sexta-feira, 13 de maio de 2011

CONFLITOS INTERPESSOAIS

Afirmam os Espíritos que o sentimento de crueldade é o instinto de destruição no que tem de pior, porquanto resulta sempre de uma natureza má1. Do que conhecemos da história do homem na Terra, vemos que a crueldade formava o caráter predominante dos povos primitivos, eviden­ciando que a matéria preponderava sobre o Espírito naqueles tempos. Não somos mais um povo primi­tivo, guardamos, contudo, resquícios dessa fase, pois nossa civilização ainda não se pode dizer completa. Espalhados geograficamente pelo globo, povos de imperfeito desenvolvimento, por existir ainda em sua intimidade as fontes da violência, atraem ao seu convívio Espíritos também imperfeitos, que lhes são simpáticos, e essa influência potencializa a maldade que existe em cada indivíduo, gerando o pano de fundo dos conflitos que se estampam nas páginas dos jornais, horrorizando-nos cotidianamente.
O ensino espírita demonstra que a crueldade deriva da falta de desenvolvimento do senso moral. Em estado rudimentar ou latente, todas as faculdades existem no homem. Desenvolvem-se, conforme lhes sejam mais ou menos favoráveis as circunstâncias. O desenvol­vimento excessivo de uma detém ou neutraliza o das outras. A excitação dos instintos materiais abafa, por assim dizer, o senso moral, como o desenvolvimento do senso moral enfraquece pouco a pouco as facul­dades puramente animais. Em nossa sociedade, não tem existido o estímulo para o desenvolvimento do senso moral, e os Espíritos que vêm habitá-la acabam manifestando exteriormente aquilo que ainda os carac­teriza como criaturas de condição inferior: o apego às coisas materiais, o egoísmo e o orgulho.
Podemos encontrar seres cruéis em todas as socie­dades e em todos os tempos da nossa História, porque Deus permite que Espíritos de ordem inferior venham viver entre homens adiantados. O objetivo é que o contato com os homens de bem os levem a também se adiantarem, Mas, em numerosos casos, parece que acaba predominando a natureza primitiva, e o indi­víduo, ao invés de avançar, extravasa seus impulsos de maldade e investe contra seus semelhantes, perpe­trando crimes hediondos. Isso acontece também dentro dos lares, pois os vínculos consanguíneos não conse­guem fazer nascer nas almas o sentimento de respeito e amor ao próximo mais próximo, que é aquele que divide conosco os espaços de uma casa. Precisamos trabalhar muito, pelo progresso das coletividades humanas, para que esses homens, em quem o instinto do mal domina tenham os estímulos e o freio de que necessitam, para se educarem convenientemente e, então, suas manifes­tações desaparecerão gradualmente.
É projeto divino que, vivendo em família, os homens aprendam a amarem-se como irmãos Entre os animais, os pais e os filhos deixam de reconhecer-se, desde que estes não mais precisam de cuidados, porque os animais vivem vida material e não vida moral. A ternura da mãe pelos filhos tem por princípio o instinto de conservação dos seres que ela deu à luz. Logo que esses seres podem cuidar de si mesmos, está ela com a sua tarefa concluída; nada mais lhe exige a Natureza. Por isso é que os abandona, a fim de se ocupar com os recém-vindos. O destino do homem é outro. Os laços sociais são necessários ao progresso e os de família mais apertados tornam os primeiros. É no contato com seus semelhantes, que o indivíduo revela-se tal qual se construiu, ao longo das vidas que já experimentou. O grande desafio é fazer desabrochar o senso moral, entendendo que todos somos filhos do mesmo Pai de amor e bondade. É em família que esse aprendizado se concretiza, por isso afirmaram os Espíritos que o relaxamento dos laços de família resultaria em mais manifestações de egoísmo.
Aprender um pouco mais sobre as origens do conflito e como lidar com ele no âmbito da família é impor­tante neste momento. Precisamos nos conscientizar de que as pessoas, apesar de terem nascido numa mesma cultura e, às vezes, até do mesmo pai e da mesma mãe, diferem na maneira de perceber, pensar, sentir e agir, porque são Espíritos que têm sua trajetória própria, sua individualidade. As diferenças individuais são inevitá­veis, mas essas diferenças não são em si mesmas, boas ou más, e deveríamos considerá-las valiosas, porque propiciam maior riqueza à interação humana. Das diferenças, nascem às discussões, as tensões e insatis­fações e os conflitos interpessoais.
A partir de ideias e percepções diferentes, as pessoas se desentendem. Os conflitos são, pois, inevitáveis na experiência dos seres encarnados em mundos de provas e expiações, mas não são patológicos, nem destrutivos. Há muitos aspectos positivos no conflito. Podemos dizer que um conflito previne a estagnação e estimula o interesse, pois, quando ele se apresenta, instiga a nossa curiosidade em olhar para o outro, a fim de entender suas manifestações. Queremos saber por que o outro pensa e sente de forma diferente. O conflito é positivo também, porque descortina os problemas e, assim, possibilita encontrar soluções. Tendemos a acreditar que a felicidade seria a ausência de conflitos, por isso tentamos lidar com eles de maneira inadequada e não aproveitamos as oportunidades de aprendizagem que nos oferece. Não há fórmula mágica para se lidar com o conflito. É preciso compreender sua dinâmica, analisar a situação, porque cada caso é um caso.
O Espiritismo, Consolador prometido por Jesus, está no mundo para nos fazer reviver a religião cristã na sua pureza primitiva. Vem das fontes de ordem divina e se baseia nas próprias leis da Natureza, objetivando auxiliar-nos a desenvolver o potencial positivo que trazemos, para que nos tornemos cidadãos melhores e possamos criar leis mais compatíveis com a justiça. O objetivo do Espiritismo é fazer com que o coração e o amor caminhem unidos à Ciência e isso representa uma revolução. Não revolução no sentido que entendem os homens, que sempre pensam na violência como recurso para garantir o equilíbrio nas relações sociais, mas uma revolução moral, determinando a cada um de nós uma missão, um trabalho em prol da realidade nova que deve ser construída na Terra. A edificação da paz se fará pela melhoria moral de cada um. Precisamos tornar-nos agentes da paz, pelo esforço continuado no bem. Como convoca Fénelon: “Começou a nova cruzada. Apóstolos da paz universal, que não de uma guerra, modernos São Bernardos, olhai e marchai para frente; a lei dos mundos é a do progresso”

1 - O Livro dos Espíritos – questões 752 a 756
2 - O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap.I, 10.

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