domingo, 30 de maio de 2010

A BUSCA DO PRAZER, SUAS LUTAS E SEUS CONFLITOS.


O ser humano, indiscutivelmente, anseia por encontrar o prazer, ponto original da ambicionada felicidade, a qual merece destaque especial no processo evolutivo do Espírito encarnado.

Ele, o prazer, não deixa de ser um estímulo veemente para a criatura. Tanto isso se constitui numa realidade que, havendo uma frustração diante da busca, costuma-se dizer: “sou um azarado”, “não existe nenhum motivo para eu continuar vivendo”, “o melhor é desistir de tudo”...

Ignoram essas pessoas que a frustração não deixa de ser um item precioso no processo da nossa evolução, pois que, com ela, aprendemos a suportar o insucesso, passamos a perceber que nem tudo depende exclusivamente de nossas atitudes e ambições. Algo, muito além das nossas percepções, dirige nossos dias, nossos momentos...

De modo geral, estabeleceu-se que ser feliz é ter motivos para sorrir, mostrar-se bem-disposto, elegantemente vestido, aparecendo publicamente dentro de um veículo último tipo, preferencialmente estrangeiro, desfilando aprimorada sociabilidade, e por aí vai...

No entanto, atentemos para o fato de que tudo isso pode não passar de uma máscara afivelada à face dessas criaturas, escondendo sofrimentos, inseguranças, incertezas sobre si mesmas diante dos que as cercam.

O prazer tem sido direcionado para atendimentos imediatos onde os gozos mais fortes existam, tais como aqueles divertimentos estimulados pelo álcool, sexo, tabagismo e, naturalmente, as drogas aditivas e alucinógenas, perturbadoras.

Tal estado íntimo, alcançado pelo uso desses ingredientes, leva, é verdade, a diversões variadas, fortes e desnorteadoras, mas não ao real prazer, que pode ser vivido numa leitura saudável, na audição de uma boa música, em conversações agradáveis, numa convivência relaxante, em passeios e caminhadas pela praia ou pela mata...

O falso prazer, no final, exige da pessoa um repouso prolongado para refazimento energético, afetivo. Ele na verdade se perdeu, esvaziou-se de todas as características de gozo real.

O prazer precisa espraiar-se pelo sistema emocional da criatura, ao final dos momentos vividos que lhe deram origem, deixando-lhe sempre aquela sensação de bem-estar psicofísico, que podemos chamar de bem-estar espiritual.

Quantos esforços são despendidos na busca de um prazer, o qual, tão logo seja logrado, estiola-se, afrouxa toda a expectativa do ser, seu ânimo é jogado por terra, instalando-se a insatisfação, a frustração, o desânimo...

Os ilegítimos prazeres multiplicam-se até o grau de extravagâncias e aberrações, violências e agressividades, para substituírem um estado psicológico enfermiço de enfado que predomina em muitos seres, sempre surgindo nos instantes finais de suas buscas, pelo fato de não haverem preenchido, como era esperado, as reais necessidades de bem-estar que felicitam o Espírito empenhado na busca do verdadeiro prazer.

A história humana, de ontem e de hoje, notabilizou-se pela procura de divertimentos que tivessem continuidade, surgindo as lutas cruentas que terminavam em mortes nas arenas. Essas lutas persistem, com suas variações, nelas incluindo-se as lutas de animais sob os gritos dos jogadores que investem largos recursos para a vitória de seus animais “guerreiros”.

Nessas horas de criação de divertimentos, com jogos e violências, a imaginação do homem sempre se mostrou fértil e variável em atrativos, e quanto mais excitantes melhor. Foi aí que as pessoas começaram a perder o senso do prazer, transferindo-se para o divertimento da crueldade, da maldade, da falta de sensibilidade perante a dor do outro.

Hoje, passados séculos, a violência ainda se espraia mostrando uma face enegrecida pela ignorância no que diz respeito ao verdadeiro prazer, aquele tão bem exemplificado pelo Cristo de Deus, Jesus, cuja atuação visava única e exclusivamente o bem-estar espiritual.

Os divertimentos atuais ganham da mídia um excelente auxiliar porque está em jogo o lucro.

O aumento da variedade de divertimentos leva os seus praticantes incautos às fugas psicológicas, à indiferença quanto à dor alheia, à ausência de solidariedade, porque nesses momentos a instalação do egoísmo é temporariamente invencível, deixando, após sua passagem, um rastro de insaciedade, onde não pode, de forma alguma, existir o prazer.

A ignorância com relação ao que o homem é, seu desconhecimento de que a Deus não se engana, é o que leva a criatura desavisada a permanecer num estado de ignorância que não tem limites.

Somente a dor poderá fazer o que o amor não conseguiu. Infelizmente, esta é a grande e iniludível realidade diante dessa busca desenfreada do prazer, do gozo.

Mais do que natural que surjam, agora ou depois, vários,muitos processos conflituados na criatura no íntimo de sua personalidade e no âmago de sua individualidade.

Somente através de uma terapia em que a razão e o bom senso tenham fincado suas raízes profundas, podem ser ofertados àqueles que se encontram nessa faixa de buscar prazeres e gozos fora do quadro real da espiritualização.

Muito esforço ainda será cobrado aos enganados gozadores da vida, até que eles se encontrem, deparem-se com o verdadeiro prazer – o espiritual –, e por uma razão muito simples: ele é um Espírito, filho de Deus, criado para a perfeição, portanto, para ser feliz.

Reformador Maio/09

quinta-feira, 27 de maio de 2010

HÁ QUANTO TEMPO?

Há quanto tempo não percebes o perfume de uma flor?...
Há quanto tempo não encontras tempo para observar o nascer do Sol?...
De quanto tempo dispõe para observar um arvoredo, o cantar dos pássaros?...
És capaz de perceber o som das águas correndo em um riacho?...
Qual a última vez que observaste um céu estrelado e meditaste sobre o que tudo isso significa para ti?...

Será que te consideras parte integrante dessa dinâmica universal?
... Será que percebes realmente o significado e a harmonia que reina à tua volta?
Esse mundo chega à tua sensibilidade?...

Na maioria das vezes a resposta será não, e estás perplexo em ver o quanto te isolaste de Deus em tua egoística lógica ou em tua falsa idéia de auto-valorização. Observa mais o que anda à tua volta e então te sentirás pequeno e assim te tornarás grande pela retomada de teu ser humilde, pela reintegração a teu Criados. Perceberás então que és responsável por parte desse equilíbrio e desse amor, e só então entenderás a ti mesmo e a teu próximo, entenderás porque todos somos irmãos.

Mensagem do Espírito Lindinalva

quarta-feira, 26 de maio de 2010

SACRIFÍCIOS


Compulsando-se a história das religiões, verifica-se que o oferecimento de sacrifícios à Divindade remonta a um passado remotíssimo, a perder-se na noite das idades.

As oferendas, que a princípio consistiam em frutos da terra, passaram, depois, a constituir-se de animais, cujas carnes eram queimadas nos altares, transformando-se, mais tarde, em sacrifícios humanos.

O Velho Testamento faz inúmeras referências ao holocausto de vítimas humanas aos deuses Baal, Moloque e outros, dando-o como prática generalizada entre os povos asiáticos, sendo que o Gênesis, capítulo 22, nos conta que até mesmo Abraão, um dos patriarcas do Judaísmo, intentara. matar seu filho único Isaac, como prova de amor a Jeová, somente não o fazendo porque, no último instante, um anjo interveio, ordenando fosse suspensa a. imolação.

Segundo relata um escritor do passado, 300 cidadãos e 200 crianças das melhores famílias de Cartago (África) foram, certa vez, oferecidos em sacrifício a Saturno, visando a aplacar-lhe a ira, por acreditarem que a situação penosa em que se encontravam (o sítio da cidade por poderosas hostes conquistadoras) fosse motivado pelo fato de, até então, só haverem oferecido a essa divindade filhos de escravos estrangeiros.

Na Europa, os sacrifícios humanos, se bem que em menor número, também foram praticados séculos pós séculos. Dizem-nos os historiadores que na Grécia, para homenagear ou saciar Apolo, Dionísio, Zêus e outros deuses, jovens e crianças eram queimadas em piras fúnebres lançados do alto dos penhascos ou chibatados até a morte. Na Itália, adotava-se o afogamento atirando-se trinta pessoas, anualmente, às águas do rio Tibre. O deus cultuado na Zelândia, verdadeiro monstro, exigia, em igual período, o sacrifício de nada menos que noventa e nove pessoas. Na Bretanha, conforme o relato de César, fazia-se uma colossal estátua de vime, enchiam-na de vítimas e deitavam-lhe fogo. Já na Gália, colocavam-nas num altar e abriam-lhe o peito à espada.

Entre os povos Primitivos da América, esse costume bárbaro deve ter vigorado também, por muito tempo. Haja vista que, quando da conquista do México, no século 16, foram encontradas em um templo cerca de 136.000 caveiras de vítimas sacrificadas aos deuses ali adorados pelos astecas.

Esclarecem-nos, entretanto, os mentores espirituais, através de Kardec, que não era por maldade que os homens da Antigüidade procediam dessa forma, mas sim por mera ignorância.

E explicam: em nossos dias, quando nos dispomos a oferecer um presente a alguém, não o escolhemos de tanto maior valor quanto mais estima queiramos testemunhar a esse alguém, ou quanto mais interesse tenhamos em conquistar-lhe as boas graças a fim de solicitar-lhe certos favores?

Não eram outros os motivos que levavam nossos antepassados a sacrificar às divindades. Como, porém, não podiam concebê-las com os atributos da perfeição, antes as rebaixavam ao nível deles mesmos, julgavam, erroneamente, que o holocausto a ser-lhes oferecido seria tanto mais valioso quanto mais importante fosse a vítima.

Dai porque nos ofícios sacrificatórios os produtos agrícolas foram, com o tempo, preteridos pelos animais, que, por sua vez, foram substituídos por seres humanos: estrangeiros ou inimigos, e, posteriormente, em lugar destes, os pais passaram a. sacrificar os próprios filhos!

É que — supunham —, com estas oblatas, os deuses haveriam de sentir-se muito mais honrados.

As pessoas esclarecidas compreendem agora, que, conquanto praticados com piedosa intenção, tais sacrifícios nunca foram agradáveis a Deus, como não podem agradar-lhe tão-pouco, as macerações e as penitências que certos religiosos Continuam a impor-se sem que aproveitem a ninguém

A Doutrina Espírita fazendo luz sobre este assunto, ensina-nos que o Único Sacrifício abençoado por Deus é aquele que se faça por amor e em benefício do próximo, e que “o melhor meio de honrá-lo, Consiste em minorar os sofrimentos dos pobres e dos aflitos.”

(Capítulo 2º, questão 669 e seguintes)

Rodolfo Calligaris
Livro: Leis Morais da Vida

terça-feira, 25 de maio de 2010

GRAVIDEZ INDESEJADA


1 - Sou solteira, estudante, 17 anos. Estou grávida. Por que Deus fez isso comigo?
Se você sai na chuva e se molha ou põe a mão no fogo e se queima, pode culpar Deus? Qualquer adolescente sabe que a relação sexual envolve a possibilidade de concepção.

