sábado, 28 de agosto de 2010

CRENÇA E DESCRENÇA


A Humanidade terrena está dividida entre materialistas e espiritualistas.

Cada uma dessas facções subdivide-se em várias outras, cada qual com suas características, mais ou menos afastadas entre si. O que distingue aquelas duas opiniões antagônicas e irreconciliáveis é a crença ou não na existência de DEUS e do Espírito.

Pressupõe-se seja o materialismo o adversário comum e natural das religiões e, consequentemente, o que em primeiro lugar deva ser hostilizado, vencido como o inimigo principal das crenças e do próprio ser humano.

Entretanto, na prática, não é o que se vê. São exatamente os que dizem ter uma fé, os que defendem uma vocação religiosa qualquer os primeiros a se desentenderem, a atacarem-se reciprocamente. É essa uma das principais razões do alastramento das idéias niilistas, do esvaziamento dos templos, do afastamento das pessoas de DEUS.

Observa-se, também, surgirem constantemente novas seitas, frutos de vaidades, ambição e inconformismos. Algumas com duração efêmera; outras são destituídas de qualquer valia, permanecem contidas nas próprias limitações, incapazes de atingir a altura da razão.

A coexistência de numerosas crenças denota ausência de racionalidade mas, sobretudo, significa enfraquecimento dos meios e recursos de combate ao ceticismo. O menor desentendimento entre uma e outra é suficiente para gerar crises e conflitos. Por sua vez a intolerância grassa desastradamente. Dirigentes religiosos são os primeiros a acirrar os ânimos arvorando-se em juízes representativos do Senhor da Vida. De seus pedestais, vaidosos, julgam-se donos da verdade e condutores do mundo. Combatendo-se mutuamente as religiões distanciam-se do Divino Poder e fragilizam-se.

A intolerância deve ser, pois, combatida, sem cessar, notadamente a religiosa. Jamais devemos olvidar que a ignorância, as religiões, as crenças quaisquer que sejam, o ateísmo, não nos destituem da condição de irmãos nem nos desvinculam da mesma paternidade Divina e Universal.

A comprovação da existência de DEUS está ao alcance de todos pelas leis naturais acessíveis a todas as mentes, do sábio ao iletrado. Qualquer cérebro humano sadio, após a primeira infância, é apto para compreender que essas leis seguem princípios inteligentes. Tanto os fundamentos físicos quanto os morais são obedientes a comando superior, a uma inteligência Suprema. Tal verdade é inteligível e cristalina.

Os incrédulos não puderam, ainda, conceber DEUS. Não conseguiram percebê-lO no infinito do Universo, nos milhões de astros que percorreram as profundezas do firmamento arrastando em seu séquito outros mundos, moradas da alma imortal. Também não O encontraram em nosso Planeta, na pujança dos mares, no silêncio das florestas, nas montanhas soberbas, nas leis que governam a vida e a matéria, nos corpos infinitesimais e no Sol que vivifica.

Muitas pessoas que dizem crer têm as mais variadas concepções do Criador e de Sua natureza. Há manifestações extravagantes que O confundem com a criatura, o Pai com o Filho, Jesus com o próprio DEUS. Fôssemos enumerar todas essas maneiras de entender seria fastidioso tal a variedade de opiniões e de sistemas, desde os que pensam que o Pai irá nos absorver quando atingirmos a perfeição como a gota de chuva que se integra e se perde no oceano, até os que aceitam a verdade tal qual nos foi por Ele mesmo enviada, como luz e consolação, na figura de Jesus, o emissário cujos primeiros vagidos foram ouvidos na manjedoura humilde de um pequenino burgo da Palestina.

A variedade de conceitos religiosos se deve à diferença de vivência de cada criatura. Está em estreita ligação com o que a alma já atingiu em suas sucessivas reencarnações. Habitando até mesmo um corpo com vestes humildes essa alma pode ser aquela mesma que, no passado, em pretéritas existências, regou o solo com suor e lágrimas nas lavouras do bem, do trabalho edificante, do dever retamente cumprido, mas que desfruta hoje de entendimento mais perto de DEUS do que o daquela outra que ostenta orgulhosamente ricas vestes a encobrirem atrasos e ignorâncias. Separando o mundo visível do invisível há um mar de dúvidas, incertezas, negações e ilusões que a criatura humana terá que atravessar e vencer para aportar ao cais glorioso e seguro da verdade e do amor divinos.

