quarta-feira, 30 de setembro de 2009

RACIOCINEMOS EM RELAÇÃO A KARDEC


Os espíritas mais conservadores adoram falar no nome de Kardec: “Eu pratico o Espiritismo conforme está lá em Kardec”. “Espiritismo, se não for rigorosamente conforme estabelece Kardec, não é Espiritismo”. “Discordo dessa obra, é contraditória a Kardec”. “Se estiver em desacordo com Kardec, eu não aceito”.

Estão absolutamente corretos, os que pensam assim. Espiritismo tem que ter coerência, tem que estar afinado com Kardec e não há como fugir disto.
Assim que o Emmanuel apareceu na vida do Chico Xavier, o mineiro ficou doidinho, cheio de dúvidas, sem muito saber o que fazer, até que o benfeitor, percebendo, o tranqüilizou, dizendo: “Chico, se algum dia eu lhe passar algum ensinamento que possa lhe deixar alguma dúvida, fique com Kardec”.
Então, é fundamental ao espírita firmar a sua base em Kardec.
Pois bem. Então será com base em Kardec que este Alamar aqui, que muitos espíritas ortodoxos chamam de polêmico, quer questionar neste artigo.
Tomemos por base o livro “Obras Póstumas”, de autoria de Allan Kardec, o mesmo Kardec que os espíritas recomendam fidelidade, e observemos algumas coisas:
Kardec recomenda que, para a divulgação da doutrina espírita, deve ser contratado um jornalista, inclusive remunerado.
Ele se referia apenas a jornalistas, porque no seu tempo não tinha radialistas e muito menos profissionais de televisão. Se tivesse, com certeza ele faria referências.
Perguntemos: Por que os espíritas, que se dizem fiéis a Kardec, não querem que remunerem a ninguém, acham que todo mundo tem que trabalhar de graça, indispensavelmente como voluntários, e, invariavelmente, acusam de mercantilizarem a doutrina todo aquele que se propõe a fazer um trabalho de divulgação que tenha algum custo e envolva dinheiro, mesmo sendo reais, evidentes e incontestáveis as despesas?
Kardec se queixou, sim, da safadeza que parte do movimento espírita fez com ele, quando muitos o acusavam até de viajar às custas do Espiritismo, de ser vaidoso, de querer ganhar dinheiro com a venda de livros (livros que ele mandou imprimir com dinheiro dele!!!), e não mediu esforços em relatar as calúnias que ele recebeu.
Por que quando um espírita tenta, do mesmo jeito, falar das safadezas e dos deslizes do movimento espírita atual, sempre aparecem aqueles que querem ser mais espíritas do que Kardec, para o acusarem de polêmico, de faltar com a caridade para com os outros, de viver “falando mal” do movimento espírita e de ser identificado como obsedado?
Por acaso, o Kardec era obsedado, também, porque disse o que disse em Obras Póstumas?
Kardec recomendou SEMPRE a divulgação da doutrina, por todos os meios.
Com certeza, se ele vivesse nos dias de hoje, estaria envolvido com rádio, com televisão e com internet, o que não fez no século XIX porque naquele tempo não existia nada disso. Certamente teria um site, teria um email, iria dar um jeito para ser entrevistado no programa do Jô Soares e em vários outros, mandaria carta à Globo sugerindo que falassem sobre o Espiritismo no Globo Repórter e, com certeza, oferecer-se-ia com sugestões aos autores de novelas, com temas espíritas.
Por que os espíritas, que querem sempre ser mais espíritas que Kardec, têm tanta reação contra outros espíritas que procuram a televisão para a divulgação e sempre os acusam de vaidosos, de quererem aparecer e de estimularem a vaidade?
Por que nunca conseguem ver ninguém bem intencionado, na divulgação da doutrina e acham sempre que todo mundo está mal intencionado?
Allan Kardec recomendou SEMPRE que os espíritas seguissem a Ciência.
Se ele vivesse nos dias atuais, em São Paulo por exemplo, com certeza viveria enfiado nos centros de pesquisas da USP, da UNICAMP e das grandes Universidades. Eu não tenho a menor dúvida de que, em São Paulo, ele escolheria a Pineal Mind, do magnífico Sérgio Felipe, para freqüentar, teria no seu círculo de amizades pessoas como o Wladimir Sanches, o Núbor Facure e todos aqueles espíritas que gostam de praticar o exercício do raciocínio, da pesquisa e das buscas. Se vivesse no Rio de Janeiro, viveria nos centros de pesquisas de UFRJ e outras.
Reflita bem: Se Kardec fosse contemporâneo nosso, será que ele teria concordado com aqueles espíritas que condenaram e causaram tantos problemas ao magnífico Professor Octávio Ulysséa, por ter ele criado a Faculdades Integradas Bezerra de Menezes em Curitiba, ou viveria, também, enfiado dentro daquela maravilhosa Faculdade, que é visitada por membros da NASA e pelos Prêmios Nobel de Física e Química que vêm ao Brasil exclusivamente para conhecê-la?
Com certeza absoluta, nas reuniões mediúnicas que participasse, não se dirigia a espírito nenhum como se fossem defuntos e, muito pelo contrário, iria fazer um monte de perguntas, sem dar a menor bola para aquela orientação besta que diz “não devemos fazer qualquer pergunta aos espíritos” e não iria se submeter, mesmo, a essa onda de espiritismo sem espíritos.
O centro espírita, criado e dirigido por ele, com certeza, teria mediúnicas e o contato com os espíritos seria algo indispensável na prática espírita.
- “Olha, gente, na mediúnica de hoje, vamos evocar o Albert Einstein“.
Já pensou se um espírita, nos dias de hoje, propõe uma coisa desta? O quê?? Que conversa é essa de evocação de espírito? Ainda mais de espírita do nível de um Einstein? Está perturbado!!! Tem que ser afastado dos trabalhos, porque está maluco!!!
Você acha que o Kardec iria se submeter a isto? É Claro que não.
Tenho a impressão de que a gente poderia raciocinar em relação ao que Kardec faria, se fosse espírita nos dias atuais:
Será que ele resumiria o Espiritismo numa prática igrejeira, onde as pessoas vão, ritualmente, toda semana, em determinado horário, com objetivos de rezação?
Será que ele participaria de um Espiritismo sem espíritos, em obediência a um entendimento equivocado que entende que reunião mediúnica necessariamente é fenômeno e que a “época dos fenômenos” já passou?
Será que ele criticaria o Divaldo, por realizar eventos em grandes e confortáveis auditórios que, por terem despesas, precisam ter ingressos cobrados ou, pelo contrário, faria como o Divaldo e, também, como professor e divulgador que era, também procuraria pelos grandes auditórios e, já que nunca teve qualquer trauma em relação a dinheiro, também estabeleceria cobrança, para arcar com as despesas?
Será que nos dias de hoje, com uma diferença gigantesca de tecnologia e de avanço em todas as áreas da Ciência, em relação a sua época, ele se conformaria com as 1.018 questões de O Livro dos Espíritos, como a expressão da verdade total e absoluta, e, também, condenaria o Clóvis Nunes por ter proposto uma nova obra com novos questionamentos aos Espíritos?
Cabe na sua cabeça, que Kardec estaria aqui hoje e praticasse um Espiritismo sem contato nenhum com os Espíritos e sem encher eles de questionamentos?
Você acha que Kardec sairia por aí condenando confrades como, por exemplo, o Carlos Bacelli, pelas novas idéias que traz as suas obras, ou, muito pelo contrário, o convidaria a um plenário, composto por vários estudiosos espíritas criteriosos e não preconceituosos, para uma conversa cara a cara, a fim de questionar cada ponto polêmico ou que deixe dúvidas, inclusive evocando o espírito autor da obra, em busca de uma conclusão responsável e racional?
Você acha que Kardec concordaria com dirigentes espíritas que dizem: “Não é bom convidar Fulano, para fazer palestra em nosso centro, porque ele é muito polêmico“, ou, muito pelo contrário, por ter competência, inteligência, verdadeiro domínio do conhecimento da causa e solidez doutrinária, não temeria nenhum “polêmico”, convidaria sim, o confrade assim “qualificado”, escutaria ele falar e o convidasse para um “perguntas e respostas”, ao final, para questionar as possíveis citações anti-doutrinárias porventura pronunciadas na palestra?
Enfim, as perguntas são muitas nesse sentido, mas fico por aqui, apenas lhe fazendo uma proposta e uma pergunta final:
Examine a sua inteligência e veja que nível ela tem, observe bem o estilo de Kardec, a biografia de Kardec, a forma como Kardec se conduzia, leia bem o que ele diz em Obras Póstumas e chegue a uma conclusão, bem racional, em cima de tudo o que escrevi aqui.
Na sua concepção: O que você acha que Kardec faria, se vivesse no meio espírita dos dias atuais?
Para a sua apreciação.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A LEI DE ESQUECIMENTO É JUSTA ?

