quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

É NATAL - QUE OFERTAMOS AO ANIVERSARIANTE?


No Livro “Os Mais Belos Contos de Natal”, com o título de O Quarto Rei Mago, há um deles, belíssimo, escrito pôr Joannes Joergensen, no qual atribui a uma lenda o fato de que Jesus não sorriu, ao receber as oferendas dos Reis Magos (Gaspar, Melquior e Baltazar), que se constituíam de ouro, incenso e mirra.
Mas o autor se refere ä existência de um quarto rei, originário da Pérsia, que chegou atrasado ... e de mãos vazias. Ao narrar pôr que chegara de mãos vazias, fez o pequeno Jesus se voltar para ele, estender-lhe suas mãozinhas e sorri-lhe.
Em seu relato afirma que, ao partir de seu amado país, trazia-Lhe precioso tesouro: três pérolas brancas, cada uma semelhante a um ovo de pomba, retiradas do mar da Pérsia.
Contudo, a primeira delas ofertou ao hospedeiro de uma estalagem, a fim de que buscasse um médico para um velho que tremia de febre, estendido num banco, próximo ä lareira. Era magro e pobre, e muito parecido com seu próprio pai... Certamente seria enxotado no dia seguinte, se não morresse até lá. Que cuidasse dele e, se fosse o caso, desse-lhe uma sepultura digna.
No dia seguinte, em viagem, ouviu gritos vindo de um bosque. Verificou que se tratava de soldados que iam violentar jovem mulher.
Com a segunda pérola comprou sua liberdade. Ela beijou as mãos do rei e fugiu célere para as montanhas.
Restava-lhe uma pérola e, ao menos esta, pensava consigo, seria entregue ao pequeno Rei, nascido no Ocidente.
Seguindo em frente, aproximou-se de uma pequena cidade em chamas. Eram os soldados de Herodes, a executar-lhe as ordens de matar as crianças de dois anos para baixo.
Um deles mantinha, dependurado pôr uma perna, pequeno menino que se debatia e gritava. Ameaçava jogá-lo ao fogo. Sua mãe gritava desesperadamente.
Com a terceira pérola resgatou a criança, devolvendo-a á mãe, que a enlaçou em seus braços, fugindo, sem ao menos agradecer-lhe, tamanha era sua angústia.
Pôr isso, chegara de mãos vazias... e lhe pedia perdão.

Aquele rei trazia, sim, as mãos vazias, mas o coração, esse, estava pleno de amor.
A compaixão que o moveu, nas três circunstancias, foi o melhor presente que, afinal, ofereceu ao meigo Jesus, ainda infante. Na sua conduta, demonstrou que se harmonizava com os futuros ensinos de Jesus em seu Evangelho. Nele, a vivência era visível e já se tornara uma segunda natureza. Já possuía o salutar hábito da bondade, em todas as suas ações.
O Espiritismo, o Consolador prometido pôr Jesus tem como objetivo primordial restabelecer, na Terra, o Cristianismo primitivo, sem os atavios e distorções que lhe acrescentamos, os homens que o não assimilamos, que o não compreendemos.
Em Jesus temos “o conquistador diferente”, no, dizer do Irmão X. “Jamais humilhou e feriu (...) recebeu sem revolta, ironias e bofetadas (...)” Ainda assim o temos tratado.
Pois, que temos nós ofertado ao Divino Amigo ? Que temos feito de nossas vidas?
Será que o fazemos sorrir ? Ou chorar ?
Nossas mãos estão vazias porque nos despojamos de egoísmo e somos mais fraternos, mais dados a compaixão, mais caridoso material e moralmente, ou porque nada nos comove ?
Temos hoje nova visão do Natal, ou permanecemos nas velhas ilusões do desperdício, da matança de animais, das bebedeiras, da alegria exterior? Compartilhamos com o próximo, de qualquer condição social, o júbilo íntimo, os bens e os talentos?

No nosso Natal, o Cristo está presente?

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

REFLEXÕES DE DEZEMBRO

O mês de dezembro é, talvez, o mais propício para uma espécie de balanço de nossas realizações, de nossas aspirações e experiências de todo um período que se finda.
O último mês do ano é a época preferida para as avaliações das atividades individuais e coletivas, para que se firmem diretrizes ou se busquem novos caminhos.
Coincidentemente, é o mês em que se comemora a vinda do Cristo de Deus à Terra, trazendo sua Mensagem de Luz aos homens. Seu Natal é um convite à reflexão do que Ele representa para a Humanidade, do que é verdadeiramente essa Mensagem e o que significa para nós.
Os espíritas, que convivemos com os irmãos de diferentes credos e concepções de vida, aprendemos a respeitá-los, sem, contudo, aderir a usos e costumes que não se coadunam com os princípios da Doutrina Libertadora.
Somos todos regidos pela lei de evolução.
Cada um se encontra em determinado estágio evolutivo. Nesse caso, não podemos desprezar ou condenar nosso companheiro de jornada que ainda se prende a interesses puramente materiais, a representações grosseiras das quais já nos libertamos.
Cumpre-nos entender que o estado de ignorância é transitório para todos, sendo necessariamente um estágio evolutivo em cada criatura, mas não um mal em si mesmo.
No mundo de provas e expiações em que vivemos, somos todos imperfeitos, sujeitos a erros, provações e sofrimentos.
Sem embargo das próprias imperfeições, compete a todos utilizar a inteligência e a razão no esforço constante para a elevação, através da autoeducação.
A busca da felicidade de cada um é uma lenta ascensão, já que, por ignorância ou por comodismo, escolhemos os caminhos ilusórios das miragens, só reconhecidos como tais quando aparecem os erros e as decepções.
Entretanto, os sofrimentos e dores, os enganos e desilusões são experiências e lições duras que nos ensinam a necessidade de procurar as sendas corretas que conduzem à felicidade.
Cedo ou tarde aprendemos que as coisas materiais e seus interesses - bens e riquezas da Terra - são transitórios e mutáveis, destinados à satisfação das necessidades da vida material.
O despertamento do Espírito acontece quando descobre que a perfeição moral é sua meta e seu destino e que seus erros e as consequências deles constituem experiências e lições aproveitáveis no descobrimento da verdade e do roteiro certo.
No Universo os seres se ligam e se influenciam reciprocamente. Não somente as galáxias e os sistemas planetários são solidários entre si, mas nas diversas manifestações da vida, a solidariedade está presente em toda parte.
Basta um olhar pelos reinos da Natureza para se constatar a solidariedade entre eles. O reino mineral sustenta os seres vegetais; os animais, por sua vez, sustentam-se de elementos vegetais, minerais e animais que lhes asseguram a vida. Com a morte, os elementos materiais voltam ao reino mineral e o princípio espiritual continua sua trajetória.
Nós, os Espíritos eternos, qualquer seja o estágio em que nos encontramos, devemos ter presente a solidariedade existente entre todos determinada pela semelhança do seu destino e da sua natureza.
Todos começam num estádio de simplicidade e ignorância. Passam pela inferioridade, sujeitos às mesmas leis divinas e eternas que determinam sua ascensão, de conformidade com o esforço de cada um.
Por isso, a solidariedade deve estar presente entre todas as criaturas de Deus, independentemente do grau evolutivo em que se encontre cada uma.
O amor ao próximo, como ensinou Jesus, é a expressão mais pura da lei de solidariedade.
O dever de amar o próximo é a mais bela expressão da lei Divina, ensinada pelo Cristo, que a coloca junto e após o imperativo de amar a Deus, o Criador de todas as coisas. Não há exceção nessa lei geral. Precisamos aprender a amar a todos, a nos solidarizar com todos.
Assim como somos auxiliados e socorridos pelos seres superiores, que já alcançaram poderes e graus acima dos nossos, assim também nos cumpre ajudar e auxiliar, sob múltiplas formas, os que se encontram à retaguarda.
O exemplo maior vem-nos do Cristo. Sua mensagem, seu sacrifício e sua renúncia são lições permanentes e indeléveis convocando à solidariedade com os semelhantes, especialmente os que se encontram abaixo de sua posição evolutiva. Quando Jesus, o Cristo, guia e governador espiritual da Humanidade; o modelo perfeito que o Pai Celestial oferece aos homens, resume no amor toda a lei divina, está mostrando que a solidariedade é a grande corrente que liga todas as almas.
Se deixamos de amar nosso semelhante, seja qual for sua condição, se odiamos, se desprezamos, se desejamos o mal até mesmo aos inimigos e adversários, essa atitude é a quebra de um elo da grande cadeia da solidariedade.
Manifestações patentes da lei de solidariedade entre os seres são as revelações que sempre fluíram da Espiritualidade Superior para todos os povos e nações da Terra, em todos os tempos.
São também as intuições e as inspirações captadas pelos gênios e pelos missionários encarregados pelo Plano Superior de trazer aos homens novas idéias e novas concepções de vida mais abundante, à medida que sua capacidade se toma apta a entendê-las e assimilá-las.
O Espírito encarnado sofre a poderosa influência da matéria. O mundo que o cerca é o império da vida material. Seu corpo material, suas necessidades físicas, seus sentidos físicos induzem o Espírito a só cuidar dos interesses imediatos do mundo material, fazendo-o esquecer sua condição de essência espiritual. Essa é uma característica peculiar dos mundos materiais atrasados como o nosso.
A Providência Divina não permite que prevaleça absoluta a influência exclusiva da materialidade. O Espírito guarda sempre a intuição de sua natureza, de sua origem e de seu destino, auxiliado, em todas as épocas, a cultivar suas qualidades latentes, suas aspirações adormecidas. As revelações superiores, os missionários e enviados do Alto são os agentes incumbidos de despertar no homem o interesse pelas coisas espirituais, contrabalançando a poderosa influência da matéria.
As grandes religiões da Humanidade tiveram e têm esse papel de extrema importância, que é o de despertar na criatura a consciência da existência de um Ser Supremo, criador do Universo e da essência da vida.
Como diz Emmanuel ("A Caminho da Luz"), "as tradições religiosas da antiguidade guardam, entre si, a mais estreita unidade substancial. As revelações evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento".
Através das revelações e das religiões homem se furta à exclusiva influência da materialidade, lembrando-se de sua condição de essência espiritual. É, pois, de extrema importância o papel das religiões ao contrabalançar a influência do materialismo, mesmo considerando-se que elas "evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento".
As revelações do Mundo Espiritual Superior são sucessivas e gradativas.
Sendo o Cristo o Governador Espiritual da Terra, desde sua formação, como executor da vontade de Deus, torna-se evidente que todas as Revelações obedeceram à sua orientação e por isso mantém uma unidade substancial.
"A história da China, da Pérsia, do Egito, da Índia, dos árabes, dos israelitas, dos celtas, dos gregos e dos romanos está alumiada pela luz dos seus poderosos emissários." ("A Caminho da Luz", pág. 83, 22ª ed. FEB.)
Mas é lógico que as Revelações haveriam de atender às possibilidades de percepção de cada raça, de cada povo e às condições de adiantamento de cada época.
O próprio Cristo viria, em pessoa, trazer orientações e conhecimentos de extrema importância para a Humanidade. Sabendo, entretanto, das limitações dos homens e dos entraves que iriam atingir sua Mensagem, por desvios no entendimento e na prática de seus ensinamentos, prometeu a vinda posterior do que Ele denominou "O Consolador", destinado a ensinar todas as coisas e a recordar tudo o que já ensinara. (João, 14:15-17 e 26.)
O Consolador veio e está entre nós. É a Doutrina dos Espíritos, esclarecedora e consoladora por sua natureza, que nos ensina as coisas transcendentes de que necessitamos no atual estágio da Humanidade, que recorda os ensinos do Cristo para o correto comportamento dos homens perante as leis divinas e que retifica os transvios das religiões nas suas práticas através dos séculos.
Mas o Espiritismo não esclarece somente o transcendente, oferecendo-nos noções mais realistas a respeito de Deus, a Inteligência Suprema e sobre o Cristo, o Filho de Deus.
Dá-nos a conhecer muitas das leis divinas que já podemos compreender - a evolução contínua, as vidas sucessivas em mundos materiais como o nosso, a lei de causa e efeito, a eternidade da vida do Espírito - leis que mostram ao ser humano suas próprias possibilidades de crescimento, na proporção da aplicação de sua vontade, de sua inteligência e da liberdade de que goza.
O homem, Espírito encarnado neste mundo atrasado, vem, há milênios, cumprindo seu destino, aprendendo as coisas rudimentares da vida, aperfeiçoando-se através de trabalhos rudes, repetitivos, através das reencarnações.
Por vezes alça altos voos, impelido por ideais elevados resultantes de aprendizado adquirido no núcleo substancial das religiões.
Agora, com a Revelação Nova, encontra recursos para desenvolver os valores que jazem no recôndito de seu ser.
Sua fé e esperança fundam-se em realidades que ele conhece. Seu futuro torna-se mais claro, na certeza de que é a continuação da vida em outra dimensão, longe da idéia asfixiante do nada ou da ilusão de um céu indefinido, ou de uma condenação eterna.
Cumpre-lhe, com a certeza dessa realidade, preparar o porvir, através dos pensamentos e ações presentes, que dizem respeito à sua vida íntima e à sua vida de relações com seus semelhantes.
Agora o viajor eterno não anda a esmo. Tem um roteiro a seguir, que lhe é conhecido. Amar e servir resumem esse roteiro.

