domingo, 19 de agosto de 2012

AÇÃO ESPÍRITA CONTRA A PROSTITUIÇÃO INFANTO-JUVENIL



No grande capítulo da sexualidade humana, o direito de expressão e de escolha dos relacionamentos em cotejo com a evolução da compreensão acerca dos sentimentos e manifestações simbolizam a caminhada do ser rumo à espiritualização. Em tempos de inúmeras e pungentes dúvidas sobre a expressão sexual, em que reconhecemos, por vezes, nossa incapacidade de compreensão total das atitudes e preferências humanas, neste campo, ressoa uma unanimidade: a individualidade espiritual, senhora de si mesma, adota em regra os posicionamentos que sua consciência franquear e arca com as conseqüências diretas (nesta e nas vivências futuras), conforme os mecanismos de aplicabilidade da Justiça Divina – nela compreendida a sistemática de causa e efeito.

Todavia, só podemos pensar em responsabilização espiritual plena, se estivermos diante de criaturas em idade cronológica e psicológica capaz de aferir a condição de aquilatar seus atos e de prever as ocorrências futuras. Isto só é possível, em regra, a partir da maturidade biológica que, em geral, se materializa a partir dos 16 anos. Antes disso, na chamada infância e, até, na adolescência, a notória condição de hipossuficiência destes indivíduos – portadores que são, relativamente, de direitos e deveres na ordem civil – impõe à Sociedade um conjunto de medidas sócio-assistenciais, jurídicas ou não, para a proteção integral de nossas crianças e jovens. Daí a existência, nas principais nações do Mundo e, também, no Brasil, de um avançado código de normas protecionistas, evitando-se o (ainda maior) desrespeito aos direitos deste contingente populacional.

Um recente relatório decorrente de estudos desenvolvidos em parceria da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com o Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF) aponta para a existência de 1819 pontos vulneráveis à exploração sexual infanto-juvenil em rodovias federais brasileiras. O conceito de “ponto vulnerável” enquadra ambientes cujas características, localização ou finalidades favorecem ou encobrem a atividade de “venda de sexo”, envolvendo menores – prática considerada criminosa em nosso país – como postos de gasolina, hotéis, boates, restaurantes e, até, estacionamentos de caminhões, estimando-se que, em um determinado ponto possa existir um ou mais estabelecimentos que favorecem ao crime.

Esta diagnose deve ser suficiente para provocar medidas corretivas, repressoras e/ou protecionistas, não só por parte dos órgãos policiais e judiciais, mas de toda a Sociedade, contando, ainda, com a participação ativa dos cidadãos, já que o problema é de todos e a conscientização e a ação efetiva são as armas de que dispomos para enfrentá-lo. Assim sendo, todos somos responsáveis na divulgação da proteção destinada a crianças e adolescentes bem como devemos atuar na repressão direta a atitudes de exploração sexual daqueles, denunciando a existência de locais ou a participação de pessoas promovendo ou acobertando ações delituosas, utilizando os telefones disponibilizados, em sua cidade, para contato com os Conselhos de Direitos da Criança ou do Adolescente, ou, mesmo, os números da Polícia Rodoviária Federal (191) e da Polícia Militar (190).

Em paralelo, em termos de ações institucionais espíritas, seria recomendável uma participação mais efetiva junto a tais conselhos, empreendendo trabalho conjunto, voluntário, assim como distribuindo, nas próprias instituições e em locais considerados “suspeitos” de promover o crime, material explicativo e oportuno.

É tempo, pois, dos bons, ora tímidos e fracos, conforme a diretriz contida na questão n. 932, de O livro dos espíritos, sobrepujarem os maus, intrigantes e audaciosos, já que esta superação de uns pelos outros, na defesa dos valores espirituais, é tarefa que só dos primeiros depende: “Quando estes o quiserem, preponderarão.”



Marcelo Henrique Pereira, Mestre em Ciência Jurídica

sábado, 11 de agosto de 2012

PRECE PELO MEU PAI


Onipotente Deus, que a tua misericórdia se derrame sobre a alma de meu pai, a quem acabaste de chamar da Terra. Possam ser-lhe contadas as provas que aqui sofreu, bem como ter suavizadas e encurtadas as penas que ainda haja de suportar na Espiritualidade!

       Bons Espíritos que o viestes receber e tu, particularmente, seu anjo guardião, ajudai-o a despojar-se da matéria; dai-lhe luz e a consciência de si mesmo, a fim de que saia ileso da perturbação inerente à passagem da vida corpórea para a vida espiritual. Inspirai-lhe o arrependimento das faltas que haja cometido e o desejo de obter permissão para as reparar, a fim de acelerar o seu avanço rumo à vida eterna bem-aventurada.

Pai, acabas de entrar no mundo dos Espíritos e, no entanto, presente aqui te achas entre nós; tu nos vês e ouves, por isso que de menos do que havia, entre ti e nós, só há o corpo perecível que vens de abandonar e que em breve estará reduzido a pó.

Despiste o envoltório grosseiro, sujeito a vicissitudes e à morte, e conservaste apenas o envoltório etéreo, imperecível e inacessível aos sofrimentos. Já não vives pelo corpo; vives da vida dos Espíritos, vida essa isenta das misérias que afligem a Humanidade.

Já não tens diante de ti o véu que às nossas vistas oculta os esplendores da vida no

Além. Podes, doravante, contemplar novas maravilhas, ao passo que nós ainda continuamos mergulhados em trevas.

Vais, em plena liberdade, percorrer o espaço e visitar os mundos, enquanto nós rastejaremos penosamente na Terra, à qual se conserva preso o nosso corpo material, semelhante, para nós, a pesado fardo.

 Diante de ti, vai desenrolar-se o panorama do Infinito e, em face de tanta grandeza, compreenderás a vacuidade dos nossos desejos terrestres, das nossas ambições mundanas e dos gozos fúteis com que os homens tanto se deleitam.

 A morte, para os homens, mais não é do que uma separação material de alguns instantes. Do exílio onde ainda nos retém a vontade de Deus, bem assim os deveres que nos correm neste mundo, acompanhar-te-emos pelo pensamento, até que nos seja permitido juntar-nos a ti, como tu te reuniste aos que te precederam.

Não podemos ir onde te achas, mas tu podes vir ter conosco. Vem, pois, aos que te amam e que tu amaste; ampara-nos nas provas da vida; vela pelos que te são caros; protege-nos, como puderes; suaviza-lhes os pesares, fazendo-lhes perceber, pelo pensamento, que és mais ditoso agora e dando-lhes a consoladora certeza de que um dia estareis todos reunidos num mundo melhor.

 Nesse, onde te encontras, devem extinguir-se todos os ressentimentos. Que a eles, daqui em diante, sejas inacessível, a bem da tua felicidade futura! Perdoa, portanto, aos que hajam incorrido em falta para contigo, como eles te perdoam as que tenhas cometido para com eles.

 Assim seja.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A ALEGRIA DE SER ESPÍRITA


“Querem escravos para os sistemas falaciosos que mentalizam, quando Jesus deseja te faças livre para a conquista da própria felicidade.” Emmanuel1



“Mãe estou aqui!” A psicografia, assinada por uma garota que desencarnara aos 14 anos e voltava para amparar a inconsolável mãezinha, é o retrato da era que começa a se delinear na Terra.

