sexta-feira, 22 de junho de 2012

OS TALISMÃS - MEDALHA CABALÍSTICA


O Sr. M... havia comprado em segunda mão uma medalha que lhe pareceu notável por sua singularidade. Era do tamanho de um escudo de seis libras; tinha o aspecto da prata, embora um pouco acinzentada. Sobre ambas as faces estão gravadas, em baixo-relevo, uma porção de sinais, entre os quais se nota planetas, círculos entrelaçados, um triângulo, palavras ininteligíveis e iniciais em caracteres vulgares; depois, outros em caracteres bizarros, lembrando o árabe, tudo disposto de modo cabalístico, conforme o gênero utilizado pelos mágicos.

Tendo o Sr. M... interrogado a senhorita J..., médium sonâmbula, a respeito dessa medalha, foi-lhe respondido que era composta de sete metais, havia pertencido a Cazotte e tinha o poder especial de atrair os Espíritos e facilitar as evocações. O Sr. De Caudemberg, autor de uma série de comunicações que, como médium, dizia ter recebido da Virgem Maria, disse-lhe que era uma coisa maléfica, destinada a atrair os demônios. A senhorita Guldenstubé, médium, irmã do barão de Guldenstubé, autor de uma obra sobre pneumatografia, ou escrita direta, garantiu que a medalha possuía uma virtude magnética e poderia provocar o sonambulismo.

Pouco satisfeito com essas respostas contraditórias, o Sr. M... apresentou-nos a medalha, pedindo nossa opinião pessoal a respeito e, ao mesmo tempo, solicitando interrogássemos um Espírito superior a propósito de seu real valor, do ponto de vista da influência que pudesse ter. Eis a nossa resposta:

Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo pensamento, e não pelos objetos materiais, que nenhum poder exercem sobre eles. EM TODOS OS TEMPOS OS ESPÍRITOS SUPERIORES TEM CONDENADO O EMPREGO DE SINAIS E DE FORMAS CABALÍSTICAS, DE MODO QUE TODO ESPÍRITO QUE LHES ATRIBUIR UMA VIRTUDE QUALQUER, OU QUE PRETENDER OFERECER TALISMÃS COMO OBJETO DE MAGIA, POR ISSO MESMO REVELARÁ A SUA INFERIORIDADE, QUER QUANDO AGE DE BOA-FÉ E POR IGNORÂNCIA, EM CONSEQUÊNCIA DE ANTIGOS PRECONCEITOS TERRESTES DE QUE AINDA SEACHA IMBUÍDO, QUER QUANDO, COMO ESPÍRITO ZOMBETEIRO, SE DIVERTE CONSCIENTEMENTE COM A CREDULIDADE ALHEIA. Quando não traduzem pura fantasia, os sinais cabalísticos são símbolos que lembram crenças supersticiosas na virtude de certas coisas, como os números, os planetas e sua concordância com os metais, crenças que foram geradas nos tempos da ignorância e que repousam sobre erros manifestos, aos quais a Ciência fez justiça, ao revelar o que existe sobre os pretensos sete planetas, os sete metais, etc. A forma mística e ininteligível desses emblemas tinha por objetivo a sua imposição ao vulgo, sempre inclinado a considerar maravilhoso tudo aquilo que é incapaz de compreender. Quem quer que tenha estudado racionalmente a natureza dos Espíritos não poderá admitir que, sobre eles, se exerça a influência de formas convencionais, nem de substâncias misturadas em certas proporções; seria renovar as práticas do caldeirão das feiticeiras, dos gatos negros, das galinhas pretas e de outros sortilégios. Não podemos dizer a mesma coisa de um objeto magnetizado que, como se sabe, tem o poder de provocar o sonambulismo ou certos fenômenos nervosos sobre o organismo.

Nesse caso, porém, a virtude do objeto reside unicamente no fluido de que se acha momentaneamente impregnado e que assim se transmite, por via mediata, e não em sua forma, em sua cor e nem, sobretudo, nos sinais de que possa estar sobrecarregado.