Dia desses, quando proferia uma palestra num Centro Espírita, ouvi, de uma senhora, a seguinte pergunta:


- A Lei do Esquecimento é realmente justa? Não seria melhor se nos lembrássemos das nossas ações em existências anteriores? Se soubéssemos quais foram os nossos crimes e quais foram os nossos inimigos, para, então, redobrarmos os nossos esforços no sentido de nos reconciliarmos com eles?
O profundo silêncio que o questionamento gerou na platéia e a expectativa que se criou em torno da resposta que eu deveria dar, deixaram claro que muitos dos presentes concordavam com aquela senhora, achando que a Lei do Esquecimento é realmente injusta.
Mas, vejamos porque é um grande equívoco pensarmos assim:
Todos nós sabemos que muitas pessoas que enfrentam situações de violência, tais como: assaltos, seqüestros, torturas físicas e psicológicas, acidentes graves e outros sinistros dessa natureza, costumam desenvolver a chamada síndrome do pânico. Algumas vítimas ficam num estado tão delicado, que se tornam completamente improdutivas e passam o resto da vida sob tratamento neurológico, causando muita preocupação e transtornos aos seus familiares.
Ora, estamos falando de situações que, muitas vezes, nem chegam perto dos traumas que certamente sofremos e promovemos em encarnações passadas, quando a violência era muito mais habitual e à vida humana se dava bem menos valor que nos dias atuais.
Basta fazermos uma pesquisa sobre os métodos bárbaros utilizados pelos dominadores para torturar, humilhar e assassinar os povos dominados, na antiguidade, para chegarmos a esta conclusão.
Um desses exemplos é a empalação, um dos mais cruéis métodos de tortura e que foi vastamente utilizada por diversas civilizações do mundo inteiro, sobretudo da Arábia e Europa. A empalação consistia na inserção de uma estaca de madeira no ânus, vagina, ou umbigo do torturado. Depois, essa estaca era fincada no chão e o peso do próprio corpo do supliciado se encarregava de fazer com que ela fosse, aos poucos, traspassando-o de um extremo a outro. A morte, lenta e terrivelmente dolorosa, podia levar horas e até dias para ocorrer.
O exemplo citado é só uma pequena amostra das horrendas barbáries que cometemos e a que fomos submetidos no passado.
Ora, sendo Deus justo e amoroso, e conhecedor que é da nossa natureza fraca, permite, a cada nova experiência encarnatória, que sejamos protegidos por um véu que evita a lembrança das experiências anteriores, para que retomemos o curso de trabalho e aprendizado na matéria, livres dos traumas que tais lembranças fatalmente provocariam em nós.
Se nos lembrássemos de todos os sofrimentos físicos e morais que presenciamos, promovemos, e a que fomos submetidos, seríamos apenas uma massa humana impotente e improdutiva, dominada por uma coletiva e inevitável síndrome do pânico.
Imaginemos se, de repente, a Lei do Esquecimento fosse revogada e nos deparássemos com uma realidade inimaginável diante de nós. Se passássemos a nos lembrar de que fomos torturados, humilhados e assassinados cruelmente por pessoas que hoje fazem parte do nosso seio familiar e pelas quais, atualmente, devotamos o mais puro sentimento de amor.
E se, ao contrário, nos víssemos como torturadores e assassinos de pessoas que atualmente compartilham conosco esse sentimento de amor puro e sincero; entes queridos como nossos filhos, pais, irmãos…
Em qualquer uma dessas hipóteses, a vida se tornaria insuportável, porque, ou seríamos assaltados por sentimentos de mágoa, revolta e ódio contra os nossos antigos algozes, ou, se fomos nós os executores, seríamos devorados por um remorso causticante, que certamente nos levaria à loucura.
É por este e outros motivos que a Lei do Esquecimento é, assim como todas as leis divinas, irrevogável, justa e boa! Cabe a nós agradecermos a Deus por mais essa dádiva e procurarmos fazer a nossa parte, esforçando-nos para praticar o bem; amando, não somente aos nossos amigos, mas também aos inimigos e jamais fazendo aos outros aquilo que não gostaríamos que nos fizessem; perdoando aos que nos ofendem, não sete vezes, mas quantas vezes forem necessárias…
Enfim, seguindo os ensinamentos de Jesus, estaremos resgatando as nossas dívidas do passado, reconciliando-nos com os antigos inimigos e evitando novas inimizades. E, com toda certeza, quando o passado deixar de ser para nós motivo de revolta, trauma, vergonha e remorso, a Lei do Esquecimento não mais será necessária, uma vez que o seu objetivo é nos proteger de nossas próprias iniquidades.
Mas, quando chegar esse momento, estaremos num estágio tão elevado, tão desprovidos de sentimentos mesquinhos e egoísticos, que o passado não terá mais importância para nós e as nossas atenções estarão totalmente voltadas para as boas ações do presente.

Que Deus nos abençoe!

Roberto Carvalho

domingo, 20 de setembro de 2009

A CARNE É FRACA

Estudo fisiológico e moral.

