domingo, 18 de abril de 2010

O CONSOLADOR



EM 18 DE ABRIL É COMEMORADO O DIA DO LIVRO ESPÍRITA, DIA NACIONAL DO ESPIRITISMO E TAMBÉM COMEMORAMOS O ANIVERSÁRIO DA PUBLICAÇÃO DE “O LIVRO DOS ESPÍRITOS” OCORRIDO NO ANO DE 1857.

Seria grande erro supor que a Mensagem do Cristo de Deus terminara com sua passagem pela Terra.
O Mestre não se limitou a deixar à Humanidade seu Evangelho que ilumina os caminhos humanos.
Sabia Ele que as imperfeições e rebeldias dos homens não seriam removidas somente com seu serviço ativo e com a dedicação dos primeiros discípulos e seguidores, a trabalhar nos corações e nas mentes.
Ele mesmo declarou que não viera para ensinar tudo aos homens, que não possuíam ainda as condições necessárias ao entendimento de lições que transcendiam à compreensão de então.
O caminho que indicou foi o do amor, o do esforço individual, o do sacrifício em prol da elevação moral de cada um.
Ficaria para o futuro a complementação da Boa Nova.
São palavras do Mestre incomparável:
"Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas presentemente não as podeis suportar."
E acrescenta:
"Se me amais, guardai os meus mandamentos - e eu pedirei ao meu Pai e ele vos enviará outro Consolador a fim de que fique eternamente convosco: - o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê; vós, porém, o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós - mas o Consolador, que é o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e fará vos lembreis de tudo o que vos tenho dito."
(João, 14:15-17 e 26).

O que as palavras de Jesus, registradas pelo evangelista, deixam muito claro é que Ele não ensinara tudo a seus discípulos, pela simples razão de que não podiam, não tinham condições de compreender o que estivesse acima de sua capacidade de entendimento.
Torna-se evidente, na passagem evangélica, confirmada pelos fatos, que o Mestre não esgotou seus ensinamentos naquele pequeno período de vivência entre os homens.
Ao contrário, tornou claro que sua Mensagem se desdobraria em etapas: o Consolador prometido complementaria suas lições de há dois mil anos, e lembraria tudo o que fosse esquecido ou desvirtuado, restabelecendo as verdades ensinadas.
As religiões tradicionais que se baseiam nos Evangelhos, ao lado dos muitos desvios interpretativos, cometeram o grave erro de considerar os ensinamentos de Jesus como completos e definitivos, em contraposição às próprias palavras do Mestre.
Esqueceram do papel importantíssimo do Consolador, que viria futuramente, mas que dependeria dos desígnios do Alto, para complementar a grande Mensagem.
Com esse posicionamento as igrejas denominadas cristãs tornaram imutáveis e estratificadas suas Doutrinas. Decorridos os séculos, essas doutrinas foram se desvirtuando não só diante da verdadeira Mensagem Crística, mal interpretada em muitas de suas passagens, mas também perante os conhecimentos novos trazidos pelas Ciências. Apenas os ensinos morais do Cristo permaneceram incólumes.
A reconsideração da Igreja Romana quanto ao tristíssimo Tribunal do Santo Ofício, no tocante à Inquisição, nos episódios que envolveram muitos sábios e escritores como Galileu Galilei e Charles Darwin, Giordano Bruno e Dante, Descartes e Diderot, Erasmo e Fénelon, João Huss e Lutero, Montesquieu, Pascal, Rousseau, Voltaire e muitos outros são alguns dos muitos enganos em que incorreu a milenar instituição, que se tornaram insuportáveis por ela mesma.
Para os estudiosos e seguidores do Espiritismo não há dificuldade de compreensão da promessa do Cristo, já que os acontecimentos mostraram claramente que a Doutrina dos Espíritos é o próprio Consolador prometido.

Eis alguns sinais que confirmam não a presunção, mas a certeza da vinda do Consolador com a Terceira Revelação ("A Gênese" - A. Kardec - Cap. XVII):
- Desde a vinda do Cristo até meados do século XIX, nenhuma outra revelação significativa apareceu no mundo que tenha completado os Evangelhos e elucidado suas passagens obscuras.
- Com "O Livro dos Espíritos" (1857) e as demais obras da Codificação corporificou-se a Doutrina Espírita, a Terceira Revelação.
- A Nova Revelação, obra coletiva, caracterizando o "Espírito Santo" – os Espíritos do Senhor - tem à sua frente o Espírito de Verdade.
- Toda a Nova Revelação se ocupa do Evangelho de Jesus, interpretando-o em espírito e não somente na letra.
- Coisas novas são anunciadas pelos Espíritos reveladores, especialmente no que concerne à Vida Espiritual e ao Mundo Invisível.
- A Nova Revelação está destinada a ficar eternamente com os habitantes deste Planeta, o que corresponde à promessa do Cristo.
- A Doutrina dos Espíritos, além de toda a parte moral da Doutrina do Cristo, é profundamente consoladora, inspirada pelo Espírito de Verdade, representando o Cristo.
- O Espiritismo, doutrina não individual, mas extremamente abrangente, é o resultado do ensino coletivo de muitos Espíritos, orientados pelo Espírito de Verdade.
- O Espiritismo, o Consolador, teve precursores, preparadores de seu advento.

Pela sua força moralizadora já está preparando o advento da Era da Regeneração.
Quanto ao fenômeno do dia de Pentecostes, que muitos entendem como sendo a manifestação do Espírito Santo e a vinda do Consolador, pode-se entender que as aptidões mediúnicas de muitos dos discípulos foram desenvolvidas pelos Espíritos, auxiliando-lhes as futuras tarefas e missões.
Entretanto, o fenômeno nada acrescentou aos ensinos de Jesus, não trazendo conhecimentos novos e nem aclarando o que se achava obscuro.
Por isso, o Pentecostes não se pode confundir com o Consolador, cujas características o Mestre enunciou com precisão, e só se corporificaria com um mínimo de progresso geral do mundo, com o avanço espetacular das ciências; a partir dos últimos séculos, e com o triunfo da liberdade, contra as imposições dogmáticas dos poderes absolutistas dos governos e das religiões.
De outro lado, afirmando aos apóstolos que o Consolador vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito, Jesus proclama a doutrina da reencarnação, já que aqueles a quem se dirigia só poderiam aproveitar dos novos ensinos no futuro indefinido, naturalmente em outras vidas.
E a doutrina da reencarnação, tal como a apresenta a Doutrina Espírita, de suma importância para a compreensão das leis divinas do Amor e da Justiça, não poderia ser compreendida, em toda a sua abrangência, senão com o advento do Consolador prometido, que já está no mundo.
O caráter consolador da Doutrina dos Espíritos manifesta-se a todos os sofredores do mundo, mostrando-lhes a causa dos sofrimentos e dores, que reside na ignorância, na maldade e nos transvios dos próprios homens com relação às leis naturais, ou divinas.
A Doutrina mostra a justiça dos sofrimentos sem esquecer a consolação da busca da felicidade na vida presente ou futura.
Ela é inspiradora da fé viva e racional e da esperança, por pior que seja a situação individual. Afasta as dúvidas cruéis, decorrentes da descrença materialista e das crenças infundadas no inferno dos sofrimentos eternos.

Juvanir Borges de Souza
REFORMADOR, ABRIL, 1998

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O ALVO DA VIDA

Por esses dados, em torno de nós se estabelece a ordem; o nosso caminho se esclarece; mais distinto se mostra o alvo da vida. Sabemos o que somos e para onde vamos.

Desde então não devemos mais procurar satisfações materiais, porém trabalhar com ardor pelo nosso adiantamento. O supremo alvo é a perfeição; o caminho que para lá conduz é o progresso. Estrada longa que se percorre passo a passo. A proporção que se avança, parece que o alvo longínquo recua, mas, em cada passo que dá, o ser recolhe o fruto de seus trabalhos, enriquece a sua experiência e desenvolve as suas faculdades.

Nossos destinos são idênticos. Não há privilegiados nem deserdados.

Todos percorrem a mesma vasta carreira e, através de mil obstáculos, todos são chamados a realizar os mesmos fins. Somos livres, é verdade, livres para acelerar ou para afrouxar a nossa marcha, livres para mergulhar em gozos grosseiros, para nos retardarmos durante vidas inteiras nas regiões inferiores; mas, cedo ou tarde, acorda o sentimento do dever, vem a dor sacudir-nos a apatia, e, forçosamente, prosseguiremos a jornada.

Entre as almas só há diferenças de graus, diferenças que lhes é lícito transpor no futuro. Usando do livre-arbítrio, nem todos havemos caminhado com o mesmo passo, e isso explica a desigualdade intelectual e moral dos homens; mas todos, filhos do mesmo Pai, nos devemos aproximar d’Ele na sucessão das existências, para formar com os nossos semelhantes uma só família, a grande família dos bons Espíritos que povoam o Universo.

Estão banidas do mundo as Ideias de paraíso e de inferno eterno. Nesta imensa oficina, só vemos seres elevando-se por seus próprios esforços ao seio da harmonia universal. Cada qual conquista a sua situação pelos próprios atos, cujas consequências recaem sobre si mesmo, ligam-no e prendem. Quando a vida é entregue às paixões e fica estéril para o bem, o ser se abate; a sua situação se apouca. Para lavar manchas e vícios, deverá reencarnar nos mundos de provas e ali purificar-se pelo sofrimento. Cumprida a purificação, sua evolução recomeça. Não há provações eternas, mas sim reparações proporcionadas às faltas cometidas. Não temos outro juiz nem outro carrasco a não ser a nossa consciência, pois essa consciência, assim que se desprende das sombras materiais, torna-se um julgador terrível. Na ordem moral como na física só há efeitos e causas, que são regidos por uma lei soberana, imutável, Infalível. Esta lei regula todas as vidas. O que, em nossa ignorância, chamamos injustiça da sorte não é senão a reparação do passado. O destino humano é um pagamento do débito contraído entre nós mesmos e para com essa lei.

