quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

PAI NOSSO



MATEUS, 6º, 5 ao 15. — LUCAS, 11º, 1 ao 4. Prece. — O Pai Nosso
MATEUS: capítulo 6º, versículo 5. Do mesmo modo, quando orardes, não façais como os hipócritas que gostam de orar de pé, nas sinagogas e nos cantos das praças públicas para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. — 6. Quando quiserdes orar, entrai para o vosso aposento e, fechada a porta, orai a vosso Pai em segredo; e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará. — 7. Quando orardes, não faleis muito como fazem os gentios, imaginando que serão escutados por muito falarem. — 8. Não vos assemelheis a eles, porqüanto vosso Pai sabe do que precisais antes de lho pedirdes. — 9. Orai assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; — 10, venha a nós o teu reino; — faça-se a tua vontade tanto na Terra como no céu; — 11, dá-nos hoje o nosso pão que está acima de qualquer substância; — 12, perdoa as nossas dividas como perdoamos aos nossos devedores; — 13, e não nos abandones à tentação; mas livra-nos do mal, assim seja. — 14. Porque, se perdoardes aos homens as faltas que cometam contra vós, também o Pai celestial perdoará as vossas. — 15. Se porém, não perdoardes aos homens, vosso Pai não vos perdoará os pecados.
LUCAS: capítulo 11º, versículo 1. E sucedeu que, tendo estado a orar em certo lugar, quando acabou, um de seus discípulos lhe disse: Senhor, ensina-nos a orar, assim como João ensinou a seus discípulos. — 2. Disse-lhes Ele então: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome, que o teu reino venha; — 3, dá-nos hoje o pão de cada dia; — 4, perdoa as nossas ofensas, como perdoamos aos que nos devem e não nos deixes entregues à tentação. (33)

A prece! Antes que a luz do Espiritismo nos banhasse a alma, não sabíamos o que é verdadeiramente prece, nem quais o seu poder e a sua eficácia. Ela não passava, para nós, de uma prática costumeira, a que nos habituara nossa mãe e a que recorríamos, sempre que nos sentíamos aflito. Rogávamos então a Nosso Senhor Jesus Cristo um remédio para o nosso sofrimento.
Apesar, porém, de lhe ignorarmos o valor e a eficácia, mesmo fazendo-a por simples hábito, ela nos enchia de doces esperanças o coração e nos proporcionava conforto. Faltava-nos, entretanto, a convicção de que aqueles por quem pedíamos beneficiavam dos nossos rogos.
Essa, aliás, a situação em que se encontra, com relação à prece, a generalidade das criaturas, devido à ignorância em que se mantêm da verdade, por efeito da incompreensão das coisas santas, donde a indiferença geral, cuja responsabilidade pesa toda sobre os que, monopolizando a interpretação das letras sagradas, fazem dos Evangelhos hieróglifos semelhantes aos do antigo Egito.
Considere-se, porém, que, se entre os egípcios o sacerdócio proibia aos leigos a leitura e a explicação dos livros sagrados, era porque, para os ler e explicar, mister se fazia uma iniciação longa, que se praticava através de estudo profundo e continuado e de provas que capacitavam o indivíduo para um estado de desprendimento que lhe permitia penetrar no mundo da verdade. Assim, esta, naquela época, como ao tempo de Jesus, só era ministrada ao povo de modo muito restrito, em proporções compatíveis com o desenvolvimento comuin das inteligências. Aos fracos, precisava ser transmitida veladamente, para os não tornar insanos; aos maus, para lhes não aumentar as responsabilidades, ou lhes facultar meios de praticarem o mal. Os sacerdotes egípcios, no entanto, os iniciados, esses já conheciam o magnetismo, o sonambulismo e praticavam a sugestão, chamada então magia, segundo refere Estrabão, o célebre geógrafo grego.
Vê-se assim que, no Egito, iniciados eram aqueles para quem a luz da verdade brilhava com grande fulgor. Eles não ficavam, como os que se dizem representantes de Jesus na Terra e únicos possuidores do conhecimento da sua doutrina, envoltos na obscuridade dos mistérios, dos milagres e dos dogmas, em contrário ao que quer o manso Rabi de Nazaré, que veio à Terra precisamente para iluminar com seus ensinos e exemplos o caminho da salvação a todas as criaturas de Deus. E é do estudo e da prática sincera e simples desses ensinos que ressaltam o poder extraordinário, o valor inigualável e a prodigiosa eficácia da prece.
