O tempo é irreversível. O minuto que passou
não mais retomará, nem aqui nem alhures. Talvez, por isso mesmo, nos mundos
felizes ou no espaço absoluto o tempo seja inexistente, e os seres inteligentes
vivam o eterno presente.
Dizemos espaço absoluto a fim de tentar um
conceito de tempo sem relatividade ou sucessão das coisas que nos liguem à
eternidade. É que dentro da eternidade as coisas não se sucedem. Elas são ou
estão. Isso é tudo.
O tempo diz respeito a quem está em marcha e
percebe que as coisas não são fixas ou permanentes. Eis por que no ser
inteligente há ânsia; há busca; há desejo de renovações e estabelecem-se
dúvidas ou incertezas. Vive-se ao sabor das surpresas do caminho.
É o caso da felicidade. Somos felizes ou
infelizes, até o instante em que percebemos a insatisfação ou por ela somos
surpreendidos, ou despertados para a realidade do que efetivamente somos.
Julgamos então haver descoberto o nosso equívoco quanto à felicidade que
pensávamos haver alcançado, ou concluído que não éramos tão infelizes quanto
supúnhamos. E, nesse sentido, quanto mais imperfeito é o indivíduo, maior é a
soma de suas insatisfações e menos estável a sua felicidade.
Jesus, o sábio dos sábios, falando com
absoluto conhecimento de causa, afirmou perante Pilatos: "O meu reino não
é deste mundo." Mas Pilatos, que o sabia inocente, conhecia o veneno do
sacerdotalismo organizado de seu tempo, não quis pôr em risco o seu
insignificante "reinado", a sua equivocada felicidade, deixando o
inocente entregue à sanha dos maus.
Jó, no Antigo Testamento, percebendo o estado
miserável em que caiu, exclamou, desolado: "Sobrevieram-me pavores; como
vento perseguem a minha honra e como nuvem passou a minha felicidade" (Jó,
30: 15).
Com esse introito, desejamos refletir, com os
companheiros que nos lerem, a respeito da irreversibilidade do tempo e os
vaníssimos propósitos de retardamento da nossa marcha em favor de qualquer
presunção de felicidade material, neste mundo-escola em que vivemos graças à
misericórdia do Pai...
Somos espírita e, por enquanto, aqui, só para
espíritas falamos. Falamos principalmente àqueles que, como nós, um dia se
sentiram frustrados diante da pretensa felicidade. O que, na verdade,
contribuiu para a formação da convicção de que felicidade é algo que
construímos dentro de nós e que nada tem a ver com supostos bens materiais e
passageiros.
A bem da verdade, o que intitulamos de
felicidade não passa de algum conforto ou bem-estar muito relativo a que não
devemos dispensar exagerado apego.
Logo, não compensa retardarmos nossa marcha
na direção da eternidade em função da valorização excessiva dos bens materiais
deste mundo, diante dos quais nosso papel não deixa de ser de meros
administradores. Retardar é perder tempo.
O tempo é irreversível, dissemos. A perfeição
que buscamos alcançar pela exercitação diuturna do Evangelho, enquanto
acertamos as nossas contas com a justiça divina, conduz-nos direta e
ininterruptamente ao gozo dos bens eternos e inconspurcáveis do Espírito.
Perder tempo é, pois, obstaculizar a caminhada no roteiro da Luz.
Deus nos outorgou, como espécie de
instrumental de alertamento contra possíveis tendências a qualquer
descontinuidade na marcha evolutiva, a possibilidade de acompanhar e sentir o
espetáculo dramático das dores do mundo, onde, por vezes, somos constrangidos a
identificar-nos com algum de seus personagens. Acentua-se-nos, então, a
convicção de que o homem é o construtor de seu próprio destino.
Se as dores do mundo são consequência da
ignorância moral e espiritual da Humanidade como um todo, surge, em nós, no
âmago da consciência, interessante indagação: como ajudar os homens no
reconhecimento de sua responsabilidade na mudança de cenário tão desolador?
E se nós espíritas, depositários, pela
bondade divina, da Terceira Revelação - instrumento de agilização do processo
regenerador do Orbe, deixando-nos influenciar pela aparente presença de
"alguns bancos com sombra na estrada do progresso", resolvermos
interromper a marcha, a título de descanso oportuno? Quem o fizesse cometeria
tão grave equívoco que dificilmente se perdoaria perante o tribunal da
consciência.
É preciso retirar o Planeta do caos do
materialismo e, para isso, o seu Governador conta com a colaboração, hoje,
daqueles que, ontem, fomos, também, instrumentos de erros e destruição.
Despertos, agora, do sonambulismo obliterador da consciência, eis-nos
convocados para trabalhadores da vinha do Senhor na seara bendita.
Portanto, não nos sentimos à vontade para
"fugir" do trabalho ou produzi-lo com menos devotamento, embora
possamos fazê-lo, no exercício errôneo do livre-arbítrio. Ele existe e nos
pertence como outorga divina, mas sob a condição de respondermos pelo modo como
o utilizarmos.
Abrimos o livro "Obras Póstumas",
em sua Segunda Parte, e encontramos, na página 299 da 13ª edição FEB, a
Comunicação intitulada Minha Volta, que revela ter sido o Codificador informado
pelo Espírito de Verdade quanto ao seu retomo ao mundo físico, tempos depois de
sua desencarnação: "Não permanecerás longo tempo entre nós. Terás que
volver à Terra para concluir a tua missão, que não podes terminar nesta
existência" E, desse diálogo, guardamos uma frase que muito nos tem
ajudado como alertamento em benefício de nossos próprios passos na condição de
espírita, neste mundo. Eis a frase, que colocamos em desta que:
"SE FOSSE POSSÍVEL, ABSOLUTAMENTE NÃO
SAIRIAS DAÍ; MAS É PRECISO QUE SE CUMPRA A LEI DA NATUREZA."
Reflitamos: "Se fosse possível,
absolutamente não sairias daí." Que isso quer dizer? Significa que o
Governo deste Orbe tem pressa! Não fora a necessidade de cumprir-se a lei da
Natureza, Kardec não teria desencarnado. Todavia, para fazer face ao interregno
forçado voltaria em condições que lhe permitiriam trabalhar desde cedo, isto é,
desde a juventude.
O que nos chama a atenção em tudo isso, já o
expressamos: o Cristo tem pressa. Ele, mais do que ninguém, conhece, como
Governador da Terra, a irreversibilidade do tempo. Ninguém deve perdê-lo em
vão, mormente quando se é reconhecido à amorabilidade divina.
Efetivamente, o tempo urge. Sempre o temos
afirmado em muitos de nossos escritos.
Desde o instante de nossa estreia nas
fileiras da Doutrina-Luz, temos notado os espíritas acenarem, impressionados,
para a aurora do Terceiro Milênio. E o Terceiro Milênio aí está a apenas seis
anos, na curva ininterrupta do tempo. E, apesar disso, há muitos trabalhadores,
dentre os convocados para a Vinha, estacionados à margem do tempo. E o tempo é
irreversível...
Inaldo Lacerda Lima
Reformador (FEB) Jan 1994
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