- A alma tem consciência de si mesma
imediatamente após deixar o corpo?
- Imediatamente não é bem o termo. A alma passa algum tempo em estado de
perturbação:
(Questão n" 163 de "O Livro dos
Espíritos")
Só pelo estudo criterioso da Doutrina dos
Espíritos, através do ângulo filosófico, é que podemos, na verdade, compreender
alguns curiosos acontecimentos relacionados com o Mundo Espiritual. A pergunta
formulada por Kardec aos Espíritos Reveladores, por isso, é de suma importância,
uma vez que, sobre o assunto, são múltiplas as interpretações.
A resposta dada, embora das mais simples,
esclarece sobejamente, explicando o que acontece ao Espírito, ao ensejo da
desencarnação, momento em que se defronta com o problema chamado “perturbação
espiritual”.
Meditando na solução dada à questão nº 163 e
às que se seguem, somos levados a admitir a existência de três fases distintas
no desdobramento do trabalho de elucidação do Espírito recém-desencarnado:
1ª fase - Busca da Identidade - A primeira
preocupação reside no ingente esforço de reavivar a memória, traumatizada com o
acelerar víbratórío decorrente da ausência do corpo. Esse trabalho é de
variável tempo de duração, tudo dependendo da maior ou menor condição de
desmaterialização do Espírito. O tempo pode ser de horas ou de anos. Em se
tratando de Espírito que tenha vivido como um homem de bem e que já tenha
alcançado apreciável índice de progresso espiritual, o estado de perturbação é
passageiro, permitindo a lembrança de sua identidade sem maiores delongas.
Nas reuniões de intercâmbio frequentemente
nos defrontamos com Espíritos aflitos, totalmente desprovidos de memória, que
não se recordam, sequer, dos seus próprios nomes. São aqueles que conduzem as
consciências repletas de inquietações e remorsos, não dispondo,
consequentemente, da necessária serenidade para a reflexão.
2ª fase - Reconhecimento do Local - Os que
estão presos às tradicionais interpretações religiosas esperam, com a “morte”,
o acesso às esferas das bem-aventuranças ou às torturas sem fim, onde há “fogo
que não consome”.
Aos seus olhos tudo se esboça de maneira
diversa. Encontra vida movimentada, atuante, febril, com atividade intensa e
continuada, e isso os surpreende. Com o tempo e o esforço de adaptação,
entretanto, os Espíritos vão-se convencendo de que Céu e Inferno, efetivamente,
não passam de estados de consciência, jamais existindo como regiões
específicas. No Espaço, portanto, ou melhor dizendo, na erraticidade, é que vão
efetivando o esforço de aperfeiçoamento intelectual e moral, preparatório para
futuras encarnações, observadas as leis de Afinidade e de Causa e Efeito.
3ª fase - Providências Necessárias- Quando
seja possível aos Espíritos vencerem as duas primeiras fases, isto é, lograrem
sua identidade e reconhecerem o local em que se encontram, é que poderão atacar
a terceira etapa, ou seja, aquela relacionada com as medidas indispensáveis
para o prosseguimento da caminhada evolutiva.
É nessa hora que vão prevalecer todas as
elucidações doutrinárias obtidas através do estudo metódico e criterioso das
obras básicas de Kardec, nas quais a Doutrina dos Espíritos é profundamente
analisada pelos ângulos moral, filosófico e científico.
Cada Espírito reconhecerá, então,
encontrar-se no Espaço ilimitado, onde prosseguirá no trabalho corajoso de
emancipação do erro, através da assimilação dos ensinos superiores de ordem
moral e intelectual. E saberá, decorrentemente, que o trabalho profícuo e o
desinteresse integral pelas coisas materiais serão as poderosas armas a adotar
para o combate às milenárias imperfeições que o classificam em baixo nível de
progresso espiritual.
Reconhecendo tais imperativos, cabe-nos
proceder com as maiores cautelas, enquanto estamos na carne, colocando-nos
sempre como candidatos potenciais para a vida no mundo etéreo, habilitando-nos
para essa transição, de modo a que a fase normal de perturbação não seja cruel
para conosco, mas que, isso sim, em razão de nossos conhecimentos doutrinários
e de nossa conduta evangélica, possamos amenizar as inquietações e os sustos
dessa hora difícil.
Arthur da Silva Araújo
‘Brasil Espírita’ (FEB) Jan 1971
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