quinta-feira, 30 de abril de 2009

ADVENTO DO ESPÍRITO DA VERDADE


EM HOMENAGEM AOS 145 ANOS DE LANÇAMENTO DO “EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” OCORRIDO EM 30 DE ABRIL DE 1864 EM PARIS.


ESPÍRITO DE VERDADE
Paris, 1860

Venho, como outrora, entre os filhos desgarrados de Israel, trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como outrora a minha palavra, deve lembrar os incrédulos que acima deles reina a verdade imutável: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar as plantas e que levanta as ondas. Eu revelei a doutrina divina; e, como um segador, liguei em feixes o bem esparso pela humanidade, e disse: “Vinde a mim, todos vós que sofreis!”
Mas os homens ingratos se desviaram da estrada larga e reta que conduz ao Reino de meu Pai, perdendo-se nas ásperas veredas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana. Ele quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, ou seja, mortos segundo a carne, porque a morte não existe, sejais socorridos, e que não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a voz dos que se foram, faça-se ouvir para vos gritar: Crede e orai! Porque a morte é a ressurreição, e a vida é a prova escolhida, durante a qual vossas virtudes cultivadas devem crescer e desenvolver-se como o cedro.
Homens fracos, que vos limitais às trevas de vossa inteligência, não afasteis a tocha que a clemência divina vos coloca nas mãos, para iluminar vossa rota e vos reconduzir, crianças perdidas, ao regaço de vosso Pai.
Estou demasiado tocado de compaixão pelas vossas misérias, por vossa imensa fraqueza, para não estender a mão em socorro aos infelizes extraviados que, vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai todas as coisas que vos são reveladas; não misturem o joio ao bom grão, as utopias com as verdades.
Espíritas; amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades se encontram no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram são de origem humana; e eis que, de além túmulo, que acreditáveis vazios, vozes vos clamam: Irmãos! Nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal; sede os vencedores da impiedade!

*
ESPÍRITO DE VERDADE
Paris, 1861

Venho ensinar e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem sua resignação ao nível de suas provas; que chorem, porque a dor no Jardim das Oliveiras, mas que esperem, porque os anjos consoladores virão enxugar as suas lágrimas.

Trabalhadores, traçai o vosso sulco. Recomeçai no dia seguinte a rude jornada da véspera. O trabalho de vossas mãos fornece o pão terreno aos vossos corpos, mas vossas almas não estão esquecidas: eu, o divino jardineiro, as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos. Quando soar a hora do repouso, quando a trama escapar de vossas mãos, e vossos olhos se fecharem para a luz, sentireis surgir e germinar em vós a minha preciosa semente. Nada se perde no Reino de nosso Pai. Vossos suores e vossas misérias formam um tesouro, que vos tornará ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas, e onde o mais desnudo entre vós será talvez o mais resplandecente.
Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são os meus bem-amados. Instrui-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos ensina o objetivo sublime da prova humana. Como o vento varre a poeira, que o sopro dos Espíritos dissipe a vossa inveja dos ricos do mundo, que são freqüentemente os mais miseráveis, porque suas provas são mais perigosas que as vossas. Estou convosco, e meu apóstolo vos ensina. Bebei na fonte viva do amor, e preparai-vos, cativos da vida, para vos lançardes um dia, livres e alegres, no seio daquele que vos criou fracos para vos tornar perfeitos, e deseja que modeleis vós mesmos a vossa dócil argila, para serdes os artífices da vossa imortalidade.

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ESPÍRITO DE VERDADE
Bordeaux, 1861

Eu sou o grande médico das almas, e venho trazer-vos o remédio que vos deve curar. Os débeis, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos, e venho salvá-los. Vinde, pois, a mim, todos vós que sofreis e que estais carregados, e sereis aliviados e consolados. Não procureis alhures a força e a consolação, porque o mundo é impotente para dá-las. Deus dirige aos vossos corações um apelo supremo através do Espiritismo: escutai-o. Que a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade, sejam extirpados de vossas almas doloridas. São esses os monstros que sugam o mais puro do vosso sangue, e vos produzem chagas quase sempre mortais. Que no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiqueis sua divina lei. Amai e orai. Sede dócil aos Espíritos do Senhor. Invocai-o do fundo do coração. Então, Ele vos enviará o seu Filho bem-amado, para vos instruir e vos dizer estas boas palavras: “Eis-me aqui; venho a vós, porque me chamastes!

*
ESPÍRITO DE VERDADE
Havre, 1863

Deus consola os humildes e dá força aos aflitos que a suplicam. Seu poder cobre a Terra, e por toda parte, ao lado de cada lágrima, põe o bálsamo que consola. O devotamento e a abnegação são uma prece contínua e encerram profundo ensinamento: a sabedoria humana reside nessas duas palavras. Possam todos os Espíritos sofredores compreender estas verdades, em vez de reclamar contra as dores, os sofrimentos mortais, que são aqui na Terra o vosso quinhão. Tomai, pois, por divisa, essas duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade vos impõe. O sentimento do dever cumprido vos dará a tranqüilidade de espírito e a resignação. O coração bate melhor, a alma se acalma, e o corpo já não sente desfalecimentos, porque o corpo sofre tanto mais, quanto mais profundamente abalado estiver o espírito.

domingo, 26 de abril de 2009

A PRECE


Allan Kardec
A prece é uma invocação: por ela nos pomos em relação mental com o ser a que nos dirigimos. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou um louvor. Podemos orar por nós mesmos ou pelos outros, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução dos seus desígnios; as que são dirigidas aos Bons Espíritos vão também para Deus. Quando oramos para outros' seres, e não fiara Deus, aqueles nos servem apenas de intermediários, de intercessores, porque nada pode ser feito sem a vontade de Deus.
O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, ao explicar a forma de transmissão do pensamento, seja quando o ser a quem oramos atende ao nosso apelo, seja quando o nosso pensamento eleva-se a ele. (...)
Quando, pois, o pensamento se dirige para algum ser, na terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som. A energia da corrente está na razão direta da energia do pensamento e da vontade.
As condições da prece foram claramente definidas por Jesus. Quando orardes, diz ele, não vos coloqueis em evidência, mas orai em secreto. Não finjais orar demasiado, porque não será pelas muitas palavras que sereis atendidos, mas pela sinceridade delas
Antes de orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-a, porque a prece não poderia ser agradável a Deus, se não partisse de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade.
(...) Examinai os vossos defeitos, e não as vossas qualidades, e se vos comparardes aos outros, procurai o que existe de mau em vós.
Há pessoas que contestam a eficácia da prece, entendendo que, por conhecer Deus as vossas necessidades, é desnecessário expô-las a Ele. Acrescentam ainda que, tudo se encadeando no universo através de leis eternas, nossos votos não podem modificar os desígnios de Deus.
Há leis naturais e imutáveis, sem dúvida, que Deus não pode anular, segundo os caprichos de cada um.
Mas, daí a acreditar que todas as circunstâncias da vida estejam submetidas à fatalidade, a distância é grande. Se assim fosse, o homem seria apenas um instrumento passivo, sem livre-arbítrio e sem iniciativa. (...) Deus não lhe deu o entendimento e a inteligência para que não os utilizasse, a vontade para não querer, a atividade para cair na inação. O homem sendo livre de agir, num ou noutro sentido, seus atos têm, para ele mesmo e para os outros, conseqüências subordinadas às suas decisões. Em virtude da sua iniciativa, há, portanto, acontecimentos que escapam, forçosamente, à fatalidade, que nem por isso destroem a harmonia das leis universais, da mesma maneira que o avanço ou o atraso dos ponteiros de um relógio não destrói a lei do movimento, que regula o mecanismo do aparelho. Deus pode, pois, atender a certos pedidos sem derrogar a imutabilidade das leis que regem o conjunto, dependendo sempre o atendimento da Sua vontade.
Seria ilógico concluir-se, desta máxima: "Aquilo que pedirdes pela prece vos será dado", que basta pedir para obter. É injusto acusar a Providência se ela não atender a todos os pedidos que lhe fazem, porque ela sabe melhor do que nós o que nos convém. Assim procede o pai prudente, que recusa ao filho o que lhe seria prejudicial. O homem, geralmente, só vê o presente; mas, se o sofrimento é útil para
a sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa o doente sofrer a operação que deve curá-lo.
O que Deus lhe concederá, se pedir com confiança, é a coragem, a paciência e a resignação. E o que ainda lhe concederá, são os meios de se livrar das dificuldades, com a ajuda das idéias que lhe serão sugeridas pelos Bons Espíritos, de maneira que lhe restará o mérito da ação. (...)
Pela prece, o homem atrai o concurso dos Bons Espíritos, que o vem sustentar nas suas boas resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos.
(Extraído do Capítulo XXVII de "O Evangelho segundo o Espiritismo", respectivamente itens 9, 10, 4, 6, 7, 11) Revista Informação - Abril 1977

sábado, 25 de abril de 2009

UMA GOTA DE ÁGUA


Você já parou, alguma vez, para observar uma gota d`água? Sim, uma pequena gota d`água se equilibrando na ponta de um frágil raminho...
Com graciosidade a gotícula desafia a lei da gravidade, se balançando nas bordas das folhas ou nas pétalas de uma flor.
São gotas minúsculas, que enfeitam a natureza nas manhãs orvalhadas ou permanecem como pequenos diamantes líquidos, depois que a chuva se vai. É por isso que um bom observador dirá que a vida seria diferente se não existissem gotas de água para orvalhar a relva e amenizar a secura do solo.
Madre Tereza de Calcutá foi uma dessas almas sensíveis.
Um dia, um jornalista que a entrevistava disse-lhe que, embora admirasse o seu trabalho junto aos pobres e enfermos, considerava que o que ela fazia, diante da imensa necessidade, era como uma gota d`água no oceano.
E aquela pequena sábia-mulher, lhe respondeu: “sim, meu filho, mas sem essa gota d`água o oceano seria menor.”
Sem dúvida uma resposta simples e extremamente profunda.
Pois sem os pequenos gestos que significam muito, a vida não seria tão bela...
Um aperto de mão, em meio à correria do dia-a-dia...
Um minuto de atenção a alguém que precisa de ouvidos atentos, para que não caia nas malhas do desespero...
Uma palavra de esperança a alguém que está à beira do abismo.
Um sorriso gentil a quem perdeu o sentido da vida.
Uma pequena gentileza diante de quem está preso nas armadilhas da ira.
O silêncio, frente à ignorância disfarçada de ciência...
A tolerância com quem perdeu o equilíbrio. Um olhar de ternura para quem pena na amargura. Pode-se dizer que tudo isso são apenas gotas d`água que se perdem no imenso oceano, mas são essas pequenas gotas que fazem a diferença para quem as recebe.
Sem as atitudes, aparentemente insignificantes, que dentro da nossa pequenez conseguimos realizar, a humanidade seria triste e a vida perderia o sentido.
Um abraço afetuoso, nos momentos em que a dor nos visita a alma...
Um olhar compassivo, quando nos extraviamos do caminho reto...
Um incentivo sincero de alguém que deseja nos ver feliz, quando pensamos que o fracasso seria inevitável...
Todas essas são atitudes que embelezam a vida.
E, se um dia alguém lhe disser que esses pequenos gestos são como gotas d`água no oceano, responda, como madre Tereza de Calcutá, que sem essa gota o oceano de amor seria menor. E tenha certeza disso, pois as coisas grandiosas são compostas de minúsculas partículas.
.................
Sem a sua quota de honestidade, o oceano da nobreza seria menor. Sem as gotas de sua sinceridade, o mar das virtudes seria menor.
Sem o seu contributo de caridade, o universo do amor fraternal seria consideravelmente menor. E jamais acredite naqueles que desconhecem a importância de um pequeno tijolo na construção de um edifício.
Lembre-se da minúscula gota d`água, que delicadamente se equilibra na ponta do raminho, só para tornar a natureza mais bela e mais romântica, à espera de alguém que a possa contemplar. E, por fim, jamais esqueça que são essas mesmas pequenas e frágeis gotas d`água que, com insistência e perseverança conseguem esculpir a mais sólida rocha.
Autor:Equipe de Redação do Momento Espírita.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

DESUNIÃO E DIVERGÊNCIA

NO DIA 24 DE ABRIL DE 1984 DESENCARNAVA NO RIO DE JANEIRO. DEOLINDO AMORIM, JORNALISTA E ESCRITOR DE IDEALIZOU OS CONGRESSOS DOS JORNALISTAS E ESCRITORES ESPÍRITAS, A ABRAJEE E O INSTITUTO DE CULTURA ESPÍRITA DO BRASIL.
Nem sempre divergência significa desunião. Se é verdade que as divergências ou discordâncias algumas vezes já comprometeram a união entre pessoas e grupos, não se deve dar a este fato a extensão de uma regra geral, pois é apenas um episódio discrepante. Onde há duas pessoas frente a frente sempre há o que ou em que discordar. Seria impossível a existência de um grupo humano, por menor que fosse, sem um pensamento discordante, sem uma opinião contrária a qualquer coisa. Entre dois amigos, como entre dois irmãos muito afins pode haver divergência frontal ou inconciliável em matéria política, religiosa, social etc., sem que haja qualquer “arranhão” na amizade. Discutem, discordam, assumem posições opostas, mas continuam unidos.
Justamente por isso e pelo que observo na vida cotidiana, não creio que seja necessário abafar as divergências ou evitar qualquer discussão, ainda que em termos altos, simplesmente para preservar a união de um grupo ou de uma coletividade inteira. Seria o caso, em última hipótese, de acabar de vez com o diálogo e adotar logo um tipo de vida conventual. O diálogo é uma necessidade, pois é dialogando que trocamos idéias e permutamos opiniões e experiências. Uma comunidade que não admite o diálogo está condenada, por si mesma, a ficar parada no tempo. Cada qual naturalmente deve preparar-se ou educar-se espiritualmente para discutir ou divergir sem prevenções ou ressenti­mentos. O fato de não concordarmos com a opinião de um companheiro neste ou naquele sentido ou de não adotarmos a linha de pensamento de uma instituição deve ser encarado com naturalidade, mas não deve servir de motivo (jamais!) para que mudemos a maneira de tratar ou viremos as costas a alguém. Seria o caso de perguntar: e onde está o Evangelho, que se prega a todo momento?... Como falar em Evangelho, que é humildade e amor, e fugir a um abraço sincero ou negar um aperto de mão por causa de uma divergência ou de um ponto de vista?
Então, não é a divergência aqui ou ali que porventura “cava o abismo da desunião”, é a incompreensão, o personalismo, o radicalismo do elemento humano em qualquer campo do pensa­mento. Já ouvi dizer mais de uma vez que os espíritas são desunidos por causa das divergências internas. Sinceramente, não acompanho este ponto de vista. Acho que não há propriamente desunião, mas apenas desencontro de idéias, fora dos pontos cardeais da Doutrina. Somos uma comunidade composta de gente emancipada e, por isso mesmo, o campo está sempre aberto ao estudo e à crítica. Certos observadores gostariam, por exemplo, que o Movimento Espírita fosse um “bloco maciço sem nenhuma nota fora do conjunto. É uma pretensão utópica, pois não há um movimento religioso, político ou lá o que seja sem alguma voz discordante, aqui ou ali.
Tomava-se como referência, até bem pouco tempo, a “unidade monolítica” da Igreja Católica. Unidade relativa, diga-se de passagem. E o que se vê hoje? O fracionamento cada vez mais acentuado. Os grupos conservadores, porque se batem pela manutenção da Igreja tradicional, estão enfrentado os grupos renovadores, partidários de modificações estruturais; grupos que querem a Igreja fora da política estão em conflito com os grupos que querem justamente uma Igreja participante no campo político. Há, portanto, demanda de alto a baixo, com pro­gramas de reforma na teologia, como na administração e na disciplina eclesiástica. Logo, a Igreja não oferece hoje a unidade doutrinária que nos apontam às vezes, como modelo. E o Protestantismo, que é outro grande movimento religioso, não se divide em denominações e seitas, com características diferentes entre si? Batistas, presbiterianos, adventistas, congregacionistas etc. Não desejo criticar procedi­mentos religiosos, pois todos os cultos são respeitáveis, mas estou anotando fatos.
Voltemo-nos para mais longe, fora da faixa ocidental, e lá está o Budismo, também um movi­mento expressivo. Não cabe, aqui, discutir se o Budismo é ou não religião. Seja como for, ocupa um espaço considerável, mas também se ramificou. Existe, hoje, pelo menos mais de uma escola budista. O Positivismo, que viera da França, teve muita força no Brasil, mas não se manteve íntegro, pois o grande bloco se desmembrou entre científicos e religiosos no século passado. Sobrevive, hoje, uma religião sem Deus, sem cogitação acerca da vida futura, mas um culto ritualizado, com sacerdócio.
Muitos discípulos de Augusto Comte não queriam, de forma alguma, que o Positivismo se transformasse em religião e, por isso, eram chamados de científicos, ao passo que muitos outros absorveram logo o Positivismo como Religião da Humanidade. E realmente implantaram um culto religioso no Apostolado Positivista. Logo, também o Positivismo não conseguiu sustentar um padrão uniforme.
O fenômeno que se observa no meio espírita é muito diferente.
Sempre houve divergências, mas não se quebrou a unidade doutrinária, que é fundamental. O Espiritismo continua a ser um só, inconfundível, não se dividiu em diversos espiritismos. Há, entre nós, opiniões discordantes em determinados aspectos, porém, os princípios são os mesmos, não se alteraram. Não formamos sei­tas nem correntes à parte, apesar das divergências. Então, não há motivo para que estejamos vendo desunião onde há simples­mente desacordo de idéias.
Deolindo Amorim
Fonte: Reformador – junho, 1989