Um Espírito pode dizer: “Traçai tal sinal e, à vista dele, reconhecerei que me chamais, e virei”; nesse caso, todavia, o sinal traçado é apenas a expressão do pensamento; é uma evocação traduzida de modo material. Ora, os Espíritos, seja qual for a sua natureza, não necessitam de semelhantes artifícios para se comunicarem; os Espíritos superiores jamais os empregam; os inferiores podem fazê-lo visando fascinar a imaginação das pessoas crédulas que querem manter sob dependência. Regra geral: para os Espíritos superiores a forma nada é; o pensamento é tudo. Todo Espírito que liga mais importância à forma do que ao fundo, é inferior e não merece nenhuma confiança, mesmo quando, vez por outra, diga algumas coisas boas, porquanto essas boas coisas freqüentemente são um meio de sedução.

Tal era, de maneira geral, nosso pensamento a respeito dos talismãs, como meio de entrar em relação com os Espíritos.

Evidentemente que se aplica também àqueles que a superstição emprega como preservativos de moléstias ou acidentes.

Entretanto, para edificação do proprietário da medalha, e para um melhor aprofundamento da questão, na sessão de 17 de julho de 1858 pedimos a São Luís, que conosco se comunica de bom grado sempre que se trata de nossa instrução, que nos desse sua opinião a respeito. Interrogado sobre o valor da medalha, eis qual foi sua resposta:

“Fazeis bem em não admitir que objetos materiais possam exercer qualquer influência sobre as manifestações, quer para as provocar, quer para as impedir. Temos dito com bastante freqüência que as manifestações são espontâneas e que, além disso, jamais nos recusamos a atender ao vosso apelo. Por que pensais que sejamos obrigados a obedecer a uma coisa fabricada pelos seres humanos?

P. – Com que finalidade foi feita essa medalha?

Resp. – Foi fabricada com o objetivo de chamar a atenção das pessoas que nela gostariam de crer; porém, apenas por magnetizadores poderá ter sido feita, com a intenção de magnetizar e adormecer um sensitivo. Os signos nada mais são que fantasia.

P. – Dizem que pertenceu a Cazotte; poderíamos evoca-lo, a fim de obtermos alguns ensinamentos a esse respeito?

Resp. – “Não é necessário; ocupai-vos preferentemente de coisas mais sérias.”.


REVISTAESPÍRITA – SETEMBRO DE 1858

quinta-feira, 21 de junho de 2012

DEVE-SE PUBLICAR TUDO QUANTO DIZEM OS ESPÍRITOS?


Esta questão nos foi dirigida por um de nossos correspondentes e a ela respondemos por meio de outra pergunta:

Seria bom publicar tudo quanto dizem e pensam os homens?

Quem quer que possua uma noção do Espiritismo, por mais superficial que seja, sabe que o mundo invisível é composto de todos os que deixaram na Terra o envoltório visível. Entretanto, pelo fato de se haverem despojado do homem carnal, nem por isso os Espíritos se revestiram da túnica dos anjos. Encontramo-los de todos os graus de conhecimento e de ignorância, de moralidade e de imoralidade; eis o que não devemos perder de vista. Não esqueçamos que entre os Espíritos, assim como na Terra, há seres levianos, estouvados e zombeteiros; pseudo-sábios, vãos e orgulhosos, de um saber incompleto; hipócritas, malvados e, o que nos pareceria inexplicável, se de algum modo não conhecêssemos a fisiologia desse mundo, existem os sensuais, os ignóbeis e os devassos, que se arrastam na lama. Ao lado disto, tal como ocorre na Terra, temos seres bons, humanos, benevolentes, esclarecidos, de sublimes virtudes; como, porém, nosso mundo não se encontra nem na primeira, nem na última posição, embora mais vizinho da última que da primeira, resulta que o mundo dos Espíritos compreende seres mais avançados intelectual e moralmente que os nossos homens mais esclarecidos, e outros que ainda estão abaixo dos homens mais inferiores.

