Na questão 860, de O Livro dos Espíritos, Ed. Comemorativa, interroga Allan Kardec:
Pode o homem, pela sua vontade e por seus atos, evitar acontecimentos que deveriam realizar--se e vice-versa?
Responde o Mentor que o assiste:
“Pode, desde que esse aparente desvio possa caber na vida que escolheu. Além disso, para fazer o bem que lhe cumpre – único objetivo da vida – é permitido ao homem impedir o mal, sobretudo aquele que possa contribuir para a produção de um mal maior”.
Há nessa resposta material para volumoso livro.
De minha parte, gostaria de chamar sua atenção, leitor amigo, para incisiva observação ali contida.
O Mentor espiritual está falando, com todas as letras, que a prática do bem é o objetivo único da vida.
Um confrade questionava:
– Não haverá aqui um problema de filtragem mediúnica?
Será unicamente para isso que existimos: praticar o bem?!
A fim de entender essa colocação do Mentor espiritual, consideremos que Deus não nos concedeu a vida por mero diletantismo.
Criados à sua imagem e semelhança, segundo a expressão bíblica, deuses em potencial, somos instrumentos da Vontade Divina, co-participantes na obra da Criação.
Mais cedo ou mais tarde, quando puros e perfeitos, dentro de milhares ou milhões de anos, dependendo de nosso esforço, também teremos missões gloriosas a cumprir, doadores de bênçãos, a enriquecer e sustentar a Vida onde estivermos.
Vale destacar que os Espíritos puros e perfeitos cumprem integralmente a suprema lei divina: o Amor.
Amar é querer o bem de alguém.
Conseqüentemente, o exercício pleno do amor implica a total disposição de praticar o Bem.
Lembro-me de uma observação do Espírito Cairbar Schutel, o grande lidador espírita de Matão, pela mediunidade de Chico Xavier:
A Felicidade do Céu é socorrer a infelicidade da Terra.
Jamais iremos tocar harpa no Céu, em permanente repouso, como pretendiam os teólogos medievais, o que, diga-se de passagem, não seria nada animador.
Ociosidade eterna está mais para inferno do que paraíso.
Uma das revelações mais gratificantes do Espiritismo diz respeito à nossa destinação final.
Não há escolhidos para a salvação, nem há condenados à irremissível perdição, o que seria dupla injustiça.
Inadmissível tanto o céu por privilégio quanto a penalidade que transcende a natureza do crime.
Todos atingiremos a perfeição, quer queiramos ou não, porque essa é a vontade de Deus, que não falha jamais em seus objetivos.
Chegaremos um dia onde Jesus está, tanto quanto Ele esteve onde estamos.
Atingida essa meta, dotados de desprendimento e abnegação, exercitaremos o bem incessante, a sustentar nossa perene comunhão com o Criador, integrados na Harmonia Universal, felizes para sempre.
Por isso, todos os mecanismos evolutivos a que estamos submetidos – a reencarnação, a infância, o lar, o relacionamento afetivo, a escola, a dor, a adversidade, a doença, a velhice, a morte –, nada mais fazem senão amadurecer em nós a consciência de que é preciso participar da economia universal, exercitando o Bem sempre, adequando-nos às Leis Divinas e realizando-nos como filhos de Deus.
Aqueles que servem empolgados pelo ideal do Bem queimam etapas evolutivas, caminham mais depressa, atingem a santidade antes mesmo de serem sábios.
Na verdade, revelam muito mais sabedoria do que arrogantes intelectuais que julgam detê-la. Estes, embriagados por altos vôos de inteligência, perdem-se em discussões estéreis e raciocínios esdrúxulos, sem perceberem a suprema sabedoria que se exprime num gesto de bondade, o qual, invariavelmente, aproxima-nos de Deus.
Reformador Jul.08
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