quinta-feira, 30 de setembro de 2010

POR QUE TE QUEIXAS?

Tuas mãos calejadas testemunham os anos  e anos de lutas e decepções!
Não te desesperes, contudo! Olha ali à frente: Milhares e milhares de irmãos nossos que não têm um teto para o merecido repouso...
E, um pouco mais adiante, crianças em  tenra idade, catando restos de comida nos lixões da cidade!
Nestas horas de tristeza e dor, lembra-te do querido mestre Jesus que, deixando as fulgurações estelares, veio à Terra para exemplificar o amor e a humildade.
E Ele, caro amigo, sequer tinha uma pedra onde encostar a cabeça!

Cornelius


196 - Como encaram os guias espirituais as nossas queixas?
Muitas são consideradas verdadeiras preces dignas de toda a carinhosa atenção dos amigos desencarnados.
A maioria, porém, não passa de lamentação estéril, a que o homem se acostumou como um vício qualquer, porque, se tendes nas mãos o remédio eficaz com o Evangelho de Jesus e com os consoladores esclarecimentos da doutrina dos Espíritos, a repetição de certas queixas traduz má vontade na aplicação legítima do conhecimento espiritista a vós mesmos.

Pergunta extraída do livro "O Consolador", por Emmanuel, psicografada por Francisco Cândido Xavier

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

PARA MUITOS, O INDECIFRÁVEL PROBLEMA DA MORTE

“Para desassombrar a impenetrabilidade da morte, não há nada como a bondade.”
(Ruy Barbosa, discurso pronunciado na Academia Brasileira de Letras, em 1o de outubro de 1908.)