Desde que esses seres têm um meio patente de comunicar-se com os homens, de exprimir os pensamentos por sinais inteligíveis, suas comunicações devem ser o reflexo de seus sentimentos, de suas qualidades ou de seus vícios. Serão levianas, triviais, grosseiras, mesmo obscenas, sábias, sensatas e sublimes, conforme seu caráter e sua elevação. Revelam-se por sua própria linguagem; daí a necessidade de não se aceitar cegamente tudo quanto vem do mundo oculto, e submetê-lo a um controle severo.

Com as comunicações de certos Espíritos, do mesmo modo que com os discursos de certos homens, poderíamos fazer uma coletânea muito pouco edificante. Temos sob os olhos uma pequena obra inglesa, publicada na América, que é a prova disto, e cuja leitura, podemos dizer, uma mãe não recomendaria à filha. Eis a razão por que não a recomendamos aos nossos leitores. Há pessoas que acham isso engraçado e divertido. Que se deliciem na intimidade, mas que o guardem para si mesmas. O que é ainda menos concebível é se vangloriarem de obter comunicações indecorosas; é sempre indício de simpatias que não podem ser motivo de vaidade, sobretudo quando essas comunicações são espontâneas e persistentes, como acontece a certas pessoas. Sem dúvida isto nada prejulga em relação à sua moralidade atual, porquanto encontramos criaturas atormentadas por esse gênero de obsessão, ao qual de modo algum se pode prestar o seu caráter.

Entretanto, este efeito deve ter uma causa, como todos os efeitos; se não a encontramos na existência presente, devemos buscá-la numa vida anterior. Se não estiver em nós, estará fora de nós, mas sempre nos achamos nessa situação por algum motivo, ainda que seja pela fraqueza de caráter. Conhecida a causa, depende de nós fazê-la cessar.

Ao lado dessas comunicações francamente más, e que  chocam qualquer ouvido delicado, outras há que são simplesmente triviais ou ridículas. Haverá inconvenientes em publicá-las? Se forem dadas pelo que valem, serão apenas impróprias; se o forem como estudo do gênero, com as devidas precauções, os comentários e os corretivos necessários, poderão mesmo ser instrutivas, naquilo que contribuírem para tornar conhecido o mundo espiritual em todos os seus aspectos. Com prudência e habilidade tudo pode ser dito; o mal é dar como sérias coisas que chocam o bom-senso, a razão e as conveniências. Neste caso, o perigo é maior do que se pensa. Em primeiro lugar, essas publicações têm o inconveniente de induzir em erro as pessoas que não estão em condições de aprofundá-las nem de discernir o verdadeiro do falso, especialmente numa questão tão nova como o Espiritismo. Em segundo lugar, são armas fornecidas aos adversários, que não perdem tempo em tirar desse fato argumentos contra a alta moralidade do ensino espírita; porque, insistimos, o mal está em considerar como sérias coisas que constituem notórios absurdos. Alguns mesmos podem ver uma profanação no papel ridículo que emprestamos a certas personagens justamente veneradas, e às quais atribuímos uma linguagem indigna delas.

Aqueles que estudaram a fundo a ciência espírita sabem como se portar a esse respeito. Sabem que os Espíritos galhofeiros não têm o menor escrúpulo de se adornarem de nomes respeitáveis; mas sabem também que esses Espíritos não abusam senão daqueles que gostam de se deixar abusar, e que não sabem ou não querem desmascarar as suas astúcias pelos meios de controle que conhecemos. O público, que ignora isso, vê apenas um absurdo oferecido seriamente à sua admiração, o que faz com que diga: Se todos os espíritas são assim, merecem o epíteto com que foram agraciados. Sem sombra de dúvida, esse julgamento não pode ser levado em consideração; vós os acusais com justa razão de leviandade. Dizei a eles: Estudai o assunto e não examineis apenas uma face da moeda. Entretanto, há tantas pessoas que julgam a priori, sem se darem ao trabalho de virar a folha, sobretudo quando falta boa vontade, que é necessário evitar tudo quanto possa dar motivos a decisões precipitadas, porquanto, se à má vontade vier juntar-se a malevolência, o que é muito comum, ficarão encantadas de encontrar o que criticar.