2 - Mas não é tudo programado pelos Espíritos prepostos de Deus?
Não confunda os programas de Deus com os “programas” dos homens.
Deus sustenta a vida, mas sua manifestação, condição e qualidade dependem de nossas iniciativas.

3 - Se não é pela vontade de Deus que fiquei grávida, então posso abortar e livrar-me do problema?
Deus nos consente fazer o que desejamos, embora nem sempre façamos o que Ele deseja. “Transar” indiscriminadamente, por exemplo. O mal está em fazer o que Ele não deseja nem consente. Aqui situa-se o aborto. No primeiro caso temos uma experiência que acabará nos ensinando que o sexo não deve ser inconseqüente. No segundo temos um lamentável gesto de rebeldia e crueldade para com o filho asilado em seu ventre.

4 - Vai complicar. Meus pais querem que eu aborte.
Os problemas que enfrentará com seus pais são insignificantes, diante dos que resultam do aborto.

5 - E se eu procurar um bom médico?
Nenhum médico a livrará das conseqüências funestas do aborto, que é crime diante das leis divinas.

6 - Isso não importa agora. Quero resolver o presente. Do futuro cuidarei depois.
Se você quebrar a perna e precisar engessá-la, preferirá mandar amputá-la?
Um filho, você saberá um dia, é muitas vezes um “engessamento” existencial, impondo-nos proveitosas disciplinas. O aborto é lamentável amputação moral que lhe reservará muitos dissabores.

7 - O casamento seria uma solução, mas meu namorado não quer. Devo pressioná-lo?
No passado fazia-se isso para salvar a reputação da jovem e a honra da família. Não importava se o casamento forçado inviabilizaria uma convivência feliz. Hoje sabemos que o único nome pelo qual devemos zelar é o de filhos de Deus, procurando cumprir suas leis, a partir do inconfundível “não matarás”, contido no decálogo moisaico.

8 - Não me sinto preparada para a maternidade.
Raras mulheres sentem-se. A maternidade é sempre um desafio, mas um bom desafio que vencerá tranqüilamente, se confiar em Deus e dedicar-se ao filho.

Richard Simonetti
Livro: Não Pise na Bola

segunda-feira, 24 de maio de 2010

EXISTÊNCIA DE DEUS

Existe no mundo atual uma forte linha divisória, traçada pelos homens, que separa as diferentes correntes de ideias como sendo parte ou de religião, ou de ciência, ou de filosofia. O homem moderno, apesar de mais desenvolvido intelectualmente, ainda traz traços claros de outros tempos quando, o que não podia ser explicado à luz da ciência era categorizado por nós como sobrenatural ou herético. Hoje ainda, assuntos que são considerados científicos, são compartimentalizados, como se nada tivesse de relação com assuntos de ordem Divina, e a filosofia é considerada como nada mais que um simples conjunto de ideias teóricas sem nenhuma aplicação prática.

Essa separação força uma postura dogmática para que aceitemos e abracemos a verdade absoluta de que Deus é nosso Pai e Criador de todas as coisas, e assim somos forçados a aceitar, sem questionamento, que tudo o que existe e ocorre se dá por vontade Dele. Realmente, é fato que tudo o que existe e ocorre se dá por vontade do Altíssimo, mas, uma vez que se pudesse comprovar esse fato através de observações e estudos, ao invés da simples aceitação de dogmas religiosos a nós impostos, poder-se-ía chegar a uma situação de consenso com relação à existência de Deus; então, a argumentação racional derrubaria a descrença dos que nunca encontraram explicação plausível para a lei Universal, e que precisam de algo mais que a fé cega para aceitação do que lhes é imposto.

Tomemos então como parâmetro inicial para discussão o aspecto científico aceito nos dias atuais que explica a teoria evolucionária da Terra. O postulado aceito hoje como padrão para a origem dos organismos vivos terrestres nos diz que toda a vida no planeta começou através de micro-organismos unicelulares, que em tempo, evoluíram a organismos multicelulares, a plantas e animais simples, finalmente culminando no organismo mais complexo de todos que é o homem e seu mecanismo de inteligência em constante evolução.

Existem dois caminhos que se pode seguir para estabelecimento de uma conexão entre a teoria evolucionária da vida na Terra e a existência de inteligência suprema, arquiteta de todo esse processo. A primeira direção é a que caminha no tempo, em sentido contrário à linha evolucionária, e que investiga a origem dos micro-organismos elementares. A corrente teórica mais aceita na atualidade é a que atribui a criação desses seres elementares à combinação de redes inorgânicas de carbono existentes na superfície do globo, que através de reações químicas se transformaram nos micro-organismos elementares em questão. Essa teoria é a mais aceita, uma vez que está provado cientificamente que a partícula mais elementar do corpo humano é também formada por redes de carbono inorgânico. Assumindo que esta seja realmente a origem de tudo, como se explica o fato do homem nunca ter conseguido criar vida a partir de redes de carbono inorgânico? Os avanços mais recentes no campo da genética possibilitaram ao homem apenas a clonagem de seres vivos, utilizando-se para isso o DNA do animal a ser copiado; portanto, isso nada mais é que a cópia de algo existente, não podendo ser caracterizado ou qualificado como criação de vida. Essa simples pergunta gera uma série de considerações, tais como:

(1) Talvez o homem nunca tenha conseguido criar vida a partir de composições inorgânicas pelo fato de que exista outro ou vários outros componentes que devam ser adicionados a redes de carbono para a criação dos seres orgânicos.

(2) Se existem realmente componentes extras que devam ser adicionados, esses componentes ainda não foram descobertos pela nossa ciência, o que sugere que existem componentes ainda mais elementares que o mais elementar que já foi descoberto até hoje.

(3) Se a vida orgânica necessita de um ou vários componentes para sua criação, adicionados às redes de carbono, é realmente razoável se atribuir a puro acaso a combinação de todos esses elementos, nas suas quantidades exatamente precisas, dentro de condições ambientais exatamente perfeitas de modo que se combinem a ponto de criarem vida orgânica? Probabilisticamente falando, isso seria impossível sem a intervenção de uma inteligência exterior ao fenômeno, que alinhe as condições, quantidades e elementos de forma que o resultado final seja o esperado.

Ora, se chegamos à conclusão racional de que a criação da vida só pôde ser executada através da intervenção de algum tipo de inteligência, e que estamos nos referindo aos seres vivos originários de toda a vida na Terra, chegamos a um paradoxo: Precisamos de vida inteligente para criação de vida inteligente.

Nesse ponto, mesmo que se atribua essa inteligência externa a criaturas de outros mundos que não as da Terra, como existe hoje corrente simpática a essa teoria, pode-se aplicar a mesma sequência de raciocínio para chegarmos à origem da criação desse ser inteligente em seu próprio mundo, e o criador deste, e o criador deste ainda, até que cheguemos ao criador original, Deus.

O segundo caminho que precisamos seguir para estabelecimento de conexão entre a Inteligência Original e Suprema e a teoria evolucionária se dá na direção temporal oposta à anterior, ou seja, na direção da evolução dos organismos vivos culminando na criação do homem em toda sua complexidade. Apelando mais uma vez à matemática da probabilidade, seria razoável aceitar que essa evolução seguiu um processo aleatório, mantendo em perspectiva que, um simples elemento vivo unicelular possa ter se transformado em um organismo tão complexo quanto o homem?

Isso se quisermos nos manter apenas no campo físico do corpo humano. O que falar do campo mental do homem e toda sua complexidade? Não me refiro ao cérebro propriamente dito apenas, mas ao domínio de suas ideias que determinam a individualidade de cada um de nós. Seria realmente obra do puro acaso a evolução dos seres vivos até esse nível de complexidade?

E com relação à Natureza? Como explicar o seu número virtualmente infinito de elementos e seres variados e como todos se encadeiam e colaboram de forma perfeita para a manutenção do equilíbrio de vários ecossistemas? Cadeias alimentares que garantem a sobrevivência e utilidade de todas as múltiplas espécies de seres vivos, cadeias essas que se alteradas resultam em consequências catastróficas para a região afetada, mas que parecem ter um mecanismo de controle natural, que acaba se reequilibrando sem a necessidade de influência humana, tão logo a força disturbante a essa cadeia se interrompa. Pode-se atribuir toda essa perfeição, de novo, à obra do acaso?

Isso tudo sem mencionar os elementos inorgânicos, que possibilitam infinitas combinações para formação de outros mais complexos, e outros ainda mais. E o que falar dos fenômenos da eletricidade e magnetismo, que através do estudo de seus respectivos campos possibilitou à ciência a descoberta de verdadeiros mundos de possibilidades? A eletricidade e magnetismo não foram criados pela ciência, apenas descobertos. Isso tudo também é acaso?

E os sentimentos humanos, que a ciência até hoje não conseguiu decifrar? Cada relacionamento entre duas pessoas produz número infinito de nuances emotivas, tanto na qualidade e característica de emoções, quanto em suas intensidades. Pelas leis matemáticas, o adicionamento de uma terceira pessoa a essa rede inicial de duas pessoas, aumentaria o número de combinações exponencialmente. Considere agora que existem hoje no globo terrestre mais de cinco bilhões de pessoas, e que todas elas se relacionam indiretamente. As ações de um único indivíduo acabam afetando todos os habitantes do globo, através de suas associações indiretas, como um dominó que cai em uma fileira de cinco bilhões de dominós. É mais do que razoável a aceitação de que exista uma série de leis pelas quais o Universo seja regido, caso contrário, não seria muito difícil imaginar um completo caos culminando com a sua total destruição. Deixamos aqui a pergunta: achamos nós realmente, que as leis da física conhecidas pela ciência de hoje, seriam suficientes para reger um super-organismo tão complexo e inter-relacionado como o Universo infinito?

Negar a linha de raciocínio acima seria negar o axioma básico de todas as ciências; o de que não existe efeito sem causa. Para se crer em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe que nesse caso seria o efeito, logo uma causa para esse efeito deve existir. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde realizar alguma coisa. A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso seria insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria acaso.

Entende-se que para alguns homens seja difícil a aceitação pura e simples de dogmas impostos pelas diversas religiões, especialmente quando essas próprias religiões, que por terem sido criadas por homens, são também falíveis como seus criadores. Temos provas diárias que nos fazem contestar as religiões terrestres, como por exemplo, os movimentos das cruzadas nas épocas medievais que mataram milhares de inocentes em nome de Deus; nada mais era que um movimento político à procura de poder; o roubo da inocência de crianças por membros de altos escalões religiosos, para saciamento de seus sentimentos carnais animalescos; o assassinato de milhares de pessoas em nome de uma chamada guerra santa, motivada por interesses econômicos mundanos; a ostentação gratuita de templos religiosos, adorando a Jesus, que foi o mais humilde de todos os homens, quando ao mesmo tempo, a humanidade nunca sofreu tanto com a pobreza e as desigualdades sociais; o pedido de dízimo e contribuição material fixa e mensal dos fiéis, com o argumento de estes estarem comprando sua vaga junto aos escolhidos na seara de nosso Pai; e outros tantos exemplos que, por si só, apresentariam material suficiente para um livro separado.