quinta-feira, 23 de abril de 2009

PAIS DIFÍCEIS


Tema: Pais humanos em divergência conosco

Nem sempre surgem como sendo personalidade adequadas aos nossos desejos aqueles que a vida nos oferece por pais na estância física.
Seriam eles maus ou diferentes, porque não nos entendam, de pronto, os ideais? Numa interrogativa dessa natureza, toda vez que estivermos na posição de filhos, é possível devamos formular semelhante questão ao inverso.
Habitualmente, julgamos nossos pais humanos,. Quando a razão começa a amadurecer no galho florido de nossos primeiros sonhos da mocidade.
Sobretudo, pretendemos medir-lhes as supostas deficiências, depois de passados mais de vinte ou trinta anos sobre os dias semi-conscientes de nossa infância. Se não concordam com as nossas opiniões, freqüentemente apontamo-los por espíritos passadistas ou intolerantes.
Nessa conceituação apressada, porém, esquecemo-nos de que eles carregam na alma as cicatrizes profundas dos golpes que receberam no caminho da experiência, quantas vezes por nossa causa, e, por isso mesmo, nem sempre lhes será possível colocar os ouvidos ao nível em que se nos situa a palavra.
Fácil considerá-los desorientados, quando não estejam de acordo com os preceitos que aceitamos como sendo os mais justos; entretanto, a distância enorme de tempo que existe entre a hora de nossa análise e a hora do berço não nos permite saber quantos problemas e quanto fel amargaram, até que adotassem padrões individuais de conduta, diversos daqueles consagrados para a vida na Terra.
Muito simples categorizá-los à conta de intransigentes, quando nos reprovam os pontos de vista; contudo, raramente estamos nas condições precisas para avaliar as crises que suportaram, a fim de que tentações e desequilíbrios não arrasassem o lar que nos serve de apoio e ninho.
Se te encontras à frente de pais magoados ou sofredores, recorda um homem generoso que largou as conveniências da própria liberdade, para colocar uma família nos ombros, e lembra-te de certa mulher, jovem e bela, que olvidou a si mesma e renunciou à própria vida, padecendo na carne e na alma, para que pudesses viver!...
Considera que eles se reuniram, obedecendo os desígnios de Deus, a fim de que viesses ao mundo, e se não puderam ser felizes como esperavam ou se as provações da existência os tornaram assim, quando estiveres a ponto de censurá-los, pensa na alegria e no amor com que eles dois rogaram a Deus te abençoasse, quando nasceste, e, em silêncio, pede também a Deus que os abençoe.

Livro: Encontro marcado - Emmanuel – Chico Xavier

terça-feira, 21 de abril de 2009

PORQUE SOU ESPÍRITA

No outro dia, alguém me fez esta pergunta. Como o nosso jornal tem ampla penetração, até mesmo no meio não-espírita, vale a pena dar, também através dele, a resposta.
É verdade que, desde criança, o pai e a mãe nos puseram, sob os olhos, os livros do Consolador, levando-me, com a mana, a todas as reuniões a que comparecessem, nos Centros Espíritas de Nova Iguaçu (Estado do Rio). Todavia, rapazola, passeia a estudar a Terceira Revelação, estudo este que, até hoje, adulto, prossigo fazendo, pois, em matéria de Espiritismo, também, é válida a frase que diz ser a vida breve e a arte longa. Muito tenho a aprender, na Doutrina dos Espíritos.
Foi este estudo que me vem rasgando, desde então, os mais amplos horizontes, para dilatação da minha acanhada visão espiritual.
Antes de tudo, a Doutrina me mostrou a existência soberana de um Deus que é, realmente, Pai amoroso e bom, Infinito em todas as suas perfeições, Criador de tudo... E não um padrasto, com as mesmas virtudes e paixões humanas, criando um céu eterno, para uns e um inferno, também eterno, para outros!...
Depois, esclareceu-me quanto ao ser, cada um de nós, não este corpo de carne e osso (no meu caso, menos de carne que de osso). Mas um Espírito imortal que evolui para a perfeição, através das múltiplas encarnações, na Terra, ou nos diferentes mundos habitados do Universo sem lindes!...
Ensinou-me, ainda, a existência de leis físicas, para o plano material, tanto como leis morais, regendo os destinos dos Espíritos. Fez-me ver que, assim sendo, tudo tem a sua razão de ser. Que cada um de nós é responsável pelos seus atos. Que cada criatura recebe aquilo que dá. Colhe o que semeia. Será feliz, se for boa. Infeliz, se for má. Mas, que um dia, aquele que é mau, porque é ignorante, se esclarece e, passando a ser menos mau - passa a ser menos infeliz!...
E mais, o Espiritismo me elucidou a questão da mediunidade. Passando a conhecer, mais de perto, os trabalhos mediúnicos, sob orientação kardequiana e, portanto, trabalhos mediúnicos voltados para a Caridade - entrevi a possibilidade de os encarnados entrarem e contato com os desencarnados, a fim de que ambos lucrassem com a troca de experiência.
Tirante isto, a mediunidade que me forneceu elementos para compreender melhor certas situações de criaturas sob influência perniciosa de obsessores, tanto como me tranqüilizou, mostrando como o plano espiritual nos pode proteger, se, para tanto, fizermos jus.
Por fim, o Espiritismo apontou-me Jesus.!
Sim, eu poderia vir a conhecê-lo, através de outras religiões. E tê-lo-ia como meu Salvador. Poderia conhecê-lo, até mesmo através de correntes filosóficas, referências literárias, temas artísticos ou dos testemunhos da História. E vê-lo-ia, como um visionário! Ou um mártir, nas mãos de homens impiedosos! Ou, então, um revolucionário sacrificado pelos que se viram ameaçados por suas idéias!
Mas, com o Espiritismo, eu o vejo, como sendo o maior Espírito, jamais, baixado à Terra, com a sublime missão de arrancar o homem do escuro pântano das paixões, onde se atola, para os resplendores do céu interior. E, isto, mediante o estudo da Verdade e a prática do Amor. Daí, os seus ensinos e os seus exemplos.
Bastava-me, apenas, isto, se, apenas, isto me oferecesse a Doutrina querida, codificada por Kardec!

“Unificação” - jun/jul-70 - São Paulo-SP
Tribuna Espírita - Maio/Junho de 2000

segunda-feira, 20 de abril de 2009

PRIMEIRAS IMPRESSÕES ALÉM DA MORTE


Cornélio Pires
Caso triste aconteceu
Com o amigo Adão Caprera:
Desencarnado na rua,
Continua na paquera

Pedro Silva
Assunto sem ilusões,
Às vezes cômico e forte;
As primeiras impressões
Da pessoa, além da morte

Aderaldo Ferreira de Araujo
Quando a morte vem buscar
Alguém que segue a Jesus
Traz a alegria de um cego
Que vê novamente a luz.

Fidelis Alves
Na morte, ao grande calvário
Da doença, em que se atola,
Quem parte lembra o canário
Quando livre da gaiola.

Jovino Guedes
A morte é a grande saída
De quem sofre atado à prova...
A gente abandona a vida,
Mas encontra vida nova.

Lulú Parola
O recém-desencarnado
Nutre a paixão que o assanha;
A raposa muda a pele
Mas nunca muda de manha.

Silveira Carvalho
A oração é sempre um guia
Que nos guarda e nos abranda,
No entanto, o que se fazia,
Na morte é a força que manda.

Meimei
Morte que chega na hora
Em que deve aparecer
Tem a beleza da aurora
No encanto do amanhecer.

Marcelo Gama
Pessoa que deixa o mundo,
Vivendo em longa aversão,
Na morte é matriculada
No campo da obsessão.

Auta de Souza
Morte é esperança, semente,
Revisão, soma, promessa,
Um berçário diferente
Em que a vida recomeça...

(De “Tão Fácil”, de Francisco Cândido Xavier – Espíritos Diversos

sábado, 18 de abril de 2009

18 DE ABRIL - DIA NACIONAL DO ESPIRITISMO

Ave, 18 de Abril!

Foi no dia 18 de abril de 1857, na cidade de Paris, capital da França, que veio a lume "O Livro dos Espíritos", a obra basilar do Espiritismo, ditada pelo mundo invisível e compilada, separada, classificada e codificada pelo ínclito professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, que, propositadamente, adotou o pseudônimo de Allan Kardec, nome que tivera em recuada existência pretérita, a fim de que a obra pudesse ser comprada, se fosse o caso, pelo seu conteúdo e não por quem a assinava, já que era ele muitíssimo conhecido e reconhecido, como professor e como autor de diversos livros, vários dos quais adotados pela Universidade de Paris, notadamente os que versavam sobre educação.
Teve considerável peso também, na adoção do pseudônimo, o fato de que o livro foi ditado pelos Espíritos Superiores, daí o título "O Livro dos Espíritos", não sendo obra dele, professor Rivail, portanto, não obstante tenha nela lançado inúmeros comentários e observações pessoais.
Nota-se, assim, desde logo, por esses detalhes, a conduta reta e ilibada do professor Rivail, o codificador do Espiritismo, que foi discípulo de Johann Heinrich Pestalozzi, famoso educador e fundador do Internato de Yverdon, na Suíça, e, posteriormente, seu substituto predileto, tendo sido considerado pelo célebre astrônomo francês Camille Flammarion "o bom senso encarnado", que, acrescente-se, sempre procurou agir com seriedade e sem rejeições apriorísticas, características do verdadeiro cientista.
Constituía traço característico de sua personalidade, por igual, a preservação da ética, sempre, em suas múltiplas e variadas expressões.
De 1855 a 1869, quando desencarnou em 31 de março, o eminente e ilustrado professor Rivail consagrou sua existência ao Espiritismo.
Em seu túmulo, no Cemitério Père Lachaise, em Paris, uma inscrição sintetiza a concepção evolucionista da Doutrina Espírita: nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei!
Por outro lado, decorridos 152 anos, não se pode deixar de reconhecer que os ensinos contidos em "O Livro dos Espíritos", em sua essência, permanecem absolutamente aplicáveis aos dias atuais, o que, por si, recomenda a leitura, a releitura e, sobretudo, a reflexão, em torno de tão preciosa obra, que contém os princípios da Doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da Humanidade.
Verdadeira síntese do conhecimento humano, é um tesouro colocado em nossas mãos, que merece, por isso mesmo, repetimos adredemente, ser lido e refletido de capa a capa, palavra por palavra.
Com efeito, para dizer o mínimo, convém salientar que o Espiritismo nada impõe a seus profitentes, e muito menos a terceiros.
Ao contrário, procura orientar sempre, pela palavra escrita ou falada, que somos dotados de livre-arbítrio, da faculdade de decidir livremente sobre quaisquer assuntos, esclarecendo ao mesmo tempo que, exatamente por isso, somos responsáveis pelas decisões que tomemos, sejam quais forem e nos mais variados campos, e naturalmente responsáveis pelas suas conseqüências.
Por outra parte, enfatiza lições seculares, procurando demonstrar com exemplos e com fatos que "a semeadura é livre, mas a colheita obrigatória" e que "a cada um será concedido de acordo com as suas obras".
Consola, ao salientar que ninguém será condenado irremediavelmente pelos erros, males e equívocos cometidos, porquanto até mesmo em outra reencarnação, que detalha e aprofunda, poderá repará-los, parcial ou totalmente, até quitá-los integralmente, contando com todas as oportunidades de que necessite para tal, uma vez que Deus, sendo o Pai Celestial de todos nós, a nenhum de seus filhos abandona ou desampara.
Consola, igualmente, ao demonstrar cabalmente que as Leis Naturais são perfeitas e por isso mesmo imutáveis, advindo daí a certeza de que a Justiça Divina, que nelas se baseia, é absolutamente imparcial, não havendo seres privilegiados na Criação ou privilégio de qualquer espécie a quem quer que seja, prevalecendo a convicção de que Deus não pune, não castiga e não premia a ninguém, sendo, assim, soberanamente bom e justo, Ele que é a inteligência suprema do Universo, causa primária de todas as coisas!
Por fim, nestas rapidíssimas observações, o Espiritismo ensina que o amor é a lei maior da vida, consubstanciada por Cristo na sentença que constitui o seu ensino máximo "amar ao próximo como a si mesmo", vale dizer, aconselhando que façamos ao próximo aquilo que gostaríamos que ele nos fizesse, porque quem assim procede estará, por esse mesmo motivo, "amando a Deus sobre todas as coisas".
Aliás, esta sentença de Jesus de Nazaré, o Cristo, modelo e guia da Humanidade, nosso mestre e amigo de todas as horas, também ensina e deixa muito claro que para que amemos ao próximo é absolutamente indispensável que nos amemos, de modo que é necessário, no mínimo, que tenhamos elevada auto-estima.
Agindo com amor e praticando o Bem, ensina-nos a veneranda Doutrina Espírita, ingressaremos na estrada que nos conduzirá à perfeição relativa e à felicidade suprema, destino final dos seres humanos, sendo certo que, assim, sem dúvida, seremos muito mais felizes, desde agora, aqui mesmo na Terra!
"Com efeito, para dizer o mínimo, convém salientar que o Espiritismo nada impõe a seus profitentes, e muito menos a terceiros."

