Nada é mais necessário fazer no ambiente espírita do que doutrinar,
levar a Doutrina à compreensão dos confrades mais humildes, para os quais há
conveniência em se adotar linguagem muito simples, que lhes permita rápida
assimilação das ideias apresentadas.
Não se trata, positivamente, de falar bonito, mas de falar
eficientemente, com absoluto conhecimento da Doutrina, para esclarecer,
ensinando. É bem mais importante do que possa à primeira vista parecer, a
pregação inteligente da Doutrina de Kardec. O número daqueles que perambulam
pelo Espiritismo e pouco ou quase nada sabem de Doutrina é muito grande. Em
virtude da "lei do menor esforço", muitas vezes o adepto do
Espiritismo não se mostra exigente, não zela pelo respeito à Doutrina, porque a
desconhece em suas minúcias. Aceita qualquer "espiritismo" que lhe
pareça bom por falar em Jesus, no bem, etc.
Evidentemente, isso não basta. Seria ótimo que a só menção do nome de
Jesus fosse bastante para assegurar a certeza de que os princípios doutrinários
do Espiritismo são observados em qualquer parte. Tal não sucede, porém. Há
necessidade de se martelar a Doutrina, pela palavra falada, nas tribunas e no
Rádio, pela palavra escrita, nas conversações, enfim, onde quer que estejam
reunidos indivíduos que debatam temas espíritas.
Todos nós, que nos sentimos com alguma responsabilidade no movimento
espírita nacional, devemos ser rigorosos na exemplificação de todos os
instantes, porque os olhos dos confrades mais novos ou dos adeptos incipientes
convergem justamente para aqueles que eles supõem ser corretos no procedimento
moral.
Doutrina, Doutrina, Doutrina - eis o ponto fundamental de qualquer
propaganda espírita kardecista. Com a difusão da Doutrina será mais fácil
corrigir maus hábitos, superstições, abusões, erradas interpretações dos fatos
espíritas e destorcida compreensão do que eles possam ignificar à luz dos
preceitos doutrinários.
Ninguém pode ter "o seu espiritismo". Todos podem ter apenas o
Espiritismo fundamentado na Doutrina, que é simples, porém positivo. Ele
somente sobreviverá através da Doutrina. Sua consolidação se deveu à unidade de
ação dentro dos princípios doutrinários. Mas à medida que se vai ampliando o
seu raio de ação, à medida que cresce extraordinariamente o número de adeptos,
é mister reforçar e ampliar o trabalho doutrinário.
Devemos dizer uma verdade que talvez não seja bem aceita: o Espiritismo
teórico não lança raízes profundas no espírito dos adeptos mais esclarecidos. É
imprescindível que ele seja comprovado pelo trabalho prático, objetivo,
ilimitado, com base na assistência social, na caridade respeitosa, no socorro
àqueles que, tangidos pelos compromissos do Carma, vivem uma existência de
privações dolorosas.
Isso tem sido feito no Espiritismo, mas precisa de ser multiplicado,
desenvolvido e mantido permanentemente, numa atmosfera evangélica de
reconstrução moral e espiritual de pobres irmãos em terríveis provas na Terra.
Dar o pão do espírito sem esquecer o pão do corpo, eis o caminho que tem
apresentado resultados mais seguros e mais rápidos. A Doutrina tanto pode ser
encontrada dentro de um livro como dentro de um pedaço de pão.
Nunca o mundo sofreu tanto quanto presentemente; nunca houve tanta dor
nem tanta miséria como nos dias que correm. Por isto, as responsabilidades dos
espíritas multiplicaram-se e eles têm de sustentar galhardamente essa luta, sem
o que poderão ser absorvidos ou perturbados em suas tarefas.
Doutrinar, Doutrinar, Doutrinar, exemplificando, ajudando, trabalhando
praticamente também, para que os obstáculos sejam mais facilmente superados.
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Agosto 1962
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