A criatura humana, pela sua procedência
espiritual, está equipada de recursos que lhe facultam a crença natural na
imortalidade da alma. Nela predomina o atavismo da fé espontânea, que lhe
constitui recurso iluminativo, provendo-lhe de ânimo para a resistência a
quaisquer adversidades e infortúnios, por sentir que a existência corporal é,
sem dúvida, uma experiência educacional e não a realidade em toda a sua
exuberância. No entanto, à medida que envereda pelos meandros do comportamento
conflitivo, elabora mecanismos de resistências contra a sobrevivência, em
inquietantes tentativas de aniquilar a vida, como, se dessa forma, se pudesse
evadir por definitivo do sofrimento e das frustrações. Inconscientemente,
rebela-se contra os impositivos da evolução, e, guindando-se ao prazer,
gostaria que as sensações tivessem uma duração indefinida, longe de
responsabilidades e esforços. Nesse momento, predominam-lhe as sensações e
deixa-se iludir pelas falsas alegrias que desfruta. Toda a historiografia da
vida é formada na evidência da imortalidade da alma, que sempre se tem feito
presente em todos os fastos do pensamento, nos diferentes povos e épocas transatas.
Apesar disso, o desejo do aniquilamento, para fugir dos defeitos dos atos,
despertam-lhe um sentimento utópico de negação com o qual se debate nos
variados sistemas que cria, para sustentar o conceito estranho do aniquilamento
da vida. Compreende-se que indivíduos de formação acadêmica, trabalhados pelos
fatos palpáveis dos seus laboratórios, invistam na consumpção do ser, quando
cessam os fenômenos biológicos, procurando ignorar, por sistema e hábito, a premissa
do espírito como ser causal, anterior ao corpo e a ele sobrevivente. Todavia,
quando religiosos buscam apoio em doutrinas de investigação parapsicológica,
chegando a conclusões excludentes da interferência dos seres espirituais na
vida, essa conduta surpreendente é, pelo menos, esdrúxula, porque pregando a
imortalidade com apoio na teologia da sua fé, recusam-se a aceitar os fatos que
a comprovam, procurando explicações materialistas para todos os fenômenos paranormais,
sem se concederem a possibilidade daqueles de natureza mediúnica. Esse
comportamento disfarça os conflitos que pairam nas suas mentes e as profundas
frustrações que lhes assinalam a existência que lhes parece inútil, já que
direcionada para doutrinas que lhes não enriqueceram o coração, nem
harmonizaram as aspirações da inteligência com as propostas dos sentimentos.
Assim também procedem as pessoas que se dizem
vinculadas a doutrinas espiritualistas, assinaladas pela razão, que tiveram
oportunidade de investigar os fenômenos paranormais e concluíram pela presença
dos seres espirituais, no entanto, agem como se o corpo lhes fosse o único bem de
que dispõem, permitindo-se extravagâncias e excentricidades, quando não se
entregam ao uso desordenado dos recursos do prazer, que os consomem. Além
disso, quando não se permitem os mecanismos de autodestruição, agem
contrariamente aos postulados imortalistas, que trabalham o caráter do ser
dulcificando-o, desenvolvendo-lhe os sentimentos superiores da tolerância, da
compreensão das dificuldades e limites das outras pessoas. Têm esses que assim
se conduzem atitudes arrogantes, prepotentes, exibicionistas, agindo, sempre
que possível, de forma contrária aos cânones espirituais de elevação. Mesmo
quando se dedicam ao trabalho de transformação moral para melhor, impõem sua forma
de ser, estabelecendo normas que seguem, certamente, mas que desejam
transformarem método de comportamento para os demais. É sempre estranhável o
comportamento do indivíduo que se diz espiritualista em geral ou espírita em
particular, quando extrapola os limites do respeito aos direitos alheios, ou se
torna fiscal impiedoso do seu próximo. A visão da imortalidade trabalha o
íntimo do indivíduo, ensejando-lhe a superação dos instintos primitivos que o
agrilhoam à inferioridade, promovendo-o a degraus mais elevados na escala do progresso.
A certeza da transitoriedade orgânica faculta uma preparação continua para a
vida futura, auxiliando no desapego dos bens do mundo, mas também dos tesouros
do orgulho e das vaidades de toda ordem, que cedem lugar à humildade de
reconhecer-se como aprendiz da vida em constante aprimoramento. A descrença tem
as suas vantagens que se caracterizam pela acomodação à indiferença pelo
esforço de tornar-se melhor em conhecimento, em sentimento, deixando-se
arrastar pela revolta contra os Códigos da Vida e encharcando-se de pessimismo,
quando não de agressividade. A morte, porém, no seu périplo de visitar todos os
seres, sempre chega e arrebata, convidando, então, às tardias reflexões entre
revoltas e desesperos que se anestesiam nas futuras reencarnações silenciosas
do sofrimento. São assim tratados todos aqueles que da vida, somente esperam
recompensas e tripudiam sobre os elevados sistemas de preservação dos valores
espirituais. Agindo insensatamente, embora as advertências que lhes chegam de
todo lado estabelecem os ditames do porvir, a eles submetendo-se para aprender
a progredir, já que, incursos no programa da imortalidade, não se podem evadir
de si mesmos nem do infinito curso da evolução.
Merece ainda anotação, o comportamento
particular das pessoas que apelam para a negação, quando indagam: -
Consideremos que haja um processo de evolução. E quando se atinge esse estado,
que se passa a fazer; que acontece? Acostumadas a tudo definir, a tudo limitar,
pretendem de um golpe alcançar a finalidade máxima da vida e entender o que
seja perfeição nos parâmetros dos seus particulares conceitos de finalismo, de
gozo, de realização interior. Adaptadas ao imediatismo da sensação encontram-se
distantes do significado da harmonia em considerando-se que os seus objetivos
são tormentosos momentos de exaustão pelos sentidos, não possuindo
sensibilidade para detectar as emoções superiores do êxtase, da elevação
psíquica, das paisagens imateriais dos mundos transcendentes, onde não existem
a dor a frustração, a morte, as ausências... Todos aqueles que se propõe sempre
a negar a imortalidade da alma, procurando demonstrar que a vida material
sintetiza a realidade do existir; enfrentarão, naturalmente, o próprio
despertar além das sombras angustiantes dos processos de fixação perturbadora,
a que se deixaram conduzir. Poderoso, inevitável, o tempo acompanha o
deperecimento de tudo e de todos, as suas transformações, decadências, glórias
e vicissitudes, até o momento da morte, quando abre os painéis da vida exuberante,
inalienável, propondo novos cometimentos e realizações futuras, em nome da
Harmonia, da Beleza que predominam no Universo.
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