sexta-feira, 17 de abril de 2009

EM HOMENAGEM A SÓROR JUANA INÉS DE LA CRUZ PENÚLTIMA ENCARNAÇÃO DE JOANNA DE ÂNGELIS


SOROR JUANA INÉS DE LA CRUZ
No século XVII ela reaparece no cenário do mundo, para mais uma vida dedicada ao Bem. Renasce em 1651 na pequenina San Miguel Nepantla, a uns oitenta quilômetros da cidade do México, com o nome de JUANA DE ASBAJE Y RAMIREZ DE SANTILLANA, filha de pai basco e mãe indígena.
Após 3 anos de idade, fascinada pelas letras, ao ver sua irmã aprender a ler e escrever, engana a professora e diz-lhe que sua mãe mandara pedir-lhe que a alfabetizasse. A mestra, acostumada com a precocidade da criança, que já respondia ás perguntas que a irmã ignorava, passa a ensinar-lhe as primeiras letras. Começou a fazer versos aos 5 anos.
Aos 6 anos, Juana dominava perfeitamente o idioma pátrio, além de possuir habilidades para costura e outros afazeres comuns às mulheres da época. Soube que existia no México uma Universidade e empolgou-se com a idéia de no futuro, poder aprender mais e mais entre os doutores. Em conversa com o pai, confidenciou suas perspectivas para o futuro. Dom Manuel, como um bom espanhol, riu-se e disse gracejando:
-"Só se você se vestir de homem, porque lá só os rapazes ricos podem estudar." Juana ficou surpresa com a novidade, e logo correu à sua mãe solicitando insistentemente que a vestisse de homem desde já, pois não queria, em hipótese alguma, ficar fora da Universidade.
Na Capital, aos 12 anos, Juana aprendeu latim em 20 aulas, e português, sozinha. Além disso, falava nahuatl, uma língua indígena. O Marquês de Mancera, querendo criar uma corte brilhante, na tradição européia, convidou a menina-prodígio de 13 anos para dama de companhia de sua mulher.
Na Corte encantou a todos com sua beleza, inteligência e graciosidade, tornando-se conhecida e admirada pelas suas poesias, seus ensaios e peças bem-humoradas. Um dia, o Vice-rei resolveu testar os conhecimentos da vivaz menina e reuniu 40 especialistas da Universidade do México para interrogá-la sobre os mais diversos assuntos. A platéia assistiu, pasmada, àquela jovem de 15 anos responder, durante horas, ao bombardeio das perguntas dos professores. E tanto a platéia como os próprios especialistas aplaudiram-na, ao final, ficando satisfeito o Vice-rei. Mas, a sua sede de saber era mais forte que a ilusão de prosseguir brilhando na Corte.
A fim de se dedicar mais aos seus estudos e penetrar com profundidade no seu mundo interior, numa busca incessante de união com o divino, ansiosa por compreender Deus através de sua criação, resolveu ingressar no Convento das Carmelitas Descalças, aos 16 anos de idade. Desacostumada com a rigidez ascética, adoeceu e retornou à Corte. Seguindo orientação de seu confessor, foi para a ordem de São Jerônimo da Conceição, que tem menos obrigações religiosas, podendo dedicar-se às letras e à ciência.
Tomou o nome de SÓROR JUANA INÉS DE LA CRUZ. Na sua confortável cela, cercada por inúmeros livros, globos terrestres, instrumentos musicais e científicos, Juana estudava, escrevia seus poemas, ensaios, dramas, peças religiosas, cantos de Natal e música sacra. Era freqüentemente visitada por intelectuais europeus e do Novo Mundo, intercambiando conhecimentos e experiências.
A linda monja era conhecida e admirada por todos, sendo os seus escritos popularizados não só entre os religiosos, como também entre os estudantes e mestres das Universidades de vários lugares. Era conhecida como a "Monja da Biblioteca". Se imortalizou também por defender o direito da mulher de ser inteligente, capaz de lecionar e pregar livremente.
Em 1695 houve uma epidemia de peste na região. Juana socorreu durante o dia e a noite as suas irmãs reliogiosas que, juntamente com a maioria da população, estavam enfermas. Foram morrendo, aos poucos, uma a uma das suas assistidas e quando não restava mais religiosas, ela, abatida e doente, tombou vencida, em 17.04.1695, aos 44 anos de idade.

IMORTALIDADE

No justo momento em que a técnica atinge as culminâncias, e o homem sofre aflições sem termo, somos convidados a recordar Jesus-Cristo exclamando: “Eu vendi o mundo!”
A ciência vaticinou, para o século corrente, a morte das doutrinas espiritualistas, tendo em vista a marcha natural do progresso intelectivo.
E em verdade, até à metade do século passado, a filosofia espiritualista não passava de um amontoado de informação místicas e de arranjos dogmáticos incapazes de competir com os sistemas filosóficos vigentes, resistindo aos descobrimentos da ciência investigadora.
Coube a Allan Kardec a inapreciável tarefa de demonstrar, pela pesquisa experimental, a realidade do fenômeno da imortalidade da alma. E, graças a isso, o Codificador da Doutrina Espírita se destaca entre os vates do pensamento universal, pelo gigantesco empreendimento de positivar, consoante os dados oficiais da indagação, a continuação da vida além da morte.
A tarefa era, a princípio, sob todos os aspectos intratável, considerando-se a posição da ciência ante os rudimentos da nascente Psicologia.
De um lado, o cientificismo pontificava arbitrário, e o empirismo, no outro extremo, ditava leis falseadas sobre a verdade.
Kardec, porém, embrenhou-se no matagal das informações.
Não foi somente um coligidor dos informes dos Espíritos. Foi, antes de tudo, um admirável garimpeiro da verdade, separando da ganga o ouro rebrilhante, na mensagem eterna.
De 1854 a 1869, pesquisou, selecionou, reparou, fez acréscimos, sopesou e apresentou uma doutrina que pudesse enfrentar o materialismo, justamente no momento em que Engels e Marx iriam desdobrar os conceitos hegelianos, favorecendo os aspectos dialético e histórico, já que o materialismo mecanicista não podia resolver o problema fundamental da imortalidade por lhe faltarem os elementos basilares para destruir a realidade da alma.
Com Hegel, o pensamento passou a ser uma função do cérebro, cuja atividade era pensar, controlando as manifestações nervosas da vida.
Allan Kardec se distinguiu pela tarefa de demonstrar que o pensamento não é apenas uma função do cérebro, sendo este a conseqüência de um pensamento anterior que nele atua através de um outro cérebro mais sutil, comando geral e força dinâmica mantenedora do equilíbrio: o psicossoma.
E acolitado por figuras da enfibratura de Crookes, Zölner, do caráter de Lombroso e de Lodge que vieram a público, posteriormente, apresentar o resultado das suas pesquisas, Kardec demonstrou, à saciedade, o sentido incontroverso da imortalidade da alma, em experiências que se tornaram notáveis, realizadas mais tarde, com o curso de médiuns do quilate de Florence Cook, Eusápia, Daniel Home...
A tarefa se avultava por estarem em jogo os sistemas do monismo e do dualismo.
Allan Kardec demonstrou também que o homem não é constituído apenas de duas peças: o corpo e alma. Mas é formado por uma tríade de elementos: o espírito, perispírito e matéria, sendo o perispírito encarregado de funções específicas na engrenagem harmoniosa da vida hominal.
E quando o materialismo ateu, no seu aspecto dialético, veio a campo combater a Doutrina Espírita, o Espiritismo, como escola filosófica, na sua feição dialética, apresentava “O Livro dos Espíritos” como protesto nobre ao abuso e à arbitrariedade das informações hegelianas, às doutrinas nele inspiradas, bem como às velhas fisolofias espiritualistas sem fundamentação científica.
E a previsão da ciência, que aguardava para o século presente a morte das doutrinas espiritualistas, faliu, porque o século XX, com os seus valiosos descobrimentos e tirocínios, não pode retificar um único conceito da doutrina postulada pelo gigante lionês que, na atualidade, se faz o maior antídoto aos grandes males que afligem a Humanidade.
Como o materialismo é um veneno letal, o Espiritismo é o seu anticorpo, preparado para diminuir ou dirimir os efeitos terríveis dos ódios organizados secularmente e agora disseminados pelo ateísmo existencialista.
Enquanto o homem avança pelas trilhas do prazer, outros homensaparecem como exegetas do trabalho e apóstolos da caridade, formando a mentalidade para o Terceiro Milênio que colocará bem alto o estandarte da luz cristã refletida na mensagem nobre da Doutrina Espírita.
E embora se previsse o soçobro das religiões no século XX, Allan Kardec, semelhante a Copérnico, que veio por cobro às fantasias a respeito do sistema solar, por também termos às superstições a respeito da imortalidade da alma, arracando-a do sobrenatural e do dogma, retificando a sua feição mística, graças à documentação experimental de que a bibliografia espírita é farta, enriquecendo a ciência espiritualista para competir e esclarecer a ciência atual, ajudando-a na busca da verdade.
Ante as dores que se acumulam inevitáveis para os próximos tempos, sem nos desejarmos transformar em Parcas a tecerem a túnica mortuária da Civilização, o Espiritismo é a grande esperança, porque afirma não ser a morte mais do que uma grande transição para o despertamento na verdadeira vida: a Vida Imortal.
Pontifiquemos, desse modo, com Nosso Senhor Jesus-Cristo, o herói da sepultura vazia, atendendo o programa da solidariedade universal, transferindo o sangue novo da fé para os corações esfacelados pelo medo e acendendo em toda a parte a lâmpada da convicção imortalista. Sigamos a trilha da verdade, cumprindo o nosso dever para, vitoriosos, atingirmos o porto da nossa gloriosa Imortalidade.
Vianna de Carvalho
(Página recebida pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão da noite de 15-1-1962, em Salvador, Bahia).Reformador - Brasil Espírita - Abril de 1971

quinta-feira, 16 de abril de 2009

SUBSÍDIOS PARA UM MUNDO NOVO

De valor incomensurável é a literatura espírita posta em circulação pelo Departamento Editorial da Federação Espírita Brasileira. Obras de valor científico e literário, a maioria das quais levando à compreensão das criaturas humanas uma doutrina superior, que valoriza as almas e fecunda as mentes.
Temos o hábito de fazer periódicas incursões ao mundo dos livros editados há alguns anos, para renovarmos a sensação de. beleza moral que promana dessas obras magníficas, a maior parte delas de procedência mediúnica, outras, porém, de autoria de espíritas esclarecidos e bastante familiarizados com a Doutrina codificada por Allan Kardec.
Não há nada mais confortador do que essa espécie de "volta a Meca". Tornamos a visitar "Os Quatro Evangelhos", "Renúncia", "No Invisível", "Missionários da Luz", "Libertação", "O Espírito Consolador", "O Evangelho segundo o Espiritismo", "O Livro dos Médiuns", "O Livro dos Espíritos" e assim por diante. Sempre que se torna a ler um livro espírita muita coisa nova, ressurge e se aprende. São fontes de ensinamentos prodigiosos, essas obras.
Há dias, abrimos "Crônicas Espíritas" de Fred. Figner. Apreciamos, não apenas a serenidade da linguagem usada por esse eminente vulto do Espiritismo brasileiro, mas também a sua argumentação de irresistível lógica, esmagando e ao mesmo tempo esclarecendo, ensinando e educando um certo padre Dubois, que, à maneira dos Boa-venturas de todos os tempos, pretendeu confundir os espíritas com sofismas e silogismos de legitima feitura jesuítica. Eis um livro que merece as atenções daqueles que ainda não o conhecem.
Há nele muita, coisa interessante e instrutiva. No capítulo em que fala do dogma católico da "Transubstanciação", Figner ensinou ao padre Florêncio Dubois que esse dogma foi "produzido" (eis o termo adequado) pelo concílio de Trento (1545-1563), por determinação do papa Paulo III. E, para evidenciar o perfil desse pontífice que o convocou, cita um trecho da página 7, volume 4, da "História dos Papas", de Maurice Lachatre, que é de estarrecer. Vai, em seguida, ao "dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria", detém-se no dogma da "Divindade de Jesus", trata da “Divindade da Igreja”.
Católica", enfim, reduz tudo às suas reduzidas e insignificantes proporções.
E' bom reler bons livros. E' bom também conhecer o que de novo vem surgindo no Espiritismo nacional. Temos, por exemplo, "Devassando o Invisível", da médium Yvonne A . Pereira, que já nos deu "Memórias de um Suicida", "Nas voragens do pecado" e "Nas telas do Infinito". E' valioso "Estudo sobre fenômenos e fatos transcendentes devassados pela mediunidade, sob a orientação dos Espíritos-Guias da médium". Vejam só o título de alguns dos capítulos: "Como se trajam os Espíritos", "Frederico Chopin na Espiritualidade", "Mistificadores - Obsessões", "Sutilezas da Mediunidade", "As virtudes do Consolador", "Os grandes segredos do Além".
Quase ao mesmo tempo apareceu um novo livro da dupla magnífica de médiuns - "Francisco Cândido Xavier - Waldo Vieira", nomes já mundialmente consagrados. A obra foi ditada por André Luiz, cujos trabalhos anteriores dispensam adjetivos, tão importantes e mesmo revolucionários foram na literatura espírita. Desta vez ele nos deu "Sexo e Destino". Tema difícil, perigoso, mas de palpitante atualidade, num mundo que parece obcecado pelo sexo, a tal ponto que a concupiscência se amplia, causando estragos incomensuráveis.
A obra em si é de enorme valor. Bastaria o nome de André Luiz para recomendá-la. Acresce, porém, outro pormenor valioso: Emmanuel, Espírito cintilante por sua grande elevação moral e desmedida cultura, ditou, à guisa de prefácio, o "Prece no Limiar", que assim começa: "Pai de Infinita Bondade! Este é um livro que permitiste ao nosso André Luiz traçar, em lances palpitantes da existência, alguns conceitos da Espiritualidade Superior, em torno de sexo e destino - fotografia verbal de nossas realidades amargas que entremeaste de esperanças eternas."
Vale a pena conhecê-la por inteiro. O assunto é grave e interessa a homens e mulheres, sendo altamente recomendável à juventude, logicamente mais sujeita aos percalços da vida sexual.
São obras, estas duas últimas, que se nivelam a outras de igual profundidade moral, que já contribuem, há muitos anos, para a orientação superior da criatura humana. Nenhuma felicidade coletiva será possível sem que primeiramente se alcance a reforma e o aperfeiçoamento de cada indivíduo. As obras espíritas têm também essa missão.
São subsídios de imenso valor para a construção de um mundo novo e melhor.
Reformador – Março de 1964.