Um exemplo: certa vez, durante algumas noites seguidas, à hora de nos deitarmos, oramos em favor de um irmão do espaço que, por um médium, nos fizera a narração de seus sofrimentos. Decorridos algumas semanas, por ocasião de outro trabalho, dissenos o médium, ao ouvido: F. agradece os benefícios que colheu das tuas preces.
Despertada a nossa reminiscência, pelo irmão agradecido, sentimo-nos surpreso, mas, ao mesmo tempo, cheio de grande contentamento.
Doutra feita, havendo acompanhado o bom irmão Bittencourt Sampaio, nosso mestre e companheiro de saudosa memória, em visita que fez a uma infeliz irmã que tinha o rosto já todo devorado por um cancro e à qual ia ele levar algum alívio, na primeira sessão que realizamos depois desse fato, o anjo de guarda da pobrezinha se manifestou, para nos- agradecer, dizendo: -O Pai celestial ouviu as vossas preces e Francisca deixa de sofrer neste momento-. Desencarnara. Desde então se nos firmou definitivamente a convicção de que a prece opera prodígios de misericórdia, é um recurso de valor inapreciável, que a bondade infinita de Deus nos concede para obtermos o de que necessitam os nossos Espíritos, uma vez que o empreguemos com humildade, submissão e fé.
A ciência espírita ensina como se produzem esses efeitos, fazendo-nos compreender que a prece, considerada do ponto de vista espiritual, é uma emanação dos mais puros fluídos, por meio da qual amparo e força recebem, mesmo a seu mau grado, aqueles a cujo favor é ela feita; que é uma magnetização moral, operando-se a distância; que, assim sendo, orar é emitir fluídos sutis que, propelidos pela força da vontade, do amor, vão envolver aquele por quem se ora, fortalecer-lhe o Espírito e esclarecê-lo. Pela prece, exercemos, de um ponto de vista mais alto, ação idêntica à que desenvolve o magnetizador sobre um paciente.
Recomendando, para a prece, o segredo, o silêncio, o recolhimento, e aconselhando seja ela feita em poucas palavras, Jesus, ipso facto, condenou, assim com relação àquela época, como em relação ao futuro, as pompas cultuais e as cerimônias ritualísticas, a multiplicidade das rezas que os lábios pronunciam, conservando-se-lhes alheio o coração.
Jesus orou ao Pai por nós, do mesmo modo que o fez Moisés que, dando um ensinamento aos hebreus, levantou para os céus as mãos, sempre que precisou vencer a Israel. (Êxodo, capítulo 17, versículo 11).
Jesus Cristo vive sempre para interceder por nós. (PAULO, “Epístola aos Hebreus”, capítulo 7º, versículo 25; — “Epístola aos Romanos”, capítulo 8º, versículo 34; — 1ª. a Timóteo, capítulo 2º, versículo 5; — João, 1ª Epístola”, capítulo 2º, versículo 1). — Pai, perdoa-lhes. (LUCAS, capítulo 23º, versículo 34). — Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste. (João capítulo 17º, versículo 11). — Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco. (João, capítulo 14º, versículo 16).
Intercedendo, pois, pelas ovelhas de seu rebanho, Jesus nos deu um exemplo que devemos seguir constantemente, orando, sempre com o pensamento nele, que ora por nós, que por nós vive e reina.
Foi num desses dias, em que o viram absorvido na oração, que seus discípulos, pela boca de um deles, lhe pediram, terminada a sua prece: -Mestre, ensina-nos a orar.- E o divino Mestre, satisfazendo de pronto a esse pedido, lhes ensinou a oração, que ficou sendo chamada dominical, porque dirigida a Deus, o Senhor, em latim —dominus. Temos dela a explicação que nos deram o Mestre Allan Kardec, e, posteriormente, os próprios evangelistas, assistidos pelos apóstolos. Dessa explicação éeste o resumo:
Pai nosso: — Pai de todas as criaturas, Criador supremo, de quem todos provimos.
Que estás no céu: — que ocupas o infinito da tua criação, tão acima de nós, que os nossos olhos impuros te não podem descobrir.
Santificado seja o teu nome: — que cada uma das tuas criaturas te bendiga o nome, pelos seus pensamentos e atos, como pelas suas palavras; que seus corações nada abriguem capaz de lhes macular os lábios com uma blasfêmia, tornando-os impuros para proferir o nome daquele que é a pureza absoluta.
