sábado, 31 de outubro de 2009

PROBLEMAS E PROVAÇÕES

Enquanto estivermos encarnados estaremos às voltas com dificuldades e lutas.
Abençoemos os problemas e as provas que a infinita sabedoria nos proporciona que visao nosso aprimoramento.
Evitemos choros e lamentações. Todo lamento debilita nossas forças internas,necessárias para superar nossas dificuldades. Se mudarmos nossa atitude mentalveremos que com valentia, venceremos às vicissitudes adversas que a vida nos impõem.
Notaremos surpresos que os obstáculos que antes achávamos insuperáveis não são tãograndes como pensávamos.
O problema é mantermos uma atitude mental positiva de triunfador.
Acreditemos em nossa força interior e tenhamos fé que Deus é nosso Pai e porisso jamais nos abandonará, por mais difícil que seja nossa provação.
Provas e problemas foram feitos para serem resolvidas com fé, empenho e muitadeterminação.
Façamos nossas, as palavras do apóstolo Paulo: “Tudo podemos naquele que nos conforta, tudo podemos naquele que nos fortalece.” (Fp 4:13).
Aceitemos sem desfalecimento nossas provações, confiando nas forças divinas que jamais nos abandonarão.
Temos consciência que o planeta que nos acolhe é local de expiação e dor e que a dor nos purifica e nos eleva quando a aceitamos sem revoltas.
Dores e sofrimentos devem ser aceitos com calma, resignação e até com certa alegria. A dor é o caminho mais alto para nossa ascensão e o modo mais seguro para nos afastar das futilidades e veleidades humanas.
O Cristão verdadeiro deve encarar a existência material como um curso de provas de toda a espécie, tanto físicas quanto morais.
Não peçamos ao nosso Pai Celestial o afastamento da dor. Roguemos forças para suportá-las. É mais sensato não solicitar o desaparecimento das pedras do nosso caminho e sim, a maneira de como nos livrarmos delas.
Jesus quando solicitava ao Pai favores em prol dos seus discípulos, assim rogava: “Não peço que os tireis do mundo, mas que os livreis do mal” (Jo 17:15).
Aceitemos nossos sofrimentos sem revoltas e sem desespero, mas os aceitemos com resignação e paciência, pois, assim como chegaram, um dia, também partirão.
Lutemos sempre por nosso melhoramento moral, estudando, e sobretudo, procurando vivenciar os ensinos do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e não nos esquecermos que, na maioria das vezes, fomos nós que escolhemos as provações atuais.
O Pai jamais abandona qualquer um de seus filhos. O que hoje nos esmaga e nos parece uma calamidade insuportável, se diluirá em poucos dias ou até em poucas horas.
Com Jesus, todas, as dores e tormentas passarão e todas as lágrimas se secarão.
Se tivermos fé, veremos então que essas dores transformar-se-ão em cicatrizes e essas cicatrizes serão luzes a iluminar nossos caminhos.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

FINADOS


A comemoração de finados é um dia especialmente dedicado a homeagear aqueles que nos precederam na vida após a morte.
Como “bons espíritas”, vamos logo afirmando que não devemos ir ao cemitério neste dia; que devemos homenagear os mortos todos os dias do ano e não apenas num dia específico; que no cemitério não se encontra outra coisa a não ser os cadáveres, um dia ocupados pelas almas dos que morreram; que, indo ao cemitério neste dia, estaremos reverenciando cadáveres; que podemos estar negligenciando os verdadeiros valor e respeito que os mortos merecem; que o dia de finados é mais um daqueles feriados transformados em comércio, para intensificar a venda de flores, velas e de “santinhos”.
Estamos certos, ao pensar/agir assim?
A homenagem prestada aos mortos existe desde antes de Cristo. Na antiga Gália, no território europeu, os gauleses celebravam a festa dos mortos, não em um cemitério, mas em suas próprias casas.
Após o Cristo, no século V existem notícias de missas comemorando o dia dos mortos. Mas, foi apenas no século X d.c., mais precisamente em 978, que foi instituída a comemoração do dia de Finados, pelo abade A. S. Odilão IV, do Mosteiro de Cluny, Fança. A comemoração foi estendida a todo o mundo católico pelo papa Benedito XV, em 1915.
Para entendermos com mais clareza, e termos uma noção mais exata de como deve se comportar o espírita nesta comemoração, vamos separar os assuntos: um é a comemoração do dia dos mortos; outro é a visita ao cemitério, tão popular em todos os países.

COMEMORANDO O DIA DOS FINADOS
O respeito que todo espírita deve ter para com seu semelhante está muito bem explicitado em toda a literatura espírita, para não falarmos do Evangelho de Jesus.
Ora, este respeito e carinho não deve ser destinado apenas aos encarnados, mas também aos desencarnados. Se temos que aprender a amar aqueles que não convivem conosco, quanto mais devemos amar os nossos consanqüineos. Quando um parente desencarna, é de se esperar que este carinho e respeito continue, uma vez que, sabemos, a vida não acaba com a morte do corpo.
Embora do outro lado da vida, sem que possamos vê-los, exceto em condições especiais, eles continuam nos amando e nos querendo bem, tanto quanto queriam quando estavam encarnados.
Quando encarnados, fazíamos alguma coisa diferente para eles, em datas especiais, como no aniversário, com festas alegres e presentes agradáveis. Eram dias especiais em que demonstrávamos nosso carinho, nosso afeto e nossa gratidão. Isto não significa que nos outros dias do ano nós não os amássemos, que nos outros dias não os queríamos bem. Apenas no aniversário (no deles ou no nosso) declaramos este amor. Esta declaração é feita entre nós, todos os anos. E não é só no aniversário. Tem o Natal, quando também trocamos presentes. Tem as Bodas de Prata, de Ouro, etc.
Aí o corpo morre ... acabou tudo? Que nada! A vida continua.
Mas tem espírita que acha que depois que morre o corpo, a alma não precisa mais ser homenageada, não precisa mais receber presentes nem ter festa. Dizem que “morto” não precisa destas coisas.

PRECISA, SIM!
Só que as “festas” e os “presentes” são diferentes, porque a condição do “morto” é diferente da condição do “vivo”.
Ora, podemos, e devemos, nos reunir em família no dia de Finados e fazermos uma “festinha” para todos os nossos parentes desencarnados. E não é só para os parentes, não! Podemos fazer a “festinha”, também em homenagem aos amigos e conhecidos nossos que já estão desencarnados. E como devemos fazer esta “festinha”? Fácil: primeiro combinamos um horário com nossos parentes encarnados; no horário marcado, reunidos em silêncio, pedimos para alquém fazer uma prece rápida, ou um pouco mais demorada, mas que seja compreensível para todos na sala e feita com o coração. Depois lemos um trecho do “Evagenho Segundo o Espiritismo” aberto ao acaso, e encerramos com uma prece dedicada a todos eles. E não é só isso.
Podemos, e devemos, nos reunir nos grupos espíritas que freqüentamos para homenagear os companheiros de ideal espírita que já partiram para a espiritualidade. Aproveitemos a ocasião e, porque não fazermos uma prece também por aqueles que desencarnaram e não tiveram condições de aprender algo mais sobre a vida após morte? Orar por aqueles que desencarnaram e ainda se mantêm presos ao corpo sem vida, padecendo as conseqüências de suas próprias invigilâncias?
A importância destas reuniões para homenagear os mortos está muito bem demonstrada na Revista Espírita, particularmente em novembro de 1864 onde Kardec faz uma exposição sobre a união de pensamentos que deve presidir estas reuniões.
De tudo isto, podemos ver que devemos, realmente, homenagear nossos “mortos” no dia de finados, sem que isso signifique um abandono de nossos parentes e amigos nos demais dias do ano. Podemos entender o dia de finados como se fosse o aniversário de um parente. Só que festejaremos com preces em favor daques que amamos.

VISITANDO CEMITÉRIOS
Visitar os cemitérios no dia de finados é um hábito mundial.
Para os Cristãos de todo o mundo, existem duas passagens bíblicas que dão importância a comemoração do dia de finados. Em primeiro, a da ressurreição de Lázaro, cujo corpo foi devolvido à vida depois de dias já morto e estando sepultado; a outra, foi a do próprio Cristo que, morrendo, ressuscitou dos mortos. Estes fatos levam a maioria dos Cristãos acreditarem numa ressurreição de corpos.
A reverência aos cadáveres, um hábito antigo, é praticada com esmero. Neste dia, levam flores, as mais caras, limpam os túmulos, acendem-se velas, alguns rezam de joelhos junto ao túmulo, outros debruçam sobre eles como a querer abraçar o defunto; enfim os mais variados gestos e atitudes, acreditando que os mortos, neste dia, irão ouvir, sentir ou se importar com o que lhes dedicam. Outros, menos crentes, o fazem muito mais pelo temor que a ignorância da vida após a morte lhes provoca, do que por vontade própria. Muitos cumprem como mera “obrigação”, com receio de serem punidos por Deus, se não o fizerem.
À parte deste movimento, encontram-se os espíritas, cuja maioria raramente vai ao cemitério, exceto quando no cumprimento dos deveres que a sociedade impõe. Poucos ainda se dedicam ao míster.
Evidentemente que nos cabe, sempre, o respeito aos hábitos e crenças de nossos semelhantes, e longe estamos de querer julgar qualquer atitude.
No entanto, ao espírita sempre caberá uma postura mais equilibrada, mais coerente com a realidade da vida que outras pessoas desconhecem.
Sabemos que o espírito encarna para viver suas necessárias experiências no corpo; acompanha seu desenvolvimento, passa uma existência relativamente curta, usando este corpo, com o qual se manifesta no mundo material e separa-se dele por ocasião de sua morte. Segue-se que o corpo material tem valor para o espírito, pois é nesta relação que o espírito pratica seus conhecimentos, melhorando-se dia – a – dia. Assim, devemos ter para o nosso corpo um carinho e uma atenção especial, zelando e ofertando-lhe o que de melhor a natureza pode lhe dar. Daí o necessário repúdio as drogas, desde as mais simples, como o cigarro e a bebida alcoólica, até as mais graves; daí também o cuidado com a higiene; com a alimentação equilibrada; enfim, com a saúde do corpo.
Todas as vezes que falamos da relação espírito x corpo, lembramos de uma palestra do querido Divaldo Pereira Franco, quando ele nos fala do desencarne de sua mãe, ocasião em que ela, carinhosamente, chamou o corpo físico de “meu querido jumentinho”.
Evidentemente que podemos ofertar aos desencarnados o socorro de que carecem, com a eficiência característica que só o amor pode dar. Não precisamos ir até o cemitério para o socorro as almas que sofrem, recusando o desencarne consumado.
Mas também, não podemos negar que esta verdade é a verdade do conhecimento dos espíritas.
E quem não é espírita?
Muitas pessoas dedicam-se ao míster levando consigo uma fé muito grande de que, ao visitar o túmulo do “finado”, estará, de alguma forma, aliviando seus possíveis pesares. E aqueles que desencarnaram sem serem espíritas, terão suas agonias aliviadas, a alma retemperada pela lembrança e pelo carinho que certamente lhe dedicam as memórias e preces ofertadas pelos encarnados.
Visitar um cemitério, pelo menos neste dia, pode aliviar o sofrimento do desencarnado, que ainda sofre as agonias da dura separação.
Se o desencarnado já for um espírito mais esclarecido, tendo sido ou não espírita (sabemos que a religião não salva, por si só, o homem), poderá mesmo ir ao encontro do parente, e lá no cemitério, receber o abraço carinhoso do parente encarnado.
Não devemos nos esquecer da situação daquelas almas que desencarnaram em situações adversas, muitas vezes surpreendidos por um desencarne precoce, e que viveram apegados ao materialismo, ao orgulho. Muitos deles padecem sofrimentos indescritíveis, presos ainda ao corpo sem vida. Seria, no mínimo falta de caridade, ignorar estes irmãos sofredores, ainda mais num dia em a humanidade homenagea-os.
A propósito, na Revista Espírita, dezembro de 1862, existe uma dissertação muito bela sobre o “finados”, do espírito Marguerite cujo início pedimos licença ao leitor para reproduzí-lo:
“Meu caro irmão. Fiel à minha promessa, venho a tí. Como havia dito, ao deixar-te ontem, fui fazer uma visita ao cemitério. Lá examinei atentamente os vários espíritos sofredores. Causam pena. Esse espetáculo chocante arrancaria lágrimas ao mais duro coração.”
Não poderíamos reproduzir a mensagem na íntegra, mas pedimos ao amigo leitor que a leia assim que possível. Podemos ver que nos cemitérios nunca faltará trabalho para o sentimento Cristão, para os corações voltados aos interesses do Amor Maior, nem um dia do ano, nem mesmo no finados.
Que possamos visitar os cemitérios, através de nossas preces, no dia de finados, e que elas possam alcançar todos estes corações que se preparam para o reencontro com suas verdades, desfeitos das ilusões da matéria, através do arrependimento sincero de suas faltas terrenas.
Mas, tenhamos a consciência de respeitar aqueles que preferem ir ao cemitério “visitar seus mortos”, e nem nos preocupemos se devemos ir ou não ao cemitério, pois o que vale é o sentimento, a lembrança, e o carinho que se põe nos pensamentos que dedicamos aos mortos.
Afinal, não existem barreiras para o Amor.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