terça-feira, 14 de abril de 2009

VIDA E AMOR



A cena desenrolou-se há quase cinco anos.
O apelo vinha de longe. O cansaço da velha amiga se lhe desenhava no rosto. E o rosto dela se nos refletia no espelho da mente.
Era D.Maria Eugênia da Cunha, que eu conhecera menina e moça em meus últimos tempos no Rio. Lembrava-nos a afeição, rogava socorro espiritual.A jovem de outra época era agora uma viúva,pobre, residindo por favor com o filho único, recém-casado.
O chamamento lhe fluía do ser, em nossa direção: “Meu amigo, em nome de Jesus, se é possível, auxilie-me... Não agüento mais!”.
Utilizando os recursos do desencarnado, quando pode ganhar distância e tempo,fomos vê-la e encontramo-la, arrasada se angústia, ante as invectivas da nora. Maria Cristina, a boneca que lhe desposara Júlio, o filho que ela preparara com tanto mimo para a vida, não considerava nem mesmo a tempestade lá fora, e ordenava.
-E a senhora saia daqui hoje...
-Mas hoje? Com esta noite? –arrazoava a sogra, em pranto.
-Estou farta, se eu fosse velha moraria no asilo.
-Preciso ver meu filho...
-Isso é que não. Quem manda nesta casa sou eu...
-Sou mãe.
-Seja o que for, saia daqui. A senhora tem irmão no Leblon, tem sobrinhos em Madureira...
Pode escolher.
-Maria Cristina!...
-Não dramatize.
-Afinal, você me expulsa deste modo?! Que fiz eu?
-Não vou com a sua cara.
-Minha filha ,pelo amor de Deus, não me atire assim porta fora...
-Arranque-se daqui ou não respondo pelo que possa acontecer.
-Júlio!...Quero ver Júlio!...
-A senhora não mais envenenará meu marido com as suas conversas...
-Ah! Meu Deus!...
-Não se escore em Deus para mudar de assunto.Saia agora!
-Preciso arranjar minhas coisas, minha roupa...
-Nada disso...Amanhã ,a senhora telefona, que eu mando seus cacarecos...
-Não posso sair assim---
-Vamos ver quem pode mais...
Colocando algum dinheiro nas mãos da sogra, sacudiu-a com violência e, em seguida, puxou-a até a porta e gritou:
-Vá de táxi, vá de ônibus, vá como quiser, mas desapareça!
Inútil qualquer tentame de socorro. A moça, transtornada, não assimilava qualquer apelo de misericórdia.
Num momento, D.Maria Eugênia se viu empurrada para a rua.A pobre cambaleou, arrastou-se, e, mais alguns minutos de chuva e lágrimas nos olhos, o desastre... Projetada ao longe por pesado veículo, veio à fratura mortal.
No dia seguinte, identificada pelo filho numa casa de pronto-socorro, largou-se do corpo, ao anoitecer.
Abateu-se o infortúnio sobre o casal
Júlio e Maria Cristina passaram a condição de doentes da alma.Por mais que a mulher engenhasse a escapatória, asseverando que a sogra teimara em sair em visita à irmã, debaixo do aguaceiro,o esposo desconfiava.Desconfiava e sofria.
D.Maria Eugênia, porém, na espiritualidade,compadeceu-se dos filhos e, conquanto enriquecida de proteção e carinho, não se sentia tranqüila ao sabê-los em desentendimento e dificuldade. Repetia preces, mobilizou relações e , depois de quatro anos, venceu o problema, tornando, de novo ,à Terra...

Hoje, fui ver a velha amiga renascida no Rio. Renasceu de Júlio e Maria Cristina, lembrando uma flor de luz no mesmo tronco familiar.Os pais felizes, agindo intuitivamente, deram-lhe o mesmo nome: Maria Eugênia.O jovem genitor beijava-a enternecido e a ex-nora, transfigurada em mãezinha abnegada, guardava-a sobre o próprio seio, com a ternura de quem carrega um tesouro.
Meditava nos prodígios da reencarnação,à frente do trio, quando o irmão Felisberto, que me acompanhava, falou, entre alegria e emoção:
Veja, meu amigo! Não adianta brigar, condenar, ofender,perseguir...A lei de Deus é o amor e o amor vencerá sempre.
Irmão X
Do livro Cura - Autores Diversos - Psicografia de Francisco Cândido Xavier

domingo, 12 de abril de 2009

EM HOMENAGEM AOS 82 ANOS DO DESENCARNE DO MESTRE LÉON DENIS


Léon Denis
Por Deolindo Amorim

Nascido em Foug a 1º de janeiro de 1846, Léon Denis desencarnou em Paris, no dia 12 de abril de 1927, com oitenta e um anos, portanto. Vamos comemorar este ano o 50º aniversário do desenlace do grande escritor espírita, cuja obra, a todas as luzes, é um patrimônio, um monumento de espiritualidade. Os espíritas, em todas as latitudes, têm uma dívida de gratidão para com ele. Não se trata simplesmente de uma figura histórica nos registros do calendário.
Não. Para aos que o conhecem ou nele beberam ensinamentos, Léon Denis é um guia que continua ensinando, orientando educando e consolando pelos seus livros e pelos exemplos de sua vida. Por isso mesmo o cinqüentenário de sua desencarnação deve ter, com todo o cabimento, a significação de um acontecimento espírita.
Mais de uma geração de espíritas, notadamente no Brasil, formou sua base de cultura doutrinária em grande parte nos livros de Léon Denis, como nos de Gabriel Delanne, outro notável discípulo de Allan Kardec. Conhecemos velhos companheiros - conferencistas, jornalistas, doutrinadores e oradores espíritas - que tiveram esse começo e muito fizeram pela divulgação da Doutrina. Léon Denis fez muitos discípulos entre nós, mas entre os elementos da chamada “velha guarda”, pois não é tão conhecido no seio da atual geração, cujo ingresso na seara espírita se deve a outras motivações. Mas a obra de Léon Denis - é bom frisar - não é uma relíquia, dessas que ficam no santuário da devoção como peças intocáveis, porque falam apenas do passado. Muito pelo contrário, as idéias de Léon Denis estão muito vivas, pois não se apagaram com o tempo. São idéias que ainda podem servir de orientação em qualquer dos ângulos de compreensão do Espiritismo, o que equivale dizer tanto na parte experimental, como na inquirição filosófica e nas suas conseqüências morais.
Há quem admire Léon Denis apenas como escritor, e é uma faceta que bem o distingue, mas também há quem veja nele simplesmente o moralista, tanto quanto não falte quem se impressione ainda mais com o seu pensamento filosófico. Enfim, a obra de Denis é uma síntese em que se encontram e combinam muito bem vários aspectos. O escritor que ele é, e dos mais límpidos, se entrelaça com o homem de alta especulação filosófica e, ao mesmo tempo, com o inconfundível defensor dos valores morais. Homem de pensamento e homem de sentimento: a sede de saber e o amor ao próximo, eis as linhas mestras de sua personalidade.
Por isso mesmo, e porque nos parece, em determinados pontos, tão atual nos dias de hoje como o fora em seu tempo, a comemoração do cinqüentenário de sua passagem para o outro plano da vida deveria ser assinalada não apenas com os discursos e as conferências que certamente, ou necessariamente, figurarão nos programas, mas de outro modo, ainda mais relevante: a organização de estudos especiais de sua obra, através de cursos. Muita gente, em nosso meio, conhece Léon Denis apenas por citações, mas ainda não tomou conhecimento de sua verdadeira linha de pensamento. Poucos, na realidade, poderiam falar, por exemplo, sobre as preocupações sociais de Léon Denis. No entanto foi um de seus temas constantes.
Francês de nascimento e de educação, homem da classe média, Léon Denis viu e sentiu o drama da França logo em seguida à I Guerra Mundial. Justamente por ter participado desse drama social, nele envolvido pela força das circunstâncias, Léon Denis pensou muito nos destinos da França e da Humanidade, não apenas em termos político-econômicos, seara dos estadistas, mas em termos de recuperação moral, que muito têm que ver com a Doutrina Espírita. Vemos em Léon Denis, agora, não mais o escritor brilhante, mas o pensador, o lúcido e grave humanista preocupado com a dor geral, ao contemplar as ruínas da guerra. Realmente, como a história bem o demonstra, a recuperação material depende da capacidade dos administradores e do fator tempo, mas a reconstrução moral é muito trabalhosa e penosa, pois a violência e o sofrimento levam os homens, em grande parte, à desorientação e à neurose, enfraquecidos espiritualmente, sem qualquer resídio de crença nos valores espirituais. É uma fenda sensível e perigosa, que se abre no organismo social, depois de uma guerra ou de uma calamidade, permitindo a decadência moral em larga escala. Muitos homens de crença se desorientam, não resistem às repercurssões morais e emocionais dos conflitos sangrentos mas nem todos, felizmente, se deixam naufragar na desordem. Léon Denis viu e viveu os sofrimentos de seu povo, sentiu as aflições da humanidade, mas não se desviou de sua filosofia de vida. Na pujança das energias e da palavra, como no crepúsculo da existência física, já na velhice que descambava para o fim do ciclo terreno, foi sempre o mesmo homem convicto. Vale a pena transcrever as seguintes palavras de seu “Testamento moral”, na obra de Gaston Luce, que o chama, com inteira propriedade, o apóstolo do Espiritismo:
Consagrai esta existência ao serviço de uma grande causa, o Espiritismo ou Espiritualismo Moderno, que será certamente a Religião do futuro...
Nesta hora, minha alma entra em recolhimento e se liberta antecipadamente das ligações terrestres; vê e compreende a finalidade da vida.
Bela e profunda filosofia - o Espiritismo - que abre a visão do futuro até mesmo no ocaso da vida terrena, quando muita gente pensa que tudo é sombra e tudo se apaga! Assim, filosofando com sabedoria, Léon Denis fechou o ciclo de sua experiência terrena em 1927.

N.R. - Este artigo foi originalmente e publicado na revista O Médium (1/77)
Jornal Espírita-Abril de 1977

sábado, 11 de abril de 2009

EM HOMENAGEM AOS 109 ANOS DO DESENCARNE DE ADOLFO BEZERRA DE MENEZES CAVALCANTI


MENSAGEM

Bezerra de Menezes

Filhos, o Senhor nos abençoe.
Reunidos à luz da prece, agradecemos ao Senhor as alegrias recebidas e suplicamos novo amparo, a fim de que se nos refaçam as energias para o dever a cumprir.
*
Estamos reunidos – repetimos – e cada um de nós se caracteriza por mensageiro de problemas determinados perante o Senhor. Entretanto, ser-nos-á útil, decerto, comparar-nos a problemas diversos para Ele mesmo, o Eterno Amigo, que nos tutelou, perante a Divina Bondade, considerando-nos os destinos perante a Imortalidade.
*
E, nessa condição, ouçamos a voz da nossa própria Doutrina, através da mensagem de amor que ela irradia, com o fim de entendermos o amor como sendo a chave de solução para todos os enigmas que nos desafiam a alma nas trilhas da evolução.
*
E é nesse amor a se expressar, como sendo a caridade em ação, que surpreendemos o grande Caminho.
*
Toda vez, filhos, em que se nos apresente a necessidade alheia, eis aí para nós a oportunidade e a lição, a luz e a benção.
*
Semelhante necessidade se pluraliza de modos múltiplos.É a injúria que nos visita a pedir-nos compreensão e bondade; é a sombra da incompreensão a exigir-nos entendimento e fraternidade; é a dor a solicitar-nos e lenimento; é a lágrima a reclamar-nos consolo e esperança; é a penúria a esperar de nós braços socorredores que lhe atenue os padecimentos.
*
Reconheçamos, dessa forma, na condição de companheiros do Cristo, que anseia agir por nossas mãos e ver com os nossos olhos, abençoar com a nossa voz e amparar com o nosso discernimento na construção do Reino do Amor e Luz a que fomos trazidos, não só para teorizar e aguardar, mas também para renovar e fazer, elevar e construir.
*
Tudo, pois, queridos filhos, que pudermos realizar, se condensa na conjugação ativa do verbo servir.
*
E servindo, encontraremos a solução para todas as nossas lutas e a resposta para todas as nossas indagações.
Edifiquemos o bem e o bem se nos levantará na existência em abrigo capaz de nos resguardar contra todos as vicissitudes da vida.
*
Comecemos, assim, de nossos próprios lares e de nossas próprias instituições, em cujas tarefas somos solicitados aos mais difíceis testemunho do Evangelho vivo e ativo, em cujo clima, por fim, conseguiremos o Conhecimento Melhor para a conquista da Vida Maior.
*
Se não é possível, desse modo, algo vos dizer, tomamos a liberdade de repetir-vos:
- Filhos, amemo-nos como o Senhor nos amou e todos os nossos problemas serão resolvidos para que a felicidade nos tome finalmente à sua própria conta, investindo-nos na posse da Vida Eterna.
Conosco seja a paz do Senhor, hoje e sempre.


Psicografia Chico Xavier – Espíritos Diversos – Livro Servidores no Além

sexta-feira, 10 de abril de 2009

VISÃO ESPÍRITA DA PÁSCOA


O Espiritismo não celebra a Páscoa, mas respeita as manifestaç ões de religiosidade das diversas igrejas cristãs, e também não proíbe que seus adeptos manifestem sua religiosidade.
Páscoa, ou Passagem, simboliza a libertação do povo hebreu da escravidão sofrida durante séculos no Egito, mas no Cristianismo comemora a ressurreição do Cristo, que se deu na Páscoa judaica do ano 33 da nossa era, e celebra a continuidade da vida.
O Espiritismo, embora sendo uma Doutrina Cristã, entende de forma diferente alguns dos ensinamentos das Igrejas Cristãs. Na questão da ressurreição, para nós, espíritas, Jesus apareceu à Maria de Magdala e aos discípulos, com seu corpo espiritual, que chamamos de perispírito. Entendemos que não houve uma ressurreição corporal, física. Jesus de Nazaré não prec isou derrogar as leis naturais do nosso mundo para firmar o seu conceito de missionário. A sua doutrina de amor e perdão é muito maior que qualquer milagre, até mesmo a ressurreição.
Isto não invalida a Festa da Páscoa se a encararmos no seu simbolismo. A Páscoa Judaica pode ser interpretada como a nossa libertaç ão da ignorância, das mazelas humanas, para o conhecimento, o comportamento ético-moral. A travessia do Mar Vermelho representa as dificuldades para a transformação. A Páscoa Cristã,
representa a vitória da vida sobre a morte, do sacrifício pela verdade e pelo amor. Jesus de Nazaré demonstrou que se pode executar homens, mas não se consegue matar as grandes idéias renovadoras, os grandes exemplos de amor ao próximo e de valorização da vida.
Como a Páscoa Cristã representa a vitória da vida sobre a morte, queremos deixar firmado o conceito que aprendemos no Espiritismo, que a vida só pode ser definida pelo amor, e o amor pela vida. Foi por isso que Jesus de Nazaré afirmou que veio ao mundo para que tivéssemos vida em abundância, isto é, plena de amor.
Amílcar Del Chiaro Filho

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O CHEIRO DO DINHEIRO


Tito Flávio Vespasiano (9-79), fundador da dinastia Flávia, foi um dos mais bem sucedidos imperadores romanos.
Embora tivesse reinado por pouco tempo, de 69 a 79, acabou com as guerras civis que assolavam o império e promoveu sua unidade interna, inaugurando um período de grande prosperidade.
Como todos os governantes, tinha fraquezas. Uma delas era o dinheiro. Quanto mais, melhor.
Embora gracejasse com a própria ganância, estava sempre inventando meios de ampliar a arrecadação.
É famoso o episódio em que resolveu cobrar imposto pela utilização dos sanitários públicos.
Seu filho Tito, que mais tarde seria também imperador, o censurou por aquele exagero.
A reação de Vespasiano ficou famosa.
Deu-lhe uma moeda para cheirar, enquanto proclamava:
Pecunia non olet – Dinheiro não tem cheiro.
Não havia odores de urina no dinheiro, ainda que viesse dois mictórios.
Para Vespasiano dinheiro era sempre bem-vindo, não importando a procedência.
Pode ser bom ou mau – depende do uso.
Com ele compramos remédios para a criança doente, alimento para o faminto, agasalho para quem tem frio...
Também compramos o cigarro que provoca o câncer no pulmão, a arma para o assalto, as drogas que comprometem a existência.
Não obstante, situando-se como móvel das ações humanas, o dinheiro pode ser fonte de miasmas pestilentos que contaminam a alma envolvendo:
O traficante que sustenta o vício...
O comerciante que exercita a sonegação...
O industrial que explora os operários...
O investidor que especula nas bolsas...
O assaltante que espalha o terror...
O estelionatário que ilude pessoas...
A mulher que vende o próprio corpo...