O próprio Allan Kardec fez a evocação e registrou a conversa na edição de lançamento da Revista Espírita,2 em janeiro de 1858.

Ante as provas contundentes da identidade de Júlia, o Codificador indagou aos leitores: “[...] quem ousaria falar do vazio do túmulo, quando a vida futura se nos revela assim tão palpável?”.

O Espiritismo é o sol de nossas vidas. Alegremo-nos em saber que não estamos sós, pois a morte foi desmistificada e todos os dias – na bendita seara espírita – temos provas da justiça e da perfeição absoluta das leis divinas. Cansados do vazio secular que nos invadia a alma em turvação, entre erros crassos, viciações e crimes, ora desperdiçando encarnações, ora malbaratando o tempo na erraticidade, fomos chamados à iluminação de nós mesmos. Eis a fonte de alegria perene dos nossos dias...

Retirados dos escombros morais, resgatados por almas afins ou mentores espirituais, percorremos longos caminhos e estudos para estarmos aqui hoje, irmanados no grande ideal tão bem expressado nas obras básicas da Codificação. O Evangelho hoje renasce das cinzas a que foi relegado pela nossa própria ignorância, em tempos não tão longínquos...

Incitam-nos Emmanuel e Bezerra de Menezes, entre outros benfeitores, a aplicarmos as lições de Jesus a nós, primeiramente, depois ao lar, por fim ao mundo...

Quanta alegria em saber que até os espinhos colaboram em nossa ascensão, ainda quando provenientes dos que mais amamos!

A mentora do médium Divaldo Pereira Franco, Joanna de Ângelis, na obra Alegria de Viver, 3 nos faz um apelo sublime, mas não pela alegria estúrdia dos que riem sem saber o porquê. A referida obra concita-nos à alegria existencial, inspirada nas bem-aventuranças que o Cristo proclamou. A alegria do dever cumprido, da quitação, de conviver em sociedade, de saber obedecer a Deus.

A bandeira de luz que levamos adiante é rota segura. Ainda nos momentos de dor suprema, termo inspirado em obra homônima do Espírito Victor Hugo,4 a misericórdia do Pai estende-se aos filhos sequiosos do pão da vida. Não há existência sem motivo, não há um homem sequer criado para a inutilidade, nada que nos alcance sem objetivo providencial e útil, quando vemos o mundo pela ótica espírita. As aflições são justas, ensina-nos O Evangelho segundo o Espiritismo, mas não cultuemos a dor e a expiação.

Que falar da justiça? O escritor Vinícius (Pedro de Camargo) escreveu que a lei mosaica era “prelúdio de justiça”,5 limitando a vingança a ato equivalente ao mal sofrido. Ou seja, visava impedir reações desproporcionais. “Nosso orbe [...] não chegou sequer a integrar-se no vetusto e rude dispositivo da legislação hebraica”, diz. Quanta alegria em conhecermos a justiça mais branda, inspirada na lição inesquecível do Mestre de nossas vidas, de fazer ao próximo o que gostaríamos que nos fizessem!

Que estejamos sendo veículos do prelúdio dessa outra justiça, mais espiritualizada, a do Cristo!

Amando e reconstruindo vidas, em vez de apenas cumprir leis e regras para cercear e punir. Cultuando pensamentos, palavras e atos voltados ao bem, ainda que por ora sejamos meros vasos de barro, na acepção evangélica. Façamo-nos a pergunta: servimos a quem, sob a luz retumbante que rasgou os dogmas e o academicismo, iluminando-nos como ao peixinho vermelho, citado por Emmanuel em Libertação?6

Quanta gratidão à Doutrina de nossas vidas, que nos elucidou, após séculos de procuras infrutíferas, o verdadeiro sentido da caridade que salva! A definição surge em O Livro dos Espíritos, questão 886: “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”.7 Aprendemos que a caridade não se faz apenas com a moeda que sobra nos bolsos e aplicações financeiras, mas também no sorriso generoso, que se torna verdadeiro cartão de visita do espírita e dos ideais que professa.

Quantas benesses e quanto refrigério em saber que nossa elevação não depende de indulgências e favores, mas apenas de nós mesmos!

Quanta justiça! Não se compra um céu de fantasias nem se herda um inferno injusto, mas se conquista a evolução, dia a dia, com a renovação moral. Que importam, então, as pequenas diferenças?

Aprendamos a servir amando, unidos, como uma família disciplinada ante o “dirigente” maior, Jesus.

Quantas bênçãos temos colhido tão-só com o Evangelho no lar, evitando desastres!...

Tenhamos em mente o desfavor das queixas. Quanto deixamos de sofrer com isso! Há uma justiça subliminar que a tudo permeia, em tudo conspirando a nosso favor... Kardec abriu a trincheira pela qual tantos bandeirantes da nossa Doutrina, abusando do codinome aplicado ao precursor paulista Cairbar Schutel, semearam ou estão semeando um futuro melhor para a humanidade terrena. Hoje, como nos tempos de Jesus, tudo parece desvirtuado, incorrigível. Mas o exército do bem nos sustentará, firmemente.

Os benfeitores estão por todos os lados, amparando-nos. Nunca estivemos sós. Quanta consolação nessa verdade! Quanto a isso, a plêiade do Espírito de Verdade não deixa dúvidas, em O Evangelho segundo o Espiritismo: Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos.8

Os que não alcançaram o oásis do Evangelho são os cegos, como já fomos um dia. Irmãos estorcegam aniquilados, outros zombam da realidade espiritual, mas no íntimo amargam o vazio existencial, sinal dos tempos que varrerão o egoísmo e o orgulho do planeta-escola.

Espíritas, herdeiros dos mártires à excelsa Codificação, amparemos o próximo! Felizes pelo despertar gradual, mas compungidos ante a dor alheia, recordemos a menina Júlia e Kardec, há 152 anos, testemunhando:

Jesus! Estou aqui!



Reformador Junho 2010


1XAVIER, Francisco C. Palavras de vida eterna. Pelo Espírito Emmanuel. 34. ed. Uberaba, MG: Comunhão Espírita Cristã, 2007. p. 134.
2KARDEC, Allan. Evocações Particulares – Mãe, estou aqui! In: Revista espírita: jornal de estudos psicológicos, ano 1, p. 42-45, jan. 1858. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
3FRANCO, Divaldo P. Alegria de viver. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL.
4GAMA, Zilda. Dor suprema. Pelo Espírito Victor Hugo. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
5VINÍCIUS (Pedro de Camargo). Na escola do mestre. 7. ed. São Paulo: FEESP. Cap. 3, p. 27-35.
6XAVIER, Francisco C. Libertação. Pelo Espírito André Luiz. 31. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Ante as portas livres.
7KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
8Idem. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro. 129. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Prefácio.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

FÉRIAS ESPÍRITAS?!


O espírita tem direito a férias?

Os Espíritos saem de férias?

A Casa Espírita pode tirar férias?

O vocábulo férias é um substantivo feminino plural que significa “período de descanso a que têm direito empregados, servidores públicos, estudantes etc., depois de passado um ano ou um semestre de trabalho ou de atividades.” (1) O conceito vale para labor remunerado ou prestação de serviços.

