sexta-feira, 6 de março de 2015

ESPIRITISMO E CIÊNCIA


O cepticismo de pretensos cientistas tem sido mais nocivo do que benéfico à Humanidade. A verdadeira característica do sábio é a humildade honesta, isto é, a humildade que se manifesta espontaneamente, com o propósito de evitar algo capaz de escandalizar a outrem. O sábio estuda, analisa, pesquisa, observa, compara e conclui. Não realiza afirmativas apriorísticas, mesmo quando em face do que possa parecer, à ciência oficial, absurdo ou paradoxo.

Infelizmente, porém, não é numerosa essa nobre estirpe de sábios, à qual pertenceram e pertencem homens de absoluto equilíbrio moral e intelectual, dotados de uma independência admirável e refratários a influências de caráter religioso, político ou dogmático.

Quando o Espiritismo, no século passado e nos primeiros anos do presente século, atraiu as atenções do mundo científico, numerosos foram os homens de ciência que se puseram a fazer experiências, a fim de descobrirem o que havia de verdadeiro na velhíssima novidade. Alguns, indiferentes aos preconceitos, se entregaram de corpo e alma ao trabalho, objetivando encontrar a verdade que haviam vislumbrado. Outros, entretanto, preferiram adotar atitudes espaventosas, agradáveis aos impenitentes negadores de todas as épocas e aos servidores do ultramontanismo absorvente e dominador. Por isto, sábios como William Crookes, para mencionarmos apenas um, sofreram insultos e humilhações. Repetira-se com ele o que já sucedera com outros legítimos homens de ciência, incumbidos pelo Alto de romper os liames da tradição balofa, que a vaidade e o orgulho amparavam. César Lombroso, enquanto negou a realidade espírita, era apontado como gênio. Depois que, tocado pela revelação, pode observar, graças à médium Eusápia Paladino, fenômenos incontestáveis, tendo a bela coragem de confessar a verdade, renunciando aos pontos de vista que anteriormente professava, passou a ser achincalhado por aqueles mesmos que o incensavam. Agora, já era um velho senil, que não possuía suficiente equilíbrio para discernir entre a verdade e o erro. Não obstante, sua famosa obra póstuma – “Richerche sui fenomeni ipnotici e spiritici” - é um monumento que engrandece o Espiritismo, porque ele, não apenas reconhece a realidade espírita, mas desenvolve considerações impressionantes, com a autoridade moral e científica que possuía. Em “Cristianismo e Espiritismo”, obra de Léon Denis, que deve ser lida atentamente por todo aquele que almeja adquirir cultura espírita, há um histórico magnífico acerca da evolução do Espiritismo, além de estudar a origem dos Evangelhos, sua autenticidade e seu sentido oculto; as alterações sofridas pelo Cristianismo e sua decadência, precedendo a Nova Revelação, isto é, o Espiritismo, que é o Cristianismo redivivo, em sua forma simples e pura.

Há, entretanto, necessidade que os cientistas se dediquem mais seriamente aos problemas que o Espiritismo oferece à sua argúcia. Não desejamos nós, prosélitos de Allan Kardec, que eles adotem previamente uma postura simpática em relação ao Espiritismo. O que desejamos é que sejam absolutamente despidos de “parti-pris” no exame e estudo dos fenômenos espíritas, e se forrem de beneditina paciência para levar a termo tão árduo quão benemérito trabalho. Mais cedo ou mais tarde, Espiritismo e Ciência estarão de mãos dadas, porque a Ciência há de alcançar resultados que a possibilitem a afirmar a veracidade dos postulados espiritistas. E então, se isto não for para os nossos dias, porque ainda há muito preconceito e muito dogmatismo, se-lo-á para o próximo milênio pois o Espiritismo não se baseia em milagres, não se escora em fantasias nem em episódios alucinantes. Em seu tríplice aspecto – religioso, filosófico e científico – há de afirmar-se a Humanidade inteira, como já se afirmou a milhões de criaturas despojadas de orgulho e isentas de vaidade.

O Espiritismo salva, enquanto o cepticismo, filho dileto do materialismo, conduz os homens ao desespero. O legítimo sábio não aprova nem desaprova, não afirma nem nega previamente. Estuda, observa, pesquisa, examina, analisa compara e conclui. Só emite opinião definitiva quando julga esgotadas todas as fontes de esclarecimento e todos os recursos investigatórios.

Se são lentos e penosos os avanços conseguidos na Física, na Química e em outras ciências, digamos da matéria, como pretenderem que sejam rápidos e fáceis os trabalhos realizados nos domínios do Espiritismo, mesmo no que diz respeito às manifestações físicas? É lamentável que poucos tenham sido os homens de ciência devotados a tão úteis, embora dificílimos, estudos. A maioria, utilitarista e imediatista, quer que os “fatos” se repitam matematicamente como se os Espíritos não tivessem vontade própria e pudessem estar equiparados a fenômenos invariáveis, sujeitos a fórmulas fixas. Por isso essa maioria de sábios sorri superiormente, escarnece e nega os fenômenos espíritas, sem se dar ao trabalho de verificar se são mesmo sábios ou se apenas aparentam sê-lo. A verdade é monopolizada por eles e também pela Igreja.