Há tendências viciosas que são, evidentemente, inerentes ao Espírito, porque se prendem mais ao moral do que ao físico; outras parecem antes a conseqüência do organismo, e, por este motivo, delas se pode crer menos responsável; tais são as predisposições à cólera, à moleza, à sensualidade, etc.
Está perfeitamente reconhecido hoje, pelos filósofos espiritualistas, que os órgãos cerebrais correspondentes às diversas aptidões, devem seu desenvolvimento à atividade do Espírito; que esse desenvolvimento é assim um efeito e não uma causa. Um homem não é músico porque tem a bossa da música, mas ele não tem a bossa da música senão porque seu Espírito é músico (Revista, de julho de 1860, página 198, e abril de 1862, página 97.)
Se a atividade do Espírito reage sobre o cérebro, ela deve reagir igualmente sobre as outras partes do organismo. O Espírito é, assim, o artífice de seu próprio corpo, que ele configura, por assim dizer, a fim de apropriá-lo às suas necessidades e às manifestações de suas tendências. Estando isto posto, a perfeição do corpo nas raças avançadas seria o trabalho do Espírito que aperfeiçoa o seu aparelhamento à medida que as suas faculdades aumentam. (A Gênese segundo o Espiritismo, cap. XI; Gênese espiritual.)
Por uma conseqüência natural deste princípio, as disposições morais do Espírito devem modificar as qualidades do sangue, dar-lhe mais ou menos atividade, provocar uma secreção mais ou menos abundante de bile ou outros fluidos. É assim, por exemplo, que o guloso sente vir a saliva, ou, como se diz vulgarmente, a água à boca à vista de uma comida apetitosa. Não é a comida que pode superexcitar o órgão do gosto, uma vez que com ele não tem contato; é, pois, o Espírito cuja sensualidade é despertada, que age pelo pensamento sobre esse órgão, ao passo que, sobre um outro Espírito, a visão dessa comida nada produz. Ocorre o mesmo com todas as cobiças, todos os desejos provocados pela visão. A diversidade das emoções não pode se explicar, numa multidão de casos, senão pela diversidade das qualidades do Espírito. Tal é a razão pela qual uma pessoa sensível derrama facilmente lágrimas; não é a abundância das lágrimas que dá a sensibilidade ao Espírito, mas a sensibilidade do Espírito que provoca a secreção abundante das lágrimas. Sob o domínio da sensibilidade, o organismo é modelado sob essa disposição normal do Espírito, como é modelado naquela do Espírito guloso.
Seguindo esta ordem de idéias, compreende-se que o Espírito irascível deve levar ao temperamento bilioso; de onde se segue que um homem não é colérico porque é bilioso, mas que ele é bilioso, porque é colérico. Assim ocorre com todas as outras disposições instintivas; um Espírito mole e indolente deixará o seu organismo num estado de atonia em relação com o seu caráter, ao passo que se for ativo e enérgico, dará ao seu sangue, aos seus nervos, qualidades muito diferentes. A ação do Espírito sobre o físico é de tal modo evidente, que se vêem, freqüentemente, graves desordens orgânicas se produzirem pelo efeito de violentas comoções morais. A expressão vulgar: A emoção lhe revirou o sangue não é também destituída de sentido quanto se poderia crê-lo; ora o que pôde revirar o sangue, se não as disposições morais do Espírito?
Este efeito é sobretudo sensível nas grandes dores, nas grandes alegrias e nos grandes medos, cuja reação pode ir até causar a morte. Vêem-se pessoas que morrem do medo de morrer; ora, que relação existe entre o corpo do indivíduo e o objeto que causa seu pavor, objeto que, freqüentemente, não tem nenhuma realidade? É, diz-se, o efeito da imaginação; seja; mas que é a imaginação senão um atributo, um modo de sensibilidade do Espírito? Parece difícil atribuir a imaginação aos músculos e aos nervos, porque, então, não se explicaria porque esses músculos e esses nervos não têm sempre imaginação; por que não o têm mais depois da morte; porque o que causa em uns um pavor mortal, superexcita a coragem em outros.
De qualquer sutileza que se use para explicar os fenômenos morais unicamente pelas propriedades da matéria, cai-se, inevitavelmente num impasse, no fundo do qual percebe-se, em toda a sua evidência, e como a única solução possível, o ser espiritual independente, para quem o organismo não é senão um meio de manifestação, como o piano é o instrumento das manifestações do pensamento do músico. Do mesmo modo que o músico afina o seu piano, pode-se dizer que o Espírito afina o seu corpo para colocá-lo no diapasão de suas disposições morais.
É verdadeiramente curioso ver o materialismo falar, sem cessar, da necessidade de levantar a dignidade do homem, então que se esforça em reduzi-la a um pedaço de carne que apodrece e desaparece sem deixar nenhum vestígio; de reivindicar para ele a liberdade como um direito natural, quando dela faz uma mecânica caminhando como uma pessoa encarregada de girar o espeto, sem responsabilidade de seus atos.