REFLEXÕES SOBRE O ESPIRITISMO


O Livro Terceiro - Leis Morais, de O Livro dos Espírito, apresenta teorias avançadas paia a sua época, especialmente no que concerne aos direitos da mulher e ao direito de viver.

Absurdamente, críticos do Espiritismo, ao tempo de Kardec, acusaram a doutrina de imoral, simplesmente porque Allan Kardec afirmou que a mediunidade manifestava-se nas pessoas independentemente da sua moral. Confundiram o médium, ser humano falível, com a Doutrina Espírita, ditada pelos espíritos superiores, com a contribuição dos homens e, em especial, de Allan Kardec.
O Espiritismo tem uma moral límpida, clara, sem concessões especiais, sem fanatismo ou exigências absurdas. Aprendemos com ele que viemos dos reinos inferiores da natureza, e hoje somos humanos em demanda à angelitude, entendida esta como sabedoria e virtude. Como homens, vivemos a dualidade matéria/espírito, pois temos as necessidades materiais de alimentação, vestuário, abrigo, escola, trabalho, lazer, sexo e aspirações de levantar vôo em busca da nossa espiritualização o. Nenhum Espírita consciente de sua Doutrina despreza a oportunidade de viver c aprender.
Que lê "O Livro dos Espíritos" sem pensamentos preconcebidos, admira-se de sua simplicidade e profundidade. Não existem teorias esdrúxulas, conflitantes, mas tudo é claro c natural. O Livro Terceiro Leis Morais - apresenta teorias avançadas para a sua época, especialmente no que concerne aos direitos da mulher e ao direito de viver.
Não queremos deixar este artigo demasiadamente longo e enfadonho, mas dar um rápido passeio sobre os temas, destacando uma ou outra coisa, aqui e ali, a começar pela Lei de Adoração. Aprendemos com a Doutrina Espírita a não ter medo de Deus, portanto, nossa adoração não é para aplacar sua ira, finas a submissão consciente c pacífica da criatura ao seu Criador. Se o adoramos, é porque o amamos. Também não o adoramos exteriormente, com pompas e européis, mas sim no coração, no sentimento.
Na Lei de Destruição aprendemos que, ao morrermos, apenas o invólucro material perece. O espírito escapa do casulo e levanta seu vôo para a espiritualidade. Quero poderá entender melhor que os espíritas as palavras de Paulo de Tarso: "Semeia-se corpo animal e nasce o corpo espiritual"'?
Na Lei do Trabalho vem a sentença sábia: o limite do trabalho é o das forças do homem. Aquele que não pode sustentar-se deve ser cuidado pela sociedade. A falta de trabalho é flagelo. Sim, é um flagelo talvez superado, somente, pelo egoísmo da humanidade.
Na Lei de igualdade, fica demonstrado que Deus não criou as classes sociais. Todos somos iguais perante Deus, e Kardec eleva a mulher à sua verdadeira condição. Homens e mulheres têm os mesmos direitos, mas deveres, ou funções, diferentes. Mesmo que para alguns pareçam modestas as funções, há cento e quarenta anos era essa uma posição avançadíssima. As Leis Morais profligam o aborto, a eutanásia, a escravidão, o domínio do homem sobre a mulher, e chama a atenção de pais e educadores para a necessidade da educação moral, formadora de bons hábitos, e não apenas a instrução.
Mas, nos deleitamos com a Lei de Justiça, Amor e Caridade, onde os espíritos afirmam que o primeiro direito do homem é o de viver. Para nós é um hino de amor, um grito de alerta, antes mesmo da existência de entidades que defendem os direitos humanos. O direito de viver compreende a dignidade da vida. O Livro afirma que ninguém pode atentar contra a vida de outrem. É fácil compreender que não se trata de atentado com arma ou com agressão, mas também se atentar contra a vida de outrem com a má distribuição de renda e dos bens da Terra, com a justiça morosa e, às vezes, imoral em relação aos fracos e oprimidos.
A Doutrina Espírita é viril, corajosa, revolucionária. A nosso ver, erram aqueles que pregam uma doutrina de submissão., dizendo que os que sofrem, hoje, gozaram e abusaram ontem. E essa sociedade injusta e opressora que fabrica as "candelárias , os massacres de presos, as revoltas da FEBEM, as torturas, as ditaduras e os crimes bárbaros.
Não pregamos a violência, mas a coragem de dizer a quem erra que ele é o responsável pelas conseqüências advindas de seus atos. A coragem de mostrar a hipocrisia dos que desvirtuam um mandato outorgado pelo povo, para exercê-lo em favor do povo, e não de si mesmo ou do seu corporativismo.
Cremos que já é hora dos espíritas aperfeiçoarem a sua assistência social, que é importante, com mudanças sociais. Viver não pode ser uma concessão dos mais fortes, e sim um direito natural. Fazer aos outros o que queremos que nos seja feito é, ainda, uma regra de ouro para a humanidade.

Amílcar Dei Chiaro Filho

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

OS SINAIS DOS TEMPOS

“Ao sair Jesus do templo, disse-lhe um dos seus discípulos: Olha, Mestre, que pedras e que edifícios! Disse-lhe Jesus: Vê estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra que Dão seja derribada.
“Estando ele sentado no Monte das Oliveiras, defronte do templo, perguntaram-lhe em particular Pedro, Tiago, João e André: Dize-nos quando sucederão estas coisas, e que sinal haverá quando elas estiverem para se cumprir?
Então Jesus começou a dizer-lhes: Vede que ninguém vos engane. Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu, e enganarão a muitos. Quando, porém, ouvirdes falar de guerras, e rumores de guerras, não vos assusteis: porque é necessário que assim aconteça mas não é ainda o fim. Pois se levantará nação contra nação, e reino contra reino. Haverá terremotos em vários lugares, e haverá fomes: estas coisas são o princípio das dores. Estais vós de sobreaviso; pois vos hão de entregar aos tribunais e sereis açoitados nas sinagogas, e haveis de comparecer diante dos reis e governadores por minha causa, para lhes servir de testemunho. Mas é necessário que primeiro o Evangelho seja pregado a todas as nações, E quando vos conduzirem para vos entregar, não vos preocupeis com o que haveis de dizer, mas falai o que vos for dado naquela hora, porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo. Um irmão entregará à morte a seu irmão e um pai a seu filho; e os filhos se levantarão contra seus pais e os farão morrer. Sereis também odiados de todos por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até o fim será salvo.
“Quando, porém, virdes a abominação da desolação estar onde não deve (quem lê entenda), então os que estiverem na Judéia fujam para os montes; o que se achar no eirado, não desça e nem entre para tirar as coisas de sua casa; e o que estiver no campo, não volte para tomar sua capa. Mas ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Rogai que não suceda isso no Inverno; porque aqueles dias serão de tribulação, tal qual nunca houve desde o princípio da criação por Deus feita até agora, nem haverá jamais. E se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém seria salvo; mas por causa dos eleitos, que ele escolheu, os abreviou.
“Então se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo acolá! não acrediteis; levantar-se-ão falsos Cristos e falsos profetas, e farão milagres e prodígios, para enganar os eleitos se possível fôra. Estais vós de sobreaviso; de antemão vos tenho dito todas as coisas.
“Mas naqueles dias, depois daquela atribulação, o Sol escurecerá, a Lua não dará mais claridade, as estrelas cairão do céu e as potestades celestes serão abaladas.
Então se há de ver o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. E Ele enviará os anjos e ajuntará os seus eleitos dos quatro ventos, da extremidade da Terra à extremidade do céu.”
(Marcos, XIII, 1-27.)

Este trecho do Evangelho, provavelmente da última fase da vida de Jesus, é digno do nosso estudo e atenção.
Já o Mestre havia lançado o seu libelo contra os escribas e fariseus, os cegos guias de cegos, que irigiam os sepulcros dos profetas a quem seus pais haviam trucidado; aos traficantes das graças de Deus; aos vendilhões do templo. Ele já havia lamentado Jerusalém, que matava os profetas e enviados que transpunham suas portas quando, ao chamarem os discípulos sua atenção para as grandezas do templo, aproveitou-se da oportunidade para proferir, perante eles, o seu Sermão Profético como o chamam os Evangelhos.
Foi nessa ocasião que Jesus falou aos discípulos dos tempos que haviam de chegar e das ocorrências que se desenrolariam no mundo, até a iniciação de uma nova fase de vida para a Humanidade;
Sem outro exórdio que pudesse desviar a atenção dos admiráveis painéis por meio dos quais mostrou aos que o cercavam os fatos que se desenrolariam depois da sua passagem para a Espiritualidade, começou Jesus a falar do grande e suntuoso Templo de Jerusalém, do qual não ficaria pedra sobre pedra.
Era este o final maior dos acontecimentos que estavam próximos, foi justamente o que se realizou.
Do Templo de Jerusalém não ficou pedra sobre pedra, como também não ficará pedra sobre pedra de todos os monumentos que o orgulho, a vaidade e o egoísmo humano edificaram em nome de Deus!
Grande era a missão que cumpria ao Mestre levar a termo, e de retirada do Templo onde Ele havia apostrofado os sacerdotes, o Mestre seguira para o Monte das Oliveiras, sítio predileto onde, por várias vezes, se tinha reunido com seus discípulos, mostrando-lhes do alto do pico, cuja vista abrangia extensos horizontes, as belezas da Natureza matizada pelos reflexos do Sol.
Sentado na relva, melancólico e pensativo, começou então o Mestre a responder às perguntas daqueles que deveriam apostolar a sua causa, salientando os fatos que assinalariam o fim dos tempos do mundo sacerdotal, que precederia o início do mundo espiritual, ou seja da fase iniciativa do Reinado do Espírito sobre a matéria. Tomando como símbolo das grandezas humanas o Templo de Jerusalém, Jesus fez ver a seus discípulos que todas essas pompas luxuosas, que adormecem o Espírito e aniquilam o sentimento, distraem os homens de seus deveres para com Deus e o próximo, impedindo as almas de cumprirem seus deveres evangélicos.
O Mestre já havia também predito os grandes martírios que teria de sofrer, predições que se realizaram à letra; mas que tudo isso era preciso que se cumprisse; e que Ele voltaria ao mundo no tempo da restauração final da sua Palavra. Mas, antes disso, o mundo teria de passar por grandes transformações e a Humanidade por grandes sofrimentos.
Perguntando-lhe os discípulos a época em que ocorreriam esses acontecimentos, Jesus começou por ensiná-los a raciocinar, ensinando-lhes a discernir os homens e os Espíritos, a fim de poderem distinguir os tempos preditos.
“Cuidado! Ninguém vos engane, porque muitos virão em meu nome dizendo: eu sou o Cristo, e enganarão a muitos.
“Se alguém vos disser: eis aqui o Cristo ou ei-lo ali, não acrediteis; porque hão de levantar-se falsos Cristos e falsos profetas e mostrarão tais sinais e milagres que, se fora possível, enganariam até os escolhidos.

