Mais um ano novo se desdobra no calendário humano e, como sempre; é recebido como portador de esperanças mais fagueiras, como se trouxesse algum sortilégio capaz de dissipar todas as canseiras e frustrações do ano que findou e de fazer os homens, afinal, prelibarem todas as delícias que os filhos de Deus esperam, um dia, gozar na face da Terra.
Todo novo ano que se aproxima dá motivo a que os profetas do mundo se esparramem em augúrios e previsões do que acontecerá em seu transcurso, sobrelevando nesse quadro os acontecimentos que digam respeito aos caminhos antevistos para a humanidade em seu conjunto. O anseio geral é que a nova etapa proporcione a todas as nações uma quota maior de prosperidade e bem-estar e, sobretudo, de paz e de entendimento.
O homem deseja paz, o mundo deseja paz. Os condutores das nações lançam mão de todos os recursos para alcançarem esse desiderato. Erigem instituições internacionais, para a preservação da paz; realizam congressos e conferências dos mais responsáveis; promovem demarches pessoais, a fim de ver se conseguem harmonizar pontos de vista e interesses contrários, de modo a evitarem o mal maior. Na verdade todos temem a guerra, por sabê-la devastadora e, paradoxalmente, como argumento “ad terrorem”, armam-se as nações cada vez mais, no intuito de estabelecerem um equilíbrio de forças capaz - essa é a desculpa - de intimidar quaisquer temerários que pretendam explorar a confusão reinante em proveito próprio.
A violência, porém, está generalizada no cenário do mundo. Violência em todas as escalas. O cidadão comum se vê ameaçado e indefeso até no recesso do próprio lar; os homens vivem, em qualquer parte, num clima de insegurança total, em que os mais comezinhos valores humanos são pisoteados pelos gestos truculentos; e, com isso tudo, a própria humanidade vive em sobressalto, sonhando com as venturas da vida e sofrendo as duras realidades de um mundo que parece prestes a desabar.
Todas as criaturas, sem exceção, esperam que, ao dealbar de um novo ano, ressoem pela Terra os prenúncios de uma vida mais tranquila, mais promissora, em que, de verdade, todos possam desfrutar a tão suspirada paz.
Os anseios humanos são legítimos; pena, porém, é que os homens teimem em buscar a paz onde ela não se encontra, isto é, na quietude exterior, em uma vida isenta de lutas e de sofrimentos, no gozo ameno e imperturbável das comodidades materiais, em uma vida regalada e descuidada, onde os valores espirituais não entram em conta e não merecem atenção. Com essa visão imediatista, dificilmente poderão se render ante as revelações que lhes chegam, mau grado seu, dos planos da Vida verdadeira, a ensinarem que a estada na face da Terra é apenas um trânsito entre um ontem, que escapa por ora ao nosso conhecimento, e um amanhã, que só conseguimos vislumbrar quando alçamos a vista acima do horizonte hedonístico que nos sufoca, trânsito que está inexoravelmente jungido à lei de causa e efeito.
A não ser que se compreenda essas verdades, o homem será um eterno candidato à desilusão, não crendo na imortalidade e, contraditoriamente, blasfemando contra Deus, porque se vê esbulhado do tesouro que mais cobiça: a paz.
Já é tempo de o homem sofrear seus desvarios, para afinal entender e ouvir a voz daquele que, há perto de dois milênios, lhe diz: Eu vos dou a paz, não como o mundo a dá, mas aquela que vem do coração afeito à caridade e da consciência iluminada que vive na conformidade das leis eternas e divinas.
Editorial “Reformador” (FEB) Janeiro 1975
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