A vida atual é a consequência direta, inevitável das nossas vidas passadas, assim como a nossa vida futura será a resultante das nossas ações presentes, da nossa maneira de viver. Vindo animar um corpo novo, a alma traz consigo, em cada renascimento, a bagagem das suas qualidades e dos seus defeitos, todos os tesouros acumulados pela obra do passado. Assim, na série das vidas, construímos por nossas próprias mãos o nosso ser moral, edificamos o nosso futuro, preparamos o meio em que devemos renascer, o lugar que devemos ocupar.

Pela lei da reencarnação, a soberana justiça reina sobre os mundos. Cada ser, chegando a possuir-se em sua razão e em sua consciência, torna-se o artífice dos próprios destinos. Constrói ou desmancha, à vontade, as cadeias que o prendem à matéria. Os males, as situações dolorosas que certos homens sofrem, explicam-se pela ação desta lei. Toda vida culpada deve ser resgatada. Chegará a hora em que as almas orgulhosas renascerão em condições humildes e servis, em que o ocioso deve aceitar penosos labores.

Aquele que fez sofrer sofrerá a seu turno.

Porém, a alma não está para sempre ligada a esta Terra obscura. Depois de ter adquirido as qualidades necessárias, deixa-a e vai para mundos mais elevados. Percorre o campo dos espaços, semeado de esferas e de sóis. Ser-lhe-á arranjado um lugar no seio das humanidades que os povoam. E, progredindo ainda nesses novos meios, ela, sem cessar, aumentará a sua riqueza moral e o seu saber. Depois de um número incalculável de vidas, de mortes, de renascimentos, de quedas e de ascensões, liberta das reencarnações, gozará vida celeste, tomará parte no governo dos seres e das coisas, contribuindo com suas obras para a harmonia universal e para a execução do plano divino.

Tal é o mistério de psique — a alma humana —, mistério admirável entre todos. A alma traz gravada em si mesma a lei dos seus destinos. Aprender a soletrar os seus preceitos, aprender a decifrar esse enigma, eis a verdadeira ciência da vida. Cada farrapo arrancado ao céu da ignorância que a cobre, cada faísca que adquire do foco supremo, cada conquista sobre si mesma, sobre suas paixões, sobre seus instintos egoísticos permite-lhe uma alegria pura, uma satisfação íntima, tanto mais viva quanto maior for o trabalho executado.

Eis aí o céu prometido aos nossos esforços. O céu não está longe de nós, mas, sim, conosco. Felicidades íntimas ou remorsos pungentes, o homem traz, nas profundezas do ser, a própria grandeza ou a miséria consequente dos seus atos. As vozes harmoniosas ou severas que em si percebe são as intérpretes fiéis da grande lei, tanto mais potentes e imperiosas quanto mais elevado ele estiver na escala dos aperfeiçoamentos infinitos. A alma é um mundo em que se confundem ainda sombras e claridades, mundo cujo estudo atento faz-nos cair de surpresa em surpresa. Em seus recônditos todas as potências estão em germe, esperando a hora da fecundação para se desdobrarem em feixes de luz. À medida que ela se purifica, suas percepções aumentam. Tudo o que nos encanta em seu estado presente, os dons do talento, os fulgores do gênio, tudo isso nada é, comparado ao que um dia adquirirá, quando tiver atingido as supremas altitudes espirituais.

Já possui imensos recursos ocultos, sentidos íntimos, variados e sutis, fontes de vivas impressões, mas o pesado e grosseiro invólucro embaraça-lhe quase sempre o exercício.

Somente algumas almas eleitas, destacadas por antecipação das coisas terrestres, depuradas pelo sacrifício, sentem as primícias desse mundo; todavia, não encontram palavras para descrever as sensações que as enlevam, e os homens, em sua ignorância da verdadeira natureza da alma e das suas potências latentes, os homens têm escarnecido disso que julgam ilusões e quimeras.

Léon Denis
Livro: O Porquê da Vida

EXERCITAI O AMOR

“Que Jesus abençoe este momento em que o mundo invisível e visível se entrelaçam num esforço de esclarecimento a respeito dos propósitos da vida, concedida por Deus aos seus filhos para conhecimento da Verdade. O mundo terreno vive imerso em ilusões e fantasias, voltado quase que em sua totalidade para o materialismo, que se manifesta de modo disfarçado por toda parte. As inteligências superiores, responsáveis pela vida social do planeta, vem desde há muito tempo, apresentando os conceitos fundamentais que regem a vida do ser.

Esforços têm sido envidados, missionários encarnam-se na superfície terrena para ensinar, alertar, plantar a semente do Bem. Mas, como o grão plantado em terra inóspita, a verdade encontra imensa dificuldade para florescer na sua lídima expressão. Os corações humanos, limitados pelo estado evolutivo dos Espíritos viventes nesse plano, não conseguem alcançar a profundidade e todas as conseqüências das leis reveladas. Sabeis todos vós que os ensinos da Espiritualidade são gradualmente manifestos. Cada período da humanidade guarda condições para que novos pontos de vistas sejam apresentados.

Porém, o homem do mundo ainda tem imensas dificuldades para assimilar as leis de Deus e colocá-las na sua vida diária, constituindo-as como regras de comportamento. Não se pode afirmar que haja coisas erradas ou fora de lugar. O Criador, pai de justiça, perfeição e bondade, não iria permitir que a criação de um orbe destinado ao abrigo de seus filhos pudesse estar sujeito a enganos. O mundo move-se na história, guiado por leis eternas e imutáveis. A evolução dos habitantes terrenos e da ordem material do próprio orbe determinam as muitas fases a que a coletividade deverá passar, até que supere o estado de vida primária que caracteriza os mundos inferiores.

A dificuldade em se compreender a palavra de Deus vem da dureza dos corações, das limitações de entendimento daqueles que se encontram matriculados na abençoada escola terrena. Mas passo a passo, a semente da Boa Nova será disseminada entre grupos e indivíduos. A verdade vai se manifestando e se impondo aos homens que a conseguem vislumbrar. Poderíeis afirmar que ainda não se fez presente a ponto de modificar os rumos das pessoas em geral. No entanto, é preciso considerar que uma obra desse vulto, não envolve apenas o ato de se divulgar. Muitas outras forças e movimentos deverão ser implementados com a finalidade de conduzir a Terra para um estágio superior de vida e entendimento.

Aquele, porém, que compreender a essência dos ensinos, exercerão em tempo propício um papel de esclarecimento junto às pessoas e lugares onde estão encarnados. Nada poderá impedir a transformação que hora se opera. E se não podeis modificar o mundo de súbito, pelo menos vos dediqueis à modificação de vossas personalidades. Muito trabalho existe para se fazer nesse sentido. Amai-vos, eis o primeiro mandamento. Instrui-vos, eis o segundo. Assim o Espírito de Verdade se manifestou mostrando quais eram as providências primeiras.

O amor deve ser o elo de ligação entre os seres humanos. A instrução precisa, sem subterfúgios, deve ser instrumento de reeducação para que o amor não seja irracional e apenas de aparências. E não se pode instruir alguém, em sentido espiritual, se ele não o desejar, ou se preferir dar ouvidos às doutrinas do mundo. O Evangelho é vosso manual de orientação moral. Como se pode compreender, examinando suas páginas, trata-se de escolha onde se educa, onde se descobre as próprias imperfeições, onde se coloca peias nos baixos instintos. Pode parecer enfadonho às almas fracas, a meditação diante das preciosas parábolas e questões ali apresentadas. Mas vós, que ouvis a doce voz do Senhor, sabeis que o caminho da salvação e da felicidade eterna é apenas um. Seja no catolicismo, no protestantismo ou no Espiritismo, adentra o Reino de Deus apenas os que estudam e praticam a Lei apresentada por Jesus.

Espíritas! Não perdeis o vosso tempo envolvidos em histórias contadas por Espíritos pouco adiantados, cujos ensinos falam apenas ao coração, mas pouco ou quase nada à razão. O tempo flui com rapidez, nesse grave momento que envolve vossas existências. Podeis considerar que viveis num período de emergência. E, diante dessa situação, é urgente vosso cuidado em compreender e praticar os princípios fundamentais da lei de Deus: amar vosso próximo; fazer a ele o que desejaríeis para vós mesmos. Orai pelos vossos inimigos, procurando compreender suas infelizes atitudes. Estendei vossa mão ao carente, socorrendo-o, distribuindo amor em forma de bênção e realizações.

A voz do Espírito vos chama para que não vos deixeis iludir pelo mundo e suas perdições. Amai no sentido pleno da palavra, fazendo viver em vossa intimidade a chama viva d’Aquele que a tudo criou. Que permaneça sempre entre vós o entendimento da Doutrina Espírita e que ela seja utilizada como instrumento de crescimento para aqueles que tiverem contato com suas sublimes lições.” – Antônio de Larzim.

Espírito: Antônio de Larzim
Grupo Espírita Bezerra de Menezes

quarta-feira, 14 de abril de 2010

VONTADE

Dentre tantos atributos essenciais da alma humana tais como livre-arbítrio, consciência de si mesma, inteligência, racionalidade, percepções, a vontade é, inquestionavelmente, um dos principais.

O ser humano, embrutecido em suas origens, tem sido ajudado a caminhar na esteira do tempo por sua vontade. Das brumas do passado aos dias atuais aprendeu a discernir e poder alcançar o senso moral mas ainda hoje não conseguiu adaptar-se à observância das leis naturais. Caminha em largas passadas em inteligência porém arrasta-se lentamente em moralidade. Transgride reincidentemente as normas divinas, notadamente o postulado universal do amor ao próximo descerrado ao Mundo pelo Divino Mestre. O cediço hábito de ferir é ainda freqüente entre as pessoas.

Jesus desceu das luzes do infinito para viver entre os homens arrostando imperfeições, e aflições de toada ordem, sem jamais deixar de tolerar incompreensões, de socorrer, aliviar, curar e encaminhar as criaturas no meio das trevas mais densas do Planeta. Para implantar no solo da Terra a Sua Doutrina recomendou a seus discípulos: “Ide e pregai”.