Juvanir de Souza
Reformador

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O MÉDICO DAS ALMAS

Jesus curava o corpo, pretendendo com isso curar a alma.
A enfermidade, disse elle, é herança do peccado. Por esta expressão simples, porém profunda, concluimos que a origem das doenças está no Espirito. As manifestações exteriores são effeitos de uma causa interna.
Coherente com este criterio, Jesus disse ao paralytico que padecera 38 annos e a quem havia curado: “Olha, já estás bom; portanto, toma cuidado, não peques mais, para que não te succeda coisa peor”.
Peccar é tentar contra as leis naturaes, que tudo abrangem, envolvendo os planos physico e moral. Deus creou o Espirito e creou o corpo, sujeitando ambos ao imperativo daquellas leis. A Hygiene é a religião do corpo; a Religião é a hygiene da alma.
Toda cura opera-se de dentro pára fóra, precisamente porque, as raizes do mal que affecta o corpo estão no Espírito. “Mens sana in corpore sano”. Ha causas cujos effeitos são immediatos; outras existem de con­sequencias remotas; mas, o facto incontestavel é que o principio de causalidade rege á Vida.
As enfermidades constituem anomalias, pois o natural é que o homem seja são. Para remi-lo da servidão do peccado, origem dos disturbios physicos e psychicos, veiu Jesus ao mundo. Por isso, quando deu a vista aos cégos, audição aos surdos, voz aos mudos, etc., não agiu em desaccordo com as leis naturaes, mas de plena conformidade com ellas, de vez que, restituindo a vitalidade áquelles orgãos, restabeleceu as suas legitimas funcções. Os olhos foram feitos para ver, os ouvidos para ouvir, as cordas vocaes para articularem a palavra.
Aprendemos no Evangelho que o corpo não é coisa desprezivel. Jesus attendeu sempre com solicitude e bondade ás supplicas de todos os enfermos que o procuravam, restaurando-lhes a saude. Encarando as mazellas humanas com piedade e commiseração, Elle não se enojava dellas. Extendeu, por vezes suas mãos bemfazejas sobre os estigmas e as deformidades occasionadas pela lepra, restabelecendo o corpo doente na sua conformação natural e nas suas linhas de harmonia e de belleza.
Jamais deu a entender a qualquer enfermo que não convinha zelar do physico e curar da sua conservação. Ensinou, pelo exemplo, que a materia, como instrumento do Espirito, deve ser convenientemente cuidada, de modo a prestar-se aos fins a que se destina.
Instrumentos desafinados e faltos de zelo compromettem a obra dos melhores artistas. As reacções entre o physico e o moral, o moral e o physico, são reciprocas e continuas, decorrendo desse phenomeno a necessidade do Espirito trazer o corpo debaixo do seu dominio. Governar e dirigir a materia, nunca, porém, despreza-la e, menos ainda, abandona-la aos caprichos e aos arrastamentos do instincto.
O corpo, disse S. Paulo, é templo de Deus. Para que o seja de facto, accrescentamos nós, é preciso que esteja sob o impe­rio do Espirito.
Das curas operadas pelo Divino Escu­lapio resultam dois beneficios: um de ordem material, outro de natureza espiritual. O primeiro consiste em sarar o corpo, que é geralmente o que todo doente procura; o segundo revela-se na communhão que então se estabelece entre o beneficiado e o bemfeitor, isto é, entre o paciente restabelecido e aquelle que promoveu a cura. Desta relação decorre o supremo bem para o Espirito, a sua redempção, ou, seja, a conquista da saude permanente do ser imperecivel.
Tal a méta visada pelo Christo de Deus.

Vinícius
Fonte: Reformador – abril, 1936

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

CIRANDA

A vida circula rápido demais para quem tem, na maioria das vezes, necessidade de parar para acertar comandos. A cada momento e em todos os momento de nossa existência terrena, nos encontramos à frente com circunstâncias às quais devemos dar direção. E, cada instante nos vemos, sem sombra de dúvida, diante da eterna e angustiante paralisia da escolha. Um passo determinará sempre o seguinte... Um movimento criará sempre as conseqüências para o próximo... E, quando temos consciência disso, tudo fica mais difícil, porque nos permitimos errar. Mas, querendo ou não querendo essas circunstâncias em nossa vida, elas aí estão nos impondo sua presença, nos obrigando a tomadas de decisões que desejaríamos protelar indefinidamente, se possível. E é na ciranda da vida que nossa tibieza se mostra sem subterfúgios, sem máscaras a nos proteger, a nos camuflar.

Cada aspecto que vivenciamos é como um obstáculo a ser vencido.

A indolência característica de quem busca eternizar o adiantamento a essa tomada de posições, nos leva a acreditar que a vida nos espera e que, portanto, não há pressa. Tudo pode e deve ser deixado para depois, pois cada dia representa enorme fardo a ser carregado. Cada aspecto que vivenciamos no dia-a-dia representa, na nossa visão tacanha, um obstáculo a ser vencido, exigindo de nós um imenso esforço. Nossas experiências, ao invés de nos servirem de elemento transformador e de progresso, nos lembram arenas de lutas ferrenhas onde somente os mais bem dotados saíam vivos. Todavia, se prestarmos atenção a essas experiências, buscando modificar esse enfoque, onde percebemos tão somente o elemento obstrutor, sem contudo nos darmos conta do elemento renovador, poderemos aprender seu real significado. Procuremos entender esse sinal que a vida nos dá, e busquemos observar o que nos acontece, verdadeiramente. Brinquemos um pouco de roda, a partir de agora. Nossa imaginação pode correr solta nos tempos em que, com liberdade infantil, nos reuníamos nas ruas para buscar, na ingenuidade dos tempo, o melhor divertimento. Ah!, a ciranda de rodas! Naquele momento, unidos pelo mesmo objetivo, vidas diferentes, representadas por um a um naquela roda, giravam um uníssono: a mesma música, o mesmo riso, a mesma alegria. Momento mágico a se perder no tempo... Será? Continuemos a girar... A música era sempre a mesma e a alegria também. O riso? Quase sempre o mesmo. Mas as vidas que giravam juntas, nem sempre o eram. Tantas mudaram de endereço ou se perderam de nós. Outras surgiram e enriqueceram a roda. Aceitávamos, com certa tranqüilidade, esse ir e vir de vidas pois o que contava sempre era a roda que precisava girar. Hoje, não mais crianças, acreditamos que a brincadeira acabou. A rua não existe mais. O objetivo não existe mais. As vidas se transformaram porque nossa vida se transformou e com isso a roda parou. Parou? A vida não pára porque nós paramos! A vida deixa de existir porque nós insistimos em nos mantermos paralisados. A vida circula eternamente dentro de nós e que pulsa ininterruptamente nos acordando para cada novo dia, também coloca à nossa disposição um imenso arsenal de oportunidades de trabalho a nos mostrar que, mesmo que não queiramos, ela vai continuar girando; que, independente de nossa vontade, continuamos respirando, renovando ares, criando esperanças, determinando caminhos. Imensas dificuldades produzimos para não percebermos esse processo. Temos medo de tomar nossas vidas nas próprias mãos; temos receios em sermos os únicos responsáveis pelas escolhas que fizermos. Tão mais fácil culpar o outro... não importa quem ele seja. Longe estamos de entender ainda que a ciranda é a própria vida que se inicia em nós e termina em nós. Longe ainda está o dia em que poderemos compreender, com lucidez, que a vida somos nós, pulsando em uníssono com a música do Universo; colocando nessa roda vidas idas e por virem; deixando marcas indeléveis que nos transformam, nos enriquecem e nos fazem crescer. E mesmo paralisados ou indolentes seremos sempre forçados a girar. Criamos tempos, abrimos espaços na execução da divina tarefa de crescimento interior em busca da perfeição. Cada movimento para frente, retornando a nós em forma de sabedoria - experiência vivida - e cada impulso para o alto, projetando-se sobre nós em forma de iluminação - consciência divina, inerente a todo Ser - fecham o círculo perfeito da evolução. Ora para a frente, ora para o alto, cada um desses movimentos se intercala com os demais enriquecendo nossa roda, ciranda bendita, de vidas vividas, de vidas que hão de vir, permitindo o caminhar eterno do nosso Espírito livre em direção ao AMOR.

