EM 18 DE ABRIL É COMEMORADO O DIA DO LIVRO ESPÍRITA, DIA NACIONAL DO ESPIRITISMO E TAMBÉM COMEMORAMOS O ANIVERSÁRIO DA PUBLICAÇÃO DE “O LIVRO DOS ESPÍRITOS” OCORRIDO NO ANO DE 1857.
Seria grande erro supor que a Mensagem do Cristo de Deus terminara com sua passagem pela Terra.
O Mestre não se limitou a deixar à Humanidade seu Evangelho que ilumina os caminhos humanos.
Sabia Ele que as imperfeições e rebeldias dos homens não seriam removidas somente com seu serviço ativo e com a dedicação dos primeiros discípulos e seguidores, a trabalhar nos corações e nas mentes.
Ele mesmo declarou que não viera para ensinar tudo aos homens, que não possuíam ainda as condições necessárias ao entendimento de lições que transcendiam à compreensão de então.
O caminho que indicou foi o do amor, o do esforço individual, o do sacrifício em prol da elevação moral de cada um.
Ficaria para o futuro a complementação da Boa Nova.
São palavras do Mestre incomparável:
"Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas presentemente não as podeis suportar."
E acrescenta:
"Se me amais, guardai os meus mandamentos - e eu pedirei ao meu Pai e ele vos enviará outro Consolador a fim de que fique eternamente convosco: - o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê; vós, porém, o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós - mas o Consolador, que é o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e fará vos lembreis de tudo o que vos tenho dito."
(João, 14:15-17 e 26).
O que as palavras de Jesus, registradas pelo evangelista, deixam muito claro é que Ele não ensinara tudo a seus discípulos, pela simples razão de que não podiam, não tinham condições de compreender o que estivesse acima de sua capacidade de entendimento.
Torna-se evidente, na passagem evangélica, confirmada pelos fatos, que o Mestre não esgotou seus ensinamentos naquele pequeno período de vivência entre os homens.
Ao contrário, tornou claro que sua Mensagem se desdobraria em etapas: o Consolador prometido complementaria suas lições de há dois mil anos, e lembraria tudo o que fosse esquecido ou desvirtuado, restabelecendo as verdades ensinadas.
As religiões tradicionais que se baseiam nos Evangelhos, ao lado dos muitos desvios interpretativos, cometeram o grave erro de considerar os ensinamentos de Jesus como completos e definitivos, em contraposição às próprias palavras do Mestre.
Esqueceram do papel importantíssimo do Consolador, que viria futuramente, mas que dependeria dos desígnios do Alto, para complementar a grande Mensagem.
Com esse posicionamento as igrejas denominadas cristãs tornaram imutáveis e estratificadas suas Doutrinas. Decorridos os séculos, essas doutrinas foram se desvirtuando não só diante da verdadeira Mensagem Crística, mal interpretada em muitas de suas passagens, mas também perante os conhecimentos novos trazidos pelas Ciências. Apenas os ensinos morais do Cristo permaneceram incólumes.
A reconsideração da Igreja Romana quanto ao tristíssimo Tribunal do Santo Ofício, no tocante à Inquisição, nos episódios que envolveram muitos sábios e escritores como Galileu Galilei e Charles Darwin, Giordano Bruno e Dante, Descartes e Diderot, Erasmo e Fénelon, João Huss e Lutero, Montesquieu, Pascal, Rousseau, Voltaire e muitos outros são alguns dos muitos enganos em que incorreu a milenar instituição, que se tornaram insuportáveis por ela mesma.
Para os estudiosos e seguidores do Espiritismo não há dificuldade de compreensão da promessa do Cristo, já que os acontecimentos mostraram claramente que a Doutrina dos Espíritos é o próprio Consolador prometido.
Eis alguns sinais que confirmam não a presunção, mas a certeza da vinda do Consolador com a Terceira Revelação ("A Gênese" - A. Kardec - Cap. XVII):
- Desde a vinda do Cristo até meados do século XIX, nenhuma outra revelação significativa apareceu no mundo que tenha completado os Evangelhos e elucidado suas passagens obscuras.
- Com "O Livro dos Espíritos" (1857) e as demais obras da Codificação corporificou-se a Doutrina Espírita, a Terceira Revelação.
- A Nova Revelação, obra coletiva, caracterizando o "Espírito Santo" – os Espíritos do Senhor - tem à sua frente o Espírito de Verdade.
- Toda a Nova Revelação se ocupa do Evangelho de Jesus, interpretando-o em espírito e não somente na letra.
- Coisas novas são anunciadas pelos Espíritos reveladores, especialmente no que concerne à Vida Espiritual e ao Mundo Invisível.
- A Nova Revelação está destinada a ficar eternamente com os habitantes deste Planeta, o que corresponde à promessa do Cristo.
- A Doutrina dos Espíritos, além de toda a parte moral da Doutrina do Cristo, é profundamente consoladora, inspirada pelo Espírito de Verdade, representando o Cristo.
- O Espiritismo, doutrina não individual, mas extremamente abrangente, é o resultado do ensino coletivo de muitos Espíritos, orientados pelo Espírito de Verdade.
- O Espiritismo, o Consolador, teve precursores, preparadores de seu advento.
Pela sua força moralizadora já está preparando o advento da Era da Regeneração.
Quanto ao fenômeno do dia de Pentecostes, que muitos entendem como sendo a manifestação do Espírito Santo e a vinda do Consolador, pode-se entender que as aptidões mediúnicas de muitos dos discípulos foram desenvolvidas pelos Espíritos, auxiliando-lhes as futuras tarefas e missões.
Entretanto, o fenômeno nada acrescentou aos ensinos de Jesus, não trazendo conhecimentos novos e nem aclarando o que se achava obscuro.
Por isso, o Pentecostes não se pode confundir com o Consolador, cujas características o Mestre enunciou com precisão, e só se corporificaria com um mínimo de progresso geral do mundo, com o avanço espetacular das ciências; a partir dos últimos séculos, e com o triunfo da liberdade, contra as imposições dogmáticas dos poderes absolutistas dos governos e das religiões.
De outro lado, afirmando aos apóstolos que o Consolador vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito, Jesus proclama a doutrina da reencarnação, já que aqueles a quem se dirigia só poderiam aproveitar dos novos ensinos no futuro indefinido, naturalmente em outras vidas.
E a doutrina da reencarnação, tal como a apresenta a Doutrina Espírita, de suma importância para a compreensão das leis divinas do Amor e da Justiça, não poderia ser compreendida, em toda a sua abrangência, senão com o advento do Consolador prometido, que já está no mundo.
O caráter consolador da Doutrina dos Espíritos manifesta-se a todos os sofredores do mundo, mostrando-lhes a causa dos sofrimentos e dores, que reside na ignorância, na maldade e nos transvios dos próprios homens com relação às leis naturais, ou divinas.
A Doutrina mostra a justiça dos sofrimentos sem esquecer a consolação da busca da felicidade na vida presente ou futura.
Ela é inspiradora da fé viva e racional e da esperança, por pior que seja a situação individual. Afasta as dúvidas cruéis, decorrentes da descrença materialista e das crenças infundadas no inferno dos sofrimentos eternos.
Juvanir Borges de Souza
REFORMADOR, ABRIL, 1998
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