Hoje, próxima do terceiro milênio da Era Cristã, a Humanidade necessita urgentemente assimilar as verdades da Doutrina Consoladora e Esclarecedora por Ele enviada para se libertar do erro, da ignorância, dos sofrimentos. Fincada definitivamente a bandeira do Espiritismo Cristão, incumbe a seus adeptos conscienciosos espalhar as luzes da sublime candeia da Nova Revelação sob o lema de Deus, Cristo e Caridade.

O Espiritismo é a senda da verdade, a luz que clareia a via do destino. As almas desviadas dos rumos do bem se entediarão de errar e sofrer e serão despertadas do longo letargo da ignorância e das maldades. Suas vontades as conduzirão aos pagos onde se edifica o bem. As que obram com Deus encontram o lenitivo para os sofrimentos, a medicação contra os males.

A sociedade humana exibe muitas chagas morais abomináveis: o egoísmo, a cobiça e ambição delirantes, as guerras, a violência de várias feições, o consumo e o mercado de drogas, vícios e desregramentos diversos, e tantas outras. A descrença em Deus, o desconhecimento de Suas leis fazem com que os portadores dessas nódoas ignorem que têm encontro marcado com a Soberana Justiça Divina.

Por outro lado, grande parte dos homens se esquece que pequena parcela do supérfluo do que possui é suficiente para minorar a fome, amparar crianças órfãs e desvalidas, idosos desprotegidos e vítimas dos infortúnios. A dureza dos corações é, muitas vezes, o carrasco do erro e da injustiça. Bastaria que se unissem as vontades de socorrer, não com simples esmolas, mas com a ajuda efetiva ou seja, o desejo de cumprir o dever de fraternidade. A certeza da vida futura e a consciência de que somos irmãos, filhos do Pai eterno, sustentam os esforços nesse sentido.

Nossas ações devem estar voltadas para o futuro. Não devemos perder de vista em nenhuma delas que as suas conseqüências são inexoráveis. Passado, presente e futuro são sempre solidários. O porvir mais próximo ou mais distante nos reserva o efeito das nossas práticas de hoje, isso rigorosamente em decorrência do bem ou do mal que delas resultem, tudo de conformidade com as leis da Divina Providência.

A descrença na vida futura é uma das principais causas do egoísmo, do orgulho e das vicissitudes deles decorrentes. Quando as pessoas somente praticarem o bem não haverá necessidade dos resgates dolorosos. Numa sociedade fraterna em que todos se ajudarem mutuamente, todos serão venturosos. Isso não é utopia. A razão pura nos informa que é perfeitamente realizável. Para tanto o imprescindível é a evolução, a educação em sentido amplo a nos conduzirem às verdades da existência de Deus, da imortalidade da alma, das vidas sucessivas, das leis naturais.

Pelo progresso já feito verifica-se, sem dificuldade, que a evolução não tem termo. Fácil é, pois, entender que há mundos ditosos onde impera a fraternidade e a prática do bem é usual, sendo os sofrimentos limitados à transformação natural da matéria, excluídos, portanto, os resultantes da prática do mal.

Desde que se alcance a consciência da verdade, o desejo de progredir é a poderosa alavanca da evolução e quanto mais se oferece à vida mais ela devolve.

A expressão da vontade varia de um para outro indivíduo. Sendo manifestação da alma revela-se de acordo com o seu grau de adiantamento. Na erraticidade pode não ser a mesma a vontade do Espírito quando encarnado, podendo, também, ser superior às suas forças.

A vontade dos maus está costumeiramente voltada para a inveja, a cobiça, a vaidade, para as más tendências, valendo notar, contudo, que não há seres votados permanentemente ao mal, como entendem algumas crenças, o que atentaria contra a Justiça e a Sabedoria das leis naturais.

Submeter-se à vontade de Deus é o meio seguro de incrementar o progresso, vencer as provas e expiações. Devemos, pois, nos esforçar para aproximar da d’Ele a nossa vontade, já que essa comunhão de propósitos somente nos fará ditosos.

A Doutrina Espírita ensina também que a vontade do Espírito se modifica à medida que ele evolui, podendo apressar ou retardar o próprio progresso.

Bem ou mal dirigida, a vontade gera alegrias ou arrependimentos. Incumbe a cada criatura, portanto, esforçar-se para se aproximar das virtudes, absorvê-las e cultivá-las a fim de sentir a abençoada presença divina em sua vida. O amor, sumário de todas elas, é o agente e o poder capazes de construir e sustentar a vida, de fecundar e fertilizar a alma.

Muitas vezes as pessoas perdem o ânimo de viver por motivos e razões variados. Chegam mesmo a atentar contra a própria vida. Isso constitui afronta gravíssima às leis de Deus a proporcionar padecimentos futuros angustiosos.

Por outro lado, imenso contingente humano tem pavor da morte, quase sempre devido à descrença na vida futura. Santo Agostinho nos lembra que morremos todos os dias. A morte é, na realidade, a passagem para uma vida melhor sob o ponto de vista de que nos livra dos males da matéria. Contudo, não nos livra dos sofrimentos. Para o homem de bem a morte é ensejo de júbilo que o corpo físico não pode proporcionar. A morte é para os bons o encontro da paz enquanto que para os que se desviam do caminho do bem significa a entrada para o suplício.

As pessoas marginalizadas da sociedade, crianças, adolescentes e adultas, que vagueiam pelas vias públicas em grande número, espalhadas pelos recantos da imensa Nação Brasileira, compõem um quadro de penúria. Muitas, estiradas no chão da Pátria, sem teto e sem alimento, em situação degradante, inferior mesmo à dos animais irracionais. Estômagos vazios ulcerados pela carência de alimentação, pulmões minados pela fome, o corpo exibindo chagas. Já não se trata de pobreza aquela que acompanha o homem há milênios, mas de absoluta miséria. Todas as vistas devem voltar-se para essa realidade aviltante. Há necessidade urgente e imperiosa de enfrentar essa questão, fazer cessar a indiferença, pôr cobro em tal situação ou pelo menos minorar tal degradação.

Criam-se programas e impostos, destacam-se verbas para outras destinações, mas esse problema não tem sido solucionado nem mesmo considerado, não faz parte do sentimento das criaturas, não há vontade de resolvê-lo. Não se trata de retirar das ruas desocupados e mendigos para que não criem embaraços à vida e aos olhos dos transeuntes. Trata-se de encarar um realidade que atenta contra a dignidade da pessoa humana. É tema que diz respeito a todos, governantes e governados, religiosos ou não. A comunidade inteira tem obrigação irrecusável de dar solução a essa questão, venham de que fonte for os recursos necessários.

Queiram ou não os orgulhosos e os insensíveis, essas criaturas em infamante miséria são nossas irmãs e como tais devem ser consideradas e tratadas. Que se tribute com eqüidade a coletividade, até mesmo os próprios beneficiados, mas que encontre termo esse panorama desolador que envilece qualquer civilização.

Nem só de pão vive o homem. Entretanto, não se pode nem pensar em fazer discurso ou pregação de qualquer natureza ou procedência para os que têm permanentemente o estômago vazio e o corpo dilacerado pelos pedrouços da vida. É inelutável a necessidade de combate às causas profundas que dão origem a esses quadros tristes. Mas não há como esperar os resultados de outras medidas que possam ter repercussão sobre esses casos. O socorro e o amparo a essas criaturas devem ser urgentes. Quem não prestar colaboração nesse sentido está cometendo infração moral contra a Humanidade.

Neste momento não devemos levar em consideração se merecem ou não ser socorridas todas essas criaturas. Embora saibamos da existência das que preferem morrer na indigência a trabalhar, jamais devemos esquecer que também essas devem ser socorridas, eis que são portadoras de enfermidades da alma e que, por sua vez, serão um dia curadas. A distribuição da infalível justiça cabe às leis de Deus. A nós, filhos do Senhor da Vida, segundo as mesmas leis, incumbe a prática da caridade.

Reformador Jan/99

terça-feira, 13 de abril de 2010

DOIS RICOS DESENCARNADOS DISPUTAM A POSSE DE RIQUEZA


“A influência das pessoas presentes, contribui com alguma coisa?
R. Quando há incredulidade, oposição, podem nos incomodar muito; gostamos bem mais de fazer nossas provas com os crentes e pessoas versadas no Espiritismo; mas não quero dizer que a má vontade poderia nos paralisar completamente.”
Allan Kardec, O livro dos médiuns, Cap. V – q. 99;4

Curioso caso ocorreu em determinada noite quando, contrariando os procedimentos habituais da equipe de médiuns, logo que um Espírito se manifestou com queixas e reclamações através de um dos médiuns, outro “incorporou” em outro membro da equipe e passaram a se falar, trocando acusações.

Apesar do inusitado, tal coisa acontecia, sem nenhuma dúvida, com o consentimento e supervisão dos orientadores espirituais da equipe. Todos se postaram de acordo com o que exigia a situação, deixando ao dirigente encarnado a incumbência de intermediar o litígio, cuja origem era uma caixa que supostamente continha valores e que cada um dos litigantes reclamava para si, acusando o outro de furto.

Deixou-se a conversa entre os dois prosseguir por alguns minutos, enquanto o dirigente tomava conhecimento dos detalhes através desse diálogo pouco amigável, ao mesmo tempo que lhe vinham à mente, por intuição dos mentores, as linhas gerais do caso.

Em momento oportuno o dirigente interveio e pediu silêncio aos dois, solicitando a ambos que respeitassem o local e as pessoas presentes, e que se explicassem com mais calma, após ouvi-lo. O orientador encarnado recebeu a intuição de “confiscar” provisoriamente a caixa e informar aos dois tal procedimento, até que se apurasse a quem de fato aqueles valores pertenciam.

Os dois envolvidos concordaram com o suposto confisco, e consentiram em refletir sobre a própria situação. Foi-lhes recomendado olhar em volta, com atenção, ouvir o que se dizia, procurar reconhecer o ambiente e, finalmente, a descrever o que percebiam.

Mencionaram que o ambiente embaçado se iluminava um pouco mais. Pediu-se a eles que prestassem mais atenção por que logo pessoas amigas se aproximariam para falar-lhes.