“Se disserem que o Cristo está no deserto, não saiais; se disserem que está no interior da casa não acrediteis porque assim como o relâmpago sai do Oriente para o Ocidente, assim será a vinda do Filho do Homem.”
Com esta exposição Jesus fez ver que a sua vinda não seria como daquela vez, em que fora crucificado; viria em Espírito, presidindo o grande movimento de espiritualização do mundo, tal como se está verificando sob os auspícios do Espiritismo! Frisou bem os mistificadores, que apresentariam “Cristo” fechados em câmaras e no interior das casas, assim como os que aparecem nos desertos, arrebatam multidões curiosas e constituem redutos de fanáticos.
E foi só depois de bem exaltar o sentimento e o raciocínio de seus discípulos, que o Filho de Deus julgou acertado narrar as dores por que o mundo teria de passar e as lutas que seus seguidores teriam de sustentar na obra da regeneração humana.
“Haveis, primeiramente, de ouvir rumores de guerra, mas não vos assusteis, porque não é ainda nessa ocasião que virá o fim, pois levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá fome e terremotos em vários lugares; mas tudo isso é o principio das dores.”
Esta predição está realizada e continua a se verificar; as guerras que têm assolado ultimamente o planeta não deixam dúvida sobre a realização da previsão. Os ataques contra a palavra apostólica, levando os divulgadores da aos tribunais, têm continuado desde os primeiros tempos do Cristianismo.
Desde os tempos de Nero, prosseguindo sempre, estendendo-se à alçada da Igreja de Roma, que entregava os “hereges” ao braço forte para lhes serem infligidos os maiores suplícios, a história dos inquisidores e da Inquisição, compondo páginas de sangue na História da Humanidade, deixam ver claramente o cumprimento também desse trecho do Evangelho.
A Grande Guerra de 1914-18, que fez mais de 30 milhões de vítimas; a grande peste que levou outras tantas ou ainda mais; as lutas que fervilham em todo o mundo não são mais que os sinais característicos, preditos pelo Nazareno, do fim dos tempos em que o mundo terá de passar por uma completa reforma no que se refere à moral.
Jesus acrescentou que, em virtude da iniqüidade a que os homens se entregariam, o amor se esfriaria e não haveria mais caridade; os afetos se extinguiriam e o caráter se abastardaria.
É o que estamos vendo por toda a parte! O luxo, as pompas, a ganância do ouro, o desejo da multiplicação de fortunas; o egoísmo endeusado; e, de outro lado, o desprezo para com os necessitados, para com os enfermos e abandonados!
Em vez de hospitais, erguem-se igrejas; em vez de casas de instrução, constroem-se cadeias; em vez de luz, a Humanidade veste-se de trevas!
Um dos mais característicos “sinais dos tempos” é a Pregação do Evangelho, como está escrito:
“Este Evangelho será pregado pelo mundo todo; então virá o fim.” Graças ao Espiritismo, ou seja, aos Espíritos da Verdade, este convite para seguir a Cristo se está realizando como um aviso amoroso da vinda, em Espírito, de Jesus, que restabelecerá na Terra o Reinado do Espírito.
A pregação do Evangelho é o machado posto à raiz das árvores infrutíferas; é a exortação à regeneração dos costumes para a espiritualização dos homens.
Outro característico igual é: “a abominação da desolação predita pelo Profeta Daniel, que se havia de verificar no lugar santo.”
É fato bem patente aos olhos de todos: o que os homens chamam lugar santo são as igrejas; e não há quem conteste a desolação que lavra nas igrejas!
Que é atualmente religião? Nada. O que é uma igreja? Um lugar abominável, onde se pode encontrar tudo menos amor a Deus, caridade, amor ao próximo,respeito, moral!
A Igreja atual é um ponto de diversão como qualquer outro, é um botequim de festas onde se mercadejam frangos e leitões.
Que é a religião do povo, hoje?
Onde está a fé, a Esperança, a Caridade, que unem, sustentam, amparam e elevam a massa popular? O que há são tráficos de missas, tráficos de batismos, tráficos de casamentos, tráficos de nascimentos e tráficos de mortos! Tudo é mercadoria, tudo se vende na religião do povo, tudo se mercadeja nas igrejas dessa Babilônia!
A Imortalidade, a comunhão das almas e dos santos, desapareceu do Credo; o Diabo venceu a Divindade: o Inferno tragou o Céu!
Não há crença, não há fé; para a massa do povo, tudo termina com a morte; a Igreja proclamou: pulvis est, et in pulveris reverteris, “és pó e ao pó tornarás”, spiritus qui vales non redit. “Os mortos não retornam”. O túmulo é então, a última palavra da vida! Eis o sinal certo do fim dos tempos; eis a desolação e a abominação, predita por Jesus, imperando no “lugar santo”!
As últimas predições do Mestre, exaradas no referido capítulo, versam sobre os fenômenos físicos, os sinais no céu. Todos dizem: “o tempo está mudado”. De fato, o tempo está mudado e essa mudança foi predita por Jesus há quase dois mil anos, para assinalar o fim do Mundo da Carne e o advento do Mundo do Espírito.
Finalmente, diz o texto: “As estrelas cairão do céu e as potestades serão abaladas.”
Essas Estrelas mais não são que os Espíritos Superiores, que viriam tomar parte nessa restauração, mesmo porque só eles serão capazes de abalar as potestades, os governos civis e religiosos, da Terra e do Espaço, que conduziram os homens à degradação em que se acham!
Eles vêm ajuntar os escolhidos dos quatro ventos e chamá-los a formar esseReino desejado, que pedimos cotidianamente ao Senhor no Pai Nosso.
Vamos concluir, aconselhando o leitor a tomar um lugar nas fileiras do Cristo, porque só assim ficará resguardado dos males futuros que farão ruir o mundo velho com suas paixões, para, removidos os escombros, erguer-se em cada alma uma cátedra onde o Espírito da Verdade possa pontificar!

sábado, 17 de outubro de 2009

OS DEZ MANDAMENTOS

Sem dúvida, o famoso decálogo atribuído a Moisés, segundo Mario Cavalcantti de Mello, em seu livro "Da Bíblia aos Nossos Dias" foi tirado dos Sete Preceitos do Bem Viver pregado pelos sábios da época, e que Moisés teria desdobrado.
Contudo, estranhamento, na Vulgata Latina de São Jerônimo, o que consta no livro de Êxodos, no capítulo XX, são apenas nove mandamentos. Senão, vejamos:
1 - Ego sum te Deum... Traduzindo: Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou das terras do Egito, da casa das servidões. Não terás outros deuses ante mim e não farás para ti ícones de esculturas que tenha semelhanças do que haja sobre os céus, nem em baixo, na Terra, nem sob a terra, nas águas. E não curvarás aos mesmos, nem as servirás, porque sou teu Deus, Senhor, que conheço as maldades dos pais transmitidos aos filhos até a terceira e quarta gerações dos que aborrecem o Senhor. E transmito misericórdia aos quantos que me amam e guardam meu mandamento.
2 - Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão porque Ele não terá como inocente o que assim o fizer.
3 - Lembra-te do dia de sabat para que o santifiques. Que seis dias trabalharás para realizares tua obra, mas, no sétimo dia, que é o sabat dedicado ao Senhor teu Deus, não realizarás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem teu servo ou tua serva, nem o animal, muito menos o estranho que esteja dentro de tua porta, porque em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra e o mar e tudo o que nela exista, que, ao sétimo descansou; assim, abençoa o sabat.
4 - Honra a teu pai e à tua mãe, para que vivas teus dias na Terra que o Senhor teu Deus de concede.
5 - Não matarás.
6 - Não cometerás adultério.
7 - Não furtarás.
8 - Não cometerás falso testemunho contra teu próximo.
9 - Não cobiçarás a casa do teu próximo nem a mulher do teu próximo, nem seu servo, muito menos sua serva ou seu gado, nem seu jumento nem nada que seja do teu próximo.
E ponto final.
Cadê o décimo mandamento?
Segundo Kardec, esta seria a primeira revelação, evidentemente, se levarmos em conta, apenas, a civilização ocidental.
De fato, historicamente, pode-se admitir que, Moisés, ao impingir a taboa dos mandamentos de Deus, visava, exclusivamente, ao bom comportamento da civilização a ele afeita.
Não há, sem dúvida, nenhuma crítica às recomendações feitas, como se fora princípio ditado por Deus e, até mesmo, admitindo-se que Moisés tenha sido orientado por alguma Entidade espiritual cujo objetivo fosse o de disciplinar os costumes da sociedade daquela época.
O que não se pode admitir é que tenha sido Deus - o Supremo Arquiteto do Universo, segundo os maçons e, até mesmo, o Agente Supremo, responsável pela existência cósmica - o porta-voz de tais ditames que, segundo Mário Cavalcanti, seria mera cópia e desdobramento dos aludidos sete preceitos do bem viver que existiam à época.
Todavia, não se pode ignorar que, muito antes da civilização semita, já os orientais possuíam ensinamentos correlatos e que, se não traduziram como mandamentos divinos, o tinham como preceitos do bom viver, que datam desde Kung Fu Tséu (Confúcio) até os ensinamentos taoístas de Láu Tséu, complementados por Shin-Tó, o filósofo da civilização chinesa.
Então, o que se encontra em Moisés já existia, anteriormente, em civilizações mais antigas e quiçá, do próprio Egito, com a lenda de Osíris - que narro em meu livro Lendas de Osíris - onde os ensinamentos ancestrais à civilização árabe e judaica, já pregava os mesmos princípios, sob outras formas e recomendações compatíveis com o povo da sua época.
De fato, para Kardec, os mandamentos de Moisés poderiam ser o primeiro fundamento da era cristã sob a qual se estabeleceu a sociedade européia em que nasceu a codificação espírita. Não se discute tal fato porque a Bíblia era tida, àquela época, como livro sagrado e ninguém ousava discutir tal prerrogativa mas, sem dúvida, a História nos dá uma versão mais ampla dos conhecimentos humanos e, atualmente, não se pode restringir, como fazem alguns países super desenvolvidos, a existência terrena à nossa restrita sociedade de existência terrena.
Não se nega o valor do decálogo de nove itens estabelecido por Moisés a seu povo, todavia, não mais se pode dar a ele o cunho de revelação ante as evidências dos fatos.
Se Kardec errou, lógico, o fez com seus melhores propósitos e não será este fato que tornará seu trabalho inócuo e desprezível.
Kardec teve que conviver com os preceitos da sua época para fazer com que a doutrina que apresentava não fosse repudiada e tivesse aceitação pelos seus contemporâneos, talvez, por isso, tenha se fixado na base do cristianismo para instituir os fundamentos do Espiritismo.
Sem dúvida, se tivesse vivido na Índia, adotaria o Bagavad Ghita como fundamento, ou, talvez, nos outros países asiáticos, adotasse o Budismo como base, mas, soia ser importante que ele ditasse sua doutrina para a civilização européia que tinha na França o centro da cultura e do desenvolvimento renascentista daquela época.
Teria errado, sem dúvida, se ousasse basear sua codificação por princípios incompatíveis com a verdadeira moral da evolução, ou correlatos com os desmandos da sociedade orgíaca que dominava os antros da sedição.
Mas sua doutrina, apesar de adulterada por correntes hodiernas que visam à mutilação de seus fundamentos com imposição de princípios incompatíveis com a codificação, resiste ao tempo e às intempéries porque suas bases, embora discutíveis, se estabelecem dentro,do mais rígido princípio da evolução universal.

