violências de todos os tipos, dos casos e mais casos das gestações indesejáveis, entre outras cruéis e dolorosas situações deixadas como rastros dessa mascarada, mentirosa alegria. Os tempos de as famílias inocentemente sentarem-se nas calçadas para ver os blocos passarem ficou na saudade. Em substituição, surgiu não só a necessidade cada vez maior de uma comercialização insaciável, com lucros exorbitantes, como também o extravasamento sempre audacioso do instinto sexual, da sensualidade, tema este largamente trabalhado com fins comerciais, tanto interna quanto externamente.

Vale ressaltar, na oportunidade, que o homem é o mesmo, carregando dentro de si o desejo do prazer genesíaco como objetivo a ser alcançado na vida.

O carnaval de hoje destrói a saúde física e moral, desnatura a pureza dos sentimentos nobres e impede maior expansão e expressão da caridade.

Nenhum Espírito que já desfrute do verdadeiro equilíbrio de sentimentos e emoções e logicamente do bom senso, condições estas que presidem o destino das criaturas, pode escolher, como alegria, a loucura do carnaval que adormece o ser, em detrimento daquelas outras formas de alegria, as quais levam as pessoas ao deleite de um bem-estar espiritual, e que podem ser assim enumeradas: a leitura de uma página doutrinária espírita; a convivência e conversação com pessoas que aspiram a absorção dos valores espirituais, o passeio no campo ou na praia, enfim, tudo que tenha como cenário de fundo a Natureza, que expressa o canto celeste da Vida em sua real dimensão – a espiritual.

Dentro da atualidade tecnológica, quando novos conhecimentos felicitam a mentalidade humana, falta a compreensão precisa do que seja alegria, felicidade, bem-estar moral/espiritual. É exatamente o Espiritismo que procura descerrar as belezas da vida do espírito e os objetivos sagrados da reencarnação, direcionando o homem para sua realidade de Espírito reencarnado, aprendendo a não nos reincidir mesmos erros do passado.

Nos dias atuais, mais ainda nos dos festejos carnavalescos, o que se presencia é a licenciosidade campeando assustadoramente; são momentos danosos que afetam o moral, fazendo com que o ser humano esqueça as inapreciáveis oportunidades de progresso espiritual.

O que mais nos intranqüiliza e constrange é saber que há, nesses momentos de indisciplina sentimental – os dias de carnaval –, toda uma influenciação das forças das trevas espirituais nos corações das pessoas desassisadas, levando-as a ter que reparar, através de várias reencarnações, alguns instantes de prazer ilusório.

Enquanto tais pessoas se entregam a esses “prazeres” provocadores de desgastes físicos e morais, superlotando os salões ricamente decorados, os miseráveis da vida, de estômagos vazios e corações sedentos de amor, multiplicam-se nas ruas e estendem suas mãos súplices à caridade.

São cegos, enfermos, crianças abandonadas, mães aflitas e sofredoras que desfilam ao lado dos mascarados da pseudo-alegria.

Cada ano mais e mais contribuições abarrotam os cofres dos que lograram materializar essas festas.

Que nos preocupemos com os problemas nobres da vida, porque só assim poderemos transformar o supérfluo gasto nesses fugidios folguedos na migalha abençoada capaz de suprir as reais necessidades dos mais carentes.

Enquanto houver um mendigo abandonado junto aos exuberantes gastos com o carnaval, somente se poderá registrar que continuamos passando a nós mesmos um eloqüente atestado da nossa miséria moral.

Terminamos estas singelas considerações sobre a falsa alegria que o carnaval propicia, lembrando, Humberto de Campos em Novas Mensagens (Ed. FEB), quando afirmou:

“Os três dias de Momo são integralmente destinados ao levantamento das máscaras com que todo sujeito sai à rua nos demais dias do ano”.



Adésio Alves Machado

Reformador Fevereiro 2005.Pagina 30

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

EM PAUTA - A TRISTE FESTA


Fevereiro é o mês do carnaval, que se constitui em uma série de folguedos populares, promovidos habitualmente nos três dias que antecedem o início da quaresma.

Em torno do mesmo centro de interesse - o disfarce, a dança, o canto e o gozo de certas liberdades de comunicação humana, inexistentes ou muito refreadas durante o resto do ano - a folia carnavalesca se apresenta com características distintas nos diferentes lugares em que se popularizou, vindo da Itália, especialmente de Roma, o modelo mais famoso.

De origem obscura, o mais provável é que se assente em raízes de festividades primitivas, de caráter religioso, em honra à volta da primavera. Mais concretamente, é possível se localizem suas origens em celebrações da Antigüidade, de caráter orgíaco, a exemplo das "bacanalia" da Grécia, festa em honra ao deus Dionísio.

Contudo, antes disso, os trácios se entregavam aos prazeres coletivos, como quase todos os povos antigos. E, em Roma, vamos encontrar estas festas como "saturnalia", quando se imolava uma vítima humana. Era uma festa de infeliz caráter pagão.