O que não estiver de acordo com os cânones consagrados pela ciência oficial ou conforme as exigências da Igreja, é repelido.

O Espiritismo continua serenamente seu caminho e não tem pressa, porque sabe que a Humanidade evolui muito lentamente. Quanto mais se demorar o homem a iluminar-se pelo conhecimento da verdade espírita, maiores serão os obstáculos que terá de transpor. O homem macerado por sucessivas reencarnações, um dia curvará a cerviz à verdade e, então, verá que o Espiritismo jamais esteve ou estará em antagonismo com a Ciência, uma vez que ele é, a um só tempo: Religião, Ciência e Filosofia. 

 

Túlio Tupinambá / (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Abril 1956

 

DOUTRINAR SEMPRE


Nada é mais necessário fazer no ambiente espírita do que doutrinar, levar a Doutrina à compreensão dos confrades mais humildes, para os quais há conveniência em se adotar linguagem muito simples, que lhes permita rápida assimilação das ideias apresentadas.

Não se trata, positivamente, de falar bonito, mas de falar eficientemente, com absoluto conhecimento da Doutrina, para esclarecer, ensinando. É bem mais importante do que possa à primeira vista parecer, a pregação inteligente da Doutrina de Kardec. O número daqueles que perambulam pelo Espiritismo e pouco ou quase nada sabem de Doutrina é muito grande. Em virtude da "lei do menor esforço", muitas vezes o adepto do Espiritismo não se mostra exigente, não zela pelo respeito à Doutrina, porque a desconhece em suas minúcias. Aceita qualquer "espiritismo" que lhe pareça bom por falar em Jesus, no bem, etc.

Evidentemente, isso não basta. Seria ótimo que a só menção do nome de Jesus fosse bastante para assegurar a certeza de que os princípios doutrinários do Espiritismo são observados em qualquer parte. Tal não sucede, porém. Há necessidade de se martelar a Doutrina, pela palavra falada, nas tribunas e no Rádio, pela palavra escrita, nas conversações, enfim, onde quer que estejam reunidos indivíduos que debatam temas espíritas.

Todos nós, que nos sentimos com alguma responsabilidade no movimento espírita nacional, devemos ser rigorosos na exemplificação de todos os instantes, porque os olhos dos confrades mais novos ou dos adeptos incipientes convergem justamente para aqueles que eles supõem ser corretos no procedimento moral.

Doutrina, Doutrina, Doutrina - eis o ponto fundamental de qualquer propaganda espírita kardecista. Com a difusão da Doutrina será mais fácil corrigir maus hábitos, superstições, abusões, erradas interpretações dos fatos espíritas e destorcida compreensão do que eles possam ignificar à luz dos preceitos doutrinários.

Ninguém pode ter "o seu espiritismo". Todos podem ter apenas o Espiritismo fundamentado na Doutrina, que é simples, porém positivo. Ele somente sobreviverá através da Doutrina. Sua consolidação se deveu à unidade de ação dentro dos princípios doutrinários. Mas à medida que se vai ampliando o seu raio de ação, à medida que cresce extraordinariamente o número de adeptos, é mister reforçar e ampliar o trabalho doutrinário.         

Devemos dizer uma verdade que talvez não seja bem aceita: o Espiritismo teórico não lança raízes profundas no espírito dos adeptos mais esclarecidos. É imprescindível que ele seja comprovado pelo trabalho prático, objetivo, ilimitado, com base na assistência social, na caridade respeitosa, no socorro àqueles que, tangidos pelos compromissos do Carma, vivem uma existência de privações dolorosas.

Isso tem sido feito no Espiritismo, mas precisa de ser multiplicado, desenvolvido e mantido permanentemente, numa atmosfera evangélica de reconstrução moral e espiritual de pobres irmãos em terríveis provas na Terra.

Dar o pão do espírito sem esquecer o pão do corpo, eis o caminho que tem apresentado resultados mais seguros e mais rápidos. A Doutrina tanto pode ser encontrada dentro de um livro como dentro de um pedaço de pão.

Nunca o mundo sofreu tanto quanto presentemente; nunca houve tanta dor nem tanta miséria como nos dias que correm. Por isto, as responsabilidades dos espíritas multiplicaram-se e eles têm de sustentar galhardamente essa luta, sem o que poderão ser absorvidos ou perturbados em suas tarefas.

Doutrinar, Doutrinar, Doutrinar, exemplificando, ajudando, trabalhando praticamente também, para que os obstáculos sejam mais facilmente superados.

 

Indalício Mendes

Reformador (FEB) Agosto 1962