O mundo prepara-se para mais um Natal. As ruas iluminam-se chamando atenção e as músicas típicas da época dão o tom da festividade. Ao centro, a conhecida figura do "Papai Noel", embalando sonhos e fantasias infantis mas, por outro lado, alimentando também interesses puramente mercantilistas.
As famílias já pensam nos brindes, presentes e festas. Economia para presentear melhor, vestuários renovados, casas reformadas, viagens e sonhos...
Esta nos parece uma realidade bem próxima e nos agrada divagar pelo brilho das luzes... afinal, o Natal é uma festa de alegria. No entanto, se nos afastarmos um pouco desta visão, procurando analisar de maneira mais cuidadosa, de forma mais crítica e real, lembraremos inevitavelmente dos que ainda não podem se quer sonhar...
O mundo ilumina suas ruas, mas há alguns lugares que continuam obscuros, talvez para esconder aqueles que excluímos da festa.
E, na escuridão, o crack, a cocaína, a cola continuam vitimando crianças e jovens que não sonham mais;
...na escuridão, meninas mal saídas da infância servem de objeto sexual nas mãos prostituídas de aparentes homens de bem. Na noite de natal, possivelmente, estarão embriagadas ou drogadas para suportar a exploração;
...na escuridão, homens disputam comida com ratos, cães e urubus nos lixões, perdendo sua humanidade a pouco e pouco. Estes talvez consigam comer melhor na noite de natal, aproveitando o desperdício dos banquetes que deixará o lixo mais "rico";
...na escuridão, guetos que separam negros de brancos continuarão infectos e nas favelas as comemorações acontecerão, talvez, em meio à dor de um assassinato ou de um estupro;
...na escuridão doentes se amontoarão em corredores de hospitais públicos, crianças, mães e famílias inteiras estarão morrendo por causa de fome, por falta de vacina, de saneamento básico e de noções mínimas de higiene em recantos tristonhos das terras africanas, brasileiras e asiáticas;
...na escuridão, pais desempregados sequer podem pensar em presentes e entre lágrimas que cortam a alma, abandonam seus filhinhos em orfanatos, para que sobrevivam;
...na escuridão, cortando o ruído das ruas e dos bailes, serão ouvidos ‘gritos silenciosos’ de seres humanos expulsos dos ventres de suas mães que, inconscientes e equivocadas, tentam fugir de suas responsabilidades pelo caminho do aborto criminoso;
...na escuridão do sertão, nem o luar de lá consegue iluminar a dor da sede e da fome de famílias inteiras condenadas a beber lama e comer lagartos, enquanto bois e cabritos serão mortos para as festas dos fazendeiros donos das terras e dos açudes;
...na escuridão sob as marquises, velho morrerão de frio e crianças serão assassinadas por criminosos fardados;
...na escuridão, toda escuridão aparece...
E lá fora, sob o esplendor das luzes, estouram os ‘champanhes’ nas mesas corrompidas pela falta de ética e humanidade na política. Os escândalos e as fraudes são esquecidos sob o borbulhar da bebida e os detentores dos "podres poderes" da Terra seguem cegos e descompromissados com o povo;
A sociedade egoísta distribui cestas e brinquedos com os ‘pobrezinhos’ para tentar aliviar o fogo que lhes queima a consciência e falam em solidariedade como se fosse uma jóia a mais que pudessem expor pendurada no pescoço.
Perdoem-me se pareço duro demais. Muito mais dura, no entanto, é a realidade enfrentada por milhares, milhões de irmãos nossos espalhados pelo planeta inteiro. Lembrando-se deles, estamos lembrando-se daquele que é o motivo das comemorações natalinas. Aquele que em sábias palavras afirmou que tudo que fosse feito a um desses pequeninos seria feito a Ele próprio indiretamente. Ele que soube ser solidário de maneira plena, sem se corromper pela vaidade e pelo aplauso, foi muito além da esmola dada em uma noite. Investiu sua vida e sua morte para a transformação da sociedade. Lutou contra os preconceitos, convivendo com a "escória" sem falsos pudores e valorizou o ser humano como ninguém fez antes ou depois dele.
Vale a pena nos perguntar: então, por que Ele veio? Qual a razão histórica de sua vida? O que constituiu o objeto de suas atenções e qual o objetivo de todo seu esforço? Certamente que Ele não veio para aprofundar a diferença entre os homens, nem para manter os preconceitos e o egoísmo que têm gerado toda miséria no mundo. Sua vinda visava a educação plena do homem, estimulando a transformação do homo sapiens – lobo do próprio homem – no homo sapiens solidarius que não é só intelecto e começa a descobrir que não pode ser feliz sozinho; que se completa no bem do outro e que plenifica-se no amor ao próximo sem conotação sacramental, mas com sentido prático e efetivo. É o amor experienciado, vivido, que não se coaduna com o comodismo e a indiferença, e foge dos discursos vazios.
Jesus, talvez ainda seja o ilustre esquecido do Natal rico e mercantil dos "papais noéis marqueteiros" e nós, certamente, os grandes omissos desta triste e contraditória realidade. Não tenho a menor dúvida que enquanto comemos perus e distribuímos presentes, Ele deve estar muito, muito ocupado com os que foram excluídos de um FELIZ NATAL!
Amigo, suas palavras emocionaram meu coração...Precisamos divulgar mensagens como esta, na intenção de tocar os corações egoístas da humanidade consumidora e mercantilista, que vive longe dos ensinamentos do Nosso Mestre Jesus.
ResponderExcluirLuz e Paz!
Mari