Para estes homens contestadores, diríamos: volte-se para a ciência e o raciocínio lógico; para o encontro com o Criador de todas as coisas. Não se deixem hipnotizar pela fraqueza e poder de sugestão dos chamados homens de bem, criadores das religiões Terrenas. Busquem o Pai criador através da análise crítica do mundo que os cerca e usem a ciência, que explica parcialmente a origem das coisas, mas que não encontra respostas para as perguntas fundamentais que serviriam como preenchimento das lacunas mais importantes, como estímulo à sua pesquisa pessoal. Não bloqueiem seu raciocínio para as perguntas de hoje sem respostas, e procure por nosso Pai dentro de seu templo individual, seu coração, que lhes dá a intuição de que somos criações e filhos de um Ser de inteligência infinita, e sua mente, que procura incessantemente pelo sentido da vida.


Espíritos: Camile Flammarion e José de Anchieta
Livro: Espiritismo: Filosofia, Ciência e Religião

sábado, 22 de maio de 2010

O PROGRESSO NA IMORTALIDADE

(Complemento filosófico publicado pelo jornal Le Devoir)

Embora a humanidade avance pouco a pouco na estrada do progresso, pode-se dizer que a imensa maioria de seus membros marcha através da vida como em meio de uma noite obscura, ignorando de onde vem, não sabendo para onde vai, não tendo jamais sonhado com o objetivo real da existência.

Espessas trevas dominam a razão humana; os raios destes poderosos focos, que são a justiça e a verdade, só chegam a ela pálidos, enfraquecidos e insuficientes para aclarar os caminhos sinuosos por onde as inúmeras legiões seguem em marcha, para fazer brilhar a seus olhos o objetivo ideal e distante.

Ignorante de seus destinos, indeciso entre o preconceito e o erro, o homem maldiz, por vezes, a vida. Desfalecendo ao peso do seu fardo, lança sobre seus semelhantes a causa das provas que ele engendra e sofre, muitas vezes por sua imprevidência.

Revoltado contra Deus, que ele acusa de injusto, em sua loucura e seu desespero chega mesmo, algumas vezes, a desertar do combate salutar, da luta que só pode fortificar sua alma, aclarar seu julgamento, prepará-lo para trabalhos de ordem mais elevada.

Por que é assim? Por que o homem desce frágil e desarmado na grande arena onde se trava, sem tréguas e sem descanso, a eterna e gigantesca batalha? É que esse globo terrestre é simplesmente um dos degraus inferiores da escala dos mundos e nele moram apenas espíritos novos, isto é, almas nascidas recentemente com a razão.

A matéria reina soberana em nosso mundo e curva sob seu jugo até os melhores dentre nós; limita nossas faculdades, paralisa nossos anseios para o bem e nossas aspirações para o ideal.

Assim, para discernir o porquê da vida, para conhecer sua razão de ser, para entrever a lei suprema que rege as almas e os mundos é preciso saber libertar-se dessas pesadas influências, liberar-se das preocupações de ordem material, de todas essas coisas passageiras e volúveis que acobertam nosso espírito, dificultando nossos julgamentos. Somente nos elevando algumas vezes pelo pensamento, acima dos próprios horizontes da vida, fazendo abstração do tempo e do espaço e planando, de certa forma, acima dos pormenores da existência, é que perceberemos a verdade.

Com um esforço de vontade, abandonemos por um instante a Terra e subamos essas encostas sublimes. Do alto dos cumes intelectuais se desenrolará, para nós, o imenso panorama dos tempos sem fim e dos espaços sem limite. Do mesmo modo que o soldado perdido na luta só vê confusão em seu derredor, enquanto que o general, cujo olhar alcança todas as peripécias da batalha, calcula e prevê seus resultados; da mesma forma que o viajante, perdido nas dobras do terreno, subindo a montanha, pode vê-las se fundir numa planície grandiosa, assim a alma humana, dos cumes onde ela plana, longe dos ruídos da Terra, longe dos recantos obscuros, descobre a harmonia universal. O que embaixo lhe parecia confuso, inexplicável e injusto, visto do alto se liga e se aclara.

As sinuosidades da existência se endireitam. Tudo se une, tudo se encadeia. Ao espírito deslumbrado aparece a ordem majestosa que regula o curso das existências e a marcha dos universos.

Dessas alturas iluminadas, a vida não é mais, aos nossos olhos, como aos da multidão, a busca vã de satisfações efêmeras, porém um meio de aperfeiçoamento intelectual, de elevação moral, uma escola onde se aprende a doçura, a paciência e o dever.

Esta vida, para ser eficaz, não pode ser isolada. Fora de seus limites, além do nascimento e da morte, vemos, numa espécie de penumbra, desenrolar-se uma multidão de existências através das quais, à custa do trabalho e do sofrimento, conquistamos, peça por peça, pedaço por pedaço, o pouco de saber e de qualidades que possuímos e pelos quais também conquistaremos o que nos falta: uma razão perfeita, uma ciência sem limites e um amor infinito por tudo quanto vive.

A imortalidade, semelhante a uma cadeia sem fim, se desenrola para cada um de nós na imensidade dos tempos. Cada existência é um elo que se liga, para trás e para frente, em uma cadeia distinta, a uma vida diferente, porém solidária com as outras.

O futuro é a consequência do passado e, de degrau em degrau, o ser se eleva e cresce. Artífice de seus próprios destinos, o homem, livre e responsável, escolhe seu caminho e se essa rota é difícil, as quedas que terá os calhaus e os espinhos que irão dilacerá-lo terão como efeito desenvolver sua experiência e fortificar sua razão nascente.

A lei suprema do mundo é, portanto, o progresso incessante, a ascensão dos seres para Deus, fonte das perfeições. Das profundezas do abismo, das mais rudimentares formas da vida, por uma rota infinita e com o auxílio de transformações sem conta, nós nos aproximamos dele. No fundo de cada alma o Eterno colocou o germe de todas as faculdades e de todas as potências; cabe-nos fazê-las eclodir por nossos esforços e por nossas lutas!

Encarado por esses aspectos novos, nosso progresso, nossa vindoura felicidade é obra nossa e a graça não tem mais razão de ser, pois a justiça brilha afinal sobre o mundo, porque se todos lutamos e sofremos, todos seremos salvos.

Igualmente se revela aqui, em toda a sua grandeza, o papel da dor e sua utilidade para o progresso dos seres. Cada globo que rola no espaço é uma vasta oficina onde a substância das almas é incessantemente trabalhada.

Assim como o grosseiro mineral, sob a ação do fogo e das águas, se transforma, pouco a pouco, em um puro metal, também a alma humana, sob os pesados martelos da dor, se transforma e se fortifica. É no meio das provas que se forjam os grandes caracteres. A dor é a suprema purificação, é a fornalha onde se fundem todas as escórias impuras que corrompem a alma: o orgulho, o egoísmo e a indiferença.

É a única escola onde se afinam as sensações delicadas, onde se aprendem a piedade e a resignação estoicas. Os gozos sensuais, ligando-nos à matéria, retardam nossa elevação, enquanto que o sacrifício e a abnegação nos desligam, por antecipação, dessa espessa ganga e nos preparam para novas etapas e para uma ascensão mais alta. Assim a alma se eleva na escalada magnífica dos mundos e percorre o campo sem limites dos espaços e dos tempos.

A cada conquista sobre as paixões, a cada passo à frente, engrandecida e purificada, ela vê seus horizontes se alargarem e percebe, cada vez mais distintamente, a grande harmonia das leis e das coisas e nela participa de uma forma bem estreita e mais efetiva.

Então para ela o tempo se apaga e os séculos se escoam como segundos. Unida a suas irmãs, companheiras da erraticidade, ela prossegue sua marcha eterna no seio de uma luz cada vez maior.

De nossas buscas e de nossas meditações se destaca assim uma grande lei: a pluralidade das existências da alma. Nós vivemos antes do nascimento e viveremos depois da morte e esta lei nos dá a chave de problemas até agora insolúveis, pois somente ela explica a desigualdade das condições e a infinita variedade dos caracteres e das aptidões. Conhecemos ou conheceremos, sucessivamente, todas as fases da vida terrestre e percorreremos todos os meios. No passado, nós éramos como esses selvagens que povoam os continentes atrasados; no futuro, nós nos poderemos elevar à grandeza desses gênios imortais, desses espíritos gigantes que, semelhantes a faróis luminosos, iluminam a marcha da humanidade.

O tempo e o trabalho são os dois elementos de nosso progresso e a lei da reencarnação mostra de uma forma brilhante, a soberana justiça que reina sobre todos os seres. Passo a passo, nos forjamos e quebramos, nós próprios, nossos grilhões. As provas terríveis, que alguns dentre nós sofrem, são a consequência de uma conduta do passado.

O déspota renasce escravo; a mulher altiva e vaidosa por sua beleza tomará um corpo enfermo e sofredor; o preguiçoso voltará como servo, curvado sob uma tarefa ingrata, e aquele que fez sofrer, por seu turno, sofrerá. É inútil procurar o inferno nas regiões desconhecidas e distantes. O inferno está em torno de nós e se oculta nas dobras ignoradas da alma culpada, na qual só a expiação pode fazer cessar as dores.

Entretanto, dirão, se outras vidas precederam o nascimento, por que perdemos sua lembrança e como poderemos resgatar com sucesso faltas esquecida?

A lembrança! Ela não seria mais que um terrível grilhão atado aos nossos pés! Mal saída das idades da fúria, escapando, ontem, da bestialidade feroz, qual deve ser esse passado de cada um de nós? Pelas etapas vencidas, quantas lágrimas temos feito correr e quanto sangue temos derramado! Conhecemos o ódio e praticamos a injustiça. Que fardo moral essa longa perspectiva de faltas para um pobre espírito já débil e cambaleante! Depois, a lembrança de nosso próprio passado estaria ligada, de uma forma íntima, à lembrança do passado de outras pessoas. Que desagradável situação para o culpado, marcado assim com o ferro em brasa pela eternidade!

E os ódios, os erros se perpetuariam pela mesma razão, criando divisões profundas e eternas no seio dessa humanidade já tão sacrificada. Sim, Deus fez bem em apagar de nossos frágeis cérebros a lembrança de um passado perigoso. Após termos bebido as águas do Léthé,(1) renascemos numa nova vida.

Uma educação diferente, uma civilização mais ampla faz espantar os fantasmas que perturbaram outrora nosso espírito.

Aliviados dessa bagagem pesada, avançamos com passo mais rápido pelas sendas que nos são abertas.

Entretanto esse passado não está tão extinto que não lhe possamos entrever alguns vestígios. Se, livres das influências exteriores, descermos ao fundo de nosso ser, se analisarmos, com cuidado nossas preferências e nossas aspirações, descobriremos coisas que nada em nossa atual existência e na educação recebida pode explicar.

Partindo daí, chegaremos a reconstituir esse passado, senão em seus pormenores, pelo menos em suas grandes linhas. Quanto às faltas, ocasionando, nesta vida, uma expiação consentida, ainda que apagadas momentaneamente aos nossos olhos, sua causa primária não permanece menos visível para sempre, isto é, nossas paixões, nosso caráter ardente que novas encarnações terão como meta curvar e domar.

