sexta-feira, 6 de março de 2009

TRANSFORMANDO A FÉ EM CERTEZA


Nos últimos tempos tem-se acirrado a discussão entre a adjetivação do Espiritismo como religião ou não. No cerne do debate, figura a conotação moral dos ensinos espíritas, e sua aplicabilidade prática à conduta e ao comportamento dos indivíduos (espíritos), que corresponde à idéia de uma ética espírita. Religião, na acepção comum e tradicional, o Espiritismo, convenhamos, não o é, de vez que não possui os elementos formais que a caracterizam: culto, rituais, imagens, sacramentos, dogmas e práticas religiosas, e organização hierárquica.

Na pauta de nossas considerações, existem os chamados princípios fundamentais do espiritismo: existência de Deus, imortalidade da alma, reencarnação, pluralidade dos mundos habitados, comunicabilidade entre os espíritos (mundo material e mundo espiritual) e evolução. A diferença de enquadramento destes (como dogmas ou leis) é exatamente o mote deste artigo. Temos visto a absoluta passividade da grande maioria dos espíritas, que não estuda e nem se interessa na promoção do estudo sério e complementar do trabalho dos Espíritos Superiores, assinado como "Codificação Espírita". É bem verdade que existem vários grupos renomados e conceituados, pelo Brasil afora, que excepcionam a regra acima destacada. Mas, em linhas gerais, os grupos "de estudo" das casas espíritas (independente da nomenclatura que ostentem), visam, tão-somente, reproduzir o saber adquirido, ou seja, repetir (à exaustão, ou, também, nem tanto), as idéias contidas nos livros fundamentais da Doutrina Espírita. Decora-se, repete-se, reproduz-se o que Kardec e a Falange da Verdade tenham "revelado", deixando de promover o desenvolvimento das idéias espíritas, em face do próprio processo evolutivo (individual e coletivo) do planeta. Muitos, até, pasmem, aguardam que novos espíritos "reveladores" (e, somente eles) venham, se for o caso, acrescentar novos pontos, necessários em função da modificação dos temas de interesse da Humanidade (considerando, é claro, a limitação do Prof. Rivail em função do contexto histórico-social da Europa do século XIX, o qual, claramente, é bem distinto dos "ares do século XXI").

Em termos de Reencarnação, a história não é nem um pouco diferente. Os espíritas "de carteirinha" (e os que vão a reboque destes, também, abdicando do direito-dever de estudar, pensar e construir seu próprio raciocínio lógico), acabam tratando os principais temas como "artigos de fé". Então, diz-se, comumente: "Eu sou espírita; eu creio na reencarnação". Melhor, no entanto, e mais apropriado, seria dizer: "Eu sou espírita, e tenho certeza que a reencarnação existe!".

Por que certeza? Pelas evidências que estão ao nosso derredor, e que saltam aos nossos olhos:
1) somente a reencarnação pode explicar a origem da diversidade entre os espíritos - e, em conseqüência, por que uns têm oportunidades tão distintas em relação a outros;
2) a existência de fenômenos (espontâneos ou artificialmente provocados), como a regressão de memória, a terapia de vidas passadas e o "déjà-vu" (a impressão de já ter visto ou experimentado algo antes), demonstram a existência de uma memória espiritual, pretérita, somente possível em face das múltiplas existências;
3) a formação e o desenvolvimento de nossa "inteligência espiritual", não é obra de uma única vida, de vez que, seja em relação aos gênios (que, desde tenra idade, demonstram capacidades e habilidades inatas), seja em relação ao homem comum, médio, todos nós resgatamos o aprendizado de vivências anteriores, para continuá-lo, complementá-lo ou aplicá-lo na atual encarnação).
Assim, é comum ver-mos que nossa "tendência" para esta ou aquela área do conhecimento, estudo ou profissão, não é uma escolha casual, mas uma decorrência de nossa afinidade com tal matéria, egressa de outras existências.

O que nos falta, sinceramente, é tomar coragem e empreender pesquisas e experimentos científicos sérios, nas principais universidades, laboratórios e instituições análogas deste país, para a formatação de teses que possam ser demonstradas segundo critérios específicos, particulares a uma "nova" ciência, a Ciência do Espírito. Adotando, assim, objetivos, método e metodologia próprios de uma ciência distinta das demais existentes (materiais), poderá o Espiritismo adentrar ao ramo do conhecimento comum da Humanidade, deixando de ser mera crença ou razão ideológica com ligação religiosa.

Com isto, verdadeiramente, trataremos de desmistificar o Espiritismo, cunhando-o com caracteres de respeitabilidade, permitindo sua divulgação a todos aqueles que se sintam sensibilizados - pelo despertamento de suas inteligências - em relação às teses espíritas.

Se é comum, nas Instituições Espíritas, rever, relembrar e acentuar certas "passagens evangélicas", permita o leitor que usemos do mesmo artifício, em relação à teoria filosófica espírita (e sua comprovação prática, por meio de evidências científicas), para asseverar: "veja quem tem olhos de ver, e ouça quem tem ouvidos de ouvir".

Isto, é claro, não com olhos "religiosos", mas, sim, filosófico-práticos, transformando a fé espírita em certeza espírita.

(*) Marcelo Henrique Pereira, Mestre em Ciência Jurídica, Presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo de Santa Catarina e Delegado da Confederação Espírita Pan-Americana para a Grande Florianópolis (SC)

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