“Morrer. Eis um caminho que todos temos de um dia trilhar. A morte ainda põe medo em todas as criaturas, porque são poucos os que se interessam em conhecê-la profundamente.
Grande parte dessa humanidade sofredora, vive distante da morte por acreditar que ela coloca fim a todos os seus sonhos. Pobres criaturas que somos.
Quando vivi na matéria, minhas ocupações não me permitiam que tivesse uma religiosidade mais desenvolvida. O tempo parecia iludir-me quanto à morte e à época da sua possível chegada. Eu jamais havia pensado em vê-la com a seriedade necessária, até que a doença chamou-me à realidade. Meus Deus.
Como foi difícil enfrentar os primeiros tempos da minha romaria pelos hospitais, os remédios, os exames. Tudo me dava esperança, mas como a enfermidade não tinha fim, suspeitei que me escondessem a verdade. Estava certo. Um dia, dormi para o mundo e despertei numa região vizinha ao hospital.
Notei que havia muito movimento em torno do meu corpo. Não sabia a razão, mas me encontrava separado dele. Mexiam com meus membros, limpavam-me, como a preparar-me para uma festa. Estranhei as roupas bonitas que me vestiram.
Ouvi que havia morrido, quando um dos meus tios balbuciou essas palavras próximo do meu corpo. Notei que algo inesperado viera visitar-me: era a morte.
Mas como "morte" se eu ali estava, vivo, pensando, enxergando, ouvindo. Como morto? Ei, não estou morto não. Que fazem com meu corpo? Quero-o de volta. Escuta-me. Não estou morto, não, não..... Júnior, chama-me uma voz atrás de mim. Viro-me e vejo um Senhor bem apessoado, vestido com terno cinza.
Acalma-te, disse-me. Quero explicar-te algumas coisas, que precisas saber. Bem, primeiro, não morrestes, conforme os conceitos do mundo. Estais vivo, mas não vivo como nos conceitos do mundo.
Como chamas? Perguntei-lhe. Ademar, irmão Ademar para você. Escuta, Senhor, dizes-me que não morri, depois, que não estou vivo. Que é isso? Queres distrair-me? Tirar minha atenção com meu corpo?
Não, disse-me irmão Ademar. Quero apenas mostrar-te que existem outros conceitos sobre vida e morte. E, é sobre isso que precisamos conversar. Acompanhe-me.
O sol parecia ter acabado de pôr-se, pois o entardecer ainda deixava marcas no céu. Em companhia do meu interlocutor, seguimos por algumas ruas em direção, dizia ele, a uma casa de ensinamentos espirituais. Ensinamentos espirituais? Perguntei-lhe. Sim, disse-me.
Acalma-te, pois estamos chegando. Toma teu lugar entre aqueles que se postaram á direita da pequena biblioteca. São irmãos que se encontram nas mesmas condições que tu. Ademar parecia-me agora um tanto diferente do que quando encontrou-me no hospital. Notei que as dores no meu coração ainda incomodavam-me, comprimindo o plexo. Agora, o amigo parecia vestir uma túnica alva, donde desprendia-se diáfana luminosidade. Postou-se à frente de imensa platéia e começou-nos a dizer: "Irmãos, recebamos nesse instante as bênçãos de Deus, o Altíssimo. Aqui estamos, testemunhos vivos de que a morte não existe. Imortais, eis a natureza do qual o Criador dotou seus filhos amados. A vida material nos é concedida como oportunidade para nosso crescimento intelectual e moral.
Detemo-nos na matéria por um longo período de tempo, até que, através das muitas encarnações, consigamos nos dotar de asas que nos levarão em vôos eternos pelo infinito.
Abençoemos, irmãos reunidos nessa casa de Jesus, a experiência encarnatória, as dores pelas quais somos levados a passar. Elas são produto de ações impensadas na campo do erro e dos desatinos. As dores consciências transformam-se em negativas energias que irradiam-se instintivamente para o mundo exterior da criatura, provocando profundas alterações nos delicados tecidos do corpo espiritual, perispírito, conforme o designou Allan Kardec, o codificador do Espiritismo. Eis a fonte de doenças graves, de enfermidades incuráveis que conduzem a dolorosos processos de purificação.
Estão reunidos nessa casa a título de esclarecimento, irmãos de variados níveis de entendimento e a eles voltamos nesse instante, nossas vibrações e amparo. Em especial queremos nos dirigir aos que são recém-chegados a essa dimensão da Vida. Em nome de Jesus, nosso Mestre e guia, damos-lhes as boas-vindas. Sois Espíritos imortais, como este momento testifica. E, como tais, dotados do Dom de compreender a Verdade. Agora, começa uma vida nova aos que chegam,. Vida de compreensão, de conscientização e de refazimento".
A casa onde nos encontrávamos também estava cheia de pessoas "vivas", interessadas em saber os segredos da morte. Foi uma noite inesquecível para mim. A primeira noite de um homem novo.
Hoje, encontro-me nessa sessão doutrinária de Espiritismo, a convite do irmão Ademar. Alegra-me poder estar em comunhão com esse lado mais denso da Vida, sim, digo Vida, pois ela é uma só. Agora compreendo uma sublime realidade: ninguém morre. Que sejamos abençoados por Deus”.
Espírito: Luiz Desidério Santos Junior
Grupo Espírita Bezerra de Menezes
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