O cepticismo de pretensos cientistas tem sido
mais nocivo do que benéfico à Humanidade. A verdadeira característica do sábio
é a humildade honesta, isto é, a humildade que se manifesta espontaneamente,
com o propósito de evitar algo capaz de escandalizar a outrem. O sábio estuda,
analisa, pesquisa, observa, compara e conclui. Não realiza afirmativas
apriorísticas, mesmo quando em face do que possa parecer, à ciência oficial,
absurdo ou paradoxo.
Infelizmente, porém, não é numerosa essa nobre
estirpe de sábios, à qual pertenceram e pertencem homens de absoluto equilíbrio
moral e intelectual, dotados de uma independência admirável e refratários a
influências de caráter religioso, político ou dogmático.
Quando o Espiritismo, no século passado e nos
primeiros anos do presente século, atraiu as atenções do mundo científico,
numerosos foram os homens de ciência que se puseram a fazer experiências, a fim
de descobrirem o que havia de verdadeiro na velhíssima novidade. Alguns,
indiferentes aos preconceitos, se entregaram de corpo e alma ao trabalho,
objetivando encontrar a verdade que haviam vislumbrado. Outros, entretanto,
preferiram adotar atitudes espaventosas, agradáveis aos impenitentes negadores
de todas as épocas e aos servidores do ultramontanismo absorvente e dominador.
Por isto, sábios como William Crookes, para mencionarmos apenas um,
sofreram insultos e humilhações. Repetira-se com ele o que já sucedera com
outros legítimos homens de ciência, incumbidos pelo Alto de romper os liames da
tradição balofa, que a vaidade e o orgulho amparavam. César Lombroso,
enquanto negou a realidade espírita, era apontado como gênio. Depois que,
tocado pela revelação, pode observar, graças à médium Eusápia Paladino,
fenômenos incontestáveis, tendo a bela coragem de confessar a verdade,
renunciando aos pontos de vista que anteriormente professava, passou a ser
achincalhado por aqueles mesmos que o incensavam. Agora, já era um velho
senil, que não possuía suficiente equilíbrio para discernir entre a verdade e o
erro. Não obstante, sua famosa obra póstuma – “Richerche sui fenomeni
ipnotici e spiritici” - é um monumento que engrandece o Espiritismo, porque
ele, não apenas reconhece a realidade espírita, mas desenvolve
considerações impressionantes, com a autoridade moral e científica que possuía.
Em “Cristianismo e Espiritismo”, obra de Léon Denis, que
deve ser lida atentamente por todo aquele que almeja adquirir cultura espírita,
há um histórico magnífico acerca da evolução do Espiritismo, além de estudar a
origem dos Evangelhos, sua autenticidade e seu sentido oculto; as alterações
sofridas pelo Cristianismo e sua decadência, precedendo a Nova Revelação, isto
é, o Espiritismo, que é o Cristianismo redivivo, em sua forma simples e pura.
Há, entretanto, necessidade que os cientistas
se dediquem mais seriamente aos problemas que o Espiritismo oferece à sua
argúcia. Não desejamos nós, prosélitos de Allan Kardec, que eles adotem
previamente uma postura simpática em relação ao Espiritismo. O que desejamos é
que sejam absolutamente despidos de “parti-pris” no exame e estudo dos
fenômenos espíritas, e se forrem de beneditina paciência para levar a termo tão
árduo quão benemérito trabalho. Mais cedo ou mais tarde, Espiritismo e Ciência
estarão de mãos dadas, porque a Ciência há de alcançar resultados que a
possibilitem a afirmar a veracidade dos postulados espiritistas. E então, se
isto não for para os nossos dias, porque ainda há muito preconceito e muito
dogmatismo, se-lo-á para o próximo milênio pois o Espiritismo não se baseia em
milagres, não se escora em fantasias nem em episódios alucinantes. Em seu
tríplice aspecto – religioso, filosófico e científico – há de afirmar-se a
Humanidade inteira, como já se afirmou a milhões de criaturas despojadas de
orgulho e isentas de vaidade.
O Espiritismo salva, enquanto o cepticismo,
filho dileto do materialismo, conduz os homens ao desespero. O legítimo sábio
não aprova nem desaprova, não afirma nem nega previamente. Estuda, observa,
pesquisa, examina, analisa compara e conclui. Só emite opinião definitiva
quando julga esgotadas todas as fontes de esclarecimento e todos os recursos
investigatórios.
Se são lentos e penosos os avanços conseguidos
na Física, na Química e em outras ciências, digamos da matéria, como
pretenderem que sejam rápidos e fáceis os trabalhos realizados nos domínios do
Espiritismo, mesmo no que diz respeito às manifestações físicas? É lamentável
que poucos tenham sido os homens de ciência devotados a tão úteis, embora
dificílimos, estudos. A maioria, utilitarista e imediatista, quer que os
“fatos” se repitam matematicamente como se os Espíritos não tivessem vontade
própria e pudessem estar equiparados a fenômenos invariáveis, sujeitos a
fórmulas fixas. Por isso essa maioria de sábios sorri superiormente, escarnece
e nega os fenômenos espíritas, sem se dar ao trabalho de verificar se são mesmo
sábios ou se apenas aparentam sê-lo. A verdade é monopolizada por eles e também
pela Igreja.
O que não estiver de acordo com os cânones
consagrados pela ciência oficial ou conforme as exigências da Igreja, é
repelido.
O Espiritismo continua serenamente seu caminho
e não tem pressa, porque sabe que a Humanidade evolui muito lentamente.
Quanto mais se demorar o homem a iluminar-se pelo conhecimento da verdade
espírita, maiores serão os obstáculos que terá de transpor. O homem macerado
por sucessivas reencarnações, um dia curvará a cerviz à verdade e, então, verá
que o Espiritismo jamais esteve ou estará em antagonismo com a Ciência, uma vez
que ele é, a um só tempo: Religião, Ciência e Filosofia.
Túlio Tupinambá / (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Abril 1956