Num enfoque panorâmico apenas, diremos algo, tangenciando o problema da morte – tema da mais alta magnitude, pelo que representa para todas as criaturas humanas. Problema, aliás, que se constitui um tabu para muitos e um doloroso enigma para outros; problema, para a maioria, sombrio e angustioso, diante do qual até muitos espiritualistas não ousam olhar vis-à-vis, tal a educação manipuladora do medo irracional, abrigado nos desvãos do subconsciente.
Nós, os espiritualistas – queremos nos referir a todos os que adotam uma religião ou, simplesmente, intitulados como livres-pensadores, aceitam a sobrevivência do Espírito –, não podemos, às portas do Terceiro Milênio, em face das conquistas do pensamento contemporâneo, alimentar vacilações quanto à continuidade da vida, após nossa jornada pelos caminhos, por vezes, acidentados, da existência terrena. Quem se diz espiritualista ou se rotula como tal, e vacila quanto à realidade da sobrevivência do Espírito, é um incrédulo disfarçado com a roupagem cinzenta da dúvida. Esta é uma forma sofrível de espiritualidade vazia, que não enxerga na morte mais que um silêncio indecifrável, uma interrogação angustiante.
A morte, para nós espiritualistas de todos os matizes, “domiciliados na esfera física”, deve significar uma lei que se cumpre; um marco, entre duas fases, na eternidade de nossas vidas; uma simples mudança de estado; um eclipse momentâneo; uma transição da vida física para a vida espiritual; um indispensável episódio; o abandono necessário de um veículo em decadência – o nosso corpo; veste por vezes imprestável, que cumpriu o seu papel, nos labores evolutivo do nosso Espírito; fardo por demais pesado, sob os anos, para ser carregado, e que não mais corresponde às exigências da vida física, que deve ser devolvido ao laboratório da Natureza.
Para a maioria dos homens, voltamos a repetir, a morte continua a ser um pesadelo, uma indecifrável, enigmática e sombria interrogação, que não ousam olhar com olhos de ver, quando a maior parte das religiões literalistas da Crosta, que deveriam instruir seus adeptos, ficam apenas na periferia do problema, sem quase nada a oferecer aos seus profitentes.
Todavia, ao invés de repelirmos a ideia da morte dos nossos pensamentos, encaremo-la com tranquilidade, lembrando, com o grande vulto do pensamento científico da França, Charles Robert Richet, que “a morte é a porta da vida”, como escreveu em carta a Cairbar Schutel. Esforcemo-nos, sim, por desmistificála, por desembaraçá-la dos preconceitos que a envolvem, da roupagem angustiosa com que, em geral, é cercada por nossa incapacidade de entendê-la.
O medo da morte, a tanatofobia, gera verdadeira crise, verdadeiro tormento, chegando a tal demasia, a tal desespero para certas pessoas, “que morrem do medo de morrer”. (1) São criaturas, como afirmam nossos Benfeitores espirituais, que fazem da morte uma deusa sinistra, vendo no fenômeno natural da renovação as mais negras cores, transformando-o numa terrível noite de amarguroso e definitivo adeus.
As solenidades fúnebres, ritos ou cerimônias, engendrados por certos costumes ou por cultos religiosos, concorrem para dar à morte esse aspecto lúgubre, sombrio, chorado, sofrido, num verdadeiro culto a cadáveres, com esquecimento do culto devido ao Espírito.
É costume de mau gosto, que vem desde a nossa infância, apresentar-nos a morte, ainda que com fundo alegórico para o bom compreendedor, de forma esquelética, com a destra empunhando a foice inclemente, fatídica, inexorável. E de tal modo, que essa ideia excêntrica e esdrúxula provoca verdadeira afecção mental, desde a inexperiência de nossa infância. Cria tal psicose, vendo nela um asqueroso vampiro, buscando vítimas a imolar, sequiosa de lágrimas e desesperos; a todos ceifando sem hesitação e sem clemência; vulto hirto e frio como um “cipreste, que, ainda, mesmo florido, sombra da morte no ramal encerra”, no dizer de Castro Alves, poeta genial de “Espumas Flutuantes”. É preciso despir a morte desse aspecto mórbido, nascido de condicionamento milenar.(2)
Sabemos que não é fácil assistirmos impassíveis, quando o corpo de um ente querido baixa ao silêncio, para muitos indecifrável, do sepulcro, deixando nos mergulhados numa saudade infinita, amargurada em lágrimas sofridas, como se nos amputasse, dolorido, um pedaço de nossa alma. “Não permitamos, assim, que a saudade se converta em motivo de angústia e opressão.” (3)
Não é insensibilidade que as circunstâncias nos pedem, porém uma compreensão equilibrada, racional, ainda que banhada com pranto, certo que uma folha não se move no Universo senão pela vontade de Deus, sempre para o nosso bem, como tudo que nos vem do Criador; situação tão difícil de suportar e entender, em nossa visão limitada da vida e da morte.
Procuremos compreender, tanto quanto possível, a sabedoria Divina, sem dimensioná-la, ou tentar dimensioná-la com a bitola estreita da nossa visão limitadíssima das coisas e dos fatos, coerentes com a posição de meros aprendizes, que todos nós somos, das lições de imortalidade, que a escola da vida nos oferece, com vistas aos nossos esforços evolutivos; certo que Deus não nos criou, simplesmente, para ali, mais adiante, nos aniquilar, brincando com os nossos destinos. Deus não joga dados, como afirmava Einstein.
Para o materialista, que nada vê além da vida física; para o agnóstico, que declara o absoluto, o espiritual inacessíveis ao espírito humano; para o niilista, hóspede de profunda letargia espiritual – para todos eles, aferrados à dimensão física, refocilados nas transitoriedades do mundo –, a morte é o mergulho do ser no nada ou no mistério indecifrável, ainda que, no íntimo, procurem disfarçar suas dúvidas, seus pesadelos irrevelados. O materialista, principalmente, para efeito externo, para manifestação de fachada, se diz suficientemente esclarecido e inteligente para não aceitar crendice, como essa da sobrevivência do ser após a morte; colocando-se, assim, numa posição impertinente, vendo-se dono intransigente e irreverente da sua pseudoverdade, para si inquestionável; olhando de cima de um pedestal de soberba os que não lhe comungam das ideias, gesto que, por vez, toca à arrogância, num “flagrante delito de ignorância”. (4)
Todavia, para este ou para aquele, quer acreditem ou não acreditem na realidade da sobrevivência do ser – todos nós, na linguagem popular, na sua maneira de dizer e conceber –, chegado o momento decisivo, daremos de cara com nós mesmos. E, então, transferidos todos, pela morte, aos pórticos impassíveis do território cósmico da vida espiritual, que a nós todos espera, ali teremos, ante os olhos da alma, a inarredável e irrecorrível realidade. E vê-se cumprida, assim, a sentença inapelável, que nos diz que não há morte, senão para o corpo físico, certo que a individualidade permanece eterna, incorruptível, perfectível pelos caminhos inquestionáveis da sua destinação espiritual.
Na vida espiritual é que, a cada giro da Terra sobre si mesma, são despejadas multidões de criaturas; a grande maioria totalmente despreparada para o culminante evento, que a todos espera, porém, com perspectiva sombria para aqueles que acreditam apenas no império do NADA depois desta vida: os piores cegos, a exemplo dos que dizem que mesmo que vissem não acreditariam.
