domingo, 26 de abril de 2009

A PRECE


Allan Kardec
A prece é uma invocação: por ela nos pomos em relação mental com o ser a que nos dirigimos. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou um louvor. Podemos orar por nós mesmos ou pelos outros, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução dos seus desígnios; as que são dirigidas aos Bons Espíritos vão também para Deus. Quando oramos para outros' seres, e não fiara Deus, aqueles nos servem apenas de intermediários, de intercessores, porque nada pode ser feito sem a vontade de Deus.
O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, ao explicar a forma de transmissão do pensamento, seja quando o ser a quem oramos atende ao nosso apelo, seja quando o nosso pensamento eleva-se a ele. (...)
Quando, pois, o pensamento se dirige para algum ser, na terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som. A energia da corrente está na razão direta da energia do pensamento e da vontade.
As condições da prece foram claramente definidas por Jesus. Quando orardes, diz ele, não vos coloqueis em evidência, mas orai em secreto. Não finjais orar demasiado, porque não será pelas muitas palavras que sereis atendidos, mas pela sinceridade delas
Antes de orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-a, porque a prece não poderia ser agradável a Deus, se não partisse de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade.
(...) Examinai os vossos defeitos, e não as vossas qualidades, e se vos comparardes aos outros, procurai o que existe de mau em vós.
Há pessoas que contestam a eficácia da prece, entendendo que, por conhecer Deus as vossas necessidades, é desnecessário expô-las a Ele. Acrescentam ainda que, tudo se encadeando no universo através de leis eternas, nossos votos não podem modificar os desígnios de Deus.
Há leis naturais e imutáveis, sem dúvida, que Deus não pode anular, segundo os caprichos de cada um.
Mas, daí a acreditar que todas as circunstâncias da vida estejam submetidas à fatalidade, a distância é grande. Se assim fosse, o homem seria apenas um instrumento passivo, sem livre-arbítrio e sem iniciativa. (...) Deus não lhe deu o entendimento e a inteligência para que não os utilizasse, a vontade para não querer, a atividade para cair na inação. O homem sendo livre de agir, num ou noutro sentido, seus atos têm, para ele mesmo e para os outros, conseqüências subordinadas às suas decisões. Em virtude da sua iniciativa, há, portanto, acontecimentos que escapam, forçosamente, à fatalidade, que nem por isso destroem a harmonia das leis universais, da mesma maneira que o avanço ou o atraso dos ponteiros de um relógio não destrói a lei do movimento, que regula o mecanismo do aparelho. Deus pode, pois, atender a certos pedidos sem derrogar a imutabilidade das leis que regem o conjunto, dependendo sempre o atendimento da Sua vontade.
Seria ilógico concluir-se, desta máxima: "Aquilo que pedirdes pela prece vos será dado", que basta pedir para obter. É injusto acusar a Providência se ela não atender a todos os pedidos que lhe fazem, porque ela sabe melhor do que nós o que nos convém. Assim procede o pai prudente, que recusa ao filho o que lhe seria prejudicial. O homem, geralmente, só vê o presente; mas, se o sofrimento é útil para
a sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa o doente sofrer a operação que deve curá-lo.
O que Deus lhe concederá, se pedir com confiança, é a coragem, a paciência e a resignação. E o que ainda lhe concederá, são os meios de se livrar das dificuldades, com a ajuda das idéias que lhe serão sugeridas pelos Bons Espíritos, de maneira que lhe restará o mérito da ação. (...)
Pela prece, o homem atrai o concurso dos Bons Espíritos, que o vem sustentar nas suas boas resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos.
(Extraído do Capítulo XXVII de "O Evangelho segundo o Espiritismo", respectivamente itens 9, 10, 4, 6, 7, 11) Revista Informação - Abril 1977

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