É muito fácil e agradável viver teoricamente
o Espiritismo, usufruir as alegrias do contato intermitente nos Centros
Espíritas e nas reuniões determinadas para ouvir oradores vibrantes e ardentes,
cujo talento e imaginação são postos a serviço da difusão do Espiritismo. É
muito interessante ler artigos bem arquitetados, em estilo primoroso e farto de
frases ricas de conteúdo e belas em sua forma. É uma festa para o coração a
oportunidade de encontrar correligionários e amigos, externando o encanto da
fraternidade tão recomendada pelos Evangelhos, ainda que isso ocorra
ocasionalmente. Tudo muito fácil, quando se repetem os ensinamentos de Jesus e
as recomendações de Allan Kardec; as belezas das sentenças evangélicas
comentadas por J. B. Roustaing, as maravilhas contidas nos conceitos de
Emmanuel, de André Luiz, Irmão X, etc. É muito estimulante ler e relembrar os
grandes escritores do Espiritismo, como Léon Denis, Gabriel Delanne, além das
obras devidas à mediunidade de Chico Xavier, Divaldo Franco, Yvonne Pereira,
Zilda Gama, etc.
Tudo isso nos faz bem à alma, enriquece a
nossa cultura espírita e alegra os nossos dias. Entretanto, todo esse acervo de
conhecimentos, toda essa gama de contatos amigos, a imensa colheita de afetos
que se nos oferece em cada oportunidade, representam uma responsabilidade
enorme para o nosso espírito, pela obrigação que nos impõem ao testemunho sério
e inevitável nos dias futuros, no amanhã inexorável que nos espera.
Se não tivermos aproveitado todos esses
momentos para fortalecermos o espírito com a aquisição sincera e sólida da
fraternidade, do amor que a amizade representa, de nada vale a bagagem que
consciente ou inconscientemente tenhamos preparado. Há um determinado dia, à
espera de cada um de nós, no qual teremos de demonstrar o valor da carga que
trouxemos. Se ela representa apenas o resultado de uma vida de relação
meramente convencional, ou se, pelo contrário, está valorizada pelo sentimento
afetivo que deve realmente marcar as relações entre os profitentes do
Espiritismo, mais comprometidos com Jesus do que pensam. Por isso, recordamos
esta passagem de II Coríntios, 13:5: "Examinei-vos a vós mesmos, se
permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos." - Paulo.
Foram considerações dessa ordem que nos
assaltaram a alma, quando estivemos em face de provações que nos pareceram
perto da fronteira. Reexaminamos o nosso comportamento no passado, rememoramos
erros cometidos e posteriormente evitados, tanto quanto nos permite o nível
espiritual apagado em que nos achamos. Fizemos uma "autópsia" das
ideias que nos têm ocorrido no curso da existência e experimentamos um
contentamento sadio, ao nos aproximarmos da época em que fomos trazidos ao
Espiritismo. Recordamos a mão que nos estendeu Ignácio Bittencourt, por seu
exemplo abnegado; revivemos a ajuda que nos deram amigos, hoje do outro lado da
Vida, honestamente empenhados de nos ver na estrada que conduzia ao Cristo;
ressentimos a mão de Wantuil de Freitas e a palavra de Manuel Quintão, a nos
oferecerem posição estável na senda espírita, contribuindo, assim, para
consolidar a opção que havíamos feito.
Estávamos quase defrontando a hora crucial do
testemunho, embora ela ainda não chegasse, como supúnhamos. A advertência de
André Luiz nos aflorou à mente: "Nos cometimentos, identificar a Vontade
Superior, promovendo em toda parte a segurança e a felicidade das criaturas.
Cada coração humano é uma peça de luz potencial e Jesus é o Sublime
Artífice." Não esquecemos que Ele é a Luz do Mundo e que "o
acatamento é prece silenciosa", frase também de André Luiz.
A hora crucial do testemunho, se soubermos
aproveitá-la, muito nos aliviará e provará a Deus o que somos na verdade, o que
na verdade aprendemos e o que verdadeiramente poderemos fazer no momento
decisivo. Que sejamos dignos do Espiritismo, para que possamos honrar as
bênçãos que sempre são dadas por misericórdia do Alto. A nada mais aspiramos.
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Abril 1978
Nenhum comentário:
Postar um comentário