Com o ser espiritual independente, preexistente e sobrevivente ao corpo, a responsabilidade é absoluta; ora, para o maior homem, o primeiro, o principal móvel da crença no nada é o pavor que causa essa responsabilidade, fora da lei humana, e à qual se crê escapar tapando os olhos. Até hoje esta responsabilidade nada tinha de bem definida; não era senão um temor vago, fundado, é preciso muito reconhecê-lo, sobre crenças que não eram sempre admissíveis pela razão; o Espiritismo a demonstrou como uma realidade patente, efetiva, sem restrição, como uma conseqüência natural da espiritualidade do ser; é porque certas pessoas têm medo do Espiritismo que lhes perturbaria em sua quietude, levantando diante delas o temível tribunal do futuro. Provar que o homem é responsável por todos os seus atos é provar a sua liberdade de ação, e provar a sua liberdade, é levantar a sua dignidade. A perspectiva da responsabilidade fora da lei humana é o mais poderoso elemento moralizador: é o objetivo ao qual o Espiritismo conduz pela força das coisas.
Segundo as observações fisiológicas que precedem, pode-se, pois, admitir que o temperamento é, pelo menos em parte, determinado pela natureza do Espírito, que é causa e não efeito. Dizemos em parte, porque há casos em que o físico influi evidentemente sobre o moral: é quando um estado mórbido ou anormal é determinado por uma causa externa, acidental, independente do Espírito, como a temperatura, o clima, os vícios hereditários de constituição, uma doença passageira, etc. O moral do Espírito pode então ser afetado em suas manifestações pelo estado patológico, sem que a sua natureza intrínseca seja modificada.
Desculpar-se de seus defeitos sobre a fraqueza da carne não é, pois, senão uma fuga falsa para escapar à responsabilidade. A carne é fraca porque o Espírito é fraco, é em que se torna a questão, e deixa ao Espírito a responsabilidade de todos os seus atos. A carne, que não tem nem pensamento nem vontade, não prevalece jamais sobre o Espírito, que é o ser pensante e que quer, é o Espírito que dá à carne as qualidades correspondentes aos seus instintos, como o artista imprime à sua obra material a marca de seu gênio. O Espírito liberto dos instintos da bestialidade, forma um corpo que não é mais um tirano para assuas aspirações na direção da espiritualidade de seu ser; é quando o homem come para viver, porque viver é uma necessidade, mas não vive mais para comer.
A responsabilidade moral dos atos da vida, portanto, permanece inteira; mas a razão diz que as conseqüências desta responsabilidade devem estar em razão do desenvolvimento intelectual do Espírito; quanto mais o Espírito é esclarecido, mais é indesculpável, porque com a inteligência e o senso moral, nascem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto. O selvagem, ainda vizinho da animalidade, que cede ao instinto do animal comendo seu semelhante, é, sem contradita, menos culpável que o homem civilizado que comete uma simples injustiça.
Esta lei encontra ainda sua aplicação na medicina, e dá a razão de seu insucesso em certos casos. Desde que o temperamento é um efeito e não uma causa, os esforços tentados para modificá-lo podem ser paralisados pelas disposições morais do Espírito que opõe uma resistência inconsciente e neutraliza a ação terapêutica. E, pois, sobre a causa primeira que se deve agir; chegando-se a mudar as disposições morais do Espírito, o temperamento se modificará por si mesmo sob o império de uma vontade diferente, ou, pelo menos, a ação do tratamento médico será secundada em lugar de contrariá-la. Dai, se for possível, coragem ao covarde, e vereis cessar os efeitos fisiológicos do medo; ocorre o mesmo com as outras disposições.
Mas, dir-se-á, o médico do corpo pode se fazer o médico da alma? Está em suas a tribuições tornar-se o moralizador de seus doentes? Sim, sem dúvida, num certo limite; é mesmo um dever que um bom médico não negligencia jamais, desde o instante que vê, no estado da alma, um obstáculo ao restabelecimento da saúde do corpo; o essencial é aplicar o remédio moral com tato, prudência e com propósito, segundo as circunstâncias. Desse ponto de vista, sua ação está forçosamente circunscrita, porque, além de que não tem sobre seu doente senão um ascendente moral, uma transformação do caráter é difícil em certa idade; é, pois, à educação, e sobretudo à educação primeira, que incumbem os cuidados dessa natureza. Quando a educação for, desde o berço, dirigida nesse sentido; quando se aplicar em abafar, em seu germe, as imperfeições morais, como se faz para as imperfeições físicas, o médico não encontrará mais, no temperamento, um obstáculo contra o qual a sua ciência, muito freqüentemente, é impotente.
Como se vê, é todo um estudo; mas um estudo completamente estéril enquanto não se tiver em conta a ação do elemento espiritual sobre o organismo. Participação incessantemente ativa do elemento espiritual nos fenômenos da vida, tal é a chave da maioria dos problemas contra os quais a ciência se choca; quando a ciência fizer entrarem linha de conta a ação desse princípio, verá abrir-se diante dela horizontes todos novos. É a demonstração desta verdade que o Espiritismo traz.
Allan Kardec

