domingo, 12 de abril de 2009

EM HOMENAGEM AOS 82 ANOS DO DESENCARNE DO MESTRE LÉON DENIS


Léon Denis
Por Deolindo Amorim

Nascido em Foug a 1º de janeiro de 1846, Léon Denis desencarnou em Paris, no dia 12 de abril de 1927, com oitenta e um anos, portanto. Vamos comemorar este ano o 50º aniversário do desenlace do grande escritor espírita, cuja obra, a todas as luzes, é um patrimônio, um monumento de espiritualidade. Os espíritas, em todas as latitudes, têm uma dívida de gratidão para com ele. Não se trata simplesmente de uma figura histórica nos registros do calendário.
Não. Para aos que o conhecem ou nele beberam ensinamentos, Léon Denis é um guia que continua ensinando, orientando educando e consolando pelos seus livros e pelos exemplos de sua vida. Por isso mesmo o cinqüentenário de sua desencarnação deve ter, com todo o cabimento, a significação de um acontecimento espírita.
Mais de uma geração de espíritas, notadamente no Brasil, formou sua base de cultura doutrinária em grande parte nos livros de Léon Denis, como nos de Gabriel Delanne, outro notável discípulo de Allan Kardec. Conhecemos velhos companheiros - conferencistas, jornalistas, doutrinadores e oradores espíritas - que tiveram esse começo e muito fizeram pela divulgação da Doutrina. Léon Denis fez muitos discípulos entre nós, mas entre os elementos da chamada “velha guarda”, pois não é tão conhecido no seio da atual geração, cujo ingresso na seara espírita se deve a outras motivações. Mas a obra de Léon Denis - é bom frisar - não é uma relíquia, dessas que ficam no santuário da devoção como peças intocáveis, porque falam apenas do passado. Muito pelo contrário, as idéias de Léon Denis estão muito vivas, pois não se apagaram com o tempo. São idéias que ainda podem servir de orientação em qualquer dos ângulos de compreensão do Espiritismo, o que equivale dizer tanto na parte experimental, como na inquirição filosófica e nas suas conseqüências morais.
Há quem admire Léon Denis apenas como escritor, e é uma faceta que bem o distingue, mas também há quem veja nele simplesmente o moralista, tanto quanto não falte quem se impressione ainda mais com o seu pensamento filosófico. Enfim, a obra de Denis é uma síntese em que se encontram e combinam muito bem vários aspectos. O escritor que ele é, e dos mais límpidos, se entrelaça com o homem de alta especulação filosófica e, ao mesmo tempo, com o inconfundível defensor dos valores morais. Homem de pensamento e homem de sentimento: a sede de saber e o amor ao próximo, eis as linhas mestras de sua personalidade.
Por isso mesmo, e porque nos parece, em determinados pontos, tão atual nos dias de hoje como o fora em seu tempo, a comemoração do cinqüentenário de sua passagem para o outro plano da vida deveria ser assinalada não apenas com os discursos e as conferências que certamente, ou necessariamente, figurarão nos programas, mas de outro modo, ainda mais relevante: a organização de estudos especiais de sua obra, através de cursos. Muita gente, em nosso meio, conhece Léon Denis apenas por citações, mas ainda não tomou conhecimento de sua verdadeira linha de pensamento. Poucos, na realidade, poderiam falar, por exemplo, sobre as preocupações sociais de Léon Denis. No entanto foi um de seus temas constantes.
Francês de nascimento e de educação, homem da classe média, Léon Denis viu e sentiu o drama da França logo em seguida à I Guerra Mundial. Justamente por ter participado desse drama social, nele envolvido pela força das circunstâncias, Léon Denis pensou muito nos destinos da França e da Humanidade, não apenas em termos político-econômicos, seara dos estadistas, mas em termos de recuperação moral, que muito têm que ver com a Doutrina Espírita. Vemos em Léon Denis, agora, não mais o escritor brilhante, mas o pensador, o lúcido e grave humanista preocupado com a dor geral, ao contemplar as ruínas da guerra. Realmente, como a história bem o demonstra, a recuperação material depende da capacidade dos administradores e do fator tempo, mas a reconstrução moral é muito trabalhosa e penosa, pois a violência e o sofrimento levam os homens, em grande parte, à desorientação e à neurose, enfraquecidos espiritualmente, sem qualquer resídio de crença nos valores espirituais. É uma fenda sensível e perigosa, que se abre no organismo social, depois de uma guerra ou de uma calamidade, permitindo a decadência moral em larga escala. Muitos homens de crença se desorientam, não resistem às repercurssões morais e emocionais dos conflitos sangrentos mas nem todos, felizmente, se deixam naufragar na desordem. Léon Denis viu e viveu os sofrimentos de seu povo, sentiu as aflições da humanidade, mas não se desviou de sua filosofia de vida. Na pujança das energias e da palavra, como no crepúsculo da existência física, já na velhice que descambava para o fim do ciclo terreno, foi sempre o mesmo homem convicto. Vale a pena transcrever as seguintes palavras de seu “Testamento moral”, na obra de Gaston Luce, que o chama, com inteira propriedade, o apóstolo do Espiritismo:
Consagrai esta existência ao serviço de uma grande causa, o Espiritismo ou Espiritualismo Moderno, que será certamente a Religião do futuro...
Nesta hora, minha alma entra em recolhimento e se liberta antecipadamente das ligações terrestres; vê e compreende a finalidade da vida.
Bela e profunda filosofia - o Espiritismo - que abre a visão do futuro até mesmo no ocaso da vida terrena, quando muita gente pensa que tudo é sombra e tudo se apaga! Assim, filosofando com sabedoria, Léon Denis fechou o ciclo de sua experiência terrena em 1927.

N.R. - Este artigo foi originalmente e publicado na revista O Médium (1/77)
Jornal Espírita-Abril de 1977

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