Acreditar ou não em DEUS é a mais grave e a mais importante convicção que o ser humano revela. Todavia, entre a incredulidade e o fanatismo é difícil estabelecer qual dessas condições é a mais perniciosa, eis que ambas denotam imponderação e irracionalidade. Enquanto a primeira amesquinha e nulifica a alma vendando-lhe a razão, dificultando-se o progresso, a segunda a conduz à intolerância, à intransigência, à ofensa ao semelhante, à desavença, ao ódio, à fascinação, à desdita. O ateu e o fanático transmitem impressões nocivas e desagradáveis que eles mesmos não percebem.

O Espiritismo ensina que o ser humano é a criação por excelência, criado para colaborar na obra divina e atingir a perfeição. Que todos partem de um mesmo ponto, sem privilégios. Habitando o corpo físico há o Espírito imortal. Ao perecer o corpo denso o Espírito sobrevive e passa por sucessivas reencarnações, progredindo sempre.

Por que tanta diversidade de crenças se todos iniciamos a caminhada em idênticas condições? Certamente porque todos escolhemos livremente os caminhos. Enquanto uns tomam a direção do progresso outros demoram nos desvios. Ademais não somos criados ao mesmo tempo.

Este enxuga lágrimas, outro as faz rolar. Uns abrem feridas, outros mais as pensam. Em síntese, há a senda do bem e o extravio para o cipoal do mal. Como discernir entre essas duas direções? Jesus nos responde e esclarece ao recomendar: “Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam”. (Mateus, 7:12).

Parece fora de dúvida que ninguém, em sã consciência, pratica ações que, antecipadamente, sabe resultarão em seu próprio prejuízo. Temos que concluir que se todos se abstivessem da prática do mal estariam, conseqüentemente, isentos de resgates. Entretanto, como os sofrimentos e vicissitudes não resultam apenas de dívidas contraídas perante os semelhantes e, como as dores e provas funcionam também como aguilhão de progresso para o Espírito, todos os que praticam o bem, embora em processos dolorosos, podem estar certos de que, vencidas as dificuldades, no curso da existência, um porvir ditoso os aguarda nas trilhas do destino. A certeza disso e a consciência desse mecanismo nos capacitam a suportar com coragem e resignação os sofrimentos, confiantes na Justiça Divina.

A alma humana, por mais descrente e endividada que seja, um dia irá prosternar-se, extasiada, diante da verdade: a sua imortalidade! Desfrutará, então, dessa benção como o viandante suarento e cansado que encontra a fonte e se dessedenta ou a ravina refrescante onde se delicia.

As manifestações de fé e o exercício de atividades religiosas comumente se realizam dentro dos respectivos templos e instituições. Contudo, há também o costume de praticar exorcismos e diversos rituais religiosos no interior dos lares.

O recesso doméstico, entretanto, deve ser reservado para o estudo edificante, para a prece que eleva e restaura, para o entendimento e o exercício das leis de amor e fraternidade. Ali é o recanto mais indicado para o estudo, a cultura e a assimilação dos ensinos do Evangelho de Jesus e não deveria servir de ambiente para invocação e manifestações de Espíritos, sem a segurança necessária e com os inumeráveis inconvenientes, a começar pela porta que se abre no seio da família para ensejar às trevas a oportunidade sempre por elas aguardada de espalhar as idéias malsãs, incentivar desarmonias, empenhadas rotineiramente em mentiras e armadilhas. O culto do Evangelho no Lar é o procedimento indicado como reunião amorosa de paz para aprendizado das sublimes lições de vida e moral cristã e dos postulados do Consolador enviado à Terra.

As almas irmãs, generosas e altivas, podem ainda não ter alcançado todas as verdades básicas, mas desde que tragam as marcas inapagáveis da fraternidade, da bondade, do amor, um dia aparecerão diante dos homens e do Criador ostentando a bênção de verdadeiros Espíritos Cristãos.

Por força da lei de progresso, muitos mitos, liturgias e rituais inaceitáveis deverão ser abolidos das religiões assim como várias concepções absurdas e alguns dogmas sem fincas nas Sagradas Escrituras em sua pureza primitiva, os quais não podem acompanhar a evolução da inteligência. Tudo que atenta contra a razão, o bom senso e não atende aos apelos do coração não resistirá, será alijado e sucumbirá à margem do caminho humano.

No futuro as religiões, crenças e seitas irão convergir para um mesmo entendimento das verdades imutáveis e, assim, restarão os incrédulos que não forem por elas atraídos e arreganhados, os quais aguardarão a própria morte, que se incumbirá de lhes mostrar a realidade da imortalidade da alma, pela soberana e magnânima Vontade Divina. .

WASHINGTON BORGES DE SOUZA
REFORMADOR set97

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