Assim, pois, se deixamos sob o esquecimento as mais perigosas lembranças, carregamos, pelo menos, conosco o fruto e as consequências dos trabalhos recentemente conquistados, isto é, uma consciência, um julgamento e um caráter talhados por nós próprios. O que chamamos desigualdade não é outra coisa senão a herança intelectual e moral que as vidas passadas nos legam.

Cada vez que se abrem, para nós, as portas da morte, quando, separada do jugo material, nossa alma escapa de sua prisão de carne para entrar novamente no império dos espíritos, então o passado reaparece inteiramente diante dela. Uma após outra, na rota percorrida, ela revê suas existências: as quedas, as conquistas e as marchas rápidas. Ela se julga a si mesma, medindo o caminho percorrido, e no espetáculo de seus sucessos ou de suas vergonhas, colocados diante dela, encontra seu castigo ou sua recompensa.

Sendo o aperfeiçoamento intelectual e moral da alma o objetivo da vida, qual condição e qual meio nos convêm melhor para conseguir esse objetivo? O homem pode trabalhar para essa perfeição em todas as condições e em todos os meios sociais, porém trabalhará mais vitoriosamente em determinadas condições.

A riqueza proporciona aos homens poderosos meios de estudo e lhe permite dar a seu espírito uma cultura mais desenvolvida e mais perfeita; ela põe em suas mãos facilidades maiores para aliviar seus irmãos infelizes e participar de tarefas úteis para lhes melhorar a sorte. Todavia são raros os que consideram como um dever trabalhar para aliviar a miséria ou pela instrução e melhoria de seus semelhantes.

A riqueza esteriliza, muitas vezes, o coração humano; extingue essa chama interior, esse amor ao progresso e às melhorias sociais, que aquece todas as almas generosas; coloca uma barreira entre os poderosos e os humildes e isola, numa esfera, os deserdados desse mundo, onde, por consequência, suas necessidades e seus males são ignorados e desconhecidos.

A miséria também tem seus horrorosos perigos: a degradação dos caracteres, o desespero e o suicídio, mas enquanto a riqueza nos torna indiferentes e egoístas, a pobreza, aproximando-nos dos humildes, nos faz compartilhar de suas dores. É preciso ter sofrido para avaliar o sofrimento dos outros. É então que os poderosos, no meio das honras, se invejam entre si e procuram rivalizar, em ostentação, os pequenos, aproximados pela necessidade e que vivem, por vezes, em uma tocante confraternização.

Olhai os pássaros de nosso país durante os meses de inverno, quando o céu está sombrio, quando a terra está coberta com um branco manto de neve; agarrados uns aos outros, na borda de um telhado, eles se aquecem mutuamente, em silêncio. A necessidade os une. Contudo, nos belos dias, com o Sol resplandecendo e a provisão abundante, eles piam quanto podem, perseguem-se, batem-se e se machucam. Assim é o homem.

Dócil, afetuoso para com seus semelhantes nos dias de tristeza, a posse dos bens materiais muitas vezes o torna esquecido e insensível.

Uma condição modesta faz mais bem ao espírito desejoso de progredir, de adquirir as virtudes necessárias para seu progresso moral. Longe do turbilhão dos prazeres fugazes, ele julgará melhor a vida, dará à matéria o que é necessário para a conservação de seus órgãos, porém evitará cair em hábitos perniciosos, tornar-se presa das inúmeras necessidades factícias que são o flagelo da humanidade. Ele será sóbrio e laborioso, contentando-se com pouco, apegando-se aos prazeres da inteligência e às alegrias do coração.

Fortificado assim contra os assaltos da matéria, o sábio, sob a pura luz da razão, verá resplandecer seu destino. Esclarecido quanto ao objetivo da vida e ao por que das coisas, ficará firme e resignado diante da dor, que ele aproveitará para sua depuração e seu progresso.

Enfrentará a provação com coragem, sabendo que ela é salutar, que ela é o choque que rasga nossas almas e que só por este rasgão derrama tudo quanto de fel e de amargura há em nós.

E se os homens se riem dele, se ele é vítima da intriga e da injustiça, aprenderá a suportar, pacientemente, seus males, lançando seus olhares para vós, oh! Nossos irmãos mais velhos, para Sócrates bebendo a cicuta, para Jesus crucificado e para Joana na fogueira. Haverá consolação na lembrança de que os maiores, os mais virtuosos e os mais dignos sofreram e morreram pela humanidade.

Após uma existência bem preenchida, chegará a hora solene e é com calma, sem desgostos, que virá a morte. A morte que os homens cercam com um sinistro aparato, a morte, espantalho dos poderosos e dos sensuais e que para o pensador austero é a libertação, a hora da transformação, a porta que se abre para o império luminoso dos espíritos.

Esse pórtico das regiões extraterrestres será penetrado com serenidade, se a consciência, separada da sombra da matéria, erguer-se como um juiz, representante de Deus, perguntando?

“Que fizeste da vida?” e ele responder: “Lutei, sofri, amei”!

Ensinei o bem, a verdade e a justiça; dei a meus irmãos o exemplo do correto e da doçura; aliviei as dores dos que sofrem e consolei os que choram. Agora, que o Eterno me julgue, pois estou em suas mãos!”

Homem, meu irmão, tem fé em teu destino, porque ele é grande. Confia nas amplas perspectivas, porque ele põe em teu pensamento a energia necessária para enfrentar os ventos e as tempestades do mundo. Caminha, valente lutador, sobe a encosta que conduz a esses cimos que se chamam virtude, dever e sacrifício. Não pares no caminho para colher as florzinhas do campo, para brincar com os calhaus dourados. Para frente, sempre adiante.

Olha nos esplêndidos céus esses astros brilhantes, esses sóis incontáveis que carregam, em suas evoluções prodigiosas, brilhantes cortejos de planetas. Quantos séculos acumulados foram precisos para formá-los e quantos séculos serão precisos para dissolvê-los.

Pois bem, chegará um dia em que todos esses sóis serão extintos, ou esses mundos gigantescos desaparecerão para dar lugar a novos globos e a outras famílias de astros emergindo das profundezas. Nada do que vê hoje existirá. O vento dos espaços terá varrido para sempre a poeira desses mundos, porém tu viverás sempre, prosseguindo tua marcha eterna no seio de uma criação renovada incessantemente. Que serão então, para tua alma depurada e engrandecida, as sombras e os cuidados do presente? Acidentes fugazes de nossa caminhada, que só deixarão, no fundo de nossa memória, lembranças tristes e doces.

Diante dos horizontes infinitos da imortalidade, os males do passado e as provas sofridas serão qual uma nuvem fugidia no meio de um céu sereno.

Considera, portanto, no seu justo valor, as coisas da Terra.

Não as desdenhes porque, sem dúvida, elas são necessárias ao teu progresso e tua obra é contribuir para o seu aperfeiçoamento, melhorando a ti mesmo, mas que tua alma não se agarre exclusivamente a elas e que busque, antes de tudo, os ensinamentos nela contidos.

Graças a eles compreenderás que o objetivo da vida não é o gozo, nem a felicidade, porém o desenvolvimento por meio do trabalho, do estudo e do cumprimento do dever, dessa alma, dessa personalidade que encontrarás além do túmulo, tal como a tenhas feito, tu mesmo, no curso desta existência terrestre.

Léon Denis


(1) Léthé: rio dos infernos, cujo nome significa esquecimento. Os homens bebiam de suas águas para esquecer (conforme o Noveau Petit Larousse Illustré) (N.E.).

quarta-feira, 19 de maio de 2010

INFLUÊNCIAS


Na questão de número 459 de O Livro dos Espíritos, os mentores que assistiam Allan Kardec nos fornecem a notícia de que os espíritos influem tanto em nossos atos e em nossos pensamentos que frequentemente são eles que nos dirigem. Portanto, todos nós na fase evolutiva em que nos situamos, estamos sujeitos a essa influenciação espiritual, muito mais do que podemos imaginar. O apóstolo Paulo dizia que: “temos a nos rodear uma grande nuvem de testemunhas” (Hb 12:1) Desde as culturas mais remotas, encontramos referências à influência exercida por seres invisíveis que ora nos ajudam, ora nos prejudicam.

Sabemos que esses invisíveis são espíritos que agem em conformidade com suas tendências e desejos.

Somos como ondas de rádio e sempre nos sintonizamos na freqüência que escolhemos. A lei da afinidade preponderá esta relação.

Normalmente esses seres participam de nossas experiências, tomam partido em nossas querelas, influem em nossas decisões, e os fazem pelos condutos de nossos pensamentos, convivendo conosco sem que o saibamos, já que muitas idéias, desejos e iniciativas são filhas de suas sugestões.

Temos, portanto, de vigiar incessantemente nossos atos e pensamentos, procurando sempre pautar nossas vidas em favor do bem e do amor aos nossos semelhantes.

Ao agirmos como cristãos estaremos nos precavendo dos dissabores das más companhias, resguardando assim nossa casa mental contra malfeitores e desocupados do além.

É comum, em nossas Casas Espíritas, inúmeras pessoas serem informadas de que seus problemas, dores e aflições estejam relacionados à presença desses inimigos invisíveis que sempre os assediam, buscando desforras na maioria das vezes, por situações pretéritas.

A morte física desses inimigos não nos alivia de suas vinganças e perseguições além túmulo. O provérbio; “morto o animal, morto o veneno” não é verdadeiro, nesses casos.

A chamada obsessão que nada mais é que o domínio exercido por estes espíritos sobre os homens se dá devido ao nosso descuido. Quando nos deixamos levar por suas más sugestões, abrindo nossa guarda por pensamentos e atitudes menos dignas, esses inimigos ocultos invadem nossa casa mental e nos atormenta incessantemente.

Quando estamos vazios de ideias superiores com autoestima baixa e vazia de motivação existencial, esses inimigos aparecem sorrateiramente nos trazendo muita dor e sofrimento.

Certa feita, Chico Xavier preocupado com a nefasta influência destes verdadeiros “hóspedes” de nossa casa mental, perguntou ao espírito Emmanuel qual seria os melhores antídotos para nos precaver desse verdadeiro flagelo, e a resposta de Emmanuel foi conclusiva: “Trabalho, prece e renovação”. O trabalho é realmente de suma importância, pois com ele ocupamos nossa mente. A prece nos eleva e nos protege, e a renovação advém da mudança de rumos e atitudes que nos impulsionam rumo à nossa evolução.

