terça-feira, 23 de novembro de 2010

A BELEZA

E como os sentimentos dão o sentido da Beleza nos rincões da Eternidade, quanto mais os sentimentos se alcandorarem, quanto mais a Linha Divina da Beleza modificará o gráfico estético da personalidade, por emprestar-lhe tonalidades desconhecidas do olho humano, nuanças e imprevistos aurorais de quietudes espirituais, que somente os seres evolvidos da Criação podem surpreender com a luz de sua visão espiritual. Quando Fídias nos dava, pelo escopro1, nos tempos recuados da História, e, depois, Murilo, Ângelo, Da Vinci, um apanhado de linhas onde as curvas predominavam - e os gênios sempre se movimentaram no sentido das curvas -, e cuja harmonia nos falava de uma beleza pagã, religiosa ou profana, eles tinham somente sentido, na fronte atormentada pelos sonhos da Arte, o roçar da Inspiração poderosa da Espiritualidade que incendeia os espíritos - pintores, músicos e oradores -, e os arroja para latitudes que o homem animalizado nunca, jamais sentiu. Para compreender o mistério da Vida e das Coisas, é necessário amar as Coisas e adorar a Vida!

A Beleza, neste plano do Infinito carece de linhas, de cores e de expressão que firam a retina do artista e lhe digam à alma as harmonias surpreendentes das outras plagas da Morada Eterna. Mas esse conceito de Beleza é apenas concebimento humano ou do homem que se arrasta pela Crosta, ainda que esse entendimento estético seja reminiscência do que um dia ele pôde vislumbrar nos planos adjacentes da Terra. Mas, à medida que o Espírito se desmaterializa e ganha em iluminação interior, o conceito de Beleza se dilata, se expande, se avoluma e se desdobra para outras dimensões da consciência estética, e ele, então, senhor de novas possibilidades surpreende outras manifestações de beleza que a nossa pobre linguagem terrícola não tem recursos nem poderes descritivos para trazê-las à inteligência dos homens.

A Beleza, em latitudes diferentes, é função de espiritualidade e de sentimento. A Fealdade não é negação de Beleza. É, nas almas rudes e mansas, um desvio dos centros estéticos da vida, por obra humana e contingente, mercê de nosso atraso e dos nossos próprios erros. E a Beleza, para o homem, o é apenas porque o inestético lhe nasce ao lado. Mas o Feio é somente a fase inicial do Belo. A Beleza, para nós, aqui na Crosta, nasce do Feio, tanto quanto dos nossos erros na colaboração com o Infinito, na Terra. A Beleza é a evolução do Feio. O Feio evolvido é Beleza. A execução inexata de uma sinfonia de Beethoven, não quer dizer que o belo musical do grande torturado do volume em música não existe. O Feio, só o é como condição estética rudimentar ou embrionária à explosão do Belo. Demais, o Belo que concebemos é o Feio das esferas superiores da Espiritualidade; nossa Beleza embasa a Beleza do Infinito, ou, melhor me exprimindo, os gigantes da Espiritualidade horrorizar-se-iam daquilo a que chamamos Belo, se não fora o padrão espiritual de suas almas alcantiladas. No Feio, que é o Belo tentando a evolução em departamentos diferentes do Infinito, a observação do Artista sideral descobre, sem esforço, a linha divina da Beleza, como o naturalista contempla na lagarta repugnante a borboleta brilhante que um dia se queimará ao Sol criador da beleza natural do planeta que nos coube habitar por imperativo de nossas incidências no Erro e na Mentira.
O espírito não degenera, apenas estaciona. O Feio é o começo do Belo, em qualquer estância da Arte ou da Filosofia. E sendo o começo da Beleza, ele não existe na realidade. Nós o consideramos como negação da Beleza, porque não sabemos sentir e exprimir, por imaturidade biológica, o conceito exato da Beleza.

A Beleza pura é uma abstração tanto na Terra como em inúmeros planetas deste e de outros sistemas. Beleza é Amor. É Verdade. É Sabedoria. É Perfeição. Só entende o sentido imenso da Beleza quem haja chegado à Perfeição. Quem atingiu a Perfeição? Um Espírito bom, vestido na indumentária de um Quasímodo, não é feio, porque a Bondade não é feia. Afinal, para nós, que é a Beleza? Onde se situa? Exclusivamente na Forma. Mas a Forma não é a Substância. Efeito. Nada mais que efeito. E nesta ordem de raciocínios de teor espiritualista, o que é belo é a Substância. A Forma não tem vida própria. Se a Forma, por imposição de ordem existencial, em frente aos destinos das criaturas de Deus, não se exprime em harmonia com a Substância, não quer dizer que o Feio seja filho do Belo. Pelo contrário, o Belo é filho do Feio, porque o Feio é tentativa do Belo por plasmar-se, um dia, aqui ou alhures. Apenas o instrumento foi inapto e pobre para revelar o Belo que palpita no âmago dos seres e das coisas, Deus, sendo a Beleza mesma, porque a Perfeição, somente não se revela na divina opulência das suas linhas harmoniosas, porque o material humano ainda é de uma miséria espiritual tão grande, quão infinita é a grandeza de Deus. (Fernando do Ó - Apenas uma Sombra de Mulher).

Nota do compilador: 1 - escopro = instrumento de aço que serve para trabalhar o mármore, metais, madeira.

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