sábado, 12 de setembro de 2009

ENSINOS ESPIRITUALISTAS SEÇÃO II

(Depois de uma conversa sobre a época atual e seus característicos, obtive o seguinte:)
Fazem-se especiais esforços para espalhar o conhecimento de uma verdade progressiva; esforços dos mensageiros de Deus aos quais resistem agora como sempre as hordas dos adversários. A história do mundo é a história da luta entre o bem e o mal; Deus e a virtude de um lado, e a ignorância, o vício e o mal - espiritual, mental e corporal - do outro. Há períodos - e atravessamos um deles - durante os quais se produzem esforços extraordinários. O exército dos mensageiros de Deus está reunido em grande força. Os homens são influenciados, os conhecimentos se espalham e o fim se aproxima. Temei pelos desertores, pelos fracos de espírito, pelos contemporizadores, pelos curiosos frívolos. Temei por eles, mas não pela causa da verdade de Deus.
Sim. Mas como tantas almas que duvidam podem saber o que é a verdade de Deus? Muitas procuram ansiosamente sem achá-la.
Aqueles que procuram ansiosamente acham sempre, ainda que tenham de esperar muito, mesmo até que cheguem a uma esfera mais elevada da existência. Deus experimenta todos, mas somente àqueles que se acham preparados é concedido o conhecimento superior. A preparação deve ser completa antes do degrau transposto. Isso é uma lei inalterável. A aptidão precede a progressão. A paciência é exigida.
Sim. Mas os obstáculos provenientes das dissensões interiores, da impossibilidade de provar a evidencia, dos preconceitos, de muitas outras causas parecem quase invencíveis.
Para vós. Por que intervir no que é a obra de Deus? Obstáculos! Não sabeis o que eles são, comparados aos que suportamos no passado. Tivésseis vivido na Terra nos últimos dias da Roma imperial e teríeis aprendido então o que conseguem as forças das trevas coligadas. Tudo o que era espiritual tinha fugido de horror de um império impregnado de deboche, de sensualidade e de tudo o que era baixo e mau. A frieza era a algidez do desespero; a escuridão era a obscuridade do sepulcro. O corpo, o corpo era tudo, e os guias espavoridos fugiam de uma cena que não podiam contemplar e cujos males não podiam aliviar. Havia realmente a pior incredulidade. O mundo não só nos desprezava como também aos nossos esforços; a virtude era ridiculizada, o Supremo amesquinhado, a imortalidade escarnecida, e só se vivia para comer, beber e revolver-se no lodaçal. Os aviltados, quais animais degradados, fizeram-se a ai próprios.Oh! sim! não digais que o mal é invencível quando o poder de Deus e dos Espíritos prevaleceu para purificar semelhante lodaçal.
(Estendeu-se ainda a conversa sobre o insucesso repetido de planos benéficos para o homem, insucesso motivado pela sua ignorância e obstinação. Perguntei se o esforço atual seria outro insucesso.)
Deus dá muito mais que o que pensais. De todos os lados se formam centros donde a verdade de Deus se derrama nos corações ansiosos e impregna os espíritos pensadores. Há muitas almas para quem a palavra dada outrora é suficiente, por não estarem preparadas para receber outra nova; com essas não nos ocupamos. Mas muitas almas há, também, conhecedoras do que o passado lhes ensinou, aspirantes a um outro conhecimento, que lhes é dado à medida que o Altíssimo vai julgando oportuno.
Por essas almas, melhor instruídas, a verdade se transmite a outras, e as gloriosas novidades se propagam até ao dia em que formos chamados a proclamá-las do alto da montanha, quando os fiéis de Deus, ocultos, surgirem dos seus fracos refúgios terrestres para levar o testemunho do que viram e aprenderam; os pequenos regatos abandonados pelo homem se reunirão, e o rio da verdade de Deus, onipotente em sua energia, inundará a terra e arrastará em sua irresistível correnteza a ignorância e a incredulidade, a loucura e o pecado, que agora vos amedrontam e inquietam.
Essa nova revelação de que falais é contrária à antiga? Muito se tem meditado sobre esse assunto?
A revelação vem de Deus, e o que Ele revelou em uma época não pode contradizer em outra. Cada revelação, na espécie, é uma revelação de verdade, mas de verdade revelada na proporção das necessidades do homem e de acordo com as suas capacidades. O que parece contraditório não está na palavra de Deus, mas sim no espírito do homem, o qual não se contenta com a simples comunicação, mas adultera-a conforme as suas glosas, sobrecarrega a consoante as suas deduções e especulações, e assim, decorrendo os anos, aconteceu que o que vinha de Deus tornou-se desfigurado, contraditório, impuro e terrestre. Em vez de poder adaptar racionalmente a revelação seguinte à precedente, tornou-se necessário rejeitar a superstição acumulada sobre os velhos alicerces; e o trabalho de eliminação deve preceder o de adição. As revelações não são contraditórias, mas é indispensável fazer desaparecerem os fragmentos amontoados pelo homem antes que a verdade de Deus possa ser de novo revelada. O homem deve julgar conforme a luz da sua própria razão. E a última pedra de toque por onde a alma progressista aceitará o que a ignorante ou cheia de preconceitos recusar. A verdade de Deus não é imposta a ninguém. Em certos tempos passados houve também revelação especial para um povo especial. Tem sempre sido assim. Moisés obteve aceitação universal mesmo entre o seu próprio povo? E os profetas? E Jesus mesmo? E Paulo? E qualquer que fosse o reformador em qualquer século, entre qualquer raça? Deus não muda; oferece, mas não obriga ninguém a aceitar; oferece, e aqueles que estão preparados recebem a comunicação.