A Lei Divina do Trabalho insere em suas diretrizes a necessidade do repouso. (2) Como ser humano e profissional, o espírita tem direito de usufruir as férias decorrentes da sua prestação de serviços. É comum que parte ou totalidade desse período de férias também seja utilizada para uma pausa em suas atividades na Casa Espírita. Alguns aproveitam parcela desse tempo para dedicação aos afazeres espiritistas, ofertando outra porção de tempo aos interesses particulares, familiares e sociais. Nada que fuja à normalidade, considerando-se a necessidade de cuidar da vida material. Porém, cabe lembrar: na vida cotidiana, somos espíritas todos os dias.

No que tange aos Espíritos saírem de férias, aprendemos que a Lei do Repouso é rigorosamente observada por eles. Quando consciente de seu papel na construção de um mundo melhor, o Espírito aproveita utilmente o “tempo livre”. A palavra férias se aplica mais a nós que aos Espíritos libertos do corpo físico, sobretudo àqueles evoluídos.

A terceira questão é complexa e exige seguro posicionamento. A Casa Espírita jamais deve fechar as suas portas, pois a necessidade não tira férias e a dor não tem hora marcada. Por esta razão, há que se organizar equipes de trabalho para se garantir o ininterrupto funcionamento das atividades destinadas ao atendimento do público, encarnado e desencarnado. Feriados como Natal, Ano Novo, Carnaval, entre outros, são oportunidades de servir. É recomendável manterem-se ativos, principalmente, os serviços de palestras públicas, passes, atendimento fraterno e reuniões mediúnicas.

A Casa Espírita é uma fonte de luz constante para assistência, consolo e esclarecimento aos necessitados do corpo e do espírito.


1 Assim define o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.

2 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.  Trad. de Evandro Noleto. 1. ed. de bolso. Rio de Janeiro: FEB, 2007. q. 674-685a.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A VIDA É UM TRATO QUE PRECISA SER CUMPRIDO

"A quem muito foi dado, muito será cobrado. Entender esta máxima é o primeiro passo para uma vida plena e feliz. Não viemos a este mundo para simplesmente passar por ele, sem deixar marcas. Se assim fosse, não precisaríamos viver tanto.

Temos todos a missão e a incumbência de fazer com que nossa existência seja sentida, aproveitada e que, no mínimo, traga benefícios a alguém.

Temos de trabalhar incansavelmente, sem delongas, sem mas nem porquês. Aceitamos e nos dispusemos a isso antes. Foi um trato que muitas vezes deixamos de cumprir.

Mediunidade é coisa séria e de muita valia se for utilizada da forma correta. E, para ser utilizada da forma certa, deve ser praticada onde quer que seja. Contanto que estejamos com a mente aberta e limpa, sempre atrairemos os bons espíritos.

Concentremo-nos e peçamos a ajuda desses espíritos para realizar nosso trabalho, afinal nós precisamos deles e eles de nós para passar as mensagens e ensinamentos.

Tratar a mediunidade como um passatempo só nos atrasa em nossa caminhada e evolução espiritual. Precisamos trabalhar com afinco, sem hesitação e sem medo de fazer errado. É errando que se aprende.

Tudo é válido e tudo é possível quando se faz com amor e dedicação. Não há como se melhorar fazendo esporadicamente a lição de casa. Vamos nos aprimorar e estudar, e praticar até que entremos verdadeiramente em sintonia com o plano espiritual. Temos todos os recursos necessários para um trabalho louvável. Basta dedicação e interesse.

Os primeiro passo após acreditar que temos uma missão  e que seremos cobrados pelo que nos foi dado, é acreditar, crer sem muitas perguntas. Aceitar o invisível aos olhos como acreditamos no que podemos ver.

O mundo espiritual está inteiro à disposição e a espera de obreiros do Senhor. São poucos os que se sujeitam e servem sem perguntar, sem questionamentos. Tudo se acerta, tudo se resolve na confiança e no trabalho.

Como nos velhos tempos em que a palavra dada era ‘palavra empenhada’. Demos a palavra e cumpramos com o prometido. Que Deus ilumine nossos passos e que estes sejam longos e ligeiros em busca da evolução.”



Assinado : Josué

Local :  "Casa da Prece" - Sorocaba ( SP )

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

NOÇÕES ESPÍRITAS

O desvio natural das práticas espíritas, sendo uma consequência do atraso moral da humanidade contemporânea, deve merecer cuidados especiais de todos quantos, bem intencionados, se proponham realizar praticamente, a demonstração da sua eficácia regeneradora no seio da sociedade em que vivem.
O arrastamento, a fascinação que sobre o nosso espírito exerce o mundo material, nos seus múltiplos aspectos, é incalculável e poderia contar-se por todos os nossos atos e pensamentos, em permuta constante com esse ambiente em que peiados somos, qual seixo à mercê da corrente.
Uma vez, porém, que não podemos contrariar a corrente nem inverte-la, pois que tudo se justifica e se move na criação por desígnios superiores, procuremos ao menos encaminhar essa corrente no sentido de apressar o adventos das verdades, a nós tão graciosa quão imerecidamente confiadas.
E esse movimento é tanto mais necessário quanto a própria transcendência filosófica da nossa doutrina produz benefícios negativos quando não procuramos servi-la com intuitos igualmente elevados, como decorrentes legítimos de um coração abnegado e de uma inteligência lúcida.
Não queremos dizer com isso que só o homem culto esteja em condições de praticar o Espiritismo, o que seria rematado absurdo, aliás incompatível com o caráter eminentemente livre e popular da doutrina: - mas queremos tão somente afirmar que para compreender, aceitar e praticar principalmente o Espiritismo com proveito, é preciso possuir uma serena consciência, na qual se possa refletir como em cristalino espelho todos os bons sentimentos, desde a humildade contrastante com os códigos da época, até o altruísmo imoldável aos interesses individuais de cada dia, de cada hora, de cada instante.
Tendo em vista os abusos que diariamente se cometem à sombra da doutrina espírita, explorados ao demais pelos inimigos interessados e gratuitos que nos espreitam, não é de estranhar a prevenção nem o ridículo com que ainda hoje, a despeito das brilhantes vitórias da nossa causa, somos acolhidos – quando o somos - e julgados por uma certa parte da sociedade.
Poderíamos replicar a esses tais que assim nos julgam, que o Espiritismo, servido pelos homens é como tudo mais, partícipe de sua natureza, não podendo responder pela idoneidade dos seus intérpretes, preferimos, no entanto, registrar o fato como aviso salutar, redobrando esforços para vulgarizar ensinamentos que só podem ser de regeneração que não de perversão.
E para que não se diga nem suponha que o Espiritismo só produz visionários e fanáticos, bom seria nos fossemos apresentando como quem somos, para que o mundo nos conhecesse como somos, isto é, racionais e humanos como qualquer mortal, pensando, vivendo e agindo na esfera das nossas atribuições e necessidades.
A timidez injustificável de muitos dos nossos confrades tem concorrido para essa noção falsa do que sejam o Espiritismo e seus prosélitos: - há, entretanto, mais de uma razão militando contra esse precedente, cujos efeitos aí estão clamando reparação.
Em primeiro lugar temos que, se os homens nos julgam mal pelo que de mal se pratica à sombra do nosso nome, há mostrar-lhes o que de bom e só de bom pode e deve produzir o Espiritismo.
Em segundo lugar temos que sendo o Espiritismo uma revelação divina corroborada por fatos tão espontâneos quão inconcussos, não devemos os que os estudamos, bem intencionados e cônscios dos seus benefícios, ser avaros da sua propaganda, mas antes imitar os exemplos generosos dos missionários do espaço.
Finalmente sendo o Espiritismo a síntese de tudo quanto de grandioso e bom pode conceber o homem, quer individual que coletivamente, e sendo mais, de fato, a doutrina do Amor e do Perdão a chave de ouro de todos os problemas que agitaram, agitam e hão de agitar a mente humana no roteiro da Verdade, nobreza só pode haver em afirma-lo à face dos homens, por atos e palavras.
Mais por atos que por palavras.