Jornal O Semeador - Fevereiro de 2000

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ESPIRITISMO ESTUDADO

Impostergável, nos cometimentos diários, o dever de estudar e aplicar as nobres lições do Espiritismo, no atual estágio da evolução do pensamento.

À medida que as luzes da Doutrina Espírita clarificam o entendimento humano, mais imperioso se torna o cultivo das informações que ressumam da Revelação, a fim de que a ignorância em torno dos problemas do espírito seja em definitivo combatida.

A responsabilidade dos que travaram contato com a Mensagem de Jesus, desvelada e atualizada pelos Espíritos, é muito grande, pois que àquele que usufrui a bênção do esclarecimento não se pode conceder a indulgência da leviandade, nem tampouco a reprochável conduta da indiferença em face das magnas questões que se agigantam em todo lugar.

Até hoje o egoísmo tem exercido sobre o espírito humano um soberano comando, O Espiritismo, preconizando o amor que liberta e a fraternidade que socorre, é o mais severo adversário desse sicário destruidor.

Todavia, para que o adepto do Espiritismo se integre realmente no espírito da Doutrina, exige-se-lhe aprofundamento intelectual no conteúdo da informação espírita, de modo a poder corporificá-la conscientemente no comportamento moral e social, na jornada diária.

Nesse sentido, há que fazer justa quão indispensável diferença entre o Espiritismo e o Movimento Espírita.

Vigem, em muitos setores da prática espiritista, normas e diretrizes ultrajantes à Mensagem de que Allan Kardec foi instrumento do Alto, seja por negligência de muitos dos seus membros, seja pela crassa ignorância daqueles que assumem responsabilidades definidas, ante os dispositivos abraçados, sem os necessários recursos culturais indispensáveis.

Ante a grandeza da Revelação, por estarem acostumados às limitações típicas das seitas do passado, ou porque ainda vinculados às superstições nefandas dos dias recuados, muitos pseudo-espiritas pretendem reduzir a grandeza imensurável do Espiritismo à estreiteza de uma nova seita, em cujo organismo grassem os erros derivados da incompetência e do abastardamento, de que o desconhecimento da Codificação se faz motivação poderosa.

O Movimento Espírita é o resultado do labor dos homens, enquanto o Espiritismo é a Doutrina dos Espíritos dirigida aos homens.

O Espiritismo, pois, não cessemos de repetir, é ciência de observação e investigação incessante. Tateamos agora as primeiras constatações, ante o infinito das realidades que ele busca, devassa e esclarece. Há, ainda e continuamente, infindo campo de informação a perquirir e constatar no eloqüente continente da vida espiritual.

Estudado, o Espiritismo dealba a antemanhã luminosa da humanidade do futuro, desde agora.

Como Filosofia, a sua escola de indagação não se limita às linhas clássicas da discussão, nem se empareda na estreiteza dos conceitos ultramontanos ou do debate limitado, porquanto estas não são as primeiras nem as últimas palavras das elucidações que faculta, nem dos esclarecimentos que oferta.

Religião da ciência, como ciência da filosofia, é, ao mesmo tempo, a filosofia da religião, e sua ética não se estratifica na moralidade das convenções transitórias, nem se resume a dogmas atentatórios à razão.

Com fundamentos na Revelação Moisaica, através do insubstituível código do Decálogo, sempre oportuno e novo em toda a sua elaboração — segurança para cada homem e arbítrio para todas as nações — abranda, com a excelsa beleza do Evangelho do Cristo, a aspereza severa das antigas leis de Talião, dando cumprimento às promessas dos Profetas e de Jesus.

Doutrina que acompanha o progresso do Conhecimento e estimula novas formas de averiguação e pesquisa, não se detém nas conquistas conseguidas, antes projeta para o mundo das causas as suas alocuções filosóficas, facultando empreendimentos mais audaciosos e profundos, tendo em vista o investimento homem — esse objetivo essencial da sua obstinada busca transcendental.

Convertê-lo em resíduo seitista é desfigurá-lo danosamente, ceifando os elevados objetivos a que se propõe. Mantê-lo em círculo de mediunismo desregrado, significa desconsiderá-lo no aspecto superior das suas realizações: o da pesquisa científica, por cujos roteiros a ciência e a fé se unirão na romagem para a vida e para Deus.

É verdade que se alastram formas primitivas de mediunismo em toda parte, merecendo esta questão mais cuidadoso exame, para melhor serem debeladas as nefastas conseqüências de tal fenômeno. E, por essa razão, maior deve ser o nosso empenho na sadia divulgação dos postulados espíritas, lavrados no estudo sistemático e constante do contexto doutrinário, para que o medicamento com que pretendemos amenizar ou erradicar os males morais da sociedade hodierna, não venha a produzir maiores danos, como resultado da sua má dosagem e aplicação.

A princípio, o Cristianismo foi eficiente remédio aplicado sobre as feridas do Paganismo. A indiscriminada e irracional utilização da Doutrina do Cristo, deformada nos seus pontos básicos, sobre as chagas sociais da época, produziu cânceres mais virulentos do que aqueles que visava a combater e de cujos danos ainda sofrem as comunidades modernas...

Fenômeno consentâneo pode ocorrer nestes dias com o Espiritismo... Sem dúvida, a Doutrina é irreversível e sadia. Todavia, a Boa Nova também o é. . .

Dilatam-se as referências espíritas no organismo social do momento; multiplicam-se as Casas Espíritas; há adesões em massa ao Espiritismo; surgem os primeiros sintomas de cultos espíritas; aparecem fartas concessões ao Espiritismo. . . Respeitando e considerando todas as formas de divulgação, não nos podemos furtar à conclusão de que a quantidade tem recebido maior valorização do que a qualidade, que deve manter o caráter específico de pureza que não podemos subestimar.

O movimento espírita cresce e se propaga, mas a Doutrina Espírita permanece ignorada, quando não adulterada em muitos dos seus postulados, ressalvadas as excelentes e incontáveis exceções.

O que se possa lucrar pela quantidade pode redundar em prejuízo na qualidade.

No que diz respeito ao capítulo das obsessões, aventureiros inescrupulosos se intrometem, inspirados por mentes desencarnadas afeiçoadas à lavoura da perturbação, fazendo que promovam espetáculos lamentáveis, nos quais a mediunidade se transforma em chaga espiritual, por cuja purulência exsudam as misérias pretéritas...

Alardeiam perseguições, esses malfazejos diretores de trabalhos, e, em nome do esclarecimento, apavoram os neófitos, fazendo que, pelo medo e através do desconhecimento do Espiritismo, se vinculem aos seus desafetos desencarnados, mediante a fixação mental ou ao pavor que os dominam, após as incursões inconscientes em misteres de tal monta.

O Espiritismo é doutrina de otimismo, de educação integral, de higiene mental e moral. É o retorno do Cristo ao atormentado homem do século ciclópico da Tecnologia, através dos seus emissários, renovando a Terra e multiplicando a esperança e a paz nas mentes e nos corações que Lhe permaneçam fiéis.

Nos redutos em que o estudo da Doutrina Espírita é considerado desnecessário, afirma-se que êle se faz adversário da cultura e, a pretexto de auxílio aos que sofrem, atenta-se contra a ciência médica, principalmente, reduzindo-o a superstição danosa e inconseqüente.

Destinado aos infelizes, estes não são apenas os que sofrem as dificuldades econômicas e são conhecidos como constituintes das c1asses humildes. A dor não se limita a questões de circunstância, tempo e lugar. Dessa maneira, não prescreve a ignorância, mas proscreve-a.

lmpostergável, portanto, o compromisso que temos, todos nós, desencarnados e encarnados, de estudar e divulgar o Espiritismo nas bases nobres com que no-lo apresentou Allan Kardec, a fim de que o Consolador, de que se faz instrumento, não apenas enxugue em nós os suores e as lágrimas, mas faça estancar, nas fontes do sofrimento, as causas de todas as aflições que produzem as lágrimas e os suores.

Nesta aferição de valores, para o elevado mister da divulgação espírita, oremos e vigiemos, conforme a recomendação do Mestre, para que nos desincumbamos a contento do cometimento aceito, dando conta da nossa responsabilidade, com o espírito tranqüilo e a mente pacificada.

Vianna de Carvalho

(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão da noite de 4-11-1970, no Centro Espirita “Caminho da Redenção”, em Salvador, Bahia).

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A PRIMEIRA NOITE

“Morrer. Eis um caminho que todos temos de um dia trilhar. A morte ainda põe medo em todas as criaturas, porque são poucos os que se interessam em conhecê-la profundamente.

Grande parte dessa humanidade sofredora, vive distante da morte por acreditar que ela coloca fim a todos os seus sonhos. Pobres criaturas que somos.

Quando vivi na matéria, minhas ocupações não me permitiam que tivesse uma religiosidade mais desenvolvida. O tempo parecia iludir-me quanto à morte e à época da sua possível chegada. Eu jamais havia pensado em vê-la com a seriedade necessária, até que a doença chamou-me à realidade. Meus Deus.

Como foi difícil enfrentar os primeiros tempos da minha romaria pelos hospitais, os remédios, os exames. Tudo me dava esperança, mas como a enfermidade não tinha fim, suspeitei que me escondessem a verdade. Estava certo. Um dia, dormi para o mundo e despertei numa região vizinha ao hospital.

Notei que havia muito movimento em torno do meu corpo. Não sabia a razão, mas me encontrava separado dele. Mexiam com meus membros, limpavam-me, como a preparar-me para uma festa. Estranhei as roupas bonitas que me vestiram.

Ouvi que havia morrido, quando um dos meus tios balbuciou essas palavras próximo do meu corpo. Notei que algo inesperado viera visitar-me: era a morte.

Mas como "morte" se eu ali estava, vivo, pensando, enxergando, ouvindo. Como morto? Ei, não estou morto não. Que fazem com meu corpo? Quero-o de volta. Escuta-me. Não estou morto, não, não..... Júnior, chama-me uma voz atrás de mim. Viro-me e vejo um Senhor bem apessoado, vestido com terno cinza.