Pratiquemos o bem! Façamos aos nossos semelhantes o que gostaríamos que ele nos fizessem e confiemos em Deus, colocando nossas vidas em suas mãos, conscientes de que Ele sempre nos confia o melhor.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

CÉUS DIFERENTES


QUESTÃO 1017 - O LIVRO DOS ESPÍRITOS
Parte Quarta
Das esperanças e consolações
CAPÍTULO II
DAS PENAS E GOZOS FUTUROS
Paraíso, inferno e purgatório
1017. Alguns Espíritos disseram estar habitando o quarto, o quinto céus, etc. Que querem dizer com isso?
“Perguntando-lhes que céu habitam, é que formais idéia de muitos céus dispostos como os andares de uma casa. Eles, então, respondem de acordo com a vossa linguagem. Mas, por estas palavras - quarto e quinto céus - exprimem diferentes graus de purificação e, por conseguinte, de felicidade. É exatamente como quando se pergunta a um Espírito se está no inferno. Se for desgraçado, dirá - sim, porque, para ele, inferno é sinônimo de sofrimento. Sabe, porém, muito bem que não é uma fornalha. Um pagão diria estar no Tártaro.”
A.K.: O mesmo ocorre com outras expressões análogas, tais como: cidade das flores, cidade dos eleitos, primeira, segunda ou terceira esfera, etc., que apenas são alegorias usadas por alguns Espíritos, quer como figuras, quer, algumas vezes, por ignorância da realidade das coisas, e até das mais simples noções científicas. De acordo com a idéia restrita que se fazia outrora dos lugares das penas e das recompensas e, sobretudo, de acordo com a opinião de que a Terra era o centro do Universo, de que o firmamento formava uma abóbada e que havia uma região das estrelas, o céu era situado no alto e o inferno em baixo. Daí as expressões: subir ao céu, estar no mais alto dos céus, ser precipitado nos infernos. Hoje, que a Ciência demonstrou ser a Terra apenas, entre tantos milhões de outros, uns dos menores mundos, sem importância especial; que traçou a história da sua formação e lhe descreveu a constituição; que provou ser infinito o espaço, não haver alto nem baixo no Universo, teve-se que renunciar a situar o céu acima das nuvens e o inferno nos lugares inferiores. Quanto ao purgatório, nenhum lugar lhe fora designado. Estava reservado ao Espiritismo dar de tudo isso a explicação mais racional, mais grandiosa e, ao mesmo tempo, mais consoladora para a humanidade. Pode-se assim dizer que trazemos em nós mesmos o nosso inferno e o nosso paraíso. O purgatório, achamo-lo na encarnação, nas vidas corporais ou físicas.


COMENTÁRIOS DE MIRAMEZ
CÉUS DIFERENTES
As comunicações dos Espíritos sobre o céu e o inferno, como já falamos, leva o cunho das necessidades espirituais de cada criatura, compreendendo que a verdade não pode ser dita de sopetão aos que não estão preparados para ouvi-la.

Muitos Espíritos, na verdade, dizem que moram no primeiro céu, outros no segundo ou terceiro ou quinto, assim sucessivamente, por falta de linguagem e mesmo de entendimento das criaturas. Mas, com a Doutrina Espírita, pode-se dizer a verdade, que esses "lugares" passam a ser dentro das criaturas, no grau de perfeição que a alma atingiu. Contudo, essas almas têm um lugar de morada, colônias espirituais nas esferas compatíveis com os seus progressos, onde se reúnem por sintonia de elevação. Essa é a lei de justiça.

Aquele que anda somente no bem comum, que entende e pratica a caridade, que conhece o amor e ama, verdadeiramente está penetrando, mesmo na carne, no céu, onde a consciência está tranqüila e o coração em paz. Os céus são diferentes, porque se encontram em cada Espírito, com diferenças características do estado de cada um.

Devemos acreditar na bondade de Jesus, que nos mostrou um Deus de amor e nos ensinou que se semearmos a luz, encontraremos claridades nos nossos caminhos. A vida no corpo é passageira; se a perdermos no trabalho do bem comum, ganharemos a vida maior, foi o que nos disse o Mestre.

Porquanto, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa, achá-la-á. (Mateus, 16:25)

A causa de Jesus é a maior de todas na Terra, é a causa do bem da coletividade, é a causa do amor, é a causa de nós mesmos, na função da verdade espiritual. Quando falamos em um céu, ficamos em busca deste lugar santo, e quando somos cientes de que esse lugar se encontra dentro de nós, passamos a nos alegrar mais, por estar ele tão perto. Deus e Cristo, tudo pode ser encontrado na nossa intimidade.

Os lugares de sofrimentos que se propagavam antigamente, nos traziam ao coração um estado de angústia, por não sabermos ao certo se iríamos para esse lugar de trevas ou para o céu dos eleitos. O céu que iremos encontrar, são condições que conquistamos com o tempo, por esforço próprio, sob as bênçãos do Cristo.

A Doutrina dos Espíritos vem nos dizer muitas coisas que ignorávamos e nos dá muita satisfação em ouvir as mensagens dos benfeitores da eternidade junto a toda a humanidade, fazendo chover luzes de amor e de caridade em todos os corações, para que as sementes de paz frutifiquem no celeiro da razão, de modo que ela passe para a consciência, dando-nos mais vida.

Iluminar é o nosso roteiro de vida, e para tanto devemos trabalhar em todos os rumos, ajudando e servindo em todos os ângulos, de maneira a conquistar a tranqüilidade imperturbável da consciência.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

SÍNDROME DE PILATOS

Estamos ouvindo um companheiro em sofrimento externando a própria dor através das lágrimas e aqui estamos com a nossa palavra de fé e de incentivo ao trabalho de uma casa espírita, que, assim, pode ser comparada a um hospital erguido entre dois lados Vida...

Desencarnados enfermos e encarnados doentes, todos, ao mesmo tempo, necessitando do concurso do Divino Médico... Mas os enfermeiros, por vezes, também adoecem os médicos, não raro, igualmente, são pacientes; todos somos necessitados de tratamento dentro desse grande hospital...

Às vezes, temos a impressão de que estamos em pleno campo de batalha: granadas e metralhas, companheiros feridos, esvaindo-se em sangue, fraturas expostas... Precisamos de amparo mútuo, aquele que possui o movimento das pernas pode carregar aquele que, ferido, se arrasta. E o que está ferido nas pernas, se ainda enxerga, pode guiar quem teve a visão prejudicada...

Aparemo-nos uns aos outros, compreendamo-nos nas fraquezas que nos dizem respeito, entendamos a necessidade individual de aprimoramento e nos esforcemos pelo melhor no cotidiano.

As dificuldades existem, existirão sempre, a luta prosseguirá... Vez por outra, podemos escutá-los refletindo no silêncio do próprio recolhimento: - Meu Deus, por que tantos conflitos?!...

Saibam que quem não incomoda não é incomodado; quem não incomoda o mal não é incomodado por ele; o acomodado permanece inerte, no lugar que lhe diz respeito...

Reparemos a história do Cristianismo... Séculos de intrigas, de lutas, ambição pelo poder, sempre o interesse de alguns prevalecendo sobre o de muitos, o interesse do Senhor sendo postergado... Interesses que, infelizmente, ainda prevalecem sobre os interesses divinos... Se não interesse material, emocional; se não interesse emocional, intelectual, se não intelectual, interesse social... Deturpamos as palavras, desvirtuamos assuntos, interpretamos de forma equivocada, induzimos a falsas deduções...

Fomentamos a discórdia, melindres e nos consideramos isentos, livres de qualquer responsabilidade... Padecemos da Síndrome de Pilatos: pedimos a bacia com água para lavar as mãos; mergulhamos mãos sujas em águas barrentas...

Compreendamos, de forma superior, os acontecimentos; preservemos a obra defendamos a Doutrina, resguardemos o ideal... Responderemos bem pelas mais pelas nossas intenções do que pelos nossos atos!

Que o Senhor nos fortaleça, mantenha esta casa em paz, este grupo, os companheiros unidos no trabalho e na fraternidade. Não pedimos ao Senhor a paz que não merecemos, mas rogamos à Ele a paz que nos seja possível, pela intercessão de sua infinita misericórdia!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

JUSTIÇA E MISERICÓRDIA DIVINA

LEI DIVINA OU NATURAL

Quem somos? Antes de nascer, o que éramos? Por que as pessoas são tão diferentes? Por que a vida sorri para umas e é só desgraça para outras? Por que umas nascem enfermas, outras sãs? Por que umas são miseráveis, outras abastadas? Por que umas, demorando-se em má conduta, sofrem menos que outras, que só fazem o bem? Por que o Criador permitiria essas aparentes desigualdades entre seus filhos? Por que a felicidade completa ainda não é deste mundo? De onde viemos? Para onde vamos? O que estamos fazendo na Terra?

Várias pessoas viajam num trem, carro, navio ou avião, mas somente uma ou algumas delas se salvam, após desastre terrível, como ocorreu nos deslizamentos de terra em Angra dos Reis, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, que vitimou dezenas de famílias na virada do ano – qual a razão de “sortes” tão diferentes? Onde encontrar, em fatos tão díspares, a Justiça Divina? Estas são indagações milenares que os estudiosos procuram responder, em vão, com base nos compêndios humanos.

Se os homens fossem mais atentos aos fenômenos da vida, principalmente aos de ordem social, aprenderiam a interpretar melhor a realidade que os cerca, buscando nas leis divinas a base fundamental dos seus códigos, submetendo seus labores e suas conquistas aos princípios de uma ética incorruptível, evitando, por exemplo, a aprovação de leis que atentam contra a vida, em seus múltiplos aspectos, como no caso do aborto, da eutanásia e da pena de morte. A despeito da ignorância humana, as leis divinas, que têm por escopo o Amor, base de sustentação do equilíbrio e da harmonia do Universo, seguem seu curso inexorável, aguardando, acientemente, que despertemos, pelos nossos próprios esforços, de profundo sono espiritual. Nesse hercúleo mister, contamos com o auxílio precioso das revelações contidas em O Livro dos Espíritos, pedra angular sobre a qual se ergue a Doutrina Espírita, que elucida, sem mistérios: A lei natural é a Lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve fazer ou não fazer e ele só é infeliz porque dela se afasta.1

Para os desesperados que ainda não se dispuseram a sondar os arcanos das leis naturais ou para muitos dos que insistem em ignorar, por exemplo, a justiça das reencarnações e da lei de causa e efeito, corolário da imortalidade e do progresso dos Espíritos, tudo parece perdido, especialmente quando as tragédias e os sofrimentos abatem seus ânimos. Como achar sentido na vida, com base na crença niilista do “morreu, acabou”? Com ela,muito ganhariam os maus que se veriam livres, ao mesmo tempo, de suas mazelas e de suas culpas, em detrimento das pessoas escrupulosas que não encontrariam nenhuma compensação pelos seus esforços de melhoramento pessoal. Ou, ainda, como acreditar que a criatura humana venha a ser condenada, irremissivelmente, a um inferno eterno por erros cometidos em única existência? Se Deus assim agisse, seria menos justo que os próprios homens que, apesar de imperfeitos, vêm criando leis equitativas para julgar seus semelhantes, cujas penas são proporcionais aos malefícios cometidos.

Todos os Espíritos, encarnados e desencarnados, estão submetidos à lei natural que governa o Universo – a Lei de Deus –, que está acima das legislações humanas, transitórias e imperfeitas. A característica principal da lei divina é ser imutável, visto ser perfeita de toda a eternidade. Por tal motivo, imprime estabilidade às coisas, o que já não acontece com as leis humanas, que se modificam, constantemente, de acordo com o progresso e a cultura da sociedade. Sendo Deus o autor de todas as coisas, segue-se que todas as leis da Natureza, sejam elas físicas ou morais, têm o selo da paternidade divina. Enquanto o sábio estuda as leis da matéria, com o auxílio da Ciência, o homem de bem estuda e pratica as leis da alma, que são as leis morais, contando, para isso, com o apoio da Filosofia e da Religião.