A indispensável preparação, que devemos diligenciar, enquanto por aqui nos encontrarmos, é tarefa de todos nós; o que não depende do rótulo religioso, do rótulo filosófico, ou mesmo não depende de rótulo nenhum, que daqui levarmos; depende, e muito, da compostura com que nos conduzirmos na vida de relação; da observância de uma linha de conduta, não apenas para efeito externo, porém da vivência de uma legítima dignidade moral, de uma nobreza de sentimentos, de uma ética indiscutível, de uma solidariedade efetiva, que venha espontânea de dentro dos nossos corações; certo que, na vida extrafísica, perante a Consciência Cósmica do Bem Eterno, da Justiça Infinita, responderemos, não apenas pelo mal que houvermos praticado, mas, também, pelo bem que deixamos de fazer. (5)
Este ensino serve a todos os matizes religiosos e a todas as filosofias positivas de vida.
Entre a alma, que conhece a Doutrina, mas não lhe vive a sua substancialidade no coração, e aquela que, desconhecendo-a, vive, porém, o Evangelho, espontaneamente, em sua vida de relação, é flagrante o contraste, transpostos os umbrais da eternidade. Enquanto esta desperta tranquila ao abrigo de paz indefectível, a primeira vê entorpecida, quando não frustrada a ascensão de quem “conhecendo a verdade, almejava a realização divina sem esforço humano, o trigo da verdade sem participar da semeadura, a tranquilidade sem dar-se ao trabalho das obras, a ciência sem a consciência, as facilidades sem as responsabilidades”, diremos inspirados na beleza estilística da linguagem luizínia.
Independentes dos fatores apontados, que dificultam o momento de regresso, e a vivência no plano espiritual, outros existem que o próprio homem cria, como duendes alucinados das confusões do seu mundo mental: são as inibições interiores, isto é, as vacilações, as deficiências de fé, o apego inútil e prejudicial às circunstâncias e aos circunstantes, o desespero sem razão e o pânico de quem, segundo dizem alhures, “faz da morte uma deusa sinistra, apresentando o fenômeno natural da renovação com as mais negras cores, e transformando a separação provisória numa terrível noite de amarguroso adeus”.
No século XX, às portas do Terceiro Milênio, é urgente que revisemos a nossa atitude mental diante da morte; que rejeitemos essa visão arcaica, paranoica até, de desespero em face do problema da morte, certo que morrer é tão importante quanto viver ou mais, pelas perspectivas que abre à nossa frente.
Aceitemos ou não aceitemos a lei das vidas sucessivas, todos nós já morremos e renascemos inúmeras vezes, na vivência desse projeto divino, impositivo cósmico da vida, no interesse de nossa ascensão espiritual, até que não precisemos mais envergar a libré da carne.
Há livros que ensinam como nascer ou como viver, poucos ensinam como morrer. A propósito escreve Emmanuel, ao prefaciar o livro “Obreiros da Vida Eterna”: “O homem moderno (...) esbarra, ante os pórticos do sepulcro, com a mesma aflição dos egípcios, dos gregos e dos romanos de épocas recuadas. Os séculos que varreram civilizações e refundiram povos, não transformaram a misteriosa fisionomia da sepultura. Milenário ponto de interrogação, a morte continua ferindo sentimentos e torturando inteligências.” Afirma, ainda, Emmanuel em outra oportunidade: “A morte já liberta de sua clássica significação macabra, é, precisamente, o ponto de partida do Espírito para a vida irradiante, infinita e luminosa, nos mundos ultraterrestres, vibrantes de Luz e Fraternidade, de Verdade e Amor.” Para quem fez por merecer, acrescentamos nós.
Quanto à duração de nossa vida na Terra, todos nós temos o nosso momento de regresso ao lar espiritual, marcado no relógio da eternidade, com certa flexibilidade; cada qual tem o seu relógio invisível, que toca no momento certo, convocando-o para a viagem de volta, assinalada por um Poder Maior, que supervisiona com sabedoria, justiça, misericórdia e amor os nossos destinos; evidente que não vivemos ao sabor do acaso. Todavia, existem aqueles que adulteram sua máquina física nos desatinos dos desregramentos de toda ordem, antecipando, irresponsavelmente, esse evento, com graves e dolorosas conseqüências.
Escrevendo sobre o problema da morte, no seu magnífico livro “Da Alma Humana”, o doutor Antônio Joaquim Freire, uma das culturas mais brilhantes do Espiritismo português, refere-se à morte como “a polarização máxima da ignorância da ciência contemporânea”. Entretanto, a Ciência caminha, ainda que com passos lentos e vacilantes para comprovar, definitivamente, a sobrevivência do ser.
Psiquiatras começam a fazer regressões às vidas passadas, para cura de certas moléstias com raízes nas vidas pretéritas, ainda que esse procedimento seja questionável para alguns profissionais da área, que se negam a examinar os fatos.
Essas conquistas liberam, para a parcela refratária da comunidade científica, uma nova e revolucionária visão da vida e da morte, queira ou não queira, comprovando, mais uma vez, a tese milenária da existência e sobrevivência do Espírito, após a morte do corpo somático.
Esses acontecimentos representam uma clarinada de alerta à ciência e às filosofias casuísticas e ortodoxas do nosso tempo, empedernidas na negação sistemática, pura e simples, quando não fogem pela evasiva estreita de não querer ver os fatos, temendo comprometer pseudoverdades, cristalizadas em velhos tabus. Ignoram que estamos sujeitos a uma lei de evolução, força cósmica, que se processa inquestionável e coercitiva, desde o microcosmo ao macrocosmo, na execução do pensamento Divino.
Diligenciamos por derrubar as bastilhas milenares dos preconceitos que envolvem o problema, oferecendo uma visão mais justa, mais consoladora, mais enobrecedora e mais racional do fenômeno da morte, quando o sabemos um determinismo irrevogável, sentença inapelável da sabedoria Divina; verdade incontestável, pela qual seguiremos “um a um no caminho de todos”, como disse Ruy Barbosa, sobre o túmulo, ainda aberto, de Joaquim Maria Machado de Assis.
Sócrates, uma das celebrações mais extraordinárias do pensamento filosófico da Humanidade, dizia aos seus amigos, que se entristeciam com os seus últimos momentos: “Mostrai-vos alegres, e dizei-vos que ides unicamente sepultar meu corpo.”
Goethe, uma das mais notáveis expressões da civilização ocidental, passeando com seu amigo Eckermann pelo bosque de Weimar, disse: “Quando se tem setenta e cinco anos, não há como fugir de pensar algumas vezes na morte. Esta idéia, porém, me deixa numa calma perfeita, porque nutro a firme convicção de que o nosso Espírito é uma essência de natureza absolutamente indestrutível, e continua ativo, de eternidade em eternidade.”
O eminente brasileiro José Bento Monteiro Lobato, em carta a Godofredo Rangel, afirma: “Eu não me desespero com mortes porque tenho a morte como um alvará de soltura.” (6)
Emmanuel, o eminente pensador do Cristianismo redivivo – o Espiritismo – advertia alhures: “Ao invés de temeres a morte, faze da existência a lavoura sublime de bondade e trabalho, auxílio e compreensão, em favor dos que te rodeiam; e para o homem que, a cada dia, transforma a solidariedade em fartura de bênçãos, o ocaso da vida chega sempre por sombra esmaltada de estrelas, acalentando-lhe o sono e garantindo-lhe o despertar, em novo e glorioso dia, dourado de sol.”