Aos poucos foram percebendo sua condição de desencarnados e vendo, cada vez mais claramente, o ambiente em que estavam. Chegaram a comentar a presença de muita gente doente. Foram esclarecidos de que o local era uma espécie de pronto-socorro espiritual que atendia a eles naquele momento e também a outros que igualmente sofriam, mesmo que de outros males.

Finalmente, foi perguntado a eles se queriam a caixa de volta. Olharam para um ponto fora do alcance de nossos olhos, e perguntaram porque a caixa se transformara em algo como lama. Explicamos que se tratava de uma fixação mental que ambos alimentaram por longo tempo, em disputa por algo que ficara na Terra.

Um tanto constrangidos, agradeceram e despediram-se acompanhados de enfermeiros da Espiritualidade que os encaminhariam aos locais de recuperação e esclarecimento de que necessitavam.

Eis um ótimo exemplo do quanto podemos ser enganados pelos desejos e ambições que carregamos conosco pela vida afora. Um objeto, algo que prezamos muito enquanto estamos na Terra, uma jóia ou coisa assim, torna-se real e relativamente permanente na vida extra-física.

Daí a importância do desapego aos bens materiais, sejam objetos ou valores, mesmo pessoas, pois tudo que é material é também transitório, apesar de podermos criar na vida no Invisível praticamente tudo que prezamos, na condição de fixação mental.

Livro: Casos e Experiências com a Mediunidade Paulo R. Santos

segunda-feira, 12 de abril de 2010

DEVER E LIBERDADE


EM LEMBRANÇA AOS 83 ANOS DO DESENCARNE DE LÉON DENIS,
OCORRIDO EM 12 DE ABRIL DE 1927.

Quem é que, nas horas de silêncio e recolhimento, nunca interrogou à natureza e ao seu próprio coração, perguntandolhes o segredo das coisas, o porquê da vida, a razão de ser do universo? Onde está aquele que jamais procurou conhecer seu destino, levantar o véu da morte, saber se Deus é uma ficção ou uma realidade?

Não seria um ser humano, por mais descuidado que fosse, se não tivesse considerado, algumas vezes, esses tremendos problemas. A dificuldade de os resolver, a incoerência e a multiplicidade das teorias que têm sido feitas, as deploráveis conseqüências que decorrem da maior parte dos sistemas já divulgados, todo esse conjunto confuso, fatigando o espírito humano, os têm relegado à indiferença e ao ceticismo.

Portanto, o homem tem necessidade do saber, da luz que esclareça, da esperança que console, da certeza que o guie e sustente. Mas tem também os meios para conhecer, a possibilidade de ver a verdade se destacar das trevas e o inundar de sua benfazeja luz.

Para isso, deve se desligar dos sistemas preconcebidos, descer ao fundo de si mesmo, ouvir a voz interior que nos fala a todos, e que os sofismas não podem enganar: a voz da razão, a voz da consciência.

Assim tenho feito. Por muito tempo refleti, meditei sobre os problemas da vida e da morte e com perseverança sondei esses profundos abismos. Dirigi à Eterna Sabedoria um ardente apelo e Ela me respondeu, como sempre responde a todos.

Com o espírito animado do amor ao bem, provas evidentes e fatos da observação direta vieram confirmar as deduções do meu pensamento, oferecer às minhas convicções uma base sólida e inabalável. Após haver duvidado, acreditei, após haver negado, vi. E a paz, a confiança e a força moral desceram em mim. Esses são os bens que, na sinceridade de meu coração desejoso de ser útil aos meus semelhantes, venho oferecer àqueles que sofrem e se desesperam.

Jamais a necessidade de luz fez-se sentir de maneira mais imperiosa. Uma imensa transformação se opera no seio das sociedades. Após haver sido submetido, durante uma longa seqüência de séculos, aos princípios da autoridade, o homem aspira cada vez mais a libertar-se de todo entrave e a dirigir a si próprio. Ao mesmo tempo em que as instituições políticas e sociais se modificam, as crenças religiosas e a fé nos dogmas se tornam enfraquecidas. É ainda uma das conseqüências da liberdade em sua aplicação às coisas do pensamento e da consciência. A liberdade, em todos os domínios, tende a substituir a coação e o autoritarismo e a guiar as nações para horizontes novos. O direito de alguns torna-se o direito de todos; mas, para que esse direito soberano esteja conforme com a justiça e traga seus frutos, é preciso que o conhecimento das leis morais venha regulamentar seu exercício. Para que a liberdade seja fecunda, para que ofereça às ações humanas uma base certa e durável, deve ser complementada pela luz, pela sabedoria e pela verdade. A liberdade, para os homens ignorantes e viciosos, não seria como uma arma possante nas mãos da criança? A arma, nesse caso, freqüentemente se volta contra aquele que a porta e o fere.
 
Léon Denis
O PORQUÊ DA VIDA

domingo, 11 de abril de 2010

BONDADE E RENÚNCIA

EM LEMBRANÇA AOS 110 ANOS DO DESENCARNE DE ADOLFO BEZERRA DE MENEZES CAVALCANTI, OCORRIDA EM 11 DE ABRIL DE 1900, ÀS 11h30min.


A companheira do abnegado médico já havia combinado com o amigo Cordeiro para cobrar aos que pudessem pagar à razão de cinco mil réis por consulente. O dinheiro não passaria pelas mãos de Bezerra e deveria ser encaminhado a D. Cândida. Bezerra sabia disto e concordou desde que recebesse apenas dos que estivessem em condições de pagar...

Certa vez, penetra no seu consultório da Farmácia Cordeiro uma pobre mulher com uma criança ao colo. Sentou-se e apresentou-lhe o filhinho para exame.

O aspecto da pobre mulher como o da criança traduzia miséria e fome.

Bezerra atendeu à criança. Sentiu-lhe o físico em mísero estado. E receitou, aconselhando à mão sofredora:

- Minha filha, dê a seu filho estes remédios de hora em hora. São remédios homeopáticos e, se desejar, pode comprá-los aqui mesmo...

- Comprá-los, doutor, com quê, se não tenho comigo nenhum níquel! Se eu e meu filho estamos até agora em jejum...

O bondoso médico olhou para a mãe sofredora. Seus olhos mansos e verdes, refletindo compaixão, encheram-se de pranto.

Ambos choravam!

O ambiente deveria ser tocante e vestido de luz e amor!

Abraçando-a, disse-lhe Bezerra: Não se apoquente, minha filha, vou ajudá-la. Confiemos no amor da Virgem, que vela por todos nós.

Procurou nos bolsos das calças e do paletó algum dinheiro e nada encontrou.

Pôs-se a pensar, olhando para cima, como se fizesse uma Prece muda e sentida.

De repente, fazendo-a sentar-se, sai e procura seu amigo Cordeiro, também manso e bom.

- Cordeiro, prometi-lhe não mexer no dinheiro das consultas, a fim de que você o encaminhe diretamente à minha esposa. Mas o caso de hoje é doloroso... Já rendeu alguma coisa?

- Nada, porque os doentes, até agora, são pobres e como sua ordem é para receber apenas dos que podem pagar...

- E o resultado de ontem, já o entregou?

- Não, está ainda comigo.

- Dê-me, então, este dinheiro e esperemos na proteção da Virgem, que há de nos mandar algum, mais tarde.

Cordeiro lhe atendeu. Bezerra penetra o consultório.

E, dirigindo-se à infeliz irmã em provas:

- Tome, minha filha, este envelope. Com o dinheiro que está aí, compre remédios, também leite e alimentos para seu filho.

A pobre mãe, de olhos surpresos, lacrimosos, lábios trêmulos, tartamudeia e nada pode dizer para lhe agradecer. Chora...

E Bezerra, abraçando-a:

- Nada de lágrimas, vamos, vá na santa Paz de Deus e que a Virgem a proteja e o seu filhinho. Ele há de ficar bom...

Assim atendida, a sofredora mãe deixa o consultório.

E, quando volta, da porta, para agradecer, ouve apenas a voz mansa e boa de Bezerra:

- Entre aquele que estiver em primeiro lugar.

Lindos Casos de Bezerra de Menezes

sexta-feira, 9 de abril de 2010

FLAGELOS E CALAMIDADES


Ultimamente nossa cidade tem presenciado o efeito da destruição pelas forças da natureza tornando-se mais presente as perguntas:
Por que isso ocorre?
Qual o motivo de tanta destruição e dor?

Há muito tempo este período em que vivemos " início de 3º milênio " vem sendo motivo de vaticínios e previsões catastróficas. Algumas delas tão exageradas que anunciam o apocalipse ou "fim dos tempos".

É claro que não é esse o caso, afinal de contas hoje vemos nosso planeta como uma das "moradas da casa do Pai" como nos ensinou Jesus, e que não é a terra "o mundo" por excelência, mas apenas um dos mundos, dentre os inumeráveis existentes no universo infinito, que se constitui em exílio de expiação e provas, onde tantos espíritos filhos de Deus que por aqui têm de passar algum tempo.

Entretanto, de fato temos presenciado a ocorrência de eventos que afligem muitas cidades, levando o medo e o pavor a tantas pessoas. São de natureza das mais diversas, como terremotos; maremotos; tornados, furacões; tempestades e vendavais de todas as proporções.

Para dimensionar as calamidades dos nossos tempos não podemos deixar de associar aos eventos citados algumas situações que na realidade são delas decorrentes; como as enchentes e a devastação. Situações essas que acabam por deixar sempre muitas pessoas desabrigadas.

O assunto nos chega todos os dias pelas notícias do jornal e da televisão, comovendo-nos a todos. Ultimamente, entretanto, nossa cidade e região têm visto estas situações pela janela de casa, no momento em que ocorrem. E quando saímos em nossa própria rua, temos presenciado o efeito da destruição trazida pelas forças da natureza; tornando-se mais presente as perguntas: Por que isso ocorre? Qual o motivo de tanta destruição e dor? Não é uma injustiça?