Manoel Quintão
Reformador (FEB) pág. 250 ano 1906

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A DIFERENÇA ENTRE CRER E TER FÉ

“Se o espírito humano não está sintonizado com o espírito de Deus, ele não tem fé, embora talvez creia. Esse homem pode, em teoria, aceitar que Deus existe e, apesar disso, não ter fé"

O notável professor, filósofo e humanista brasileiro, Huberto Rohden, em um de seus oportunos comentários inseridos no livro “A Mensagem Viva do Cristo”, obra que compreende a tradução feita por ele mesmo dos quatro evangelhos, diretamente do grego do primeiro século, convida-nos a refletir sobre a significativa distinção entre crer e ter fé. Para ele, a não compreensão dessa questão tem deturpado a teologia e trazido enorme prejuízo à mensagem do Cristo ao longo desses 2000 anos.

 Escreve ele:

 “Desde os primeiros séculos do Cristianismo, quando o texto grego do Evangelho foi traduzido para o latim, principiou a funesta identificação de crer com ter fé. A palavra grega para fé é pistis, cujo verbo é pisteuein. Infelizmente, o substantivo latino fides, o correspondente a pistis, não tem verbo e assim, os tradutores latinos se viram obrigados a recorrer a um verbo de outro radical para exprimir o grego pisteuein, ter fé. O verbo latino que substituiu o grego pisteuein é credere, que em português deu crer. Nenhuma das cinco línguas neo latinas — português, espanhol, italiano, francês, rumeno — possui verbo derivado do substantivo fides; fé; todas essas línguas são obrigadas a recorrer a um verbo derivado de credere. Ora, a palavra pistis ou fides significa originariamente harmonia, sintonia, consonância. Ter fé é estabelecer ou ter sintonia, harmonia entre o espírito humano e o espírito divino.”

 Se o espírito humano não está sintonizado com o espírito de Deus, ele não tem fé, embora talvez creia

 Para o ilustre filósofo, aí está um dos maiores problemas que em muito vem prejudicando a teologia e, para explicar a diferença de significado entre uma coisa e outra, estabelece ele o seguinte paralelo ilustrativo: “Um receptor de rádio só recebe a onde eletrônica emitida pela estação emissora, quando o receptor está sintonizado ou afinado perfeitamente com a freqüência da emissora. Se a emissora, por exemplo, emite uma onda de freqüência 100, o meu receptor só reage a essa onda e recebe-a quando está sintonizado com a freqüência 100. Só neste caso, o meu receptor tem fé, fidelidade, harmonia; fideliza com a emissora”.

 Dentro desse contexto, “se o espírito humano não está sintonizado com o espírito de Deus, ele não tem fé, embora talvez creia. Esse homem pode, em teoria, aceitar que Deus existe e, apesar disso, não ter fé. Ter fé é estar em sintonia com Deus, tanto pela consciência como também pela vivência, ao passo que um homem sem sintonia com Deus pela consciência e pela vivência, pela mística e pela ética, pode crer vagamente em Deus. Crer é um ato de boa vontade; ter fé é uma atitude de consciência e de vivência”, argumenta o professor Rohden.

 Salvação não é outra coisa senão a harmonia da consciência e da vivência com Deus

 Para ele, a conhecida frase “quem crer será salvo, quem não crer será condenado”, é absurda e blasfema no sentido em que ela é geralmente usada pelos teólogos. No entanto, “se lhe dermos o sentido verdadeiro ‘quem tiver fé será salvo’ ela está certa, porque salvação não é outra coisa senão a harmonia da consciência e da vivência com Deus”.

 Em sua opinião, de sincero buscador, erudito e filósofo espiritualista “a substituição de ter fé por crer há quase 2000 anos, está desgraçando a teologia, deturpando profundamente a mensagem do Cristo”.



Consciência Espírita

Centro de Estudos Espíritas Paulo Apóstolo

domingo, 22 de julho de 2012

O SOFRIMENTO MORAL


"Oh! vós, que recusais valor ao sacrifício de Jesus, por não se achar ele revestido de um corpo de carne, perecível como os vossos, abri os vossos próprios corações e perscrutai, com sinceridade, o fundo de vossas almas. Que preferiríeis: suportar a tortura do corpo, ou suportar o desespero de testemunhar a ingratidão, a negrura d'alma, o crime naqueles a quem mais amor tendes do que a vós mesmos?

"Vós todos, que não vos encontrais dominados pelo egoísmo, pais, mães, filhos, criaturas humanitárias que considerais todos os homens como vossos irmãos bem-amados, quais não são os vossos sofrimentos quando vedes aqueles a quem fizestes objeto do vosso mais terno amor vos repelirem com desprezo e vos atirarem pedras?

"Jesus não pode ter sofrido como os outros homens, porque não era da natureza destes!

"Não, a sua natureza não era idêntica à dos outros homens e por isso ele não sofreu da maneira por que sofrem os habitantes materiais do vosso planeta inferior. Entretanto, por serem de outra ordem, seus sofrimentos não terão sido superiores aos da Humanidade terrena?

"Seu corpo fluídico, de natureza perispirítica, tangível e visível para os homens, não era suscetível de experimentar a dor material, porque, efetivamente, as sensações que recebia nenhuma relação tinham com a impressão dolorosa que causam a amputação de um membro, a contusão numa parte qualquer do corpo humano. Era, porém, suscetível de receber impressões exteriores que repercutiam no moral com violência, para vós, inaudita. Eis porque vos dizemos que Jesus, vítima voluntária do amor que consagra aos seus protegidos - os homens da Terra, se bem não sofresse do ponto de vista carnal, sofreu violentamente.

"Para o avaliardes, esforçai-vos por perceber as sensações que certas naturezas de escol experimentam quando as punge uma dor moral, a profundeza do golpe que recebem quando lhes chega uma notícia má, as torturas por que as fazem passar a ingratidão, a maldade; quando elas se veem, ou veem os que são objeto da sua mais terna afeição alvo da perseguição ou da calúnia.