Acalma-te, disse-me. Quero explicar-te algumas coisas, que precisas saber. Bem, primeiro, não morrestes, conforme os conceitos do mundo. Estais vivo, mas não vivo como nos conceitos do mundo.

Como chamas? Perguntei-lhe. Ademar, irmão Ademar para você. Escuta, Senhor, dizes-me que não morri, depois, que não estou vivo. Que é isso? Queres distrair-me? Tirar minha atenção com meu corpo?

Não, disse-me irmão Ademar. Quero apenas mostrar-te que existem outros conceitos sobre vida e morte. E, é sobre isso que precisamos conversar. Acompanhe-me.

O sol parecia ter acabado de pôr-se, pois o entardecer ainda deixava marcas no céu. Em companhia do meu interlocutor, seguimos por algumas ruas em direção, dizia ele, a uma casa de ensinamentos espirituais. Ensinamentos espirituais? Perguntei-lhe. Sim, disse-me.

Acalma-te, pois estamos chegando. Toma teu lugar entre aqueles que se postaram á direita da pequena biblioteca. São irmãos que se encontram nas mesmas condições que tu. Ademar parecia-me agora um tanto diferente do que quando encontrou-me no hospital. Notei que as dores no meu coração ainda incomodavam-me, comprimindo o plexo. Agora, o amigo parecia vestir uma túnica alva, donde desprendia-se diáfana luminosidade. Postou-se à frente de imensa platéia e começou-nos a dizer: "Irmãos, recebamos nesse instante as bênçãos de Deus, o Altíssimo. Aqui estamos, testemunhos vivos de que a morte não existe. Imortais, eis a natureza do qual o Criador dotou seus filhos amados. A vida material nos é concedida como oportunidade para nosso crescimento intelectual e moral.

Detemo-nos na matéria por um longo período de tempo, até que, através das muitas encarnações, consigamos nos dotar de asas que nos levarão em vôos eternos pelo infinito.

Abençoemos, irmãos reunidos nessa casa de Jesus, a experiência encarnatória, as dores pelas quais somos levados a passar. Elas são produto de ações impensadas na campo do erro e dos desatinos. As dores consciências transformam-se em negativas energias que irradiam-se instintivamente para o mundo exterior da criatura, provocando profundas alterações nos delicados tecidos do corpo espiritual, perispírito, conforme o designou Allan Kardec, o codificador do Espiritismo. Eis a fonte de doenças graves, de enfermidades incuráveis que conduzem a dolorosos processos de purificação.

Estão reunidos nessa casa a título de esclarecimento, irmãos de variados níveis de entendimento e a eles voltamos nesse instante, nossas vibrações e amparo. Em especial queremos nos dirigir aos que são recém-chegados a essa dimensão da Vida. Em nome de Jesus, nosso Mestre e guia, damos-lhes as boas-vindas. Sois Espíritos imortais, como este momento testifica. E, como tais, dotados do Dom de compreender a Verdade. Agora, começa uma vida nova aos que chegam,. Vida de compreensão, de conscientização e de refazimento".

A casa onde nos encontrávamos também estava cheia de pessoas "vivas", interessadas em saber os segredos da morte. Foi uma noite inesquecível para mim. A primeira noite de um homem novo.

Hoje, encontro-me nessa sessão doutrinária de Espiritismo, a convite do irmão Ademar. Alegra-me poder estar em comunhão com esse lado mais denso da Vida, sim, digo Vida, pois ela é uma só. Agora compreendo uma sublime realidade: ninguém morre. Que sejamos abençoados por Deus”.

Espírito: Luiz Desidério Santos Junior
Grupo Espírita Bezerra de Menezes

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

CONHECE-TE A TI MESMO

“Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo de guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: “Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?”

“Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado.

“O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Mas, direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhosos julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na poderia ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de Sua justiça. Procurai também saber o que dela pensam os vossos semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a verdade e Deus muitas vezes os coloca ao vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo. Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas; dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.

“Formulai, pois, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e não temais multiplicá-las. Justo é que se gastem alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice? Não constitui esse repouso o objeto de todos os vossos desejos, o fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! Que é esse descanso de alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em comparação com o que espera o homem de bem? Não valerá este outro a pena de alguns esforços? Sei haver muitos que dizem ser positivo o presente e incerto o futuro. Ora, esta exatamente a idéia que estamos encarregados de eliminar do vosso íntimo, visto desejarmos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não restar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa atenção por meio de fenômenos capazes de ferir-vos os sentidos e que agora vos damos instruções, que cada um de vós se acha encarregado de espalhar. Com este objetivo é que ditamos O Livro dos Espíritos.”

SANTO AGOSTINHO.
Livro dos Espíritos pergunta 919


Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, efetivamente, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza e o móvel dos nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais preciso do que qualquer máxima, que muitas vezes deixamos de aplicar a nós mesmos. Aquela exige respostas categóricas, por um sim ou não, que não abrem lugar para qualquer alternativa e que são outros tantos argumentos pessoais. E, pela soma que derem as respostas, poderemos computar a soma de bem ou de mal que existe em nós

Santo Agostinho

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A NOVA GERAÇÃO

Para que os homens sejam felizes sobre a Terra, é necessário que ela não seja povoada senão por bons Espíritos, encarnados e desencarnados, que não quererão senão o bem. Tendo chegado esse tempo, uma grande emigração se cumprirá entre aqueles que a habitam; aqueles que fazem o mal pelo mal, e que o sentimento do bem não toca, não sendo mais dignos da Terra transformada, dela serão excluídos, porque lhe trariam de novo a perturbação e a confusão, e seriam um obstáculo ao progresso. Eles irão expiar o seu endurecimento, uns nos mundos inferiores, os outros entre as raças terrestres atrasadas, que serão o equivalente de mundos inferiores, onde levarão os seus conhecimentos adquiridos, e terão por missão fazê-las avançar. Serão substituídos por Espíritos melhores, que farão reinar, entre eles, a justiça, a paz, a fraternidade.
A Terra, no dizer dos Espíritos, não deve ser transformada por um cataclismo que aniquilaria subitamente uma geração. A geração atual desaparecerá gradualmente, e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que nada seja mudado na ordem natural das coisas.
Tudo se passará, pois, exteriormente como de hábito, com esta única diferença, mas esta diferença é capital, que uma parte dos Espíritos que nela se encarnam não se encarnarão nela mais. Em uma criança que nasça, em lugar de um Espírito atrasado e levado ao mal, que se encarnaria, esse será um Espírito mais avançado e levado ao bem.
Trata-se, pois, bem menos de uma geração corpórea do que de uma nova geração de Espíritos, e é nesse sentido, sem dúvida, que o entendia Jesus quando dizia: "Eu vos digo, em verdade, que esta geração não passará sem que esses fatos tenham se cumprido." Assim, aqueles que esperarem ver a transformação se operar por efeitos sobrenaturais e maravilhosos, serão decepcionados.

A época atual é de transição; os elementos das duas gerações se confundem.
Colocados no ponto intermediário, assistimos à partida de uma e à chegada da outra, e que cada uma se assinala já, no mundo, pelos caracteres que lhe são próprios.
As duas gerações que se sucedem têm ideias e vistas inteiramente opostas. À natureza das disposições morais, mas, sobretudo das disposições intuitivas e inatas, é fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo.
A nova geração, devendo fundar a era do progresso moral, se distingue por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, unidas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é o sinal indubitável de um certo grau de adiantamento anterior. Ela não será composta, pois, exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas daqueles que, tendo já progredido, estão predispostos a assimilar todas as ideias progressistas, e aptos a secundar o movimento regenerador.
O que distingue, ao contrário, os Espíritos atrasados é primeiro, a revolta contra Deus pela recusa de reconhecer algum poder superior à Humanidade; a propensão instintiva às paixões degradantes, aos sentimentos anti-fraternos do egoísmo, do orgulho, da inveja, do ciúme; enfim, o agarramento por tudo o que é material: a sensualidade, a cupidez, a avareza.
São esses vícios, dos quais a Terra deve ser purgada pelo afastamento daqueles que se recusam se emendar, porque são incompatíveis com o reino da fraternidade, e que os homens de bem sofrerão sempre por seu contato. Quando a Terra deles estiver livre, os homens caminharão sem entraves para um futuro melhor, que lhes está reservado neste mundo, por preço de seus esforços e de sua perseverança, esperando que uma depuração, ainda mais completa, lhes abra a entrada dos mundos superiores.

Por essa emigração dos Espíritos, não é necessário entender que todos os Espíritos retardatários serão expulsos da Terra, e relegados a mundos inferiores. Muitos, ao contrário, nele retornarão, porque muitos cederam ao arrastamento de circunstâncias e do exemplo; a aparência neles era pior do que o fundo. Uma vez subtraídos â influência da matéria e dos preconceitos do mundo corpóreo, a maioria verá as coisas de um modo muito diferente do que quando vivos, assim como temos disso numerosos exemplos.
Nisso, serão ajudados por Espíritos benevolentes que se interessam por eles, e que se apressam em esclarecê-los e mostrar-lhes o falso caminho que seguiram. Pelas nossas preces e nossas exortações, nós mesmos podemos contribuir para seu melhoramento, porque há solidariedade perpétua entre os mortos e os vivos.
A maneira pela qual se opera a transformação é muito simples, e, como se vê, ela é toda moral e em nada se desvia das leis da Natureza.

Que os Espíritos da nova geração sejam novos Espíritos melhores, ou os antigos Espíritos melhorados, o resultado é o mesmo; desde o instante que tragam melhores disposições, é sempre uma renovação. Os Espíritos encarnados formam, assim, duas categorias, segundo as disposições naturais: de uma parte, os Espíritos retardatários que partem, da outra os Espíritos progressistas que chegam. O estado dos costumes e da sociedade estará, pois, em um povo, em uma raça ou no mundo inteiro, em razão daquela das duas categorias que tiver a preponderância.

Uma comparação vulgar fará compreender melhor ainda o que se passa nesta circunstância. Suponhamos um regimento composto, em grande maioria, de homens turbulentos e indisciplinados: estes ali levarão sem cessar uma desordem que a severidade da lei penal terá frequentemente dificuldade para reprimir. Esses homens são os mais fortes, porque serão os mais numerosos; eles se sustentam, se encorajam e se estimulam pelo exemplo. Os que sejam bons são sem influência; seus conselhos são desprezados; são escarnecidos, maltratados pelos outros, e sofrem com esse contato.
Não está aí a imagem da sociedade atual?
Suponhamos que são retirados esses homens do regimento um por um, dez por dez, cem por cem, e que sejam substituídos na mesma medida por um número igual de bons soldados, mesmo por aqueles que foram expulsos, mas que se emendaram seriamente, ao cabo de algum tempo, ter-se-á sempre o mesmo regimento, mas transformado; a boa ordem ali terá sucedido à desordem. Assim o será com a Humanidade regenerada.