Em sua infinita misericórdia, sabedoria, bondade e justiça, Deus faculta a todos os seres pensantes os meios de conhecerem sua lei.Todavia, mesmo conhecendo-a, nem todos a compreendem de imediato. É por tal motivo que os Espíritos alertam que uma única existência não nos basta para alcançar esta meta, pois necessitamos, para isso, de experiência,maturidade, isto é,de evolução intelecto-moral. Os que perseveram no bem e os interessados em pesquisar tais leis são os que melhor as compreendem, sentindo a ventura de penetrar, gradualmente, nos segredos que elas ocultam. No futuro, porém, todos partilharão dessas experiências, uma vez que o progresso é inevitável. A unicidade da existência não se compadece com a lógica divina, isto que milhões de criaturas humanas perecem diariamente ainda embrutecidas na selvageria e na ignorância, sem que tenham tido a oportunidade de se esclarecer.

Ensinam os benfeitores do espaço que a lei de Deus (lei moral) está insculpida na consciência.2 Apesar disso, esta lei necessitou ser revelada ao homem, por meio de missionários, uma vez que ele a esqueceu e a desprezou. Em meio a esses mensageiros do bem, vez por outra, surgem os “falsos profetas”que, movidos pela ambição e confundindo as leis que regulam as condições da vida da alma, com as que regem a vida do corpo, se atribuem uma missão que não lhes cabe. Deus permite que isso aconteça para que aprendamos a discernir o bem do mal. O verdadeiro profeta inspirado por Deus cultiva virtudes: é reconhecido não somente pelas palavras, mas também pelos seus atos, uma vez que Deus não se utiliza de um emissário dado a mentiras para ensinar a verdade. No afã de dominar as massas, esses falsos profetas apresentam leis humanas, concebidas unicamente para servir às paixões, como se fossem leis divinas. Apesar disso, por serem homens de gênio, mesmo entre os equívocos que propagam, muitas vezes se encontram grandes verdades.

No topo da Escala espírita – Espíritos puros –, Deus oferece JESUS como o tipo mais perfeito para servir de guia e modelo aos homens, cuja doutrina é a mais pura expressão das leis do Criador. Estando como estão as leis divinas escritas no livro da Natureza, muito antes da vinda de Jesus à Terra, já era possível percebê-las em seus sinais por aqueles que estivessem dispostos a meditar sobre a sabedoria. Por isso, muitas dessas leis foram antecipadas, ainda que de modo incompleto, por vários homens virtuosos, chamados de precursores, que prepararam o terreno para a vinda do Messias. Não sem razão, alguns desses preceitos consagrados por essas leis têm sido proclamados em todos os tempos e lugares, com destaque para o código de ouro do Universo:“Não faças a outrem o que não gostarias que fizessem contigo”.

Jesus,Mestre por excelência, falava de acordo com a época e os lugares. Para não chocar as pessoas, ainda desprovidas de conhecimento e de compreensão quanto a determinados assuntos, acessíveis apenas aos iniciados, utilizava-se de alegorias que seriam futuramente desvendadas quando tivessem adquirido maior desenvolvimento, o que efetivamente aconteceu, com o progresso da Ciência e o advento do próprio Espiritismo, o Consolador Prometido. Isto porque “todo ensinamento deve ser proporcional à inteligência daquele a quem é dirigido, pois há pessoas a quem uma luz viva demais deslumbraria, sem as esclarecer”.3 Entretanto, Jesus somente procedia assim quanto às partes mais abstratas de sua Doutrina.

No tocante à caridade para com o próximo e à humildade, condições básicas da “salvação”, tudo o que disse a esse respeito foi inteiramente claro, explícito e sem ambiguidades. Atualmente, é preciso que a verdade seja inteligível para todos. Por isso, os Espíritos superiores têm por missão abrir os olhos e os ouvidos da Humanidade, de sorte que ninguém poderá alegar ignorância, interpretando a lei de Deus ao sabor de suas paixões e interesses pessoais, visto que a posse, a compreensão da lei moral é o que há de mais necessário e de mais precioso para a alma. Permite medir os nossos recursos internos, regular o seu exercício, dispô-los para o nosso bem.

As nossas paixões são forças perigosas, quando lhes estamos escravizados; úteis e benfeitoras, quando sabemos dirigi-las; subjugá-las é ser grande; deixar-se dominar por elas é ser pequeno e miserável.4 Se desejamos libertar-nos dos males terrestres, evitando as reencarnações dolorosas, vivenciemos, na medida do possível, as leis morais, pois elas constituem o roteiro de felicidade do homem, construtor do próprio destino, nas sendas da evolução.


Reformador Maio 2010

1KARDEC,Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 614.
2KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Riode Janeiro: FEB, 2010. Q. 621.
3KARDEC, Allan.. O evangelho segundo o espiritismo.Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro:FEB, 2008. Cap. 24, item 4.
4DENIS, Léon. Depois da morte. ed. esp. 1.reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. P. 5, cap. 56, A lei moral, p. 431.

terça-feira, 11 de maio de 2010

OS DETURPADORES ESTÃO A SOLTA... DEITAM E ROLAM!

Há tempos, a coisa mais comum é vermos estampado na frente de certas Agremiações Religiosas o nome "CENTRO ESPÍRITA"...

Até aí tudo bem, se e somente se, estas fossem de FATO uma Agremiação Espírita, amiúde não são, haja vista a quantidade esdrúxula de badulaques e salamaleques que se encontra ao adentrar algumas, veja bem... "ALGUMAS" ...não todas, mas somente "ALGUMAS"!

O nome ESPIRITISMO foi cunhado por ALLAN KARDEC e se dá à DOUTRINA que ele CODIFICOU sob a égide de uma plêiade de Espíritos de Escol.

Desde o Século XIX, com o lançamento do "LIVRO DOS ESPÍRITOS", seu trabalho ligado à espiritualidade tornou-se conhecido como DOUTRINA ESPÍRITA. Doravante, se utilizar do nome CENTRO ESPÍRITA sem estar embasado nos postulados do PENTATEUCO DE KARDEC, é fraude espírita, pra não dizer locupletação, pois cada Agremiação Religiosa tem seu nome adequado aos propósitos a que se destinam.

Vemos pelo Mundo e no Brasil, espalhados nos mais diversos rincões, instituições religiosas fazendo MAU USO do nome CENTRO ESPÍRITA.

É extremamente comum vermos, em nossas plagas, "algumas" agremiações da Umbanda, Candomblé e outras usando, erroneamente, na frente de suas instituições, o nome CENTRO ESPÍRITA, sendo que NÃO DEVERIAM, pois aí é mau caratismo ou vergonha de se postar como tal.

Candomblé é Candomblé e Umbanda é Umbanda. NÃO PODEM usar do nome CASA ESPÍRITA, pois estão locupletando com o NOME ERRADO, haja vista que NÃO SÃO e NÃO TEM NADA A VER com a DOUTRINA ESPÍRITA DE KARDEC.

As Instituições Religiosas que não se enquadram nos CÓDIGOS CLÁSSICOS DA DOUTRINA ESPÍRITA devem usar o nome adequado e correto ao que se propõem ou, no máximo, colocar CASA e/ou CENTRO ESPIRITUALISTA. Aí sim estariam dentro do correto enquadramento religioso, mas NUNCA SE UTILIZAREM do nome ESPÍRITA, pois este é de KARDEC, não tendo nenhuma correlação com sincretismos afros ou coisa do gênero.

Pior são os escritores que se dizem ESPÍRITAS e que publicam seus livros sob a bandeira KARDECISTA. Triste de ver o que escrevem, pois é um cipoal de absurdos, devaneios e obsessões sem tamanho, ainda mais hoje em dia que se publicam livros feito "pão", promovendo aos leitores uma confusão enorme, colocando todo "romancezinho" como se espírita fosse.

ERRO CRASSO!

Não sou contra quem escreve, muito pelo contrário, pois estamos numa sociedade que impera a democracia e liberdade de expressão. Apenas é desfavorável à imagem do ESPIRITISMO a profusão destes"pseudos" escritores que se dedicam a aparecer em nome da DOUTRINA ESPÍRITA.

Pior mesmo são aqueles que se infiltram na DOUTRINA ESPÍRITA, pois ficam fascinados com seus elevadíssimos ensinamentos, mas aí, de uma hora pra outra, começam a colocar as "manguinhas de fora", se achando sábios ou donos e pensam que podem "MUDAR" os PILARES BÁSICOS da DOUTRINA, gerando gigantescas confusões aos novatos e até àqueles, mais antigos, que não se instruem adequadamente, com zêlo, disciplina, método e rigor kardequiano.

Assim temos uma avalanche de "SABICHÕES" na DOUTRINA ESPÍRITA se dizendo "NOVOS ESPÍRITAS" e com uma sede louca de "MUDAR TUDO", pois na cabeça destes arremedos intelectuais, trazem do passado encarnatório seus levianos desejos de aparecer e se dizerem os "sábios".

No fundo, é gente despreparada moral e intelectualmente, além de profundos doentes da alma no campo psicológico, pois anseiam a todo custo alimetar seu EGO, não se importando com os PILARES BÁSICOS do pensamento filosófico, científico e moral ESPÍRITA.

Deveriam fazer como Lutero, ou seja, se não concorda com o KARDECISMO CLÁSSICO, então funde sua própria Doutrina, MAS QUE FIQUE LONGE DO CLÁSSICO ESPIRITISMO de ALLAN KARDEC.

Não é à toa que Emmanuel disse ao Chico Xavier para que, se em alguma época da vida, ele Emmanuel, falasse algo diferente de KARDEC, então que Chico o abandonasse e seguisse, rigorosamente, ALLAN KARDEC sempre, salientando a importância da disciplina. Caso contrário, a CASA ESPÍRITA tornar-se-ia uma "colcha de retalhos" como fizeram ao Cristianismo Primitivo, quando se iniciou no mundo, via Constantino, Concílios e pretensos reformadores.

Cabe aos que se interessarem pela DOUTRINA ESPÍRITA se aterem ao PENTATEUCO DE KARDEC para estudos básicos, orientando-se corretamente em seu aprendizado evolutivo.

Saiu uma vírgula fora dos ensinamentos de KARDEC não é ESPÍRITA, mas sim outra coisa qualquer. Não é ao acaso que o saudoso Professor Herculano Pires escreveu o livro "ESPIRITISMO ESTE GIGANTE DESCONHECIDO”.

Cabe às FEDERAÇÕES ESPÍRITAS MUNDIAIS e outras locais, por exemplo, a FEB (Federação Espírita Brasileira) e a FEESP (Federação Espírita de São Paulo) averiguar, atentamente, estes DESLIZES LEVIANOS E MALDOSOS À DOUTRINA ESPÍRITA, caso contrário se ampliará os erros que já estão inscrustados em muitos lugares sob o estandarte ESPÍRITA.

É de direito destas Instituições Espíritas rechaçar os ERROS DOUTRINÁRIOS, pois somente assim poderemos impedir que se mude a ESTRUTURA VITAL E IRREMOVÍVEL DOS PILARES DA DOUTRINA ESPÍRITA, evitando assim uma ampliação e proliferação de asneiras sob o nome de ALLAN KARDEC.