Carlos de Brito Imbassahy

terça-feira, 13 de outubro de 2009

SEM VACILAÇÕES

EM MEMÓRIA AOS 83 ANOS DE DESENCARNE DE MANOEL VIANNA DE CARVALHO

Ante a volúpia com que os aficionados do niilismo moderno proclamam a morte da fé, do conhecimento religioso e a desnecessidade da comunhão espiritual entre a criatura e o Criador, já que para eles todo o Universo resulta de leis mecânicas e inconscientes, aglutinadas e desarticuladas por fluxos e refluxos da casualidade, a que atribuem recursos divinatórios que tomam à própria Divindade, convém recordar o exemplo multissecular, ocorrido com São Jerônimo, e que pode servir para sensatas e oportunas reflexões.
Recolhido à intimidade da sua cela, no monastério em Belém, o monge concluíra a tradução das Escrituras para o Latim e se encontrava traçando os Comentários adicionais, quando foi informado de que Alarico I, rei dos Visigodos, invadira Roma, saqueando-a depois de haver assolado o Oriente, e prosseguia investindo cruel contra o mundo cristão, deixando após a passagem das suas hordas a destruição, a morte, e reduzindo cidades inteiras a amontoados de ruínas e cinzas...
Era, então, o ano de 410 da era cristã.
Desanimado, acreditando desnecessário o seu imenso esforço e nobre trabalho, Jerônimo escreveu: "Que fica, se Roma passa?! "
Logo depois, Alarico morreu em Cosença e ficaram as trevas de uma noite intérmina de 700 anos de amarguras, inquietudes, desaires...
Embora a dolorosa desilusão do pai da Vulgata Latina, a Humanidade se soergueu da Idade Média e os Descobrimentos alargaram os limites da Terra, iluminados pelo Conhecimento que, com as suas luzes, acendeu as claras antemanhãs dos séculos porvindouros.
Epidemias lamentáveis que ameaçaram não poucas vezes a Civilização foram expulsas e vencidas; a ignorância paulatinamente tem sido rechaçada; a criminalidade não encontra amparo legal nos diversos países; "o direito divino dos reis" não mais foi considerado; "os direitos do homem" se impuseram; a criança e a mulher passaram a ser respeitadas e os animais hoje encontram defensores em toda a parte: a guerra é repelida com estoicidade e o mundo respira esperança em todas as frentes, anunciando-se um período de paz que não tardará... Organismos Internacionais estudam e defendem as liberdades dos povos minoritários, estabelecendo acordos de entendimento e justiça: fiscalizam os crimes de genocídio e outros, e buscam impedi-los; interferem contra o tráfico de entorpecentes e de criaturas humanas, e cuidam de fazer-se respeitar...
Os direitos do chamado "terceiro mundo" são examinados em igualdade de condições, e, embora os nimbos borrascosos que eriçam as cristas das águas encapeladas dos oceanos da Civilização, aqueles direitos exigem respeito, convocando, quando necessário, a opinião mundial que se sensibiliza e arregimenta valores em ação socorrista, através de Órgãos específicos, tais a ONU, a UNESCO, a Cruz Vermelha Internacional, ou por meio de tratados que enobrecem o gênero humano, qual o de Genebra que cuida dos prisioneiros de guerra...
... Indubitavelmente muitos crimes são ainda cometidos contra a Humanidade, à luz do beneplácito de governos desalmados, ou à socapa, nas sombras de hediondos conciliábulos.
Há, sem dúvida, muita anarquia, muita libertinagem e ondas de pavor crescem ameaçadoras, em todos os quadrantes...
O homem, no entanto, continua libertando-se do instinto para levantar-se na inteligência e alcançar a angelitude.
A princípio vagarosamente, depois com mais celeridade, podem observar-se os resultados do investimento "homem" e as belas conquistas do "respeito pela Vida".
Esse mesmo homem já foi além da Terra. conheceu a constituição do seu satélite e estabelece no momento a ponte para outros e audaciosos vôos por todo o Sistema Solar.
As matemáticas puras e aplicadas, a Física, a Química, a Biologia, as Ciências Psíquicas, a Cirurgia e a Cibernética assinalam recordes e todos os conhecimentos sofreram graves revoluções nos conceitos passados ante o impacto desbravador das conquistas recentes.
Todos eles, no entanto, ao invés de negarem Deus e matarem a fé, mais os atestam, por abrirem perspectivas então mais grandiosas, exigindo imediata revisão filosófica, porque reduzindo todas as manifestações no campo da forma a ondas, vibrações, mentes e energia.
O espírito humano recebe embate cada hora mais violento, enquanto o homem prossegue intimorato e sonhador no rumo do Infinito e da Eternidade.
Fita as noites estreladas com interrogações não menos pungentes do que as fazia seus antepassados primitivos, na alvorada dos tempos, e diante da morte formula inquietantes quesitos que lhe nublam o semblante de angústia e de amargas frustrações.
"Uma religião científica" - proclamam sociólogos, psicólogos, cientistas.
"Uma religião da ciência, uma religião da filosofia, uma religião da razão" - afirmam com ênfase os novos partidários do Conhecimento, a fim de atender-lhes a sede científica de investigação.
Conferindo, porém, os resultados tíbios a que chegaram os partidários da "religião da Humanidade" ou Filosofia Positivista, elaborada por Augusto Comte, que não resistiu à revolução tecnológica, somos convidados a considerar a Religião Espírita que há mais de cem anos estabelece as pontes de luz entre ciência e fé, razão e fé, técnica e fé.
O Espiritismo tem fundos vínculos com todos os ramos do Conhecimento, por tratar da "origem, destino dos Espíritos e as relações existentes entre o Mundo Espiritual e o Mundo Corporal", como bem o definiu Allan Kardec, assinalando que "se prende a todos os ramos da Filosofia, da Metafísica, da Psicologia e da Moral".
Elucida a velha problemática da Filosofia e clarifica muitas das afirmações claudicantes da Antropologia, da Paleontologia, da Eugenia, da Embriogenia e, "caminhando ao lado da Ciência no campo da matéria, admite todas as verdades que a Ciência comprova; mas, não se detém onde esta última pára: prossegue nas suas pesquisas pelo campo da Espiritualidade."
Longe de se constituir num corpo de Doutrina estática, parasitária, reveste-se de conceitos dinâmicos e progressistas, evoluindo com o próprio Conhecimento, assentando as bases das suas afirmações nos pontos capitais e irreversíveis: Deus, imortalidade, comunicabilidade dos Espíritos, reencarnação e pluralidade dos mundos habitados, podendo enfrentar sofismas, "modernismos" e descobertas, pois que "avançando com o progresso jamais será ultrapassado (o Espiritismo) porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro acerca de um ponto, ele se modificará nesse ponto, se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará", como esclareceu com profundo senso racional o incomparável Codificador, ficando o verdadeiro espírita com o fato científico, sem qualquer dano para a convicção, assentada igualmente em f atos confirmados também pela Ciência.
Por tais razões, não diremos, ante as dimensões do momento científico, que a fé passará, e não concordamos com os apressados pessimistas dos dias modernos que assim o crêem ou fazem crer. Antes, pelo contrário, a palavra de Jesus, clara e forte, roteiro da maioria das Nações da Terra, hoje se avulta e se afirma, graças à comunicabilidade dos Espíritos que a confirmam em todo lugar, inspirando a sociedade hodierna a avançar, proclamando, ao mesmo tempo, a Era venturosa da Humanidade feliz que logo advirá.

Vianna de Carvalho
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão da noite de 19/1/70, no Centro Espírita "Caminho da Redenção", em Salvador, Bahia)
Fonte: Reformador - julho/1970 - pg. 145

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ANIMAIS EM SOFRIMENTO


Se os animais estão isentos da lei de causa e efeito, em suas motivações profundas, já que não têm culpas a expiar, de que maneira se lhes justificar os sacrifícios e aflições?
Assunto aparentemente relacionado com injustiça, mas a lógica nos deve orientar os passos na solução do problema.
Imperioso interpretar a dor por mais altos padrões de entendimento.
Ninguém sofre, de um modo ou de outro, tão-somente para resgatar o preço de alguma coisa. Sofre-se também angariando os recursos precisos para obtê-la.
Assim é que o animal atravessa longas eras de prova a fim de domesticar-se, tanto quanto o homem atravessa outras tantas longas eras para instruir-se.
Que mal terá praticado o aprendiz a fim de submeter-se aos constrangimentos da escola?
E acaso conseguirá ele diplomar-se em conhecimento superior se foge às penas edificantes da disciplina?
Espírito algum obtém elevação ou cultura por osmose, mas sim através de trabalho paciente e intransferível.
O animal igualmente para atingir a auréola da razão deve conhecer benemérita e comprida fieira de experiências que terminarão por integrá-la na posse definitiva do raciocínio.
Compreendamos, desse modo, que o sofrimento é ingrediente inalienável no prato do progresso.
Todo ser criado simples e ignorante é compelido a lutar pela conquista da razão, e atingindo a razão, entre os homens, é compelido igualmente a lutar a fim de burilar-se devidamente.
O animal se esforça para obter as próprias percepções e estabelecê-las.
O homem se esforça avançando da inteligência para a sublimação.
Dor física no animal é passaporte para mais amplos recursos nos domínios da evolução.
Dor física, acrescida de dor moral no homem, é fixação de responsabilidade em trânsito para a Vida Maior.
Certifiquemo-nos, porém, de que toda criatura caminha para o reino da angelitude, e que, investindo-se na posição de espírito sublime, não mais conhece a dor, porquanto o amor ser-lhe-á sol no coração dissipando todas as sombras da vida ao toque de sua própria luz.

