Cidadão da eternidade, o homem convive, simultaneamente, com o mundo físico e o espiritual. Durante o sono, verifica-se a separação provisória entre a alma e o corpo. Enquanto este dorme, o Espírito semiliberto, envolto em seu corpo fluídico, ou períspirito, pode adentrar o mundo invisível, em excursão de aprendizagem ou em tarefa de ajuda aos mais necessitados nos dois planos da vida.
Na morte, porém, a libertação é definitiva: a vida, no corpo espiritual, desabrocha intensa e livre, pois “semeado corpo animal, ressuscita corpo espiritual” (Paulo, I Cor. 15:44). Por outro lado, o nascimento na Terra é como uma morte para o Espírito: este é encerrado em um “túmulo de carne”, no dizer de Léon Denis. O mesmo se infere do conselho de Jesus ao homem que queria segui-Lo: “A outro disse: - Segue-me”. “Mas ele disse: - Senhor, permite-me que eu vá primeiro sepultar meu pai”- “Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; quanto a ti, vai anunciar o reino de Deus” (Lucas, 11:59-60).
É evidente que Jesus não censurava a preocupação piedosa do filho: providenciar o sepultamento de seu pai. A lição que se infere dessa passagem evangélica é que a vida real, intensa e bela, é a vida espiritual, natural ao ser; havia, pois, urgência em proclamá-la.
Toda morte é um renascimento: o despertar da vida em sua plenitude.
Assim como morre a feia lagarta para surgir a borboleta multicolor, assim também desagrega-se o invólucro material para libertar o Espírito que, em sua roupagem diáfana, flutua rumo ao verdadeiro lar, em busca de novos compromissos.
No dia de Finados, uma multidão de pessoas comparece aos cemitérios, cumprindo a tradição do culto aos mortos. As necrópoles ficam em festa, numa profusão de flores e velas, com direito à cobertura da mídia. Respeitamos aqueles que assim o fazem; no entanto, somos levados a refletir sobre o fato à luz dos ensinamentos da Doutrina Espírita.
Não é no silêncio frio das sepulturas que vamos encontrar os nossos entes queridos que partiram. Dos tristes despojos muitas vezes, resta apenas pó. Não raro, os amores por que choramos e vamos procurar no cemitério estão ao nosso lado, velando por nós. Às vezes sofrem e perturbam-se, angustiados com o nosso sofrimento.
Em “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec pergunta: (323) – “ A visita de uma pessoa a um túmulo causa maior contentamento ao Espírito, cujos despojos corporais aí se encontrem, do que a prece que por ele faça essa pessoa em sua casa?”
“Aquele que visita um túmulo apenas manifesta, por essa forma, que pensa no Espírito ausente. A visita é a representação exterior de um fato íntimo.
Já dissemos que a prece é que santifica o ato da rememoração. Nada importa o lugar, desde que é feita com o coração.”
Convocados pelo pensamento, os finados comparecem ao triste local, em atenção aos seus familiares e amigos que lá se encontram. Tal, porém, poderia ser feito no recesso do lar, quando, em demonstração de saudade e carinho, fosse-lhes oferecida cariciosa vibração de uma prece. .
Reformador Nov. 1999
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