Lamentavelmente, a sede por GANHAR DINHEIRO traz à DOUTRINA ESPÍRITA uma legião de "vendilhões do templo", ardorosos por lucro apenas, deixando de lado a "PUREZA DOUTRINÁRIA". Eles se travestem de bonzinhos e vanguardistas, mas no fundo querem apenas LUCRAR $$$ num seguimento que está em franco crescimento e expansão, que é a DOUTRINA DE ALLAN KARDEC ou ESPIRITISMO. Ainda mais agora que uma película explode de faturar nas telas do Brasil, contando a biografia de Chico Xavier e outra que se aproxima, relatando, no cinema, o livro NOSSO LAR.

Sabemos que DOUTRINA ESPÍRITA não é estática. Aliás, o mestre KARDEC vaticinou que a mesma se ampliaria com os avanços das ciências, mas daí permitir que qualquer um se meta a reformador, jamais...

Não podemos permitir mesmo!... Devemos sim debater, discutir, dialogar muito, porém deixar largado NUNCA!...É como diz o ditado "cão sem dono, botam um nome".

Cabe aos senhores Presidentes e dirigentes de entidades espíritas, MONITORAR, ORIENTAR e CORRIGIR todos os ERROS que encontrar em nome da DOUTRINA ESPÍRITA, sem falar em tomar outras providências, se necessário, para o correto andamento dos ensinamentos de ALLAN KARDEC. Isto é legal e de Direito.

Sabemos das lutas que KARDEC enfrentou para que o ESPIRITISMO NÃO FICASSE MACULADO por espertalhões oportunistas, sem falar LEÓN DENIS que enfrentou ardentemente os "sabichões" e pretensos reformadores da DOUTRINA ESPÍRITA.

Olhos abertos e atenção máxima, pois os "falsos espíritas" se ampliam pelo mundo e principalmente no Brasil.

"VIVA A DOUTRINA ESPÍRITA, VIVA ALLAN KARDEC"

TEXTO DO GAE

domingo, 9 de maio de 2010

UMA CARTA MATERNA


Meu filho, se procuras a bênção da felicidade, não te,esqueças de que o Reino do Céu começa em nosso próprio coração e de que o primeiro lugar onde devemos trabalhar por ele é na própria casa onde vivemos.
A alegria verdadeira nem sempre é daqueles que dominam, mas nunca se aparta das almas generosas que aprendem a espalhar o bem.
Se queres que a tranqüilidade te acompanhe, busca ser útil.
Por que foges de teu pai, quando, cansado e abatido, mostra uma fisionomia preocupada? Por que te afastas da mãezinha, quando observas o orvalho das lágrimas em seus olhos?
Aproxima-te deles e faze-lhes sentir que tens um coração compreensivo e amoroso.
Um fio d’água transforma o deserto em oásis.
Um gesto de carinho opera milagres.
Quanta gente espera construir o Reino de Deus, acendendo fogueiras de entusiasmo na praga pública e esquecendo no frio da indiferença aqueles que o Céu lhes confiou!...
Guarda a paz contigo, a fim de que a possas distribuir.
Entre as paredes do lar, Deus situou a nossa primeira escola.
Se não sabemos exercer a tolerância e a bondade com cinco ou dez pessoas, que esperam pelo nosso entendimento e pelo nosso auxílio, debalde ensinaremos o caminho do bem--estar para os outros.
O primeiro degrau do Paraíso chama-se Gentileza.
Aprende a ajudar para que outros te ajudem e, onde estiveres, serás sempre um valoroso operário na edificação do Reino Divino.

APONTAMENTO

Toda bondade mais simples,
Sincera, nobre, leal,
Ajuda na construção
Do Reino Celestial.

Meimei
Do livro “Pai Nosso”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A CONVERSA COM NICODEMOS - João. 3:1-15

1. Havia um homem dentre os fariseus, chamado Nicodemos, chefe dos judeus.
2. Este veio ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: "Rabbi. sabemos que és mestre vindo da parte de Deus, pois ninguém pode fazer essas demonstrações que fazes se Deus não estiver com ele'.
3. Jesus respondeu-lhe: "Em verdade, em verdade te digo. que se alguém não nascer de novo (do alto) não pode ver o Reino dos céus".
4. Perguntou-lhe Nicodemos: "Como pode um homem nascer sendo velho? Pode porventura entrar pela segunda vez no ventre de sua mãe e nascer"?
5. Respondeu Jesus: "Em verdade, em verdade te digo, que se alguém não nascer de água e de espírito não pode entrar no Reino de Deus;
6. O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do espírito é espírito.
7. Não te maravilhes de eu te dizer: é-vos necessário nascer de novo (do alto):
8. O espírito age onde quer, e ouves sua voz, mas não sabes donde vem nem para onde vai: assim é todo aquele que nasceu do espírito".
9. "Como pode ser isto"? , perguntou-lhe Nicodemos.
10. Respondeu-lhe Jesus: "Tu és o mestre de Israel e não entendes estas coisas?
11. Em verdade, em verdade te digo que falamos o que sabemos e testificamos o que vimos, e não recebeis nosso testemunho?
12. Se vos falei de coisas terrenas e não me credes, como crereis se vos falar de coisas celestiais?
13. Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, a saber, o Filho do Homem.
14. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado,
15. Para que todo aquele que nele crê, tenha a vida futura".

Um dos episódios mais instrutivos, em qualquer plano que se consiga compreendê-lo: no literal, no alegórico, no simbólico ou no espiritual. Vamos inicialmente fazer os comentários exegéticos, passando depois aos hermenêuticos.

Passa-se o fato com um fariseu de nome grego, Nicodemos ("vencedor do povo"). Seu nome aparece mais duas vezes apenas, sempre em João (7-5 e 19:39). Era Doutor da Lei e chefe dos judeus, o que indica pertencer ao Sinédrio. Procura Jesus à noite, hora mais propícia para uma conversa particular, acrescendo a circunstância da prudência de não ser visto.

Nicodemos dá a Jesus o título de Rabbi, tratando-o como igual. e explica as razões por que o considera também Doutor da Lei: as demonstrações de obras e palavras, Jesus fala em nascer "de novo" ou "do alto". A palavra grega ανουεν pode ter os dois sentidos. João o emprega geralmente no segundo sentido (em 3:31, em 19:11 e em 19:23). Os ,’Pais" da igreja grega (Orígenes, João Crisóstomo, Cirilo de Alexandria, etc.) e alguns modernos (Calmes, Lagrange, Loisy, Bernard, Joüon, Pirot, Tillmann e o nosso José de Oiticica) preferem "do alto". Os "Pais" da igreja latina (Agostinho, Jerônimo, Ambrósio, etc.) e outros modernos (d’Alâs, Durand, Knabenbauer, Plummer, Zahn, etc.) opinam por ’de novo.. Um e outro sentido cabem perfeitamente no contexto.

Jesus inicia a conversa afirmando que ninguém pode VER ( ιδειν ) no sentido de conhecer, ver com a Mente, identificar-se, e portanto viver) o Reino dos céus (mais abaixo é usado "Reino de Deus" como sinônimo perfeito) se não nascer de novo, ou do alto. Nicodemos indaga .como pode nascer pela segunda vez um homem velho se poderá voltar para o ventre materno". Esta pergunta revela que o mestre de Israel entendeu "de novo" sem a menor dúvida.

O Rabbi não retira o que disse: ao contrário, confirma-o, especificando que o nascimento deverá ser "de água e de espírito" (em grego sem artigo); e dizendo mais: "que o que é carne nasce da carne e o que é espírito provém do espírito" (em grego com artigo). E repete: e necessário nascer de novo (ou do alto).

Depois acrescenta: "o espírito age onde quer". As traduções vulgares trazem .o vento sopra onde quer". Ora, a palavra πνευµα (pneuma) é repetida no original cinco vezes nos quatro versículos (5, 6, 7 e 8). Por que traduzir quatro vezes por "espírito" e uma vez por .vento.? Estranho ... Mas há razões para isso. Veremos.

Jesus muda de tom, torna-se mais solene, eleva os conceitos e penetra assuntos mais profundos. Admira-se que Nicodemos não o entenda. Salienta que entre os dois há uma diferença: Nicodemos é "o doutor de Israel", enquanto ele, Jesus, não havia feito os cursos oficiais (daí aparecer em grego o artigo diante da palavra "doutor"). Salienta, então, que até aqui falou de coisas terrenas, e não foi entendido.

Que sucederá se falar das celestiais (espirituais) ?

Depois cita a serpente de bronze, que foi elevada por Moisés (Núm.21:4-9), dizendo que o mesmo deverá acontecer ao Filho do Homem. No livro da Sabedoria de Salomão (16:6-7) essa serpente é citada como "símbolo de salvação".



Passemos, agora, à hermenêutica.

1.ª Interpretação: LITERAL
É a adotada pela igreja Católico-Romana. Jesus diz a Nicodemos que a criatura só pode obter o Reino de Deus (salvar-se) se renascer pela água (que é mesmo a água física do batismo) e pelo espírito (que é a infusão do Espírito Santo). Daí ser traduzido o versículo 8 por "o vento sopra onde quer", como um simples exemplo da liberdade do Espírito. O batismo é um rito de iniciação que se tornou um "sacramento".

A palavra latina sacramentum é a tradução do grego µυστεριον , e corresponde aos mistérios gregos que se aplicavam aos catecúmenos (profanos que haviam recebido a instrução oral e estavam prontos para ser "iniciados" nos mistérios). Nesse sentido era usada a palavra sacramento. No século 4.º, Ambrósio introduziu no latim a palavra grega mysterium, com o sentido de "coisa oculta", segredo não revelável a estranhos. O sacramento do batismo é a junção da água e das palavras que dão o Espírito, e se define: "sinal sensível que exprime e produz a graça santificante, permanentemente instituído por Jesus Cristo" (Tanquerey, Theologia Dogmatica, vol. III, n. 248). E Agostinho (Tratado 80, in Johanne n.3) confirma: .No batismo há palavra e água.. Tira a palavra, que fica? água pura. Se a palavra é unida ao elemento, temos o sacramento. Que força teria a água de lavar o coração, se não fossem as palavras"? (Patrol. Lat., vol. 35, col. 1810).

Essa é a única interpretação lícita, segundo o Concílio de Trento (sessão 7, cânon 2):

"Si quis dixerit aquam veram et naturalem non esse de necessitate baptismi, atque ideo verba illa Domini nostri Jesu Christi: .nisi quis renatus fuerit ex aqua et Spiritu Sancto" ad metaphoram aliquam detorserit, anathema sit".

"Se alguém disser que não há necessidade de água verdadeira e natural para o batismo, e igualmente que devem ser interpretadas como metáfora as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo: "se alguém não renascer da água e do Espírito Santo", seja anátema".

Há, pois, uma interpretação fixada como dogma.


2.ª Interpretação: ALEGÓRICA

Foi justamente a condenada pelo Concílio de Trento, cujo artigo se dirigia contra Calvino e Grotius.

