sábado, 16 de janeiro de 2010

A PRÁTICA DO ABORTO



“Hoje vim aqui para cuidar de um assunto que me foi incumbido pelos mentores deste trabalho. Estou em tratamento, recuperando-me em uma cidade transitória próxima deste orbe e tive uma experiência de vida que não desejaria para o meu pior inimigo.
Fui uma mulher abastada em minha última existência terrena. Trabalhava meus dons intelectuais de forma digna até parte de minha vida, quando uma oportunidade me acenou para uma situação de mais posses. Só que para isso eu teria que burlar as leis de Deus.
Desempenhava a profissão de enfermeira prática em uma conceituada clínica, numa grande cidade brasileira. Tinha o respeito dos meus colegas, pois naquela época não se dispunha de muitas escolas de enfermagem no país e as profissionais eram respeitadas pela boa prática de sua profissão, adquiridas muito mais pelo dom de que algumas eram aquinhoadas desde a mocidade. Assim foi comigo, que desde cedo manifestei afinidade pela prática do cuidado aos enfermos.
Com mais ou menos 10 anos de vida dedicados à prática do bem, no desempenho de minha profissão com responsabilidade e amor, me deparei com um convite para trabalhar em um serviço particular onde se praticaria o aborto. A princípio aquilo me pareceu estranho, mas logo a oferta de melhores condições de vida material em curto espaço de tempo me fez esquecer os ensinos morais que me foram dados por minha mãe, na sua incansável tarefa de falar do catecismo católico. Lembrei-me de que falara muitas vezes que evitar a vinda de um ser era terrível crime. Entretanto, minha consciência embotou-se deliberadamente pelo amor ao vil metal e logo eu estava morando em grande casa, vivendo uma vida de abastança, proporcionada por ganhos materiais que vinham da prática criminosa.
O dono do estabelecimento deu a mim toda a gerência do negócio e, além de administrar a casa, eu era o principal instrumento da estranha prática. Por mais de quinze anos pratiquei o aborto em milhares de mulheres. Ricas e pobres, jovens e maduras. Todas com a intenção de interromper o santo ato do nascimento. Algumas inconscientes do que faziam, pois eram trazidas por suas mães, senhoras da sociedade, querendo encobrir a vergonha de ver suas filhas gerando filhos de pais desconhecidos e indesejáveis socialmente. A maioria, entretanto, embora casadas, ao cometer o adultério geravam filhos do erro, não querendo com isso manchar seu próprio nome. Achavam que praticando o aborto livrar-se-iam do problema. E assim foi por longos anos.
Um dia, ainda jovem, doença fatal acometeu-me, levando-me ao leito de morte em menos de 5 anos. Durante o tempo em que permaneci doente recebi muita solidariedade dos meus cúmplices, pois nessa vida de marginal eu aquilatara muitos "amigos". Claro, amigos que "amavam-me" porque eu sabia de seus segredos. Em meu desespero por ver próxima a morte, refleti enormemente sobre meus atos. Um dia, gentil senhora, amiga de minha mãe, visitou-me trazendo em mãos um exemplar do Novo Testamento. Ali, aos 47 anos de idade, entrei em contato com o conhecimento da verdade pela primeira vez. Chorei amargamente nos meus últimos dias de vida, pois só vim a despertar para os valores da alma nos últimos 6 meses de minha existência terrena.
Ao deixar o corpo já tinha consciência dos meus débitos e de quanto sofreria no mundo espiritual. E assim permaneci por longos anos, com extremo remorso em meu o peito, envolvida em pesadas nuvens de vibrações deletérias a adornar-me a alma. Por muito tempo permaneci assim. Punia-me por conta de minha grande vergonha. Não compreendia que a minha atitude mental levava-me a ser prisioneira de mim mesma. Orava, mas penitenciando-me, querendo permanecer naquela situação achando que ficaria ali eternamente, a purgar para sempre meu pecado.
Um dia, ao elevar meu pensamento aos céus, vi tênue luz a aproximar-se de mim. Era a senhora que me presenteara com o Evangelho de Jesus. Chorei copiosamente e adormeci ali mesmo para acordar mais tarde em leito limpo e ambiente harmonioso, com ela a velar-me o sono. Chamava-se Dalva. Instruía-me sobre os dons da vida e sobre todas as vidas que havia ceifado irresponsavelmente. Falo a todos desta casa da grande responsabilidade que assumimos ao entrar na vida. Não só o aborto é grave crime mas todos os outros que ferem as leis divinas.
Sofrem os aborteiros como eu, da mesma forma que sofrem os suicidas, os assassinos, os adúlteros, os ladrões. Enfim, os que de uma forma ou de outra fazem deliberadamente o mal para locupletar-se com os bens materiais que ele proporciona. Em tudo está o egoísmo e orgulho da criatura que cava o próprio destino, estimulado pelas tortas linhas de conduta materialista, ensinando que nada mais resta além da morte. Triste engano que leva pessoas como eu a caminhos tortuosos de sofrimentos no futuro". - Um Espírito endividado.

Espírito: Um Espírito endividado
Sociedade de Estudos Espíritas Allan Kardec
São Luís, MA

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