Emmanuel
Do livro Aulas da Vida. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

ESSAS OUTRAS CRIANÇAS

Quando abraças teu filho, no conforto doméstico, fita essas outras crianças que jornadeiam sem lar.
Dispões de alimento abundante para que teu filho se mantenha em linha de robustez.
Essas outras crianças, porém, caminham desnorteadas, aguardando os restos da mesa que lhes atira, com displicência, findo o repasto.
Escolhes a roupas nobre e limpa de que teu filho se vestirá, conforme a estação.
Todavia, essas outras crianças tremem de frio, recobertas de andrajos.
Defendes teu filho contra a intempérie, sob o teto acolhedor, sustentando-o à feição de jóia no escrínio.
Contudo, essas outras crianças cochilam estremunhadas na via pública quando não se distendem no espaço asfixiante do esgoto.
Abres ao olhar deslumbrado de teu filho, os tesouros da escola.
E essas outras crianças suspiram debalde pela luz do alfabeto, acabando, muita vez, encerradas no cubículo das prisões, à face da ignorância que lhes cega a existência.
Conduzes teu filho a exame de pediatras distintos sempre que entremostre leve dor de cabeça.
Entretanto, essas outras crianças minadas por moléstias atrozes, agonizam em leitos de pedra, sem que mão amiga as socorra.
Ofereces aos sentidos de teu filho a festa permanente das sugestões felizes, através da educação incessante.
No entanto, essas outras crianças se agitam em sombra ou desespero e ajuda-as quanto possa!
Afaga assim, teu filho no trono familiar, mas desce ao pátio da provação onde essas outras crianças se agitam em sombra ou desespero e ajuda-as, quanto possas!
Quem serve no amor de Cristo sabe que a boa palavra e o gesto de carinho, o pedaço de pão e a peça de vestuário, o frasco de remédio e a xícara de leito operam maravilhas.
Proclamas a cada passa que esperas confiante o esplendor do futuro mas, enquanto essas outras crianças chorarem desamparadas, clamaremos em vão pelo mundo melhor.

Emmanuel
Do livro Mãe. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

AUTO- DE- FÉ EM BARCELONA



O QUE FOI O "AUTO- DE- FÉ DE BARCELONA "?
O livreiro Maurício Lachâtre, estabelecido em Barcelona, foi um grande propagandista do Espiritismo na Espanha e havia encomendado trezentos volumes de diversos títulos espíritas a Allan Kardec.
O material chegou à Espanha através de tramitação legal, com impostos e taxas devidamente pagos por Kardec e com a documentação correta.
O destinatário pagou os direitos de entrada dos volumes, mas antes que os mesmos fossem entregues, uma relação dos títulos foi entregue ao bispo de Barcelona, pois, a liberação de livros e ou sua censura, competia à autoridade eclesiástica. O bispo tomando conhecimento da natureza dos livros ordenou que fossem apreendidos e queimados em praça pública pela mão do carrasco.
Os livros deveriam em tal situação ser devolvidos ao remetente em seu país de origem -a França. Contudo tal não aconteceu e o espetáculo- só assim pode-se classificar tal ato de intolerância e intransigência- foi marcado para o dia 9 de outubro de 1861. Naquela data, às 10:30 horas, os volumes foram queimados como se fossem réus da inquisição. Alguns assistentes revoltados gritavam :"Abaixo a inquisição! ".
Contudo, essa atitude intransigente contribuiu enormemente para a propaganda da doutrina.
A perseguição prosseguiu, dissimulada, mas acirradamente, por muito tempo. O clero nunca escondeu seu desagrado com relação à mensagem espírita.
Atualmente, a atitude da Igreja Católica, através dos esforços ecumênicos do Papa João Paulo II e também em função de comissões enviadas pelo Vaticano, para observação de fenômenos paranormais e de Transcomunicação Instrumental, vem reconhecendo, através do seu Novo Catecismo, a possibilidade de comunicação com as almas dos "mortos" e até permite, em alguns casos e com reservas, essas comunicações.

Entre os volumes queimados estavam :
Exemplares da Revue Spirite;
"O Livro dos Espíritos", Allan Kardec;
"O Livro dos Médiuns", Allan Kardec;
"O que é o Espiritismo", Allan Kardec;
"Fragmento de uma Sonata", ditado pelo Espírito Mozart;
"Carta de um Católico sobre o Espiritismo", Dr. Grand;
"A História de Joana D'Arc", médium Mlle. Ermance Dufaux, Autora Joana D'Arc;
"A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta", Barão de Guldenstubbé;

REPERCUSSÃO
Extenso relato do evento, realizado na mesma esplanada onde eram executados os criminosos condenados à morte, foi publicado no periódico barcelonense "La Corona", que se manifestou contra tal ato.
Os principais jornais da Espanha deram conta minuciosa do fato, que os órgão da imprensa liberal do país muito justamente profligaram(1). É de notar-se que na França os periódicos liberais se limitaram a mencionar o fato sem comentários.
O acontecimento deu ensejo a muitas comunicações por parte dos Espíritos. Em 19 de outubro Kardec , quando retornou de Bordéus, recebeu a seguinte comunicação :
"Fazia-se mister alguma coisa que chocasse com violência certos Espíritos encarnados, para que se decidissem a ocupar-se com essa grande doutrina, que há de regenerar o mundo. Nada, para isto, se faz inutilmente na Terra e nós que inspiramos o auto-de-fé em Barcelona, bem sabíamos que, procedendo assim, forçávamos um grande passo para a frente. Esse fato brutal, inaudito nos temos atuais, se consumou tendo por fim chamar a atenção dos jornalistas que se mantinham indiferentes diante da agitação profunda que abalava as cidades e os centros espíritas. Eles deixavam que falassem e fizessem o que bem entendessem; mas, obstinavam-se em passar por surdos e respondiam com o mutismo ao desejo de propaganda dos adeptos do Espiritismo. De bom ou mau grado, hoje falam dele; uns comprovando o histórico do fato de Barcelona; outros, desmentindo-o, ensejaram uma polêmica que dará volta ao mundo, de grande proveito para o Espiritismo. Essa a razão por que a retaguarda da Inquisição fez hoje o seu último auto-de-fé. É assim que o quisemos."
assinado Um Espírito.
(1)profligar-lançar por terra; procurar destruir com argumentos; combater com palavras,.

PALAVRAS DE KARDEC
Diante desse último fato, Allan Kardec, pela Revista Espírita que já tinha assinantes em quase todo o mundo, proclamou: " Espíritas de todos os países! Não esqueçais a data de 9 de outubro de 1861. Será marcada nos anais do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa e não de luta, porque é o penhor de vosso próximo triunfo."

KADEC CONSULTA A ESPIRITUALIDADE SOBRE OS EVENTOS DE BARCELONA.
(Em minha Casa – Médium Sr. ...)
( 21 de setembro de 1861).
A pedido do Sr. Lachâtre, então estabelecido em Barcelona, eu lhe expedira uma quantidade de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, as coleções da Revista Espírita, e diversas obras e brochuras espíritas, formando um total em torno de 300 volumes. A expedição fora feita regularmente, pelo seu correspondente em Paris, numa caixa contendo outras mercadorias e sem a menor infração à legalidade. Na chegada dos livros, se fez o destinatário pagar os direitos de entrada, mas, antes de libera-los, deveu-se submetê-los à apreciação do Bispo, a autoridade eclesiástica sendo, nesse país, a polícia das livrarias. Este estava então em Madrid; em seu retorno, sobre o relatório que disso lhe foi feito, ordenou que as ditas obras fossem apreendidas e queimadas em praça pública, pela mão do carrasco. A execução da sentença foi fixada para 9 de Outubro de 1861.
Se se tivesse procurado introduzir essas obras por contrabando, a autoridade espanhola estaria em seu direito de dispor delas à sua maneira; mas, desde o instante que não houve fraude nem surpresa, o que provam os direitos voluntariamente pagos, era de rigorosa justiça que se lhes ordenasse a reexportação, se não lhe conviesse admiti-los. As reclamações feitas junto ao cônsul francês, em Barcelona, foram sem resultado. O Sr. Lachâtre me perguntou se era preciso submete-los à autoridade superior; o meu conselho foi o de deixar consumar-se esse ato arbitrário; todavia, acreditei dever tomar o do meu guia espiritual.
Pergunta (À Verdade). – Não ignorais, sem dúvida, o que vem de se passar em Barcelona a respeito das obras espíritas; teríeis a bondade de me dizer se convém perseguir a sua restituição?
Resposta. – Em direito podes reclamar essas obras, e delas, certamente, obtereis a restituição, dirigindo-se ao Ministro dos Assuntos Estrangeiros da França. Mas a minha opinião é que resultará desse auto-de-fé um bem maior que não produziria a leitura de alguns volumes. A perda material não é nada em comparação com a repercussão que semelhante fato dará à Doutrina. Compreendes o quanto uma perseguição tão ridícula e tão atrasada poderá fazer o Espiritismo progredir na Espanha. As idéias se difundirão com tanto mais rapidez, e as obras serão procuradas com tanto mais diligência, quanto as tiver queimado.(*) Tudo está bem.
Pergunta. – Convém, fazer, a esse respeito, um artigo no próximo número da Revista?
Resposta. – Espera o auto-de-fé.
(Obras Póstumas, página , FEB)
(*) grifo nosso.

...E A INTRANSIGÊNCIA AINDA NÃO FORA TOTALMENTE VENCIDA

De Barcelona enviaram a Kardec uma aquarela feita in loco por um artista distinto, representando a cena do auto-de-fé.
Kardec mandou fazer do quadro uma redução fotográfica. Um punhado de cinzas apanhado na fogueira, alguns fragmentos legíveis de folhas queimadas foram colocados em uma urna de cristal. Lamentavelmente, a intransigência que ainda perdurou na primeira metade do século XX, fez com os nazistas durante a 2a. Grande Guerra destruissem a urna.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

ESCLARECENDO DÚVIDAS

O Espiritismo, é a revelação prometida pelo Cristo de Deus para os séculos em que a Humanidade alcançasse um grau de assimilação mais elevado.
Os fenômenos psíquicos, tão velhos quanto o mundo, só atraíram atenção dos intelectuais, quando surgiram os ocorridos em Hidesville, em 1848.
Em 1857, após observá-los e catalogá-los com o mais meticuloso rigor científico, Allan Kardec lançou ao mundo o primeiro livro da Codificação dessa nova Revelação - "O Livro dos Espíritos", criando o vocábulo Espiritismo para designar essa Revelação, então, chamada e ainda conhecida em outros países pelo nome de Neo-Espiritualismo.
Difere o Espiritismo de todas as religiões conhecidas por demonstrar a lógica dos seus ensinos através de experiências científicas e por apresentar uma filosofia também baseada em experimentos e observações e documentada por uma legião de sábios de renome universal.
Religião científico-filosófica, confirmando os ensinamentos básicos de todas as religões, não pretende demolir as que a precederam, antes reconhece a necessidade da existência delas para grande parte da Humanidade, cuja evolução se processará lenta e inevitavelmente.
Doutrina religiosa, sem dogmas propriamente ditos, sem liturgia, sem símbolos, sem sacerdócio organizado, ao contrário de quase todas as demais religiões, não adota em suas reuniões e em suas práticas:
a) paramentos, ou quaisquer vestes especiais;
b) vinho ou qualquer bebida alcoólica;
c) incenso, mirra, fumo, ou substâncias outras que produzam fumaça;
d) altares, imagens, andores, velas e quaisquer objetos materiais como auxiliares de atração do público;
e) hinos ou cantos em línguas mortas ou exóticas, só os admitindo, na língua do país, exclusivalnente em reuniões festivas realvadas pela infância e pela juventude e em sessões ditas de efeitos físicos;
f) danças, procissões e atos análogos;
g) atender a interesses materiais terra-a-terra, rasteiros ou mundanos;
h) pagamento por toda e qualquer graça conseguida para o próximo;
i) talismãs, amuletos, orações miraculosas, bentinhos, escapulários ou quaisquer objetos e coisas semelhantes;
j) administração de sacramentos, concessão de indulgências, distribuição de títulos nobiliárquicos;
k) confecionar horóscopos, exercer a cartomancia, a quiromancia, a astromancia e outras "mancias";
l) rituais e encenações extravagantes de modo a impressionar o público;
m) fazer promessas e despachos, riscar cruzes e pontos, praticar, enfim, a longa série de atos materiais oriundos das velhas e primitivas concepções religiosas.

