terça-feira, 13 de março de 2012

MEDO DA MORTE


Não devemos temer a morte; devemos temer, antes, uma má vida, que é pior que a morte.

A morte não é a da matéria, porque o que se dá nesse caso não é uma morte no sentido de fim; mas uma transformação. A nossa matéria ressurge então sob nova forma, assim como o grão que, aparentemente morto quando enterrado na cova, ressurge para o bem do próprio homem.

A verdadeira morte é a morte moral, essa que mata o conceito e liquida a credibilidade do homem; que traz o remorso que aniquila a consciência; que faz com que o homem se envergonhe de se olhar num espelho.

Teme mais a morte do corpo aquele que já se acha moralmente morto; o que se envergonha do presente e teme o futuro, porque tem contra si o libelo dos próprios atos, da conduta reprovável.

Quer dizer, o que leva o homem a temer a morte, a apavorar-se diante da idéia de morrer, não é simplesmente o instinto de conservação, nem a ignorância em relação à vida. É acima de tudo a consciência culpada.

Os mártires caminhavam para morte sem medo, transbordantes de esperanças, cantando até, tal como ocorreu com os primeiros cristãos levados às feras nos circos e às fogueiras da Inquisição.

Já os grandes tiranos, os grandes culpados sempre fugiram e ainda fogem hoje da morte. A ameaça da morte os atormenta em todos os tempos. Consta que a toda poderosa Elizabeth da Inglaterra, que mandara decapitar a prima Maria Stuart, da Áustria, oferecia no leito de morte todo o seu reino por mais um minuto de vida. Nuremberg até hoje procura os exterminadores de judeus, os responsáveis pelos grandes holocaustos e genocídios, que escreveram com sangue as páginas de horror da história da humanidade. Estes já estão moralmente mortos, punidos pelo tribunal da própria consciência culpada.

A morte é diferente, porém, nas expectativas do homem de consciência limpa. O mártir Sebastião não a temeu. E, mesmo tendo que a enfrentar, mais cedo ou mais tarde, quer na quitação dos débitos, quer nas imposições do testemunho de sua fé e do ideal superior, ele saberá repetir com toda a força da alma o desafio que Paulo lançou para sempre, através do capítulo 8,55 da sua primeira epístola aos Coríntios: “Ò morte, onde está a tua vitória? Onde está o teu agulhão?”



Deocleciano

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