Para a apreciação deste tema, necessário se faz recorrermos ao capítulo VI do Livro dos Espíritos, que trata da Lei de Destruição, onde Kardec fez os mesmos questionamentos. Em primeiro lugar devemos lembrar que a "destruição" do ponto de vista físico da Terra constitui-se sempre em "transformação", pois os elementos naturais não se perdem, havendo sempre uma mudança para uma posterior reorganização, tal como ensinava Lavoisier " o pai da química moderna: "na natureza nada se perde ou se cria; tudo se transforma".

Da mesma maneira ensina-nos a questão 728 do L.E. proposta por Kardec: É lei da Natureza a destruição? R: "Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos."

Remete-nos as questões seguintes à observação de que o instinto de preservação nos acompanha sempre para buscarmos preservar a vida e para que não a abandonemos antes do prazo previsto; porém a sabedoria divina conhece sempre quais são as necessidades de cada um e qual é o tempo que cada espírito dispõe.

Especialmente a respeito das catástrofes da natureza, as questões 737 a 741 são esclarecedoras. Em síntese, podemos classificar que os sofrimentos que observamos são de natureza material, pela perda de bens; de natureza moral, pela humilhação e dependência a que se submetem os flagelados; ou de natureza física; pelas dores, ferimentos e até a morte do corpo.

Tudo isso, entretanto, pela análise dos espíritos superiores, são preocupações passageiras e constituem provas normais do espírito encarnado. Pelas mesmas provas passará com confiança e galhardia um espírito resignado e amoroso, enquanto sofrerá e mais e resistirá à mudança um que tenha o coração endurecido e orgulhoso. Assim, pela própria natureza das pessoas as provas aparentemente iguais se tornam diferentes para cada um, assumindo as necessidades próprias para cada caso.

Por isso que uma tragédia que provoque o desencarne de dois seres como os exemplificados, de comportamentos diferentes, não significa a mesma prova para ambos. Provavelmente nem se verão em seguida, pois enquanto um poderá permanecer por algum tempo nas dores que motivaram o desencarne, agarrado aos escombros materiais, outro mais evoluído poderá nem perceber fisicamente o que houve, posto que mais desprendido das coisas materiais.

Demonstram-nos, ainda, que a destruição na realidade só ocorre de nosso ponto de vista mais precário e imediato, uma vez que o objetivo de toda a vida material na terra é a evolução do espírito, este sim, ser eterno e objetivo da criação Divina. Não será, portanto, esta ou aquela prova passageira que possa consistir em obstáculo, ao contrário, aliás, as provas classificadas como catástrofes ocorrem temporariamente de maneira necessária ao re-equilíbrio das forças da natureza necessárias à nossa vida.

Necessário é fazermos uma referência especial aos flagelos que são agravados pela ação humana. Não podemos fugir à responsabilidade pelos desequilíbrios que estão sendo causados pela emissão de poluentes; pela ocupação irresponsável de encostas; pelo acúmulo de lixo nas fontes e reservatórios; pela falta de permeabilidade do solo nas cidades e muitas outras coisas que tem ocasionado enchentes; secas; devastações e outros males à natureza.

O que podemos concluir é que a Natureza Divina ajusta os nossos caminhos às necessidades causadas diariamente pelos desregramentos humanos. Individual ou coletivamente estaremos diante das provas que nos são necessárias ao nosso ajustamento e aprimoramento.

Cumpre-nos trabalhar e confiar, seguindo o conselho de Emmanuel:

"Se crês em Deus, por mais te ameacem os anúncios do pessimismo, com relação a prováveis calamidades futuras, conservarás o coração tranqüilo, na convicção de que a Sabedoria Divina sustenta e sustentará o equilíbrio da vida, acima de toda perturbação".

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O AMOR PATERNAL DE DEUS

"Qual de vós porventura é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Pois se vós outros, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai Celestial dará bens aos que lhos pedirem?"
(Mateus, 7:9-11)

Não se conhece na Terra amor maior que o dos pais pelos filhos.

Sejam eles desobedientes, estróinas ou facínoras, tenham os defeitos que tiverem, nem por isso seus progenitores os renegam ou deixam de estimá-los.

Não raro, esses filhos abandonam o lar, para se entregarem a toda sorte de aventuras, ou então cobrem a família de vergonha com seus desatinos, mas, ainda assim, embora de alma opressa e coração traumatizado pela dor, os pais não cessam de abençoá-los nem se cansam de auxiliá-los, por todos os meios ao seu alcance, esperançosos de que, mais dia ou menos dia, tomem juízo, emendem-se e retornem ao bom caminho.

Malgrado eles próprios estejam longe de serem modelos de virtude e de bondade, conquanto se ressintam também de clamorosas falhas de caráter, isso não basta a que façam todos os sacrifícios imagináveis para o bem daqueles a quem deram o ser, tão grande é a força e tão maravilhosas são as faculdades do amor paternal.

Nenhum homem - dí-lo Jesus - seria capaz de trair a confiança que sua condição de pai inspira ao filho, e, pois, quando este lhe peça um pão ou um peixe com que saciar a fome, de forma alguma irá dar-lhe, em substituição, uma pedra ou uma serpente. Isto seria uma aberração do sentimentos que, por natureza, se encontram até nos reprodutores infra-humanos.

Pois bem: se nós, homens, com todas as nossas imperfeições, sabemos dar boas dádivas aos nossos filhos, se fazemos depender a nossa alegria de suas alegrias, e a nossa felicidade da felicidade deles, que dizer de Deus, nosso Pai Celestial? Quanto maior não será a Sua solicitude, o Seu desvelo, a Sua ternura para conosco?

Não se infira daí, entretanto, que, por muito nos amar, Deus deve satisfazer a todos os nossos caprichos e vontades, como o fazem certos pais insensatos que, a pretexto de não criar complexos em seus filhos, entendem ser de boa praxe deixarem que dêem livre expansão aos seus instintos e más tendências inatas.

Quando seu dever fora precisamente o contrário: dominar esses instintos, sofrear essas más tendências, e, com pulso firme, imprimir-lhes uma nova direção nesta nova oportunidade que a reencarnação lhes propicia.

Absolutamente não! Porque muito nos ama, agindo inteligentemente, como nenhum pai humano saberia fazê-lo, Deus só nos concede aquilo que seja útil ao aprimoramento de nosso espírito, à nossa evolução, recusando-nos tudo quanto possa acarretar sérios danos a nós e a outrem.

Às vezes, para que ganhemos experiência, cede às nossas rogativas e nos enseja a posse de algo para cuja utilização não estamos ainda suficientemente preparados. Os dissabores e decepções que, em tais circunstâncias, viermos a sofrer, ser-nos-ão proveitosos, pois farão que nos tornemos mais ponderados.

Via de regra, porém, o pai Celestial deixa de ouvir as nossas súplicas quando aquilo que pedimos, ao invés de ser um benefício, venha a constituir-se uma pedra de tropeço em nosso destino, para dar-nos coisas mui diversas, geralmente recebidas a contragosto, quais sejam: doenças, pobreza, dificuldades, etc...

Por ser isso, exatamente, o que mais convém aos nossos espíritos insipientes, para que progridam e se ponham em condições de, no futuro, conhecer outros gozos mais puros e mais duradouros que não os grosseiros e efêmeros prazeres da matéria.

Rodolfo Calligaris

terça-feira, 6 de abril de 2010

O "CISCO" E A "TRAVE"


"Por que vedes uma argueiro no olho do vosso irmão, vós que não vedes uma trave na vosso olho? Ou como dizeis ao vosso irmão: Deixai -tirar um argueiro do vosso olho, vós que tendes uma trave no vosso? Hipócritas, tirai primeiramente a trave do vosso olho, e então vereis como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão? (Cap. X, item 9)

Os indivíduos em plenitude não negam suas emoções; permitem que elas venham à tona, e, como elas estão sob seu controle, reconhecem o que estão lhes mostrando sobre seus sentimentos, suas inclinações e suas relações com as pessoas. As emoções devem ser "integradas", ou seja, primeiramente, devemos nos permitir "sentí-las"; logo após, devemos julgá-las e "pensar" sobre nossas necessidades ou desejos; e, a partir disso, "agir" com nosso livre-arbítrio, executando ou não, conforme nossa vontade achar conveniente.

O mecanismo de nos "consentir", de "raciocinar" e de "integrar" emoções determinará nossos êxitos ou nossas derrotas nas estradas de nossa existência.

Emoções são muito importantes. Através delas é que nos individualizamos e nos diferenciamos uns dos outros. Ninguém sente, pois, exatamente igual, isto é, com a mesma potência e intensidade, seja no entusiasmo em uma situação prazerosa, seja na frustração ao observar uma meta perdida. Podemos pensar igual aos outros, mas para um mesmo pensamento criaturas diversas têm múltiplas reações emocionais.

Assim considerando, emoções não são certas ou erradas, boas ou impróprias, mas apenas energias que dependem do direcionamento que dermos a elas. Reconhecê-las ou admiti-las não significa, de modo algum, que vamos sempre agir de acordo com elas.

Quando negadas ou reprimidas, não desaparecem como por encanto; ao contrário, sendo energias, elas se alojarão em determinados órgãos e congestionarão as entranhas mais íntimas da estrutura psicossomática dos indivíduos.

Ao abafarmos as emoções, podemos gerar uma grande variedade de doenças autodestrutivas. Abafá-las pode também nos levar a reações muito exacerbadas ou à completa ausência de reações, a apatia.

Portanto, quando tomamos amplo contato com nosso lado emocional, começamos a reconhecer vestígios a respeito de nós mesmos, que nos proporcionarão autodescoberta, auto-preservação, segurança íntima e crescimento pessoal.

Ora, se o Poder Divino, através de sua criação, pelo próprio mecanismo da Natureza, delegou as emoções a todos os seres vivos, conforme seu grau de evolução, não poderemos simplesmente negá-las, como se não servissem para nada. Tristeza, alegria, raiva ou medo são emoções básicas e deveremos usá-las como bússolas que nos nortearão os caminhos da vida.

Elas estão conectadas a nosso sistema de pensamento "cognitivo" — atividades psicológicas superiores, tais como: a percepção, a intuição, a memória, a linguagem, a atenção e os demais processos intelectuais e espirituais.

