domingo, 5 de fevereiro de 2012

DIVULGUEMOS O ESPIRITISMO


Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXV, item 11, lemos esta sábia recomendação:

“(...) não violenteis nenhuma consciência; a ninguém forceis para que deixe a sua crença, a fim de adotar a vossa; não anatematizeis os que não pensem como vós; acolhei os que venham ter convosco e deixai tranqüilos os que vos repelem”.

Lembrai-vos das palavras do Cristo. “Outrora, o céu era tomado com violência; hoje o é pela brandura.”

(KARDEC, 2001, p. 361.)

Tais palavras, se mal interpretadas, podem ser entendidas como estímulo à nossa indiferença no que se refere à divulgação da Doutrina Espírita. Afinal, dirão os que assim pensam, para que nos preocuparmos com a pressa em tornar universais esses conhecimentos? Um dia, todos pensarão como nós. Deus não tem pressa. A verdade está acima dos julgamentos humanos. O Espiritismo se imporá por si mesmo...

Em parte, isso é verdade. Precisamos, entretanto, refletir sobre o conteúdo das palavras transcritas.

Elas não autorizam a interpretação acima. Para seu melhor entendimento, vamos desmembrar a frase citada em duas partes.

Primeiramente, recomenda-se não “violentar nenhuma consciência”, etc. Nesse sentido, até mesmo entre os adeptos do Espiritismo pode haver divergência de pensamento sem que deixemos de nos estimar e respeitar fraternalmente. É preciso compreender que uma das coisas mais detestáveis, para quem acalenta uma idéia, ainda que errada, é ser desmentido publicamente.

Carnegie (2003, p. 257) afirma que para alguém ser levado a pensar como queremos, entre outras coisas, é preciso evitar discutir e respeitar sua opinião, por mais equivocada seja a pessoa. Isso porque, após ter ouvido, tomado parte de milhares de discussões, concluiu que “há apenas um caminho para conseguir o melhor numa discussão – é correr dela, correr como você correria de uma cobra ou de um tremor de terra”. (CARNEGIE, 2003, p. 166-167.)

As coisas mais óbvias, em questão de crença, podem nos deixar com má vontade sobre elas, quando nos sentimos pressionados a aceitá-las como condição única de obter a proteção divina. Isso ocorre, principalmente, se já temos nossa posição firmada a respeito do assunto.

Um exemplo disso são essas mensagens cristãs que recebemos na rua ou são colocadas em nossas caixas de correspondência. Aparentemente, não há nada demais nisso, e até mesmo seria de se desejar que ficássemos gratos a quem as oferta.

Entretanto, exceto quando compartilhamos da mesma crença dos portadores das mensagens, se já temos nossa fé, sempre vemos nelas uma forma direta de proselitismo. Mesmo quando simplesmente lemos:

basta crer no Senhor e serás salvo.

Condição única: “crer no Senhor”.

Podemos continuar perversos, viciosos, hipócritas, invejosos, descaridosos, etc., mas se “cremos no Senhor”, ah, isso é o bastante. Nada de preocupações com nossa reforma íntima, afinal, a fé nos basta.

Ainda que concordemos com o conteúdo dessas mensagens, pois quase sempre nada mais são do que reproduções literais de passagens evangélicas ou do Antigo Testamento, a impressão que temos é a de que se não procurarmos a igreja X e nos filiarmos à mesma estaremos excluídos, definitivamente, das bem-aventuranças celestiais.

Isso não significa que também os espíritas não incomodemos, os não espíritas com nossas mensagens impressas em papel ou mesmo enviadas por e-mail sem que no-las tenham solicitado. Também entendemos que não há nada mais desagradável, para quem não acredita nas comunicações dos Espíritos com os homens, do que receber uma mensagem psicografada por alguém, ainda que essa pessoa esteja acima de qualquer suspeita. Nenhum tipo de violência à consciência alheia é aceitável, por mais bem-intencionados estejamos.

Entretanto, não podemos negar os imensos benefícios, para milhares de pessoas, que, tanto umas, quanto outras mensagens proporcionam quando oportunas. Quantos enfermos nos hospitais, quantos presidiários não se têm sentido confortados e agradecidos aos que lhes fazem uma prece, estendem as mãos e lhes deixam sua mensagem de fé, escrita ou falada! A forma de transmiti-las e a intenção existente por trás dessa divulgação é que podem ser questionadas.

Se a pessoa se sente bem com sua crença, ou mesmo descrença, não temos que tentar convertê-la ao nosso modo de crer. Quando chegar o momento adequado, os bons Espíritos encaminharão cada um para o templo religioso adequado ao seu estado mental e necessidade de desenvolvimento espiritual.

A segunda parte da mensagem que encima este texto afirma:

“Outrora, o céu era tomado com violência; hoje o é pela brandura.”

Durante muito tempo, acreditou-se que quando algo era bom para a Humanidade tinha que ser imposto pelas armas. Ainda hoje, algumas nações e sociedades pensam equivocadamente dessa forma. Em especial na política e na religião, imaginam que aquilo que é bom para si também o é para os outros sem qualquer respeito à sua cultura. Todavia, se é assim, por que os que pensam desse modo continuam sendo detestados por muitos? Por tentarem impor, à força, seu sistema político, sua religião, seus valores intelectuais e morais. É pela brandura, pelo amor que convencemos, e não pela imposição de nossas idéias. E não pela força.

