Desde criança ficava intrigada quando ouvia dizer: foi Deus quem quis quando acontecia alguma coisa trágica ou incontrolável, até inoportuna, porque não me passava pela concepção que, se Deus era magnânimo e gozava de todos os bons predicados que lhe eram atribuídos, como poderia permitir e muito pior, cometer tamanhas atrocidades? Pelo menos, era o que se passava pela minha mentalidade ainda em desenvolvimento. Lembro-me de que quando qualquer pessoa sofria um revés, lá vinha a célebre frase: - Foi a vontade de Deus! Uma série de outras grandes barbaridades e de pequenas coisas, segundo minha visão, tais como: “não cai uma folha de uma árvore sem que seja a vontade de Deus” levava-me a pensar: nesse caso, então, Ele derruba casas, aviões e mais, permite que aconteçam tragédias que nenhum de nós, na nossa imperfeição - não sendo uma pessoa desnaturada - deixaria ocorrer sem tentar impedir, caso estivesse em nossa alçada como se imagina esteja no Poder de Deus: Então, o grande problema é que Ele não possa! Só vim a perceber isso quando meu pai começou a me ensinar os princípios fundamentais da vida, analisando-a através da reencarnação, onde Deus não se envolvia com os nossos problemas, sendo da competência exclusiva de cada um ditar os fundamentos da suas existências, na prática diária de suas ações. De fato, Deus não podia ser mesquinho a esse ponto: governar o mundo sob seu jugo e a bel prazer, cometendo iniqüidades de toda a sorte, senão, estabelecendo leis sábias e universais para que se efetivassem no seu cumprimento. O homem, usando o livre arbítrio, é que não as respeita e torna-se algoz de si mesmo, com tais práticas. Porém, pasma fico quando me deparo com pessoas cultas, pelo menos, tidas como tal, a conclamar os preceitos evangélicos das “potestades” divinas pregadas por Paulo, o apóstolo dos gentios. A enaltecer a virtude e a falar na vontade absolutista de um Criador que, se, de fato, pudesse fazer tudo perfeito - não o tendo realizado - fracassara na conformação do homem sob o aspecto dos seus sentimentos. Afinal, uns são bons, outros maus: como justificar tamanho desacerto? Essa acertiva de que cada qual escolheu seu destino interfere na premissa de que nada se faz sem a Vontade do Supremo Arquiteto do Universo, na linguagem dos Iniciados. Por outro lado, uma desculpa infantil é a da existência do Satanás: quem o teria feito para tentar os homens, senão o próprio Deus, único e exclusivo Criador de tudo!? Um outro grande problema dos adoradores da Divindade Superior é achar que, para que seja perfeito, Ele não possa progredir, estagnando através do tempo. Sendo o máximo, não teria mais evolução. Ora, não o tendo, seria estacionário e, em decorrência disso, não poderia se considerar perfeito, afinal, os próprios mentores espirituais afirmam que, quanto mais perfeita a criatura, maior o seu grau evolutivo! Só os reacionários ao progresso se detêm em sua marcha ou caminhada para os níveis mais altos do progresso. Por acaso, nosso progresso, como seres componentes da criação, não será uma prova da necessidade evolutiva do cosmo? E essa evolução não seria o próprio progresso de Deus? E, como tal, a decorrência da formação universal? É! Deus existe, não há dúvida: sua obra, o universo, está aí para todos admirarem e usufruírem. O que não se sabe é Quem ou O que seja Deus, para que nos julguemos à sua imagem e semelhança. Passa-se o tempo. Hoje em dia, a concepção que tenho é a de que sejamos células do Corpo de Deus: exatamente como acontece no nosso corpo onde nossas partículas orgânicas têm funções a serem cumpridas, das quais, às vezes, se perdem, independentemente da nossa vontade, soberana sobre nosso corpo. E o que ocorre com elas? Degeneram-se, por vezes, outras, o próprio organismo cuida transformá-las agindo sobre sua vontade, corrigindo-as, e assim por diante. Portanto, no nosso caso somático, quando as células se equivocam no seu comportamento, ficamos doente. Quando cumprem suas funções corretamente ou se corrigem, passamos a ter saúde. É um trabalho coletivo. Assim também a humanidade, não apenas a terrena, sendo o corpo de Deus, só pode progredir em conjunto. Quando cada um de nós evolve, logicamente, Deus estará também evolvendo! Daí o ditado: - “De hora em hora Deus melhora”! Agora, olhando o nosso atraso, imaginemos, pois, o quanto Deus ainda vai ter que progredir para que seu organismo - o cosmo - fique perfeito. E é essa a nossa semelhança com Deus!
Carmen Imbassahy
Nenhum comentário:
Postar um comentário