Mais tarde, quando o Espiritismo estiver mais vulgarizado, mais conhecido e compreendido pelas massas essas publicações não terão maior influência do que hoje teria um livro que encerasse heresias científicas. Até lá, nunca seria demasiada a circunspeção, visto haver comunicações que podem prejudicar essencialmente a causa que querem defender, em intensidade superior aos ataques grosseiros e às injúrias de certos adversários; se algumas fossem feitas com tal objetivo, não alcançariam melhor êxito. O erro de certos autores é escrever sobre um assunto antes de tê-lo aprofundando suficientemente, dando lugar, desse modo, a uma crítica fundamentada. Queixam-se do julgamento temerário de seus antagonistas, sem se darem conta de que muitas vezes são eles mesmos que exibem uma falha na couraça. Aliás, malgrado todas as precauções, seria presunção julgarem-se ao abrigo de toda crítica: primeiro, porque é impossível contentar a todo o mundo; em segundo lugar, porque há pessoas que riem de tudo, mesmo das coisas mais sérias, uns por seu estado, outros por seu caráter. Riem muito da religião, de sorte que não é de admirar que riam dos Espíritos, que não conhecem. Se pelo menos suas brincadeiras fossem espirituosas, haveria compensação. Infelizmente, em geral não brilham nem pela finura, nem pelo bom gosto, nem pela urbanidade e muito menos pela lógica. Façamos, então, o que de melhor estiver ao nosso alcance. Pondo de nosso lado a razão e as conveniências, poremos de lado também os trocistas.

Essas considerações serão facilmente compreendidas por todos. Há, porém, uma não menos importante, que diz respeito à própria natureza das comunicações espíritas, e que não devemos omitir: Os Espíritos vão aonde acham simpatia e onde sabem que serão ouvidos. As comunicações grosseiras e inconvenientes, ou simplesmente falsas, absurdas e ridículas, não podem emanar senão de Espíritos inferiores: o simples bom-senso o indica. Esses Espíritos fazem o que fazem os homens que são ouvidos complacentemente: ligam-se àqueles que admiram as suas tolices e, freqüentemente, se apoderam deles e os dominam a ponto de os fascinar e subjugar. A importância que, pela publicidade, é concedida às suas comunicações, os atrai, excita e encoraja. O único e verdadeiro meio de os afastar é provar-lhes que não nos deixamos enganar, rejeitando impiedosamente, como apócrifo e suspeito, tudo que não for racional, tudo que desmentir a superioridade que se atribui ao Espírito que se manifesta e de cujo nome ele se reveste. Quando, então, vê que perde seu tempo, afasta-se.

Acreditamos ter respondido suficientemente à pergunta do nosso correspondente sobre a conveniência e a oportunidade de certas publicações espíritas. Publicar sem exame, ou sem correção, tudo quanto vem dessa fonte seria, em nossa opinião, dar prova de pouco discernimento. Tal é, pelo menos, a nossa opinião pessoal, que submetemos à apreciação daqueles que, estando desinteressados pela questão, podem julgar com imparcialidade, pondo de lado qualquer consideração individual. Como todo mundo, temos o direito de externar a nossa maneira de pensar sobre a ciência que constitui o objeto de nossos estudos, e de tratá-la à nossa maneira, sem pretender impor nossas idéias a quem quer que seja, nem apresentá-las como leis. Os que partilham a nossa maneira de ver é porque crêem, como nós, estar com a verdade. O futuro mostrará quem está errado ou quem tem razão.



