terça-feira, 29 de setembro de 2009

A LEI DE ESQUECIMENTO É JUSTA ?

Dia desses, quando proferia uma palestra num Centro Espírita, ouvi, de uma senhora, a seguinte pergunta:


- A Lei do Esquecimento é realmente justa? Não seria melhor se nos lembrássemos das nossas ações em existências anteriores? Se soubéssemos quais foram os nossos crimes e quais foram os nossos inimigos, para, então, redobrarmos os nossos esforços no sentido de nos reconciliarmos com eles?
O profundo silêncio que o questionamento gerou na platéia e a expectativa que se criou em torno da resposta que eu deveria dar, deixaram claro que muitos dos presentes concordavam com aquela senhora, achando que a Lei do Esquecimento é realmente injusta.
Mas, vejamos porque é um grande equívoco pensarmos assim:
Todos nós sabemos que muitas pessoas que enfrentam situações de violência, tais como: assaltos, seqüestros, torturas físicas e psicológicas, acidentes graves e outros sinistros dessa natureza, costumam desenvolver a chamada síndrome do pânico. Algumas vítimas ficam num estado tão delicado, que se tornam completamente improdutivas e passam o resto da vida sob tratamento neurológico, causando muita preocupação e transtornos aos seus familiares.
Ora, estamos falando de situações que, muitas vezes, nem chegam perto dos traumas que certamente sofremos e promovemos em encarnações passadas, quando a violência era muito mais habitual e à vida humana se dava bem menos valor que nos dias atuais.
Basta fazermos uma pesquisa sobre os métodos bárbaros utilizados pelos dominadores para torturar, humilhar e assassinar os povos dominados, na antiguidade, para chegarmos a esta conclusão.
Um desses exemplos é a empalação, um dos mais cruéis métodos de tortura e que foi vastamente utilizada por diversas civilizações do mundo inteiro, sobretudo da Arábia e Europa. A empalação consistia na inserção de uma estaca de madeira no ânus, vagina, ou umbigo do torturado. Depois, essa estaca era fincada no chão e o peso do próprio corpo do supliciado se encarregava de fazer com que ela fosse, aos poucos, traspassando-o de um extremo a outro. A morte, lenta e terrivelmente dolorosa, podia levar horas e até dias para ocorrer.
O exemplo citado é só uma pequena amostra das horrendas barbáries que cometemos e a que fomos submetidos no passado.
Ora, sendo Deus justo e amoroso, e conhecedor que é da nossa natureza fraca, permite, a cada nova experiência encarnatória, que sejamos protegidos por um véu que evita a lembrança das experiências anteriores, para que retomemos o curso de trabalho e aprendizado na matéria, livres dos traumas que tais lembranças fatalmente provocariam em nós.
Se nos lembrássemos de todos os sofrimentos físicos e morais que presenciamos, promovemos, e a que fomos submetidos, seríamos apenas uma massa humana impotente e improdutiva, dominada por uma coletiva e inevitável síndrome do pânico.
Imaginemos se, de repente, a Lei do Esquecimento fosse revogada e nos deparássemos com uma realidade inimaginável diante de nós. Se passássemos a nos lembrar de que fomos torturados, humilhados e assassinados cruelmente por pessoas que hoje fazem parte do nosso seio familiar e pelas quais, atualmente, devotamos o mais puro sentimento de amor.
E se, ao contrário, nos víssemos como torturadores e assassinos de pessoas que atualmente compartilham conosco esse sentimento de amor puro e sincero; entes queridos como nossos filhos, pais, irmãos…
Em qualquer uma dessas hipóteses, a vida se tornaria insuportável, porque, ou seríamos assaltados por sentimentos de mágoa, revolta e ódio contra os nossos antigos algozes, ou, se fomos nós os executores, seríamos devorados por um remorso causticante, que certamente nos levaria à loucura.
É por este e outros motivos que a Lei do Esquecimento é, assim como todas as leis divinas, irrevogável, justa e boa! Cabe a nós agradecermos a Deus por mais essa dádiva e procurarmos fazer a nossa parte, esforçando-nos para praticar o bem; amando, não somente aos nossos amigos, mas também aos inimigos e jamais fazendo aos outros aquilo que não gostaríamos que nos fizessem; perdoando aos que nos ofendem, não sete vezes, mas quantas vezes forem necessárias…
Enfim, seguindo os ensinamentos de Jesus, estaremos resgatando as nossas dívidas do passado, reconciliando-nos com os antigos inimigos e evitando novas inimizades. E, com toda certeza, quando o passado deixar de ser para nós motivo de revolta, trauma, vergonha e remorso, a Lei do Esquecimento não mais será necessária, uma vez que o seu objetivo é nos proteger de nossas próprias iniquidades.
Mas, quando chegar esse momento, estaremos num estágio tão elevado, tão desprovidos de sentimentos mesquinhos e egoísticos, que o passado não terá mais importância para nós e as nossas atenções estarão totalmente voltadas para as boas ações do presente.

Que Deus nos abençoe!

Roberto Carvalho

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