NEY DA SILVA PINHEIRO
REFORMADOR SET2000


Referências Bibliográficas:
1 KARDEC, Allan. Revista Espírita, 1869, março, p. 64., EDICEL, São Paulo-SP.
2 SIMONETTI, Richard. Quem tem medo da morte, p. 15 e 110. Editado por Gráfica São João Ltda., Bauru-SP, 1987.
3 Idem, ibidem.
4 KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. Ed. FEB.
5 Idem. O Livro dos Espíritos, questão 636, 80. ed. FEB.
6 GRANJA, Pedro de Carvalho. Os Simples e os Sábios, p. 166, Edição Calvário, São Paulo, 1971.

domingo, 26 de setembro de 2010

PARÁBOLA MODERNA

E eis que, em plena assembléia de espiritualidade, se levantou um certo companheiro intelectualista e dirigiu-se ao Amigo Sábio e Benevolente, que se comunicava através da organização mediúnica, perguntando para tentá-lo:
– Benfeitor da Humanidade, que devo fazer para alcançar a vida eterna? como agir para entrar na posse da verdadeira luz?
Respondeu-lhe o orientador:
– Que te aconselha a doutrina? como lês o ensinamento do Cristo?
O consulente pensou um minuto e replicou:
– Amarás o Senhor teu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças, com todo o entendimento, e a teu próximo como a ti mesmo.
O Sábio Espiritual sorriu e observou:
– Respondeste bem. Faze isso e alcançarás a vida eterna.
Contudo, o intelectualista, apresentando justificativa e desejando destacar-se no circulo dos irmãos, interrogou ainda:
– Como reconhecerei o meu próximo?
O comunicante assumiu atitude paternal e narrou:
– Um “espiritista” convencido quanto à sobrevivência da alma, mas não convertido ainda ao Evangelho de Jesus, seguia de Madureira para a Gávea, quando encontrou, em certa rua, determinada reunião de pessoas bem intencionadas, mas ignorantes das letras do mundo, tentando a prática do amor aos semelhantes, possuídas de sincera e profunda, boa vontade. Porque viviam distanciadas da ciência da expressão, suas palavras evidenciavam muita imperfeição de gramática, embora a excelente disposição que revelavam mo exercício de virtudes santificantes. Os desencarnados que cooperavam na obra, observando que se aproximava um irmão detentor de elevados conhecimentos, indicaram-lhe o nome para que se lhe rogasse a valiosa colaboração. Instado pelos trabalhadores daquele piedoso núcleo do bem, o cavalheiro aproximou-se, sondou o ambiente e negou-se, acrescentando:
– Não, não posso cooperar! Isto não é Espiritismo.
E passou apressado, em busca de seus interesses.
No entanto, um materialista, de bom coração e reta consciência, que vinha pelas mesmas ruas, encontrou a pequena assembléia e, observando-lhe a determinação na prática ao bem, distribuiu palavras de conforto e encorajamento entre aquelas criaturas de aprimoradas qualidades morais, deixando, ali, as bases de uma escola que funcionaria, em breve, aperfeiçoando valores e melhorando conhecimentos.
Seguia o mencionado “adepto” do Espiritismo, estrada afora, quando se lhe deparou um quadro doloroso. Miserável mulher, exibindo terríveis sinais de sífilis, caíra nas vizinhanças de soberbo jardim, cercada por duas companheiras de infortúnio, necessitadas do braço de um homem caridoso que auxiliasse o transporte da enferma. Sentindo a aproximação do crente, sob nosso exame, acorreram, pressurosas, ambas as infelizes que ainda podiam andar, suplicando-lhe socorro em palavras da gíria, a evidenciarem, porém, justificada aflição e ardente desejo de ser úteis.
O “espiritista” reparou que se encontrava nas adjacências de uma grande casa, dedicada a prazeres menos dignos e, receando o falso julgamento de sua conduta, negou-se, exclamando:
– Não, não posso ajudar! Isto não é Espiritismo.
E afastou-se, sem mais delongas.
Entretanto, o ateu, que lhe vinha nas pisadas, ouviu o clamor das mulheres e, longe de qualquer pensamento malicioso alusivo ao local, amparou a pobre criatura, providenciando, imediatamente, para que fosse asilada em hospital próximo e colaborou no pagamento das despesas, alheio a qualquer idéia de compensação.
Mais adiante, seguindo o “espiritista” o seu caminho, encontrou um grupo de trabalhadores, filiados às igrejas evangélicas do protestantismo, angariando auxílios para um serviço de assistência a meninos desamparados. Moças e velhos, rapazes e anciãos, cantavam na via pública, enternecendo corações com as reminiscências de Jesus. Findo o número musical, algumas jovens distribuíam flores naturais, em troca de insignificantes donativos, destinados ao socorro de criancinhas órfãs e desvalidas.
Uma das graciosas meninas aproximou-se e ofereceu-lhe uma rosa, acrescentando: “Amigo, cooperai conosco na assistência aos pequeninos abandonados!” O interpelado, porém, viu que o agrupamento trazia numerosos exemplares de jornais e revistas com interpretações religiosas diferentes daquelas que o seu raciocínio aceitava, e, colocando-se em posição contrária à cooperação cristã, respondeu rudemente :
– Não, não posso atender! Isto não é Espiritismo...
E prosseguiu, rua afora, apressadamente.
Todavia, o materialista bondoso, que o seguia acidentalmente, foi colhido pela solicitação das jovens e, sentindo-se feliz, pela expressão de humanidade que a reunião apresentava, conversou alegremente com as meninas, encorajando o serviço de confraternização e benemerência que se levava a efeito, e, depois de anotar o endereço da instituição, a fim de acompanhar o trabalho de mais perto, valeu-se da bolsa que trazia e adquiriu muitas flores de auxílio, com o espírito amigo das boas obras e não com a disposição agressiva dos combatentes, despreocupado de qualquer recompensa.
E o “espiritista” seguiu seu caminho para a Gávea e o materialista continuou na estrada de bondade espontânea.
O mentor fez longo intervalo e, em seguida, perguntou ao consulente:
– Qual dos dois, a seu ver, aprendeu a reconhecer o próximo, prestando-lhe a atenção que devia?
– Ah! certamente – replicou o interlocutor, sensibilizado – foi o materialista, que sentia prazer em servir, trabalhando por um mundo melhor.
O Sábio Espiritual sorriu e falou-lhe, antes de despedir-se:
– Então, vai, e faze tu o mesmo...

Irmão X
Livro “Lázaro Redivivo”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

domingo, 12 de setembro de 2010

A ISSO FOMOS CHAMDOS

Amanhece... O céu ainda coberto por tênue nevoeiro deixa transparecer tons de azul esvanecidos pela sombra da noite, que aos poucos desaparece dispersada pelo nascimento do Sol que desponta no horizonte... A lua minguante, recurvada como um barquinho de brinquedo, segue seu rumo calmo, com seu brilho menos intenso, a nos indicar que com serenidade poderemos vislumbrar a vida que acorda neste novo dia cheio de promessas e expectativas... Há dentro de mim um turbilhão de idéias, de planos para este alvorecer, todavia procuro me acalmar meditando e orando a Jesus para que eu não me perca na pressa nem me acomode na indiferença ao iniciar mais um dia.
Quando somos alvo de problemas que causam desencanto e perplexidade, devemos procurar entender a causa de tudo e acalmar nosso mundo íntimo; buscar nas mensagens do Evangelho de Jesus as lições e diretrizes para desanuviar nossa mente diante dos testemunhos que, certamente, devem auferir se melhoramos nossas atitudes ou se ainda deixamos o orgulho obscurecer nossos melhores sentimentos.
Pois para isto é que fostes chamados, porque também o Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que lhe sigais as pegadas (I Pedro, 2:21).
Passamos a refletir em torno dos problemas que vivenciamos. Sabemos que irão passar e que soluções chegarão para superá-los. Não estamos na Terra para viver somente de prazeres e ilusões, mas sim para os testemunhos diante das aflições que nos procuram em diferentes formas e nos levam a sofrer, muitas vezes, injustamente, se analisarmos apenas nossos atos do presente...
Em sua caminhada evolutiva o ser humano se defronta com situações nas quais são analisadas suas reações e analisados seus comportamentos diante do poder, do dinheiro e da beleza física. Poucos sabem lidar com estes atributos sem ferir o próximo, sem se deixar levar pelas paixões perturbadoras... Dos três, considero o poder o mais perigoso. As pessoas mudam quando dispõem de autoridade material. Tornam-se arbitrárias, prepotentes, insensíveis, usam máscaras procurando ocultar seus conflitos, sua realidade interior...
Muitas o fazem sem perceber que estão causando sofrimentos e prejuízos aos outros...
Julgam-se corretas em suas decisões, não analisam seus gestos e se perdem ante a bajulação dos que as cercam enquanto estão no topo das decisões... Esquecem-se de que tudo é transitório e de que, pela lei de causa e efeito, estão semeando o que colherão no futuro...
Suas atitudes exteriores revelam seu “eu” mais profundo.
Nem o aconselhamento dos mais experientes consegue demovê-las de atitudes impensadas e prejudiciais ao grupo social onde atuam.
Infelizmente, no meio espírita, surgem também pessoas assim, despreparadas para cargos diretivos, iludidas com o poder transitório.
Deveria ser diferente, porque como espíritas desejosos de abraçar a causa do Espiritismo e vivenciar os ensinamentos de Jesus em quaisquer situações da vida, mesmo enfrentando muitas dificuldades, não poderíamos nos deixar levar pelas perigosas tentações do poder...
Todavia, nos verdadeiros espíritas há um grau de discernimento que os torna mais fortes e imune às arbitrariedades, porque se sentem fortalecidos quando a luz do Evangelho se aloja em seu coração, iluminando sua mente.
Alterações profundas acontecem em seu mundo íntimo:
Não se envaidecem ao ocupar posições de destaque; afastam o egoísmo de seu mundo íntimo; evitam dissensões, maledicências e comentários levianos; defendem os mais fracos e não abusam do poder para ferir a quem quer que seja; são simples e humildes, buscando sempre entender o outro, mesmo que discordem de suas opiniões; não impõem sua vontade e buscam sempre o equilíbrio íntimo e a convivência harmoniosa com os que estão caminhando ao seu lado.
São almas livres, sem as algemas do preconceito, da vaidade e das ilusórias conquistas materiais, sabendo que são transitórias as posições, as glórias e o poder...
Quando os ensinamentos de Jesus iluminam nossa consciência para acertarmos nossos passos na senda do progresso moral, nossa sensibilidade aumenta e começamos a perceber nuanças que antes nos eram desconhecidas... Sentimo-nos mais suscetíveis de entender o outro em suas dores e aflições...
Todo crescimento e toda mudança causam sofrimento e desconforto íntimo.
Por estarem mais sensíveis, aguçam suas percepções e padecem incompreensões e distanciamento dos que antes se acercavam deles com objetivo de receber ajuda ou obter alguma vantagem.
Na hora do testemunho geralmente estamos sozinhos...
Mesmo rodeados dos que são verdadeiramente amigos e querem nos ajudar, nos sentimos isolados do mundo... É quando buscamos na fé e no amor de Deus a coragem para prosseguir...
Em nossas fileiras espíritas, quando somos defrontados por problemas e sofremos incompreensões dos que deveriam nos estender as mãos, temos que vigiar as nascentes do coração e ouvir as lições de Jesus que enriquecem nosso mundo íntimo, convidando-nos à reflexão em torno dos valores reais da vida, da aceitação da lei divina, e buscar no recôndito de nossas almas o conforto espiritual para vencermos, os desafios do caminho.