Ao ignorarmos nossas reaçoes emocionais, não investigando sua origem em nós mesmos, teremos sempre a tendência de projetá-las nos outros. Além do que, seremos seres psicologicamente claudicantes, por não integrarmos nossas emoções aos nossos cinco sentidos, que nos facilitam a análise das pessoas e de nós mesmos.

A tendência que certos indivíduos têm de atribuir falhas e erros a outras pessoas ou coisas, não enxergando e não admitindo como sendo suas, denomina-se "projeção". Às vezes, tentamos fazer nossas emoções desaparecer, porque as tememos. Reconhecer o que realmente sentimos exigiria ação, mudança e decisão de nossa parte, e muitas vezes seríamos colocados face a face com verdades inadmissíveis e inconcebíveis por nós mesmos; e assim, tentamos projetá-las como sendo emoções não nossas, mas dos outros.

"Não sinta isso, é feio" - essa é uma das muitas velhas mensagens que ecoam em nossa mente desde a mais tenra infância; com o passar do tempo, julgamos não mais senti-las, porque as escondemos da recriminação dos adultos.

Em razão disso, certos indivíduos condenam com veemência os "ciscos" nos outros, pois vêem em tudo luxúria e perversão, desonestidade ou ambição. É possível que esses mesmos indivíduos estejam reprimindo o reconhecimento de que eles próprios trazem consigo emoções sexuais e perversidades mal resolvidas, ou, em outros casos, emoções desmedidas de fama e de dinheiro projetadas sobre todos os que são por eles denominados ambiciosos e desonestos.

Na indagação "ou como dizeis ao vosso irmão: deixai-me tirar um argueiro do vosso olho, vós que tendes uma trave no vosso?", Jesus reconhecia a universalidade desse processo psicológico, "a projeção", e, como sempre, asseverava a necessidade da busca de si mesmo, para não transferirmos nossos traços de personalidade desconhecidos às coisas, às situações e aos outros.

O Mestre nos inspirava ao mergulho em nossa própria intimidade, a fim de que pudéssemos enxergar o "lado obscuro" de nossa personalidade.

Ao tomarmos esse contato imprescindível com nossas "sombras", a consciência se torna mais lúcida, crítica e responsável, descortinando amplos e novos horizontes para o seu desenvolvimento e plenitude espiritual.

Finalizando, atentemos para a análise: " as condutas alheias que mais nos irritam são aquelas que não admitimos estar nós mesmos"; os outros nos servem de espelho, para que realmente possamos nos reconhecer".

Hammed

domingo, 4 de abril de 2010

A SAÚDE HUMANA

Justifica-se o esforço dos experimentadores da medicina tentando descobrir um caminho novo para atenuar a miséria humana; todavia, sem abstrairmos das diretrizes espirituais, que orientam os fenômenos patogênicos nas questões das provas individuais, temos necessidade de reconhecer a imprescindibilidade da saúde moral, antes de atacarmos o enigma doloroso e transcendente das enfermidades físicas do homem.

A RENOVAQÃO DOS MÉTODOS DE CURA
Em todos os séculos tem-se estudado o problema da saúde humana.
Até à metade do século XVlll, admitia-se plena-mente a medicina da Idade Média que, por sua vez, representava quase integralmente o mesmo processo de cura dos egípcios, na antiguidade. Todas as moléstias eram atribuídas à vacilação dos humores, baseando-se a maior parte dos métodos terapêuticos na sangria e nas substâncias purgativas. No século XIX, as grandes descobertas científicas eliminaram esses antigos conhecimentos. Os aparelhos de laboratório perquirindo o mundo obscuro e vastíssimo da microbiologia, as novas teses anatomopatológicas, apresentadas pelos estudiosos do assunto, estabelecem, com a severidade das análises, que as moléstias residem na modificação das partes sólidas do organismo, abandonando-se a teoria da alteração dos humores. Os médicos esqueceram, então, o estudo dos líquidos viciados do corpo, concentrando atenções e pesquisas na lesão orgânica, criando novos métodos de cura.

OS PROBLEMAS CLÍNICOS INQUIETANTES
Não obstante a nobreza e a sublimidade da missão de quantos se entregam ao sagrado labor de aliviar as amarguras alheias ai no mundo, reconhecemos que muitos estudiosos perdem um tempo precioso, mergulhados na discussão de mesquinhas rivalidades profissionais, quando não se acham atolados no pântano dos interesses exclusivistas e particulares, desconhecendo a grandiosidade espiritual do seu sacerdócio.
O que se torna altamente necessário nos tempos modernos é reconhecer-se, acima de todos os processos artificiais de cura da atualidade, o método indispensável da medicina natural, com suas potencialidades infinitas.
Analisando-se todos os descobrimentos notáveis dos sistemas terapêuticos dos vossos dias, orientados pelas doutrinas mais avançadas, em virtude dos novos conhecimentos humanos com respeito à bacteriologia, à biologia, à química, etc., reconhecemos que, com exceção da cirurgia, que teve com Ambroise Paré, e outros inteligentes cirurgiões de guerra, o mais amplo dos desenvolvimentos, pouco têm adiantado os homens na solução dos problemas da cura, dentro dos dispositivos da medicina artificial por eles inventada. Apesar do concurso precioso do microscópio, existem hoje questões clínicas tão inquietantes, como há duzentos anos. Os progressos regulares que se verificam na questão angustiosissima do câncer e da lepra, da tuberculose e de outras enfermidades contagiosas, não foram além das medidas preconizadas pela medicina natural, baseadas na profilaxia e na higiene. Os investigadores puderam vislumbrar o mundo microbiano sem saber eliminá-la. Se foi possível devassar o mistério da Natureza, a mentalidade humana ainda não conseguiu apreender o mecanismo das suas leis. O que os estudiosos, com poucas exceções, se satisfazem com o mundo aparente das formas, demorando-se nas expressões exteriores, incapazes de uma excursão espiritual no domínio das origens profundas. Sondam os fenômenos sem lhes auscultarem as causas divinas.

MEDICINA ESPIRITUAL
A saúde humana nunca será o produto de comprimidos, de anestésicos, de soros, de alimentação artificialíssima. O homem terá de voltar os olhos para a terapêutica natural, que reside em si mesmo, na sua personalidade e no seu meio ambiente. Há necessidade, nos tempos atuais, de se extinguirem os absurdos da “fisiologia dirigida”. A medicina precisa criar os processos naturais de equilíbrio psíquico, em cujo organismo, se bem que remoto para as suas atividades anatômicas, se localizam todas as causas dos fenômenos orgânicos tangíveis. A medicina do futuro terá de ser eminentemente espiritual, posição difícil de ser atualmente alcançada, em razão da febre maldita do ouro; mas os apóstolos dessas realidades grandiosas não tardarão a surgir nos horizontes acadêmicos do mundo, testemunhando o novo ciclo evolutivo da Humanidade. O estado precário da saúde dos homens, nos dias que passam, tem o seu ascendente na longa série de abusos individuais e coletivos das criaturas, desviadas da lei sábia e justa da Natureza. A Civilização, na sua sede de bem-estar, parece haver homologado todos os vícios da alimentação, dos costumes, do sexo e do trabalho. Todavia, os homens caminham para as mais profundas sínteses espirituais. A máquina, que estabeleceu tanta miséria no mundo, suprimindo o operário e intensificando a facilidade da produção, há de trazer, igualmente, uma nova concepção da civilização que multiplicou os requintes do gosto humano, complicando os problemas de saúde; há de ensinar às criaturas a maneira de viverem em harmonia com a Natureza.

O MUNDO MARCHA PARA A SÍNTESE
Marcha-se para a síntese e não deve causar surpresa a ninguém a minha assertiva de que não vos achais na época em que a ciência prática da vida vos ensinará o método do equilíbrio perfeito, em matéria de saúde. Os corpos humanos serão alimentados, segundo as suas necessidades especiais, sem dispêndio excessivo de energias orgânicas. As proteínas, os hidratos de carbono e as gorduras, que constituem as matérias-primas para a produção de calorias necessárias à conservação do vosso corpo e que representam o celeiro das economias físicas do vosso organismo, não serão tomados de maneira a prejudicar-se o metabolismo, estabelecendo-se, dessa forma, uma harmonia perfeita no complexo celular da vossa personalidade tangível, harmonia essa que perdurará até o fenômeno da desencarnação.
Mas, todas essas exposições objetivam a necessidade de aplicarmos largamente as nossas possibilidades na solução dos problemas humanos para a melhoria do futuro.
É verdade que, por muito tempo ainda, teremos, em oposição ao nosso idealismo, a questão do interesse e do dinheiro, porém, trabalhemos confiantes na misericórdia divina.
Emprestemos o nosso concurso a todas as iniciativas que nobilitem o penoso esforço das coletividades humanas, e não olvidemos que todo bem praticado reverterá em benefício da nossa própria individualidade.
Trabalhemos sempre com o pensamento voltado para Jesus, reconhecendo que a preguiça, a suscetibilidade e a impaciência nunca foram atributos das almas desassombradas e valorosas.

Retirado do livro "Emmanuel - Dissertações Mediúnicas Sobre Importantes Questões Que Preocupam a Humanidade", " - Chico Xavier/Emmanuel..

sábado, 3 de abril de 2010

PRÁTICAS DISTANTES



Agora passou! Mas todo ano, a cena se repete. Chega a época dos feriados católicos da chamada "Semana Santa" e surgem as questões:

1. Como o Espiritismo encara a Páscoa;Sexta-feira Santa"?;

2. Qual o procedimento do espírita no chamado "Sábado de aleluia" e "Domingo de Páscoa"?;

3. Como fica a questão do "Senhor Morto"?

Sabe que chego a surpreender-me com as perguntas. Não quando surgem de novatos na Doutrina, mas quando surgem de velhos espíritas, condicionados ao hábito católico, que aliás, respeitamos muito. É importante destacar isso: o respeito que devemos às práticas católicas nesta época, desde à chamada época, por nossos irmãos denominada de quaresma, até às lembranças históricas, na maioria das cidades revividas, do sacrifício e ressurgimento de Jesus. Só que embora o respeito devido, nada temos com isso no sentido das práticas relacionadas com a data.