Allan Kardec

Revista Espírita Novembro 1859

quarta-feira, 20 de junho de 2012

ADVERSIDADES


São muitos os inimigos e adversários que temos de enfrentar em nossas vidas. Tanto no ser eterno quanto no corpo denso, arrostamos inimigos que se instalam em forma de enfermidades físicas e morais. Aquelas acometem o corpo somático; estas infestam a alma imortal.

As primeiras decorrem de causas diversificadas tais como a degeneração dos próprios órgãos e tecidos pela ação do tempo; o mal uso a que submetemos nosso corpo, sujeitando-o a vícios e abusos variados como o do fumo, do álcool, o dos entorpecentes, o dos desregramentos sexuais, a demasiada alimentação e o insuficiente repouso, a inadequada atividade ou a excessiva inação, além de muitos outros hábitos perniciosos.

Dentre os vícios que mais danos acarretam destacam-se o tabagismo, o alcoolismo e o consumo de várias drogas.

A submissão ao fumo leva a pessoa a expor a função pulmonar a risco muitas vezes fatal como o do enfisema, que além de reduzir a capacidade respiratória torna-a penosa e dolorosa, acarretando conseqüências danosas a outros órgãos com sacrifício do metabolismo humano. Por sua vez, a viciação em bebidas alcoólicas trará, forçosamente, o entorpecimento do fígado, facilitando o advento da cirrose e várias outras moléstias, afetando, inclusive, o sistema nervoso. Conduz, pois, inexoravelmente, a criatura à degradação.

Quanto às drogas, ninguém mais pode ter dúvidas da degeneração que impõem ao indivíduo, tanto ao que a elas está subjugado quanto àquele que as mercadeja. São as criaturas incursas nas penalidades decorrentes das graves violações das leis naturais e humanas.

Sabemos que na Terra as doenças são numerosas e têm sido preocupação constante do homem. A Ciência mostra que se não fossem as defesas naturais do corpo humano, as descobertas dos microorganismos com o advento do microscópio, as vacinas, as assepsias já alcançadas e outras conquistas, o panorama das enfermidades seria ainda mais apavorante.

Dentre aquelas defesas mencionadas, os pesquisadores apontam o envolvimento do corpo humano pela pele, derma e epiderme, como uma barreira à penetração de microorganismos e até com capacidade para exterminar muitos que ali se depositam. As mucosas nasal, pulmonar, intestinal, etc. são outros tantos obstáculos de que a Natureza dispõe para defender o organismo humano contra a incursão externa perigosa e indesejável. Mas, internamente, dispõe o corpo humano de organização a serviço de sua defesa. São mecanismos de autodefesa automaticamente acionados e que entram imediatamente em atividade sempre que ocorre uma lesão, um risco, uma invasão microbiana, etc.

Os medicamentos, as diversas terapias, os hábitos saudáveis e higiênicos e outros fatores são outros tantos recursos de defesa do organismo humano. Mas, além desses meios que fazem parte da matéria densa, há outros pouco ou menos conhecidos, mas também relacionados com a nossa integridade física e que constituem seus poderosos defensores os quais, entretanto, não estão catalogados pela ciência do mundo. No futuro, quando a luz se fizer nos horizontes dos observadores atentos, eles irão constatar a efetiva existência de outras proteções. Exemplo típico é o da aura humana. A vibração das nossas células faz com que emitam radiações que formam um halo energético em torno de nós semelhante a uma túnica eletromagnética. É o que constitui a aura e dentre as suas funções podemos citar que representa defesa do corpo contra várias espécies de microorganismos. Saliente-se, contudo, que ainda não foi devidamente considerada pela ciência oficial.

Mas não é só. As energias cósmicas, a luz solar, os fluidos ainda não pesquisados constituem poderosos elementos a serviço da saúde humana, atuantes permanentemente, a despeito e à revelia da nossa ignorância e da insensibilidade em face da sua ação e eficácia.