Essa interpretação ainda é seguida pela maioria dos evangélicos (protestantes).

A explicação da "água" corresponde ao rito do batismo. Mas o "espírito" tem novo significado: é o renascimento moral, a vida nova ou o novo teor de vida no caminho de Cristo. O sentido do renascimento espiritual, com a morte do "homem velho" e o nascimento do "homem novo" é muitas vezes ensinado nas Escrituras, desde o Antigo Testamento: "Lançai de vós todas as vossas transgressões, com que errastes, e fazei-vos um coração novo e um espírito novo" (Ez.18:31); "Também vos darei um coração novo e dentro de vós porei um espírito novo" (Ez.36:26); "Se alguém está em Cristo, é uma nova criação: passou o que era velho, eis que se fez novo" (2 Cor.5:17); "Não mintais uns aos outros, tendo-vos despido do homem velho com seus feitos e tendo-vos revestido do homem novo" (Col.3:9); e ainda 2 Cor.2:11-13 ou Ef. 4:20-24 e Rom.6:3-11.

A tradução adotada no versículo 8 é também "vento", defendendo-se a tradução com a frase do Eclesiastes (11:5): "Tu não sabes o caminho do vento". Entretanto, aí a palavra usada não é πνευµα , mas ανεµος . Quanto ao verbo pnei, se é usado com sentido de "soprar" com referência ao vento, também pode significar "agir, exteriorizar-se, manifestar-se" em relação ao espírito. O latim traduz πνευµα por "spiritus" e πνει por spirare, dentro do sentido grego. Mas também em português usamos o mesmo radical, quer se trate do espírito (inspiração) quer se trate do vento (respiração), que se divide em inspiração e expiração; e quando o espírito se retira, dizemos que a pessoa "expirou".


3.ª Interpretação: FISIO-REALISTA

Aceita pelos espiritistas, como ensino da realidade fisiológica do que ocorre com as criaturas. A tradução de " ανουεν " é "de novo", tal como a entendeu Nicodemos, que pergunta como pode "o homem, depois de velho, entrar pela segunda vez ( δευτερον ) no ventre materno".

A essa indagação, longe de protestar que não era isso o que queria dizer, Jesus insiste e confirma suas palavras: "é o que te disse: indispensável se torna que o homem nasça de água (isto é, materialmente, com o corpo denso, dado que o nascimento físico é feito através da bolsa d ’água do liquido amniótico) e de espírito (ou sej a, que adquira nova personalidade no mundo terreno, em cada nova existência, a fim de progredir). Se Nicodemos entendeu à letra as palavras ãe Jesus, o Mestre as confirma à letra e reforça seu ensino. Com efeito, o espírito, ao reentrar na vida física, pode ser considerado novo espírito que reinicia suas experiências esquecido de todo o passado.

Em grego não há artigo diante das palavras "água" e "espírito". Não é portanto nascer da água do batismo, nem do espírito, mas de água (por meio da água) e de espírito (pela reencarnação do espírito).

Daí a explicação que se segue: "o que nasce da carne (com artigo em grego) é carne., isto é, é o corpo físico, com toda a hereditariedade física herdada do corpo dos pais; e o que nasce do espírito é espírito" ou seja, o espírito que reencarna provém do espírito da última encarnação, com toda a hereditariedade pessoal que traz do passado". E Jesus prossegue: "por isso não te admires de eu te dizer: é-vos necessário nascer de novo". Observe-se a diferença de tratamento: "dizer-TE" no singular, e "é-VOS" no plural, porque o renascimento é para todos, não apenas para Nicodemos. E mais: "o espírito sopra (isto é, age, reencarna, se manifesta) onde quer, e não sabes donde veio (ou seja, sua última encarnação), nem para onde vai (qual será a próxima).

As palavras de Jesus foram de molde a embaraçar Nicodemos, que indaga: "como pode ser isso"? E Jesus: "Tu que (entre nós dois) és o Mestre de Israel, te perturbas com estas coisas terrenas? Que te não acontecerá, então, se te falar das coisas celestiais (espirituais)"?

Logicamente Jesus não podia esperar que Nicodemos entendesse as outras interpretações mais profundas desse ensinamento (como dificilmente poderia ter querido ensinar o rito do batismo, que não havia ainda sido instituído nem ordenado por ele, a essa época, quando só havia o "batismo" de João).

Depois exemplifica: "como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim o Filho do Homem será erguido da Terra ".

Paulo interpreta assim esse ensinamento de Jesus: "Mas quando apareceu a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, não por obras de justiça que tivéssemos feito, mas segundo sua misericórdia nos salvou pelo lavatório da reencarnação, e pelo renascimento de um espírito santo" (Tit.3:4-5). As palavras utilizadas são bastante claras e insofismáveis: lavatório (lavar com água; λουτρον da reencarnação: παλιγγενεσια que é o termo técnico da reencarnação entre os gregos; pelo renascimento (anaxinóseos) isto é, um novo nascimento). Paulo, pois, diz que Deus nos salvou não porque o tivéssemos merecido, mas por Sua misericórdia, servindo-se da palingenésia (isto é, da reencarnação) a qual é um "lavatório" (de água) e um "renascimento" do espírito.

Que o renascimento é feito através da água, já o diz o Genesis (cfr.1:1-2; 1:6-7 e 2:4-7).


4.ª Interpretação: SIMBÓLICA

Para compreendê-la, estudemos algumas palavras:

NICODEMOS - significa "vencedor" do povo. e exprime alguém que já venceu a inércia da massa popular por seus conhecimentos das Escrituras, já se destacou do "vulgo profano. superando sua natureza inferior.

DE NOITE - talvez signifique que Nicodemos procurou o Mestre em corpo astral (ou mental) durante o sono físico. Nessa condição ser-Ihe-ia possível manter conversações mais íntimas. E João poderia ter assistido a ela, pois algumas cenas dos Evangelhos foram assistidas nessa condição (por exemplo, a "transfiguração": .Pedro e seus companheiros (Tiago e João) estavam oprimidos de sono, mas conservavam-se acordados", Luc.9:32).

Nesta interpretação, descobrimos um sentido diferente do diálogo literal entre os dois, o Rabbi e o Doutor da Lei, o Mestre Espiritual e o Mestre Intelectual. Antes de qualquer pergunta, Jesus dá a frase chave do novo ensinamento que vai ministrar: "é necessário nascer de novo para ver o Reino dos céus" - Nicodemos entende que Jesus lhe fala da reencarnação, fato já conhecido por ele, pois, sendo fariseu, aceitava normalmente a reencarnação, e não podia de modo algum estranhar o fato nem ignorar sua realidade.

Para confirmar esta assertiva, leia-se apenas esse trecho de Flávio Josefo: "Ensinam os fariseus que as almas são imortais e que as almas dos justos passam, depois desta vida, a OUTROS CORPOS" ...(Bell.Jud.2, 5, 11).

Como, pois, Nicodemos podia ignorar esta doutrina, a ponto de admirar-se tanto e fazer uma objeção pueril? Compreendamos sua frase, quando pergunta a Jesus: "Como poderá (bastar) um homem renascer depois de velho? Acaso poderá (bastar) que ele entre pela segunda vez no ventre materno, para (só com isso) ver o reino dos céus"?

Jesus então reafirma sua tese, mas ampliando-a, elevando-a de nível tornando-a universal: Não é do nascimento físico na matéria que ele fala. Não é do microcosmo: é do macrocosmo, de que falara em Mateus (19:28): "Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando na reencarnação (palingenesia) o Filho do Homem se assentar no trono de sua glória, sentar-vos-eis também em doze tronos, para julgardes as doze tribos de Israel". Trata-se, aqui, da reencarnação ou renascimento do planeta.

Explica então: o que nasce da carne é carne, é matéria corruptível, mas a que nasce do "espírito" é o Espírito eterno, que não necessitará mais da carne para progredir. Só nasce na carne o que está sujeito às leis do Carma (individual, grupal, coletivo ou planetário): esse ainda é carne, ainda terá que nascer da água, porque está preso à baixa densidade. Mas o que nasce do espírito se liberta, ascende a outros planos. O ensinamento foi desenvolvido por Paulo na Epístola 1 aos Coríntios, capítulo 15,versículos 35 a 54, quando compara o homem terreno (psíquico) simbolizado em Adão, coma alma vivente (que vive), ao passo que o segundo Adão (Cristo) e portanto o Espírito, o Filho do Homem, é o espírito vivificante (que dá vida). Passou, então, do estado humano ao espiritual, deixou de ser "nascido de carne" para tornar-se "nascido de espírito"; e Paulo prossegue: "o primeiro é da Terra (nascido de carne) o segundo é do céu (nascido do espírito)". E isto porque, prossegue ele, "a carne e o sangue não podem herdar o Reino dos Céus". Jesus falara das "coisas terrenas" e Nicodemos não o percebia bem. Como adiantar-se mais? Como explicar-lhe que o Espírito prossegue na evolução, até chegar a ser .o resultado. do Homem, "o produto" da Humanidade, ou Filho do Homem (como já era o caso de Jesus)? Ele fala do que "viu", porque estava no céu (no reino espiritual) e de lá "desceu..

Os "apocalipses" ou "revelações" dos judeus narram histórias de santos varões que haviam subido a mundos "mentais" conscientemente: esses homens eram denominados .serpentes.. Nesse sentido é que Moisés "elevou a serpente" no deserto. De fato, a serpente simboliza a inteligência racional ou o intelecto (veja episódio de Adão, quando conquistou o intelecto por meio da serpente), mas quando a serpente é "elevada" verticalmente, significa a Mente Espiritual. Sua elevação se dá na "cruz da matéria" (horizontal sobre vertical), e só depois de elevada na cruz, pode essa serpente conquistar o Reino dos Céus. Todos os que acreditaram nele (que cumprirem seus ensinos) conseguirão a "vida futura", isto é, a vida Espiritual Superior.

Então, para "vermos" ou vivermos o Reino dos Céus, o Reino Divino, temos que "nascer de novo" como Filhos de Deus ("Tu és meu Filho, eu HOJE te gerei", Salmo 2:7).


5.ª Interpretação: MÍSTICA

Jesus, a individualidade, ensina ao homem "que venceu o povo" comum, isto é, à personalidade já evoluída acima do normal, que para conseguir o Encontro Místico é mister "nascer do alto", no Espírito. A personalidade é pura carne, é matéria, mas a individualidade é celeste, é espiritual. Se renunciarmos ao nosso pequeno "eu", renasceremos "do alto" " viveremos no Reino Divino, não mais no Reino Humano: seremos Filhos do Homem e, além disso, Filhos de Deus.

Nesse ponto, estaremos (embora crucificados na carne) unidos à Divindade, num Esponsalício místico, perdidos em Deus, "como a gota no Oceano" (Bahá’u’lláh): seremos UM com o Todo, porque "eu e o Pai somos um" (Jo. 10:30).

Para consegui-lo, é preciso ter sido "suspenso" na cruz, como a serpente de Moisés: é indispensável passar por todas as crucificações da Terra, por todas as iniciações duras e difíceis, dando testemunho da Fé em Cristo, ao VIVER seus ensinamentos.


Sabedoria do Evangelho
Carlos Pastorino