Quando Ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e, lançando-se de joelhos aos seus pés, disse:
Senhor tem piedade de meu filho, que é lunático e sofre muito; pois cai muitas vezes no fogo e, muitas vezes, na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não o puderam curar.
Jesus respondeu, dizendo: Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui este menino.
E, tendo Jesus ameaçado o demônio, este saiu do menino, que no mesmo instante ficou são.
Os discípulos, então, vieram ter com Jesus em particular e lhe perguntaram: Por que não pudemos nós outros expulsar esse demônio?
Respondeu-lhes Jesus: Por causa da vossa incredulidade. Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: transporta-te daí para ali e ela se transportaria e nada vos seria impossível. (Mateus,17:14-20.)
Muito significativa essa passagem de Jesus.
A parábola da figueira que secou é outra demonstração deixada por Jesus para refletirmos seriamente sobre a fé, encontrada em Lucas (13:6-9). Nela, passamos a ver o homem na figueira que foi plantada, mas que não frutificou. Assim é o religioso que se diz cristão, mas em verdade, não mostra seus “frutos”.
Todos os homens, deliberadamente inúteis por não terem posto em ação os recursos que traziam consigo, serão tratados como a figueira que secou.
Pedro, ao não conseguir andar sobre as águas, mereceu de Jesus uma advertência quanto à sua falta de fé, em Lucas (8:25). Quantos de nós não nos amedrontaríamos como o fez Pedro, e também afundaríamos!?
Tomé, em João (20:24), não acreditou no reaparecimento de Jesus após a sua crucificação. Tornou-se, por isso mesmo, até hoje, um símbolo da falta de fé. Essa passagem é sempre lembrada por todos quantos desejam enfatizar a ausência da fé na criatura.
Jesus, em várias de suas lições, querendo destacar a significativa importância da fé, mostrou, com sua exemplificação, que será necessário ao homem acreditar nas próprias forças, o que o tornará capaz de executar certos feitos materiais. Quem duvida é um pessimista e se vê impossibilitado de crescimento moral. Se não acreditarmos que somos capazes de amar até os inimigos, de que adianta afirmar que acreditamos em Jesus? Estabeleceria, por acaso, Jesus um objetivo educativo para nós impossível de ser alcançado?
Como ficaria sua condição de Mestre dos mestres?
Tiago, em sua Carta (2:14), foi extraordinário quando se referiu à associação que deve existir entre a fé e as ações da criatura, ao afirmar que “[...] nenhum proveito existe, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras. Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?”.
Uma realidade fica patente: da fé vacilante resulta a incerteza, a dúvida; já a fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, nas grandes como nas pequenas tarefas.
Quem acredita no tratamento a que está submetido – dizem os entendidos – está com meio caminho andado para curar-se. Todavia, quem não acredita...
Inquestionavelmente, são a fé e o amor os dois fundamentais instrumentos de trabalho do espírita.
“A fé é a garantia do que se espera a prova das realidades invisíveis”, testificou Paulo, em Carta aos Hebreus (11:1). E ele sabia, perfeitamente, do que falava, pois sem essa virtude, teria fracassado em sua missão de ser o maior divulgador do Cristianismo nascente.
A força e o poder da fé se transmitem à prece, enunciada com emoção e sinceridade. A prece é a manifestação mais pura do diálogo entre o homem e Deus.
A fé sincera e verdadeira é sempre calma, facultando a paciência que sabe esperar.
A confiança nas suas próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais, que não consegue fazer quem duvida de si.
Aqui, porém, unicamente no sentido moral se devem entender tais palavras. As montanhas que a fé, exaltada por Jesus, desloca, são as dificuldades, as resistências, a má vontade; em suma, tudo com que se depara da parte dos homens, ainda quando se trate das melhores coisas.
Como se adquire a fé inabalável?
Através do conhecimento que se obtém com o estudo dos postulados da Doutrina Espírita, que não arregimenta, em suas fileiras, crentes devotos, mas homens de fé raciocinada.