Em síntese, estão mencionados alguns dos inimigos do corpo humano e dos modos de defendê-lo. Assim, esses infortúnios fundamentam a nossa constante preocupação em virtude da perspectiva que representam de dores e sofrimentos ou até a da própria morte.

Mas há outros males que se instalam em nosso interior e parecem ter vida simbiótica em nossa alma, em processos doentios demorados, de difícil erradicação. O egoísmo, o orgulho, a vaidade, o desânimo, a inveja, o ciúme, o ódio e tantos outros que infestam a alma tornando-a enfermiça e terminam por impor ao próprio corpo físico conseqüências mórbidas dolorosas.

Todas as desditas humanas decorrem da inobservância e da infringência das leis divinas, resultam das nossas imperfeições, as quais ditam nossos procedimentos malévolos com os semelhantes, advindo daí os efeitos desastrosos a despontarem em nosso caminho.

O renascimento em mundos como a Terra já revela a presença de imperfeições e os quadros dolorosos de nossas vidas também constituem, muitas vezes, seguros indicadores de que, de alguma maneira, deixamos de observar a obrigação de fazer o bem ao semelhante ou, mais grave ainda, demonstram outras vezes claramente, que nossas feridas são resultantes de outras tantas chagas abertas, outrora, por nós em irmãos do caminho.

Há nas leis naturais escala verdadeira de valores, a qual, quando devidamente observada e adotada, impulsiona o progresso da criatura, aperfeiçoando-lhe a alma imortal.

Sabemos que a situação social das pessoas é tão variada como o são suas atividades. Seu comportamento também é diversificado de conformidade com seu adiantamento moral.

Portanto, os valores são escalonados sob os aspectos moral, econômico e intelectual. Perante as leis naturais nada impede que essas três condições coexistam na criatura, em elevado grau, ou cada qual isoladamente. Todavia, somente o aperfeiçoamento moral caracteriza o verdadeiro progresso perante as normas divinas.

Muitas pessoas que ocupam posições sociais elevadas e até mesmo no exercício de funções e atividades religiosas relevantes, diante das disposições divinas, são havidas como deficientes em termos de bondade, compreensão, fraternidade, em razão de seus comportamentos no trato com os semelhantes. Não é raro observar-se a desatenção com que tratam as pessoas. Entendem que as altas funções que exercem no seio da sociedade são mais importantes do que as próprias criaturas. Sempre ocupadas e apressadas não podem dispensar um instante sequer a um irmão, a um amigo do caminho. Alegam que não dispõem de tempo. Seus próprios filhos são tratados como se fossem estranhos. Não têm tempo para amá-los, para educá-los na faculdade de amar. Esquecem-se tais criaturas que o tempo é algoz dos que erram e abençoado bálsamo dos injustiçados. Que o importante é a pessoa é o próximo, o nosso semelhante. O que conta no fim da trilha que leva ao túmulo é o amor que se dedica e este é a chave que abre a porta para a senda de luz e felicidade depois do sepulcro.

O menosprezo dessa verdade enseja muitas adversidades no futuro.

Portanto, não basta abstermo-nos de praticar o mal. Os princípios universais que regulam a evolução impõem-nos o dever de promover sempre o bem do próximo.

Todos nós na Terra enfrentamos dificuldades inumeráveis, as quais fazem parte do processo evolutivo. Mas as dores e vicissitudes, antes de tudo, devem sempre servir de alerta de que jamais devemos impô-las aos semelhantes.

Permanentemente temos de lembrar-nos de que vivemos cercados pela Infinita Misericórdia a começar pelo dom da vida, pelas possibilidades de amar e de ser amados, de servir e pagar dívidas, de trabalhar e evoluir, de recolher a cada manhã como raios de luz a renascente esperança de felicidade e a certeza de que a morte não existe.