As grandes partidas coletivas não têm somente por objetivo ativar as saídas, mas transformar mais rapidamente o Espírito da massa, desembaraçando-a das más influências e dando mais ascendência às ideias novas.
É porque muitos, apesar de suas imperfeições, estão maduros para essa transformação, que muitos partem a fim de irem se retemperar numa fonte mais pura. Ao passo que se tivessem permanecido no mesmo meio e sob as mesmas influências, teriam persistido em suas opiniões e na sua maneira de ver as coisas. Uma permanência no mundo dos Espíritos basta para lhes abrir os olhos, porque ali veem o que não podiam ver sobre a Terra. O incrédulo, o fanático, o absolutista poderão, pois, retornar com ideias inatas de fé, tolerância e de liberdade. Em seu retorno, encontrarão as coisas mudadas, e suportarão o ascendente do novo meio onde terão nascido. Em lugar de fazer oposição às ideias novas, delas serão os auxiliares.

A regeneração da Humanidade não tem, pois, absolutamente necessidade da renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação nas suas disposições morais; esta modificação se opera em todos aqueles que a ela estão predispostos, quando são subtraídos à influência perniciosa do mundo. Aqueles que retornam, então, não são sempre outros Espíritos, mas, frequentemente, os mesmos Espíritos pensando e sentindo de outro modo.
Quando esse melhoramento é isolado e individual, passa despercebido, e sem influência ostensiva sobre o mundo.
O efeito é diferente quando se opera simultaneamente em grandes massas; porque, então, segundo as proporções, em uma geração, as ideias de um povo ou de uma raça podem ser profundamente modificadas.
É o que se nota quase sempre depois dos grandes abalos que dizimam as populações. Os flagelos destruidores não destroem senão o corpo, mas não atingem o Espírito; eles ativam o movimento de vai-e-vem entre o mundo corpóreo e o mundo espiritual, e por consequência um movimento progressivo dos Espíritos encarnados e desencarnados. É de notar-se que, em todas as épocas da história, as grandes crises sociais foram seguidas de uma era de progresso.

É um desses movimentos gerais que se opera neste momento, e que deve trazer o remanejamento da Humanidade. A multiplicidade das causas de destruição é um sinal característico dos tempos, porque elas devem apressar a eclosão de novo germes.
São folhas de outono que caem, e às quais sucederão novas folhas cheias de vida, porque a Humanidade tem suas estações, como os indivíduos têm suas idades. As folhas mortas da Humanidade caem levadas pelas rajadas e golpes de vento, mas para renascerem mais vivazes sob o mesmo sopro de vida, que não se extingue, mas se purifica.

Para um materialista, os flagelos destruidores são calamidades sem compensações, sem resultados úteis, uma vez que, segundo ele, aniquilam os seres sem retorno. Mas para aquele que sabe que a morte não destrói senão o envoltório, eles não têm as mesmas consequências, e não lhe causam o menor medo; compreende-lhe o objetivo, e sabe também que os homens não perdem mais morrendo em conjunto do que morrendo isoladamente, uma vez que, de uma forma ou de outra, é necessário sempre lá chegar.
Os incrédulos rirão dessas coisas, e as tratarão por quimeras; mas digam o que disserem, eles não escaparão à lei comum; cairão a seu turno, como os outros, e, então, o que será deles? Eles dizem: “Nada!” Mas viverão a despeito de si mesmos, e serão, um dia, forçados a abrir os olhos.
Se servir de compensação, no mundo inferior que espera os indiferentes e para onde já estão sendo levados, também haverá sexo, pirâmides, choro e ranger de dentes.
Que saibamos escolher, enquanto há tempo.
Afinal, não é por falta de esforço do Criador, do Cristo e dos Espíritos amigos que ainda existe tanta lágrima nos olhos e nos corações da humanidade. É por causa de suas escolhas erradas.
Assim, relembremos os ditos de Jesus,
"Misericórdia quero, não o sacrifício!"
Brilhe vossa Luz
Muita paz!

Lucius
Trecho do livro: Despedindo-se da Terra

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A BELEZA

E como os sentimentos dão o sentido da Beleza nos rincões da Eternidade, quanto mais os sentimentos se alcandorarem, quanto mais a Linha Divina da Beleza modificará o gráfico estético da personalidade, por emprestar-lhe tonalidades desconhecidas do olho humano, nuanças e imprevistos aurorais de quietudes espirituais, que somente os seres evolvidos da Criação podem surpreender com a luz de sua visão espiritual. Quando Fídias nos dava, pelo escopro1, nos tempos recuados da História, e, depois, Murilo, Ângelo, Da Vinci, um apanhado de linhas onde as curvas predominavam - e os gênios sempre se movimentaram no sentido das curvas -, e cuja harmonia nos falava de uma beleza pagã, religiosa ou profana, eles tinham somente sentido, na fronte atormentada pelos sonhos da Arte, o roçar da Inspiração poderosa da Espiritualidade que incendeia os espíritos - pintores, músicos e oradores -, e os arroja para latitudes que o homem animalizado nunca, jamais sentiu. Para compreender o mistério da Vida e das Coisas, é necessário amar as Coisas e adorar a Vida!

A Beleza, neste plano do Infinito carece de linhas, de cores e de expressão que firam a retina do artista e lhe digam à alma as harmonias surpreendentes das outras plagas da Morada Eterna. Mas esse conceito de Beleza é apenas concebimento humano ou do homem que se arrasta pela Crosta, ainda que esse entendimento estético seja reminiscência do que um dia ele pôde vislumbrar nos planos adjacentes da Terra. Mas, à medida que o Espírito se desmaterializa e ganha em iluminação interior, o conceito de Beleza se dilata, se expande, se avoluma e se desdobra para outras dimensões da consciência estética, e ele, então, senhor de novas possibilidades surpreende outras manifestações de beleza que a nossa pobre linguagem terrícola não tem recursos nem poderes descritivos para trazê-las à inteligência dos homens.

A Beleza, em latitudes diferentes, é função de espiritualidade e de sentimento. A Fealdade não é negação de Beleza. É, nas almas rudes e mansas, um desvio dos centros estéticos da vida, por obra humana e contingente, mercê de nosso atraso e dos nossos próprios erros. E a Beleza, para o homem, o é apenas porque o inestético lhe nasce ao lado. Mas o Feio é somente a fase inicial do Belo. A Beleza, para nós, aqui na Crosta, nasce do Feio, tanto quanto dos nossos erros na colaboração com o Infinito, na Terra. A Beleza é a evolução do Feio. O Feio evolvido é Beleza. A execução inexata de uma sinfonia de Beethoven, não quer dizer que o belo musical do grande torturado do volume em música não existe. O Feio, só o é como condição estética rudimentar ou embrionária à explosão do Belo. Demais, o Belo que concebemos é o Feio das esferas superiores da Espiritualidade; nossa Beleza embasa a Beleza do Infinito, ou, melhor me exprimindo, os gigantes da Espiritualidade horrorizar-se-iam daquilo a que chamamos Belo, se não fora o padrão espiritual de suas almas alcantiladas. No Feio, que é o Belo tentando a evolução em departamentos diferentes do Infinito, a observação do Artista sideral descobre, sem esforço, a linha divina da Beleza, como o naturalista contempla na lagarta repugnante a borboleta brilhante que um dia se queimará ao Sol criador da beleza natural do planeta que nos coube habitar por imperativo de nossas incidências no Erro e na Mentira.
O espírito não degenera, apenas estaciona. O Feio é o começo do Belo, em qualquer estância da Arte ou da Filosofia. E sendo o começo da Beleza, ele não existe na realidade. Nós o consideramos como negação da Beleza, porque não sabemos sentir e exprimir, por imaturidade biológica, o conceito exato da Beleza.

A Beleza pura é uma abstração tanto na Terra como em inúmeros planetas deste e de outros sistemas. Beleza é Amor. É Verdade. É Sabedoria. É Perfeição. Só entende o sentido imenso da Beleza quem haja chegado à Perfeição. Quem atingiu a Perfeição? Um Espírito bom, vestido na indumentária de um Quasímodo, não é feio, porque a Bondade não é feia. Afinal, para nós, que é a Beleza? Onde se situa? Exclusivamente na Forma. Mas a Forma não é a Substância. Efeito. Nada mais que efeito. E nesta ordem de raciocínios de teor espiritualista, o que é belo é a Substância. A Forma não tem vida própria. Se a Forma, por imposição de ordem existencial, em frente aos destinos das criaturas de Deus, não se exprime em harmonia com a Substância, não quer dizer que o Feio seja filho do Belo. Pelo contrário, o Belo é filho do Feio, porque o Feio é tentativa do Belo por plasmar-se, um dia, aqui ou alhures. Apenas o instrumento foi inapto e pobre para revelar o Belo que palpita no âmago dos seres e das coisas, Deus, sendo a Beleza mesma, porque a Perfeição, somente não se revela na divina opulência das suas linhas harmoniosas, porque o material humano ainda é de uma miséria espiritual tão grande, quão infinita é a grandeza de Deus. (Fernando do Ó - Apenas uma Sombra de Mulher).

Nota do compilador: 1 - escopro = instrumento de aço que serve para trabalhar o mármore, metais, madeira.

domingo, 21 de novembro de 2010

COMO AGIR CONTRA OS ATAQUES AO ESPIRITISMO?

Ligue sua televisão pela madrugada. Com o seu controle escolha aquele canal em que um líder religioso está entrevistando uma pessoa do povo. Você vai ouvir mais ou menos o seguinte diálogo:
“- Então a senhora se arrependeu de ter sido espírita?
- Sim, me arrependi. Foi um dos momentos de minha vida em que tudo dava errado e eu não sabia porque.
- E agora que a senhora está em nossa Igreja, como está sua vida?
- Agora, com Jesus no meu coração, tudo mudou. Consegui emprego, consegui comprar minha casa própria e sou uma pessoa muito mais feliz.
- Então o Espiritismo prejudicou a senhora?
- Prejudicou. Hoje eu vejo que o Espiritismo é coisa de demônio. Se pudesse diria para todos os espíritas conhecerem a nossa Igreja onde Jesus é o nosso Mestre e Senhor. Os espíritas precisam enxergar que o seu mestre é o demônio.”
Depois de ouvir tudo isso, nós espíritas ficamos a imaginar:
“Que desconhecimento em relação ao Espiritismo!”.

