terça-feira, 30 de março de 2010

SUPLÍCIOS DO ORGULHO



Para o orgulhoso relegado às classes inferiores, é suplício ver acima dele colocados, cheios de glória e bem-estar, os que na Terra desprezara.
Para a Doutrina Espírita existe uma escala baseada no grau de adiantamento do Espírito, de tal sorte que cada criatura, desde o início de sua criação, simples e sem conhecimento, vai galgando por seus méritos patamares mais elevados até atingir a soma de perfeições de que é suscetível. Assim é que os Espíritos Superiores admitem três grandes ordens: Imperfeitos, Bons e Puros. O orgulho é uma das características ainda da predominância da inferioridade, própria daqueles Espíritos matriculados na primeira ordem da escala evolutiva. É a manifestação do ego, acima de todas as coisas. Daí dizermos, que o egoísta pensa sempre, primeiro em si mesmo, antes do que nos outros. É a ausência da humildade. Parece-nos, todavia, que o egoísmo seja algo natural, inerente a toda pessoa humana, nas fases iniciais do entendimento, e que vai perdendo força, gradativamente, à medida que cresce em valores espirituais e morais.

Diante desse pressuposto doutrinário da progressividade do Espírito, a tendência natural é passar, do egoísmo à fraternidade. Tal mudança, no entanto, só ocorrerá proporcionalmente à maturidade do seu estágio de entendimento, adquirido nas muitas experiências pelos caminhos dos vários nascimentos físicos. Assim, se você, ao ver a felicidade dos bons, sofre de um incessante tormento, experimentando todas as angústias que a inveja e o ciúme podem causar, fatalmente, o egoísmo está ainda aceso. Não fique preocupado ! Todo ser percorre essa escala do progresso, mas um dia, todos conseguirão se modificar, cada qual, em seu ritmo próprio, pois a Perfeição relativa é meta obrigatória nas Leis Divinas.

Uma questão importante, com relação à mudança da vida terrena para a espiritual, é quanto aos nossos pensamentos. Ninguém na vida material pode desvendar-nos os pensamentos, a não ser que venhamos a expressá-los, pois eles são secretos. Assim, podemos guardar inúmeros segredos enquanto encarnados. Muita gente diz: "Vou levar para o túmulo tal fato" ... Quantas coisas que guardamos em segredo, que nem as pessoas mais íntimas ficam sabendo! Bem, isto apenas do ponto de vista material, porque, para os Espíritos, somos um livro aberto. Tudo que pensamos, projetamos em nossa psicosfera mental e aí, então, estamos descobertos. "Os Espíritos podem conhecer os nossos mais secretos pensamentos. Muitas vezes, eles sabem o que gostaríamos de esconder de nós mesmos. Nem atos, nem pensamentos lhes podem ser dissimulados." (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, q. 457). Por isso, que para a Justiça Cósmica, o infrator não precisa de defensor, como ocorre nas leis humanas, pois, não há como mascarar os pensamentos.

Destaque-se ainda que algumas decepções sofrem os Espíritos, imantados à vida material, ao se defrontarem com a realidade espiritual. Assim é que: aquele que na vida terrena agiu em plena devassidão dos costumes, despreocupado com os valores espirituais, não conseguindo continuar, nas mesmas condições das luxúrias desenfreadas, se vê exaltado nos seus desejos bestiais, sofrendo, com isso, os maiores tormentos; o avarento, obcecado na aquisição e no acúmulo de riquezas, sem entender, que na Terra, somos apenas mordomos, que um dia teremos que prestar contas da administração, ao desencarnar vê o inevitável esbanjamento de seus bens pelos herdeiros; enquanto que o egoísta, desamparado de todos, sofre as conseqüências da sua atitude terrena.

O Evangelho de Lucas retrata bem esta situação na Parábola do Rico e Lázaro. Um vivera dissolutamente, vestindo-se de púrpura e comendo regaladamente, enquanto o outro se servia da migalha de que lhe sobrara da mesa. Desencarnam. Um passa a viver o suplício consciencial, pois fizera como alvo da vida, apenas as conquistas de seus desejos materiais, esquecendo-se da vida da alma; o outro representa os que sofrem as agruras de débitos contraídos nas existências anteriores, mas que saldara suas contas para com a Lei. O rico contraiu dívida, e Lázaro pagara até o último ceitil. Assim, reequilibrara-se com as Leis Divinas.

O texto nos fala que o rico, em tormento, sentia sede, que, na realidade, era remorso pela vida dissoluta que levara. Estava no lnferno de sua consciência, e por isto, sofria muito. Em outras palavras, estava em desalinho com as Leis de Deus, porém, só temporariamente. Lázaro, por sua vez, conseguira, após uma vida de sacrifícios e dificuldades, sanar deficiências, corrigindo "equívocos" para aquela etapa de experiência. Este episódio, na realidade, retrata o processo evolutivo de todo ser humano até sua ascese (ascensão), no grau máximo do limite do discernimento. Tanto o rico, como Lázaro, simboliza o roteiro de crescimento do Espírito, desde a criação - simples e ignorante - na epopéia multimilenar da própria Humanidade. Neste mesmo sentido, Lucas anota também a parábola do Filho Pródigo e do Egoísta, que, igualmente, nos desperta para o processo evolutivo da Vida, mostrando-nos que, à medida que nos aproximamos de Deus, no vai-e-vem dos erros e acertos, vão brilhando os nossos potenciais. (Se inteirar sobre o assunto, no nosso livro, Filhos de Deus).

Desta forma, pelos dramas da consciência que se desenrolam na alma do devedor - temporariamente, é verdade - até o seu despertar, "nem a sede nem a fome lhe serão mitigadas, nem amigas mãos se lhe estenderão às suas mãos súplices; e, pois, que em vida só de si cuidara, ninguém dele se compadecerá na morte." (Allan Kardec, O céu e o inferno, 1ª. parte, As penas futuras, cap. VII). Isso é o que se passa na consciência da criatura, quando se vê no mundo espiritual. Sofre os males que acarretou aos outros; e como sofre por muito tempo, julga sofrer para sempre. É a idéia da pena eterna, ensinada aos crentes de diversas religiões.

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