O fenômeno psíquico pode surgir em qualquer meio religioso ou irreligioso e seu aparecimento pode conduzir a criatura ao Espiritismo, mas a consolidação da crença, o conhecimento das leis que presidem os destinos do homem e a perfeita assimilação da Doutrina Espírita só se conseguem através do estudo das obras de Allan Kardec e das que lhes são subsidiárias.

Revista Espírita Allan Kardec

terça-feira, 6 de outubro de 2009

OS MORTOS ESTÃO DORMINDO?

A letra mata, mas o espírito vivifica (Paulo, 2Cor 3,6)

A maior ignorância é a que não sabe e crê saber, pois dá origem a todos os erros que cometemos com nossa inteligência. (Sócrates).

Introdução:
Não fosse trágico seria até hilariante, pois os que tomam tudo ao pé da letra, não se dão conta de que, muitas vezes, caem no ridículo. É o caso daqueles que acreditam que os mortos estão dormindo. Bibliólatras desse tipo não abrem mão da literalidade bíblica e, se os pedirmos, apontarão inúmeras passagens para corroborar a sua forma de interpretação. Via de regra, são pessoas que só lêem livro com o referendo de sua liderança religiosa, não sabem que: “quem ouve um só sino, nem mesmo poderá saber se ele está desafinado” (......) Cabe-nos, por compromisso com a verdade, demonstrar que pensam erradamente, entretanto nosso objetivo não é convertê-los, já que dificilmente abrirão mão do que pensam, mas explicar aos de mente aberta como deveriam ser interpretadas as passagens que falam sobre isso.

Textos base
No sentido que estamos a questionar, a palavra “dormiu” aparece, na Bíblia, 35 vezes [[1]], concentrando sua maioria no livro dos Reis (I e II) e no de Crônicas (II). Para evitar a repetição, citaremos apenas os seguintes exemplos:
1Rs 2,10: Depois Davi dormiu com seus pais, e foi sepultado na cidade de Davi.
1Rs 11,43: E Salomão dormiu com seus pais, e foi sepultado na cidade de Davi,...
1Rs 14,20: E o tempo que Jeroboão reinou foi vinte e dois anos. E dormiu com seus pais;...
1Rs 14,31: E Roboão dormiu com seus pais, e foi sepultado com eles na cidade de Davi...
1Rs 15,8: Abião dormiu com seus pais, e o sepultaram na cidade de Davi...

Se falássemos de alguém usando uma destas expressões: abotoou o paletó, apagou, bateu as botas, bateu a caçoleta, comeu capim pela raiz, desceu ao túmulo, desocupou o beco, disse adeus ao mundo, embarcou deste mundo para um melhor, empacotou, entregou a alma ao Diabo, entregou a rapadura, espichou a canela, esticou o cambito, fechou o paletó, fechou os olhos, foi para a cidade dos pés juntos, foi para a Cucuia, foi para o beleléu, passou desta para melhor, pifou, vestiu o paletó de madeira, vestiu o pijama de madeira, virou presunto, o que se entenderia? Iríamos tomá-las ao pé da letra ou entendê-las no sentido figurado? Sabemos que muitas palavras assumem significado diferente do sentido normal, para assumir um outro, quer pelo uso comum, quer por ter se tornado uma gíria, por isso devemos ter o cuidado de verificar qual é o seu verdadeiro sentido no texto. De igual modo vemos nessas passagens, em relação à palavra dormir, que não há outra maneira senão de interpretá-la como morrer, portanto, não quer dizer que alguém literalmente esteja dormindo.
Pesquisando essas passagens em outras Bíblias encontramos em lugar de dormiu o seguinte: repousou, morreu, adormeceu, desceu ao sepulcro, descansou, deitou-se e foi reunir-se, deixando claro que se trata apenas de expressões para designar mesmo a morte.
Por outro lado, se matematicamente, na multiplicação, a ordem dos fatores não altera o produto, aqui não vale essa proposição. A ordem é: primeiro dormiu, depois foi enterrado, onde forçosamente o significado de dormir é morrer, e não foi enterrado e dormiu, que muito bem poderia ser entendida como os bibliólatras entendem em relação à outra forma.

Passagens que contrariam esse entendimento
Quem examina a Bíblia, e não apenas lê, percebe que a idéia que os judeus faziam da vida após a morte era imprecisa. Pensavam que todos os mortos, bons e maus, iriam para o sheol (=hades ou inferno), lugar onde não teriam mais consciência, daí autores bíblicos dizerem:
“Farás maravilhas pelos mortos? As sombras se levantarão para te louvar? Falarão do teu amor nas sepulturas, e da tua felicidade no reino da morte? Conhecem tuas maravilhas na treva, e a tua justiça na terra do esquecimento?” (Sl 88,11-13).

“Os mortos já não louvam a Javé, nem os que descem ao lugar do silêncio” (Sl 115,17)

“Os vivos estão sabendo que devem morrer, mas os mortos não sabem nada, nem terão recompensa, porque a lembrança deles cairá no esquecimento. Seu amor, ódio e ciúme se acabam, e eles nunca mais participarão de nada que se faz debaixo do Sol. Tudo o que você puder fazer, faça-o enquanto tem forças, porque no mundo dos mortos, para onde você vai, não existe ação, nem pensamento, nem ciência, nem sabedoria” (Ecl 9, 5-6.10)

Entretanto, essa idéia vai sendo discutida nos textos, com isso se modifica aos poucos até que em Jesus, ela é elucidada definitivamente, já que, em se referindo a Abraão, Isaac e Jacó, ele afirma que Deus não é Deus de mortos, mas de vivos (Mt 22,31-32). Quem está vivo tem consciência, pensamento, sabedoria e existe ação, não é mesmo?
Nesse último livro, Eclesiástico, nós encontramos essas duas interessantes passagens:
“O que é o homem, e para que serve? Qual é o seu bem e qual é o seu mal? A duração de sua vida é de cem anos no máximo. Como gota no mar e grão na areia, tais são os seus poucos anos frente a um dia da eternidade. É por isso que o Senhor tem paciência com os homens, e derrama sobre eles a sua misericórdia. Ele vê e reconhece que o fim deles é miserável, e por isso multiplica para eles o seu perdão. A misericórdia do homem é para o seu próximo, porém a misericórdia do Senhor é para todos os seres vivos. Ele repreende, corrige, ensina e dirige, como o pastor conduz o seu rebanho. Ele tem compaixão dos que aceitam a correção, e dos que se esforçam para lhe cumprir os mandamentos”. (Ecl 18,7-18).

“É melhor a morte do que viver com amargura, e o descanso eterno vale mais do que doença crônica” (Ecl 30,17)

Como conciliar a idéia do inferno eterno com a primeira passagem? Pela segunda, poderemos concluir que o autor é um apologista ao suicídio para as pessoas amarguradas ou as com doença crônica? Assim fica claro que não podemos pegar tudo ao pé da letra e muito menos aceitar como revelação divina, já que é flagrante que muita coisa se trata de opinião do autor bíblico, certo?

Vamos agora analisar algumas passagens bíblicas que demonstram que os mortos não estão dormindo. Vejamos:
Em 1Sm 28,3-21 é narrado o episódio em que Saul vai a Endor, e através da pitonisa, põe-se a conversar com o espírito Samuel, que lhe prediz o fim como resultado da guerra com os filisteus, fato confirmado no livro Eclesiástico, onde é afirmado que Samuel mesmo depois de morto profetizou (Eclo 46,13-20). Até onde sabemos, isso não poderia acontecer se o espírito Samuel estivesse mesmo dormindo e não fosse consciente, no sentido que querem dar ao vocábulo.
Não podemos deixar de citar o célebre momento da transfiguração de Jesus no monte Tabor, em que conversa com os espíritos Moisés e Elias, na presença de Pedro, Tiago e João (Mt 17,1-9), numa evidente prova de consciência e atividade após a morte.
Segundo alguns teólogos, quem se manifesta são os demônios e não os espíritos das pessoas que aqui viveram. Se assim for Jesus foi enganado pelo demo? Por outro lado, onde estaria, na própria Bíblia, a regra clara e incontestável em que se diz que os homens depois de mortos estão sempre dormindo e os demônios sempre acordados?. Será que Deus permite aos demônios ficarem acordados influenciando o homem terreno ao mal, enquanto os espíritos daqueles que sempre praticaram o bem são obrigados a ficarem dormindo? Não existe algo de estranho nisso?
Há uma passagem interessante onde Jesus narra a situação depois da morte de um pobre e de um rico. Embora seja conhecida, vamos transcrevê-la:
"Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino, e dava banquete todos os dias. E um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, que estava caído à porta do rico. Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E ainda vinham os cachorros lamber-lhe as feridas. Aconteceu que o pobre morreu, e os anjos o levaram para junto de Abraão. Morreu também o rico, e foi enterrado. No inferno, em meio aos tormentos, o rico levantou os olhos, e viu de longe Abraão, com Lázaro a seu lado. Então o rico gritou: 'Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque este fogo me atormenta'. Mas Abraão respondeu: 'Lembre-se, filho: você recebeu seus bens durante a vida, enquanto Lázaro recebeu males. Agora, porém, ele encontra consolo aqui, e você é atormentado. Além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, nunca poderia passar daqui para junto de vocês, nem os daí poderiam atravessar até nós'. O rico insistiu: 'Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa de meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não acabem também eles vindo para este lugar de tormento'. Mas Abraão respondeu: 'Eles têm Moisés e os profetas: que os escutem!' O rico insistiu: 'Não, pai Abraão! Se um dos mortos for até eles, eles vão se converter'. Mas Abraão lhe disse: 'Se eles não escutam a Moisés e aos profetas, mesmo que um dos mortos ressuscite, eles não ficarão convencidos'." (Lucas 16,19-31).
Apesar de ser uma parábola, podemos perceber que o texto não diz que Abraão e Lázaro estavam inconscientes e dormindo, ao contrário, dá-se para concluir que estavam bem ativos, já que é narrado o diálogo que Abraão teve com o rico, que por sua vez, também não estava dormindo. Aos que tomam tudo ao pé da letra perguntaremos: Se o juízo final não aconteceu como explicar que Abraão esteja no céu? A passagem coloca que, imediatamente, após a morte tanto o rico como Lázaro tiveram seu destino, fatalmente delineado por um julgamento, mas qual julgamento se o dia do juízo final não havia chegado?
Em Jo 11,1-44, conta-se sobre a morte e ressurreição de Lázaro (não confundi-lo com o da passagem anterior), o amigo de Jesus, irmão de Marta e Maria. Supondo-se que Lázaro tenha verdadeiramente morrido, Jesus ao chamá-lo de volta não disse: “Lázaro, acorde e saia para fora”, assim a conclusão é que o amigo de Jesus estava consciente. Vale lembrar que se Lázaro estava realmente morto, então Jesus conversou com os mortos, não é mesmo?
É aceito por todos nós que Jesus morreu e após sua morte apareceu aos discípulos, fato que vem a comprovar que os mortos não ficam dormindo coisa nenhuma e muito menos permanecem na inconsciência, inclusive, sabemos que Jesus foi pregar o Evangelho “até aos mortos” (1Pe 4,6). Ora, isso só poderia acontecer se esses mortos para os quais Jesus pregou estavam conscientes. Por outro lado, é evidente que há possibilidade de conversão ao Evangelho após a morte senão Jesus teria pregado em vão.

