sexta-feira, 30 de outubro de 2009

FINADOS


A comemoração de finados é um dia especialmente dedicado a homeagear aqueles que nos precederam na vida após a morte.
Como “bons espíritas”, vamos logo afirmando que não devemos ir ao cemitério neste dia; que devemos homenagear os mortos todos os dias do ano e não apenas num dia específico; que no cemitério não se encontra outra coisa a não ser os cadáveres, um dia ocupados pelas almas dos que morreram; que, indo ao cemitério neste dia, estaremos reverenciando cadáveres; que podemos estar negligenciando os verdadeiros valor e respeito que os mortos merecem; que o dia de finados é mais um daqueles feriados transformados em comércio, para intensificar a venda de flores, velas e de “santinhos”.
Estamos certos, ao pensar/agir assim?
A homenagem prestada aos mortos existe desde antes de Cristo. Na antiga Gália, no território europeu, os gauleses celebravam a festa dos mortos, não em um cemitério, mas em suas próprias casas.
Após o Cristo, no século V existem notícias de missas comemorando o dia dos mortos. Mas, foi apenas no século X d.c., mais precisamente em 978, que foi instituída a comemoração do dia de Finados, pelo abade A. S. Odilão IV, do Mosteiro de Cluny, Fança. A comemoração foi estendida a todo o mundo católico pelo papa Benedito XV, em 1915.
Para entendermos com mais clareza, e termos uma noção mais exata de como deve se comportar o espírita nesta comemoração, vamos separar os assuntos: um é a comemoração do dia dos mortos; outro é a visita ao cemitério, tão popular em todos os países.

COMEMORANDO O DIA DOS FINADOS
O respeito que todo espírita deve ter para com seu semelhante está muito bem explicitado em toda a literatura espírita, para não falarmos do Evangelho de Jesus.
Ora, este respeito e carinho não deve ser destinado apenas aos encarnados, mas também aos desencarnados. Se temos que aprender a amar aqueles que não convivem conosco, quanto mais devemos amar os nossos consanqüineos. Quando um parente desencarna, é de se esperar que este carinho e respeito continue, uma vez que, sabemos, a vida não acaba com a morte do corpo.
Embora do outro lado da vida, sem que possamos vê-los, exceto em condições especiais, eles continuam nos amando e nos querendo bem, tanto quanto queriam quando estavam encarnados.
Quando encarnados, fazíamos alguma coisa diferente para eles, em datas especiais, como no aniversário, com festas alegres e presentes agradáveis. Eram dias especiais em que demonstrávamos nosso carinho, nosso afeto e nossa gratidão. Isto não significa que nos outros dias do ano nós não os amássemos, que nos outros dias não os queríamos bem. Apenas no aniversário (no deles ou no nosso) declaramos este amor. Esta declaração é feita entre nós, todos os anos. E não é só no aniversário. Tem o Natal, quando também trocamos presentes. Tem as Bodas de Prata, de Ouro, etc.
Aí o corpo morre ... acabou tudo? Que nada! A vida continua.
Mas tem espírita que acha que depois que morre o corpo, a alma não precisa mais ser homenageada, não precisa mais receber presentes nem ter festa. Dizem que “morto” não precisa destas coisas.

PRECISA, SIM!
Só que as “festas” e os “presentes” são diferentes, porque a condição do “morto” é diferente da condição do “vivo”.
Ora, podemos, e devemos, nos reunir em família no dia de Finados e fazermos uma “festinha” para todos os nossos parentes desencarnados. E não é só para os parentes, não! Podemos fazer a “festinha”, também em homenagem aos amigos e conhecidos nossos que já estão desencarnados. E como devemos fazer esta “festinha”? Fácil: primeiro combinamos um horário com nossos parentes encarnados; no horário marcado, reunidos em silêncio, pedimos para alquém fazer uma prece rápida, ou um pouco mais demorada, mas que seja compreensível para todos na sala e feita com o coração. Depois lemos um trecho do “Evagenho Segundo o Espiritismo” aberto ao acaso, e encerramos com uma prece dedicada a todos eles. E não é só isso.
Podemos, e devemos, nos reunir nos grupos espíritas que freqüentamos para homenagear os companheiros de ideal espírita que já partiram para a espiritualidade. Aproveitemos a ocasião e, porque não fazermos uma prece também por aqueles que desencarnaram e não tiveram condições de aprender algo mais sobre a vida após morte? Orar por aqueles que desencarnaram e ainda se mantêm presos ao corpo sem vida, padecendo as conseqüências de suas próprias invigilâncias?
A importância destas reuniões para homenagear os mortos está muito bem demonstrada na Revista Espírita, particularmente em novembro de 1864 onde Kardec faz uma exposição sobre a união de pensamentos que deve presidir estas reuniões.
De tudo isto, podemos ver que devemos, realmente, homenagear nossos “mortos” no dia de finados, sem que isso signifique um abandono de nossos parentes e amigos nos demais dias do ano. Podemos entender o dia de finados como se fosse o aniversário de um parente. Só que festejaremos com preces em favor daques que amamos.