"Não prefeririam essas almas sensíveis uma dor material ao contínuo sofrimento moral que as despedaça? E, levado a certo ponto, esse sofrimento moral não atinge as proporções materiais do sofrimento do corpo, não as ultrapassa até? Não lhes altera os órgãos, ao ponto de causar a sua decomposição? Não vedes muitas vezes a intranquilidade, a aflição, a consumição lhes acarretarem a morte, no sentido de que produzem nos seus organismos estragos a que elas não podem resistir? E ainda vos recusareis a reconhecer que certos sofrimentos morais são verdadeiramente intoleráveis?

"Quais não seriam os sentimentos de Jesus para convosco? Quais não terão sido a sua mágoa, a sua tristeza, vendo-vos tão ingratos, tão covardes, tão culpados? Ele sofria e ainda sofre. O sacrifício a que se votou dura ainda e durará até que haja reunido todas as suas ovelhas sob as dobras do seu manto protetor.

"Não digais: "Para que serve um sacrifício imaginário?" Seu sacrifício foi real e tanto mais real quanto só o Espírito, é capaz de sentir sofrimento.

"Os sofrimentos morais de Jesus estão em relação com a carência de esforços da vossa parte, para corresponder aos seus. f, (Tomo[1] IV, páginas 353/5).

"Jesus, naqueles momentos, sofria, sofria muito no seu coração pelo endurecimento dos homens. Sofria por ver que séculos e séculos teriam que passar sobre as vossas cabeças antes que o batismo do espírito vos purificasse. Sofria, vendo quantos sofrimentos o futuro reservava a seus irmãos, aos quais votava amor tão ardente que, para lhes mostrar o caminho que devem trilhar, consentiu em perlustrá-lo .

"Experimentava as angústias que dilaceram o coração da mãe extremosa que vê transviados, criminosos, seus filhos diletos; que vê prestes a caírem sobre eles os rigores da lei; que lhes brada: "Vinde a mim, vinde a mim e eu vos salvarei; arrependei-vos e obterei o perdão para vós", e os vê surdos, a lhe voltarem as costas, para prosseguirem no funesto caminho. Ela não sofre, é certo, na sua carne, a carinhosa mãe; seus ossos não são despedaçados. Mas, todas as fibras do seu coração estalam dolorosamente; torturam-na a ansiedade, a aflição pelo futuro de seus bem-amados!" (Tomo III, pág. 417).

"O sofrimento, na essência espiritual, é mais forte e mais vivo do que o possam ser, para os vossos corpos, quaisquer sofrimentos humanos." (Tomo II, pág. 427).



CAUSAS MORAIS DAS DORES FÍSICAS



"Remonte ele à origem do mal, sobretudo procure sempre a causa moral em todas as dores físicas, dores orgânicas - bem entendido.

"Aquele que quebra um braço não pode acusar nenhuma dor secreta ou maus pendores; porém, nos inúmeros males que afligem a Humanidade, pesquisai bem o fundo dos corações e das consciências e encontrareis a raiz dessa árvore que se estende por todos os membros. O coração ou a alma quase sempre estão atacados. Daí a perturbação do sistema nervoso, fonte de todas as enfermidades, de todos os sofrimentos. Perscrutai os antecedentes do que sofre e muitas vezes descobrireis o pesar oculto de uma ação, um acontecimento que interessou a saúde, viciando o sangue que devia circular puro nas veias." (Tomo Il, pág. 31/2).

Quando foi dada esta mensagem, Segismundo Freud era um menino de cinco anos de idade; no entanto, estas últimas linhas parecem copiadas de um tratado de Psicanálise. Não só Freud atribui as doenças a recalques, como, muitos médicos ilustres hoje compreendem as influências do pensamento e do sentimento sobre a, saúde e recomendam o cultivo do bom humor, da alegria, para restauração da saúde. A pouco e pouco a ciência humana vai descobrindo a solidariedade entre o corpo e o Espírito. Tendemos ao médico-sacerdote que trate simultaneamente do corpo e da alma, como o fazia Jesus.

Nos povos primitivos as funções do médico e sacerdote eram exercidas pelo mesmo individuo. A esse respeito escreveu Stefan Zweig um livro precioso com o título "Heilung durch den Geist" ("A cura através do espírito"). Quando nos libertarmos de todos os nossos defeitos morais, não formos mais escravos do pecado, ficaremos livres também das doenças. Compreende-se que isso levará longo tempo, porque trazemos uma bagagem muito pesada de encarnações pretéritas e teremos que expiar todas as faltas, antes de chegarmos à perfeição moral que refletirá em benefício de nosso físico.

Presentemente a Humanidade da Terra passa por uma onda de materialismo que nos impressiona. As crenças antigas não satisfazem mais ao homem intelectualmente desenvolvido e ele as abandona, mesmo quando se conserva profitente de uma igreja. O Espiritismo ainda se acha pouco desenvolvido na sua missão de substituir as antigas crenças simplistas. Também ele se perdeu, em muitos países, num emaranhado de sofismas e experimentação estéril.

Parece longe o tempo em que em todos os povos do mundo o Espiritismo se divulgue suficientemente para transformar  a nossa civilização materialista. As mensagens dos nossos Maiores nos advertem de que essa restauração do Cristianismo terá que partir do nosso país e como o Brasil ainda exerce pouquíssima influência no sentimento universal, por isso que sua língua nacional é um túmulo para o pensamento, vemos que essa missão não se acha num futuro próximo, mas muito afastado; porque, antes disso, terão que ser abolidas as barreiras linguísticas que insulam intelectualmente os povos. Compreendendo esse aspecto linguístico do magno problema, a Federação Espírita Brasileira incorporou a divulgação do Esperanto à sua tarefa, e vai dando os primeiros passos na preparação desse glorioso porvir. Não ignoramos que será trabalho longo, mas sabemos igualmente que temos em nossa frente todos os séculos e milênios vindouros, porque a morte não existe e o Senhor da Seara nos permitirá voltar ao seu serviço tantas vezes quantas se faça mister para cumprirmos fielmente nossas tarefas.

Virá o tempo em que não teremos o sofrimento moral nem o físico, porque estarão vencidos o pecado e a dor.



Reformador (FEB) Abril  1950

[1] Refere-se aos quatros tomos que constituem  ‘Os Quatro Evangelhos’ coordenados por J-B Roustaing.

sábado, 14 de julho de 2012

DOUTRINA ESPÍRITA – FALTA DE FORMAÇÃO DOUTRINÁRIA


Sem a formação doutrinária, não teremos um movimento espírita coeso e coerente. E, sem coesão e coerência, não teremos Espiritismo. Essa a razão por que os Espíritos Superiores confiaram às mãos de Kardec o pesado trabalho da Codificação. Kardec teve de arcar, sozinho, com a execução dessa obra gigantesca. Só ele estava em condições de realizá-la.

Depois de Kardec, o que vimos? Léon Denis foi o único dos seus discípulos que conseguiu manter-se à altura do mestre, contribuindo vigorosamente para a consolidação da Doutrina. Era, aparentemente, o menos indicado. Não tinha a formação cultural de Kardec, residia na província, não convivera com ele, mas soubera compreender a posição metodológica do Espiritismo e não a confundia com os desvarios espiritualistas da época. Depois de Denis, foi o dilúvio.

