quinta-feira, 13 de maio de 2010

JUSTIÇA E MISERICÓRDIA DIVINA

LEI DIVINA OU NATURAL

Quem somos? Antes de nascer, o que éramos? Por que as pessoas são tão diferentes? Por que a vida sorri para umas e é só desgraça para outras? Por que umas nascem enfermas, outras sãs? Por que umas são miseráveis, outras abastadas? Por que umas, demorando-se em má conduta, sofrem menos que outras, que só fazem o bem? Por que o Criador permitiria essas aparentes desigualdades entre seus filhos? Por que a felicidade completa ainda não é deste mundo? De onde viemos? Para onde vamos? O que estamos fazendo na Terra?

Várias pessoas viajam num trem, carro, navio ou avião, mas somente uma ou algumas delas se salvam, após desastre terrível, como ocorreu nos deslizamentos de terra em Angra dos Reis, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, que vitimou dezenas de famílias na virada do ano – qual a razão de “sortes” tão diferentes? Onde encontrar, em fatos tão díspares, a Justiça Divina? Estas são indagações milenares que os estudiosos procuram responder, em vão, com base nos compêndios humanos.

Se os homens fossem mais atentos aos fenômenos da vida, principalmente aos de ordem social, aprenderiam a interpretar melhor a realidade que os cerca, buscando nas leis divinas a base fundamental dos seus códigos, submetendo seus labores e suas conquistas aos princípios de uma ética incorruptível, evitando, por exemplo, a aprovação de leis que atentam contra a vida, em seus múltiplos aspectos, como no caso do aborto, da eutanásia e da pena de morte. A despeito da ignorância humana, as leis divinas, que têm por escopo o Amor, base de sustentação do equilíbrio e da harmonia do Universo, seguem seu curso inexorável, aguardando, acientemente, que despertemos, pelos nossos próprios esforços, de profundo sono espiritual. Nesse hercúleo mister, contamos com o auxílio precioso das revelações contidas em O Livro dos Espíritos, pedra angular sobre a qual se ergue a Doutrina Espírita, que elucida, sem mistérios: A lei natural é a Lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve fazer ou não fazer e ele só é infeliz porque dela se afasta.1

Para os desesperados que ainda não se dispuseram a sondar os arcanos das leis naturais ou para muitos dos que insistem em ignorar, por exemplo, a justiça das reencarnações e da lei de causa e efeito, corolário da imortalidade e do progresso dos Espíritos, tudo parece perdido, especialmente quando as tragédias e os sofrimentos abatem seus ânimos. Como achar sentido na vida, com base na crença niilista do “morreu, acabou”? Com ela,muito ganhariam os maus que se veriam livres, ao mesmo tempo, de suas mazelas e de suas culpas, em detrimento das pessoas escrupulosas que não encontrariam nenhuma compensação pelos seus esforços de melhoramento pessoal. Ou, ainda, como acreditar que a criatura humana venha a ser condenada, irremissivelmente, a um inferno eterno por erros cometidos em única existência? Se Deus assim agisse, seria menos justo que os próprios homens que, apesar de imperfeitos, vêm criando leis equitativas para julgar seus semelhantes, cujas penas são proporcionais aos malefícios cometidos.

Todos os Espíritos, encarnados e desencarnados, estão submetidos à lei natural que governa o Universo – a Lei de Deus –, que está acima das legislações humanas, transitórias e imperfeitas. A característica principal da lei divina é ser imutável, visto ser perfeita de toda a eternidade. Por tal motivo, imprime estabilidade às coisas, o que já não acontece com as leis humanas, que se modificam, constantemente, de acordo com o progresso e a cultura da sociedade. Sendo Deus o autor de todas as coisas, segue-se que todas as leis da Natureza, sejam elas físicas ou morais, têm o selo da paternidade divina. Enquanto o sábio estuda as leis da matéria, com o auxílio da Ciência, o homem de bem estuda e pratica as leis da alma, que são as leis morais, contando, para isso, com o apoio da Filosofia e da Religião.

Em sua infinita misericórdia, sabedoria, bondade e justiça, Deus faculta a todos os seres pensantes os meios de conhecerem sua lei.Todavia, mesmo conhecendo-a, nem todos a compreendem de imediato. É por tal motivo que os Espíritos alertam que uma única existência não nos basta para alcançar esta meta, pois necessitamos, para isso, de experiência,maturidade, isto é,de evolução intelecto-moral. Os que perseveram no bem e os interessados em pesquisar tais leis são os que melhor as compreendem, sentindo a ventura de penetrar, gradualmente, nos segredos que elas ocultam. No futuro, porém, todos partilharão dessas experiências, uma vez que o progresso é inevitável. A unicidade da existência não se compadece com a lógica divina, isto que milhões de criaturas humanas perecem diariamente ainda embrutecidas na selvageria e na ignorância, sem que tenham tido a oportunidade de se esclarecer.

