segunda-feira, 30 de abril de 2012

PROCEDENDO À REFORMA ÍNTIMA



Uma característica fundamental do homem que se diz religioso é proceder à reforma íntima de si próprio.

Essa metanóia – mudança essencial de pensamento ou de caráter, transformação espiritual – é um processo fundamental para a construção do homem novo a que se refere Paulo (Efésios, 4: 22-24): “Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho, corrompido pelas concupiscências enganadoras. Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revestivos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade.”.

Para acelerar esse processo de renovação interior, vale destacar alguns pontos básicos. Em primeiro lugar, é indispensável à assunção da nossa condição de seres imperfeitos, necessitados de transformação.

Constitui ato de humildade assumir que precisamos mudar. Uma rápida conversa íntima com a nossa consciência há de nos mostrar que trazemos conosco defeitos de longa data. Enganamos outras pessoas para tirar algum tipo de vantagem? Somos grosseiros, fazendo uso de linguagem chula ou agressiva? Sentimos algum tipo de inveja de alguém? Falamos mal do próximo, espalhando seus defeitos verdadeiros ou aumentando-os a nosso bel-prazer? Pisoteamos os pequenos achincalhando-os, sobretudo diante de outras pessoas? Cultivamos sentimento de raiva ou de vingança quando somos contrariados? – estas e muitas outras perguntas podem nos levar a concluir que realmente precisamos operar mudanças em nossa vida, imperfeitos que somos.

Um segundo passo é o desejo sincero de transformação. Temos de ver desabrochar em nós uma vontade decisiva de alterar aspectos que descobrimos estarem em desarmonia com as leis divinas, gerando infelicidade e sofrimento. Reconhecemos os defeitos e, em função disso, almejamos intensamente corrigi-los. Se não houver essa vontade interna de mudar, de extirpar condutas viciosas, de agir contando com nosso próprio esforço de auto superação, tudo fica mais difícil. A paz de espírito não virá automaticamente, de fora para dentro, sem que haja participação intensa de cada um.

Não nos transformamos bruscamente, num passe de mágica. Haverá tropeços nessa trilha rumo a uma vida mais feliz.

Faz-se mister, portanto, um terceiro passo: a avaliação constante dos atos que praticamos.

Na pergunta 919 de “O Livro dos Espíritos”, Santo Agostinho nos fala da importância de interrogarmos nossa consciência, passando em revista ao final do dia tudo àquilo que fizemos, corrigindo constantemente o curso de nossa trajetória.

A oração sincera – conversa íntima com Deus – nos põe em sintonia com o Alto, aliviando-nos o sofrimento e dando-nos força para essa luta travada contra as imperfeições que nos desarmonizam.

Um quarto aspecto deve ser sempre levado em conta: a purificação dos nossos pensamentos e atos. É indispensável que vicejem pensamentos generosos em nossa mente, que se vê constantemente intoxicada pelas conversas inúteis, pelas más leituras, pela imaginação impregnada de sentimentos negativos. É necessário também que o tempo de que dispomos seja ocupado por ações construtivas, quer no ambiente de trabalho, quer em nosso próprio lar. Esse processo de purificação íntima – de sintonia com Deus – resulta no equilíbrio, na paz interior, ao passo que o pensar e o agir impuros geram doença, reflexo do nosso desajuste às leis divinas.

Devemos privilegiar, portanto, as ações efetivas de amor: (I) a nós próprios, desejosos que estamos de progredir e ascender espiritualmente; (II) ao nosso próximo, que se põe diante de nós como oportunidade para que cresçamos espiritualmente à medida que exercemos nosso amor; e, conseqüentemente, (III) a Deus, uma vez que, amando a nós e ao nosso próximo, consubstanciamos o amor ao Criador.

Não podemos nos considerar religiosos por meramente freqüentarmos esta ou aquela instituição religiosa. É preciso que nos engajemos com ardor no processo de mudança e renovação íntima – de todo o nosso sentir, julgar e dispor –, submetendo-nos ao jugo das leis divinas, tão belamente referidos por Jesus: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu fardo é leve” (Mateus, 11: 28-30).

SEI 2088

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