A Revista Espírita virou um saco de gatos. A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas naufragou em águas turvas. A Ciência e a Filosofia Espíritas ficaram esquecidas. O aspecto religioso da Doutrina transviou-se na ignorância e no fanatismo. Os sucessores de Kardec fracassaram inteiramente na manutenção da chama espírita, na França. E, quando a Arvore do Evangelho foi transplantada para o Brasil, segundo a expressão de Humberto de Campos, veio carregada de parasitas mortais que, ao invés de extirpar, tratamos de cultivar e aumentar com as pragas da terra. Tudo isso por quê? Por falta pura e simples de formação doutrinária. A prova está aí, bem visível, no fluidismo e no obscurantismo que dominam o nosso movimento no Brasil e no Mundo.

Os poucos estudiosos, que se aprofundaram no estudo de Kardec, vivem como náufragos num mar tempestuoso, lutando, sem cessar, com os mesmos destroços de sempre. Não há estudo sistemático e sério da Doutrina. E o que é mais grave, há evidente sintoma de fascinação das trevas, em vastos setores representativos que, por incrível que pareça, combatem por todos os meios o desenvolvimento da cultura espírita.

Enquanto não compreendermos que Espiritismo é cultura, as tentativas de unificação do nosso movimento não darão resultados reais. Darão aproximações arrepiadas de conflitos, aumento quantitativo de adeptos ineptos, estimulação perigosa de messianismos individuais e de grupos. Flamarion, que nunca entendeu realmente a posição de Kardec, e chegou a dizer que ele fez obra um tanto pessoal, como se vê no seu famoso discurso ao pé do túmulo, teve, entretanto, uma intuição feliz quando o chamou de bom senso encarnado. Esse bom senso é que nos falta. Parece haver se desencarnado com Kardec, e volatizado com Denis.

Hoje, estamos na era do contra-senso. Os mesmos órgãos de divulgação doutrinária que pregam o obscurantismo exibem pavoneios de erudição personalista, em nome de uma cultura inexistente. Porque cultura não é erudição, livros empilhados nas estantes, fichário em ordem para consultas ocasionais. Cultura è assimilação de conhecimentos e bom senso em ação. O que fazer diante dessa situação? Cuidar da formação espírita das novas gerações, sem esquecer a alfabetização de adultos. Mobral: esse o recurso. Temos de organizar o Mobral do Espírito. E começar tudo de novo, pelas primeiras letras. Mas, isso em conjunto, agrupando elementos capazes, de mente arejada e coração aberto. Foi por isso que propus a criação das Escolas de Espiritismo, em nível universitário, dotadas de amplos currículos de formação cultural espírita.

Podem dizer que há contradições entre Mobral e nível universitário. Mas, nota-se, que falamos de Mobral do Espírito. A Cultura Espírita é o desenvolvimento da cultura acadêmica, é o seguimento natural da cultura atual, em que se misturam elementos cristãos, pagãos e ateus. Para iniciar-se na cultura espírita, o estudante deve possuir as bases da cultura anterior. "Tudo se encadeia no Universo", como ensina, repetidamente, O Livro dos Espíritos. Quem não compreende esse encadeamento, tem de iniciar pelo Mobral. Não há outra forma de adaptá-lo às novas exigências da nova cultura. A verdade nua e crua é que ninguém conhece Espiritismo.

Ninguém, mesmo, no Brasil e no Mundo. Estamos todos aprendendo, ainda, de maneira canhestra. E se me permito escrever isto, é porque aprendi, a duras penas, a conhecer a minha própria indigência. No Espiritismo, como já se dava no Cristianismo e na própria filosofia grega, o que vale é o método socrático. Temos, antes de tudo, de compreender que nada sabemos. Então, estaremos, pelo menos, conscientes de nossa ignorância e capazes de aprender. Mas, aprender com quem? Sozinhos, como autodidatas, tirando nossas próprias lições dos textos, confiantes nas luzes da nossa ignorância? Recebendo lições de outros que tateiam como nós, mas que estufam o peito de auto-suficiência e pretensão? Claro que não. Ao menos isso devemos saber.

Temos de trabalhar em conjunto, reunindo companheiros sensatos, bem intencionados, não fascinados por mistificações grosseiras e evidentes, capazes de humildade real, provada por atos e atitudes. Assim conjugados, poderemos aprender de Kardec, estudando suas obras, mergulhando em seus textos, lembrando-nos de que foi ele e só ele o incumbido de nos transmitir o legado do Espírito da Verdade. Kardec é a nossa pedra de toque. Não por ser Kardec, mas por ser o intérprete humilde que foi, o homem sincero e puro a serviço dos Espíritos Instrutores. É o que devemos ter nas Escolas de Espiritismo.

Não Faculdades, nem Academias, mas, simplesmente, Escolas. O sistema universitário implica pesquisas, colaboração entre professores e alunos, trabalho conjugado e sem presunção de superioridade de parte de ninguém. O simpósio e o seminário, o livre-debate, enfim, é que resolvem, e não o magister do passado. O espírito universitário, por isso mesmo, é o que melhor corresponde à escola espírita. Num ambiente assim, os Espíritos Instrutores disporão de meios para auxiliar os estudantes sinceros e despretensiosos.

A formação espírita exige ensino metódico, mas, ao mesmo tempo, livre. Foi o que os Espíritos deram a Kardec: um ensino de que ele mesmo participava, interrogando os mestres e discutindo com eles. Por isso, não houve infiltração de mistificadores na obra inteiriça, nesse bloco de lógica e bom senso, que abrange os cinco livros fundamentais de Codificação, os volumes introdutórios e os volumes da Revista Espírita, redigidos por ele durante quase doze anos de trabalho incessante. Essa obra gigantesca é a plataforma do futuro, o alicerce e o plano de um novo mundo, de uma nova civilização.

Seria absurdo pensar que podemos dominar esse vasto acervo de conhecimentos novos, de conceitos revolucionários, através de simples leituras individuais, sem método e sem pesquisa. Nosso papel, no Espiritismo, tem sido o de macacos em loja de louças. E incrível a leviandade com que oradores e articulistas espíritas tratam de certos temas, com uma falsa suficiência de arrepiar, lançando confusões ridículas no meio doutrinário. Temos de compreender que isso não pode continuar. Chega de arengas melífluas nos Centros, de oratória descabelada, de auditórios basbaques, batendo palmas e palavreado pomposo. Nada disso é Espiritismo. Os conferencistas espíritas precisam ensinar Espiritismo - que ninguém conhece - mas para isso precisam primeiro aprendê-lo. Precisamos de expositores didáticos, servidos por bom conhecimento doutrinário, arduamente adquirido em estudos e pesquisas.

Expor os temas fundamentais da Doutrina, não é falar bonito, com tropos pretensamente literários, que só servem para estufar vaidade, à maneira da oratória bacharelesca do século passado. Esse palavrório vazio e presunçoso não constrói nada e só serve para ridicularizar o Espiritismo ante a mentalidade positiva e analítica do nosso tempo. Estamos numa fase avançada da evolução terrena. Nossa cultura cresceu espantosamente nos últimos anos e já está chegando à confluência dos princípios espíritas em todos os campos. A nossa falta de formação cultural espírita não nos permite enfrentar a barreira dos preconceitos para demonstrar ao mundo que Espiritismo, como escreveu Humberto Mariotti, é uma estrela de amor que espera no horizonte do mundo o avanço das ciências. E curiosa e ridícula a nossa situação. Temos o futuro nas mãos e ficamos encravados no passado mitológico e nas querelas medievais. Mas, para superar essa situação, temos de aprender com Kardec.