Reformador Ago.97

sexta-feira, 1 de junho de 2012

A VOCÊ QUE ESTA CHEGANDO

Hoje a palavra é para você, companheiro de muitas procuras, que chega à Casa Espírita em busca do bálsamo que alivie uma grande dor, da palavra que ajude a superar um momento de crise ou que preencha algum “não sei quê?” esquisito que lhe deixa enorme vazio cá dentro do peito.

Talvez esta seja a derradeira porta, após tantas tentativas de encontrar o equilíbrio, a paz, enfim, o sentido da vida. E o seu coração se divide agora entre esperanças e temores. Afinal, foram tantas as frustrações... Mas, como diz a canção da Zizi Possi...

“Vá, e entre por aquela porta ali, não tem caminho fácil não, é só dar um tempo que o amor chega até você”...

Pois é, amigo, grupos espíritas não são igrejas. São espaços fraternos de vivência do Evangelho de Jesus, à luz da Doutrina Espírita, uma espécie de oficinas do bem, onde se busca, em conjunto, aprender e exercitar esse tão decantado amor ao próximo.

Então, por favor, não nos idealize. Não espere uma bondade e elevação que ainda não possuímos.

O espírita professa uma fé racional que, facilitando a compreensão dos porquês da existência, aumenta também a responsabilidade de uma mudança de atitude para melhor diante dos desafios cotidianos da vida.

Porém, não nos enganamos, nem queremos lhe enganar a respeito de quem somos. Somos exatamente como você. Sentimos as mesmas dificuldades afetivas, emocionais, sexuais, espirituais e tantas outras, inerentes à nossa condição humana de seres em evolução. Estamos todos no mesmo barco, amigo, mas remar juntos para chegarmos em segurança à outra margem da vida – que é o nosso destino e lugar de origem – certamente fará toda a diferença. E isto nós queremos e podemos fazer.

Não temos rituais ou chefes religiosos. Trabalhamos em regime de cooperação fraterna e voluntária, conforme as aptidões e disponibilidades de cada um, em benefício de todos os que aqui chegam. Por isto, querido amigo, ao entrar por aquela porta, não espere encontrar sacerdotes investidos de superioridade ou poder.

Não espere encontrar um grupo seleto de iniciados em “mistérios do Além” ou indivíduos infalíveis que lhe digam, a todo tempo, o que fazer, pois encontrará apenas pessoas comuns, com muitas certezas e convicções sim, mas também com crises e inseguranças, tais como as suas.

Aqui você vai encontrar aprendizes na arte de servir. Gente que se sente feliz em contribuir para a felicidade alheia, pessoas sempre prontas a acolher, ouvir e amparar. Não suponha, porém, que estejamos isentos de provas e problemas. Assim como você, lutamos e sofremos. Apenas optamos pela ação no bem como forma de trabalhar em nós mesmos o próprio aperfeiçoamento, contribuindo para a construção de uma sociedade melhor, ao mesmo tempo em que buscamos, no estudo e no trabalho, as respostas e a coragem necessárias para enfrentar as nossas próprias batalhas na arena da vida.

Entre nós, encontrará também companheiros esforçados na tarefa de consolar e esclarecer.

Não nos tenha, porém, como sábios inquestionáveis ou seres santificados.

Assim como você, não vivemos alheios às dificuldades do mundo. Creia, amigo, o nosso maior desafio é exemplificar, na prática, as verdades espirituais que conhecemos e pregamos. No dia a dia, sobretudo lá fora, esforçamo-nos por ser pessoas mais pacificadoras, generosas, fraternais, e, sinceramente, nem sempre o conseguimos...

Mas, se é grande ainda a nossa imperfeição, maior é a alegria de vê-lo chegar. E assim como Pedro, o apóstolo rude e sincero de Jesus, apesar do reconhecimento da nossa pequenez humana e espiritual, é muito bom poder aconchegá-lo com carinho e lhe dizer do fundo do coração:

“Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho vos dou”. (Atos, 3:6.)

Caminhemos juntos!



Reformador Dez.2009