domingo, 22 de julho de 2012

O SOFRIMENTO MORAL


"Oh! vós, que recusais valor ao sacrifício de Jesus, por não se achar ele revestido de um corpo de carne, perecível como os vossos, abri os vossos próprios corações e perscrutai, com sinceridade, o fundo de vossas almas. Que preferiríeis: suportar a tortura do corpo, ou suportar o desespero de testemunhar a ingratidão, a negrura d'alma, o crime naqueles a quem mais amor tendes do que a vós mesmos?

"Vós todos, que não vos encontrais dominados pelo egoísmo, pais, mães, filhos, criaturas humanitárias que considerais todos os homens como vossos irmãos bem-amados, quais não são os vossos sofrimentos quando vedes aqueles a quem fizestes objeto do vosso mais terno amor vos repelirem com desprezo e vos atirarem pedras?

"Jesus não pode ter sofrido como os outros homens, porque não era da natureza destes!

"Não, a sua natureza não era idêntica à dos outros homens e por isso ele não sofreu da maneira por que sofrem os habitantes materiais do vosso planeta inferior. Entretanto, por serem de outra ordem, seus sofrimentos não terão sido superiores aos da Humanidade terrena?

"Seu corpo fluídico, de natureza perispirítica, tangível e visível para os homens, não era suscetível de experimentar a dor material, porque, efetivamente, as sensações que recebia nenhuma relação tinham com a impressão dolorosa que causam a amputação de um membro, a contusão numa parte qualquer do corpo humano. Era, porém, suscetível de receber impressões exteriores que repercutiam no moral com violência, para vós, inaudita. Eis porque vos dizemos que Jesus, vítima voluntária do amor que consagra aos seus protegidos - os homens da Terra, se bem não sofresse do ponto de vista carnal, sofreu violentamente.

"Para o avaliardes, esforçai-vos por perceber as sensações que certas naturezas de escol experimentam quando as punge uma dor moral, a profundeza do golpe que recebem quando lhes chega uma notícia má, as torturas por que as fazem passar a ingratidão, a maldade; quando elas se veem, ou veem os que são objeto da sua mais terna afeição alvo da perseguição ou da calúnia.

"Não prefeririam essas almas sensíveis uma dor material ao contínuo sofrimento moral que as despedaça? E, levado a certo ponto, esse sofrimento moral não atinge as proporções materiais do sofrimento do corpo, não as ultrapassa até? Não lhes altera os órgãos, ao ponto de causar a sua decomposição? Não vedes muitas vezes a intranquilidade, a aflição, a consumição lhes acarretarem a morte, no sentido de que produzem nos seus organismos estragos a que elas não podem resistir? E ainda vos recusareis a reconhecer que certos sofrimentos morais são verdadeiramente intoleráveis?

"Quais não seriam os sentimentos de Jesus para convosco? Quais não terão sido a sua mágoa, a sua tristeza, vendo-vos tão ingratos, tão covardes, tão culpados? Ele sofria e ainda sofre. O sacrifício a que se votou dura ainda e durará até que haja reunido todas as suas ovelhas sob as dobras do seu manto protetor.

"Não digais: "Para que serve um sacrifício imaginário?" Seu sacrifício foi real e tanto mais real quanto só o Espírito, é capaz de sentir sofrimento.

"Os sofrimentos morais de Jesus estão em relação com a carência de esforços da vossa parte, para corresponder aos seus. f, (Tomo[1] IV, páginas 353/5).

"Jesus, naqueles momentos, sofria, sofria muito no seu coração pelo endurecimento dos homens. Sofria por ver que séculos e séculos teriam que passar sobre as vossas cabeças antes que o batismo do espírito vos purificasse. Sofria, vendo quantos sofrimentos o futuro reservava a seus irmãos, aos quais votava amor tão ardente que, para lhes mostrar o caminho que devem trilhar, consentiu em perlustrá-lo .

"Experimentava as angústias que dilaceram o coração da mãe extremosa que vê transviados, criminosos, seus filhos diletos; que vê prestes a caírem sobre eles os rigores da lei; que lhes brada: "Vinde a mim, vinde a mim e eu vos salvarei; arrependei-vos e obterei o perdão para vós", e os vê surdos, a lhe voltarem as costas, para prosseguirem no funesto caminho. Ela não sofre, é certo, na sua carne, a carinhosa mãe; seus ossos não são despedaçados. Mas, todas as fibras do seu coração estalam dolorosamente; torturam-na a ansiedade, a aflição pelo futuro de seus bem-amados!" (Tomo III, pág. 417).