São práticas religiosas merecedoras de apreço e respeito, mas distantes da prática espírita. É claro que há todo o contexto histórico da questão, os hábitos milenares enraizados na mente popular, o condicionamento com datas e lembranças e a obrigação católica de adesão a tais práticas.

Para a Doutrina Espírita, não há a chamada "Semana Santa", nem tão pouco o "Sábado de aleluia" ou o "Domingo de Páscoa" (embora nossas crianças não consigam ficar sem o chocolate, pela forte influência da mídia no consumismo aproveitador da data) ou o "Senhor Morto". Trata-se de feriado e prática católica e portanto, não existem razões para adesão de qualquer tipo ou argumento a tais práticas. É absolutamente incoerente com a prática espírita o desejar de "Feliz Páscoa!", a comemoração de Páscoa em Centros Espíritas ou mesmo alteração da programação espírita nos Centros, em virtude de tais feriados católicos. E vejo a preocupação de expositores ou articulistas em abordar a questão, por força da data... Não há porque fazer-se programas de rádio específicos sobre o assunto, palestras sobre o tema ou publicar artigos em jornais só porque estamos na referida data. É óbvio que ao longo do ano, vez por outra, abordaremos a questão para esclarecimento ou estudo, mas sem prender-se à pressão e força da data.

Há uma influência católica muito intensa sobre a mente popular, com hábitos enraizados, a ponto de termos somente feriados católicos no Brasil, advindos de uma época de dominação católica sobre o país, realidade bem diferente da que se vive hoje. E os espíritas, afinados com outra proposta, a do Cristo Vivo, não têm porque apegar-se ou preocupar-se com tais questões.

Respeitemos nossos irmãos católicos, mas deixemo-los agir como queiram, sem o stress de esgotar explicações. Nossa Doutrina é livre e deve ser praticada livremente, sem qualquer tipo de vinculação com outras práticas. Com isso, ninguém está a desrespeitar o sacrifício do Mestre em prol da Humanidade. Preferimos sim ficar com seus exemplos, inclusive o da imortalidade, do que ficar a reviver a tragédia a que foi levado pela precipitação humana.

Inclusive temos o dever de transmitir às novas gerações a violência da malhação do Judas, prática destoante do perdão recomendado pelo Mestre, verdadeiro absurdo mantido por mera tradição, também incoerente com a prática espírita.

A mesma situação ocorre quando na chamada quaresma de nossos irmãos católicos, espíritas ficam preocupados em comer ou não comer carne, ou preocupados se isto pode ou não. Ora, ou somos espíritas ou não somos! Compara-se isso a indagar se no Carnaval os Centros devem ou não abrir as portas, em virtude do pesado clima que se forma???!!!... A Doutrina Espírita nada tem a ver com isso. São práticas de outras religiões, que repetimos respeitamos muito, mas não adotamos, sendo absolutamente incoerente com o espírita e prática dos Centros Espíritas, qualquer influência que modifique sua programação ou proposta de vida.

Esta abordagem está direcionada aos espíritas. Se algum irmão católico nos ler, esperamos nos compreenda o objetivo de argumentação da questão, internamente, para os próprios espíritas. Nada a opor ou qualquer atitude de crítica a práticas que julgamos extremamente importantes no entendimento católico e para as quais direcionamos nosso maior respeito e apreço.

Vemos com ternura a dedicação e a profunda fé católica que se mostram com toda sua força durante os feriados da chamada Semana Santa e é claro, nas demais atividades brasileiras que o Catolicismo desenvolve.

O objetivo da abordagem é direcionado aos espíritas que ainda guardam dúvidas sobre as três questões apresentadas no início do artigo. O Espiritismo encara a chamada Sexta-feira Santa como uma Sexta-feira normal, como todas as outras, embora reconhecendo a importância dela para os católicos. Também indica que não há procedimento algum para os dias desses feriados. E não há porque preocupar-se com o Senhor Morto, pois que Jesus vive e trabalha em prol da Humanidade.

E aqui, transcrevemos trecho do capítulo VIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, no subtítulo VERDADEIRA PUREZA, MÃOS NÃO LAVADAS (página 117 - 107ª edição IDE): "O objetivo da religião é conduzir o homem a Deus; ora, o homem não chega a Deus senão quando está perfeito; portanto, toda religião que não torna o homem melhor, não atinge seu objetivo; (...) A crença na eficácia dos sinais exteriores é nula se não impede que se cometam homicídios, adultérios, espoliações, calúnias e de fazer mal ao próximo em que quer que seja. Ela faz supersticiosos, hipócritas e fanáticos, mas não faz homens de bem. Não basta, pois, ter as aparências da pureza, é preciso antes de tudo ter a pureza de coração".

Não pensem os leitores que extraímos o trecho pensando nas práticas católicas em questão. Não! Pensamos em nós mesmos, os espíritas, que tantas vezes nos perdemos em ilusões, acreditando cegamente na assistência dos espíritos benfeitores, mas agindo com hipocrisia, fanatismo e pasmem, superstição .... quando não conhecemos devidamente os objetivos da Doutrina Espírita, que são, em última análise, a melhora moral do homem.

(Retirado do Boletim GEAE Número 390 de 02 de maio de 2000)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

CHICO XAVIER - 100 ANOS



Artigo comemorativo dos 40 anos da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, transcrito de REFORMADOR de julho de 1967, p. 145-147.

No segundo semestre de 1927 desabrochou a extraordinária mediunidade psicográfica de Francisco Cândido Xavier, como está honestamente escrito por ele mesmo no prefácio de Parnaso de Além-Túmulo. Entre seus mais íntimos companheiros estavam seu irmão José Cândido Xavier e alguns amigos, todos eles espíritas iniciantes, que se entusiasmaram com a produtividade do rapaz e trataram de dar-lhe divulgação pela imprensa periódica, quer sem nenhuma “correção”, quer fazendo pequenas modificações num ou noutro verso que lhes parecia obscuro ou errado. Tomando, porém, a produção como sendo do jovem Chico, embora este afirmasse a impossibilidade de ser ele o autor, não vacilaram em pôr embaixo das composições o nome F. Xavier, como lhes parecia certo e honesto, já que a elas nenhuma assinatura havia sido aposta.
Os companheiros que procediam dessa forma, à revelia do “poeta”, então inexperiente rapazote com menos de vinte anos, notando que os versos eram de gosto dos espiritistas, enviavam-nos à imprensa espírita, que os publicava na melhor boa-fé. Por que não? Era um novo poeta espírita que aparecia. Afora isso, e em razão da beleza e perfeição das páginas literárias do jovem mineiro, resolveram distribuí-las também à imprensa leiga, e assim é, por exemplo, que no Jornal das Moças, de 1931, encontram-se publicadas algumas delas, todas assinadas simplesmente – F. Xavier.
Quando começou a ver jornais e revistas com “seus” versos, Francisco Cândido Xavier pediu insistentemente aos amigos que não tomassem tal atitude, porque o assunto era muito sério e merecia acurado estudo e todo o respeito. Os poemas realmente não eram seus, pois não despendia nenhum esforço intelectual ao grafá-los no papel, conforme reiterou, mais tarde, em Parnaso de Além-Túmulo.
Os adversários do Espiritismo até hoje se servem dessas publicações para moverem torpe campanha contra o médium: dizem que ele é um poeta genial e, por isso, capaz de imitar todos os estilos. E nós acrescentamos: até o estilo e a letra de pessoas incultas que nada deixaram publicado, como se observa nas mensagens íntimas de parentes e amigos de visitantes, e o estilo e o talento de grandes autores totalmente desconhecidos, como no caso das imponentes obras de Emmanuel e André Luiz.
Foi em fins de 1931 que o médium resolveu enviar ao então Vice--Presidente da FEB, Manuel Quintão, um punhado de poesias, recebidas a partir de agosto do mesmo ano, mas, agora, assinadas por nomes respeitáveis da literatura luso-brasileira*.
Acompanhava os originais uma carta simples e humilde, na qual o signatário pedia examinassem a produção e dissessem de sua possível identificação autoral.
Afrontando a dúvida e a contradita de companheiros, Manuel Quintão, escritor e poeta, não hesitou em aceitar a origem mediúnica das poesias e a probidade moral daquele que as veiculava. Sem conhecer pessoalmente o médium, o que sucederia tão-só em março de 1936, o Vice-Presidente da FEB fez lançar em junho** de 1932 o Parnaso de Além-Túmulo.
Vamos reproduzir aqui quatro sonetos que foram publicados com o nome de F.Xavier, mas repondo agora os nomes dos verdadeiros poetas que os escreveram. O nosso querido amigo nunca foi poeta nem escritor, nem pretendeu sê-lo; é, isto sim, um grande médium psicógrafo, um missionário do Alto, que merece toda a nossa admiração pela obra que vem realizando, de restauração do Cristianismo primitivo. Os versos mesmos identificam seus autores, como notará o leitor:

Os Felizes

No triste horror,
Destes caminhos
Cheios de espinhos,
E de amargor,

Os pobrezinhos,
Filhos da Dor,
Têm mais carinhos
Do Criador!

Pois sabem ver,
Em seu sofrer
Pela existência,

A caridade,
Suma bondade
Da Providência!

João de Deus
(Do Reformador de 16-2-1930.)

O Cristo de Deus

Lendo M. Quintão

Cristo de Deus, que eras a pureza
Eterna, absoluta, invariável,
Antes que fosse a humana natureza,
Este Cosmos – matéria transformável;

Que já eras a fúlgida realeza,
Dessa luz soberana, imponderável,
O expoente maior dessa grandeza,
Da grandeza sublime do Imutável!

Ainda antes da humana inteligência,
Eras já todo o Amor, toda a Ciência,
Perfeição do perfeito inconcebível;

Foste, és e serás eternamente,
O Enviado do Pai onipotente,
Cristo-Luz da verdade inconfundível!

Anthero de Quental
(Do Reformador de 16-5-1930.)