Segundo Kardec, o maior adversário do Espiritismo não é qualquer religião, e sim o materialismo.

É este o mais devastador sistema filosófico já imaginado pela mente humana, que tudo reduz aos fenômenos da matéria. A vida, segundo tal teoria, seria obra do acaso e se extinguiria com a morte.

Mas até mesmo aos que em nada crêem não devemos violentar com nossa crença na imortalidade da alma, comunicação dos Espíritos, reencarnação e existência de Deus, entre outros aspectos básicos do Espiritismo.

Esclareçamo-los, sobretudo pela razão, sem deixar de tocar-lhes, amavelmente, o sentimento quando nos questionarem.

A Doutrina Espírita, como outrora a mensagem de Jesus, não veio para os sãos do espírito, e sim para os enfermos da alma, para os que buscam uma esperança, um consolo para as suas existências atribuladas.

Desse modo, é útil refletirmos nas seguintes palavras do Espírito Emmanuel (XAVIER, 1988, p. 190):

Convençamo-nos, porém, de que todo desequilíbrio do espírito pede, por remédio justo, a educação do espírito.

Veiculemos, assim, o livro nobre.

Estendamos a mensagem edificante.

Acendamos a luz dos nossos princípios nas colunas da imprensa.

Utilizemos a onda radiofônica, auxiliando o povo a pensar em termos de vida eterna.

Relatemos as nossas experiências pessoais, no caminho da fé, com o desassombro de quem se coloca acima dos preconceitos.

Amparemos a infância e a juventude para que não desfaleçam à míngua de assistência espiritual.

Instruamos a mediunidade.

Aperfeiçoemos nossos próprios conhecimentos, através da leitura construtiva e meditada.

Instituamos cursos de estudo do Evangelho de Jesus e da obra de Allan Kardec, em nossas organizações, preparando o futuro.

Ofereçamos pão ao estômago faminto e alfabeto ao raciocínio embotado.

Plantemos no culto da caridade o culto da escola.

E, sobretudo, considerando o materialismo como chaga oculta, não nos afastemos da terapia do exemplo, porque, em todos os climas da Humanidade, se a palavra esclarece, o exemplo arrasta sempre.

Cabe, pois, a nós, espíritas, observar o momento propício de auxiliar aqueles que não possuem uma fé a lhes consolar o coração e a lhes satisfazer o cérebro, mas que se encontram à procura dela. Também há os que têm sua crença, entretanto, continuam sentindo um vazio em seus corações. Os templos religiosos que frequentam lhes parecem frios; o deus que lhes dão a conhecer parece distante de nós, seus filhos; as misérias e desigualdades humanas não lhes são suficientemente explicadas. Para esses veio o Espiritismo ou Consolador prometido por Jesus.

É, pois, pela doçura, pela boa palavra, pela brandura de nossos atos que divulgaremos o Espiritismo, e não pela discussão estéril, pelo ataque sistemático às outras e às nossas instituições, e aos irmãos de ideal. E não pela violência.

É pelo estudo sistemático das que nos iluminaremos com o saber renovado por Jesus. Comecemos por O Livro dos Espíritos, continuemos com O Livro dos Médiuns, prossigamos com O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e concluamos com A Gênese.

Essas obras maravilhosas que compõem o chamado pentateuco kardequiano é que nos darão a base da Nova Revelação.

Prosseguindo no estudo, que se leia as informações da Revista Espírita, de Allan Kardec, e nelas reflita. Ensaio profundo para a publicação das obras posteriores da Codificação, ela nos traz ao conhecimento as primeiras experiências, relatos sobre fatos extraordinários e reflexões de Kardec, bem como de muitos outros ilustres pioneiros do Espiritismo no mundo.

Mas não fiquemos nisso, leiamos as boas obras, mediúnicas ou não, que analisam ou complementam o conteúdo das obras acima.

Em especial, recomendamos a chamada Série Nosso Lar, atualmente publicada pela Federação Espírita Brasileira sob o título genérico de A Vida no Mundo Espiritual, em treze volumes, ditada pelo Espírito André Luiz a Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. São tantos os médiuns, escritores e livros a serem lidos e meditados por nós que, se enumerados todos, transformaríamos este artigo em catálogo. O mais importante, porém, é que conheçamos bem, para melhor praticar a Doutrina, as obras da Codificação Kardequiana já referidas.

Allan Kardec nos lembra de que “fora da caridade não há salvação”.

E o Espírito Emmanuel nos faz refletir que, em Espiritismo, sua maior caridade é a divulgação mesma dos ensinamentos elevados dos emissários do Cristo, para serem vivenciados, e nossa exemplificação permanente no Bem. Assim, pelos nossos pensamentos e atos sempre coerentes com a Doutrina dos Espíritos, pelo estudo permanente das obras da Codificação Espírita, na vontade de vencer as próprias limitações, e pelo trabalho em prol de um mundo cada vez melhor, renovando o próprio mundo íntimo, estaremos promovendo a melhor divulgação do Espiritismo.



Reformador Nov/2005



BIBLIOGRAFIA:

CARNEGIE, Dale. Como fazer amigos e influenciar pessoas. 51. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 82. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.

______. O Evangelho segundo o Espiritismo.

117. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.

XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos Espíritos, pelo Espírito Emmanuel. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1988.

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