Um parêntese: Você se lembra, caro leitor, quando chutaram em um dos programas de televisão a imagem católica de Nossa Senhora Aparecida? Você se lembra da intensa e imensa reação dos católicos de todo o Brasil? Você se lembra dos insistentes noticiários da televisão e dos inflamados artigos de jornais e revistas sobre o assunto?
A reação de todos foi impressionante!
Há tempos não se via tamanha comoção em nosso país. O chute na imagem de Nossa Senhora era assunto nas escolas, nos bares, em todos os lugares.

Agora reflita comigo:
Você já imaginou que todos os dias determinados pastores chutam nossa Doutrina?

Por terem chutado uma única vez uma imagem, os católicos e toda a mídia brasileira prontamente reagiram.
E nós que estamos sendo chutados todos os dias, estamos reagindo?
Poderíamos pensar que existem duas alternativas para resolver essa crítica situação de ataque diário e persistente ao Espiritismo:

A primeira:
Culpar o pastor e procurar fazer com que o mesmo nos dê satisfação por publicamente desrespeitar de maneira infame e inculta a Doutrina que professamos.

A segunda:
Divulgar melhor nossa Doutrina.

Agirmos de acordo com a primeira alternativa geraria polêmica. E polêmica gera polêmica, que por sua vez gera polêmica...
Divulgar melhor nossa Doutrina é a solução.
Veja as palavras de Allan Kardec:
“Uma publicidade, numa larga escala, feita nos jornais mais divulgados, levaria ao mundo inteiro, e até aos lugares mais recuados, o conhecimento das idéias espíritas, faria nascer o desejo de aprofundá-los, e, multiplicando os adeptos, imporia silêncio aos detratores que logo deveriam ceder diante do ascendente da opinião”.

Vale a pena também ler as palavras de Vianna de Carvalho, espírito:
“Na hora da informática com os seus valiosos recursos, o espírita não se pode marginalizar, sob pretexto pueris, em que se disfarça a timidez, o desamor à causa ou a indiferença pela divulgação, porquanto o único antídoto à má Imprensa, na sua vária expressão, é a aplicação dos postulados espíritas, hoje ainda ignorados e confundidos com as superstições, crendices, sofrendo as velhas conotações infelizes com que o caluniaram no passado, aguardando ser despojado das mazelas que lhe atiraram os frívolos e os déspotas, os fanáticos e os de má fé, quanto os que se apoiavam nos interesses subalternos, inconfessáveis...
Hora de mentalidades abertas às informações de toda ordem, este é o nosso momento de programar tarefas, fomentar a divulgação por todos os meios, tornando-se cada companheiro honesto e dedicado, nova “carta-viva”, para a estruturação de um homem melhor, portanto, de uma sociedade mais justa, uma humanidade mais feliz”.

Complementa ainda Vianna de Carvalho “Como não é lícito fomentar debates ou gerar discussões improdutivas, cabem, frequentemente, sempre que possíveis, as honestas informações entre Doutrina Espírita e Doutrinas Espiritualistas, prática espírita e práticas mediúnicas, opiniões espíritas e opiniões medianímicas...”
Kardec e Vianna de Carvalho nos mostram que gerar polêmicas, criar discussões improdutivas a nada levam.
Procurar discutir no mesmo nível dos detratores é agir como eles estão agindo. É errar como eles estão errando.
Nossa tarefa é melhor divulgar a Doutrina e respeitar todas as religiões.
Uma eficiente e eficaz divulgação do Espiritismo, como disse Kardec: “imporia silêncio aos detratores que logo deveriam ceder diante do ascendente da opinião”.
Portanto, qual deve ser nossa postura ao divulgar nossa Doutrina?
Ao procurar divulgar nossa Doutrina, devemos fazê-la sem proselitismo, com ousadia e sensatez, tendo sempre em mente que nossa postura tem que ser a postura do conhecimento, da ética, da dignidade e da boa ação.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

UMA IMPORTANTE OPÇÃO

Emília pertencia a uma família de classe média, em um país europeu que sofria crises e carestias, depois de uma prolongada guerra nacional. Fome e epidemias ameaçavam a toda a população polonesa.
Emília, desde pequena, tinha uma saúde frágil, e não melhorava devido às condições em que vivia. Era ainda muito jovem quando se casou com um operário têxtil e se estabeleceram em uma cidadezinha nova, longe de familiares e conhecidos: Wadovice, a 30 km de Cracóvia.
Pouco tempo depois nasceu seu primeiro filho, Edmundo, um garoto belo, bom aluno, atleta e de personalidade forte. Chegaria a se formar em Medicina.
Alguns anos mais tarde, em 1915, Emília deu à luz uma menina, que só sobreviveu poucas semanas, por causa das más condições de vida a que a família estava submetida.
Catorze anos depois do nascimento de Edmundo, e quase dez da morte de sua segunda filha, Emília se encontrava em uma situação particularmente difícil.
Tinha cerca de 40 anos e sua saúde não havia melhorado: sofria severos problemas renais e seu sistema cardíaco se debilitava, pouco a pouco, devido a uma doença congênita.
Além disso, a situação política do seu país era cada vez mais crítica, pois havia sido muito afetado pela recém terminada Primeira Guerra Mundial.
Viviam com o indispensável e com a incerteza e o medo de que se instalasse uma nova guerra.
Justamente nessas terríveis circunstâncias, Emília percebeu que estava grávida novamente. Apesar de o acesso ao abortamento não ser fácil naquela época, e naquele país tão pobre, existia a opção e não faltou quem se oferecesse para praticá-lo.
Sua idade e sua saúde faziam da gestação um alto risco para sua vida. Além disso, sua difícil condição de vida lhe fazia perguntar-se: Que mundo posso oferecer a este pequeno? Uma vida miserável? Um povo em guerra?
Emília desconhecia que só lhe restavam dez anos de vida, por causa de seus problemas de saúde.
Tragicamente, também Edmundo, o único irmão do bebê que esperava, viveria só mais dois anos.
Alguns anos mais tarde, aconteceria a Segunda Guerra Mundial, e no ano de 1941, o pai da criança que estava por nascer também perderia a vida.
Contudo, entre as dificuldades que a assombravam e a vida que nela palpitava, Emília optou por dar à luz seu filho, a quem chamou de Karol. Ele foi o único sobrevivente da família.
Aos 21 anos, ficou na Terra sem os pais e sem os irmãos. Este menino se tornou um ancião. Por muitos anos, cada vez que visitava algum país e passava por suas ruas, milhões de gargantas exaltadas lhe gritavam: João Paulo Segundo, nós te amamos.
Com vários problemas de saúde, o Papa João Paulo Segundo confessou que somente se sustentava pela força da prece dos que oravam por ele.
*
Pense nisso! A jovem Emília podia ter decidido por não permitir o nascimento daquele terceiro filho.
Mas, que grande homem teria perdido o Mundo. Um homem que utilizou o seu prestígio para falar aos dirigentes das nações sobre as doenças da sociedade e que, esperançoso, afirmava que havia razões para confiar, para esperar, para lutar, para construir.
Pense nisso e jamais diga não à vida. Não importam as situações adversas, nem as nuvens borrascosas que teimam em se apresentar.
Se um Espírito lhe bater à porta do coração, pedindo acolhida num minúsculo corpo de carne, receba-o.
Ele poderá vir para mudar a face do Mundo. Ele poderá vir, simplesmente, para enrolar seus braços em seu pescoço e sussurrar aos seus ouvidos: Eu te amo, mamãe!

Redação do Momento Espírita.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

TESE REENCARNACIONISTA

Ele poderia ser um pré-adolescente comum se já não estivesse prestes a cursar um doutorado em Matemática em Oxford. É um norte-americano de 13 anos de idade e sua precocidade surpreende. Aos 14 meses Gregoryy Robert Smith resolvia problemas simples da sua matéria preferida, aos 10 anos começava a graduação pela Randolph-Macon College, em Washington. É presidente de uma Fundação, a Youth Advocates, dedicada à defesa de jovens carentes; já esteve com Bill Clinton, Michail Gorbachev e a Rainha Noor, da Jordânia, discutindo o futuro da Humanidade; e foi indicado para o Nobel da Paz de 2002.

Gregory tem Q.I. muito acima de 200 e pertence a uma classe de superdotados que representam apenas 0,1% da população mundial. Da estirpe dele, lembramos Amadeus Mozart, que tocava piano aos 2 anos, falava três idiomas (alemão, francês e latim) aos 3 anos, tocava violino aos 4, compunha minuetos aos 5 anos e escreveu sua primeira ópera aos 14. John Stuart Mill aprendeu o alfabeto grego aos 3 anos de idade. Dante Alighieri dedicou aos 9 anos um soneto a Beatriz. Goethe sabia escrever em diversas línguas antes da idade de 10 anos. Victor Hugo, o gênio maior da França, escreveu Irtamente com 15 anos de idade. Pascal, aos 2 anos, sem livros e sem mestres, demonstrou em Geometria até a 32a proposição de Euclides; aos 16 anos, escreveu um tratado de "seções cônicas" e logo adiante escreveu obras de Física e de Matemática. Miguel Ângelo, com a idade de 8 anos, foi dispensado pelo seu professor de escultura porque este já nada mais tinha a ensinar-lhe. Allan Kardec, examinando a questão, perguntou aos Benfeitores como entender este fenômeno e estes responderam: "lembranças do passado; progresso anterior da alma (...)1

Gregory começou a falar com apenas 2 meses de idade. Quando completou 1 ano, já resolvia problemas de álgebra e memorizava o conteúdo de livros volumosos - tinha na cabeça a coleção inteira de Júlio Verne. Aos 5, terminou o colegial e era capaz de dissecar tudo sobre a Terra, de sua pré-história aos dias atuais. Virou estrela: capa do The Times Magazine, manchete do New York Times e do Washington Post. Foi sabatinado por David Letterman e Oprah Winfrey, anfitriões de dois dos programas de maior audiência nos Estados unidos. "nunca vi um caso como esse em 40 anos de profissão", disse, recentemente à ABC News, Linda Silverman, diretora do Centro de Desenvolvimento de Superdotados, de Denver, no Colorado. O próximo alvo acadêmico de Greg é o doutorado em Matemática, Biomedicina, Engenharia Espacial e Ciência Política. Para o futuro, duas pretensões: primeiro, fazer fazer carreira na diplomacia internacional e, depois, sentar na cadeira que hoje é de George W. Bush. "Na presidência, poderei trabalhar muito pelo meu país e pelos pobres de todo o mundo", ele antecipa.

