Costumam atribuir ao progresso e à civilização a responsabilidade pela corrupção de costumes e pela incredulidade do século. É um erro de apreciação, é um caracterísmo paralogismo. Precisamos ainda de mais progresso, de mais civilização.
O que temos conseguido é muito pouco. Não será retrocedendo, mas avançado, que conjuraremos os males da época. Pretender que o pinto retorne à casca donde saiu é uma utopia.
Que o mundo tem marchado para a frente é um fato inconteste. Apontar esse surto evolutivo como causa da volúpia que empolga e fascina a sociedade atual, seria virtualmente cantar loas a ignorância, firmando, ao mesmo tempo, o paradoxal acerto de que a moralidade de costumes é incompatível com a evolução da inteligência.
O que o momento atual está reclamando é a educação moral, dessa moral baseada em leis naturais, que tem por objeto formar e consolidar o caráter. O que o momento atual está pedindo é aquela educação que eleva o Espírito, que afina as cordas do sentimento, tornando-as sensíveis à ação da consciência. O que finalmente o momento atual exige é aquela educação que faz aflorar no coração do homem a noção da justiça, do dever, da liberdade e da dignidade.
Até aqui a humanidade curou da inteligência aplicando essa faculdade na conquista de tudo quando gratifica os sentidos, proporcionando comodidades e conforto físico. É natural que assim sucedesse. Não nos devemos admirar disso, visto como o homem havia mesmo de servir-se da inteligência para satisfazer o seu egoísmo.
Como, porém, o egoísmo demasiadamente lisonjeado acaba por destruir aquele que o alimenta, sucede, por efeito de uma lei psicológica que a sociedade, onde aquela paixão impera infrene, acaba dissolvendo-se na corrupção, se não lhe forem impostos embargos.
É esta a lição da história de todos os tempos. Onde a poderosa Babilônia de Nabucodonosor? Onde a Roma dos Césares, cujo sol jamais se punha, tal a extensão dos seus domínios? Onde a famosa Grécia de outrora, berço das belas artes? Onde, finalmente, a decantada hegemonia dos Impérios Centrais?
Todos esses astros esmaeceram e tombaram para o ocaso. Foram obras erguidas sobre areia movediça: não resistiram aos embates dos temporais. A todas elas faltou base, faltaram alicerces. E, hoje, sabemos todos que essa base é a moral!
Os homens hão de ficar convencidos de que não basta cuidar do cérebro. É preciso ficarem compenetrados de que é necessário, indispensável, cuidar com esmero e carinho da educação moral, dessa educação que forma o caráter, que desperta e ilumina a consciência, que desenvolve o espírito de justiça, que inspira a noção do dever, da dignidade e da liberdade.
Tal a missão do Espiritismo, como continuador da obra redentora do Cristo de Deus. Anunciemos, propaguemos e exemplifiquemos, pois.
Vinicius(O Clarim, agosto de 1959)
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