A lista é interminável.
Mentores espirituais reportam-se a nauseabundos odores, característicos de Espíritos que na Terra estiveram envolvidos com o mal.
A ambição e a usura são exemplares típicos. Exalam maus odores, espiritualmente, os que se comprometem com esses desvios.
Tais contaminações, que se entranham na Alma, exige lixas grossas, de atribulações e sofrimentos, para serem expurgadas ao longo de muitas reencarnações.
***
Certamente, leitor amigo, os recursos financeiros de que você dispõe fora adquiridos de forma diferente, esforço árduo e honrado.
É dinheiro limpo, com o qual você atende suas necessidades de subsistência e busca garantir a estabilidade da família e o futuro dos filhos.
Sua alma vem usando o banho lustral da honestidade, do discernimento, sem prejudicar a ninguém. E quando você retornar ao mundo Espiritual, não causará constrangimentos odoríferos aos benfeitores espirituais.
Pode fazer ainda melhor – reverter algo de seus rendimentos, em favor dos sofredores e aflitos de todos os matizes.
Costuma-se dizer que “quem dá aos pobres, empresta a Deus”.
É uma operação sui generis, porquanto o Senhor nos ressarce de imediato, com bênçãos de conforto, alegria e bem-estar.
De quebra, deliciamo-nos com a incomparável flagrância que se expande quando abrimos esse maravilhoso frasco, que contém o abençoado perfume da caridade!

Richard Simonetti
Boletim CEAC – junho /2001

terça-feira, 7 de abril de 2009

UMA BREVE REFLEXÃO


Ao que tudo indica o pensar científico está em crise, perante a cultura cm geral, conquanto o fazer científico, deslizando nas rodas de sofisticada tecnologia, continue a avançar celeremente para o domínio cada vez maior das forças naturais. Esse fenômeno dos tempos modernos, marcado por sérias rupturas paradigmáticas, tem suma gravidade porque propicia o ressurgimento de velhas teorias epistemológicas que só serviram para entravar o progresso, em todos os sentidos. É impressionante como, hoje, em nome de um novo e mais lúcido pensar científico, pessoas tituladas por centros de saber oficial exploram idéias medievais, ficcionistas, quase delirantes, e com isso chegam ao sucesso! Umas simplesmente editando livros, outras vendendo terapias milagrosas baseadas em inverificáveis poderes dos cristais e das cores, ou comercializando palavrosas interpretações de signos grafológicos e astrais, quando não inventando expedientes mais bizarros - todas reivindicando respeitabilidade para suas teses, a cada dia menos contestadas pelas elites intelectuais.
Tais produtos do pensamento mágico, travestido de científico, antigamente provinham de gente ignorante e tinham consumo restrito a determinadas parcelas da sociedade; agora são oferecidos, por doutores disso e daquilo, para a comunidade, através dos melhores veículos de comunicação de massa. Trata-se da famosa crise de fragmentação da cultura...
E como ficamos nós, espíritas, nesta questão?
Bem, nossa posição, coerente com a Doutrina, deve ser a de sempre: equilibrada, razoável, dirigida pelo bom senso, ora para um lado, ora para outro, porque o problema em tela, infelizmente, tem dois lados, ambos dignos de cuidadosa consideração. No primeiro deles vemos a inteligência humana, esbarrando em seus limites, perplexa e desorientada, correr o risco de mergulhar no descrédito de si mesma, por não poder descobrir as verdades fundamentais da vida, depois de desvendar tantas verdades menores; ela construiu com o raciocínio objetivo e binário, com uma visão analítica lógico-causal, essa coisa maravilhosa chamada ciência, que lhe revelou o modelo mecanicista, reducionista e determinista de um mundo inteiramente físico, com o qual se encantou, menosprezando a existência de DEUS, e de repente o dito mundo começou a se esvanecer em ondas e partículas crescentemente sutis, intocáveis, entrelaçadas numa teia dinâmica, auto-consistente, sem termo nas interconexões do espaço-tempo... No segundo deles vemos o coração humano, também esbarrando nos limites das suas esperanças, correr o risco de afundar em superstições por não ter tido resposta para os anseios milenares de ventura...
Não podendo contribuir para o descrédito da inteligência, nem para o fanatismo do coração, resta-nos adotar a postura recomendada na obra de Kardec, qual seja a de trabalhar para que a Ciência encontre afinal o caminho da religiosidade, e o sentimento do homem se liberte de vez das ilusões místicas.
Fonte: Reformador nº1976 – Novembro/1993

domingo, 5 de abril de 2009

DÍVIDA AGRAVADA


Enquanto outros servidores da instituição por nós passavam, à pressa, com o evidente intuito de auxiliar, o dileto companheiro de Druso desceu a escadaria do templo, em nossa companhia explicando:
-Muitos companheiros de serviço valem-se deste horário para o culto espontâneo do amor fraterno. Ouvem aqui neste locutório os desesperados e os tristes e, tanto quanto lhes é possível, administram-lhes medicação e consolo, não somente os exortando à compreensão e à serenidade, mas também os acompanhando aos círculos tenebrosos, ou à esfera dos encarnados, para a obra de assistência aos laços afetivos que lhes perturbam o coração.
Nesse instante, entramos mais diretamente em contacto com os grupos rumorosos. Agora, adaptada nossa visão à sombra reinante, conseguíamos diferenciar as figuras lamentáveis e exóticas que nos cercavam, agoniadas...Eram mulheres de duro semblante que a miséria desfigurava e homens de fisionomias torturadas pelo ódio e pela angústia.
Dificilmente, de nossa parte, poderíamos avaliar-lhes a idade, segundo o escalão terrestre. O infortúnio deles convertera-os em fantasmas de amargura, quase a irmana-los integralmente no mesmo tipo de configuração exterior. Muitos mostravam mãos semelhantes a ressequidas garras, e em quase todos o olhar enraivecido ou medroso revelava a dolorosa fulguração da mente que desceu ao poço da loucura.
Preces comoventes misturavam-se a clamores sinistros de revolta.
E, vendo, contristados, a multidão em movimentos rudes, ante as portas abertas do santuário tranqüilo, perguntamos ao Assistente por que não se acolhia toda ela ao templo hospitaleiro, então quase deserto.
Silas, contudo, designando a entrada do edifício, que vínhamos de deixar, fixou a portaria radiante que, da forte penumbra, mas se nos afigurava um túnel aberto para a luz e esclareceu:
-Efetivamente, reportam-se vocês a medida desejável. Entretanto, apenas ingressam no recinto sagrado quanto lhe podem suportar a claridade com o respeito devido. Quase todos os irmãos que se congregam nesta praça trazem mutilações que a perversidade lhes impôs ou são portadores de sentimentos tigrinos que petições comoventes mal encobrem. E, com semelhantes disposições, não resistem ao impacto da claridade dominante, dosada em fotônios específicos, a se caracterizarem por determinado teor eletromagnético, indispensável à garantia de nossa casa. Muitos de nossos irmãos, aqui desarvorados, clamam, com a boca, que anseiam pelas vantagens da prece, na intimidade do santuário; no entanto, por dentro, lá estimariam tripudiar sobre o nome sublime de nosso Pai Celeste, no culto à ironia e à blasfêmia. Para que não tumultuem a atmosfera divina que nos cabe oferecer à oração pura e reconfortante, recomendam nossos orientadores que a luz permaneça graduada contra distúrbios e prejuízos, facilmente evitáveis.
Hilário, espantado, considerou:
-Significa isso que somente a sincera compunção da alma entrará em sintonia com as forças eletromagnéticas imperantes no recinto...
-Exatamente assim é – confirmou o interlocutor. – Nossa instituição permanece de braços abertos à provação e ao sofrimento, mas não à rebeldia e ao desespero. De outra sorte, seria condena-la ao aniquilamento e ao descrédito, na região atormentada em que se localiza.
Nesse ponto da conversação, fomos interrompidos por dezenas de braços ressequidos a implorarem socorro.
Silas fitava-os, compadecido, mas sem se deter, até que nosso passo foi cortado por apressada mulher, exclamando, ansiosa:
-Assistente Silas! Assistente Silas!...
Nosso amigo identificou-a, porque, parando de súbito, estendeu-lhe a destra amiga, murmurando:
-Luísa, a que vens?
Defrontavam-se em ambos a curiosidade e a aflição.
A senhora desencarnada, com sinais de irreprimível angústia, gritou sem preâmbulos:
-Socorro!...Socorro!...Minha filha, minha pobre Marina esmorece...Tenho lutado com todas as minhas forças para furta-la ao suicídio, mas agora me sinto enfraquecida e incapaz...
Os soluços sufocaram-lhe a garganta, inibindo-lhe a voz.
-Fala! – disse o orientador de nossa excursão, em tom imperativo, como se o alarme daquele instante lhe obscurecesse a serenidade mental, imprescindível ao entendimento da nova situação.
A infeliz ajoelhada agora ergueu os olhos lacrimosos e suplicou:
-Assistente pordoe-me a insistência em falar-lhe de meu infortúnio, mas sou mãe...Minha desventurada filha pretende matar-se esta noite, comprometendo-se, ainda mais, com as trevas da sua consciência!...
Silas aconselhou-lhe a volta ao lar terreno, como lhe fosse possível, e, dando-nos as mãos, promoveu a viagem rápida para o objetivo a que devíamos atender.
Em caminho, informou:
-Trata-se de companheira da Mansão, reencarnada há quase trinta anos, sob os auspícios de nossa casa,. Prestar-lhe-emos o necessário auxílio, ao mesmo tempo em que vocês poderão examinar um problema de débito agravado.
Notando que o nosso amigo entrara em silêncio, meu colega externou:
-É impressionante observar o número de mulheres em trabalho de oração e assistência nessas paragens...
Preocupado qual se achava, nosso generoso companheiro tentou ensaiar um sorriso que lhe não chegou aos lábios, e juntou:
-Grande verdade...Raras esposas e raras mães demandam às regiões felizes sem os doces afetos que acalentam no seio...O imenso amor feminino é uma das forças mais respeitáveis na Criação divina.
Todavia, não houve mais tempo para qualquer outra divagação.
Atingíramos no plano físico; pequena moradia constituída de três peças desativadas e estreitas.
O relógio acusava alguns minutos depois de zero hora.
Acompanhando Silas, cuja presença deslocou diversas entidades da sombra que ali se ajuntavam com a manifesta intenção de perturbar, ingressamos num quarto humilde.
Percebemos, sem palavras, que o problema era efetivamente desolador.
Junto de jovem senhora agoniada e exausta, uma menina de dois a três anos choramingava, inquieta... Via-se-lhe nos olhos esgazeados e inconscientes o estigma dos que foram marcados por irremediável sofrimento ao nascer.
Contudo, através da preocupação indisfarçável de Silas, era fácil reconhecer que a pobre senhora era o caso mais urgente para os nossos cuidados.
A infeliz, de joelhos, beijava sofregamente a pequenina, mostrando a indefinível angústia dos que se despedem para sempre.
Logo após, em movimento rápido, tomou de um copo em que se encontrava beberagem cujo teor tóxico não nos deixava qualquer dúvida. Antes, porém de cola-lo à boca em febre, eis que o Assistente lhe disse em voz segura:
-Como podes pensar na sombra da morte, sem a luz da oração?
A desventurada não lhe ouvia a pergunta com os tímpanos de carne, mas a frase de Silas invadiu-lhe a cabeça qual rajada violenta.
Lampejaram-lhe os olhos novo brilho e o copo tremeram-lhe nas mãos, agora indecisas.
Nosso orientador estendeu-lhe os braços envolvendo-a em fluídos anestesiantes de carinho e bondade.
Marina, pois era ela a irmã para quem aflito coração materno suplicara socorro, dominada de novos pensamentos, recolocou o perigoso recipiente no lugar primitivo e, sob a vigorosa influência do diretor de nossa excursão, levantou-se automaticamente e estirou-se ao leito, em prece...
-“Deus meu, Pai de Infinita Bondade – Implorou em voz alta -, compadece-te de mim e perdoa-me o fracasso! Não suporto mais... Sem minha presença, meu marido viverá mais tranqüilo no leprosário e minha desventurada filhinha encontrará corações caridosos que lhe dispensem amor... Não tenho mais recursos... Estou doente... Nossas contas esmagam-me... Como vencer a enfermidade que me devora, obrigada a costurar sem repouso, entre o marido e a filhinha que me reclamam assistência e ternura?...”
Silas administrava-lhe passes magnéticos de prostração e, induzindo-a a ligeiro movimento do braço, fez que ela mesma, num impulso irrefletido, batesse com força no copo fatídico, que rolou no piso do quarto, derramando o líquido letal.
Em lágrimas copiosas, a pobre criatura insistiu, desolada:
-Ó Senhor, compadece-te de mim!...
Reconhecendo no próprio gesto impensado a manifestação de uma força estranha a entravar-lhe a possibilidade da morte deliberada naquele instante, passou a orar em silêncio, com evidentes sinais de temos e remorso, atitude mental essa que lhe acentuava a passividade e da qual se valeu o Assistente para conduzi-la ao sono provocado.
Silas emitiu forte jacto de energia fluídica sobre o córtex encefálico dela, e a moça, sem conseguir explicar a si mesma a razão do torpor que lhe invadia o campo nervoso, deixou-se adormecer pesadamente, qual se houvera sorvido violento narcótico.
O Assistente interrompeu a operação socorrista e falou-nos bondoso:
-Temos aqui asfixiante problema de contra agravada.
E designando a jovem mãe, agora extenuada, continuou:
-Marina veio de nossa Mansão para auxiliar a Jorge e Zilda, dos quais se fizera devedora. No século passado, interpôs-se entre os dois, quando recém-casados, impelindo-os a deploráveis, leviandades que lhes valeram angustiosa demência no Plano Espiritual. Depois de longos padecimentos e desajustes, permitiu o Senhor que muitos amigos intercedessem, junto aos Poderes Superiores, para que se lhes recompusesse o destino, e os três renasceram no mesmo quadro social, para o trabalho regenerativo. Marina, a primogênita do lar de nossa irmã Luísa, recebeu a incumbência de tutela a irmãzinha menor, que assim se desenvolveu ao calor de seu fraternal carinho, mas, quando moças feitas, há alguns anos, eis que, segundo o programa de serviço traçado antes da reencarnação, a jovem Zilda reencontra Jorge e reatam, instintivamente, os elos afetivos do pretérito. Ama-se com fervor e confia-se ao noivado. Marina, porém, longe de corresponder às promessas esposadas no Mundo Maior, pelas quais lhe cabia amar o mesmo homem, no silêncio da renúncia construtiva, amparando a irmãzinha, outrora repudiada esposa, nas lutas purificadoras que a atualidade lhe ofertaria, passou a maquinar projetos inconfessáveis, tomada de intensa paixão. Completamente cega e surda aos avisos de sua consciência, começou a envolver o noivo da irmã em larga teia de seduções e, atraindo para o seu escuso objetivo o apoio de entidades caprichosas e enfermiças, por intermédio de doentios desejos, passou a hipnotizar o moço, espontaneamente, com o auxílio dos vampiros desencarnados, cuja companhia aliciara sem perceber... E, Jorge, inconscientemente dominado, transferiu-se do amor por Zilda à simpatia por Marina, observando que a nova afetividade lhe crescia assustadoramente no íntimo, sem que ele mesmo pudesse controlar-lhe a expansão...Decorridos breves meses dedicavam-se ambos a encontros ocultos, nos quis se comprometeram um com o outro na maior intimidade...Zilda notou a modificação do rapaz, mas procurava, desculpar-lhe a indiferença à conta de cansaço no trabalho e dificuldades na vida familiar. Todavia, em faltando apenas duas semanas para a realização do consórcio, surpreende-se a pobrezinha com a inesperada e aflitiva confissão... Jorge expõe-lhe a chaga que lhe excrucia o mundo interior... Não lhe nega admiração e carinho, mas desde muito reconhece que somente Marina deve ser-lhe a companheira no lar. A noiva preterida sufoca o pavoroso desapontamento que a subjuga a, aparentemente, não se revolta. Ms, introvertida e desesperada, consegue na mesma noite do entendimento a dose de formicida com que põe termo à existência física. Alucinada de dor, Zilda desencarnada foi recolhida por nossa irmã Luísa, que já se achava antes dela em nosso mundo, admitida na Mansão pelos méritos maternais. A genitora desditosa rogou o amparo de nossos Maiores. Na posição de mãe, apiedava-se de ambas as jovens, de vez que a filha traidora, aos seus olhos era mais infeliz que a filha escarnecida, embora esta última houvesse adquirido o grave débito dos suicidas, em seu caso atenuado pela alienação mental em que a moça se vira, sentenciada sem razão a inqualificável abandono... Examinado o assunto, carinhosamente, pelo Ministro Sânzio, que conhecemos pessoalmente, determinou ele que Marina fosse considerada devedora em contra agravada por ela mesma. E, logo após a decisão, providenciou a fim de que Zilda fosse recambiada ao lar para receber aí os cuidados merecidos. Marina falhara na prova de renúncia em favor da irmã que lhe era credora generosa, mas condenara-se ao sacrifício pela mesma irmãzinha, agora imposta pelo aresto da Lei ao seu convívio na situação de filha terrivelmente sofredora e imensamente amada. Foi assim que Jorge e Marina, livres, casaram-se, recolhendo da Terra a comunhão afetiva pela qual suspiravam; entretanto dois anos após o enlace, receberam Zilda em rendado berço, como filhinha estremecida. Ms... Desde os primeiros meses do rebento adorado, identificaram-lhe as dolorosas prova. Zilda, hoje chamada Nilda, nasceu surda-muda e mentalmente retardada, em conseqüência do trauma perispirítico experimentado na morte por envenenamento voluntário. Inconsciente e atormentada nos refolhos do ser pelas recordações asfixiantes do passado recente chora quase que dia e noite... Quanto mais sofre, porém, mais ampla ternura recolhe dos pais que a amam com extremados desvelos de compaixão e carinho... A vida corria-lhe regularmente, não obstante atribulada pelas provas naturais do roteiro, quando, há meses, Jorge foi apartado para o leprosário, onde se encontra em tratamento. Desde então, entre o esposo doente e a filhinha infeliz, Marina, em seu débito agravado, padece o abatimento em que a encontramos, martelada igualmente pela tentação do suicídio.
Silenciou o Assistente.
Achávamo-nos, eu e o Hilário, assombrados e comovidos.
O problema era doloroso do ponto de vista humano, contudo encerrava precioso ensinamento da Justiça Divina.
Silas acariciou a moça prostrada e acentuou:
-Auxiliar-nos-á o Senhor para que se recupere e reanime.
Nesse instante, a irmã Luísa penetrou no recinto entre deprimida e ansiosa.
Inteirou-se de todas as ocorrências e agradeceu, enxugando as lágrimas.
Silas, no entanto, interessado em conduzir o socorro até ao fim, administrou novos recursos magnéticos à mãezinha debilitada, e então presenciamos um quadro inesquecível.
Marina ergueu-se em Espírito sobre o corpo somático e pousou em nós o olhar vago e inexpressivo...
Nosso diretor, porém, com o despertar-lhe as percepções do Espírito, afagaram-lhe as pupilas, com as mãos aureoladas de fluídos luminescentes e, de repente, à maneira do cego que retorna à visão, a pobre criatura viu a genitora que lhe estendia os braços amigos e carinhosos. Com lágrimas a lhe correrem dos olhos, refugiou-se-lhe no regaço, gritando de alegria:
-Mãe! Minha mãe!...Pois és tu?
Luísa acolheu-a docemente no colo afetuoso, qual se o fizesse a uma criança doente e, mal reprimindo a emoção, falou-lhe, triste:
-Sim, filha querida; sou eu, tua mãe!... Rendamos graças a Deus por este minuto de entendimento.
E, beijando-a ternamente, embora aflita, continuou:
-Por que o desânimo, quando a luta apenas começa? Ignoras que a dor é a nossa custódia celestial? Que seria de nós, Marina, se o sofrimento não nos ajudasse a sentir e raciocinar para o bem? Regozija-te no combate que nos acrisola e salva para a obra de Deus... Não convertas o amor em inferno para ti mesma e nem creias consigas aliviar o esposo e a filhinha com a ilusão da fuga impensada. Lembra-te de que o Senhor transforma o veneno de nossos erros em remédio salutar para o resgate de nossas culpas... As enfermidades de nossas Jorge e as provações de nossa Nilda constituem não somente o caminho abençoado de elevação para eles mesmos, mas igualmente para teu espírito que se lhes associa à experiência na trama da redenção!... Aprende a sofrer com humildade para que a tua dor não seja simplesmente orgulho ferido... Que fizeste do brio de mulher e do devotamento de mãe? Olvidaste o culto da oração que o lar te ensinou? Enganaste-te, assim tanto, para abraçar a covardia como glória moral? Ainda é tempo!... Levanta-te, desperta, luta e vive!... Vive para recuperar a dignidade feminina que tisnaste coma nódoa da traição...Recorda a irmãzinha que partiu, acabrunhada ao peso do fardo de aflição que lhe impuseste, e paga em desvelo e sacrifício, ao pé da filhinha doente, a conta que deves à Eterna Justiça!... Humilha-te e resgata a própria consciência, com o preço da expiação dolorosa, mas justa...Trabalha e serve, esperando em Jesus, porque o Divino Médico te restituirá a saúde do esposo, para que, juntos, possamos conduzir a pequenina enferma ao porto da necessária restauração. Não penses estar sozinha, nas longas e ermas noites em que te divides entre a vigília e a desolação!...Comungamos os mesmos sonhos, partilhamos as mesmas lutas!... Que paraíso haverá para os corações maternos que choram, além do túmulo, senão a presença dos filhos abençoados, embora esses muitas vezes lhes ocasionam longos dias de angústia? Compadece-te de mim, tua mãe, por enquanto, sentenciada ao sofrimento pelo amor com que te ama!...
Calou-se Luísa, pois que singultos incessantes lhe abafaram a voz.
Marina, agora, ajoelhada e lacrimosa, osculava-lhe as mãos, clamando em súplica:
-Mãe querida, perdoa-me! Perdoa-me!...
Luísa ergueu-a com esforço e, dando-nos idéia dos calvários maternais que costumam prender as grandes mulheres, depois da morte, conduziu-a em passos vacilantes até à criança enferma e, acarinhando a fronte da pequenina, empapada de suor, implorou, humilde:
-Filha querida, não procure a porta falsa da deserção... Vive para tua filhinha, como permite o Senhor para eu continuar vivendo por ti...
A moça, renovada, rojou-se sobre a menina triste, mas, como se a emotividade daquela hora lhe sufocasse a mente desperta, foi repentinamente atraída pelo corpo de carne, como o grânulo de ferro pelo imã, e vemo-la acordar, em pranto copioso, bradando, inconsciente:
-Minha filha!...Minha filha!...
O Assistente, respeitoso, despediu-se de Luísa e afirmou:
-Louvado seja Deus! Nossa Marina ressurge, transformada.
Afastamo-nos sem palavras.
Lá fora, no céu, nuvens distantes coroavam-se de luz aos clarões purpúreos da aurora e, de alma embriagada de reconhecimento e esperança, meditei na Infinita Bondade de Deus, que faz raiar, depois de cada noite, a bênção do novo dia.