Crê!

Há na crença uma luz radiosa e pura,
Que transfigura os prantos em prazeres,
Que transforma os amargos padeceres,
Em momentos de mística ventura.

Confia, espera e crê. Quando sofreres,
Sob os guantes da ríspida amargura,
Nas tormentas acerbas dos deveres
Esquecerás a dor e a desventura.

É que, em meio das mágoas mais atrozes,
Sentirás dentro em ti estranhas vozes
Repletas de doçura indefinida:

São os seres ditosos, superiores,
Que nos impelem a nós, os sofredores,
Aos luminosos planos da outra vida.

Anthero de Quental
(Do Reformador de 16-7-1931.)

Sobre a Dor

Suporta calmo a dor que padeceres,
Convicto de que até dos sofrimentos,
No desempenho austero dos deveres,
Mana o sol que clareia os sentimentos.

Tolera sempre as mágoas que sofreres,
Em teus dias tristonhos e nevoentos;
Há reais e legítimos prazeres
Por trás dos prantos e padecimentos.

A dor, constantemente, em toda a parte,
Inspira as epopéias fulgurantes,
Nas lutas do viver, no amor, na arte;

Nela existe uma célica harmonia,
Que nos desvenda, em rápidos instantes,
Mananciais de lúcida poesia.

Cruz e Souza
(Do Jornal das Moças, ano 1931.)

Parece-nos que esses quatro sonetos de grandes Espíritos, os quais foram publicados como de autoria de F. Xavier, bastam para demonstrar a verdade acima afirmada: de que o nosso amado irmão não foi, não é, nem pretendeu ser poeta, e só por excessivo entusiasmo de seus íntimos apareceu na imprensa como autor de versos.
Sua missão é muito maior que a de um grande poeta, e, depois de decorridos quarenta anos, qualquer dúvida que ainda subsista entre os nossos adversários ocorre, unicamente, pelo espírito de má-fé. Para esses céticos, tudo é fraude, desonestidade, mistificação, percepção extra-senso-rial, etc., etc., embora os fatos contrariem berrantemente todas essas insinuações da intolerância e do falso saber. Como há mais de cem anos caluniam as meninas Fox, sem o menor escrúpulo, compreende--se que esta é a via-crucis natural e normal dos grandes médiuns.
Foi em 16 de fevereiro de 1930 que pela primeira vez a FEB deu a público, no seu órgão Reformador, versos recebidos por Francisco Candido Xavier, assinados F. Xavier, muito embora o desenvolvimento da mediunidade psicográfica deste se processara desde a segunda metade do ano de 1927, quando passou a fazer parte de pequeno núcleo de adeptos da Doutrina, na cidade mineira de Pedro Leopoldo.
Portanto, há quarenta anos [em 1967] foi iniciado o exercício mediúnico do nosso amigo, mas a data que devemos registrar, como marco de sua grande e abençoada missão pública, é junho de 1932 [ver nota na p. 12], quando foi posta à venda, na Livraria da Federação Espírita Brasileira, a edição príncipe do Parnaso de Além-Túmulo.
Foi o primeiro de uma série, ainda não interrompida, de quase cem livros [hoje 412], cujos direitos autorais, de todos eles, foram graciosamente cedidos a sociedades espíritas. Esses celeiros de luz vão transformando a mentalidade de um povo e terão de influenciar toda a Humanidade do porvir!

ISMAEL GOMES BRAGA


* Cf. Parnaso de Além-Túmulo, 8a edição, pág. 24, terceiro parágrafo.
** O livro foi editado em 06 de julho de 1932. (N. da R.)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

AUTO-AFIRMAÇÃO



As raízes da auto-afirmação do indivíduo encontram-se na sua infância, quando os movimentos automáticos do corpo são substituídos pelas palavras, particularmente quando é usada a negativa. Ao recusar qualquer coisa, mediante gestos, a criança demonstra que ainda não se instalaram os pródromos da sua identidade. No entanto, a recusa verbal, peremptória, a qualquer coisa, mesmo àquelas que são agradáveis, denotam que está sendo elaborada a auto-afirmação, que decorre da capacidade de escolha daquilo que interessa, ou simplesmente se trata de uma forma utilizada para chamar a atenção para a sua existência, para a sua realidade.

Trata-se de um senso de identificação infantil, sem dúvida, no qual a criança, ainda incapaz de discernir e entender, procura conseguir o espaço que lhe pertence, dessa maneira informando que já existe, que solicita e merece reconhecimento por parte das demais pessoas que a cercam.

Quando a criança concorda, afirmando a aceitação de algo, age apenas mecanicamente e por instinto, enquanto que se utilizando da negativa, também denominada conceito do não, dá início à descoberta do senso de si mesma, do seu Self, passando, a partir desse momento, a exteriorizá-lo, afirmando o NÃO, mesmo quando sem necessidade de fazê-lo. E a sua maneira de auto-identificação que, não raro, parece estranho aos adultos menos conhecedores dos mecanismos da mente infantil.

Quando ocorre a inibição da negativa — o que émuito comum — esse fenômeno dará surgimento a alguém que, no futuro, não saberá exatamente o que deseja da vida, experimentando uma existência sem objetivo, que o leva a ser indiferente a quaisquer resultados, e, por cuja razão, evita expressar-se negativamente, deixando-se arrastar indiferente aos acontecimentos, assim desvelando o estado íntimo de inibição, de timidez e de recusa de si mesmo. Com o tempo essa situação se agrava, levando-o a um estado de amorfia psicológica.

O Self, por sua vez, se estrutura e se fixa através do sentimento, e quando este se encontra confuso, sem delineamento, a auto-afirmação se enfraquece e a capacidade de dizer NÃO perde a sua força, o seu sentido.

A auto-afirmação se expressa especialmente no desejo de algo, mediante duas atitudes que, paradoxalmente se opõem: o que se deseja e o que se rejeita.

Em um desenvolvimento saudável da personalidade, sabe-se o que se quer e como consegui-lo, o que se torna decorrência inevitável da capacidade de escolha. Quando tal não ocorre, há surgimento de uma expressão esquizóide, na qual o paciente foge para atitudes de submissão receosa e de revolta interior. Silencia e afasta-se do grupo social que passa a ser visto com hostilidade, por haver-se negado a penetrá-lo, alegando, no entanto, que foi barrado... A sua óptica distorcida da realidade, trabalha em favor de mecanismos de transferência de culpa e de responsabilidade.

Mediante essa conduta, o enfermo se nega a liberação dos conflitos, mantendo-se em atitude cerrada, por falta do senso de auto-afirmação. O seu é o conceito falso de que não é bem-vindo ao grupo que ele acredita não o aceitar, quando, em verdade, é ele quem o evita e se afasta do mesmo.

À medida que vão sendo liberados os sentimentos perturbadores e negativos que se encontram em repressão, os desejos de afetividade, de expressão, de harmonia, manifestam-se, direcionando-o para valiosas conquistas.

Com o desenvolvimento da capacidade de julgar valores, surgem as oportunidades de auto-afirmação, face à necessidade de escolhas acertadas, a fim de atender aos desejos de progresso, de crescimento ético-moral e de realização interior.

Por meio de exercícios mentais, nos quais se encontrem presentes as aspirações elevadas e de enobrecimento, bem como através de movimentos respiratórios e físicos outros, para liberar o corpo da couraça dos conflitos que o tornam rígido, a auto-afirmação se fixa, propiciando um bom relaxamento, que se faz compatível com o bem-estar que se deseja.

Com o desenvolvimento intelecto-moral da criança, passando pela adolescência e firmando os propósitos de autoconquista, mais bem delineadas surgem as linhas de segurança da personalidade que enfrenta os desafios com tranqüilidade e esperanças renovadas.

Nesse particular, a vontade desempenha importante papel, trabalhando em favor de conquistas incessantes, que contribuem para o amadurecimento psicológico, característica vigorosa da saúde mental e moral.

Em cada vitória alcançada através da vontade que se faz firme cada vez mais, o ser encontra estímulos para novos combates, ascendendo interiormente e afirmando-se como conquistador que se não contenta em estacionar nos primeiros patamares defrontados durante a escalada de ascensão. Desejando as alturas, não interrompe a marcha, prosseguindo impertérrito no rumo das cumeadas.

Esta é a finalidade precípua do desenvolvimento emocional, estabelecendo diretrizes que definam a realidade do ser, que se afirma mediante esforço próprio. Em tal cometimento, não podem ficar esquecidos o contributo dos pais, da família, da sociedade, e as possibilidades inatas, que remanescem do seu passado espiritual.

Estando, na Terra, o Espírito, para aprender, reparar e evoluir, nele permanecem as matrizes da conduta anterior, facultando-lhe possibilidades de triunfo ou impondo-lhe naturais empecilhos que lhe cumpre superar.

Quando a auto-afirmação não se estabelece, apresentando indivíduos psicologicamente dissociados da própria realidade, tem-se a medida dos seus compromissos anteriores fracassados e da concessão que a Vida lhe propicia por segunda vez para regularizá-los.

Cumpre, portanto, ao psicoterapeuta, o desenvolvimento de uma visão profunda do Self, de forma especial, em relação ao ser eterno que transita no corpo em marcha evolutiva.

Somente assim, se poderá entender racionalmente o porquê de determinados indivíduos iniciarem a auto-afirmação nos primeiros meses da infância, enquanto outros já se apresentam fanados, incapazes de lutar em favor da sua realidade, no meio onde passará a experienciar a vida.

A sociedade marcha inexoravelmente para a compreensão do Espírito eterno que o homem é, do seu processo paulatino de evolução através dos renascimentos, herdeiro de si mesmo, que transfere de uma para outra etapa as realizações efetuadas, felizes ou equivocadas, qual aluno que soma experiências educacionais, promovendo-se ou retendo-se na repetição das lições não gravadas, com vistas à conclusão do curso.

A Terra assume sua condição de escola que é, trabalhando os educandos que nela se encontram e propiciando-lhes iguais oportunidades de evolução e de paz.


Autor: Joanna de Ângelis (espírito)
Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Amor, Imbatível Amor.