sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A CARIDADE É EXEMPLO DE SOLIDARIEDADE HUMANA


A caridade, quando exercida com elevação moral, nada tem de humilhante. Constitui um modo de ajudar, de socorrer, de amparar aqueles que se encontram no infortúnio. Nem sempre a caridade se exprime pelo óbolo. Nem sempre significa esmola, ainda que a aparência induza a semelhante suposição. Ainda que a Terra fosse um planeta sem problemas econômicos, isto é, na qual todas as criaturas humanas pudessem dispor de recursos pecuniários para não passarem qualquer privação, mesmo assim a caridade teria campo para se exercer. Encontramos em “O Evangelho segundo o Espiritismo” a mensagem de “Um Espírito Protetor”, que assim se manifesta: “Amigos, de mil maneiras se faz a caridade. Podeis fazê-la por pensamentos, por palavras e por ações. Por pensamentos, orando pelos pobres abandonados, que morreram sem se acharem sequer em condições de ver a luz. Uma prece feita de coração os alivia. Por palavras, dando aos vossos companheiros de todos os dias alguns bons conselhos, dizendo aos que o desespero e as privações azedaram o ânimo e levaram a blasfemar do nome do Altíssimo: “Eu era como sois; sofria, sentia-me desgraçado, mas acreditei no Espiritismo e, vede, agora, sou feliz.” Aos velhos que vos disserem: “É inútil; estou no fim da minha jornada; morrerei como vivi”, dizei: “Deus usa de justiça igual para com todos nós; lembrai-vos dos obreiros da última hora.” Às crianças, já viciadas pelas companhias de que se cercaram e que vão pelo mundo, prestes a sucumbir às más tentações, dizei: “Deus vos vê, meus caros pequenos”, e não vos canseis de lhes repetir essas brandas palavras. Elas acabarão por lhes germinar nas inteligências infantis e em vez de vagabundos, fareis deles homens. Também isso é caridade.” Poderíamos desdobrar os conceitos relativos à caridade, seus aspectos diversos e seu grande alcance como obra de fraternidade e solidariedade. Só os países muito contaminados pelo sentimento materialista, presas do egoísmo e da ambição perniciosa, é que desprezam a caridade, reputando-a ofensiva à dignidade do homem. Assim o seria se o esmoler não for animado de sentimento verdadeiramente cristão e se aquele que recebe o óbolo faz profissão de pedinte quando poderia perfeitamente lutar pela própria subsistência.

Há quem diga que fazer caridade é dar esmola. Não é propriamente isso. Fazer caridade é pôr em ação o sentimento fraterno que há de levar a Humanidade, um dia, a alcançar toda a significação da recomendação do Mestre: “Amai-vos uns aos outros.” Se o que dá esmolas o faz por exibicionismo ou por orgulho, a fim de patentear a sua superioridade econômica, deslustra a essência e o objetivo moral da caridade. Admitir-se que pertençam a essa categoria todos os que exercem a caridade, é cometer grave injustiça. Pensar-se também que a esmola humilha a quem a recebe, é erro. Tudo depende do ânimo de quem a dá e de quem a recebe. A caridade bem exercida nunca é humilhante. Verifica-se hoje, quando o materialismo e o egoísmo estendem mais os seus tentáculos, que o exercício da caridade vai sendo apontado como antigalha. Os que a combatem, muitas vezes, mal escondem o desprazer que sentem de tirar do bolso uma moeda que não lhes faz falta à pecúnia acumulada, mas lhes deixa a impressão de um desfalque obsessivo. Quando cessarem os desequilíbrios sociais, que agravam os desequilíbrios econômicos, a esmola material poderá extinguir-se. Todavia, a esmola espiritual jamais desaparecerá da face da Terra, enquanto o nosso planeta não alcançar a redenção final.

Dizer-se que o mundo de hoje não é mais o mundo da caridade implica desconhecer a situação geral em que se debate a Humanidade. O ato de dar um auxílio seja ele material ou moral, físico ou espiritual, é um ato de solidariedade humana. Num mundo de provações, como o em que estamos vivendo, é mister compreender os imperativos da lei de causa e efeito, da lei do retorno, para se analisar melhor as razões do sofrimento e da miséria. A Terra é um mundo em franco período de depuração. É preciso, porém, que todos aqueles que já puderam conhecer os problemas da vida humana e sua relação com a vida espiritual, através da Doutrina Espírita, colaborem sistematicamente para que essa obra se acelere. A miséria é um reflexo da imperfeição humana. À medida que o homem for obtendo maior esclarecimento espiritual e procedendo de acordo com os preceitos cristãos propagados pelo Espiritismo, mais eficiente será o combate à miséria.

A religião que mais profundamente compreendeu o alcance social e moral da caridade foi o Espiritismo, ao interpretar em seu legítimo sentido a palavra do Cristo. Em vez de proclamar que “fora da Igreja não há salvação”, o Espiritismo adverte que “Fora da caridade não há salvação”, porque caridade é expressão de amor ao próximo, é definição do “Amai-vos uns aos outros”. No ambiente espírita, a caridade tem força legítima, porque os seguidores da nossa Doutrina não compreendem se deva deixar uma criatura à mingua de auxílio, para que não se presuma cobri-la de humilhação por lhe dar uma esmola! Esclarecer quem está desorientado; acalmar quem se encontra aflito; guiar quem se encontra perdido; amparar quem esteja caindo; levantar quem esteja tombado; aconselhar quem esteja em rumo incerto ou errado; abrir os olhos de quem se mostra cego à realidade, tudo isso é amor, tudo isso é caridade.

Compreender e interpretar a caridade como uma demonstração sincera de solidariedade humana, será, pois, agir em função do progresso espiritual. O Espiritismo está realizando sua grande obra fraterna, “incutindo nos homens o espírito de caridade e de fraternidade”, diz “O Evangelho segundo o Espiritismo”.

 

Boanerges da Rocha (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Outubro 1958

 

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