"Nos testes de inteligência, os gênios precoces costumam estar anos à frente dos colegas de classe", diz Zélia Ramozzi Chiarottino, 46 anos, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Ela aponta o adolescente Fábio Dias Moreira como exemplo. Aos 14 anos, ele conquistou 11 medalhas de ouro em olimpíadas de Matemática, quatro delas em disputas internacionais. Aluno da segunda série do curso médio do Colégio PH, da Tijuca, Zona Norte do Rio, o filho temporão prefere estudar a ir a festas com colegas e não gosta de esportes. Sob nenhuma hipótese troca os livros de Matemática por uma pelada com os colegas, mas ganhou a simpatia da turma, de quem tira todas as dúvidas de matemática.

Casos de crianças precoces sempre despertam a atenção. A Academia de Ciência não possui uma explicação consistente sobre o tema, atribui a uma "miraculosa" predisposição biogenética potencializada por estímulos de ordem externa. Outra enorme dificuldade encontrada na Academia é a não concordância na definição do termo "superdotação". Alguns pesquisadores distinguem superdotado de talentoso, sendo o primeiro considerado como aquele indivíduo de alta capacidade intelectual, ou acadêmica, e o segundo como possuindo habilidades superiores nas áreas das artes, música, teatro. O debate sobre o que é realmente a inteligência nunca foi tão promissor como atualmente. Muitas teorias têm ampliado o conceito de inteligência, fugindo ao esquema ultrapassado de medição dela pelo Quociente intelectual, o Q.I, mediante aplicação do teste de Binet.

Gênios como Gregory teriam Q.I, acima de 200, mas o que esse número responderia sobre a origem desta "anormalidade"? Se há consenso entre especialistas sobre a maneira de tratar os superdotados, há divergências em relação aos testes de inteligência. Um polêmico estudo publicado no final da década de 1980 pelo cientista político James Flynn, da Nova Zelândia, revelou que o Quociente de Inteligência (Q.I.) medido nos testes de avaliação aumentou 25 pontos em uma geração. A dúvida é se os jovens de hoje seriam mais inteligentes que seus pais ou se os métodos de avaliação da inteligência precisam ser repensados.

Segundo a Dra. Barbara Clark, da universidade da Califórnia, EUA, dois indivíduos com aproximadamente a mesma capacidade genética para desenvolver inteligência podem ser considerados potencialmente superdotados ou retardados educáveis, dependendo do ambiente em que interagem; para compreender como alguns indivíduos se tornam superdotados e outros não, precisamos familiarizar-nos com a estrutura básica e a função do cérebro humano. Ao nascer, declara Clark, o cérebro humano tem cerca de 100 a 200 bilhões de células. Cada célula tem seu lugar e está pronta para ser desenvolvida e para ser usada e realizar os mais altos níveis do potencial humano. "Apesar de não desenvolvermos mais as células neurais, isso não se faz necessário porque as temos; se usadas, permitiriam que processássemos vários trilhões de informações durante nossas vidas. Usamos estimadamente menos de 5% dessa capacidade. A maneira como usamos esse sistema complexo é crucial para o desenvolvimento da inteligência e personalidade, e da própria qualidade de vida que experimentamos enquanto crescemos."

Para alguns pesquisadores, os genes são os agentes fisiológicos e da conduta; o fenótipo2 é o resultado da interação do meio com o genótipo. Destarte, os genes determinam os limites das capacidades ou potenciais do organismo, de qualquer aprendizagem, e deve ocorrer, necessariamente, dentro dos limites dados pelos genótipos, que sofrerão influência do meio, o qual dará a expressão final das características.

Howard Gardner, professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, afiança que não existe inteligência absoluta. Gardner mapeou várias formas de inteligência e para demonstrar a multivariedade de expressão intelectual desenvolveu a Teoria das Inteligências Múltiplas, que permite compreender a manifestação da inteligência humana pelas capacidades verbal-lingüística, lógico-matemática, visual espacial, rítmica musical, corporal sinestésica, interpessoal, intrapessoal e naturalista dos indivíduos. Outro professor da Universidade de Harvard, Robert Coles, defende a teoria da existência Moral, isto é, a capacidade de refletir sobre o certo e o errado.

O grande embaraço dessas teses é desconsiderar o fato de a inteligência ser atributo ou conquista do próprio indivíduo, resultante da soma de conhecimentos e vivências de existências anteriores. Nesse sentido, admitindo-se a reencarnação, as idéias inatas são apenas lembranças espontâneas do patrimônio cultural do ser, em diferentes esferas de expressão, alguns em estado mais latente como nas crianças-prodígio. Desse modo, ficaria bem mais fácil compreender toda essa complexidade da mente humana.

Só a pluralidade das existências pode explicar a diversidade dos caracteres, a variedade das aptidões, a desproporção das qualidades morais, enfim, todas as desigualdades que alcançam a nossa vista. Fora dessa lei, indagar-se-ia inutilmente por que certos homens possuem talento, sentimentos nobres, aspirações elevadas, enquanto muitos outros só tiveram em partilha tolices, paixões e instintos grosseiros.

A influência do meio, a hereditariedade, as diferenças de educação não bastam, obviamente, para explicar esses fenômenos. Vemos os membros de uma mesma família, semelhantes pela carne e pelo sangue, pelo histórico genético e educados nos mesmos princípios, diferençarem-se em muitos pontos.

Mais recentemente, o Doutor Richard Wolman, também de Harvard, incorporou às demais teorias em voga o conceito de Inteligência Espiritual, que seria a capacidade humana de fazer perguntas fundamentais sobre o significado da vida e de experimentar simultaneamente a conexão perfeita entre cada um de nós e o mundo em que vivemos. Não é exatamente o que define a Doutrina Espírita, mas já é um avanço no entendimento integral do indivíduo.

Os fatos nos lançam, inevitavelmente, no rumo da tese reencarnacionista.

Nos últimos anos, com o desenvolvimento e o reconhecimento crítico do papel da Ciência como expressão cultural de uma época, particularmente como conjunto de teorias e sistemas conceituais coerentes com uma determinada visão de mundo, o homem tem-se lançado ao estudo de si mesmo com maior maturidade e maior equilíbrio quanto ao papel dos modelos e mapas teóricos e científicos sobre a realidade, sempre relativos. Em especial, a partir do movimento da contra-cultura dos anos sessenta, a visão de mundo acadêmica e tradicional, moldada nos rígidos parâmetros do Positivismo, teve de tornar-se mais flexível ante novos questionamentos e abrir-se, pelo menos em parte, a idéias e pesquisas que, a rigor, não são, ou melhor, não eram bem aceitas pelo paradigma cartesiano de nossa ciência tecnicista, apoiada e financiada por uma sociedade industrialista e mecanicista e, portanto, ligada a uma visão de mundo igualmente mecanicista.

Se nascem gênios, por que também nascem crianças com sérios distúrbios congênitos como hidrocefalia, síndrome de Down, esquizofrenia, cardiopatias graves, autismos? Na reencarnação vemos a Justiça Divina corrigindo os tiranos, os suicidas, os homicidas, os viciados e libertinos de vidas passadas. (grifo do compilador)

No século XIX, numerosos pensadores reuniram-se à reencarnação: Dupont de Nemours, Charles Bonnet, Lessing, Constant Savy, Pierre Leroux, Fourier, Jean Reynaud. A doutrina das vidas sucessivas foi vulgarizada para o grande público por autores como Balzac, Théophile Gautier, George Sand e Victor Hugo. Pesquisadores como Ian Stevenson, Brian L. Weiss, H. N. Banerjee, Raymond A. Moody Jr., Edite Fiore e outros trouxeram resultados notáveis sobre a tese reencarnacionista. É possível que num futuro não muito longínquo os estudos nesta direção chegarão aos mesmos resultados já afirmados pelo Espiritismo, porém, de todo o vasto leque de tentativas de se estudar superdotados sem considerar a existência do Espírito, a maior parte tem esbarrado em resultados ou em dificuldades em que se faz necessário considerar esta hipótese, sem a qual se entra num beco sem saída...

Jorge Hessen - Reformador - FEB - janeiro 2005

1) Livro dos Espíritos, questão 219;
2) Fenótipo= Conjunto dos caracteres que se manifestam visivelmente em um indivíduo e que exprimem as reações do seu genótipo (isto é, de seu patrimônio hereditário), diante das circunstâncias particulares de seu desenvolvimento e em face de seu meio.

domingo, 14 de novembro de 2010

A COLABORAÇÃO DOS ESPÍRITOS

Não se pode separar o conceito doutrinário do todo para uma das partes: ele vale, no caso do Espiritismo, para seu tríplice aspecto e, como Doutrina dos Espíritos, não há que duvidar que a unanimidade das informações que trazem até nós, em qualquer parte do mundo, é que fundamenta seus princípios e neles incluídos os religiosos.

A Codificação é única e fundamenta-se nas obras de Kardec. Qualquer inovação que não seja coerente com seus postulados e que se restrinjam a grupos, não representa o Espiritismo. Não se admitem diversificações como Espiritismo-cristão (o roustaingismo), Espiritismo Ciência, Espiritismo de Mesa, Alto Espiritismo – principalmente estes últimos, por serem aberrações – e que mais, com introdução de obras inovadoras que modifiquem seus conceitos ou que introduzam novas ideias que não tenham o amparo no fenômeno, na sua comprovação ou na razão.

Só há um e único Espiritismo, o codificado por Allan Kardec.

Também não é válido diversificar as partes do tríplice aspecto, moldando aquela que não agrade porque Doutrina é um todo sem mutilações. Até mesmo as presente s considerações estão sujeitas ao mesmo crivo.

Nenhuma corrente doutrinária anterior a Kardec pode ser tida como sua predecessora: o Espiritismo nasceu com Kardec e, pelo fato de ser mediunista, nenhuma outra similar poderá ser considerada espírita; este neologismo nasceu para definir apenas o que advém da análise do mestre lionês atualizado pelos novos conhecimentos que o homem adquira, sempre coerente com sua base e nunca diversificado dela. Portanto, não existe Espiritismo antes de Allan Kardec.

O fundamento doutrinário do Espiritismo, sem dúvida está inserto no primeiro livro escrito pelo codificador, que é O Livro dos Espíritos (LE), um acervo geral que mostra, a partir de Deus e da Criação, todo o aspecto filosófico-religioso dos ensinamentos dos Espíritos.