"O sofrimento, na essência espiritual, é mais forte e mais vivo do que o possam ser, para os vossos corpos, quaisquer sofrimentos humanos." (Tomo II, pág. 427).



CAUSAS MORAIS DAS DORES FÍSICAS



"Remonte ele à origem do mal, sobretudo procure sempre a causa moral em todas as dores físicas, dores orgânicas - bem entendido.

"Aquele que quebra um braço não pode acusar nenhuma dor secreta ou maus pendores; porém, nos inúmeros males que afligem a Humanidade, pesquisai bem o fundo dos corações e das consciências e encontrareis a raiz dessa árvore que se estende por todos os membros. O coração ou a alma quase sempre estão atacados. Daí a perturbação do sistema nervoso, fonte de todas as enfermidades, de todos os sofrimentos. Perscrutai os antecedentes do que sofre e muitas vezes descobrireis o pesar oculto de uma ação, um acontecimento que interessou a saúde, viciando o sangue que devia circular puro nas veias." (Tomo Il, pág. 31/2).

Quando foi dada esta mensagem, Segismundo Freud era um menino de cinco anos de idade; no entanto, estas últimas linhas parecem copiadas de um tratado de Psicanálise. Não só Freud atribui as doenças a recalques, como, muitos médicos ilustres hoje compreendem as influências do pensamento e do sentimento sobre a, saúde e recomendam o cultivo do bom humor, da alegria, para restauração da saúde. A pouco e pouco a ciência humana vai descobrindo a solidariedade entre o corpo e o Espírito. Tendemos ao médico-sacerdote que trate simultaneamente do corpo e da alma, como o fazia Jesus.

Nos povos primitivos as funções do médico e sacerdote eram exercidas pelo mesmo individuo. A esse respeito escreveu Stefan Zweig um livro precioso com o título "Heilung durch den Geist" ("A cura através do espírito"). Quando nos libertarmos de todos os nossos defeitos morais, não formos mais escravos do pecado, ficaremos livres também das doenças. Compreende-se que isso levará longo tempo, porque trazemos uma bagagem muito pesada de encarnações pretéritas e teremos que expiar todas as faltas, antes de chegarmos à perfeição moral que refletirá em benefício de nosso físico.

Presentemente a Humanidade da Terra passa por uma onda de materialismo que nos impressiona. As crenças antigas não satisfazem mais ao homem intelectualmente desenvolvido e ele as abandona, mesmo quando se conserva profitente de uma igreja. O Espiritismo ainda se acha pouco desenvolvido na sua missão de substituir as antigas crenças simplistas. Também ele se perdeu, em muitos países, num emaranhado de sofismas e experimentação estéril.

Parece longe o tempo em que em todos os povos do mundo o Espiritismo se divulgue suficientemente para transformar  a nossa civilização materialista. As mensagens dos nossos Maiores nos advertem de que essa restauração do Cristianismo terá que partir do nosso país e como o Brasil ainda exerce pouquíssima influência no sentimento universal, por isso que sua língua nacional é um túmulo para o pensamento, vemos que essa missão não se acha num futuro próximo, mas muito afastado; porque, antes disso, terão que ser abolidas as barreiras linguísticas que insulam intelectualmente os povos. Compreendendo esse aspecto linguístico do magno problema, a Federação Espírita Brasileira incorporou a divulgação do Esperanto à sua tarefa, e vai dando os primeiros passos na preparação desse glorioso porvir. Não ignoramos que será trabalho longo, mas sabemos igualmente que temos em nossa frente todos os séculos e milênios vindouros, porque a morte não existe e o Senhor da Seara nos permitirá voltar ao seu serviço tantas vezes quantas se faça mister para cumprirmos fielmente nossas tarefas.

Virá o tempo em que não teremos o sofrimento moral nem o físico, porque estarão vencidos o pecado e a dor.



Reformador (FEB) Abril  1950

[1] Refere-se aos quatros tomos que constituem  ‘Os Quatro Evangelhos’ coordenados por J-B Roustaing.

Nenhum comentário:

Postar um comentário