Conclusão
Esperamos, caro leitor, que nosso estudo tenha possibilitado uma melhor compreensão de qual é a realidade após a morte. Obviamente, não estamos impondo nosso ponto de vista a ninguém, somente apresentamos as nossas conclusões tiradas do estudo da Bíblia. Gostaríamos de ressaltar, ainda, que para nós é importante não ficarmos presos às interpretações dogmáticas ou as equivocadas, que mais demonstram a precariedade de suas análises dos textos, sem a mais leve crítica, que sempre produzem interpretações completamente fora do contexto da narrativa.
Paulo da Silva Neto Sobrinho

Referências bibliográficas
A Bíblia Anotada. São Paulo: Mundo Cristão, 1994.
Bíblia Sagrada. 68ª ed. São Paulo: Ave Maria, 1989.
Bíblia Sagrada, Edição Barsa. Rio de Janeiro: Catholic Press, 1965.
Bíblia Sagrada, Edição Pastoral. 43ª imp. São Paulo: Paulus, 2001.
Bíblia Sagrada, 37a. ed. São Paulo: Paulinas, 1980.
Bíblia Sagrada, 5ª ed. Aparecida-SP: Santuário, 1984.
Bíblia Sagrada, 8ª ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1989.
Bíblia de Jerusalém, nova edição. São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia do Peregrino. São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia Sagrada, Sociedade Bíblica do Brasil, Brasília, DF, 1969.
Escrituras Sagradas, Tradução do Novo Mundo das. Cesário Lange, SP: STVBT, 1986.
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[1] Gn 47,30; 2Sm 7,12; 1Rs 1,21; 2,10; 11,43; 14,20.31; 15,8.24; 16,6.28; 22,40.50; 2Rs 8,24; 10,35; 13,9.13; 14,16.29; 15,7.22.38; 16,20; 20,21; 21,18; 24,6; 2Cr 9,31; 12,16; 14,1; 16,13; 21,1; 26,23; 27,9; 28,27; 32,33; 33,20.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

EM HOMENAGEM AOS 60 ANOS DO PACTO ÁUREO



Unificação


O serviço da unificação e nossas fileiras é urgente mas não apressado. Uma afirmativa parece destruir a outra. Mas não é assim. É urgente porque define o objetivo a que devemos todos visar; mas não apressado, porquanto não nos compete violentar consciência alguma.
Mantenhamos o propósito de irmanar, aproximar, confraternizar e compreender, e, se possível, estabeleçamos em cada lugar, onde o nome do Espiritismo apareça por legenda de luz, um grupo de estudo, ainda que reduzido, da Obra Kardequiana, à luz do Cristo de Deus.
Nós que nos empenhamos carinhosamente a todos os tipos de realização respeitável que os nossos princípios nos oferecem, não podemos esquecer o trabalho do raciocínio claro para que a vida se nos povoe de estradas menos sombrias. Comparemos a nossa Doutrina Redentora a uma cidade metropolitana, com todas as exigências de conforto e progresso, paz e ordem. Indispensável a diligência no pão e no vestuário, na moradia e na defesa de todos; entretanto, não se pode olvidar o problema da luz. A luz foi sempre uma preocupação do homem, desde a hora da furna primeira. Antes de tudo, o fogo obtido por atrito, a lareira doméstica, a tocha, os lumes vinculados às resinas, a candeia e, nos tempos modernos, a força elétrica transformada em clarão.
A Doutrina Espírita possui os seus aspectos essenciais em configuração tríplice. Que ninguém seja cerceado em seus anseios de construção e produção. Quem se afeiçoe à ciência que a cultive em sua dignidade, quem se devote à filosofia que lhe engrandeça os postulados e quem se consagre à religião que lhe divinize as aspirações, mas que a base kardequiana permaneça em tudo e todos, para que não venhamos a perder o equilíbrio sobre os alicerces e que se nos levanta a organização.
Nenhuma hostilidade recíproca, nenhum desapreço a quem quer que seja. Acontece, porém, que temos necessidade de preservar os fundamentos espíritas, honrá-los e sublimá-los, senão acabaremos estranhos uns aos outros, ou então cadaverizados em arregimentações que nos mutilarão os melhores anseios, convertendo-nos o movimento de libertação numa seita estanque, encarcerada em novas interpretações e teologias, que nos acomodariam nas conveniências do plano inferior e nos afastariam da Verdade.
Allan Kardec, nos estudos, nas cogitações, nas atividades, nas obras, a fim de que a nossa fé não faça hipnose, pela qual o domínio da sombra se estabelece sobre as mentes mais fracas, acorrentando-as a séculos de ilusão e sofrimento.
Libertação da palavra divina é desentranhar o ensinamento do Cristo de todos os cárceres a que foi algemado e, na atualidade, sem querer qualquer privilégio para nós, apenas o Espiritismo retém bastante força moral para se não prender a interesses subalternos e efetuar a recuperação da luz que se derramado verbo cristalino do Mestre, dessedentando e orientando as almas.
Seja Allan Kardec, não apenas crido ou sentido, apregoado ou manifestado, a nossa bandeira, mas suficientemente vivido, sofrido, chorado e realizado em nossas próprias vidas. Sem essa base é difícil forjar o caráter espírita-cristão que o mundo conturbado espera de nós pela unificação.
Ensinar, mas fazer; crer, mas estudar; aconselhar, mas exemplificar; reunir, mas alimentar.
Falamos em provações e sofrimentos, mas não dispomos de outros veículos para assegurar a vitória da verdade e do amor sobre a Terra. Ninguém edifica sem amor, ninguém ama sem lágrimas.
Somente aqui, na vida espiritual, vim aprender que a cruz de Cristo era uma estaca que Ele, o Mestre, fincava no chão para levantar o mundo novo. E para dizer-nos em todos os tempos que nada se faz de útil e bom sem sacrifícios, morreu nela. Espezinhado, batido, enterrou-a no solo, revelando-nos que esse é o nosso caminho - o caminho de quem constrói para Cima, de quem mira os continentes do Alto.
É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios.
Respeito a todas as criaturas, apreço a todas as autoridades, devotamento ao bem comum e instrução do povo, em todas as direções, sobre as Verdades do espírito, imutáveis, eternas.
Nada que lembre castas, discriminações, evidências individuais injustificáveis, privilégios, imunidades, prioridades.
Amor de Jesus sobre todos, verdade de Kardec para todos.
Em cada templo, o mais forte deve ser escudo para o mais fraco, o mais esclarecido a luz para o menos esclarecido, e sempre e sempre seja o sofredor o mais protegido e o mais auxiliado, como entre os que menos sofram seja o maior aquele que se fizer o servidor de todos, conforme a observação do Mentor Divino.
Sigamos para a frente, buscando a inspiração do Senhor.

Bezerra de Menezes
(Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião da Comunhão Espírita Cristã, em 20-4-1963, em Uberaba, MG.)

sábado, 3 de outubro de 2009

KARDEC, OBRIGADO



EM HOMENAGEM AOS 205 ANOS DE NASCIMENTO DO CODIFICADOR


Kardec, enquanto recebes as homenagens do mundo, pedimos vênia para associar o nosso preito singelo de amor aos cânticos de reconhecimento que te exalçam a obra gigantesca nos domínios da libertação espiritual.
Não nos referimos aqui ao professor emérito que foste, mas ao discípulo de Jesus que possibilitou o levantamento das bases do Espiritismo Cristão, cuja estrutura desafia a passagem do tempo.
Falem outros dos títulos de cultura que te exornavam a personalidade, do prestígio que desfrutavas na esfera da inteligência, do brilho de tua presença nos fastos sociais, da glória que te ilustrava o nome, de vez que todas as referências à tua dignidade pessoal nunca dirão integralmente o exato valor de teus créditos humanos.
Reportar-nos-emos ao amigo fiel do Cristo e da Humanidade, em agradecimento pela coragem e abnegação com que te esqueceste para entregar ao mundo a mensagem da Espiritualidade Superior. E, rememorando o clima de inquietações e dificuldades em que, a fim de reacender a luz do Evangelho, superaste injúria e sarcasmo, perseguição e calúnia, desejamos expressar-te o carinho e a gratidão de quantos edificaste para a fé na imortalidade e na sabedoria da vida.
O Senhor te engrandeça por todos aqueles que emancipaste das trevas e te faça bendito pelos que se renovaram perante o destino à força de teu verbo e de teu exemplo!...
Diante de ti enfileiram-se, agradecidos e reverentes, os que arrebataste à loucura e ao suicídio com o facho da esperança; os que arrancaste ao labirinto da obsessão com o esclarecimento salvador; os pais desditosos que se viram atormentados por filhos insensíveis e delinqüentes, e os filhos agoniados que se encontram na vala da frustração e do abandono pela irresponsabilidade dos pais em desequilíbrio e que foram reajustados por teus ensinamentos, em torno da reencarnação; os que renasceram em dolorosos conflitos da alma e se reconheceram, por isso, esmagados de angústia nas brenhas da provação, e os quais livraste da demência, apontando-lhes as vidas sucessivas; os que se acharam arrasados de pranto, tateando a lousa na procura dos entes queridos que a morte lhes furtou dos braços ansiosos, e aos quais abriste os horizontes da sobrevivência, insuflando-lhes renovação e paz, na contemplação do futuro; os que soergueste do chão pantanoso do tédio e do desalento, conferindo-lhes, de novo, o anseio de trabalhar e a alegria de viver; os que aprenderam contigo o perdão das ofensas e abençoaram, em prece, aqueles mesmos companheiros de Humanidade que lhes apunhalaram o espírito, a golpes de insulto e de ingratidão; os que te ouviram a palavra fraterna e aceitaram com humildade a injúria e a dor por instrumentos de redenção; e os que desencarnaram incompreendidos ou acusados sem crime, abraçando-te as páginas consoladoras que molharam com as próprias lágrimas...
Todos nós, os que levantaste do pó da inutilidade ou do fel do desencanto para as bênçãos da vida, estamos também diante de ti!... E, identificando-nos na condição dos teus mais apagados admiradores e como os últimos dos teus mais pobres amigos, comovidamente, em tua festa, nós te rogamos permissão para dizer: Kardec, obrigado!... Muito obrigado!...
Irmão X
(Texto psicografado por F. C. Xavier e publicado em Reformador de outubro de 1985, p. 298.)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

MEIMEI (IRMA DE CASTRO ROCHA) 63 ANOS DE AUSÊNCIA


Irma de Castro Rocha, este encantador espírito, ficou conhecida na família espírita como Meimei.