Segue-se a ele O Livro dos Médiuns (LM) que contém os principais tópicos da fenomenologia e esgota o assunto com grande profundidade de conhecimento; é, assim, o segundo mais importante livro da codificação porque nos dá o conhecimento do processo de intercomunicação com o Além. Como tal, é, sem dúvida, o tratado científico da fenomenologia dita paranormal.

Contudo, o livro onde Kardec conceitua a doutrina dos espíritos é o mais ignorado por todos porque estabelece fundamentos que contrariam muita tendência religiosa existente. É ele O Que é o Espiritismo, onde define, sem contestações, o que vem a ser a obra por ele codificada, exemplificando sua explanação e estabelecendo seus princípios.

Reponde a uma série de indagações; nele, Kardec confirma a existência da parte religiosa, afirmando categoricamente, em diálogo com um padre, que a Codificação possui todos os fundamentos religiosos essenciais para substituir qualquer outra religião, como será dito adiante. E é, segundo o próprio Kardec, a principal obra dele, neste campo.

O quarto livro, sem ser considerado básico, O Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE), estuda um pouco da filosofia do Novo Testamento, mostrando a beleza dos ensinamentos de Jesus, chamando a atenção para algumas sérias contradições de prováveis interpolações havidas no interesse à manipulação dos que pregavam um Cristianismo conveniente a eles. É polêmico e diverge dos que aceitam a Bíblia na íntegra, sem qualquer análise. Este livro encerra, apenas parte da moral espírita, mas era por demais importante à época porque toda sociedade europeia estava enraizada nos fundamentos ditos cristãos e repudiaria qualquer outra ideia que não se estribasse nesses princípios. Além disso, nos fala do Cristo, nosso guia, a quem seguimos.

Contudo, até hoje, muitos adeptos ou possíveis seguidores do Espiritismo não conseguiram se libertar dos liames eclesiásticos e ainda mantêm a idéia do perjúrio e do pecado contra Deus o fato de divergir das Escrituras Sagradas. É o desconhecimento doutrinário.

Ainda, numa abordagem religiosa, vamos encontrar o quinto livro, O Céu e o Inferno, falando a respeito da Justiça de Deus sem as contrastantes conotações da Teodicéia e, apesar disso, é a obra menos conhecida pelos ardorosos adeptos da parte religiosa do Espiritismo, até mesmo nos que tentam transformar a Codificação em mais uma seita cristã, senão, estes tomariam uma outra posição, antagônica ao seu evangelhismo canônico.

Complementando a série de livros tem-se A Gênese, por demais polêmico e Obras Póstumas, como o próprio nome indica, publicada após o desencarne do seu autor.

Não para aí, contudo, o trabalho da Codificação. Kardec reformulou alguns pontos, ampliou outros através de uma série de artigos editados em vários periódicos, destacando -se a Revue Spirite que ele próprio geriu. E desses artigos, vários foram os livros editados, juntando assuntos, como é o caso do Desobsessão, impresso pela Federação Espírita da Bélgica.

É preciso que se conheça toda essa matéria para que se possa ter uma ideia do que seja a Codificação.

Assim nasceu o Espiritismo hoje acrescido de um sem número de depoimentos dos mais diversos observadores, alguns, até, inteiramente insuspeitos porque não eram seguidores de Kardec nem desejavam sê-lo. Só que nenhum deles conseguiu implantar novos princípios, até mesmo cientificamente, capaz de interferir nas bases doutrinárias; e note -se que, ao tempo de Kardec, segunda metade do século XIX, os ditos conhecimentos científicos eram parcos em relação ao que hoje se sabe; ainda se tinha a molécula como indivisível.

A comprovação dos fatos, a verdade de suas teses, o rigor da análise e uma fenomenologia que resiste às pesquisas até de fraudadores, formam o pedestal onde assentam os ensinamentos dos Espíritos e é nisso que reside a confiança de suas mensagens.

O mistificador por si só se trai e torna -se fácil bani-lo do meio.

Muita coisa já existia, quando Léon Hyppolite Denizard Rivail, o grande educador, discípulo emérito de Pestalozzi, foi convocado à sua missão na Terra. Ele era professor de renome, mestre em metodologia e autor da primeira gramática da língua sob forma didática, para sua aprendizagem. Não podia supor que acabasse se envolvendo com aqueles fenômenos de mesinhas girantes que possuíam personalidade, inteligência e capacidade informativa.

A pureza d’alma e a honestidade foram os predicados que levaram este mestre que adotou o pseudônimo de Allan Kardec a aceitar as comunicações mediúnicas e as determinações dos mentores espirituais atribuindo-lhe a função codificadora. A literatura a esse respeito é vasta.

Na época de Kardec, na Europa, imperava a Igreja, que ditava os princípios religiosos, do que, a sociedade não podia afastar. A Santa Inquisição deixara marcas indeléveis e não se podia fugir a seus princípios sem escandalizar a sociedade. A imagem de Jesus crucificado representava o Senhor na Terra, dogma que não podia ser contestado. E, apesar da liberté, egalité et fraternité, ainda, na França imperava ou crê ou morre, se não na fogueira, pela condenação social. Assim mesmo, este país é tido como o mais liberal entre os demais.

Jesus era Deus na Terra e seus signatários de alguns países europeus pregavam sua doutrina à moda de seus interesses, manipulando a lei de Deus de forma que fossem os grandes detentores das pseudodeterminações emanadas do Criador. Eram senhores absolutos da fé e da crença; mandavam no Céu e determinavam na Terra e o condenado não alçaria aos páramos celestes. E todos criam; e todos temiam. O medo ao desconhecido ajudava a impor esse regime.

Pobre Jesus, que veio ensinar o bem, o amor e a misericórdia, transformado em aval ao despotismo.

Tornava-se preciso que surgisse algo sem ferir tais preceitos, que fosse capaz de abalar a sociedade, chamando sua atenção para a verdade das coisas o que talvez tenha levado Kardec a acomodar certos pontos doutrinários.

O ranço do falso cristianismo imposto pelas castas dominantes que acabaram se transformando em religiosas, legando-nos o que hoje existe, foi tão prepotente que impôs à razão os seus preceitos e que imperam até então. As palavras de Jesus foram modificadas, em parte, pela conveniência, outras foram devidamente supressas e algumas que mais acrescentadas para que o Cristianismo pudesse representar os interesses das castas dominantes e que acabaram se tornando as senhoras poderosas da religião.

A Igreja de Pedro, inicialmente condenada às catacumbas, tendo seus adeptos perseguidos pelos poderosos, foi assimilada por Constantino, o grande, de Naissus (306), imperador romano que a adaptou às necessidades do império, em vez de transformar seu poder público pelas benesses dos ensinos legados pelo Mestre da Galiléia.

Enfim, a deturpação tomando conta da ideia, daí a necessidade do Consolador Prometido, para reconstituir a verdadeira doutrina do Cristo e essa reconstrução veio através das mensagens mediúnicas e dos ensinamentos através delas trazidos pelos grandes mentores.

E esses Espíritos Superiores falam de Jesus como luminar e como mensageiro do Alto para ensinar o amor às criaturas, como mentor em quem se inspiram e a quem servem como discípulos na Espiritualidade. Esse, porém, é o lado filosófico da nossa existência.

É o que muitos chamam de “Cristianismo redivivo”.

A confusão religiosa não tem limites: várias são as correntes de pensadores dentro de um mesmo grupo ou linha de pensamento e cada qual, julgando -se infalível, tenta impor sua “verdade” como absoluta, do que não escapa o meio espírita. Dentro dele vamos encontrar os que combatem a parte científica, alegando que a era da fenomenologia espírita já passou; esquecem-se de que os fenômenos existem, existiam e existirão por toda a eternidade da nossa vida, independentemente da sua natureza e os paranormais não fazem exceção.

Além disso, o progresso caminha a passos largos e as descobertas no campo espirítico nos são deveras favoráveis, ampliando os conhecimentos e, cada vez mais, comprovando os estudos do mestre lionês.

Outros são radicais e querem banir a parte religiosa do Espiritismo, alegando (ou confundindo) que religião seja uma seita com dogmas, rituais, cultos, sacerdotes, infalibilidades, enfim, tudo aquilo que Kardec provou que não tem fundamento nem necessidade para se compreender Deus, não pelo lado filosófico da vida, mas por sua Criação e interligá-Lo a ela, o que nem a ciência nem a filosofia o fazem.

Portanto, a religião é, sem dúvida uma parte integrante do tríplice aspecto do Espiritismo e é este o campo que será desenvolvido no presente trabalho, mostrando sua facetas na tentativa de banir as incoerências, e purificar os conceitos pelo conhecimento da Verdade.

Eis, pois, o motivo pelo qual a parte religiosa do Espiritismo existe sem dogmas, sem mentores absolutos, sem infalibilidades, residindo na coerência das informações e na sua universalidade. Não é uma religião estruturada, senão, uma parte correlata com o estudo relativo ao Criador, sua obra e seus fundamentos.

Essa parte religiosa do Espiritismo não é o evangelhismo que muitos tentam impor, nem tampouco tem fundamento nesse Cristianismo como é infligido por herança dos imperadores através das Igrejas tradicionalistas ou mesmo, as transformadas que insistam em se manterem no mesmo pedestal estabelecido pelos antigos Poderes constituídos em Estados. Não parte da premissa de que Cristo seja Deus nem que Jesus seja o filho de Deus na Terra, formando com um Espírito Santo uma santíssima trindade na qual uma só pessoa é verdadeira, ferindo todos os princípios matemáticos existentes.

Contudo, o que advém dos ensinamentos evangélicos, verdadeiramente cristãos, está contido no livro de Kardec, com toda sua pureza, com toda sua beleza, expressando uma filosofia de vida, como já foi dito, mas que só fala em parte nos preceitos religiosos por nós adotados.

Esta é a contribuição dos Espíritos; cabe agora, a nós, que também somos espíritos só que encarnados, dar prosseguimento à nossa parte porque nós, encarnados, é que somos os grandes responsáveis pelos acontecimentos terrenos e, como tal, pelo conhecimento doutrinário.

E é bom lembrar que o processo encarnatório é uma necessidade: para uns como resgate de seus erros, para outros, missão; de uma forma ou de outra, cada qual dá sua contribuição à formação social do mundo e é responsável pelo seu progresso.

É preciso que se pense nisso antes de achar que, sendo a Doutrina dos Espíritos, só eles sejam os responsáveis pelo seu progresso e capazes de ditar seus preceitos.

A verdade será sempre a verdade.


Carlos Imbassahy E... Deus Existe?