Os ignorantes e os incapazes a rejeitam, pois isso deve acontecer. As dissensões e diferenças que deplorais são a separação do falso e do verdadeiro; provêm de causas indignas e são animadas por Espíritos malévolos. Deveis também contar com sérios incômodos causados pelos poderes coligados do mal. Porém dirigi vossos olhares para o longínquo futuro e tende coragem.
A propósito dos Espírito guias; como são eles designados?
Os Espíritos guias nem sempre são atraídos por aqueles a quem dirigem, posto que isso aconteça habitualmente. Algumas vezes são escolhidos por terem aptidão particular para instruir; outras vezes são encarregados de missão especial; finalmente, em outras, são designados porque podem suprir o que falta aos caracteres que lhes são confiados para progredirem. Algumas vezes eles próprios escolhem a pessoa que desejam influenciar. É isso um grande prazer para os Espíritos elevados. Outras vezes ainda, querem, para seu próprio progresso espiritual, ser ligados a uma alma cuja cultura é penosa e difícil. Às vezes são atraídos por pura afinidade ou pelos restos de uma afeição terrestre. Quando não há missão especial, os guias são freqüentemente substituídos à medida que a alma progride.
Quais são os Espíritos que voltam a Terra?
Aqueles que principalmente estão mais próximos dela nas três mais baixas esferas ou estados de existência. Esses conversam mais prontamente convosco. Entre os Espíritos elevados, aqueles que podem voltar são dotados de uma faculdade análoga à que é na Terra o poder da mediunidade. Só podemos dizer-vos que é muito difícil para nós, Espíritos elevados, achar um médium pelo qual nos possamos comunicar. Muitos Espíritos conversariam com prazer se encontrassem um médium conveniente. E daí que provém a variedade das comunicações; aquelas que se verificam ser falsas não o são sempre voluntariamente. Para o futuro conheceremos melhor as condições que influem sobre as comunicações.
Falastes de adversários; quais são eles?
Os Espíritos antagonistas que, revoltados contra a nossa missão, se esforçam para embaraçá-la, que impelem homens e outros Espíritos contra nós e a nossa obra; esses Espíritos, refratários aos impulsos do bem, acham-se reunidos sob a direção de uma inteligência ainda mais malfazeja para prejudicar, embaraçar e deter a nessa marcha. Poderosos no mal, estimulam as más paixões, industriam-se para nos imitar, e assim, adquirindo influência sobre o iludido, prontificam-se em atraí-lo para o que é baixo e desprezível quando procuramos dirigi-lo ternamente para o que é nobre e purificado. São eles os inimigos do bem e os ministros do mal; fazemos-lhes uma guerra perpétua.
E bem admirável saber-se que existe uma organização tão poderosa do mal. Há pessoas, deveis saber, que negam absolutamente a existência do mal e ensinam que tudo é bom, ainda que disfarçado.
Ah! Nada é mais triste do que o abandono do bem e a escolha do mal. Admirais, amigo, que tantos maus Espíritos façam obstrução, pois isso é real e não surpreendente. A alma vai para a vida espiritual com os gostos, predileções, costumes e antipatias da sua vida terrestre; não há nenhuma mudança, salvo o acidente de ser separada do corpo.
A alma, que na Terra tinha costumes impuros e gostos baixos, não muda de natureza ao sair da esfera terrestre, assim como a que foi verdadeira, pura e progressista não se torna baixa e má pelo fato de morrer. Não imaginaríeis uma alma pura e elevada degenerando depois de desaparecer dos vossos olhares; entretanto, inventais a purificação de um Espírito tornado por hábito impuro e sacrílego, odiando a Deus e ao bem, preferindo a sensualidade e o pecado. Um desses casos não é mais possível que o outro. O caráter da alma cresce todos os dias, a todas as horas, e não é posto sobre ela como uma coisa que possa ser rejeitada; ele se identifica com a natureza do Espírito, tornando-se inseparável. Não é possível mais que o caráter seja destruído, salvo pelo lento processo de obliteração, como não o seria cortar um pano deixando intactos os fios divididos pela tesoura. Mais ainda: a alma cultiva costumes que se enraízam de tal modo a tornar-se partes essenciais da sua individualidade. O Espírito que, cedendo aos apetites de um corpo sensual, se tornou por fim seu escravo, não se acharia. feliz em um meio puro e elevado e suspiraria por seus antigos refúgios e costumes. Assim, as legiões dos adversários são simplesmente massas de Espíritos atrasados, não desenvolvidos, que se ligam uns aos outros pela semelhança de gostos, contra tudo o que é bom e são. Eles só podem progredir pela penitência, recebendo as instruções dadas por inteligências mais elevadas, e enfim pelo gradual e laborioso esforço que aniquila o pecado. Tais Espíritos são muito numerosos e constituem os adversários. A idéia de que não há mal nem antagonismo contra o bem, nem adversários coligados para resistir ao progresso e à verdade, é uma cilada manifesta para vos desviar.
Tem eles um chefe, um demônio?
Muitos chefes os governam, não, porém, um demônio, tal como a teologia inventou. Os Espíritos bons ou maus são submetidos à autoridade de poderosas inteligências.
Texto retirado do livro Ensinos Espiritualistas seção II