Da obra “AÇÃO E REAÇÃO” –
ESPÍRITO: ANDRÉ LUIZ –
MÉDIUM: FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER



sábado, 4 de abril de 2009

COMBATER A IGNORÂNCIA EM SI MESMO

A Felicidade, que é um estado-de-ser do espírito, que deve e pode ser natural na intimidade da alma, é erroneamente procurada pelo homem de todos tempos – encarnado ou fora da carne –, em bens materiais. É preciso que se entenda que a felicidade não é uma euforia ou contentamento que surge em nosso mundo superficial e logo, mais ou menos com a mesma espontaneidade com que chegou, desapareça. Ela não é uma alegria repentina, não é também um êxito que se alcance numa atividade qualquer, ou a conquista de um afeto que dure até o momento da primeira decepção, e também nunca está na posse de uma fortuna material que se possa perder em determinado instante.
A felicidade é um estado de ventura do espírito, em plano definitivo sempre crescente e de forma alguma retroativo. Não é aquela do texto bíblico, em Jó: "Como nuvem passou a minha felicidade" (Jó, XXX, v. 15).Nunca nos lembramos de que haja Jesus em momento algum falado em felicidade. Mas referiu-se ao reino dos céus inúmeras vezes, dando a entender não ser ele deste mundo, talvez querendo explicar que o reino prometido não é um estado material, inconsistente, mas definitivo no espírito de quem o tenha alcançado, como o percebemos nesta passagem de João (XVIII, v. 36 - in fine): "Mas agora o meu reino não é daqui."
*****
O apóstolo Paulo, em sua epístola aos efésios, capítulo IV, vv. 17 a 19, faz a seguinte advertência, que pode ser válida também para nós: "E digo isto, e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam os outros gentios, na vaidade do seu sentido, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do coração; os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para com avidez cometerem toda a impureza."
Ora, companheiro complacente que nos lê, nenhum espírita que estude e se aprofunde no conhecimento da codificação do espiritismo, na qual repousa toda a ciência da novel doutrina, tem direito à justificativa de ignorância, porque até onde nos é permitida a capacidade de aprender e raciocinar, tudo está esclarecido, e em condição de conduzir o espírita que se tenha feito caracterizar como homem de bem à sua preparação para a felicidade verdadeira e definitiva.
Não obstante, têm existido desde o tempo de Kardec companheiros que cometem enganos muito graves, a todo momento. E conseguem muitas vezes formar adeptos – o que lhes agrava ainda mais a situação – tornando-os responsáveis pela queda de outros... Pois bem, a esses companheiros está entregue, aqui ou ali, por invigilância de alguns, a direção de casas espíritas de funções valiosas no movimento do Consolador Prometido. Dentre esses há espíritas – pasme, leitor! – que apregoam até a REENCARNAÇÃO DE JESUS!...
Encarnação do governador do planeta não nos causa espanto. Allan Kardec, nisso, quase se equivocou, o que consideramos muito natural, no sentido em que o fato ocorreu! Por que Maria (talvez houvesse pensado ele assim) não podia dar a José um filho – Jesus? Maria seria a sua mulher, afinal de contas... Mas reencarnação?!... É ignorância demais! E o codificador do espiritismo nunca o afirmaria. Porque é também desconhecimento do Evangelho (João, XVII, vv. 5 e 24). E demonstra, sobretudo, ignorar ciência espírita.
Outra lastimável ignorância é a perseguição cerrada e desarrazoada à obra dos espíritos superiores através da mediunidade ímpar da senhora Emilie Collignon, que o dr. J.-B. Roustaing ordenou e, pela fé consciente e raciocinada, fez publicar às suas expensas! Lastimável ignorância, sim, porque Allan Kardec declarou tratar-se de obra "que tem para os Espíritas, o mérito de não estar em ponto algum em contradição com a doutrina ensinada pelo Livro dos Espíritos e pelo Livro dos Médiuns", e mesmo as partes tratadas por ele, Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo o estão em sentido análogo. E o Codificador disse mais, em seu artigo publicado na Revue Spirite n° 6, de junho de 1866: "É uma obra que será consultada com fruto pelos Espíritas sérios."
Que querem mais esses nossos irmãos adversários do dr. Roustaing? Fazem questão de ser inimigos dele, pois sejam... Mas deixem em paz, por favor, a grandiosa mensagem dos Espíritos do Senhor, que tanto esclarecimento trouxe aos espíritas sérios!Temos em nosso poder os originais dos doze números da Revue Spirite – Journal D'Études Psychologiques, do ano 1866, encadernados pela tipografia de Rouge Frères, Dunon et Fresné, de Paris. Desse modo, para que não haja dúvida sobre nossas palavras, transcreveremos, abaixo, os textos originais, em francês, do pensamento do Codificador.
Isto posto, com sabedoria e honestidade, à parte as digressões acima, e em nada separados de Deus pela ignorância, como nos adverte o apóstolo das gentes, sejamos efetivos trabalhadores da Vinha do Mestre, sem que nunca venhamos a nos constituir em qualquer dano à obra do Pai, conforme nos fala ao coração o Espírito de Verdade, na última mensagem sua no capítulo XX de O Evangelho segundo o Espiritismo...
"C'est un travail considérable, et qui a, pour les Spirites, le mérite de n'être sur aucun point en contradiction avec la doctrine enseignée par le Livre des Esprits et celui des médiums. Les parties correspondantes à celles que nous avons traitées dans 1'Evangile selon le Spiritisme le sont dans un sens analogue."

"Ces observations, subordonées à la sanction de l'avenir, ne diminuent en rien l'importance de cet ouvrage qui, à côté de choses doutesses à notre point de vue, en renferme d'incontestablement bonnes et vraies et sera consulté avec fruit par les Spirites sérieux."

(Texto retirado do livro O Futuro da Humanidade, III Parte, "Acertos do homem para a Felicidade", de autoria de Inaldo Lacerda Lima.)
ria ou contentamento que surge em nosso mundo superficial e logo, mais ou menos com a mesma espontaneidade com que chegou, desapareça. Ela não é uma alegria repentina, não é também um êxito que se alcance numa atividade qualquer, ou a conquista de um afeto que dure até o momento da primeira decepção, e também nunca está na posse de uma fortuna material que se possa perder em determinado instante.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

ACIDENTADOS DA ALMA


COMO AGIR NESTES CASOS
Antes das nossas tarefas, o assunto geral dos companheiros era a dificuldade de se levar a idéia espírita aos irmãos que nos procuram as casas de ideal e de fé, trabalhados por idéias que lhes dificultam o entendimento claro de nossa doutrina renovadora.
Ouvem as preleções de nossos encontros espirituais e as mensagens de nossos benfeitores, mas parecem distantes. Estão detidos nos problemas e lutas deles e experimentam muitos obstáculos para entender as lições de nossas escolas de ação e trabalho.
Como agir nesses casos?
Com essa pergunta fomos ao início da reunião.
O Livro dos Espíritos nos deu a pergunta-resposta 876. depois das explanações tivemos a página de nosso caro Emmanuel.