Emmanuel nos diz que:
Se nos encontrarmos, pois, em extremos desajustes na vida íntima, em face dos problemas suscitados pela fé, saibamos superar corajosamente os conflitos da senda, optando sempre pelo sacrifício de nós mesmos, em favor do bem geral, de vez que não fomos trazidos à comunhão com Jesus, simplesmente para o ato de crer, mas para contribuir na extensão do Reino de Deus, ao preço de nossa própria renovação.
E enfatiza que não podemos desistir da luta, nem recuar diante do sofrimento, mas sim aprender a usá-lo na concretização de nossos ideais de amor e crescimento espiritual por meio da fraternidade, da compreensão, do ânimo e da alegria, prosseguindo corajosos e livres.
Jesus nos deixou o roteiro, e se fomos chamados a servir, caminhando ao seu encontro, teremos que alijar de nosso coração a mágoa, o desencanto, o desânimo, buscando sempre evidenciar que já estamos seguindo seus ensinamentos e já conhecemos o quanto ainda nos falta crescer para chegarmos até Ele.
“A isso fomos chamados”...

Lucy Dias Ramos
REFORMADOR SET.2010

sábado, 11 de setembro de 2010

VOTEM: NOSSO LAR E CHICO XAVIER PODEM REPRESENTAR O BRASIL NO OSCAR 2011.

NOSSO LAR e CHICO XAVIER podem ser indicados para representar o Brasil no Oscar 2011.

Em uma iniciativa inédita, o Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual, abre, de 8 a 20 de setembro, a votação pública para a sugestão do filme brasileiro a ser indicado para concorrer ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2011.

Os filmes estão listados no link abaixo, e você poderá escolher.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

ALIMENTAR A ALMA

Por várias vezes, Chico (Francisco Cândido Xavier) declinou convite para uma pescaria. Como houvesse insistência de amigos, acabou por aceitar, a fim de não sustentar uma recusa que poderia magoá-los.
Em bela manhã, reuniu-se o grupo à beira de um barranco no rio. Horas depois, o pessoal havia pescado boa quantidade de peixes.
Quanto ao médium, nem um mísero lambari!
Os peixes passavam junto ao seu anzol sem nenhum interesse, e logo eram fisgados pelos demais pescadores.
Estranho!
Seria um fenômeno mediúnico?
Instado a responder sobre o assunto, Chico explicou:
– É que não coloquei a isca.
– Ora essa, por quê?
– Não queria incomodar os peixes…
A atitude de Chico é típica dos Espíritos evoluídos que vêm à Terra para grandiosas missões em favor da Humanidade. Eles cultivam o que Albert Schweitzer chamava de Reverência pela Vida.
O notável médico alemão, uma das figuras humanas mais ilustres do século passado, era incapaz de matar uma mosca. Dirá o prezado leitor que, levada às últimas conseqüências, esse princípio, seria o fim da vida animal na Terra, já que, vertebrados e invertebrados, não nos alimentamos de minérios.
Somos todos heterótrofos.
Fique tranqüilo. É uma palavra grande, não um palavrão.
Heterótrofos são os seres que não conseguem acumular energia diretamente, via luz solar, como os autótrofos (outra palavrona), os seres do reino vegetal.
Heterótrofos, estamos integrados na famosa cadeia alimentar, em que seres vivos alimentam-se de outros tantos. Os Espíritos superiores vivem em planos mais altos do Infinito, onde não existem os hábitos alimentares que fazem a matança na Terra.
Quando aportam em nosso planeta para gloriosas missões, repugna-lhes a idéia de que devem se alimentar matando seus irmãos inferiores. Daí essa reverência pela vida, exercitada por figuras inesquecíveis como Chico Xavier e Albert Schweitzer.
Mas, afinal, perguntará você, do que se nutrem os Espíritos que vivem em planos mais altos do Infinito?
Creio que a resposta está com Jesus (João, 4:32-34):
"Meu alimento é fazer a vontade de meu Pai que está nos Céus!"
A vontade de Deus é que nos amemos uns aos outros, conforme ensinava o Mestre, o que significa que o amor é o alimento das almas. E, quanto mais se aproxima o Espírito da perfeição, superando os liames da matéria, maior a sua capacidade de amar, nutrindo-se de amor, em planos onde inexistem as necessidades biológicas, em corpos de densa matéria.
Considerando que somos Espíritos encarnados, obviamente necessitamos de dois tipos de alimento:
Para o corpo, exercitando a heterotrofia...
Para a alma, exercitando o amor.
Quanto a este último, há um detalhe marcante. Para alimentar a alma, não vale o amor que recebemos. Este apenas alimenta o ego. Só vale o amor que damos, exercitando o empenho de fazer ao próximo o bem que gostaríamos nos fosse feito, como ensinava Jesus.
Assim como é preciso alimentar o corpo, diariamente, é fundamental atender a alma. Pessoas que não o fazem, são subnutridas espiritualmente, habilitando-se a tristezas e angústias, em crônica infelicidade, a anemia da alma.
Por falar nisso, leitor amigo, você já alimentou sua alma hoje?