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

COMO ORAR


“Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar para serem vistos por todos. Porém, quando você orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo lhe dará a recompensa (Mateus, 6, 5-6)”.
O homem sempre quis uma fórmula que pudesse, como milagre, conseguir realizar todos os seus sonhos e desejos. Lança-se, muitas vezes, como um mercador ou camelô gritando ao Alto o que aspira, em intermináveis e incontidas exigências, sem o mínimo de tranqüilidade, atributo essencial para uma conexão espiritual superior, pois o importante é ver o seu pleito atendido, mesmo à base da histeria.
A recomendação de Jesus foi clara: “Eles gostam de orar para serem vistos por todos”. Nesse instante Jesus repreende aqueles que se valem de fórmulas de atuação, para, em uma espécie de histeria coletiva, clamarem, gritarem, sapatearem, afirmando que estão orando. Em verdade, vê-se uma espécie de espetáculo onde a exibição da “fé” é o que conta.
A oração é aquele momento de recolhimento e diálogo introspectivo. Santo Agostinho chama a isto de solilóquio, onde vamos, com humildade, reportarmo-nos ao Alto para pedir, agradecer e, ou louvar.
Infelizmente, o egoísmo humano só acha que orar é pedir. E se sai pedindo por tudo, desde pleitos justos até as quimeras do mundo, como ganhar na sena acumulada, arranjar um marido...
A oração deve ser a expressão de um coração que se reconhece pequeno, e se enverga diante de uma força superior colocando os seus pedidos, mas não deixando de reconhecer que, de fato, se tem o que pedir, sem sombras de dúvidas tem muito o que agradecer e louvar.
Jesus, quando ensinou o Pai Nosso, atendeu à súplica dos apóstolos que queriam aprender a orar. Ofereceu um modelo, mas é claro que, quando o coração fala com seus próprios sentimentos e palavras, a sinceridade, neste momento expressa, será o sentimento propulsor para que as nossas vibrações perpassem as barreiras do mundo, e vão ao encontro do amor em misericórdia do Pai que está nos céus.
Algumas pessoas reclamam que as suas preces não são escutadas, pois nunca obtêm respostas. Ledo engano! Todas as orações são respondidas, mas de acordo com o nosso merecimento e necessidades. Lembremos de Jesus "Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade e, sim, a tua." (Lc. 22, 42). Jesus pediu para que não acontecesse o martírio da cruz, pois o antevia, pediu, mas se curvou reconhecendo que a vontade do Alto é sábia e, certamente, saberia o que seria o melhor.
Jesus aparentemente não teve a sua oração atendida, reconhecendo, no entanto, o que Lhe era melhor, passa pelo martírio da cruz com a dignidade de seu espírito de escol.
Façamos assim: Peçamos o que queiramos, dentro da ética espiritual pertinente a este encontro de vibrações, mas se aparentemente não conseguirmos, tenhamos a dignidade cristã de aceitar todos os nossos processos de crescimento espiritual.
José Medrado é médium, fundador e presidente da Cidade da Luz

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

BENFEITORES DESENCARNADOS

Emmanuel

Reunião pública de 12-12-60

- Questão n° 267 - LM

Perceberás, sem dificuldade, a presença deles.

Onde as vozes habituadas a escarnecer se mostram a ponto de condenar, eles falam a palavra da compaixão e do entendimento.

Onde as cruzes se destacam, massacrando ombros doridos, eles surgem, de inesperado, por cerídeos silenciosos, amparando os que caíram em desagrado e abandono.

Onde os problemas repontam, graves, prenunciando falência, eles semeiam a fé, cunhando valores novos de trabalho e esperança.