Venha a nós o teu reino: — pois que o teu reino é da justiça, da paz e do amor; que a paz, o amor e a justiça reinem entre os homens.
Faça-se a tua vontade, assim na Terra como no céu: — que as leis santas, justas e imutáveis, que nos impuseste, sejam observadas e praticadas com amor e reconhecimento em nosso mundo, como o são nos mundos felizes, por humanidades mais adiantadas do que a nossa; como o são pelos Espíritos bem-aventurados, que na sua submissão aos teus santíssimos desígnios têm a fonte da bem-aventurança de que gozam.
Dá-nos hoje o pão de cada dia, pão que está acima de qualquer substância: — concede-nos, Senhor, o alimento necessário à sustentação do corpo material que nos deste, como instrumento para a obra da nossa purificação espiritual; mas, dá-nos, sobretudo, o pão da vida eterna, o viático indispensável a todos os Espíritos que faliram, como os nossos, para que tenham a força de subir até ao sólio da tua eternidade.
Perdoa as nossas dívidas, como perdoamos aos nossos devedores: — Perdoa-nos as ofensas que te temos feito, os pecados em que a todo instante caímos, as faltas em que ainda a todo momento incorremos, transgredindo os preconceitos da tua santa lei.
Mas, como o amor e o perdão formam a essência dessa lei, a que se acha submetida a nossa existência, que a tua justiça caia sobre nós, pois que disseste, pelo teu Filho bem-amado, o nosso Mestre divino: =Amai os vossos inimigos; fazei bem aos que vos odeiam; abençoai os que vos amaldiçoam.= Usa, porém, de misericórdia para conosco, se misericordiosos formos para com os nossos irmãos, perdoando-nos tanto quanto houvermos perdoado as faltas dos nossos semelhantes.
Não nos deixes cair em tentação: — bem conhecendo a extensão da nossa fraqueza, forra-nos, Senhor, às provas demasiado fortes para a nossa virtude e dá-nos forças para resistirmos aos nossos maus pendores; fortalece-nos a coragem, revigora-nos as energias, a fim de que possamos vencer, sem tibiezas, nem desfalecimentos, na luta que precisamos travar com as paixões grosseiras e os sentimentos inferiores, que nos tentam de contínuo, para a nossa perdição.
Livra-nos de todo mal: — permite, Senhor, que cercados pelos bons Espíritos, dóceis aos seus conselhos e inspirações, possamos sempre resistir às nossas paixões e vícios, às nossas inclinações más, e repelir assim os maus Espíritos que, atraidos por essas inclinações, paixões e vícios, tentam constantemente apoderar-se de nós e arrastar-nos ao caminho do mal.
Amém, que quer dizer — assim seja: — assim seja, Senhor, pois que o reinado, o poder e a glória te pertencem a ti que és o único verdadeiramente grande, que estás acima de todas as coisas e de todas as criaturas, a ti que és o nosso Deus, o Criador único de tudo o que vive e se move no espaço infinito, a ti que, onipotente na imensidade, és o nosso juiz supremo, o nosso soberano, o nosso Rei, a quem tributamos as homenagens dos nossos corações e em cujo louvor entoarão as nossas almas cânticos eternos.
Por concluir, repitamos o conselho com que os evangelistas e os apóstolos puseram fecho a essa explicação da oração dominical: (34) =Meditai, amados irmãos, este ensinamento que, em nome e da parte do Cristo, Espírito da Verdade, acabamos de dar-vos, acerca da oração dominical. Estudai com o coração tudo quanto esta sublime prece inspira ao homem, para se manter no bom caminho, desenvolvendo e fortificando em si os sentimentos do dever para com Deus, para com seus irmãos e para consigo mesmo. Estudai com o coração tudo o que ela encerra de amor, de reconhecimento e de submissão Àquele que, desde toda a eternidade, foi, é e será Deus de bondade, de perfeições absolutas e infinitas. Que esse Deus, o Deus de amor vos abençoe.=
(33) 3º Reis, 18º, 36, 37. — 4º Reis, 4º, 33. — Eclesiastes, 5º, 1, 2. — JOÃO, 17º,
5. — Atos, 21º, 14. — Apocalipse. 5º, 9, 10.
(34) J. B. ROUSTAING – A Revelação da Revelação, volume 1, página 446.

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