Richard Simonetti

terça-feira, 7 de setembro de 2010

DIA DA PÁTRIA



O Brasil foi nosso grande amor, o brilhante fanal que nos iluminou os sonhos, a meta sublime que nos alcandorou os sentimentos.
Nós o amamos de todo o coração, na doce contemplação dos seus rios e das suas matas, das suas praias e dos seus céus; na gloriosa antevisão do seu esplêndido futuro e na esperança de felicidade para a sua valorosa gente. Muiltas vezes nos deixamos empolgar, em nossas cogitações, pela imaginação do seu porvir glorioso, quando seria elo o celeiro do mundo e uma potência respeitada entre as nações.
Quando, porém, a mão poderosa da morte nos desvelou aos olhos deslumbrados as paisagens do Espírito, e pudemos contemplar, de outro plano, este maravilhoso país, descobrimos que o Brasil era, visto de cima, imensamente maior e mais lindo, mais potente e mais promissor, muito mais digno ainda do nosso devotamente e do nosso amor, porque é o coração pulsante do mundo e a terra bendita de onde a Arvore do Evangelho distende os seus ramos generosos, refertos de pomos de bondade e de luz, para dar sombra e alimento a todos os povos da Terra.
Vimos mais, que este povo, que julgáramos forjado pela miscigenação de raças valorosas, era formado pelas primícias de todas as nações, a se conjugarem aqui para o lavor sagrado da construção de uma nova era planetária.
Devemos, porém, considerar que a luta pela emancipação definitiva de nossa Pátria querida não terminou com o grito do Ipiranga, nem com a abolição da escravatura, nem com a proclamação da República, nem com as subseqüentes reformas políticas e econômicas, porque uma substancial parcela viva de nossa comunidade ainda vive em dolorosas condições de subcultura e pauperismo, enquanto milhões de nossas crianças e de nossos jovens perambulam sem lar, sem escola e sem pão.
Os poderes constituídos, embora conscientizados da dolorosa realidade, ainda não puderam, nem poderão tão cedo resolver tão graves problemas, porque, na verdade, somente encontrarão eles solução definitiva quando a consciência nacional for suficientemente evangelizada, pois só o Espírito de Cristo, na força e na glória do amor, é bastante poderoso para dar solução plena a tamanhas aflições.
Neste dia consagrado à Pátria, homenageemos o Brasil com a nossa prece ao Senhor pela prosperidade espiritual do seu povo e pela cristianização verdadeira de sua gente, a fim de que o futuro que aqui nasce seja a grande e excelsa alvorada a abrir-se, tão cedo possível, sobre a noite angustiosa que ensombra as quebradas do mundo.

Gonçalves Ledo
(Mensagem recebida pelo médium Hernani T. Sant'Anna, na noite de 7 de setembro de 1978, no Grupo lsmael, na Federação Espírita Brasileira, no Rio de Janeiro-RJ.)
Reformador N°1806 – Setembro, 1979

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

AMPARO OCULTO


Quantas vezes ficamos aborrecidos por uma contrariedade ou um pequeno acontecimento, que logo denominamos de “problema”.
Fazemos planos, mas algo nos atrapalha.
Saibamos que Deus está atento a tudo o que fazemos e ao que estamos planejando fazer. E, através da Sua Sabedoria,
Ele sabe o que nos é benéfico ou não.
Por isso, age em silêncio, muitas vezes frustrando os nossos planos, por que enxerga adiante o mal que está por vir.
Nós, como crianças espirituais que somos, quando nos deparamos com algo que frustra os nossos planos, reclamamos dizendo que “Deus não nos ajuda”, quando é justamente o contrário.
Se nada acontece por acaso e Deus vê tudo, há alguma razão para as contrariedades também.
Lembremos-nos dos inúmeros casos de pessoas que, por defeito no carro ou outros pequenos empecilhos, chegaram atrasadas ao aeroporto e perderam o voo. Reclamaram, dizendo que não têm sorte e que Deus não estava ajudando. Horas depois, recebem a notícia de que aquele avião caiu.
No lar, também temos os espíritos familiares que procuram nos auxiliar para que a vida doméstica flua com mais harmonia.
Quando nos depararmos com um empecilho às nossas atividades, procuremos lembrar que Deus está no comando de tudo o que nos acontece e que, se não nos foi permitido seguir adiante em um plano, podemos ter certeza de que Ele queria evitar um mal maior, pelo qual não haveria necessidade de passarmos.
Confiemos no Pai de Amor e Sabedoria.
Agradeçamos, antes de reclamar.

Adolpho
Bibliografia: Antologia da Criança – Francisco Cândido Xavier / Autores diversos, Editora IDEAL, 3ª ed.,1992.


Não lamentes, alma boa,
Contratempo que aconteça,
Que a luta não te esmoreça,
Nada existe sem valor;
Aquilo que te parece
Um desencanto de vulto
É sempre socorro oculto
Que desponta em teu favor.
Uma viagem frustada,
Uma festa que se adia,
Uma palavra sombria
Que encerra uma diversão;
O desajuste num carro,
Um desgosto pequenino,
Alteram qualquer destino
Em forma de salvação.
Não chores por bagatelas,
Guarda a fé por agasalho,
Deus te defende o trabalho,
Atuando em derredor;
Contrariedades no tempo,
Quase sempre, em maioria,
É amparo que o Céu te envia
Por bênção do mal menor.

Maria Dolores

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A DIFUSÃO DO LIVRO ESPÍRITA


“Aconselho que não percas tempo; é preferível que os volumes esperem peio público, do que este por eles. Nada deprecia mais uma obra do que a interrupção da sua venda, impacientado por não poder satisfazer aos pedidos que recebe, o editor, a quem assim escapam ocasiões de vender o livro, se desinteressa das obras do autor imprevidente”.
(Allan Kardec, OBRAS PÓSTUMAS, 12ª edição da FEB.)