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Nos quadros de aflição da Terra, comove-nos, a cada passo, diante dos acidentados do corpo, a requisitarem hospitalização imediata.
A fim de atende-los, fundam-se instituições diversas, através das quais corações nobremente formados se dispõem a auxiliar.
Entretanto, é forçoso reconhecer que aos nossos núcleos de ação espiritual acorrem, dia-a-dia, verdadeiras multidões de acidentados da alma no trânsito da vida.
Amavam e foram preteridos, observando-se espancados nos sentimentos mais íntimos.
Dedicavam-se a empresas nobilitantes que explodiram em falência e, de momento para outro, se identificam sob os estilhaços da própria obra em destruição.
Criaram empreendimentos de trabalho digno que foram massacrados por desafetos gratuitos.
Consagravam-se a tesouros afetivos nos quais se viram repentinamente lesados nos mais altos valores da confiança.
Entraram em realizações de brilhante fachada e descobriram-se, no íntimo delas, qual se fossem encarcerados em armadilhas de sofrimento.
Estabeleceram tarefas construtivas que lhes escaparam das mãos.
Cultivaram planos de felicidade que a morte de um ente querido pulverizou em montes de cinzas sob chuvas de pranto.
Perante os nossos irmãos acidentados do espírito, compadece-te e auxilia sempre.
Faze uma pausa na marcha acelerada das próprias cogitações, e oferece a eles o donativo da atenção.
Aspiravam a reerguer-se para a vida, e tentaram abrir uma janela em si próprios para se comunicar com o dia novo.
Sonhavam paz e renovação.
Buscam ansiosamente mãos amigas que lhes descerrem a estrada da tranqüilidade e da reconstrução pela qual se trocam com todas as forças da própria alma.
Ante os companheiros aflitos pelo retorno à própria segurança, aprendamos a ouvi-los e a auxilia-los.
Para isso, não é preciso manejares o martelo da crítica, nem é necessário inflames o fogo da discussão.
Os nossos amigos acidentados da alma se reconhecem desorientados na sombra da prova e, por isso mesmo, te pedem unicamente para que lhes acenda no caminho leve réstia de luz.

Emmanuel
Livro: Caminhos de Volta - Psicografia: Francisco C. Xavier - Espíritos diversos