Ensinam os benfeitores do espaço que a lei de Deus (lei moral) está insculpida na consciência.2 Apesar disso, esta lei necessitou ser revelada ao homem, por meio de missionários, uma vez que ele a esqueceu e a desprezou. Em meio a esses mensageiros do bem, vez por outra, surgem os “falsos profetas”que, movidos pela ambição e confundindo as leis que regulam as condições da vida da alma, com as que regem a vida do corpo, se atribuem uma missão que não lhes cabe. Deus permite que isso aconteça para que aprendamos a discernir o bem do mal. O verdadeiro profeta inspirado por Deus cultiva virtudes: é reconhecido não somente pelas palavras, mas também pelos seus atos, uma vez que Deus não se utiliza de um emissário dado a mentiras para ensinar a verdade. No afã de dominar as massas, esses falsos profetas apresentam leis humanas, concebidas unicamente para servir às paixões, como se fossem leis divinas. Apesar disso, por serem homens de gênio, mesmo entre os equívocos que propagam, muitas vezes se encontram grandes verdades.

No topo da Escala espírita – Espíritos puros –, Deus oferece JESUS como o tipo mais perfeito para servir de guia e modelo aos homens, cuja doutrina é a mais pura expressão das leis do Criador. Estando como estão as leis divinas escritas no livro da Natureza, muito antes da vinda de Jesus à Terra, já era possível percebê-las em seus sinais por aqueles que estivessem dispostos a meditar sobre a sabedoria. Por isso, muitas dessas leis foram antecipadas, ainda que de modo incompleto, por vários homens virtuosos, chamados de precursores, que prepararam o terreno para a vinda do Messias. Não sem razão, alguns desses preceitos consagrados por essas leis têm sido proclamados em todos os tempos e lugares, com destaque para o código de ouro do Universo:“Não faças a outrem o que não gostarias que fizessem contigo”.

Jesus,Mestre por excelência, falava de acordo com a época e os lugares. Para não chocar as pessoas, ainda desprovidas de conhecimento e de compreensão quanto a determinados assuntos, acessíveis apenas aos iniciados, utilizava-se de alegorias que seriam futuramente desvendadas quando tivessem adquirido maior desenvolvimento, o que efetivamente aconteceu, com o progresso da Ciência e o advento do próprio Espiritismo, o Consolador Prometido. Isto porque “todo ensinamento deve ser proporcional à inteligência daquele a quem é dirigido, pois há pessoas a quem uma luz viva demais deslumbraria, sem as esclarecer”.3 Entretanto, Jesus somente procedia assim quanto às partes mais abstratas de sua Doutrina.

No tocante à caridade para com o próximo e à humildade, condições básicas da “salvação”, tudo o que disse a esse respeito foi inteiramente claro, explícito e sem ambiguidades. Atualmente, é preciso que a verdade seja inteligível para todos. Por isso, os Espíritos superiores têm por missão abrir os olhos e os ouvidos da Humanidade, de sorte que ninguém poderá alegar ignorância, interpretando a lei de Deus ao sabor de suas paixões e interesses pessoais, visto que a posse, a compreensão da lei moral é o que há de mais necessário e de mais precioso para a alma. Permite medir os nossos recursos internos, regular o seu exercício, dispô-los para o nosso bem.

As nossas paixões são forças perigosas, quando lhes estamos escravizados; úteis e benfeitoras, quando sabemos dirigi-las; subjugá-las é ser grande; deixar-se dominar por elas é ser pequeno e miserável.4 Se desejamos libertar-nos dos males terrestres, evitando as reencarnações dolorosas, vivenciemos, na medida do possível, as leis morais, pois elas constituem o roteiro de felicidade do homem, construtor do próprio destino, nas sendas da evolução.


Reformador Maio 2010

1KARDEC,Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 614.
2KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Riode Janeiro: FEB, 2010. Q. 621.
3KARDEC, Allan.. O evangelho segundo o espiritismo.Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro:FEB, 2008. Cap. 24, item 4.
4DENIS, Léon. Depois da morte. ed. esp. 1.reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. P. 5, cap. 56, A lei moral, p. 431.

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