Os que pretendem superar Kardec, não o conhecem. Se o conhecessem, não assumiriam a posição ridícula de críticos e inovadores do que, na verdade, ignoram. Chegamos a uma hora de definições. Precisamos definir a posição cultural espírita perante a nova cultura dos tempos novos. E só faremos isso através de organismos culturais bem estruturados, funcionais, dotados de recursos escolares capazes de fornecer, aos mais aptos e mais sinceros, a formação cultural de que todos necessitamos, com urgência.



Texto de José Herculano Pires. O Mistério do Bem e do Mal. 2ª edição.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

IDEAL ESPÍRITA

Fazer de cada mulher uma sacerdotisa, de cada lar um templo, de cada coração um altar em que arda sempre impetuoso o desejo de servir com abnegação e amor a todas as criaturas de Deus, sejam elas más ou boas, tal é a missão do Espiritismo para edificar o Reino de Deus sobre a Terra.

Tarefa fundamentalmente educativa que deve ser imposta em toda parte; na oficina, na escola, na repartição, na administração, na política, no lar; mas sem o esforço combativo que desagrega os homens e forma os partidos, igrejas, seitas, classes, nações, em ações e reações eternas que geram ódios e perpetuam o mal, as rivalidades e represálias de grupos humanos, contra outros grupos humanos.

Se os espiritistas tivessem a desventura de se organizarem em uma grande igreja, provocariam as reações e represálias que perpetuariam as outras igrejas a eles opostas, numa luta contínua e apaixonada como têm vivido as diversas igrejas do passado. Pretendessem organizar-se em partido político para realizar suas nobres aspirações, e não seriam compreendidos; teriam sempre que fechar suas próprias fronteiras contra os ataques de outros partidos; já não poderiam agir na sociedade, mas somente em suas sedes e mesmo aí sob as limitações da perseguição externa e talvez da perfídia interna de adversários mascarados de espíritas. Teriam todas as desvantagens de uma seita, contra a qual todas as outras se acham fechadas.

Sempre que se pensa em organizar o Espiritismo, devem-se levar em conta as dificuldades que outras organizações; com seu espírito combativo, oporiam à nossa tarefa, quando a nossa organização, suficientemente forte, lhes parecesse uma ameaça.

         Nossa força está em nossa aparente fraqueza. Somos milhares de pequenos núcleos espalhados por toda parte, sem uma autoridade central que os reúna e oriente no plano humano da vida. Mesmo as sociedades adesas ou coligadas à Federação ou à Liga, são livres, não têm que prestar contas ou obedecer a autoridades centrais. A adesão é apenas a princípios gerais da doutrina, à aceitação das obras de Allan Kardec, com plena liberdade de interpretação, sem um sínodo ou outro corpo de intérpretes a ser obedecido. A qualquer momento a sociedade adesa pode, por sua livre vontade, desistir da adesão e seguir outros rumos, se assim lhe aprouver e voltar aos mesmos princípios e solicitar de novo a adesão, quando quiser.

Igualmente os indivíduos conservam absoluta liberdade de ação ou inação. Podem trabalhar quando e como e onde quiserem, em associação ou insuladamente, ou cessarem suas atividades quando isso lhes agradar, sem que alguma autoridade exista que lhes possa impor alguma limitação ou privá-los de algum direito. Essa liberdade dos indivíduos e de seus grupos é característica do Espiritismo e dá-lhe uma força diferente, mais espiritual e menos humana. Do ponto de vista humano, isso é fraqueza e desorganização; mas do ponto de vista espiritual é fôrça.

Nossos pregadores independem de "ordens", diplomas, uniformes, ou qualquer outra autorização. Podem exercer seu sacerdócio quando e onde quiserem; diante de um só ouvinte ou de grandes assembleias; numa missiva pessoal, num artigo de jornal, num livro, ao microfone ou por outra qualquer forma.

Quem assiste a um fenômeno espírita e o relata aos seus amigos, já está fazendo a pregação. Quem lê um romance espírita e o conta a um amigo, está praticando uma doutrinação. Assim, por toda parte, desde- as rodas mais ilustres até os meios mais obscuros, está-se fazendo a pregação do Espiritismo, interessando alguém para que o estude. Tal multíplicídade de pregadores tem a imensa vantagem de não encontrar fronteiras de seita; não ficar limitada aos templos, sinagogas, mesquitas ou sedes de grupos espíritas. Tem a vantagem, ainda maior, de não ser seita e, por isso mesmo, influenciar indistintamente qualquer membro da sociedade humana.

O ideal espírita é universal, deve influenciar todos os indivíduos, toda a Humanidade, e a maior barreira à realização desse ideal seria fecharmo-nos em uma seita com nossos livros sagrados, .nosso profeta único, nossos pregadores autorizados e uniformizados. Contra esse perigo, por mercê de Deus, contamos com a liberdade dos Espíritos, que não levam em conta nossas divisões e limitações, nem as nossas convicções sectárias; inspiram e guiam até os mais descrentes, desde que encontrem neles aptidão para determinado trabalho que se tenha de realizar no mundo.

Pela orientação que os Grandes Espíritos vão dando à mediunidade, vemos que o romance educativo, em forma de livro, de filme cinematográfico, de novela radiofônica, tem grande missão a cumprir na preparação do futuro; principalmente porque o romance fala mais diretamente ao coração da mulher e pode exercer a máxima influência na formação de nova mentalidade e novos sentimentos. O mundo feliz do futuro terá que ser obra principalmente do coração feminino, das mães, como sacerdotisas de seus lares.

Em vez de formar uma Igreja "triunfante" contra as outras, temos que fazer uma ideia triunfante nos corações, sem nos importarmos com os rótulos. Em lugar de um partido vitorioso, temos que vencer em todos os partidos, em todas as escolas e igrejas.

Como trabalhar para esse ideal?

Pelo livro, pelo jornal, pelo rádio, pelo cinema, e, acima de tudo, pelo exemplo.

Em lugar de uma organização político-religiosa à imagem e semelhança das que já existem, fundemos novas editoras, novas estações de rádio, grupos de propagandistas, asilos, abrigos, escolas, ou ajudemos aos que já existem.

Traduzamos todos os bons livros que existem em outras línguas para a nossa e os nossos para outras línguas. Publiquemos toda essa imensa literatura em Esperanto e espalhemo-la pelo mundo inteiro.

Há um trabalho imenso esperando por nós. Deixemos a outros a triste tarefa de demolir ou discutir questiúnculas teológicas. Temos muito que construir. A Humanidade sofredora e descrente merece todos os nossos esforços, toda a nossa dedicação. Não nos percamos nas fátuas discussões acadêmicas, nas polêmicas estéreis, nas lutas negativas; tentemos construir algo de positivo nos corações e nas inteligências. A nossa oportunidade é única: a Humanidade está saindo andrajosa e ensanguentada de uma de suas maiores experiências combativas, de uma de suas manifestações de força organizada. Bastam essas experiências!          '

Nossa obra é diferente; não nos deixemos tragar pelas tradições do passado, porque o passado já nos deu o que podia: lutas e ódios; ódios e novas lutas; divisões e perseguições, perseguições e divisões; milênios perdidos em discussões teológicas, discussões teológicas que se renovam em outros milênios!