Onde as chagas se aprofundam, dilacerando corpo e alma, eles se convertem no remédio que sustenta a força e restaura a vida.

Onde o enxurro da ignorância cria a erosão do sofrimento, no solo do espírito, eles plantam a semente renovadora da elevação, regenerando o destino.

Onde os homens desistem de auxiliar, eles encontram vias diferentes de ação para a vitória do Amor Infinito.

Anseias pela convivência dos benfeitores desencarnados, com residência nos Planos Superiores, e tê-los-ás contigo, se quiseres.

Guarda, porém, a convicção de que todos eles são agentes do bem para todos e com todos, buscando agir através de todos em favor de todos.

Disse Jesus:

-"Quem me segue não anda em trevas."

Se acompanhas os Bons Espíritos que, em tudo e por tudo, se revelam companheiros fiéis do Cristo, deixarás para sempre as sombras da retaguarda e avançarás para Deus, sob a glória da luz.

Do livro Seara dos médiuns. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

CASO DE CONSCIÊNCIA

Declara-se você, meu amigo, extremamente fatigado na luta pela vitória do bem e acrescenta em sua carta: “Que fazer, irmão X? Não aguento mais injúrias, incompreensões, sarcasmos, críticas... Só penso em retiro, sossego, e, à noite, quando consigo dormir, se sonho, a única coisa de que não me recordo é de uma rede de embalo, que passou a viver em minha memória, incessantemente.”
De fato, meu amigo, cansaço é sofrimento e dos maiores; no entanto, já que você nos pede opinião, rogo licença para narrar-lhe ocorrência ligeira no domínio das sombras.
Denodado legionário de obra salvacionista contou-nos que em tenebroso recanto da Espiritualidade Inferior, quase que numa cópia perfeita de antiga parábola, atribuida a Lutero, reuniu-se graduado empreiteiro do mal com diversos cooperadores. Propunha-se a ouvi-los sobre alguma idéia nova, quanto a vampirizar os amigos encarnados na Terra. Encontro de quadrilheiros, como acontece, aliás, em muitos lugares do plano físico.
Exposto o objetivo da assembléia pelo diretor da crueldade organizada, anotou um dos assessores:
- No mês passado, açulei um cão hidrófobo contra dois seareiros do bem, que estudavam o Evangelho, e consegui que a morte os pusesse fora de ação...
- Trabalho inútil – enunciou o sombrio dirigente -, ambos, a estas horas, estarão, em espírito, apoiando obras de maior importância, na Terra mesmo. Terão saído da desencarnação com amparo dos Céus.
- Eu – confidenciou o segundo – entreteci uma rede de intrigas contra uma senhora, dedicada a Jesus, e tão eficientemente me conduzi, que o marido já a abandonou, arrancando-lhe os filhos...
- Esforço improdutivo – zombou o chefe. – Você nada mais fêz que endeusar determinada mulher... Ela acabará vencendo pela abnegação...
- No meu setor – proclamou estranho assalariado da delinqüência -, provoquei o ódio gratuito de um louco sobre um seguidor fiel do Cristo, que foi morto, na semana passada, por espessa carga de balas.
- De nada valeu – comunicou o mentor. – A vítima foi guindada à condição de mártir e, fora do corpo terrestre, se dedicará mais intensamente em favor da Humanidade...
- Quanto a mim – expressou-se outro cooperador -, logrei confundir todo um agrupamento de aprendizes da Boa Nova e, agora, cinco dos melhores elementos jazem afastados pela imposição da calúnia, urdida com segurança...
- Empreendimento frustrado – revidou o comandante -, os injuriados saberão aproveitar a oportunidade, a fim de trabalharem com Jesus, através do exemplo...
Silenciou a pequena junta, algo desencarnada, quando um dos auxiliares acentuou com sorriso irônico:
- Chefe, parece mentira o que vou contar, mas, desde muito tempo, percebi que perseguição só serve para promover os perseguidos. Imaginei, assim, que o melhor meio de anular os colaboradores de Jesus é exagerar-lhes as pequeninas depressões e pô-los a dormir. Em seis meses, já coloquei oitenta servidores do Evangelho, fora de ação, em casas de repouso, leitos, redes e acolchoados... A receita não falha. A pessoa experimenta ligeiro abatimento e entro em cena com as nossas velhas hipnoses. O resultado é tiro e queda. Sono que não acaba mais. Desse modo, os melhores dessa gente do Cristo não mais trabalham, nem na Terra, nem nos Céus...
O maioral aplaudiu, freneticamente, o comunicado e dispensou a presença de todos os demais participantes do grupo, a fim de se entender mais profundamente com o sagaz companheiro.
Como é fácil de anotar, meu amigo, depressão é um problema.
Para rematar, digo a você que, há tempos, eu mesmo, pobre cronista desencarnado há bons trinta e cinco anos, também me senti, certa feita, sob enorme abatimento. Procurei, para logo, um orientador amigo, solicitando conselho. Ele me ouviu carinhosamente, bateu de leve nos meus ombros, e observou, afinal:
- Meu caro, se você sofre algum desgaste nas próprias forças, procure melhorar-se, refazer-se. Guarde, porém, muito cuidado com semelhante assunto. A fadiga existe mesmo, entretanto, é sempre um caso de consciência, porquanto, ao que saibamos, ninguém, até hoje, conseguiu verificar realmente onde termina o cansaço e começa a preguiça.
Livro Relatos da Vida - Psicografia Francisco C. Xavier - Espírito Irmão X