quinta-feira, 2 de abril de 2009

EM HOMENAGEM AO NASCIMENTO DE CHICO XAVIER


FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
TRAÇOS BIOGRÁFICOS - NASCIMENTO - SUA INICIAÇÃO ESPÍRITA:
O maior e mais prolífico médium psicógrafo do mundo em todas as épocas nasceu em Pedro Leopoldo, modesta cidade de Minas Gerais, Brasil, em 2 de abril de 1910. Vive, desde 1959, em Uberaba, no mesmo Estado. Completou o curso primário, apenas. Pais: João Cândido Xavier e Maria João de Deus, desencarnados em 1960 e 1915, respectivamente. Infância difícil; foi caixeiro de armazém e modesto funcionário público, aposentado desde 1958. Em 7 de maio de 1927 participa de sua primeira reunião espírita. Até 1931 recebe muitas poesias e mensagens, várias das quais saíram a público, estampadas à revelia do médium em jornais e revistas, como de autoria de F. Xavier. Nesse mesmo ano, vê, pela primeira vez, o Espírito Emmanuel, seu inseparável mentor espiritual até hoje.
O MENINO CHICO
Desde os 4 anos de idade o menino Chico teve a sua vida assinalada por singulares manifestações. Seu pai chegou, inclusive, a crer que o seu verdadeiro filho havia sido trocado por outro... Aquele seu filho era estranho!... De formação católica, o garoto orava com extrema devoção, conforme lhe ensinara D. Maria João de Deus, a querida mãezinha, que o deixaria órfão aos 5 anos. Dentro de grandes conflitos e extremas dificuldades, o menino ia crescendo, sempre puro e sempre bom, incapaz de uma palavra obscena, de um gesto de desobediência. As "sombras" amigas, porém, não o deixavam... Conversava com a mãezinha desencarnada, ouvia vozes confortadoras. Na escola, sentia a presença delas, auxiliando-o nas tarefas habituais. O certo é que os seus primeiros anos o marcaram profundamente; ele nunca os esqueceu... A necessidade de trabalhar desde cedo para auxiliar nas despesas domésticas foi em sua vida, conforme ele mesmo o diz, uma bênção indefinível.
Sim, a doença também viera precocemente fazer-lhe companhia. Primeiro os pulmões, quando trabalhava na tecelagem; depois os olhos; agora é a angina.
COMEÇO DO SEU MEDIUNATO :
Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier) iniciou, publicamente, seu mandato mediúnico em 8 de julho de 1927, em Pedro Leopoldo. Contando 17 anos de idade, recebeu as primeiras páginas mediúnicas. Em noite memorável, os Espíritos deram início a um dos trabalhos mais belos de toda a história da humanidade. Dezessete folhas de papel foram preenchidas, celeremente, versando sobre os deveres do espírita-cristão.Depoimento de Chico Xavier: (...) "Era uma noite quase gelada e os companheiros que se acomodavam junto à mesa me seguiram os movimentos do braço, curiosos e comovidos. A sala não era grande, mas, no começo da primeira transmissão de um comunicado do mais Além, por meu intermédio, senti-me fora de meu próprio corpo físico, embora junto dele. No entanto, ao passo que o mensageiro escrevia as dezessete páginas que nos dedicou, minha visão habitual experimentou significativa alteração. As paredes que nos limitavam o espaço desapareceram. O telhado como que se desfez e, fixando o olhar no alto, podia ver estrelas que tremeluziam no escuro da noite. Entretanto, relanceando o olhar no ambiente, notei que toda uma assembléia de entidades amigas me fitavam com simpatia e bondade, em cuja expressão adivinhava, por telepatia espontânea, que me encorajavam em silêncio para o trabalho a ser realizado, sobretudo, animando-me para que nada receasse quanto ao caminho a percorrer."
EMMANUEL E DUAS ORIENTAÇÕES PARA O RESTO DA VIDA :
Emmanuel, nos primórdios da mediunidade de Chico Xavier, deu-lhe duas orientações básicas para o trabalho que deveria desempenhar. Fora de qualquer uma delas, tudo seria malogrado. Eis a primeira.
- "Está você realmente disposto a trabalhar na mediunidade com Jesus?"
- Sim, se os bons espíritos não me abandonarem... -respondeu o médium.
- Não será você desamparado - disse-lhe Emmanuel - mas para isso é preciso que você trabalhe, estude e se esforce no bem.
- E o senhor acha que eu estou em condições de aceitar o compromisso? - tornou o Chico.
- Perfeitamente, desde que você procure respeitar os três pontos básicos para o Serviço... Porque o protetor se calasse o rapaz perguntou:
- Qual é o primeiro? A resposta veio firme:
- Disciplina.
- E o segundo?
- Disciplina.
- E o terceiro?
- Disciplina.
" A segunda mais importante orientação de Emmanuel para o médium é assim relembrada: - "Lembro-me de que num dos primeiros contatos comigo, ele me preveniu que pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo longo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec e, disse mais, que, se um dia, ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e de Kardec, que eu devia permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo.
Em 1932 publica a FEB seu primeiro livro, o famoso "Parnaso de Além-Túmulo"; hoje as obras que psicografou vão a mais de 400. Várias delas estão traduzidas e publicadas em castelhano, esperanto, francês, inglês, japonês, grego, etc.De moral ilibada, realmente humilde e simples, Chico Xavier jamais auferiu vantagens, de qualquer espécie, da mediunidade. Sua vida privada e pública tem sido objeto de toda especulação possível, na informação falada, escrita e televisionada. Ápodos e críticas ferinas, têm-no colhido de miúdo, sabendo suportá-los com verdadeiro espírito cristão.Viajou com o médium Waldo Vieira aos Estados Unidos e à Europa, onde visitaram a Inglaterra, a França, a Itália, a Espanha e Portugal, sempre a serviço da Doutrina Espírita.Chico Xavier é hoje uma figura de projeção nacional e internacional, suas entrevistas despertam a atenção de milhares de pessoas, mesmo alheias ao Espiritismo; tem aparecido em programas de TV, respondendo a perguntas as mais diversas, orientando as respostas pelos postulados espíritas.Já recebeu o título de Cidadão Honorário de várias cidades: Rio Preto, São Bernardo do Campo, Franca, Campinas, Santos, Catanduva, em São Paulo; Uberlândia, Araguari e Belo Horizonte, em Minas Gerais; Campos, no Estado do Rio de Janeiro, etc., etc.Dos livros que psicografou já se venderam mais de 12 milhões de exemplares, só dos editados pela FEB, em número de 88. "Parnaso de Além-Túmulo", a primeira obra publicada em 1932, provocou (e comprovou) a questão da identificação das produções mediúnicas, pelo pronunciamento espontâneo dos críticos, tais como Humberto de Campos, ainda vivo na época, Agripino Grieco, severo crítico literário, de renome nacional, Zeferino Brasil, poeta gaúcho, Edmundo Lys, cronista, Garcia Júnior, etc. Prefaciando "Parnaso de Além-Túmulo", escreveu Manuel Quintão: "Romantismo, Condoreirismo, Parnasianismo, Simbolismo, aí se ostentam em louçanias de sons e de cores, para afirmar não mais subjetiva, mas objetivamente, a sobrevivência de seus intérpretes.É ler Casimiro e reviver 'Primaveras'; é recitar Castro Alves e sentir 'Espumas Flutuantes'; é declamar Junqueiro e lembrar a 'Morte de D. João'; é frasear Augusto dos Anjos e evocar 'Eu'." Romances históricos formam a série Romana, de Emmanuel, composta de: "Há 2000 Anos...", "50 Anos Depois", "Ave, Cristo!", "Paulo e Estevão", provocando a elaboração do "Vocabulário Histórico-Geográfico dos Romances de Emmanuel", de Roberto Macedo, estudo elucidativo dos eventos históricos citados nas obras. "Há 2000 Anos..." é o relato da encarnação de Emmanuel à época de Jesus. De Humberto de Campos (Espírito), aparece, em 1938, o profético e discutido "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", uma história de nossa pátria e dos fatos e ela ligados, em dimensão espiritual. A série André Luiz é reveladora, doutrinária e científica; com obras notáveis e a maioria completa, no tocante à vida depois da desencarnação, obras anteriores, de Swedenborg, A. Jackson Davis, Cahagnet, G. Vale Owen e outros.
Pertencem a essa série: "Nosso Lar", "Os Mensageiros", "Missionários da Luz", "Obreiros da Vida Eterna", "No Mundo Maior", "Agenda Cristã", "Libertação", "Entre a Terra e o Céu", "Nos Domínios da Mediunidade", "Ação e Reação", "Evolução em dois Mundos", "Mecanismos da Mediunidade", "Conduta Espírita", "Sexo e Destino", "Desobsessão", "E a Vida Continua...". De parceria com o médium Waldo Vieira, Chico Xavier psicografou 17 obras.
A extraordinária capacidade mediúnica de Chico Xavier está comprovada pela grande quantidade de autores espirituais, da mais elevada categoria, que por seu intermédio se manifestam. Vários de seus livros foram adaptados para encenação no palco e sob a forma de radionovelas e telenovelas. O dom mediúnico mais conhecido de Francisco Xavier é o psicográfico. Não é, todavia, o único. Tem ele, e as exercita constantemente, outras mediunidades, tais como: psicofonia, vidência, audiência, receitista, e outras.
Sua vida, verdadeiramente apostolar, dedicou-a, o médium, aos sofredores e necessitados, provindos de longínquos lugares, e também aos afazeres medianeiros, pelos quais não aceita, em absoluto, qualquer espécie de paga. Os direitos autorais ele os tem cedido graciosamente a várias Editoras e Casas Espíritas, desde o primeiro livro. Sua vida e sua obra têm sido objeto de numerosas entrevistas radiofônicas e televisadas, e de comentários em jornais e revistas, espíritas ou não, e em livros dos quais podemos citar: o opúsculo intitulado "Pinga-Fogo, Entrevistas", obra publicada pelo Instituto de Difusão Espírita, de Araras; "Trinta Anos com Chico Xavier", de Clóvis Tavares; "No Mundo de Chico Xavier", de Elias Barbosa; "Lindos Casos de Chico Xavier", de Ramiro Gama; "40 Anos no Mundo da Mediunidade", de Roque Jacinto; "A Psicografia ante os Tribunais", de Miguel Timponi; "Amor e Sabedoria de Emmanuel", de Clóvis Tavares; "Presença de Chico Xavier", de Elias Barbosa; "Chico Xavier Pede Licença", de Irmão Saulo, pseudônimo de Herculano Pires; "Nosso Amigo Xavier", de Luciano Napoleão; "Chico Xavier, o Santo dos Nossos Dias" e "O Prisioneiro de Cristo", de R. A. Ranieri; “Chico Xavier - Mandato de Amor”, da U.E.M.; “As Vidas de Chico Xavier”, de Marcel Souto Maior, etc.
O CASO HUMBERTO DE CAMPOS :
Desencarnado em 1934 o festejado escritor brasileiro Humberto de Campos, o Espírito deste iniciou, em 1937, pela mediunidade de Chico Xavier, a transmissão de várias obras de crônicas e reportagens, todas editadas pela Federação Espírita Brasileira, entre as quais sobressai “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”. Eis senão quando, em 1944, a viúva de Humberto de Campos ingressa em juízo, movendo um processo, que se torna célebre, contra a Federação Espírita Brasileira e Francisco Cândido Xavier, no sentido de obter uma declaração, por sentença, de que essa obra mediúnica “é ou não do ‘Espírito’ de Humberto de Campos”, e que em caso afirmativo, se apliquem as sanções previstas em Lei. O assunto causou muita polêmica e, durante um bom tempo, ocupou espaço nos principais periódicos do País. Para que tenhamos uma idéia do que representou o referido processo na divulgação dos postulados espíritas, resumimos aqui alguns dos principais depoimentos da época extraídos da obra do Dr. Miguel Timponi, o principal advogado que trabalhou na defesa do médium e da FEB. Antes, porém, sintamos a beleza das palavras a seguir, enfeixadas no livro A Psicografia ante os Tribunais: "Entretanto, lá do Nordeste, desse Nordeste de encantamentos e de mistérios, a voz cheia de ternura e de emoção, de uma velhinha santificada pela dor e pelo sofrimento, D. Ana de Campos Veras, extremosa mãe do querido e popular escritor, rompeu o silêncio para ofertar ao médium de Pedro Leopoldo a fotografia do seu próprio filho, com esta expressiva dedicatória: 'Ao Prezado Sr. Francisco Xavier, dedicado intérprete espiritual do meu saudoso Humberto, ofereço com muito afeto esta fotografia, como prova de amizade e gratidão. Da crª. atª. Ana de Campos Veras Parnaíba, 21-5-38.’ Conforme se vê da edição de 'O Globo' de 19 de julho de 1944, essa exma. senhora confirma que o estilo é do seu filho e assegura ao redator de 'O Povo' e 'Press Parga': "- Realmente - disse dona Ana Campos - li emocionada as Crônicas de Além-Túmulo, e verifiquei que o estilo é o mesmo de meu filho. Não tenho dúvidas em afirmar isso e não conheço nenhuma explicação científica para esclarecer esse mistério, principalmente se considerarmos que Francisco Xavier é um cidadão de conhecimentos medíocres. Onde a fraude? Na hipótese de o Tribunal reconhecer aquela obra como realmente da autoria de Humberto, é claro que, por justiça, os direitos autorais venham a pertencer à família. No caso, porém, de os juízes decidirem em contrário, acho que os intelectuais patriotas fariam ato de justiça aceitando Francisco Cândido Xavier na Academia Brasileira de Letras... Só um homem muito inteligente, muito culto, e de fino talento literário, poderia ter escrito essa produção, tão identificada com a de meu filho." Na noite de 15 de julho de 1944, quando o processo atingia o clímax, o Espírito Humberto de Campos retorna pelo lápis do médium Chico Xavier, tecendo, no seu estilo inconfundível, uma belíssima e emocionante página sobre o triste problema levantado pela incompreensão humana, página que pode ser devidamente apreciada no livro "A Psicografia ante os Tribunais". Daí por diante, ele passou a assinar-se, simplesmente, Irmão X, versão evangelizada do Conselheiro XX, como era conhecido nos meios literários quando encarnado. A Autora, D. Catarina Vergolino de Campos, foi julgada carecedora da ação proposta, por sentença de 23 de agosto de 1944, do Dr. João Frederico Mourão Russell, juiz de Direito em exercício na 8ª Vara Cível do antigo Distrito Federal. Tendo ela recorrido dessa sentença, o Tribunal de Apelação do antigo DF manteve-a por seus jurídicos fundamentos, tendo sido relator o saudoso ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa.
O AMOR DE CHICO XAVIER POR JESUS :
Depoimento de Chico Xavier: "(...) Deus nos permita a satisfação de continuar sempre trabalhando na Grande Causa d'Ele, Nosso Senhor e Mestre. Desde criança, a figura do Cristo me impressiona. Ao perder minha mãe, aos cinco janeiros de idade, conforme os próprios ensinamentos dela, acreditei n'Ele, na certeza de que Ele me sustentaria. Conduzido a uma casa estranha, na qual conheceria muitas dificuldades para continuar vivendo, lembrava-me d'Ele, na convicção de que Ele era um amigo poderoso e compassivo que me enviaria recursos de resistência e ao ver minha mãe desencarnada pela primeira vez, com o cérebro infantil sem qualquer conhecimento dos conflitos religiosos que dividem a Humanidade, pedi a ela me abençoasse segundo o nosso hábito em família e lembro-me perfeitamente de que perguntei a ela: - Mamãe, foi Jesus que mandou a senhora nos buscar? Ela sorriu e respondeu: - Foi sim, mas Jesus deseja que vocês, os meus filhos espalhados, ainda fiquem me esperando... Aceitei o que ela dizia, embora chorasse, porque a referência a Jesus me tranqüilizava. Quando meu pai se casou pela segunda vez e a minha segunda mãe mandou me buscar para junto dela, notando-lhe a bondade natural, indaguei: - Foi Jesus quem enviou a senhora para nos reunir? Ela me disse: - Chico, isso não sei... Mas minha fé era tamanha que respondi: - Foi Ele sim... Minha mãe, quando me aparece, sempre me fala que Ele mandaria alguém nos buscar para a nossa casa. E Jesus sempre esteve e está em minhas lembranças como um Protetor Poderoso e Bom, não desaparecido, não longe mas sempre perto, não indiferente aos nossos obstáculos humanos, e sim cada vez mais atuante e mais vivo." Não se pode negar o sentimento de veneração que envolve a nobre figura de Ismael, guia espiritual do Brasil. A responsabilidade que detém, na condição de mentor da Federação Espírita Brasileira suscita, da parte da comunidade espírita nacional, um profundo respeito, aliado a um imenso carinho e uma suave ternura. Certa vez, indagaram a Chico Xavier: - Como se processam os encontros, nas esferas resplandecentes da Espiritualidade, de Emmanuel com Ismael? Qual a postura do admirável Espírito do ex-senador romano, diante da também luminosa entidade a quem confiou Jesus os destinos do Brasil? Resposta do médium, curta, serena e firme: - De joelhos!
BREVES DEPOIMENTOS SOBRE O MÉDIUM CHICO XAVIER :
A bibliografia mediúnica, que foi acrescida à literatura espírita, nestes últimos cinqüenta anos, nascida do lápis de Chico Xavier - e o espaço não nos permite, sequer, considerações ligeiras sobre suas páginas -, é vultosa, considerável. É qualitativamente admirável. Poderíamos, sem dificuldade, num exame sereno e com absoluta isenção, dividir a obra mediúnica, orientada por Emmanuel, igualmente em fases perfeitamente delineadas, dentro de duas grandes divisões: a primeira, provando a sobrevivência e a imortalidade do espírito - 'Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho' - seguida de uma panorâmica da História universal - 'A Caminho da Luz' e de alguns manuais do maior valor: 'Emmanuel, Dissertações Mediúnicas', 'O Consolador', 'Roteiro', etc. Enfim, muitos estudos interessantes e instrutivos virão, a seu tempo. E a obra de Francisco Cândido Xavier, criteriosamente traduzida, estará, tempestivamente, à disposição dos leitores do mundo inteiro, juntamente com a de Allan Kardec e da dos autores que cuidaram dos escritos subsidiários e complementares da Codificação. Mas, enquanto isso, e para que tudo ocorra com a tranqüilidade que se almeja na difusão conscienciosa e responsável da Doutrina dos Espíritos, seria de bom alvitre não perder de vista o fato de que Chico Xavier jamais teria obtido êxito, como instrumento do Alto, se não tivesse seguido a rígida disciplina que lhe foi sugerida por Emmanuel, testemunhando e permanecendo na exemplificação do amor ao próximo e do amor a Deus, vivendo o Evangelho.
Francisco Thiesen Presidente da Federação Espírita Brasileira" (Fonte: "Revista Internacional de Espiritismo", número 6, Ano LII, julho de 1977.) "
"..Não me considero à altura para escrever algo sobre o Chico. Dele, dão testemunho (e que testemunho!) as belas obras que semeou e semeia por esse Brasil afora, com reflexos benéficos em diversas nações do mundo. E quando digo 'obras', refiro-me não só à palavra escrita e falada, como também aos seus exemplos de caridade, de perdão, de fé, de humildade, aos seus diálogos fraternos e frutíferos, enfim, à sua multiforme vivência evangélica junto a pobres e ricos, num trabalho diário de edificação e levantamento de espíritos." "Conheço o Chico há bastante tempo. Nos seus livros mediúnicos encontrei forças, luz e paz, e através de suas cartas pude senti-lo e amá-lo bem no fundo do seu ser. Por várias vezes chorei com suas preocupações e sua dor, vivendo-lhe as graves responsabilidades e lamentando a incompreensão dos homens. Mas sempre orei pedindo ao Senhor que não lhe tirasse o pesado fardo dos ombros e, sim, que o ajudasse a carregá-lo. Graças a Deus, o nosso caro Chico tem vencido todas as dificuldades e todos os óbices do caminho, numa maratona hercúlea que realmente o dignifica aos olhos dos homens e aos olhos do Pai."
(Trechos da carta do Sr. Zêus Wantuil, 3° secretário da Federação Espírita Brasileira, à presidente da União Espírita Mineira) (Fonte: "O Espírita Mineiro", número 172, maio/julho de 1977.)
A PALAVRA DE CHICO XAVIER AO COMPLETAR QUARENTA ANOS DE MEDIUNIDADE :
"Estes quarenta anos de mediunidade passaram para o meu coração como se fossem um sonho bom. Foram quarenta anos de muita alegria, em cujos caminhos, feitos de minutos e de horas, de dias, só encontrei benefícios, felicidades, esperanças, otimismo, encorajamento da parte de todos aqueles que o Senhor me concedeu, dos familiares, irmãos, amigos e companheiros. Quarenta anos de felicidade que agradeço a Deus em vossos corações, porque sinto que Deus me concedeu nos vossos corações, que representam outros muitos corações que estão ausentes de nós. Agora, sinto que Deus me concedeu por vosso intermédio uma vida tocada de alegrias e bênçãos, como eu não poderia receber em nenhum outro setor de trabalho na Humanidade. Beijo-vos, assim, as mãos, os corações. Quanto ao livro, devo dizer que, certa feita, há muitos anos, procurando o contato com o Espírito de nosso benfeitor Emmanuel, ao pé de uma velha represa, na terra que me deu berço na presente encarnação, muitas vezes chegava ao sítio, pela manhã, antes do amanhecer. E quando o dia vinha de novo, fosse com sol, fosse com chuva, lá estava, não muito longe de mim, um pequeno charco. Esse charco, pouco a pouco se encheu de flores, pela misericórdia de Deus, naturalmente. E muitas almas boas, corações queridos, que passavam pelo mesmo caminho em que nós orávamos, colhiam essas flores, e as levavam consigo com transporte de alegria e encantamento. Enquanto que o charco era sempre o mesmo charco. Naturalmente, esperando também pela misericórdia de Deus, para se transformar em terra proveitosa e mais útil. Creio que nesses momentos, em que ouço as palavras desses corações maravilhosos, que usaram o verbo para comentar o aparecimento desses cem livros, agora cento e dois livros, lembro este quadro que nunca me saiu da memória, para declarar-vos que me sinto na condição do charco que, pela misericórdia de Deus, um dia recebeu essas flores que são os livros, e que pertencem muito mais a vós outros do que a mim. Rogo, assim, a todos os companheiros, que me ajudem através da oração, para que a luta natural da vida possa drenar a terra pantanosa que ainda sou, na intimidade do meu coração, para que eu possa um dia servir a Deus, de conformidade com os deveres que a Sua infinita misericórdia me traçou. E peço, então, permissão, em sinal de agradecimento, já que não tenho palavras para exprimir a minha gratidão. Peço-vos, a todos, licença para encerrar a minha palavra despretensiosa, com a oração que Nosso Senhor Jesus Cristo nos legou.
(Fonte: "O Espírita Mineiro", número 137, abril/maio/junho de 1970.)
NA TAREFA MEDIÚNICA :
"Pergunta - Em seu primeiro encontro com Emmanuel, ele enfatizou muito a disciplina. Teria falado algo mais?
Resposta - Depois de haver salientado a disciplina como elemento indispensável a uma boa tarefa mediúnica, ele me disse: 'Temos algo a realizar.' Repliquei de minha parte qual seria esse algo e o benfeitor esclareceu: 'Trinta livros pra começar!' Considerei, então: como avaliar esta informação se somos uma família sem maiores recursos, além do nosso próprio trabalho diário, e a publicação de um livro demanda tanto dinheiro!... Já que meu pai lidava com bilhetes de loteria, eu acrescentei: será que meu pai vai tirar a sorte grande? Emmanuel respondeu: 'Nada, nada disso. A maior sorte grande é a do trabalho com a fé viva na Providência de Deus. Os livros chegarão através de caminhos inesperados!' Algum tempo depois, enviando as poesias de 'Parnaso de Além- Túmulo' para um dos diretores da Federação Espírita Brasileira, tive a grata surpresa de ver o livro aceito e publicado, em 1932. A este livro seguiram-se outros e, em 1947, atingimos a marca dos 30 livros. Ficamos muito contentes e perguntei ao amigo espiritual se a tarefa estava terminada. Ele, então, considerou, sorrindo: 'Agora, começaremos uma nova série de trinta volumes!' Em 1958, indaguei-lhe novamente se o trabalho finalizara. Os 60 livros estavam publicados e eu me encontrava quase de mudança para a cidade de Uberaba, onde cheguei a 5 de janeiro de 1959. O grande benfeitor explicou-me, com paciência: 'Você perguntou, em Pedro Leopoldo, se a nossa tarefa estava completa e quero informar a você que os mentores da Vida Maior, perante os quais devo também estar disciplinado, me advertiram que nos cabe chegar ao limite de cem livros.' Fiquei muito admirado e as tarefas prosseguiram. Quando alcançamos o número de 100 volumes publicados, voltei a consultá-lo sobre o termo de nossos compromissos. Ele esclareceu, com bondade: 'Você não deve pensar em agir e trabalhar com tanta pressa. Agora, estou na obrigação de dizer a você que os mentores da Vida Superior, que nos orientam, expediram certa instrução que determina seja a sua atual reencarnação desapropriada, em benefício da divulgação dos princípios espíritas-cristãos, permanecendo a sua existência, do ponto de vista físico, à disposição das entidades espirituais que possam colaborar na execução das mensagens e livros, enquanto o seu corpo se mostre apto para as nossas atividades.' Muito desapontado, perguntei: então devo trabalhar na recepção de mensagens e livros do mundo espiritual até o fim da minha vida atual? Emmanuel acentuou: 'Sim, não temos outra alternativa!' Naturalmente, impressionado com o que ele dizia, voltei a interrogar: e se eu não quiser, já que a Doutrina Espírita ensina que somos portadores do livre arbítrio para decidir sobre os nossos próprios caminhos? Emmanuel, então, deu um sorriso de benevolência paternal e me cientificou: 'A instrução a que me refiro é semelhante a um decreto de desapropriação, quando lançado por autoridade na Terra. Se você recusar o serviço a que me reporto, segundo creio, os orientadores dessa obra de nos dedicarmos ao Cristianismo Redivivo, de certo que eles terão autoridade bastante para retirar você de seu atual corpo físico!' Quando eu ouvi sua declaração, silenciei para pensar na gravidade do assunto, e continuo trabalhando, sem a menor expectativa de interromper ou dificultar o que passei a chamar de 'Desígnios de Cima."
(Fonte: "O Espírita Mineiro", número 205, abril/junho de 1988.)
CONSIDERAÇÕES FINAIS :
Em 1997, Chico Xavier completou 70 anos de incessante atividade mediúnica, da maior significação espiritual, em prol da Humanidade, abrangendo seus mais diversos segmentos. Até a presente data, outubro de 1997, Francisco Cândido Xavier psicografou mais de 400 (quatrocentas) obras mediúnicas, de centenas de autores espirituais, abarcando os mais diversos e diferentes assuntos, entre poesias, romances, contos, crônicas, história geral e do Brasil, ciência, religião, filosofia, literatura infantil, etc.
Dias e noites têm sido por ele ofertados aos seus semelhantes, com sacrifício da própria saúde. Problemas orgânicos acompanharam-lhe a mocidade e a madureza. Hoje, nos abençoados 87 anos de sua vida corporal, as dificuldades físicas continuam trazendo-lhe problemas. Releva observar que as doenças oculares a as intervenções cirúrgicas jamais o impediram de cumprir, fiel e dignamente, sua missão de amparo aos necessitados. Sua postura é uma só, obedece a uma só diretriz: amor ao próximo, desinteresse ante os bens materiais, preocupação exclusiva e constante com a felicidade do próximo. Ricos e pobres, velhos e crianças, homens e mulheres de todos os níveis sociais têm encontrado, no homem e no médium Chico Xavier, tudo quanto necessitam para o reajuste interior, para o crescimento, em função do conhecimento e da bondade. Francisco Cândido Xavier é um presente do Alto ao século XX, enriquecendo-lhe os valores com a sua vida de exemplar cidadão, com milhares de mensagens psicografias que, em catadupas de paz e luz, amor e esclarecimento, vêm fertilizando o solo planetário, sob a luminar supervisão do Espírito Emmanuel.