Repitamos que o ideal da Terceira Revelação não é formar uma grande Igreja, mas, ao contrário disso, tornar desnecessárias as grandes Igrejas e erguer em cada coração um altar, em que arda sempre a pira sagrada do amor fraterno, destruindo o egoísmo, o orgulho, a vaidade, as rivalidades; os preconceitos.



Cristiano Agarido

(Ismael Gomes Braga)

Reformador (FEB) Junho 1945

sexta-feira, 22 de junho de 2012

OS TALISMÃS - MEDALHA CABALÍSTICA


O Sr. M... havia comprado em segunda mão uma medalha que lhe pareceu notável por sua singularidade. Era do tamanho de um escudo de seis libras; tinha o aspecto da prata, embora um pouco acinzentada. Sobre ambas as faces estão gravadas, em baixo-relevo, uma porção de sinais, entre os quais se nota planetas, círculos entrelaçados, um triângulo, palavras ininteligíveis e iniciais em caracteres vulgares; depois, outros em caracteres bizarros, lembrando o árabe, tudo disposto de modo cabalístico, conforme o gênero utilizado pelos mágicos.

Tendo o Sr. M... interrogado a senhorita J..., médium sonâmbula, a respeito dessa medalha, foi-lhe respondido que era composta de sete metais, havia pertencido a Cazotte e tinha o poder especial de atrair os Espíritos e facilitar as evocações. O Sr. De Caudemberg, autor de uma série de comunicações que, como médium, dizia ter recebido da Virgem Maria, disse-lhe que era uma coisa maléfica, destinada a atrair os demônios. A senhorita Guldenstubé, médium, irmã do barão de Guldenstubé, autor de uma obra sobre pneumatografia, ou escrita direta, garantiu que a medalha possuía uma virtude magnética e poderia provocar o sonambulismo.

Pouco satisfeito com essas respostas contraditórias, o Sr. M... apresentou-nos a medalha, pedindo nossa opinião pessoal a respeito e, ao mesmo tempo, solicitando interrogássemos um Espírito superior a propósito de seu real valor, do ponto de vista da influência que pudesse ter. Eis a nossa resposta:

Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo pensamento, e não pelos objetos materiais, que nenhum poder exercem sobre eles. EM TODOS OS TEMPOS OS ESPÍRITOS SUPERIORES TEM CONDENADO O EMPREGO DE SINAIS E DE FORMAS CABALÍSTICAS, DE MODO QUE TODO ESPÍRITO QUE LHES ATRIBUIR UMA VIRTUDE QUALQUER, OU QUE PRETENDER OFERECER TALISMÃS COMO OBJETO DE MAGIA, POR ISSO MESMO REVELARÁ A SUA INFERIORIDADE, QUER QUANDO AGE DE BOA-FÉ E POR IGNORÂNCIA, EM CONSEQUÊNCIA DE ANTIGOS PRECONCEITOS TERRESTES DE QUE AINDA SEACHA IMBUÍDO, QUER QUANDO, COMO ESPÍRITO ZOMBETEIRO, SE DIVERTE CONSCIENTEMENTE COM A CREDULIDADE ALHEIA. Quando não traduzem pura fantasia, os sinais cabalísticos são símbolos que lembram crenças supersticiosas na virtude de certas coisas, como os números, os planetas e sua concordância com os metais, crenças que foram geradas nos tempos da ignorância e que repousam sobre erros manifestos, aos quais a Ciência fez justiça, ao revelar o que existe sobre os pretensos sete planetas, os sete metais, etc. A forma mística e ininteligível desses emblemas tinha por objetivo a sua imposição ao vulgo, sempre inclinado a considerar maravilhoso tudo aquilo que é incapaz de compreender. Quem quer que tenha estudado racionalmente a natureza dos Espíritos não poderá admitir que, sobre eles, se exerça a influência de formas convencionais, nem de substâncias misturadas em certas proporções; seria renovar as práticas do caldeirão das feiticeiras, dos gatos negros, das galinhas pretas e de outros sortilégios. Não podemos dizer a mesma coisa de um objeto magnetizado que, como se sabe, tem o poder de provocar o sonambulismo ou certos fenômenos nervosos sobre o organismo.

Nesse caso, porém, a virtude do objeto reside unicamente no fluido de que se acha momentaneamente impregnado e que assim se transmite, por via mediata, e não em sua forma, em sua cor e nem, sobretudo, nos sinais de que possa estar sobrecarregado.

Um Espírito pode dizer: “Traçai tal sinal e, à vista dele, reconhecerei que me chamais, e virei”; nesse caso, todavia, o sinal traçado é apenas a expressão do pensamento; é uma evocação traduzida de modo material. Ora, os Espíritos, seja qual for a sua natureza, não necessitam de semelhantes artifícios para se comunicarem; os Espíritos superiores jamais os empregam; os inferiores podem fazê-lo visando fascinar a imaginação das pessoas crédulas que querem manter sob dependência. Regra geral: para os Espíritos superiores a forma nada é; o pensamento é tudo. Todo Espírito que liga mais importância à forma do que ao fundo, é inferior e não merece nenhuma confiança, mesmo quando, vez por outra, diga algumas coisas boas, porquanto essas boas coisas freqüentemente são um meio de sedução.

Tal era, de maneira geral, nosso pensamento a respeito dos talismãs, como meio de entrar em relação com os Espíritos.

Evidentemente que se aplica também àqueles que a superstição emprega como preservativos de moléstias ou acidentes.

Entretanto, para edificação do proprietário da medalha, e para um melhor aprofundamento da questão, na sessão de 17 de julho de 1858 pedimos a São Luís, que conosco se comunica de bom grado sempre que se trata de nossa instrução, que nos desse sua opinião a respeito. Interrogado sobre o valor da medalha, eis qual foi sua resposta:

“Fazeis bem em não admitir que objetos materiais possam exercer qualquer influência sobre as manifestações, quer para as provocar, quer para as impedir. Temos dito com bastante freqüência que as manifestações são espontâneas e que, além disso, jamais nos recusamos a atender ao vosso apelo. Por que pensais que sejamos obrigados a obedecer a uma coisa fabricada pelos seres humanos?

P. – Com que finalidade foi feita essa medalha?

Resp. – Foi fabricada com o objetivo de chamar a atenção das pessoas que nela gostariam de crer; porém, apenas por magnetizadores poderá ter sido feita, com a intenção de magnetizar e adormecer um sensitivo. Os signos nada mais são que fantasia.

P. – Dizem que pertenceu a Cazotte; poderíamos evoca-lo, a fim de obtermos alguns ensinamentos a esse respeito?

Resp. – “Não é necessário; ocupai-vos preferentemente de coisas mais sérias.”.


REVISTAESPÍRITA – SETEMBRO DE 1858