QUANDO O PROGRAMA DO LIVRO ESPIRITA, numa conjugação de esforços do Mundo Invisível com o Plano Terreno, através da Casa de Ismael, se delineia em nova fase editorial, em via de conclusão quanto ao seu avançado parque gráfico, preparando-se para vasto esquema de penetração do livro espírita em todos os pontos geográficos do Brasil, é justo que nos lembremos de Allan Kardec, “o pontífice da luz” (Irmão X), de suas lutas, dedicações e renúncias, graças às quais o Espírito da Verdade transmitiu ao mundo a Doutrina Espírita, restaurando o Cristianismo do Cristo.
Efetivamente, ao rememorarmos o 18 de abril de 1857, data em que “O Livro dos Espíritos” foi lançado à venda, em Paris, iniciando a Codificação Kardequiana, complementada ao longo de onze decênios, mas jamais completável, queremos salientar as dificuldades vividas pelo Missionário de Lyon, para a preparação e lançamento das obras básicas do Espiritismo, a fim de melhor valorizarmos o instrumental de trabalho que possuímos hoje no Brasil.
Pela simples transcrição que encima este artigo, observamos o cuidado dos Espíritos em orientar o Codificador no pertinente às limitações a que ele estava jungido, dependendo de editores e livreiros estranhos às questões doutrinárias, pois aquele não era ainda o momento para que o Espiritismo dispusesse de editora e gráfica próprias, totalmente independentes de quaisquer interesses alheios ao ideal do Evangelho.
Allan Kardec, “o bom senso encarnado”, humilde como verdadeiro apóstolo, jamais abdicando do seu livre arbítrio e da sua independência de raciocínio, que é “o prumo da consciência” (Kelvin van Dine), seguia fielmente a orientação de seus guias. Em “Obras Póstumas”, podemos ler peças notáveis quanto a problemas de revisão, venda, reedição de livros e, até mesmo, sobre fantasias de ofertas de obras espíritas “a preços fabulosamente reduzidos” (pág. 288). Já naquela época os Espíritos advertiam o Codificador quanto aos perigos de idéias divorciadas das realidades econômicas, pois o livro e a imprensa, no Espiritismo, serão auto-sustentáveis ou não subsistirão (ver “Reformador”, nov.-1971, “A “Cidade do Livro” em expansão”, págs. 252/3).
Mas Allan Kardec estava atento, por isso colhia também grandes alegrias: “Deves contar com um esgotamento rápido dos volumes. Quando nós te dizíamos que esse livro seria um grande êxito entre os que tens tido (“ A Gênese “), referíamo-nos simultaneamente a êxito filosófico e material. Como vês, eram justas as nossas previsões. Importa estejas pronto para qualquer momento; as coisas se passarão com maior rapidez do que supões”.Noutras oportunidades, vinham consolações e avisos de prudência: “Ride das declamações vãs; deixai que falem os dissidentes, que berrem os que não podem consolar-se de não serem os primeiros; todo esse arruído não impedirá que o Espiritismo prossiga imperturbavelmente o seu caminho. Ele é uma, verdade e, qual rio, toda verdade tem que seguir seu curso”.“Ai dos que não hajam preparado para si um abrigo! Ai dos fanfarrões que forem ao encontro do perigo com o braço desarmado e o peito descoberto! Ai dos que afrontarem o perigo empunhando a taça! Que terrível decepção os espera! A taça que empunham não lhes chegará aos lábios, antes que eles sejam atingidos!“ (págs. 301, 297 e 299, respectivamente, de “Obras Póstumas”).
O trabalho do livro espírita, quando já penetramos os pórticos da Nova Era, revela-se Fundamental à destinação dos Espíritos, pois está reservada a ele a tarefa gigantesca de levar a cada lar, a cada homem, a substância do conhecimento espiritual capaz de iluminar as consciências. Todo Espírito disporá, num futuro que esperamos não esteja distante, dos elementos essenciais para o auto-conhecimento libertador: “A Terra de todos os séculos sofre a flagelação de dois grandes males. Um deles é a miséria. O outro, e o maior, é a ignorância. É a ignorância a magia negra de todos os infortúnios”.“É preciso ler para saber pensar e compreender. Por esta razão expressiva, o Cristo, que consolou almas aflitas e curou corpos doentes, que patrocinou a causa dos sofredores e construiu caminhos para a salvação das almas nos continentes infinitos da vida, não se afirmou como sendo restaurador ou médico, advogado ou engenheiro, mas aceitou o título de Mestre e nele se firmou, por universal consagração “. (“Falando a Terra”, Demétrio N. Ribeiro, psicografia de Francisco Cândido Xavier, 2ª edição. FEB) “Os elevados colaboradores do Embaixador Sublime examinaram o assunto, por muitos e muitos anos, e, depois de longas marchas e contramarchas, assentaram entre si que o monumento capaz de conservar as lições do Divino Mestre, ao dispor de todas as criaturas e ao alcance de todas as inteligências, era precisamente o LIVRO, o único instrumento apto a preservar os tesouros do espírito, acima dos séculos, na moradia dos homens!...” (“Reformador”. Abr. -1969, Irmão X, médium Francisco Cândido Xavier).
Como não podia deixar de ser, o Comando Supremo do programa do livro espírita continua com seus Excelsos Autores nas Esferas Invisíveis. Allan Kardec teve êxito porque não duvidou da “administração do céu” e com ela manteve ininterrupta sintonia e obediência. A Casa de Ismael também nunca duvidou: continua sintonizada e obediente.

* * *

“Em todos os lugares, vemos o faminto e o ignorante em atitudes diversas. O faminto trabalha afanosamente na conquista do pão. O ignorante é indiferente à posse da luz. O faminto reconhece a própria carência. O ignorante não se define. O faminto aparece. O ignorante oculta-se. O faminto anuncia a própria necessidade. O ignorante engana a si mesmo”.“Seara dos Médiuns”, de Emmanuel, por Francisco Cândido Xavier, edição FEB.)
Precisamos, “com urgência, sem pressa” (Bezerra de Menezes). Ou seja: com firme programação e sem protelações, fomentar a difusão ampla, profunda, do livro espírita. E é esta uma tarefa em que virtualmente se devem considerar vinculados compulsoriamente todos os adeptos conscientes da Doutrina Consoladora. Os escritores, desencarnados ou reencarnados, elaboram as obras convenientes, a FEB as edita e distribui pelas livrarias e casas espíritas, grandes e pequenas. Se estas não dispõem das obras procuradas pelos interessados, há o serviço de reembolso que, através da EBCT (antigo Correios), as remete para toda e qualquer localidade do Brasil, por menor que seja.