No Antigo Testamento, encontramos referências no Livro de Ester, especialmente no capítulo IX, que descreve como, graças à intervenção da rainha Ester junto ao rei Assuero os judeus acabam por massacrar os seus inimigos, atividade que durou dois dias inteiros, 13 e 14 do mês de Adar, cessando no dia quinze. Por essa razão, se estabeleceu que se solenizasse a data com banquetes e regozijos, conforme se lê no versículo 19: "Os Judeus, porém, que habitavam nas cidades sem muros e nas aldeias, destinaram o dia catorze do mês de Adar para banquetes e regozijos, de modo que neste dia fazem grandes divertimentos, e mandam uns aos outros alguma coisa dos seus banquetes e iguarias."

A data ficou assinalada como dias de Furim, isto é, das sortes, referindo-se ao Fur, a sorte que fora lançada e da qual eles, os Judeus, haviam saído vitoriosos.

Na Idade Média , já era aceito o Carnaval com naturalidade, configurando o enlouquecimento lícito uma vez por ano. As relações dos carnavalescos com a Igreja não foram cordiais, tendo se pronunciado doutores e Papas contra os tantos desregramentos da festividade. Contudo, o que prevaleceu foi uma atitude geral de tolerância, ficando inclusive por conta da Igreja a fixação da data do período momesco. O carnaval antecede a Quaresma, finalizando-se num dia de penitência, com a tristeza das cinzas.

A festa tem vestígios bárbaros e do primitivismo reinantes ainda na terra. No Brasil colonial e monárquico a forma mais generalizada de brincar o carnaval era o entrudo português.

Consistia em atirar contra as pessoas, não apenas água, mas provisões de pós ou cal. Mais tarde, água perfumada com limões, vinagre, groselha ou vinho. O objetivo sempre era sujar o passante desprevenido. Como se vê, uma brincadeira perigosa e grosseira.

A morte definitiva do entrudo se deu com o aparecimento do confete, a serpentina e o lança-perfume.

O que se observa nestes três dias de loucura, em que a carne nada vale, é o afloramento das paixões.

Observam-se foliões que se afadigam por longos meses na confecção das fantasias. Tudo para viver a psicosfera da ilusão. Perseguem vitórias vazias que esperam alcançar nestes dias. Diversos se mostram exaustos, física e emocionalmente. Alguns recorrem a fortes estimulantes para o instante definitivo do desfile. Consomem tempo e dinheiro, que poderiam ser aplicados na manutenção da vida e salvação de muitas vidas.

Mergulham em um fantástico mundo de sonhos. Anseiam por dar autenticidade a cada gesto, a toda atitude. Usando vestimentas de reis e rainhas, nobres e conquistadores, personagens de contos, artistas, fariam inveja a todos a quem copiam. Isso se as vestes e as coroas, os cetros, os mantos e as posturas não fossem todos falsos, exatamente como falsas são as expressões e vitórias que ostentam.

Diversos desses foliões nem se dão conta que poderão estar a representar a própria personalidade de vidas passadas.

Uma grande perda de tempo, pois de um modo geral conquistadores, reis, rainhas e generais que foram, se ainda permanecem na terra, é porque naquelas vidas faliram. E faliram feio.

Em toda essa festa de loucura, que deixa marcas profundas, pergunta-se se será mesmo manifestação de alegria, de descontração.

Que alegria é esta que exige fantasias, embriaguez e toda sorte de desregramentos para se manifestar?

Por isso, face às graves conseqüências do carnaval e suas origens de orgia e loucura, reflexionemos na exortação do espírito Thereza de Brito: "Numa sociedade em que a vida familiar tem sido tão difícil, tão escassa, por que não aproveitar os dias carnavalescos para conviverem bem mais juntos, seja no lar, num sítio arborizado, nas paisagens refazentes do mar ou da montanha, estreitando os vínculos do carinho, prestando atenção a tantos lances importantes da vida dos nossos queridos, antes inobservados?

Não se permitam poluir, pais terrestres, e lutem por preservar os seus filhos dessa ilusão passageira.

O imediatismo de Momo, os gozos das folias, as alegrias do carnaval tudo isso se desvanecerá, como todo fogo fátuo, e deixará os que neles se locupletaram nas valas da frustração e do arrependimento, mais cedo ou mais tarde.

Vocês, pai e mãe, atentos à nobre tarefa de educar seus rebentos, envolvam-nos com seu amor e sua assistência para que eles amadureçam assim, e a harmonia atinja mais rapidamente os arraiais do mundo, transformando as paixões inferiores em prazer renovador e são."



Reformador


Fontes:
1.                Nas fronteiras da loucura - Divaldo P. Franco/Manoel P. de Miranda - cap. 6 e 15.
2.                Vereda familiar - J. Raul Teixeira/Thereza de Brito - cap. 14.
3.                Enciclopédia Mirador Internacional, volume 5 - verbete: Carnaval