Durante a manifestação dos chamados Espíritos sofredores, nas sessões práticas de Espiritismo, observam-se, em boa parte dos presentes, três freqüentes reações:
Alguns, achando que a comunicação é sem interesse ou se prolonga em demasia, limita-se ao alheamento, voltando sua atenção para assuntos estranhos ao desenrolar dos trabalhos. Outros, imbuídos de curiosidade, procuram identificar o Espírito através dos elementos fornecidos pela psicofonia mediúnica, imaginando tratar-se do senhor fulano ou do senhor beltrano, pessoas de suas relações. E há aqueles que se irritam porque o dirigente da sessão não esclarece logo ao comunicante a sua condição de desencarnado, se este demonstra inconsciência de seu estado, ou não age energicamente, induzindo-o a penitenciar-se de seus erros, se parece alguém comprometido no vicio ou acostumado a utilizar os processos da mistificação e da obsessão.
Identificamos, portanto, três reações: desinteresse, curiosidade e irritação. Todavia, os que assim procedem, revelam, inegavelmente, ausência do sentimento de responsabilidade, nascido de melhor conhecimento do mecanismo de intercâmbio com o Além, o que os torna elementos que prejudicam o bom andamento das tarefas de auxílio.
Para que semelhante prejuízo seja evitado é preciso considerar que os Espíritos que se manifestam, para receber ajuda, estão, geralmente, mergulhados em profunda perturbação, o que não lhes permite raciocinar com lógica. A incapacidade, quase sempre evidenciada, em reconhecer o próprio estado, confirma este fato.
Por isso, aquele que conversa com o Espírito não pode ter pressa em vê-lo afastar-se, antes de lhe haver proporcionado alguns recursos de equilíbrio. Não pode deter-se em questões pessoais, tendentes a identificá-lo, não só porque na maioria das vezes ele não estaria em condições de responder satisfatoriamente, como seria falta de caridade. Que dizer do médico preocupado em interrogar o acidentado ao invés de medicá-lo com presteza? E haverá desastre mais trágico que a desencarnação sem preparo? Finalmente, não pode, como muitos desejam, adotar a atitude de impor princípios, advertir o manifestante, mostrar-lhe o que é certo ou errado, fazê-lo sentir que terá que pagar por seus crimes, porque, principalmente quando se trata de alguém desejoso de mistificar ou exercer vingança, está de tal forma dominado por idéias cristalizadas em longos processos de fixação mental, que simples palavras não modificarão suas disposições.
O principal esforço do dirigente dos trabalhos é o de procurar conquistar a sua simpatia, para em seguida convidá-lo à oração, sem preocupar-se em verberar ou desmascarar, atitude favorita de alguns espíritas, que julgam estar prestando um grande serviço, esquecidos de que com semelhante atitude podem impressionar, mas nunca converter ao Bem.
A oração em benefício da entidade manifestante, prática que, infelizmente, raros adotam, é o grande recurso de esclarecimento e ajuda. Quando proferida sob orientação da mais pura fraternidade, sem fórmulas verbalistas e secundada pelas vibrações de carinho, compreensão e amizade, por parte de uma assistência consciente e esclarecida, ela proporciona inestimáveis recursos de auxílio. Sob seu fluxo poderoso, o Espírito revive situações passadas, identifica parentes e amigos desencarnados, sente-se aliviado nas suas dores e preocupações e descortina horizontes mais amplos e que lhe permitem deixar o cárcere da fixação mental. Após a aplicação dessa incomparável terapêutica, o mistificador sentir-se-á envergonhado e o confessará; o obsessor perceberá seu erro e se afastará de livre vontade, fator indispensável para que sua vítima ma se recupere sem transtornos; o Espírito inconsciente estará mais lúcido e em condições para reconhecer, por si mesmo, sua nova condição.
Se, enquanto o dirigente dos trabalhos se esforça por cativar a simpatia da entidade, alguns dos presentes se sentem contrariados por julgar que deveria ser mais objetivo, minucioso ou enérgico, estarão vibrando de forma perniciosa, o que comprometerá o bom êxito do serviço. Haverá maior dificuldade para o doutrinador concatenar suas idéias e maior perturbação para o comunicante. E não podemos, naturalmente, esquecer o médium, que, sem apoio vibracional, experimentará inesperadas limitações.
Fácil, pois, é concluir que, nas tarefas de intercâmbio destinadas a estender conforto e esclarecimento àqueles que se encontram na craticidade, quem não ajuda atrapalha. Por isso, forçoso é admitir que a sessão espírita não é um tribunal, nem repartição especializada em identificar desencarnados e muito menos local de recreação, onde as criaturas se portem com displicência, e sim um templo divino, onde o contacto com a espiritualidade superior deve inspirar respeito e atenção.
E se nos é lícito considerar a sessão espírita como recurso de socorro para nossos males físicos e psíquicos, é preciso reconhecer que a. condição indispensável para sermos atendidos é a disposição em socorrer aqueles que sofrem mais.
Richard Simonetti
Reformador – Março de 1964.
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