Seja, portanto, inabalável a nossa fé, alicerçada nos postulados fundamentais do Espiritismo:
Deus, Espírito, imortalidade da alma, reencarnação, mediunidade, pluralidade dos mundos habitados, lei de ação e reação, lei da evolução, prática da caridade, vivência do Evangelho de Jesus, e outros.
A “preceterapia” é hoje testada por estudiosos do assunto, renomados homens de ciência. Servindo-se de um número de pacientes portadores da mesma enfermidade, chegaram à conclusão de que em dois grupos, um com 192 enfermos e outro com 214, o número maior dos que apresentaram resultados positivos, após tratamento, foram justamente os que nele acreditavam, e, consequentemente na cura. O mais importante de tudo: igual tratamento foi dispensado a todos.
Relevante é “[...] não confundir a prece com a presunção. A verdadeira fé se conjuga à humildade [...].” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX – que serviu de base para este artigo –, item 4.) Aquele que a tem deposita mais confiança em Deus do que em si mesmo, porque sabe que nada lhe é possível sem a ação de Deus.
Com a fé pulsante em seu interior, o homem movimenta seu magnetismo atuando sobre o fluido, o agente universal, modificando-lhe as qualidades e lhe dando uma impulsão irresistível. É sempre a fé dirigida para o bem que podem operar os chamados, equivocadamente, “milagres”.
A fé pode ser raciocinada ou cega. A espírita é raciocinada. A fé cega, levada ao excesso, conduz ao fanatismo, ao “homem-bomba”.
A fé cega imposta é sinal de confissão de impotência para demonstrar que se está de posse da verdade. A fé não se prescreve nem se impõe.
A fé não procura ninguém, é ao homem que compete buscá-la, encontrá-la. Quem a procurar sinceramente não deixará de encontrá-la. Ensina Allan Kardec:
A resistência do incrédulo, devemos convir, muitas vezes provém menos dele do que da maneira por que lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender.
A fé cega já não é deste século [...]. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 7.) A criatura deve crer, porque tem certeza, apoiando-se nos fatos e na lógica. Somente tem certeza porque compreendeu.
“Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”, é o que encontramos no livro acima citado.
Sob o título “A fé: mãe da esperança e da caridade”, o Espírito protetor José afirma:
Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou.
A fé sincera é empolgante e contagiosa; comunica-se aos que não na tinham, ou, mesmo, não desejariam tê-la. Encontra palavras persuasivas que vão à alma [...]. (Op. cit., item 11).
Preguemos pelo exemplo de nossa fé.
Não admitamos a fé sem comprovação: fé cega é filha da cegueira.
Amemos a Deus, mas sabendo por que o amamos; acreditemos em suas promessas, mas sabendo por que acreditamos; sigamos os seus conselhos, mas compenetrados do fim que nos é apontado e dos meios que nos são trazidos para atingi-lo.
Precisamos colocar a vontade a serviço dessa força que todos trazemos – a fé, que é ainda tão pouco utilizada.
A fé é humana e divina.
Se todos nos achássemos persuadidos da força que em nós trazemos, e se quiséssemos pôr a vontade a serviço dessa força, seríamos capazes de realizar o que hoje é considerado prodígios mas que, no entanto, não passa de um natural desenvolvimento das faculdades humanas.
A certeza na obtenção de algo é resultado da vontade de querer e a certeza de que esta vontade pode obter satisfação.
É a fé que conduz a Deus. Deve ser, portanto, ativa para ser proveitosa.
Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade. Assim, preconizar a fé cega sobre um ponto de crença é confessar-se impotente para demonstrar que está com a razão.
Pondera o Codificador:
[...] A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao contrário, denota fraqueza e dúvida de si mesmo. (Op. cit., cap. XIX, item 3.)
A fé, saibamos em definitivo, não se impõe nem se prescreve.
Ela é adquirida e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários.
Hoje ou amanhã, nesta ou noutra encarnação, todos a possuirão.
Reformador Fev.08
Parabéns pelo blog, visitei vcs e adorei! Tou seguindo vocês e gostaria de tê-los como seguidor.
ResponderExcluirabraços fraternos!