VISITANDO CEMITÉRIOS
Visitar os cemitérios no dia de finados é um hábito mundial.
Para os Cristãos de todo o mundo, existem duas passagens bíblicas que dão importância a comemoração do dia de finados. Em primeiro, a da ressurreição de Lázaro, cujo corpo foi devolvido à vida depois de dias já morto e estando sepultado; a outra, foi a do próprio Cristo que, morrendo, ressuscitou dos mortos. Estes fatos levam a maioria dos Cristãos acreditarem numa ressurreição de corpos.
A reverência aos cadáveres, um hábito antigo, é praticada com esmero. Neste dia, levam flores, as mais caras, limpam os túmulos, acendem-se velas, alguns rezam de joelhos junto ao túmulo, outros debruçam sobre eles como a querer abraçar o defunto; enfim os mais variados gestos e atitudes, acreditando que os mortos, neste dia, irão ouvir, sentir ou se importar com o que lhes dedicam. Outros, menos crentes, o fazem muito mais pelo temor que a ignorância da vida após a morte lhes provoca, do que por vontade própria. Muitos cumprem como mera “obrigação”, com receio de serem punidos por Deus, se não o fizerem.
À parte deste movimento, encontram-se os espíritas, cuja maioria raramente vai ao cemitério, exceto quando no cumprimento dos deveres que a sociedade impõe. Poucos ainda se dedicam ao míster.
Evidentemente que nos cabe, sempre, o respeito aos hábitos e crenças de nossos semelhantes, e longe estamos de querer julgar qualquer atitude.
No entanto, ao espírita sempre caberá uma postura mais equilibrada, mais coerente com a realidade da vida que outras pessoas desconhecem.
Sabemos que o espírito encarna para viver suas necessárias experiências no corpo; acompanha seu desenvolvimento, passa uma existência relativamente curta, usando este corpo, com o qual se manifesta no mundo material e separa-se dele por ocasião de sua morte. Segue-se que o corpo material tem valor para o espírito, pois é nesta relação que o espírito pratica seus conhecimentos, melhorando-se dia – a – dia. Assim, devemos ter para o nosso corpo um carinho e uma atenção especial, zelando e ofertando-lhe o que de melhor a natureza pode lhe dar. Daí o necessário repúdio as drogas, desde as mais simples, como o cigarro e a bebida alcoólica, até as mais graves; daí também o cuidado com a higiene; com a alimentação equilibrada; enfim, com a saúde do corpo.
Todas as vezes que falamos da relação espírito x corpo, lembramos de uma palestra do querido Divaldo Pereira Franco, quando ele nos fala do desencarne de sua mãe, ocasião em que ela, carinhosamente, chamou o corpo físico de “meu querido jumentinho”.
Evidentemente que podemos ofertar aos desencarnados o socorro de que carecem, com a eficiência característica que só o amor pode dar. Não precisamos ir até o cemitério para o socorro as almas que sofrem, recusando o desencarne consumado.
Mas também, não podemos negar que esta verdade é a verdade do conhecimento dos espíritas.
E quem não é espírita?
Muitas pessoas dedicam-se ao míster levando consigo uma fé muito grande de que, ao visitar o túmulo do “finado”, estará, de alguma forma, aliviando seus possíveis pesares. E aqueles que desencarnaram sem serem espíritas, terão suas agonias aliviadas, a alma retemperada pela lembrança e pelo carinho que certamente lhe dedicam as memórias e preces ofertadas pelos encarnados.
Visitar um cemitério, pelo menos neste dia, pode aliviar o sofrimento do desencarnado, que ainda sofre as agonias da dura separação.
Se o desencarnado já for um espírito mais esclarecido, tendo sido ou não espírita (sabemos que a religião não salva, por si só, o homem), poderá mesmo ir ao encontro do parente, e lá no cemitério, receber o abraço carinhoso do parente encarnado.
Não devemos nos esquecer da situação daquelas almas que desencarnaram em situações adversas, muitas vezes surpreendidos por um desencarne precoce, e que viveram apegados ao materialismo, ao orgulho. Muitos deles padecem sofrimentos indescritíveis, presos ainda ao corpo sem vida. Seria, no mínimo falta de caridade, ignorar estes irmãos sofredores, ainda mais num dia em a humanidade homenagea-os.
A propósito, na Revista Espírita, dezembro de 1862, existe uma dissertação muito bela sobre o “finados”, do espírito Marguerite cujo início pedimos licença ao leitor para reproduzí-lo:
“Meu caro irmão. Fiel à minha promessa, venho a tí. Como havia dito, ao deixar-te ontem, fui fazer uma visita ao cemitério. Lá examinei atentamente os vários espíritos sofredores. Causam pena. Esse espetáculo chocante arrancaria lágrimas ao mais duro coração.”
Não poderíamos reproduzir a mensagem na íntegra, mas pedimos ao amigo leitor que a leia assim que possível. Podemos ver que nos cemitérios nunca faltará trabalho para o sentimento Cristão, para os corações voltados aos interesses do Amor Maior, nem um dia do ano, nem mesmo no finados.
Que possamos visitar os cemitérios, através de nossas preces, no dia de finados, e que elas possam alcançar todos estes corações que se preparam para o reencontro com suas verdades, desfeitos das ilusões da matéria, através do arrependimento sincero de suas faltas terrenas.
Mas, tenhamos a consciência de respeitar aqueles que preferem ir ao cemitério “visitar seus mortos”, e nem nos preocupemos se devemos ir ou não ao cemitério, pois o que vale é o sentimento, a lembrança, e o carinho que se põe nos pensamentos que dedicamos aos mortos.
Afinal, não existem barreiras para o Amor.

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