Trata-se de carinhosa expressão familiar adotada pelo casal Arnaldo Rocha1 e Irma de Castro Rocha, a partir da leitura que fizeram do livro Momentos em Pequim, do filósofo chinês Lyn Yutang. Ao final do livro, no glossário, encontram o significado da palavra Meimei – “a noiva bemamada”. Este apelido ficara em segredo entre o casal. Depois de desencarnada, Irma passa a tratar o seu ex-consorte por “Meu Meimei”. Irma de Castro Rocha não foi espírita na acepção da palavra, pois foi criada na Religião Católica. Ela o era, porém, pela prática de alguns princípios da Doutrina Codificada por Allan Kardec, tais como caridade, benevolência, mediunidade (apesar de empírica), além de uma conduta moral ilibada.
Nasceu na cidade de Mateus Leme, Minas Gerais, a 22 de outubro de1922 e desencarnou em Belo Horizonte, em 1º de outubro de 1946. Filha de Adolfo Castro e Mariana Castro, teve quatro irmãos: Carmem, Ruth, Danilo e Alaíde. Aos dois anos de idade sua família transferiu-se para Itaúna – MG. Aos cinco anos ficou órfã de pai. Desde cedo se sobressaiu entre os irmãos por ser uma criança diferente, de beleza e inteligência notáveis. Cursou até o segundo ano normal, sendo destacada aluna.
A infância de Meimei foi a de uma criança pobre. Era extremamente modesta e de espírito elevado. Pura e simples. Adorava crianças e tinha um forte desejo – o de ser mãe, não concretizado porque o casamento durou apenas dois anos e houve o agravamento da moléstia de que era portadora: nefrite crônica, acompanhada de pressão alta e necrose nos rins.
Irma de Castro, na flor de seus 17 anos, tornou-se uma bela morena clara, alta, cabelos negros, ondulados e compridos, grandes olhos negros bastante expressivos e vivazes. Foi nessa época que se tornou grande amiga de Arnaldo Rocha, que viria a ser o seu esposo.
Casaram-se na igreja de São José, matriz de Belo Horizonte. Na saída da igreja, o casal e os convidados viveram uma cena inesquecível. Depararam-se com um mendigo, arrastando-se pelo chão, de forma chocante, sujo, maltrapilho e malcheiroso. Meimei, inesperadamente, volta-se para o andarilho e, sensibilizada pela sua condição, inclina-se, entrega-lhe o buquê, beijando-lhe a testa. Os olhos da noiva ficaram marejados de lágrimas…
Arnaldo Rocha afirma que toda criança que passava por Meimei recebia o cumprimento: “Deus te abençoe”. Havia um filho imaginário. Acontecia vez por outra de Arnaldo chegar do trabalho, sentar-se ao lado de Meimei e ouvir dela a seguinte frase: “Meu bem, você está sentado em cima de meu principezinho”. Meimei tinha a mediunidade muito aflorada, o que, para seu marido, à época, tratava-se de disfunção psíquica. Estes pontos na vida de Meimei retratam os compromissos adquiridos em existência anterior, na corte de Felipe II, ao lado do marido Fernando Álvares de Toledo – o Duque de Alba (Arnaldo Rocha). Nessa época seu nome teria sido Maria Henríquez.
Apesar do pouco tempo de casados, o casal foi muito feliz. Ela tinha muito ciúme do seu “cigano”. Arnaldo Rocha explica que esse cuidado por parte dela era devido ao passado complicado do marido. Chico Xavier explicara que Meimei vinha auxiliando Arnaldo Rocha na caminhada evolutiva há muitos séculos, por isso a sua acuidade em adocicar os momentos mais difíceis e alegrar ainda mais os instantes de ventura.
Na noite da sua desencarnação, Arnaldo Rocha acorda, por volta de duas horas da madrugada, com sua princesa rasgando a camisola e vomitando sangue, devido a um edema agudo de pulmão. O marido sai desesperado em busca de médico, pois não tinham telefone. Ao voltar, encontra-a morta.
A amizade entre o casal, projetando juras de eterno amor, teve início por volta do século VIII a.C. Um general do império Assírio e Babilônico, de nome Beb Alib, ficou conhecendo Mabi, bela princesa, salvando-a da perseguição de um leão faminto. Foi Meimei quem relatou a história, confirmada depois por Chico Xavier e traduzida inconscientemente pelo escritor e ex-presidente da União Espírita Mineira, Camilo Rodrigues Chaves, no livro Semíramis, romance histórico publicado pela editora LAKE, de São Paulo.
Essas reminiscências de Meimei eram tão comuns que, além desse fato contido no livro citado, há, também, uma referência à personagem Blandina (Meimei), no livro Ave, Cristo! Aconteceu da seguinte forma: Chico passou um determinado capítulo do livro para Arnaldo Rocha avaliar. À medida que lia, lágrimas escorriam por suas faces, aos borbotões. Ao final da leitura, Arnaldo disse para Chico: “Já conheço esse trecho!” Chico arrematou: “Meimei lhe contou, né?” Nesse romance de Emmanuel, Blandina teria sido filha de Taciano Varro (Arnaldo Rocha), definindo a necessidade do reencontro de corações com vista à evolução espiritual.
Através da mediunidade de Chico Xavier, muitas outras informações chegaram ao coração de Arnaldo sobre a trajetória espiritual de Meimei. À guisa de aprendizado, Arnaldo foi anotando essas informações e trabalhando, em foro de imortalidade, aspectos de seu burilamento.
Meimei tinha a mediunidade clarividente, conversava com os espíritos e relembrava cenas do passado. Era comum ver Meimei, por exemplo, lendo um livro e, de repente, ficar com o olhar perdido no tempo. Nesses instantes, Arnaldo olhava de soslaio e pensava: “Está delirando”. Algumas vezes ela afirmava: “Naldinho, vejo cenas, e nós estamos dentro delas; aconteceu em determinada época na cidade…”. Arnaldo, à época materialista, não sabendo como lidar com esses assuntos, cortava o diálogo, afirmando: “Deixa isso de lado, pois quem morre deixa de existir”.
Em seus últimos dias terrenos, nos momentos de ternura entre o casal apaixonado, apesar do sofrimento decorrente da doença, Meimei tratava Arnaldo como “Sr. Duque” e pedia que ele a chamasse de “minha Pilarzinha”. Achando curioso o pedido, Arnaldo perguntou o motivo e recebeu uma resposta que, para ele, era mais uma de suas fantasias: “Naldinho, esse era o modo de tratamento de um casal que viveu na Espanha no século XVI. O esposo chamava-se Duque de Alba e a sua esposa, Maria Henríquez”. Embevecido com a mente criativa na arte de teatralizar da querida esposa, entrava na brincadeira deixando de lado as excessivas perquirições.
Apresentamos esse ângulo da vida de Meimei para suscitar reflexões acerca do progresso espiritual por ela engendrado em suas diversas reencarnações – das quais citamos apenas algumas –, e que conduziram nossa querida amiga Meimei ao belo trabalho realizado em prol da divulgação da Doutrina Espírita, no Mundo Espiritual, aproveitando as vinculações afetivas com aqueles corações que permaneceram no plano terreno.
Em seus derradeiros dias de vida terrena, Meimei começou a ter visões. Ela falava da avó Mariana, que vinha visitá-la e que em breve iria levá-la para viajar pela Alba dos céus. Depois de muitos anos veio a confirmação através de Chico Xavier. Arnaldo recebe do médium amigo, em primeira mão, o livro Entre a Terra e o Céu, ditado por André Luiz, no qual encontra uma trabalhadora do Mundo Espiritual – Blandina – vivendo no Lar da Bênção, junto com sua Vovó Mariana, cuidando de crianças. Em determinado trecho, Blandina revela um pouco da sua vida terrena junto ao consorte amado.
Arnaldo Rocha narra um fato muito importante no redirecionamento de sua vida. No romance “Ave, Cristo!”, que se desenvolve na antiga Gália Lugdunense, encontra-se um diálogo entre os personagens Taciano Varro (Arnaldo Rocha) e Lívia (Chico Xavier), no qual as notas do Evangelho sublimam as aspirações humanas. Lívia consola Taciano, afirmando que “no futuro encontrar-nos-emos em Blandina”. Essa profecia realizou-se mais ou menos 1600 anos depois, na Avenida Santos Dumont, em Belo Horizonte, no encontro “casual” entre Arnaldo Rocha e Chico Xavier, após o qual Arnaldo Rocha, materialista convicto, deixa cair as escamas que lhe toldavam a visão espiritual.
Graças à amizade fraterna entre Arnaldo Rocha e Francisco Cândido Xavier, reconstituída pelo encontro “acidental” na Av. Santos Dumont, a história de amor entre Meimei e Arnaldo manteve-se como farol a iluminar a vida dele, agora em bases do Evangelho, que é o roteiro revelador do Amor Eterno.
Depois daquele encontro, que marcou o cumprimento da profecia de Lívia e Taciano Varro, Arnaldo, o jovem incauto e materialista, recebeu consolo para suas dores; presentes do céu foram materializados para dirimir sua solidão; pelas evidências do sobrenatural, incentivos nasceram para o estudo da Doutrina Espírita, surgindo, por conseqüência, novos amigos que indicaram ao jovem viúvo um caminho diferente das conquistas na Terra.
Passando a viajar permanentemente a Pedro Leopoldo, berço da simplicidade da família Xavier, recebeu de Meimei, sua querida esposa, as mais belas missivas através da psicografia e da clarividência de Chico Xavier.
Faltam-nos palavras para expressar nossa ternura e respeito ao espírito Meimei que, por mais de seis décadas, tem inspirado os espíritas a seguir o Caminho, e a Verdade e a Vida Eterna.
Ao finalizar este singelo preito de gratidão a Irma de Castro Rocha, a doce Meimei das criancinhas, lembramos o pensamento do Benfeitor Emmanuel, que sintetiza a amizade dos trabalhadores do Espiritismo Evangélico em todo o Brasil com o Espírito Meimei: um verdadeiro “sol que ilumina os tristes na senda da dor. Meimei, amor…”.

Carlos Alberto Braga Costa

1 – Arnaldo Rocha, ex-consorte de Meimei, é trabalhador e conselheiro da União Espírita Mineira desde 1946. Amigo inseparável de Chico Xavier. Organizador dos livros Instruções Psicofônicas e Vozes do Grande Além, FEB. Co-autor do livro “Chico, Diálogos e Recordações”, UEM.

(Extraído do Jornal O Espírita Mineiro – janeiro/fevereiro de 2007 – Órgão de Divulgação da União Espírita Mineira)