Mas, o trabalho do espírita, para integrar a equipe de voluntários na difusão do livro espírita, direito do qual ele não deve abrir mão, é mais amplo ainda. Tenha ou não encargos de direção em Centros ou Grupos. Para que os objetivos colimados sejam alcançados em profundidade, importa que cada um tenha sua coleção de obras selecionadas, coleção que será menos ou mais rica em número de volumes, segundo as necessidades ou possibilidades próprias. A seguir, observará se o seu Centro ou Grupo dispõe de biblioteca de obras para consulta e empréstimo; se nele existe, periodicamente suprida, pelo menos uma estante de livros para venda aos seus freqüentadores; se em sua cidade já funciona uma barraca de livros (Feira); e, finalmente, se as livrarias comerciais de seu bairro ou cidade vendem livros espíritas. Ê trabalho inegavelmente seu, intransferível, diligenciar no sentido de que, mediante contatos com os responsáveis, tais organizações venham a expor os livros espíritas ao público.
Realizar palestras nas sociedades sobre certos temas contidos nos livros espíritas, recomendando-os ao público, é de grande valia, pois inúmeros companheiros desconhecem que determinadas questões foram tratadas numa ou noutra obra de há muito existente. Além disso, todos podemos presentear livros espíritas. indistintamente. a confrades nossos ou não. Finalmente, providenciar para que as bibliotecas públicas, as das agremiações que integramos — sejam sindicais, desportivas, recreativas ou outras — adquiram ou recebam de espíritas todos os livros doutrinários.
Em suma, o espírita vigilante, atento, agirá para que o livro espírita esteja sempre em toda parte.

Interrompamos, por instantes, a leitura deste artigo. Meditemos. O que acontecerá se os que lêem, e concordam conosco, ao invés de esperarem que a tarefa seja realizada por outros, como muita vez ocorre, arregaçarem as mangas e partirem para o trabalho sugerido? Duas coisas certamente ocorrerão. A primeira, a mais importante, é que teremos começado em todas as frentes, e a um só tempo, a espancar as trevas da ignorância, que ainda infelicitam o consciências; a suprimir os males da superstição e da simonia: a consolar e esclarecer “os filhos do Calvário” e a acelerar o estabelecimento do Reino de Deus no coração dos homens —, tudo em termos evangélicos e populares, porque Jesus pregava a Boa Nova ao indivíduo, falando à multidão. A segunda, por via de conseqüência, é que a FEB terá de produzir mais livros, mas ela para isso já está se preparando há muito tempo.
O Departamento Editorial e o “Reformador” prosseguem no escopo de aprimoramento de suas edições. Proximamente, teremos notícias que alegrarão muito os companheiros do Espiritismo em todo o país. Importante infra-estrutura editorial e gráfica, garantidora de alta produção, está em montagem. Livros e revistas suficientes para todos, talvez ainda neste exercício. Com excelente apresentação, esmero e acabamento. E a integridade dos textos e a pureza doutrinária de sempre.
“Auto-educação — tema constantemente discutido, realização raramente buscada. Ninguém lhe escapa ao imperativo, e podemos afirmar que fora da auto-educação não há evolução”.“Indispensável o estudo em toda iniciativa de auto-aperfeiçoamento. O livro é a chave de luz da porta estreita de acesso aos Planos Superiores”.(“Reformador”, out. -1964, Kelvin van Dine, psicografia de Waldo Vieira.).

Francisco Thiessen
Fonte: Reformador nº 4 – abril, 1972.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

SER ESPÍRITA


Ser espírita
é ter um alto compromisso,
é ter um pujante ideal:
marchar pela senda do bem,
que é da vida a espinha dorsal,
e ter no Evangelho do Cristo
o mais sublime fanal.

Ser espírita é ter coragem
de, na caminhada terrena,
romper com a mente pequena.
É ver na dor que calcina
ensejo libertador,
divina e refrescante aragem
que a voz da consciência descortina.

Ser espírita é saber
que em nossa vida o Espiritismo atua
informando-nos qual é o nosso lugar,
o que no mundo devemos fazer,
para que melhores possamos ser,
a fim de que um venturoso amanhã
venhamos a conquistar.

Como é importante ser espírita!
Conseguir penetrar, como formosa dita,
as razões do sofrer, do sorrir, do chorar,
na certeza de que o amor tudo há de transformar,
na esperança maior que a lei de Deus incita.

Quão grandioso é o claro Espiritismo!
Abre-nos ocasião para servir, e
inscreve-nos no rol dos que vibram no altruísmo.
E, nas bênçãos várias que se abrem como em leque,
traz-nos a grandeza de Jesus e a lucidez de Allan Kardec.

Como é formidável o Espiritismo!
Como é feliz sua rútila mensagem!
São fulgurantes seus ensinamentos,
que oxigenam nossos pensamentos,
sem faltar no vigor, sem falhar na dosagem,
fazendo-nos melhor viver na Terra.

Ser espírita é saber converter
o homem-velho em homem-novo,
com as lições que o Evangelho encerra.
É ter coragem de avançar, sem pressa,
na reflexão que a mente nunca engessa,
bem longe da acomodação que emperra,
seja cada pessoa, seja o povo.

Ser espírita é saber caminhar
para o alto, para a frente,
sem a nada ou a ninguém temer,
levando vida decente
investindo no progresso, e saber
que a natureza não dá saltos, porém, caminha.
Assim, labora por cooperar na pauta que reluz,
No trato da excelsa vinha.

E, inebriados de alegria,
ao Cristo, então, cantaremos,
a Ele agradeceremos
porque hoje estamos enriquecidos
na Doutrina da Verdade.

E a melhor louvação, penso, em realidade,
será esforço e trabalho por termos renascido
no campo de lucidez do Espiritismo,
com toda condição p´ra sombras superar.

Ser espírita, pois, é cristalina escancha
de fazermos brilhar a própria luz,
e com Jesus a inspirar-nos as ações;
é sofrer na rota, enquanto se aprende,
servir mais com alegria, pois o serviço rende,
e construir todo o bem que puder,
sem cansar-se de amar.

Ivan de Albuquerque
(Página psicografada pelo médium Raul Teixeira, em 24.10.2001, na Sociedade Espírita Fraternidade, em Niterói-RJ.)